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Flexibilização de benefícios Taciana Lucas de Afonseca Salles Introdução Dar aos empregados a possibilidade de escolher os benefícios que mais lhe interessam é uma prática atual que empresas modernas encontraram de aumentar o valor percebido sobre os benefícios. Vamos ver como isso funciona? Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer práticas de benefícios flexíveis. • identificar flexibilização de benefícios atrelada a cultura organizacional. 1 Formas de flexibilização Um programa de benefícios tem como função principal servir aos interesses de todos os colaboradores. No entanto, não podemos esquecer que as pessoas são únicas e possuem prefe- rências e necessidades diferentes. Dessa forma, visando tornarem-se mais competitivas, inovadoras e atender melhor às demandas dos colaboradores, algumas organizações têm adotado planos flexíveis de benefícios, que consistem na oferta de planos individualizados que permitem ao colaborador optar por itens que melhor atendam às suas necessidades. Mas como fazer isso de forma adequada? FIQUE ATENTO! Um plano de benefícios adequado sempre será aquele em que o colaborador e a empresa dividam os custos e as vantagens. Uma forma é pela flexibilização total, em que a empresa oferece um rol de opções de livre escolha, mas limita o valor total que o empregado pode optar (ORSI, 2015), que via de regra é dife- rente de acordo com o nível hierárquico do profissional. http://atende2.fabrico.com.br/user/view.php?id=94&course=2 Figura 1 – Opções de benefícios Fonte: SCOTTCHAN/Shutterstock.com Entretanto, corre-se o risco de a pessoa não escolher benefícios que futuramente lhe farão falta, acarretando insatisfações e transtornos para a organização (CHIAVENATO, 2015). EXEMPLO Não optar por um seguro de vida ou uma complementação de auxílio-doença pode fazer toda a diferença em situações emergenciais e inesperadas. Diante disso, outra estratégia é fazer a flexibilização parcial, em que se mantêm alguns bene- fícios como obrigatórios e concedem-se outros opcionais de forma igualitária a todos os cargos. Assim, a empresa garante que os itens essenciais estejam presentes e ainda permite uma certa liberdade de escolha. Nesse caso, a pessoa pode fazer um up grade no plano de saúde básico que a empresa oferece, deixando-o mais completo, em troca de outro benefício que não lhe interessa (CHIAVENATO, 2015). Pode-se ainda seguir o esquema da flexibilização parcial, mas oferecer um rol de opções que variam de acordo com o nível hierárquico do empregado, conforme ilustra a o quadro a seguir (MARRAS, 2012). Quadro 1 – Benefícios por nível hierárquico NÍVEL HIERÁRQUICO BENEFÍCIOS Operacional Refeitório ou vale alimentação Plano básico de assistência médica Seguro de vida em grupo Transporte subsidiado Cesta básica Gerencial e Executivo Plano de saúde especial Seguro acidente pessoal Refeitório e menu especiais Estacionamento reservado Horário flexível Checkup médico Assistência odontológica Executivo Automóvel Seguro automóvel da família Cartão de crédito Aluguel de residência Empregada doméstica Vigia noturno Celular Viagem de férias no exterior Complementação de aposentadoria Bônus anual Ações da empresa Fonte: adaptado de MARRAS, 2012. Note que muitos dos itens oferecidos aos gerentes, normalmente, também são oferecidos aos executivos, além daqueles que são exclusivos a estes últimos. Chiavenato (2015) destaca que algumas empresas ainda permitem que a parte flexível dos benefícios seja concedida em forma de verba que é transferida para pagar despesas com uma cirurgia estética ou tratamento psiquiátrico, normalmente não cobertos pelo plano de saúde. FIQUE ATENTO! Esse valor do benefício flexível é uma verba extra que se soma aos benefícios fixos que a organização oferece. Muitas vezes, essa verba é cumulativa, dando a possibilidade de o empregado utilizá-la depois ou ainda, em casos de emergência ou necessidade, antecipar em até seis meses o valor dos benefícios para custear um funeral ou uma cesárea, por exemplo, embora o colaborador não possa retirá-la em dinheiro (CHIAVENATO, 2015). Agora que você já sabe a forma de conceder os benefícios flexíveis, conheça quais são os mais frequentes. 