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IV – RESERVA MINERAL DO SOLO Vander de Freitas Melo1/, Rosa Maria Vargas Castilhos2/ & Luiz Fernando Spinelli Pinto2/ 1/ Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Paraná. Rua dos Funcionários, 1.540, 80035-050, Curitiba (PR). vanderfm@ufpr.br 2/ Departamento de Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas, Caixa Postal 354, 96.010-900, Pelotas (RS). rosamvc@ufpel.edu.b; lfspin@ufpel.edu.br Conteúdo INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................................................... 252 MINERAIS NÃO SILICATADOS FONTES DE NUTRIENTES .............................................................................. 255 Óxidos e Hidróxidos ......................................................................................................................................................... 255 Halóides, Sulfatos, Nitratos e Boratos ........................................................................................................................ 259 Carbonatos ........................................................................................................................................................................... 260 Fosfatos ................................................................................................................................................................................. 262 MINERAIS PRIMÁRIOS SILICATADOS FONTES DE NUTRIENTES ................................................................ 263 Nesossilicatos ...................................................................................................................................................................... 263 Inossilicatos .......................................................................................................................................................................... 264 Filossilicatos ......................................................................................................................................................................... 266 Tectossilicatos ..................................................................................................................................................................... 280 FORMAS DE K, Ca E Mg NO SOLO ............................................................................................................................... 283 Formas Prontamente Disponível para as Plantas (Solução do Solo e Trocável) ............................................ 285 Reserva (Formas Não-Trocáveis e Estruturais) ........................................................................................................ 287 LIBERAÇÃO DA RESERVA DOS NUTRIENTES NO SOLO ................................................................................. 295 Intemperismo e Estabilidade dos Minerais ................................................................................................................ 295 Estimativa da Reserva de Nutrientes no Solo (Métodos de Extração) .............................................................. 296 Cinética de Liberação ........................................................................................................................................................ 302 RESERVA DE K EM SOLOS ALTAMENTE INTEMPERIZADOS DOS TRÓPICOS ÚMIDOS ................... 311 Minerais de Argila 2:1 como Hidróxi Entrecamadas .............................................................................................. 312 Resíduos de Minerais 2:1 como Fontes de K .............................................................................................................. 314 Resíduos de Esmectita ...................................................................................................................................................... 316 Camadas de Mica Preservadas na Estrutura da Caulinita ................................................................................... 317 Distribuição do K Total nos Minerais das Frações Argila, Silte e Areia por Meio de Técnicas de Extrações Seqüenciais ............................................................................................................................................ 318 LITERATURA CITADA ...................................................................................................................................................... 321 SBCS, Viçosa, 2009. Química e Mineralogia do Solo, xxxxp. (eds. Vander de Freitas Melo e Luís Reynaldo Ferracciú Alleoni). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 252 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. INTRODUÇÃO Diversos pesquisadores têm demonstrado expressiva contribuição da reserva de nutrientes do solo na nutrição mineral e no crescimento e desenvolvimento das plantas. A caracterização mineralógica das frações do solo, a avaliação da cinética de liberação e da contribuição de formas não-trocáveis e estruturais na absorção dos nutrientes pelas culturas influenciam a produção agrícola, sobretudo na economia de fertilizantes e no cultivo de plantas em estado nutricional adequado. Como os métodos de rotina avaliam essencialmente as formas trocáveis dos nutrientes, quando a reserva mineral do solo pode ser fonte efetiva do total de nutrientes absorvidos pelas plantas, a utilização de outros métodos de análise, com maior poder de extração (formas não- trocáveis e estruturais) e com melhor capacidade preditiva de sua disponibilidade, resultaria em aplicação de menores quantidades de adubos, o que reduziria os custos de produção. Os minerais primários com potencial de fornecer nutrientes para as plantas encontram-se, principalmente, nas frações areia e silte. O K, Ca, Mg, P, Fe, Mn, Cu, Zn, dentre outros, fazem parte da estrutura de alguns minerais primários (Quadro 1), tanto essenciais quanto acessórios, e que são liberados para a solução do solo por meio do intemperismo químico. Quadro 1. Principais minerais primários essenciais e acessórios, potencialmente fontes de nutrientes para as plantas O quartzo é o principal mineral das frações areia e silte dos solos (Figura 1). O solo velho originado de granito (Figura 1a) apresenta, basicamente, apenas quartzo na fração areia. Como esse mineral não contém elementos essenciais às plantas, o solo em questão Minerais primários essenciais Nutrientes contidos no mineral Minerais primários acessórios Nutrientes contidos no mineral Ortoclásio/Microclínio K Granada Ca, Mg, Mn Plagioclásios Ca, Cu, Mn Turmalina Ca, Mg, B Olivina Mg, Fe, Cu, Mn, Mo, Zn Apatita P, Ca, Fe, Mg Piroxênios Ca, Mg, Fe, Cu, Mn, Zn Esfeno Ca Anfibólios Ca, Mg, Fe, Cu, Mn, Zn Epidoto Ca, Fe Biotita K, Mg, Fe, Cu, Mn, Zn Magnetita Fe, Zn, Mn,Cu Muscovita K Bórax B Talco Mg Espinélio Mg, Fe, Zn, Mn Calcita Ca Fluorita Ca Dolomita Ca, Mg Pirita Fe, S Gipsita (gesso) Ca, S Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 253 Figura 1. Fotografias da fração areia (minerais com diâmetro entre 0,05 e 2 mm) de dois solos com composição mineralógica distinta: (a) solo velho originado de granito; (b) solo jovem originado de micaxisto. Figura 2. Classificação simplificada das rochas ígneas conforme a origem e a composição mineralógica Os tipos e a proporção dos minerais primários variam conforme o tipo de rocha (Figura 2). apresenta baixa reserva de nutrientes. Por outro lado, a fração areia do solo jovem originado de micaxisto (Figura 1b) apresenta, além de quartzo, grande quantidade de mica parcialmente intemperizada (mineral com aspecto dourado). Comoresultado, com o processo contínuo de intemperismo químico dos minerais micáceos, há intensa liberação de nutrientes para as plantas (principalmente K e Mg). Já o Si, Al e Fe podem-se recombinar na solução do solo e formar minerais secundários (por exemplo, caulinita e goethita), aumentando o teor de argila do solo (neogênese). (a) (b) Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 254 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. Conforme os tipos de minerais, a composição química das rochas de maior importância na formação dos solos pode variar consideravelmente e influenciar a quantidade inicial da reserva de macronutrientes, como o Ca, Mg, K e P, para os solos (Quadro 2). As rochas também são fontes potenciais de microelementos para o solo, sendo alguns considerados altamente tóxicos em doses elevados para os organismos, como o Ni e Cr (Quadro 3). Quadro 2. Teores totais de elementos maiores (SiO 2 , Al 2 O 3 , CaO, MgO, Na 2 O e K 2 O) e menores (TiO 2 , MnO e P 2 O 5 ) de algumas rochas Óxidos Peridotito(1) Basalto(1) Granodiorito(2) Sienogranito(2) Feldspato Alcalino Granito2 Micaxisto(1) Metarenito(1) ______________________________________ g kg-1 ________________________________________ SiO2 402,0 529,0 616,0 683,8 776,2 471,0 920,6 Al2O3 18,2 119,3 169,4 152,5 118,6 170,0 36,0 Fe2O3+FeO 92,9 145,2 48,6 39,2 13,4 143,2 2,5 CaO 4,0 77,7 26,9 24,1 3,4 4,4 6,3 MgO 360,0 35,7 18,3 11,9 0,7 54,5 0,7 Na2O 5,9 32,0 37,6 29,7 40,3 16,8 6,8 K2O 1,0 19,9 44,5 49,5 47,9 28,2 14,5 TiO2 3,0 15,8 7,1 5,8 1,4 24,7 0,6 MnO 1,0 2,0 1,0 0,7 0,6 2,0 0,2 P2O5 1,0 2,1 3,4 2,0 0,2 2,9 0,3 P.F(3) 110,0 14,9 9,9 5,3 3,2 58,7 4,0 soma 999,0 993,6 982,7 1004,5 1005,9 976,4 992,5 Fonte: (1)IBGE (1986); (2)Philipp (1998); (3)perda ao fogo (por ignição). Quadro 3. Teores totais de elementos-traço de algumas rochas Elemento Peridotito(1) Basalto(1) Granodiorito(2) Sienogranito(2) Feldspato Alcalino Granito(2) Micaxisto(1) ______________________________________ mg kg-1 _______________________________________ Ba 14 480 869 843 15 1320 Sr 50 270 337 288 3 50 Zr 10 340 131 213 153 210 V 76 280 40 45 2 224 Y 10 67 14 66 274 40 La 30 30 40 71 36 30 Nb 20 20 16 26 19 51 Cr 4200 37 41 31 28 73 Ni 1940 60 18 10 2 51 Co 124 50 11 8 1 50 Fonte: (1)IBGE (1986); (2)Philipp (1998). