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96 Unidade III Unidade III 7 CORRENTES ELÉTRICAS As correntes elétricas podem ser usadas para produzir uma resposta elétrica em músculos e nervos, portanto, para utilizar de forma eficaz a eletroestimulação é importante rever conceitos básicos de ativação neural pelos sinais elétricos e como ocorrem as contrações musculares em resposta a esses sinais. Além disso, a compreensão dos tipos de fibras musculares e ordem de recrutamento das fibras musculares é importante. Mas antes de iniciar a nossa imersão em eletroestimulação, torna-se necessário distinguir conceitos básicos sobre estimulação elétrica, sendo os principais a estimulação elétrica neuromuscular (NMES) e estimulação elétrica funcional (FES). Suas siglas são oriundas dos termos em inglês. A NMES é a forma de estimulação elétrica utilizada com altas intensidades para produzir contração muscular e pode ser aplicada associada ao movimento ou não. A contração do músculo inervado ocorre decorrente de despolarização dos nervos motores locais. Exemplos da utilização da NMES: casos de hipotrofia muscular e/ou inibição muscular artrogênica por desuso, dor ou intervenção cirúrgica. Em contrapartida, a FES é o termo usado quando tem como objetivo favorecer ou produzir movimento funcional, o qual não é conseguido voluntariamente pelo paciente, por exemplo, para favorecer a dorsiflexão durante a marcha em pacientes neurológicos ou para restaurar equilíbrio e marcha em pacientes com paraplegia. A FES é comumente utilizada nos membros superiores para favorecer atividades de vida diária (AVD) ou nos membros inferiores para marcha. A FES pode substituir um movimento completamente perdido, como nos músculos paralisados em indivíduos com lesão medular ou substituir as órteses. A utilização da FES pode exigir circuitos sofisticados, múltiplos canais, mecanismos de acionamento da corrente e pode precisar ser aplicada a longo prazo e durante várias horas para atingir os objetivos. Com base nesses dois conceitos, a eletroestimulação pode ser utilizada em diversas áreas da fisioterapia como exemplo: • Fisioterapia neurológica, adulta e pediátrica, atuando com pacientes após acidente vascular encefálico (AVE), paraplégicos, tetraplégicos, esclerose múltipla, desordens de deglutição, paralisia de Bell, entre outras. • Fisioterapia ortopédica, traumatológica e esportiva, atuando com as principais lesões de joelho, ombro, coluna, quadril, tornozelo e pé. 97 ELETROTERAPIA • Fisioterapia cardiorrespiratória, atuando com pacientes em hemodiálise, doença arterial periférica, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca sistólica crônica, entre outras, incluindo pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). • Fisioterapia na saúde da mulher e do homem, atuando com pacientes com ejaculação precoce, incontinência urinária e vaginismo. • Fisioterapia oncológica, atuando com repercussões geradas pelo câncer. • Fisioterapia geriátrica, atuando com pacientes em Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPI). Os conceitos anteriormente mencionados podem ser aplicados em todas essas áreas, de acordo com o objetivo do tratamento e condições físicas e clínicas do paciente, e os diversos aparelhos disponíveis de eletroestimulação no mercado podem ser utilizados para ambos conceitos e áreas. Lembrete Os conceitos FES e NMES utilizam a corrente elétrica para produzir contração muscular. A principal diferença entre ambos é a capacidade de o paciente conseguir contração voluntária. 