2 Os benefícios flexíveis mais frequentes Disponibilizar benefícios de forma flexível é uma forma inovadora de recompensar as pessoas pelo tempo que dedicam ao trabalho, como também é uma importante fonte de motivação, pois dá autonomia de escolha e reconhece as pessoas como portadoras de diferentes necessidades. Entenda que os tipos de benefícios oferecidos vão ser sempre condizentes com a visão da empresa sobre o que é necessário para gerar satisfação e qualidade de vida no trabalho (PEREZ; COBRA, 2017). EXEMPLO Existem empresas que oferecem mais de uma hora de almoço, apoio psicológico, ginástica laboral e ajuda em financiamento para carro, outras oferecem apenas va- le-transporte, alimentação e plano de saúde. Porém, há um rol deles que é concedido pela maioria das organizações, com base no que elas acreditam ser interessante para os colaboradores, e nos estudos sobre o que promove satisfação, conforme mostra o quadro a seguir. Quadro 2 – Benefícios flexíveis frequentes GRUPO BENEFÍCIO Alimentação vale refeição/alimentação: podendo dividir o valor entre os benefícios ou substituir um pelo outro; refeitório no trabalho; cesta básica. Educação auxílio educação; auxílio curso de idiomas. Família creche (reembolso, convênio ou mãe crecheira); auxílio funeral; subsídio de material escolar; seguro de vida (para os jovens). Saúde plano de Saúde - com opção de escolher o padrão (básico, executivo ou livre escolha) ou o tipo de acomodação (enfermaria ou apartamento); plano odontológico; convênio farmácia. Previdência Complemento previdência privada Complemento auxílio-doença GRUPO BENEFÍCIO Transporte Carro (escolha de marca/modelo; pagamento da diferença) Combustível e manutenção Estacionamento Transporte da empresa ou vale-transporte Outros Cesta de Natal Título de clubes Convênios (comércio, academia, etc.) Fonte: adaptado de ORSI, 2015. Entenda que a maior frequência de alguns benefícios está baseada em conceitos sobre as causas da motivação humana, a qual está associada a vários aspectos da vida e a necessidades que variam desde necessidades básicas de alimentação, segurança e saúde, até de autoestima, reco- nhecimento grupal e social, status, conforto, crescimento e desenvolvimento (CHIAVENATO, 2015). SAIBA MAIS! Conheça um programa de aposentadoria feito por uma universidade pública brasileira, lendo o artigo de Murta et al. (2017), disponível em <http://www.scielo. br/pdf/prc/v27n1/01.pdf>. O ideal é que a empresa busque um equilíbrio entre os benefícios que custam menos e os que os empregados mais valorizam, a fim de atender aos interesses de ambos. Nesse sentido, Orsi (2015) aconselha que seja feito um estudo verificando a preferência das pessoas, para assim oferecer pacotes atraentes e com custos adequados, evitando desperdícios. Entenda a seguir como o plano de benefícios deve ser alinhado à cultura organizacional. 3 Benefícios alinhados à cultura organizacional A escolha de um plano de benefícios bem estruturado deve considerar diversos fatores como o tipo de benefício (espontâneo ou obrigatório), os recursos financeiros disponíveis, a divisão dos custos, os objetivos da empresa e sua cultura. A cultura organizacional consiste em um conjunto de hábitos, crenças e ideias, estabelecidos a partir de valores, regras e normas da empresa, que são partilhados por todos os membros. Ela determina o jeito de ser da organização diante das situações, ou seja, é sua identidade. Nesse sen- tido, a forma como a empresa pensa, decide, age, faz negócios, cria políticas e práticas, exprime sua cultura (ROCHA-PINTO, 2007). FIQUE ATENTO! Na medida em que a cultura organizacional reflete uma identidade, ela distingue uma organizaçãoda outra. Diante do atual cenário de grande concorrência, é essencial que o programa de remuneração da empresa esteja totalmente alinhado com sua cultura, ou seja, com seus valores, princípios e crenças, para que assim fortaleça esses aspectos e melhore sua competitividade no mercado. Afinal, uma das formas de se obter competitividade é instituindo uma cultura sólida e consistente, em que as políticas e práticas de gestão de pessoas estejam alinhadas com a estratégia organiza- cional (ROCHA-PINTO, 