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 255 MINERAIS NÃO SILICATADOS FONTES DE NUTRIENTES Óxidos e Hidróxidos A classe dos óxidos é bastante diversa, incluindo minerais bastante duros, como o coríndon (dureza 9 na escala de Mohs, a qual varia de 1 a 10), e outros mais macios, como a cuprita (dureza = 3,5-4), minerais metálicos (hematita) e gemas (coríndon: rubi e safira e crisoberilo: alexandrita e olho-de-gato), com cores escuras (a maioria), mas também intensamente coloridos. A grande diversidade dos óxidos pode ser atribuída à abundância do O na crosta terrestre. A maioria combina com outros elementos formando ânions complexos, como CO3 2- , BO3 3-, SO4 2-, NO3 -, SiO4 4- e PO4 3-, que deveriam ser considerados óxidos, o que reduziria as classes minerais a quatro: elementos nativos, halóides, sulfetos e óxidos, os quais compreenderiam mais de 90 % dos minerais conhecidos. Ficam, no entanto, restritos às classe dos óxidos apenas aqueles minerais com cátions combinados com íons simples de O. Os óxidos podem ser classificados em óxidos simples, múltiplos, contendo hidroxila (oxihidróxidos) e hidróxidos, além de óxidos hidratados (Quadro 4). Simplificadamente, são, com freqüência, agrupados em óxidos e hidróxidos. Quadro 4. Principais tipos de óxidos Óxido Tipo Exemplos A2O água – H2O; cuprita – Cu2O AO zincita – ZnO; periclásio - MgO AO2 rutilo – TiO2; pirolusita - MnO2; cassiterita - SnO2 Simples A2O3 hematita – Fe2O3; coríndon - Al2O3; ilmenita – FeTiO3 ABO3 perovskita – CaTiO3 AB2O4 espinélio - MgAl2O4; magnetita - FeFe2O4; crisoberilo – BeAl2O4 AxByO5 pseudobrookita – Fe2TiO5 Múltiplos AB2O6 columbita-tantalita – (Fe, Mn) (Nb,Ta)2O6; euxenita - (Y, Ca, Er, La, Ce, U, Th)(Nb, Ta, Ti)2O6 Oxi-hidróxidos AOOH goethita – FeOOH; diásporo – AlOOH; manganita – MnOOH litioforita - LiAl2 (Mn2Mn)O6(OH)6 pirocloro – (Ca, Na)2Nb2O6(O, OH, F) Hidróxidos A(OH)x gibbsita – Al(OH)3; Brucita – Mg(OH)2 Hidratados ferrihidrita – Fe2O3. 2FeOOH . 2,6H2O; birnessita – (Na, Ca)Mn7O14.2,8H2O Fonte: Adaptado de Dana & Hurbult (1978). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 256 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. De acordo com a relação dos raios iônicos e da ocupação dos espaços, os óxidos podem ser classificados em estruturas isométricas, hexagonais, tetragonais e ortorrômbicas (veja capítulo II). São hexagonais: água, zincita, óxidos do tipo A2O3 (hematita, coríndon e ilmenita) e brucita. São ortorrômbicos: oxihidróxidos, crisoberilo e columbita-tantalita. De maneira geral, existem dois tipos de estrutura nos dióxidos (Quadro 5): uma, na qual cada cátion tem oito O nos vértices de um cubo (coordenação 8), originando uma estrutura isométrica; e outra, na qual existem seis O em torno de cada cátion (coordenação 6). Nesse último caso, somente metade dos sítios possíveis fica preenchida, de forma a manter a neutralidade elétrica, e assim ocorre deformação no arranjo octaédrico, originando uma simetria mais baixa, tetragonal. Quadro 5. Relação dos raios iônicos (cátion/oxigênio), coordenação e simetria nos dióxidos Elemento raio cátion raio cátion/raio O Coordenação Simetria Mineral Mn nm 0,060 0,45 6 tetragonal Pirolusita Ti 0,068 0,52 6 tetragonal Rutilo Sn 0,071 0,54 6 tetragonal Cassiterita Ce 0,094 0,71 8 isométrica Cerianita U 0,097 0,73 8 isométrica Uraninita Th 0,102 0,77 8 isométrica Torianita Fonte: Dana & Hurbult (1978). Em óxidos múltiplos que apresentam fórmula geral AB2O4 (Quadro 4), o cátion A é maior (raio iônico entre 0,06 e 0,08 nm) e é, geralmente, divalente, ao passo que o B é menor (raio iônico entre 0,05 e 0,07 nm) e é geralmente trivalente. Assim, na estrutura do espinélio, os íons A contêm quatro O ao redor e os íons B seis, o que conforma um retículo cúbico, dando origem a cristais isométricos. Como os membros do grupo do espinélio são isoestruturais, a substituição iônica é comum, sendo completa a solução sólida relativa aos íons A (Mg2+, Fe+2, Zn2+, Mn2+) e incompleta relativa aos íons B (Al3+, Fe+3 e Cr3+) (Quadro 6). O crisoberilo tem uma estrutura contraída, de simetria mais baixa (ortorrômbico), em razão do pequeno tamanho do íon Be (0,035 nm). A cuprita e a zincita (Quadro 4) são minerais sem expressão nas rochas. O periclásio pode ser formado em mármores a partir da dolomita, ficando, portanto, restrito a esse tipo de rocha. O rutilo (TiO2), assim como seus polimorfos anatásio e brookita, a ilmenita e os espinélios que contêm Ti (ulvoespinélio e titanomagnetita) são minerais acessórios comuns na maioria das rochas ígneas e metamórficas. A perovskita (CaTiO3) é um mineral acessório comum em rochas ígneas básicas e alcalinas e metamórficas calci-silicatadas. Verifica-se que todos esses minerais são encontrados como fases detríticas em rochas sedimentares, em razão da elevada resistência ao intemperismo. Por isso, esses minerais são comumente identificados nas frações areia e silte de solos e saprólitos, tendendo a se concentrarem em solos mais intemperizados. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DOSOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 257 Por outro lado, silicatos comuns como biotitas, hornblendas e augitas contêm, em termos absolutos, mais Ti do que os óxidos nas rochas. Na intemperização desses minerais, bem como do esfeno (CaTiSiO5), é freqüentemente reportada a formação de anatásio. A formação de outros óxidos de Ti secundários (pseudorutilo, pseudobrookita, etc.) também é observada. Uma média de 5,1 g kg-1 nos solos, contra 3,9 e 3,3 g kg-1 para as "camadas" sedimentares e ígneas graníticas da litosfera, respectivamente, demonstra a concentração desse elemento durante o intemperismo, podendo chegar até 150 g kg-1 em solos altamente intemperizados desenvolvidos de basaltos (Milnes & Fitzpatrick, 1989). Essa concentração de Ti não tem importância na fertilidade dos solos, pois o elemento não é considerado micronutriente ou elemento tóxico para plantas e animais. Alguns autores até mesmo evidenciam o uso do Ti como indicador da presença de solo ou poeira na análise de tecido vegetal (Jones, 1991). Quadro 6. Composição química dos óxidos do tipo AB 2 O 4 (grupo do espinélio) Óxido B=Al Óxido B=Fe Óxido B=Cr A=Mg Espinélio MgAl2O4 Mg-ferrita MgFe2O4 Mg-cromita MgCr2O4 A=Fe Hercinita FeAl2O4 Magnetita FeFe2O4 Cromita FeCr2O4 A=Zn Gahnita ZnAl2O4 Franklinita ZnFe2O4 A=Mn Galaxita MnAl2O4 Jacobsita MnFe2O4 Além da ocorrência como minério, a pirolusita (Quadro 4) é geralmente muito disseminada nas rochas. Porém, por ser de origem supergênica (que se produz próximo à superfície da crosta), forma-se por dissolução de rochas cristalinas e deposita-se na forma de concreções e revestimentos, freqüentemente dentríticos, sobre a superfície das fraturas e diáclases. Técnicas como a microscopia eletrônica, espectroscopia de infra- vermelho e microssonda têm revelado que os óxidos de Mn descritos, em sua maioria, nessas ocorrências como sendo pirolusita e psilomelano são, na realidade, "óxidos" de Mn mais complexos, como a birnessita e a romanequita (Post, 1999). De qualquer forma, o Mn é o décimo elemento mais abundante na crosta e é o metal pesado mais comum, após o Fe, perfazendo cerca de 1g kg-1 das rochas (Quadro 2). Do ponto de vista geoquímico, o Mn comporta-se como o Mg e o Fe (e Ni e Co), tendendo a entrar na estrutura de minerais que se formam nos primeiros estádios de cristalização magmática. O Mn ocorre tanto em minerais máficos essenciais comuns (piroxênios, anfibólios e biotitas), como em minerais acessórios (magnetita, espinélios e epidotos - alanita). No processo de cristalização das rochas magmáticas, concentrações expressivas de Mn ainda persistem nos líquidos residuais (fases pneumatolíticas), e o elemento concentra-se em pegmatitos na forma de óxidos, como a columbita-tantalita, bem como em rochas metamórficas (granadas). Ao ser liberado desses minerais primários pelo intemperismo, o Mn é oxidado, e são formados óxidos e hidróxidos de Mn, principalmente a birnessita, vernadita (δ-MnO2), litioforita e holandita (Ba2Mn8O16) na forma de revestimentos e agregados finamente Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 258 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. granulados com grande área superficial específica, que exercem influência química acentuada no solo, numa proporção maior do que quando estimada apenas com base em suas concentrações. A hematita (Quadro 4) é um mineral amplamente distribuído em rochas de todos os tipos e idades, geralmente como mineral acessório. Juntamente com a goethita, que é um oxihidróxido de Fe mais ligado ao intemperismo, forma os mais abundantes óxidos metálicos pedogênicos e influencia, de forma decisiva, uma série de características e propriedades dos solos (veja capítulo VIII). O Fe na estrutura desses óxidos pode ser substituído por muitos cátions metálicos, destacando-se o Al, em maior teor na goethita, e microelementos, como Ni, Ti, Mn, Co, Cr, Cu