7.1 Parâmetros de eletroestimulação e a sua relação com a fisiologia Antes de imergir sobre cada aparelho de eletroestimulação, torna-se necessário recordar algumas relações entre parâmetros de eletroterapia com a fisiologia humana, com o objetivo de realizar o melhor ajuste do aparelho e alcançar o sucesso do tratamento. A grande maioria dos parâmetros que iremos citar agora são aplicáveis a todos aparelhos, porém alguns podem ter ajustes diferentes ou não possuir o parâmetro citado, mas no decorrer da explicação individual do aparelho, iremos falar sobre cada ajuste a ser feito. Ao aplicar um estímulo elétrico no tecido, um dos nossos alvos é a fibra nervosa que se encontra em estado de repouso de −70 mV, sendo o interior negativo e o exterior positivo. O impulso elétrico aplicado ao tecido causa um movimento de íons através dos tecidos e, consequentemente, através da membrana, porém é necessária uma quantidade mínima de carga elétrica para que ocorra a alteração do potencial de membrana, ocorrendo o impulso nervoso completo. A quantidade mínima de corrente necessária para disparar um impulso nervoso é chamada reobase. Pode-se observar na figura a seguir que intensidades de corrente muito baixa ou baixa não são suficientes para promover o impulso nervoso, não estimulando a região muscular. Intensidades maiores produzem despolarização, seguida por repolarização da membrana e produção de impulso nervoso, essencial para estimulação muscular. 98 Unidade III Potencial da membrana (mV) Pulso elétrico aplicado (V) Potencial de repouso Limiar -70 +30 Tempo (ms) Impulsos nervosos idênticos desencadeados Não além do limiar, portanto sem gerar impulso Intensidade muito alta Intensidade levemente elevada Intensidade baixa Intensidade muito baixa Figura 38 – Relação intensidade × potencial da membrana Clinicamente, o ajuste da intensidade é essencial para um bom resultado com a eletroestimulação, sendo o ideal, com base nesses conceitos de fisiologia, uma intensidade alta e que produza contração muscular. O próximo parâmetro a ser discutido é a duração de pulso, que possui uma relação importante com a intensidade, sendo a duração do pulso uma exclusividade dos aparelhos de baixa frequência. As modulações na duração do pulso mudam a carga da fase e/ou pulso de cada forma de onda aplicada. Com o aumento da duração de pulso, aumenta a quantidade de carga e induz uma corrente maior nos tecidos biológicos, tornando o estímulo mais forte. Além disso, maiores durações de pulsos estimulam uma quantidade maior de fibras nervosas. A figura a seguir nos mostra uma relação inversamente proporcional entre a duração de pulso e a amplitude/intensidade dos pulsos. Podemos observar que quanto maior a duração de pulso, menor a intensidade/amplitude necessária para atingir os nervos, e o inverso também é verdadeiro. Porém devemos ter atenção na dosagem desse parâmetro, pois ao aplicar uma duração de pulso muito pequena, será necessária uma intensidade/amplitude enorme para obter uma contração muscular. Uma duração de pulso muito pequena com uma intensidade/amplitude baixa não atingirá os nervos e será um estímulo subsensorial. 99 ELETROTERAPIA xx xx xx xx xx Duração dos pulsos em ms Nervos transmissores de dor Nervos motores Nervos sensoriais Am pl itu de d e pu lso s e m m A 0,001 50 100 150 200 0,01 0,1 1,0 10 100 40 mA 20 mA 10 mA Figura 39 – Curvas amplitude-duração Clinicamente, o aumento da duração do pulso gera aumento da produção de força e a percepção sensorial ao estímulo, mas não altera a fadiga muscular. Observação Na prática clínica, pode ocorrer de atingir o limite máximo de intensidade do aparelho e não produzir contração muscular, ou seja, não atingir o limiar motor. Com base nos conceitos mencionados anteriormente, é possível aumentar a duração do pulso, e com isso necessitará de uma menor intensidade para atingir o limiar motor e produzir contração muscular. A velocidade de subida do pulso é outro importante parâmetro de eletroestimulação que merece atenção e discussão mais aprofundada frente ao seu controle. O que foi exposto previamente sobre a duração de pulso e intensidade não será válido se a velocidade de subida do pulso for lenta, para isso necessitamos de pulsos de onda quadrada com velocidade de subida rápida. Caso a velocidade de subida da corrente for muita lenta, ela não provocará um impulso nervoso, pois o equilíbrio iônico através damembrana da fibra nervosa é capaz de se ajustar, de modo que o potencial limiar aumente em resposta à carga elétrica aplicada, processo conhecido como acomodação. 