2007). Ademais, alinhar o programa de benefícios à cultura não é importante apenas para fortalecer os valores organizacionais e incrementar a competitividade, mas também para mostrar coerência interna, gerando maior satisfação e orgulho do colaborador, que tenderá a demonstrar maior enga- jamento, comprometimento e empenho em suas atividades. Figura 2 – Engajamento nas metas Fonte: iQoncept/Shutterstock.com Dessa forma, ao definir se irá oferecer um pacote totalmente ou parcialmente flexível, irão se diferenciar os benefícios de acordo com o cargo ou não e se permitirão trocas e incrementos nos benefícios, a empresa estará “dizendo” de forma subliminar, se ela considera as diferenças indivi- duais ou não, se quer manter as diferenças hierárquicas, e o que ela valoriza nas pessoas. Dentre os vários tipos existentes, uma empresa que possui uma cultura do tipo “foco”, que acredita que os resultados vêm pelo trabalho em equipe e preocupa-se em oferecer um ambiente humano de trabalho, por exemplo, deverá oferecer benefícios igualitários a todos os cargos, horário flexível, creche, restaurante, posto bancário e academia na empresa, assistência social, convênios, gratificações por desempenho grupal, participação nos lucros, entre outros. (PEREZ; COBRA, 2017) SAIBA MAIS! Para cada tipo de cultura organizacional, existe uma estratégia de remuneração mais adequada e efetiva, conforme mostra o artigo de Russo et al. (2012). Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/read/v18n3/v18n3a04.pdf>. Mas quando a empresa não planeja e não alinha seus benefícios à cultura, podem ocorrer problemas como: acusação de paternalismo, custos elevados, perda do efeito motivador, ser fonte de queixas pela baixa qualidade, não atender às necessidades e interesses dos colaboradores, não gerar retenção e atração dos profissionais (CHIAVENATO, 2015). Perceba que não considerar a cultura ao traçar o programa de benefícios da empresa, poderá causar certa confusão nas pessoas e servirá de empecilho para a realização das estratégias organizacionais. Fechamento Nesta aula, você aprendeu que os pacotes de benefícios podem flexibilizados dando opções de escolha aos colaboradores. Além disso, entendeu que os benefícios devem ser condizentes com a cultura organizacional, para que funcionem a favor da empresa. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer as diferentes formas de flexibilização dos benefícios; • conhecer os benefícios mais frequentes; • entender que a cultura deve estar alinhada ao plano de benefícios para ser eficaz. Referências CHIAVENATO, I., Remuneração, benefícios e relações de trabalho. 7. ed. rev. e atual. Barueri-SP: Manole, 2015. LUZ, Ricardo S. Gestão de Benefícios: a experiência Brasileira. Rio de Janeiro: Qualymark, 2000. MARRAS, Jean Pierre. Administração de remuneração. 2. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012. MURTA, Sheila Giardini et al. Preparação para a aposentadoria: implantação e avaliação do programa viva mais! Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 27, n. 1, p. 01-09, Mar. 2014. Disponível em <http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102=79722014000100001-&lng=en&nrm- iso>. Acesso em: 23 nov. 2017. ORSI, Ademar. Remuneração de pessoas nas organizações. Curitiba: InterSaberes, 2015. PEREZ, Francisco Conejero; COBRA, Marcos. Cultura organizacional e gestão estratégica: a cul- tura como recurso estratégico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. ROCHA-PINTO, Sandra Regina da; et al. Dimensões funcionais da gestão de pessoas. 9. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. RUSSO, Giuseppe Maria, et al. Correlacionando tipos de cultura organizacional com estratégias de remuneração utilizando a tipologia de Charles Handy. REAd. Rev. eletrôn. adm., Porto Alegre, v. 18, n. 3, p. 651-680, dez. 2012. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S1413-23112012000300004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 01 set. 2017. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-23112012000300004&lng=pt&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-23112012000300004&lng=pt&nrm=iso _GoBack
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