e Zn, em menor proporção. Além da incorporação destes metais na estrutura, a grande área superficial específica desses óxidos pedogênicos, o baixo grau de cristalinidade e a reatividade das superfícies (cargas dependentes de pH) fazem com que vários ânions (fosfatos, selenatos, molibdatos, arsenatos, fluoretos e silicatos) e cátions metálicos (Cu, Pb, Zn, Cd, Co, Ni, Mn) sejam adsorvidos especificamente, ou melhor, sejam ligados por caráter covalente diretamente ao O e OH estruturais, formando ligações muito fortes. Dessa forma, os óxidos de Fe podem conter, tanto dentro de sua estrutura como adsorvidos especificamente em sua superfície, teores razoáveis de metais, sendo alguns micronutrientes. Essa fonte de micronutrientes passa a crescer em importância em solos arenosos e na medida em que os solos vão ficando altamente intemperizados, como nos Latossolos oxídicos. O espinélio (Quadro 4) é um mineral metamórfico comum, encontrado em mármores, gnaisses e serpentinitos, ocorrendo como mineral acessório em muitas rochas ígneas máficas. O Fe2+, Zn2+ e Mn2+ substituem o Mg2+ em variadas proporções, por isso os óxidos puros (hercinita, gahnita e galaxita) (Quadro 6) são raros. Sua influência maior como fonte de nutrientes, portanto, ocorre em alguns tipos de rochas metamórficas. A magnetita (Quadro 4) é um mineral acessório comum de rochas magmáticas ferro- magnesianas (dioritos, gabros e peridotitos e equivalentes vulcânicos) e de rochas metamórficas. O Fe2+ pode ser substituído por Mg2+ e Mn2+ (e Zn2+) em proporção variada, sendo os termos extremos (Mg-ferrita, jacobsita e franklinita) de ocorrência restrita. Dada sua resistência ao intemperismo, a magnetita pode acumular significativamente em Latossolos desenvolvidos de basaltos, onde pode compor parte expressiva da fração areia desses solos, servindo como fonte de micronutrientes, à semelhança dos óxidos de Fe pedogênicos (hematita e goethita). A cromita (Quadros 4 e 6) é comum em rochas ultramáficas (peridotitos e serpentinitos). Um pouco de Mg2+ está sempre presente substituindo o Fe2+. Por outro lado, o Al3+ e o Fe3+ podem substituir o Cr3+. Problemas de fertilidade associados a solos desenvolvidos sobre esses tipos de rochas são conhecidos e relatados na literatura internacional (Rabenhorst et al., 1982) e na nacional (Pinto & Kämpf, 1996), com a vegetação nativa sofrendo problemas de toxidez relacionados com altos teores de Cr, Ni, Co (Quadro 3) e desbalanço da relação Ca/Mg trocáveis. Dentre os hidróxidos e oxihidróxidos de Al, a gibbsita (Quadro 4) é o mineral mais comum nos solos e depósitos de bauxita, que se originam pelo intemperismo avançado Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 259 em certos tipos de rochas ricas em Al e destituídas de quartzo (rochas alcalinas, por exemplo o tinguaíto). Os oxihidróxidos (boehmita e diásporo) são encontrados em muitas bauxitas, enquanto os polimorfos bayerita e nordstrandita só foram encontrados em solos e bauxitas mais recententemente (Hsu, 1989). Halóides, Sulfatos, Nitratos e Boratos A classe dos halóides caracteriza-se por ânions halogênicos com grande raio iônico (Cl-, Br-, F- e I-), fracamente carregados e de fácil polarização. Quando combinam com cátions de baixa valência, relativamente grandes e fracamente polarizados, formam estruturas de alta simetria, isométricas e hexaoctaédricas (veja capítulo II), como no caso da halita (NaCl), silvita (KCl) e fluorita (CaF2), que são os halóides mais comuns. A fluorita é um mineral comum e amplamente distribuído, seja em veios e pegmatitos de rochas magmáticas, seja em dolomitos e calcários. Não tem aplicação direta na agricultura, sendo minerada com propósitos industriais. Sua presença, no entanto, tem sido associada à incidência de fluorose endêmica(perda de esmalte nos dentes), dadas as altas concentrações de F em águas consumidas por certas populações. A halita e a silvita, juntamente com outros sais solúveis (carbonatos, sulfatos e boratos), concentram-se em depósitos sedimentares conhecidos por evaporitos, formados por evaporação em planícies costeiras (sabkhas), lagos (playa lakes) e mares adjacentes a áreas desérticas (Silva et al., 2000a). Os evaporitos podem ser soterrados por outros sedimentos e após, em profundidade, deformarem-se produzindo domos salinos, freqüentemente associados a jazidas de petróleo. Em áreas de clima árido e semiárido, a baixa taxa de lixiviação e a alta evaporação favorecem acumulação desses sais. Em conseqüência, são formados solos salinos e salino-sódicos, que apresentam problemas agronômicos de natureza química e física (veja capítulo XIX). A halita (NaCl), além do uso como sal de cozinha, apresenta inúmeras utilidades na indústria química. Não tem, porém, utilidade direta na agricultura como fertilizante. O contrário ocorre com os sais de K. Apesar de ser relativamente abundante nas rochas (Quadro 2), esse elemento tem disponibilidade imediata muito limitada para as plantas, por estar contido principalmente nos feldspatos e micas. Em razão disso, mais de 95 % do K nos minerais dos depósitos evaporíticos atuais e antigos são utilizados como fertilizante na agricultura: 90 % são na forma de KCl e 5 % na forma de K2SO4 (DNPM, 2001a). O principal mineral explorado é a silvita (KCl), que contém o equivalente a 63 % de K2O, seguido da carnalita (KCl.MgCl2.6H2O), caianita (KCl.MgSO4.3H2O), langbeinita (K2SO4.MgSO4) e polihalita [K2Ca2Mg (SO4)2.2H2O], com 17, 19, 23 e 16 % de K2O, respectivamente. Na prática, são também comercializados produtos mistos, a saber: a silvinita (silvita + halita), a hartsalz [(silvita + halita + kieserita (MgSO4.H2O) e, ou, anidrita (CaSO4)] e a carnalitita (carnalita + halita) (DNPM, 2001a). A classe dos sulfatos abrange grande número de minerais, divididos em anidros, como a anidrita (CaSO4) e a barita (BaSO4), e hidratados, como o gipso (CaSO4.2H2O) e a polihalita (K2Ca2Mg(SO4)2.2H2O). As ligações S-O dos grupos SO4 2- são fortes, com os Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 260 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. cátions coordenados com os íons sulfatos, formando estruturas ortorrômbicas ou monoclínicas (veja capítulo II). Nos sulfatos hidratados, a estrutura apresenta-se na forma de camadas formadas por lâminas duplas de CaSO4, separadas por moléculas de água (Doner & Lynn, 1989). O gipso é o sulfato mais comum, ocorrendo na forma de depósitos sedimentares, freqüentemente interestratificados com calcários e folhelhos e geralmente subjacentes ao salgema (evaporitos), pelo fato de os sulfatos cristalizarem primeiro por causa de sua menor solubilidade. De forma semelhante aos halóides, o gipso é encontrado em solos de regiões de clima árido e semiárido. Os sulfatos de K são amplamente utilizados como fertilizante. O gipso, por sua vez, é usado primordialmente para fabricação do gesso e para a indústria cimenteira. No início do século 20, o gipso passou a ser usado na correção de solos sódicos por meio da substituição do Na pelo Ca, com posterior lixiviação do Na, de forma a melhorar as propriedades físicas do solo (Loveday, 1984). O chamado gesso agrícola, produto que vem sendo oferecido no mercado com indicação de fornecer S e Ca em solos e de promover o crescimento radicular ao diminuir a atividade do Al em profundidade, não vem dessas fontes naturais, mas, sim, de um subproduto industrial da reação de ácido fosfórico e superfosfato simples (Raij, 1991). Os nitratos são estruturalmente análogos aos carbonatos, com estrutura hexagonal ou ortorrômbica. O mais comum é o salitre-do-Chile (NaNO3), encontrado em regiões áridas como camada de sal (caliche-do-Chile) intercalada com camadas de areia, de sal comum e de gipso, cuja ocorrência principal fica no norte do Chile. Durante muito tempo, foi utilizado como fonte de adubo nitrogenado. Atualmente, vem sendo substituído pela uréia, cujo N é proveniente do N2 atmosférico (Tisdale & Nelson, 1993). O salitre potássico (KNO3) é também encontrado na natureza em quantidades bem menores que o salitre-do- Chile, na forma de eflorescências em solos e rochas, sendo usado também como fonte de K e N. O KNO3 comercial, no entanto, não vem dessa fonte, sendo produzido a partir da reação do NaNO3 com o KCl. Nos boratos, o íon B (pequeno raio iônico) coordena três O, que podem ser compartilhados por dois íons B vizinhos, formando folhas separadas por camadas de moléculas de água e unidas por íons Na ou Ca (Dana & Hurbult, 1978). Os boratos são também encontrados em depósitos evaporíticos. O mais comum é o bórax (Na2B4O7.10H2O), que é usado na agricultura e em vários processos na indústria química. Outros boratos comumente encontrados nesses depósitos são a colemanita (Ca2B6O11.5H2O) e a ulexita (NaCaB5O9.8H2O). Em solos salinos de clima árido, tem sido observada toxidez por B (Welch et al., 1991). Embora não seja um borato, a turmalina (ciclossilicato) - (Ca,Na)(Al, Fe, Li, Mg)Al6(BO3)3(SiO6O18)(OH)4 - é um mineral acessório comum em rochas ígneas e metamórficas, constituindo importante reserva de B no solo, pois é um mineral resistente ao intemperismo. Carbonatos Nos carbonatos, os grupos CO3 2- combinam-se com cátions divalentes de forma que a relação dos raios impõe a coordenação 6, resultando estruturas simples em que se Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 261 alternam camadas de cátions metálicos com ânions carbonatos (Dana & Hurbult, 1978). Dessa forma, tem-se uma redução na simetria do sistema isométrico (90 o) para romboédrico (74 o 55 ') (subdivisão do sistema hexagonal) (veja capítulo II), característico dos cristais de calcita (CaCO3). Sendo isoestruturais, os cátions metálicos substituem-se entre si, conforme seus tamanhos (Fe2+ = 0,074 nm; Mn2+ = 0,080 nm e Mg2+ = 0,066 nm), produzindo substâncias intermediárias entre carbonatos puros: siderita (FeCO3), rodocrosita (MnCO3) e magnesita (MgCO3). Já a substituição na calcita (Ca 2+ = 0,099 nm) não é completa, sendo particularmente difícil a do Ca pelo Mg por causa da diferença nos raios (33 %). Dessa forma, o que ocorre na dolomita [(CaMg(CO3)2] não é resultado de uma solução sólida, mas, sim, uma alternância de camadas de íons Mg com camadas de íons Ca, ou seja, um sal duplo. Uma forma polimorfa da calcita de estrutura ortorrômbica denominada aragonita é comumente encontrada em depósitos recentes e nas conchas de moluscos. Esta forma é menos estável e costuma transformar-se naturalmente em calcita. Os carbonatos são encontrados em rochas sedimentares denominadas calcários e em seu equivalente metamórfico, o mármore, acumulado-se em proporções significativas também em rochas mistas de carbonatos com argilas (margas). O ambiente típico de acumulação dos sedimentos carbonáticos é marinho de água rasa com origem química, orgânica ou clástica. São muito importantes no registro geológico, perfazendo cerca de 25 % das seções estratigráficas (Suguio, 1980). As bacias evaporíticas são outro tipo de ambiente de acumulação de carbonatos, em áreas bem mais restritas, em regiões de clima árido, onde os depósitos são chamados de caliche ou calcrete e estão associados a sulfatos e halóides. Em razão da abundância e distribuição das rochas calcárias, existem muitos e importantes solos formados sobre esse tipo de rocha, dependendo do clima a ocorrência e distribuição dos carbonatos no solo. Em climas áridos, os carbonatos primários permanecem no solo, enquanto os carbonatos secundários podem acumular próximo à superfície. Àmedida que a precipitação pluvial aumenta, ocorre progressiva remoção dos carbonatos das camadas mais superficiais e deposição de carbonato secundário nas camadas mais profundas. Em climas úmidos, ocorre a remoção total, podendo formar contato abrupto entre o perfil de solo ácido e a rocha de origem alcalina (Doner & Lynn, 1989). Solos derivados de calcários costumam ser férteis, em geral Chernosols ou Molisols (conforme a Soil Taxonomy - USDA, 2006), compondo parte dos solos mais férteis da zona temperada na América do Norte, Europa Central e Ásia (Fanning & Fanning, 1989). A relação entre rocha calcária e fertilidade do solo também pode ser observada no Brasil, com valores de pH, teores de Ca e Mg e saturação por bases elevados (Araújo & Olivieira, 2003), mesmo em ambientes que intensificam o intemperismo (Argissolos e Latossolos) (Valladares, 2002). No mundo, o maior consumo de calcário ocorre na fabricação de cimentos e cal, e o mármore é explorado como material de construção e ornamentação. No Brasil, dada a ocorrência generalizada de solos ácidos, o calcário é usado para correção de pH (calagem). Estados que não possuem calcário sedimentar, como o Rio Grande do Sul, usam o mármore moído para correção do solo. Para se ter uma idéia da magnitude da mineração de calcário no Brasil, das 1.862 minas cadastradas no ano de 2.000 com Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 262 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. produção superior a 10.000 t ano-1, 314 eram de calcário (16,9 % do total), sendo 23,6; 25,4 e 13,5 % consideradas de grande, médio e pequeno porte, respectivamente (DNPM, 2001b). A maioria dessas minas é utilizada para cimento e outros usos não-agrícolas. Fosfatos O P pentavalente tem tamanho semelhante ao S hexavalente e, como este, apresenta-se na forma de grupos tetraédricos (PO4 3-) que não formam grupos polimerizados. O As e o V podem substituir o P, formando arseniatos e vanadatos, que são minerais de ocorrência restrita, ao contrário dos fosfatos, principalmente a apatita, que é constituinte acessório em praticamente todas as classes de rochas ígneas, sedimentares e metamórficas. Com base nos teores e na amplitude de distribuição nas rochas comuns, o P é considerado elemento acessório, juntamente com o Mn e o Ti, nas análises químicas rotineiras das rochas, compondo entre 1 e 3 g kg-1 da rocha em termos de P2O5 (Quadro 2). A apatita, fosfato mais abundante e importante, apresenta fórmula geral Ca5(PO4)3(OH,F,Cl), com substituição (solução sólida) dos ânions F -, Cl- e OH- e, mais raramente, do fosfato pelo carbonato (carbonatoapatita). O Ca pode ser substituído pelo Mn, Sr e outros cátions. Conforme o predomínio do ânion acompanhante, ocorrem a fluorapatita, a cloroapatita, a hidroxiapatita, dentre outros. A apatita é um mineral facilmente intemperizável no solo, liberando prontamente o Ca (Blum et al., 2002). O fosfato pode então combinar com Al, Fe, Mn, Na, K, Ba, Cu, Zn, etc., formando grande variedade de fosfatos secundários, anidros e hidratados, como, por exemplo, a variscita-strengita [(Al,Fe)(PO4).2H2O], struvita (NH4Mg(PO4).6H2O), vivianita (Fe3-xFex(PO4)2(OH)x(H2O)8-x) e muitos outros (veja capítulo III). Ao mesmo tempo, o P na solução pode ser absorvido pelas plantas, ligar-se à fração húmica (P orgânico) e mineral (adsorção específica e não-específica) e ser precipitado com íons Ca2+ e Al3+, dependendo do pH do solo. A complexidade da dinâmica do P no solo aumenta mais ainda quando são incluídas as reações dos fertilizantes fosfatados com os constituintes do solo, formando uma série de novos compostos (Lindsay et al., 1989). A apatita também concentra-se em veios e pegmatitos, principalmente associada a rochas alcalinas, formando uma apatita bem cristalizada, de origem ígnea. Esse tipo de depósito é encontrado no Brasil em Minas Gerais (Araxá e Tapira), Goiás (Ouvidor e Catalão) e São Paulo (Cajati) (DNPM, 2001b). A apatita pode também concentrar a partir de processos sedimentares, derivadas de restos de animais e de precipitação química, formando uma rocha sedimentar conhecida como fosforito, com uma apatita de baixa cristalinidade (colofana). Depósitos desse tipo são encontrados principalmente no norte da África (Tunísia, Argélia e Marrocos), Oriente Médio e Estados Unidos. A colofana, apesar de compor o grupo dos fosfatos naturais, tem solubilidade relativamente elevada (> 90 g kg-1 P2O5 em ácido cítrico 20 g L -1). Os fosfatos naturais de origem ígnea têm solubilidade bem mais baixa (< 60 g kg-1 P2O5 em ácido cítrico 20 g L -1) e, geralmente, são tratados quimicamente para produzir compostos mais solúveis (superfosfatos). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 263 MINERAIS PRIMÁRIOS SILICATADOS FONTES DE NUTRIENTES Nesossilicatos Nos nesossilicatos, a relação Si:O é de 1:4, não permitindo a polimerização dos tetraedros de Si na estrutura. Nesse caso, os tetraedros estão isolados e unidos por ligações de cátions intersticiais (Figura 3). Em cátion divalente, forma-se uma estrutura do tipo A2SiO4, como no grupo da olivina (Mg e Fe) e da Fenacita (Be - fenacita e Zn - willemita), com estrutura ortorrômbica e romboédrica-hexagonal, respectivamente (veja capítulo II). Cátions tetravalentes como Zr, Th e U têm fórmula ASiO4 e estrutura tetragonal. No grupo das granadas, a fórmula é do tipo A3B2(SiO4)3, com a posição A ocupada por cátions divalentes grandes e a B por íons trivalentes menores. O Mg2+, Fe2+ e Mn2+ se substituem completamente na posição A; já com o Ca essa possibilidade é mais restrita. Na posição B, ocorre substituição limitada em relação ao Al3+, Fe3+ e Cr3+. A estrutura resultante é isométrica. Ainda nos nesossilicatos, destacam-se os minerais do grupo Al2OSiO4 (andaluzita, silimanita e cianita) e o esfeno [CaTiO(SiO4)], também conhecido como titanita. Figura 3. Representação esquemática da estrutura dos nesossilicatos. M - metal. A olivina é essencial nas rochas ultrabásicas (peridotitos e dunitos) a varietal nas básicas (olivina basalto). Existe uma série completa de solução sólida que vai da forsterita [Mg2(SiO4)] à fayalita [Fe2(SiO4)], sendo mais comuns as magnesianas. As olivinas estão entre os silicatos mais facilmente intemperizáveis, tendendo a desaparecer rapidamente no perfil de intemperização. As magnesianas tendem à dissolução, formando esmectitas em climas de lixiviação mais moderada, com o Al sendo suprido pela dissolução dos minerais adjacentes. Em climas com lixiviação muito intensa e boa drenagem, ocorre elevada perda do Si e as variedades com Fe, juntamente com os piroxênios, formam solos altamente oxídicos. Podem também compor depósitos de Ni lateríticos resultantes dos teores mais elevados de Cr e Ni nas rochas ultrabásicas. A fenacita em pegmatitos e a willemita em calcários e na zona oxidada de depósitos de Zn são minerais de ocorrência muito restrita. O zircão [Zr(SiO4)] é um mineral acessório amplamente distribuído nas rochas ígneas, concentrando-se em maior quantidade nas ígneas ácidas. É também encontrado Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 264 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. em rochas metamórficas, como o calcário, gnaisse e xisto. Dada sua elevada resistência ao intemperismo, costuma concentrar-se nos sedimentos arenosos, assim como nos solos. O zircão normalmente apresenta pequenas quantidades de Hf, Th, U e Y, responsáveis por radioatividade no mineral. A granada é um mineral comum como constituinte acessório de rochas metamórficas (xistos e gnaisses) e de algumas ígneas. Suas subespécies mais comuns apresentam o Alna posição B e os seguintes cátions na posição A: Mg (piropo), Fe (almandina), Mn (espessartita) e Ca (grossulária). Com Fe na posição B e Ca na A tem-se a andradita e com Cr na B e Ca na A a uvarovita. A granada é, como o zircão, bastante resistente ao intemperismo, podendo acumular-se em solos desenvolvidos de rochas metamórficas. Neste caso, pode influenciar a presença do Mn em rochas metamórficas mais ricas em granadas, conforme comentado anteriormente. Andaluzita, silimanita e cianita são minerais metamórficos encontrados em alguns tipos de rochas metamórficas e, por sua composição (Al2OSiO4), não contribuem para a reserva de nutrientes do solo. O esfeno [CaTiO(SiO4)] é um mineral acessório de distribuição bastante ampla, tanto em rochas ígneas como em metamórficas, de resistência média ao intemperismo, e pode contribuir com alguma fração do Ca em rochas graníticas pobres neste nutriente (Quadro 2). Inossilicatos Nos inossilicatos, a relação Si:O é 1:3 (piroxênios) e 1:2,75 (anfibólios), o que permite certo grau de polimerização dos tetraedros de Si, em cadeias simples (piroxênios) ou duplas (anfibólios) que se prolongam na direção do eixo c (Figura 4). Figura 4. Representação esquemática da estrutura dos inossilicatos: (a) cadeia simples; (b) cadeia dupla. (a) (b) Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 265 Nos piroxênios, a fórmula geral é XY(Si2O6) e, nos anfibólios, é XYSi8O22(OH)2. Os cátions X são, em geral, grandes, por exemplo Ca e Na (coordenação 8 em relação aos O), e os cátions Y são pequenos, como Mg, Fe, Al, Mn, Li ou Ti (coordenação 6). Pode ocorrer substituição do Si pelo Al nos tetraedros para compensar a entrada de um íon de carga maior ou menor. Nos anfibólios, na posição X, pode entrar K, enquanto a substituição parcial do OH pelo F e O é comum. As posições X e Y, quando são ocupadas por íons grandes e pequenos, respectivamente, resultam numa estrutura monoclínica (clinopiroxênio ou clinoanfibólio). Por outro lado, quando ambas são ocupadas por íons pequenos resultam numa estrutura ortorrômbica (ortopiroxênio ou ortoanfibólio). Pode ainda ocorrer a ocupação das posições por íons grandes como na wollastonita [Ca(SiO3)], o que gera uma estrutura triclínica. Em geral, cada piroxênio tem um anfibólio correspondente (Quadro 7). Quadro 7. Principais minerais do grupo dos piroxênios e dos anfibólios Posição X Posição Y Piroxênio Anfibólio sistema Enstatita Antofilita ortorrômbico Mg Mg Clinoenstatita Kupfferita monoclínico Hiperstênio Antofilita ortorrômbico Mg, Fe Mg, Fe Clinohiperstênio Cummingtonita monoclínico Ca Mg Diopsídio Tremolita monoclínico Ca Fe Hedenbergita Actinolita monoclínico Ca Mn Johannssenita monoclínico Na Al Jadeíta Glaucofana monoclínico Na Fe Aegerina Arfvedsonita monoclínico Li Al Espodumênio monoclínico Ca, Na Mg, Fe, Mn, Al, Ti Augita Hornblenda monoclínico Os piroxênios e os anfibólios são chamados de minerais ferromagnesianos, considerando a alta percentagem desses elementos na composição química de seus representantes mais comuns, que são a augita e a hornblenda. A augita é constituinte essencial de rochas ígneas básicas e ultrabásicas, mas é secundária nas rochas intermediárias (Figura 2), podendo ocorrer ainda em alguns gnaisses e granulitos. A hornblenda é constituinte varietal comum em rochas ígneas desde ácidas até básicas (Figura 2), mas é particularmente característica de rochas metamórficas, comumente por alteração do piroxênio, sendo o constituinte principal do anfibolito. Além do Mg e Fe, as hornblendas apresentam teor elevado de Ca e menor teor de Mn e Ti, chegando a ser a principal fonte desses elementos nas rochas. A hornblenda Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 266 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. sempre apresenta ainda resíduo de K, podendo ser importante fonte desse elemento em alguns tipos de rochas. Os piroxênios são considerados minerais muito pouco resistentes ao intemperismo, mesmo assim chegam a compor parte das frações areia e silte de solos pouco intemperizados. Os anfibólios, por outro lado, são pouco mais resistentes e permanecem nas frações areia e silte de solos medianamente intemperizados, só desaparecendo completamente nos solos de intemperismo mais avançado. Além da augita e hornblenda (ferromagnesianos), existem piroxênios e anfibólios calciomagnesianos (diopsídio, wollastonita e tremolita), que são mais comumente encontrados em mármores e talco xistos (calcissilicatadas) e piroxênios e anfibólios sódicos (aegerina, arfvedsonita e riebeckita). Esses minerais formam rochas ígneas subsaturadas em sílica (sem quartzo), mas ricas em Na e K, chamadas de rochas alcalinas (sienitos e fonolitos), onde estão presentes feldspatóides (nefelina, leucita e sodalita). Filossilicatos Em razão da inexpressiva ocorrência de outros minerais filossilicatados fontes de nutrientes no solo, como o talco, as discussões desse item relacionam-se com os minerais micáceos. As micas são, normalmente, mais estáveis que os demais minerais silicatados fontes de nutrientes, tais como, feldspato, anfibólio, piroxênio e olivina (Goldich, 1938). São, portanto, as maiores fontes de K, Fe e Mg em ambientes tropicais e desempenham importante papel na fertilidade e gênese dos solos. Com relação aos minerais das classes neso e inossilicatos, as micas apresentam estruturas mais complexas, e o intemperismo desses minerais mostra-se dependente de suas composições químicas e natureza das ligações dos elementos. As micas são minerais em camadas (filossilicato), negativamente carregadas, do tipo 2:1, sendo compostas por uma lâmina octaédrica (O) entre duas lâminas tetraédricas (T) (Figuras 5b,c e 6a). As lâminas tetraédricas consistem de tetraedros de SiO4 arranjados de tal maneira que três O de cada tetraedro são compartilhados com o Si de três tetraedros vizinhos, resultando em um anel hexagonal de tetraedros (dois tetraedros adjacentes compartilham somente um O) (Figura 5a). Esses três O compartilhados ficam no mesmo plano, sendo referidos como basais. O quarto O de cada tetraedro não é compartilhado com outro tetraedro de silício, ficando livre para ligar-se com outros elementos poliedrais (O apical). Todos os oxigênios apicais apontam para a mesma direção, formando os planos basal e apical de O (Figura 5b e 6a). Já a lâmina octaédrica consiste de seis hidroxilas, em dois planos, em coordenação octaédrica com um cátion central. Em alguns casos, pode haver substituição de OH por F. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 267 Figura 5. Estrutura 2:1 das micas e detalhes da lâmina tetraédrica: (a) composição hexagonal dos tetraedros de silício com a hidroxila da lâmina octaédrica localizada no centro de cada hexágono no plano dos seus vértices. No caso da lepidolita, o flúor está no lugar das hidroxilas; (b) vista lateral de duas lâminas tetraédricas com os vértices voltados para dentro da estrutura, mostrando a localização dos átomos de Al (dioctaedral) da lâmina octaédrica; (c) vista lateral da camada 2:1, com detalhe para as possibilidades de substituição isomórfica na muscovita. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 268 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. Figura 6. Crescimento das micas na direção c e detalhes da lâmina octaédrica: (a) vista lateral de um mineral genérico (dioctaedral e trioctaedral) mostrando os íons potássio promovendo a união de camadas adjacentese a distância basal do mineral; (b) detalhe (vista superior) de uma lâmina dioctaédrica, mostrando que, a cada três posições, duas são ocupadas pelo cátion octaedral (Al3+); (c) detalhe (vista superior) de uma lâmina trioctaédrica, onde todas as três posições são ocupadas pelo cátion octaedral (Fe2+ e Mg2+). De acordo com a valência do cátion existem duas maneiras de preencher os sítios octaédricos. Quando um cátion divalente, como Mg2+ e Fe2+, encontra-se em todas as posições octaédricas, forma-se a estrutura trioctaedral (todos os três sítios octaedrais estão ocupados por cátions) (Figura 6c). Cada OH é compartilhada com três cátions divalentes, garantindo a neutralidade da estrutura. Outra possibilidade é a presença de cátions trivalentes, como Al3+, dentro das posições octaédricas. Para preservar a eletroneutralidade, apenas dois cátions são necessários, formando a estrutura dioctaedral, onde cada OH é ligada com dois cátions (para cada três posições octaédricas, apenas duas são ocupadas por cátions) (Figuras 5b e 6b). A ligação na estrutura 2:1 (formação da camada) é feita pelo O apical da lâmina tetraédrica que se volta para dentro da estrutura, ligando-se diretamente ao cátion na posição octaédrica, formando quatro planos de ânions (Figuras 5b e 6a). Os planos externos consistem dos O basais das duas lâminas tetraédricas, enquanto os dois planos internos consistem dos O comuns às lâminas tetraédricas e octaédricas mais as OH da Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 269 lâmina octaédrica. A estrutura é constituída de tal forma que quatro das seis OH estão substituídas por O apicais das lâminas tetraédricas. As duas OH restantes orientam-se para o centro do poro hexagonal deixado pelos vértices dos tetraedros (Figura 5a). As camadas 2:1 adjacentes são ligadas por cátion, principalmente K, que promove o crescimento do mineral na direção basal (eixo c) (Figura 6a). A entrada de cátions nessa posição é devida ao excesso de carga negativa na estrutura em razão da substituição isomórfica de cátions nas lâminas tetraédricas e octaédricas. A carga nas camadas de micas está em torno de -1,0 por unidade de fórmula, resultante de três mecanismos (Figura 5c): i) substituição de Si4+ por R3+ (primariamente Al3+ e Fe3+) nas posições tetraédricas; ii) substituição de R2+ ou R3+ por R+ ou R2+ nas posições octaédricas ou; iii) posições octaedrais vazias. O K, chamado de "cimento eletrostático", é retido dentro dos espaços deixados pelo retículo hexagonal dos O dos tetraedros de Si, proveniente do déficit de carga positiva nos cátions tetraédricos e octaédricos para balancear as cargas negativas do O e OH e, eventualmente, F. A coordenação do K com os ânions dentro do hexágono é um problema complexo. Em uma disposição hexagonal ideal dos O basais, o K deveria coordenar 12 átomos de O, seis acima e seis abaixo dele. Nessa coordenação, o raio do cátion deveria ser de 0,168 nm, o qual excede de maneira considerável o raio iônico do K, que é de 0,133 nm. A análise de cristais isolados de muscovita e outras micas indica que o K nas entrecamadas encontra-se próximo a apenas seis O basais, três acima e três abaixo, situando-se os outros seis O a uma distância maior (Sparks & Huang, 1985). Na verdade, os O basais da camada tetraédrica não apresentam um plano hexagonal, mas, sim, ditrigonal, definido pela rotação dos tetraedros (Figura 7). O tamanho da lâmina tetraédrica excede o tamanho da octaédrica e, para efetuar o ajuste no momento da união entre elas, a lâmina tetraédrica sofre contração. A redução no tamanho se dá pela rotação de seus tetraedros de tal forma que se origina a estrutura ditrigonal. Simultaneamente, a lâmina octaédrica se distende. Como conseqüência, o número de O coordenados em torno do K cai de 12 (hexágono ideal) para seis (estrutura ditrigonal - três O em cada lâmina tetraédrica adjacente), resultando em ligação mais próxima e mais forte (Figura 7b). O grau de rotação da lâmina tetraédrica (Figura 7b) irá depender do cátion na lâmina octaédrica. Na estrutura dioctaédrica, a diferença na distância da direção b entre a lâmina tetraédrica e a lâmina octaédrica é maior, comparada com a trioctaédrica, resultando em maior rotação dos tetraedros. Com o incremento da rotação, há maior aproximação do K com os oxigênios, acentuando a coordenação com os seis átomos de oxigênio e resultando em retenção mais forte do K nas micas dioctaedrais. A muscovita e a biotita são as principais micas encontradas nos solos. A primeira é do tipo dioctaedral, com o Al ocupando os sítios octaédricos. Já na biotita, essas posições são ocupadas por cátions divalentes, Mg e Fe (trioctaedral). Na muscovita [K(Si3Al)Al2O10(OH)2] e na biotita [K(Si3Al)(Fe 2+,Mg2+)3O10(OH)2], a carga negativa das camadas provém da substituição isomórfica de um a cada quatro Si4+ na fórmula da pirofilita (Si4Al2O10(OH)2), por um Al 3+ (X = 1). A pirofilita (como o talco) é um Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 270 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. mineral que não apresenta substituição isomórfica (X = 0) e cátions intercamadas (veja capítulo II). As forças de van der Waals entre os planos basais de O são responsáveis pela união de camadas 2:1 adjacentes. Já as micas "quebradiças", tais como a margarita e a clintonita, têm X igual a 2. Na forma da pirofilita, dois tetraedros de Si, em cada quatro, são substituídos por Al na fórmula da margarita, com as cargas intercamadas neutralizadas por cátions divalentes, principalmente, Ca2+. A ligação entre as camadas adjacentes pelo K na biotita e muscovita (Figura 6a) é tão intensa que moléculas de água e outras moléculas polares não podem entrar no espaço intercamada, e os minerais não são expansivos. Como resultado, o K dessa região é considerado estrutural e não pode ser trocado por cátions hidratados da solução do solo. Figura 7. Rede de tetraedros da mica projetados sobre plano (001), em que os círculos grandes são oxigênios: (a) disposição hexagonal ideal; (b) distribuição ditrigonal obtida pela rotação dos tetraedros em 20o cada um. Observar a formação de uma região em "cunha", em que o K fica coordenado com apenas três, dos seis, oxigênios do retículo ditrigonal. Fonte: Adaptado de McCauley & Newnham (1971). Intemperismo da Mica e Liberação de K (Muscovita e Biotita) e Mg e Fe (Biotita) A liberação de K das micas é conseqüência de dois processos: i) transformação de micas com K entrecamadas para minerais 2:1 expansivos pela redução da carga negativa e pela troca de K por cátions hidratados; ii) dissolução das micas seguida pela recombinação dos produtos do intemperismo. Nesse último processo, com a quebra da estrutura das micas trioctaedrais, íons Mg e Fe também são liberados para a solução do solo. A importância relativa desses processos depende da estabilidade das micas e da natureza do ambiente do solo. A liberação de K pela transformação das micas em minerais 2:1 expansivos tem sido verificada pelo intemperismo de borda ou camada (planos preferenciais de Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 271 intemperismo). Três partículas de mineral interestratificado mica-vermiculita, com cerca de 50 % de suas camadas expandidas, são apresentadas na figura 8. Nos modelos (8a) e (8b), as camadas expandidas [d(001) = 1,4 nm - vermiculita] são descontínuas mas apresentam terminações internas não expandidas [d(001) = 1,0 nm - mica], formando zonas em cunha. Essas cunhas podem evoluir até a outra extremidade do mineral. No modelo (8c), os espaços entrecamadas expandidos e não expandidossão uniformemente distribuídos. O intemperismo em "camada" (modelo c) é mais comum em partículas menores de mica, enquanto o intemperismo de borda é mais comum em partículas maiores. Figura 8. Diagrama de partículas de mica intemperizada com cerca de 50 % de camadas expandidas (vermiculita): (a) borda em franja e núcleo de mica; (b) camadas alternadas abertas até a metade da partícula e; (c) interestratificação regular mica-vermiculita sem zonas em cunha. A transformação da mica para minerais 2:1 secundários, com a liberação de K estrutural, deve-se ao intemperismo, com redução do tamanho da partícula, diminuição no teor de K, aumento no espaço basal e redução da carga estrutural dos minerais (Figura 9). A redução da carga estrutural é atribuída, principalmente, à reversão das substituições isomórficas durante o intemperismo dos minerais, quando os cátions de maior valência voltam a ocupar a posição tetraédrica e octaédrica (por exemplo, troca de tetraedros de Al3+ por tetraedros de Si4+ na lâmina tetraédrica). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 272 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. Figura 9. Dinâmica de intemperismo dos minerais 2:1. O mecanismo de liberação de K das micas por dissolução do mineral (segundo processo) é mais complexo do que a simples transformação de mica em minerais expandidos. Por exemplo, o intemperismo da biotita em caulinita deve ser precedido da ruptura das ligações da mica, em virtude da necessidade de transformação de uma estrutura 2:1 trioctaedral em uma 1:1 dioctaedral. Teorias dessa alteração incluem mecanismos de dissolução/reprecipitação/recombinação, com a migração dos cátions octaedrais e entrada de íons Al. Entretanto, existem controvérsias, mesmo naqueles ambientes em que, aparentemente, a biotita é alterada diretamente para caulinita, se ocorre a formação de um produto intermediário, com vida efêmera. Rebertus et al. (1986) propuseram que o Al liberado do intemperismo da bitota (presente na lâmina tetraédrica em substituição ao Si) precipita como Al-hidróxi no mineral alterado, formando vermiculita com Al-hidróxi entrecamadas (VHE - produto intermediário). Essa fase, então, transforma-se em caulinita pela combinação da estrutura da vermiculita com o Al-hidróxi entrecamadas. A reação geral, excluindo o estádio efêmero de VHE, é representada por: K2(Fe3Mg3)(Al2Si6)O20(OH)4 (biotita) + 4Al(OH)2 + + 10H+ ↔ 1,5Al4Si4O10(OH)8 (caulinita) + 2K + + 3Fe2+ + 3Mg2+ + 5H2O (1) Segundo Rebertus et al. (1986), a reação apresentada na equação (1) requer perda de K, Fe e Mg (nutrientes liberados para a solução do solo), expansão da estrutura da biotita para vermiculita, troca de cátions entrecamadas por ilhas de hidróxi-Al e deslocamento dos tetraedros de Al para a posição octaedral. Isso resulta em perda de um a cada quatro cátions tetraedais (perda total da substituição isomórfica nas lâminas tetraédricas: em situação ideal, o nível de substituição isomórfica de tetraedros de Si por tetraedros de Al na lâmina tetraédrica na biotita é de 25 %) e inversão completa de uma lâmina tetraédrica da estrutura 2:1 da biotita. Na biotita com alteração hidrotermal em solos da Nova Zelândia, Ahn & Peacor (1987) observaram, por meio de microscopia eletrônica de transmissão, que a caulinita estava intimamente interestratificada na biotita, com duas camadas de caulinita terminando em uma camada de biotita. Os autores concluíram que uma camada 2:1 (T-O-T) da biotita transformou-se em duas camadas (T-O) de caulinita. Para isso, seria necessária a troca de uma lâmina trioctaédrica rica em Fe e Mg por duas lâminas dioctaédricas com Al, inversão Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 273 de uma lâmina tetraédrica da camada T-O-T, e troca de todo o Al na lâmina tetraédrica por Si. Ahn & Peacor (1987) estimaram a reação envolvida como: K2(Fe3Mg3)(Al2Si6)O20(OH)4 (biotita) + 6Al 3+ + 2H4SiO4 + 4H2O ↔ 2Al4Si4O10(OH)8 (caulinita) + 2K + + 3Fe2+ + 3Mg2+ + 4H+ (2) A reação descrita na equação (2) difere daquela proposta por Rebertus et al. (1986) (Equação 1), pela não-formação de VHE como intermediário e porque o Al e o Si não são conservativos na estrutura (entrada de Al e Si da solução externa - Equação 2). Em termos de fertilidade do solo, verifica-se em ambas as reações (1 e 2) intensa liberação de K, Mg e Fe no processo de "dissolução" da biotita e reprecipitação/reorganização de seus produtos do intemperismo em minerais secundários (nesse caso, a caulinita). Murphy et al. (1998), observando partículas de biotita em microscópio eletrônico de transmissão acoplado com microssonda de dispersão de raios-X (MDRX), verificaram que muitos dos cristais consistiam de uma mistura complexa de camadas de 1,05 nm (biotita alterada) e camadas de 0,7 nm (caulinita) (Figura 10a): a região direita do cristal contém principalmente camadas de caulinita (0,7 nm) (Figura 10b), em que as análises microquímicas por MDRX revelaram composição química próxima à da caulinita; no interior do cristal, os autores verificaram a ocorrência de ambas as camadas (1,05 e 0,7 nm) (Figura 10c), com composição química intermediária entre os dois minerais; na região esquerda do cristal de biotita (Figura 10a), apenas camadas de 1,05 nm são visíveis, com composição típica da biotita (Figura 10d). Figura 10. Micrografias de filossilicatos obtidas por microscopia eletrônica de transmissão de alta resolução: (a) cristal com camadas de biotita (bio) e caulinita (caul); (b) ampliação da área identificada em (a) como caulinita. A maioria das camadas apresenta 0,7 nm de espessura; (c) ampliação da área identificada em (a) como biotita + caulinita. Notar o aumento na espessura do pacote de caulinita e correspondente redução na espessura do pacote de biotita em direção à direita da imagem. As setas apontam para a junção de uma camada individual de 1,05 nm entre duas camadas de 0,85 nm, as quais caminham para camadas mais finas (0,72 nm); (d) ampliação da área identificada em (a) como biotita. A maioria das camadas é de 1,05 nm de espessura. Fonte: Murphy et al. (1998). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 274 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. Ainda com relação ao intemperismo de partículas de biotita, Martín-García et al. (1999) observaram o intemperismo direto de partículas de biotitas do tamanho silte e areia de fragmentos de micaxisto em caulinita (Figura 11). Figura 11. Micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura, mostrando os diferentes estádios de alterações da biotita em fragmentos de micaxisto em Alfisols: a) camadas de filossilicatos começando a abrir [esfoliação paralela ao plano (001)]; b) e c) estádios mais avançados de alteração com perda da morfologia laminar do mineral. Fonte: Martín-García et al. (1999). Os fatores que afetam a transformação das micas são agrupados em: natureza do mineral, tamanho da partícula e condições ambientais. Natureza do Mineral Como o início do intemperismo da mica com a formação de minerais 2:1 secundários ocorre pela liberação de K e expansão do mineral, o fator determinante nesse processo é a intensidade das forças internas de atração/repulsão do K coordenado nos poros ditrigonais (Figura 7b). Exceto para micas que contêm F na estrutura, como lepidolita, as micas trioctaedrais (biotita) são mais susceptíveis ao intemperismo que micas dioctaedrais (muscovita) pela liberação mais fácil do K entrecamada (Figura 6a). O F na lepidolita, ligado ao cátion dioctaedral no lugar da hidroxila,localizado logo acima do poro ditrigonal (Figura 5a), retém o K com maior energia do que o O da OH dada sua maior eletronegatividade, além da ausência de H próximo ao K, como se verifica para a OH. Essa maior atração entre F e K confere à lepidolita maior estabilidade, que é uma mica com características trioctaedrais. Quanto maior o teor de F no mineral, maior sua estabilidade. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 275 Nas micas sem F, a posição do H da OH depende do tipo de mica. Nas trioctaedrais, como biotita, a ligação O-H é comumente orientada normal ao plano da camada trioctaedral, ficando diretamente sobre o poro ditrigonal. A distância entre o H e o K é reduzida, aumentando a repulsão e reduzindo a força de retenção do K e, conseqüentemente, a estabilidade do mineral. A repulsão é devida à carga positiva do K e à alta densidade de carga positiva do H da OH. Dada a diferença de eletronegatividade entre O e H, a ligação covalente O-H é do tipo polar (o O atrai mais fortemente o par eletrônico da ligação). Já nas micas dioctaedrais o H da OH tende a se orientar em direção ao sítio vazio da camada octaedral (Figura 5b) (1/3 das posições octaedrais são vazias), aumentado sua distância com o K e a estabilidade do mineral. A distância da ligação K-O no poro ditrigonal aumenta de 0,285 nm em micas dioctaedrais para 0,3 nm em micas trioctaedrais (Leonard & Weed, 1970). Nos solos em que ocorre apenas a muscovita, mesmo que os teores totais de K no mineral sejam altos, as plantas, normalmente, respondem positivamente a adubações potássicas. Além da orientação da OH, outros fatores relacionados com a natureza do mineral são importantes para determinar a força de retenção do K e sua conseqüente resistência ao intemperismo, tais como: composição química, seqüência de empilhamento, nível de substituição isomórfica, distorção estrutural e distribuição de sítios vazios na lâmina octaédrica (Sparks, 1987). Com a oxidação do Fe, alguns dos cátions octaédricos da biotita são expelidos (Gilkes, 1973; Gilkes & Yong, 1974), o que resulta em sítios octaedrais livres, e o H da OH pode orientar-se e ficar mais distante do K. Com isso, a biotita retém o K mais fortemente, aumentando a estabilidade do mineral. A maior estabilidade de biotita após oxidação também tem sido atribuída à liberação de prótons durante a oxidação, transformando a OH em O e aumentando a força de atração e retenção do K (Ross & Rich, 1974). Por outro lado, segundo Leonard & Weed (1970), durante o intemperismo inicial de micas trioctaedrais, a liberação de K, em algumas camadas, pode reduzir a estabilidade do mineral, acelerando seu intemperismo, uma vez que a liberação de K é acompanhada por ligeiro aumento na dimensão b, o que pode afastar a ligação K-O. Outro fator de extrema importância para definir a estabilidade da mica é a carga do mineral, e quanto maior for a substituição nas lâminas tetraédricas, maior será a energia de ligação do K. Tamanho da Partícula Espera-se que a liberação de K seja mais rápida em partículas mais finas do que em partículas mais grossas de micas em virtude da maior superfície específica. Avaliando o efeito da redução da concentração de K na solução do solo sobre intemperismo da mica, após três anos de cultivo, Tributh et al. (1987) encontraram diminuição na intensidade da reflexão (001) da ilita e aumento da esmectita nos difratogramas de raios-X, indicando a transformação destes minerais no solo, principalmente na fração argila mais fina (< 0,06 µm). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 276 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. A liberação inicial rápida de K dos minerais é, principalmente, devida ao intemperismo de borda (Figura 8a,b), processo controlado por reações de difusão. A difusão aumenta com a redução no tamanho da partícula. A menor liberação de partículas grosseiras é atribuída à menor superfície específica e à maior distância em que os íons devem difundir. Após a liberação inicial, o K nas partículas finas é liberado preferencialmente pelo intemperismo de camadas (Figura 8c) em relação às partículas mais grosseiras, nas quais o intemperismo de borda continua a ser o principal mecanismo. Dessa forma, após a liberação inicial, pode haver inversão, ou seja, partículas mais grosseiras liberam K a uma taxa maior (Figura 12). Para partículas de 50 a 60 µm, a extração total ocorreu num período superior a três anos, enquanto esse período caiu para dois anos para partículas de 10 a 20 µm. Figura 12. Potássio extraído de amostras de muscovita com diferentes classes de tamanho em solução com sódio tetrafenil boro (NaTFB). Fonte: Adaptada de Scott (1968). Graças à maior facilidade de intemperismo da mica trioctaedral, Ezzaïm et al. (1999) observaram intensa alteração dos minerais micáceos, mesmo nas frações mais grosseiras do solo, principalmente biotita em vermiculita, vermiculita trioctaedral com hidróxi-Al entrecamadas (VHE) e caulinita (Figura 13). Essas transformações (biotita em minerais secundários) foram acompanhadas pela redução nos teores de K2O, MgO e Fe2O3 na fração areia grossa e nos anéis de intemperismo analisados diretamente na rocha de origem (tufos vulcânicos com 130 g kg-1 de biotita). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 277 Figura 13. Difratogramas de raios-X (radiação CuKα) das frações areia grossa (a) e silte (b) do horizonte subsuperficial de solo originado de tufos vulcânicos. VHE - vermiculita com hidróxi-Al entrecamadas; Mi - mica; Mi-VHE - mineral interestratificado; Ct - caulinita; Qz - quartzo; Ab - albita; FdK - feldspato potássico. Fonte: Adaptada de Ezzaïm et al. (1999). Efeito de Condições Ambientais Os seguintes fatores ambientais interferem no intemperismo das micas: atividade e natureza dos íons na solução do solo, presença de agentes complexantes de metal, temperatura, atividade biológica, umidade e ciclos de umedecimento e secagem. Essas condições também definem o intemperismo dos minerais e a liberação de nutrientes das demais classes de silicatos: neso, ino e tectossilicatos. Os organismos e os ácidos orgânicos do solo atuam na redução da concentração iônica da solução do solo, aumentando a taxa de liberação de K pelas micas (Wentworth & Rossi, 1972; Havlin et al., 1985). Ácidos húmicos e fúlvicos apresentam elevada capacidade de complexação de Fe, Al e Mg. Quanto maior a concentração de K em volta da partícula, menor sua liberação para a solução do solo. Como os minerais mantêm um equilíbrio com o K da solução do solo, o elemento é liberado da estrutura do mineral, quando a concentração de K é menor que o valor crítico, específico para cada mineral. Mas, quando a concentração é maior do que o valor crítico, o K da solução do solo entra na estrutura das micas, podendo ser fixado nas camadas expandidas. A concentração crítica na qual a liberação de K é inibida varia de 2,3 a 16,8 mg L-1 para micas trioctaedrais em soluções diluídas e abaixo de 0,1 mg L-1 para muscovita (Martin & Sparks, 1985). Para que a muscovita libere K, sua concentração na solução do solo deve cair a valores muito baixos comparada com a liberação pela biotita. A sensibilidade da muscovita ao teor de K na Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 278 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. solução do solo é o fator ambiental mais importante para sua resistência, mesmo na fração argila dos solos. Com a difratometria de raios-X (DRX), é possívelacompanhar, principalmente por meio da relação entre as intensidades das reflexões basais desses minerais [(R = intensidade da reflexão (001)/intensidade da reflexão (002)], o intemperismo da biotita e muscovita em amostras onde os minerais coexistem. Pal et al. (2001a) observaram que a maior liberação de K não-trocável e estrutural em solos ricos em partículas finas de biotita e muscovita foi de um Typic Ustochrept (Figura 14). Esse solo apresentou teor acumulado de K de 450 mg kg-1 após 24 extrações com BaCl2 1 mol L -1 e o maior valor de R, indicando o predomínio de cristais trioctaedrais. No Typic Haplaquept, houve liberação máxima de K de 6 mg kg-1 e valores de R próximos de 1,0, principalmente para os minerais na fração argila, indicando a ocorrência apenas de muscovita. No caso de mistura das duas micas, ambas irão contribuir para a intensidade da reflexão basal (001) em 1,0 nm, enquanto a contribuição da biotita para a reflexão (002) em 0,5 nm é inexpressiva, resultando alto valor para a relação das intensidades das reflexões (R > 1,0). Figura 14. Relação entre o número de extrações com BaCl 2 1 mol L-1 e a liberação acumulada de K de solos indianos formados de diferentes materiais de origem. Fonte: Pal et al. (2001a). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 279 Além do efeito da diminuição dos teores dos elementos na solução do solo, aumentando a liberação de formas estruturais, o processo de absorção de cátions (principalmente de NH4 +) pelas plantas acarreta, também, a formação de microrregião com alta concentração de H+, acelerando o processo de liberação de K (Rice & Kamprath, 1968). Adicionalmente, ácidos orgânicos são exsudados pelas raízes e produzidos no solo, por meio da decomposição de resíduos de plantas e de animais, pelo metabolismo de microrganismos, especialmente em solos florestais, promovendo um ataque ácido aos minerais do solo, liberando os elementos para a solução. A atividade biológica também pode facilitar o processo de intemperismo das micas por meio de desagregação física das partículas, facilitando a passagem das partículas de mica para as frações mais finas do solo (Figura 15). Figura 15. Detalhe de uma hifa fúngica separando as partículas de mica da parte externa de um fragmento de arenito. Fonte: Certini et al. (2003). A lixiviação apresenta papel importante na redução da atividade de K da solução do solo. Em condições de boa drenagem, alta proporção de K é perdida por lixiviação, acelerando o processo de intemperismo das micas. Considerando os efeitos de fatores ambientais discutidos anteriormente, é previsível a existência de forte interação entre o manejo dos solos, como a intensidade de cultivo, e o intemperismo das micas e a taxa de liberação de nutrientes. Surapaneni et al. (2002) avaliaram a disponibilidade de K em várias classes de solos da Nova Zelândia e observaram estreita e inversa relação entre nível de utilização dos solos com pastagem e teor de K disponível e de mica. Os solos sob condições naturais (mata) continham 66 a 130 % mais mica do que os solos correspondentes sob intensa utilização. Por outro lado, nos solos sob pastagem, verificou-se aumento nos teores de minerais interestratificados mica-vermiculita e mica-esmectita. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO 280 VANDER DE FREITAS MELO ET AL. Tectossilicatos Os feldspatos são os principais minerais silicatados do grupo dos tectossilicatos e constituem importante fonte de nutrientes, especialmente K e Ca. São silicatos de Al com K, Na e Ca e, raramente, Ba. Podem pertencer aos sistemas monoclínico ou triclínico, porém os cristais dos diferentes sistemas mostram semelhantes hábitos cristalinos e ângulos de clivagem (próximo de 90 º) (veja capítulo II). Os feldspatos são constituídos por cadeias tridimensionais de tetraedros de SiO4 e AlO4 (na proporção 3:1) ligados em todas as direções pelos O dos tetraedros. Como, para cada quatro átomos de silício (Si)4+, um é substituído por alumínio (Al)3+, este excesso de carga negativa permite a introdução de um cátion monovalente para cada tetraedro de AlO4 na estrutura do mineral. Conseqüentemente, para cada quatro tetraedros existe um átomo de K ou Na para manter a eletroneutralidade. Por sua vez, a introdução de um cátion divalente, como o Ca ou Ba, exige 50 % de substituição de tetraedros de Si por tetraedros de Al. Além do K, Na, Ca e Ba, outros cátions, em menor extensão, como Fe, Pb, Rb e Cs, podem ocupar estas posições, existindo certo grau de substituição isomórfica entre eles. De acordo com sua composição química, os feldspatos formam três grupos principais: potássicos, sódio-cálcicos e báricos. Todos têm praticamente a mesma estrutura, consistindo de cadeias de anéis com quatro tetraedros paralelos ao eixo a, ligando-se a outras cadeias, também paralelas, por ligações iônicas por meio dos íons K+, Na+, Ca2+ ou Ba2+ e, ou, pelo compartilhamento de átomos de O (Huang, 1989). Uma cadeia em zigue- zague é formada pela superposição de cadeias de anéis com quatro tetraedros que compartilham alguns de seus vértices para formar novos anéis. A repetição de cadeias na direção a varia entre as espécies de feldspato de 0,81 a 0,86 nm (Figura 16). Figura 16. Aspecto da estrutura essencial dos feldspatos projetada no plano (001) onde os círculos pretos pequenos são átomos de silício e alumínio e os círculos maiores são átomos de oxigênio. Fonte: Adaptada de Huang (1989). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO IV – RESERVA MINERAL DO SOLO 281 Considerando que os feldspatos de Ba são raros e por isto têm importância secundária, os feldspatos comuns podem ser considerados como soluções sólidas entre os três componentes: feldspatos potássicos (KAlSi3O8), albita (NaAlSi3O8) e anortita (CaAl2 Si2O8), com unicamente K, Na ou Ca, respectivamente. Os fedspatos ricos em K ou Na e pobres em Ca são denominados feldspatos alcalinos, enquanto os ricos em Ca e, ou, Na e pobres em K são denominados plagioclásios (Figura 17). O feldspato potássico admite até 30 % de Na (relativamente ao K) e até 8-9 % de Ca na sua estrutura, ao passo que os plagioclásios admitem até 30 % de K nos mais sódicos e até menos de 7 % de K nos mais cálcicos. Este fato tem importância muito grande, uma vez que os plagioclásios podem suprir algum K em solos com ausência de feldspatos potássicos, como solos desenvolvidos de basalto, enquanto feldspatos potássicos podem suprir algum Ca em solos com teores muito baixos de plagioclásios. Os feldspatos potássicos (ortoclásio, microclínio, sanidina e adulária) apresentam a mesma composição química. Sanidina é um feldspato monoclínico com pequeno ângulo axial óptico e comumente ocorre em rochas vulcânicas. O ortoclásio também apresenta sistema monoclínico, mas o ângulo axial óptico é grande. Já o microclínio é triclínico, com grande ângulo axial óptico. E, por último, a adulária pode ser tanto monoclínica como triclínica, com ocorrência limitada a veios com baixa temperatura hidrotermal (Huang, 1989). Um fenômeno muito comum nos feldspatos potássicos, principalmente o microclínio, é a pertitização, que são exsoluções de albita. A pertitização decorre do fato de que em altas temperaturas (> 500 ºC) o feldspato potássico admite altas quantidades de Na na sua estrutura (Figura 17). Entretanto, quando a temperatura diminui, as Figura 17. Variação na composição dos feldspatos. Fonte: Adaptada de Dana & Hurbult (1978). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. QUÍMICA E MINERALOGIA DO SOLO
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