100 Unidade III A capacidade de acomodação é muito maior no tecido nervoso do que no tecido muscular. O pulso elétrico com a menor carga que estimulará um impulso nervoso é o que sobe rapidamente – onda quadrada. A figura a seguir demonstra a acomodação do nervo para três pulsos elétricos aplicados com velocidades de subida diferentes. Po te nc ia l d e m em br an a do ne rv o em m V Pu lso e lé tr ic o ap lic ad o em V o u m A A elevação lenta nunca dispara impulso, pois o limiar aumenta Pulso de onda quadrada dispara o impulso em uma intensidade de corrente mais baixa Tempo (ms) Tempo (ms) Limiar Limiar Carg a at ravé s da me mbr ana Limiar +30 0 -70 Figura 40 – Acomodação do nervo para diferentes tipos de velocidade de subida do pulso Na prática clínica, não é possível alterar o tipo de pulso do aparelho, pois é programado de fábrica, porém podemos modular a velocidade de subida do pulso para que atinja a amplitude máxima. Como vimos anteriormente, é recomendado que se utilize velocidade rápida de subida, sendo o indicado entre 1 e 2 segundos. A parametrização da frequência é muito importante durante a aplicação da eletroestimulação neuromuscular, pois tem uma relação direta com capacidade de contração do músculo e tipo de fibras estimuladas. Torna-se importante recordar que, para que ocorra a contração muscular, é necessária a produção de um potencial de ação ativando o elemento contrátil do músculo; caso não ocorra outro potencial de ação, o músculo relaxa. Se um segundo potencial de ação é disparado antes que todo o cálcio liberado pelo primeiro potencial de ação seja reafastado, mais cálcio do retículo sarcoplasmático é liberado e é permitido continuar o ciclo de pontes cruzadas actina-miosina, ou seja, a contração é mantida por um período maior, ocorrendo uma maior geração de força. 101 ELETROTERAPIA Potenciais de ação subsequentes produzem aumento ainda maior da força muscular, porém frequências mais baixas (3 a 20 estímulos por segundo) fazem com que ocorra uma contração tetânica não fundida, e o perfil da força ocorre como oscilações. Com o aumento da frequência (>30 estímulos por segundo), a força isométrica também aumenta, as oscilações na força desaparecem e a contração torna-se uniforme. Essas contrações, de forma uniforme e fortes, produzidas pelo músculo em resposta a essa rápida chegada de potenciais de ação, é denominada contração tetânica fundida ou tetanização. A figura a seguir demonstra como o aumento da frequência aumenta a capacidade de produção de força de contração muscular. 5 pps 10 pps TempoA Fo rç a de c on tr aç ão 30 pps 50 pps Figura 41 – Frequências baixas produzem pequena força de contração, frequências maiores (>30 pps) produzem maior força muscular; as oscilações da contração muscular diminuem conforme o aumento da frequência aumenta Clinicamente, se estimularmos um nervo motor com uma frequência de 1 Hertz (Hz) – um pulso por segundo –, o resultado será uma série de abalos musculares. Ao aumentar a frequência para 10 Hz, será observado um tremor muscular, porém aumentando para 30 Hz, podemos observar uma contração muscular de forma contínua, ou seja, uma contração muscular tetânica. Estimulação com frequências além de 100 Hz não aumentam a contração muscular e o formigamento sensorial, como demonstra a figura a seguir. 102 Unidade III 10 30 50 Frequência de pulso Fo rç a da c on tr aç ão m us cu la r 70 9020 40 60 80 100 Figura 42 – A força de contração aumenta de acordo com o aumento da frequência do pulso, porém frequências acima de 100 Hz não alteram a produção de força muscular É possível observar que frequências entre 30 Hz e 40 Hz produzem contrações suaves e podem ser consideradas para terapia. O aumento da frequência de estimulação, além de aumentar a força muscular, leva a maior fadiga muscular se a terapia for prolongada, portanto, torna-se muito importante o cuidado na parametrização da frequência, evitando uma fadiga muscular precoce. Na prática, podemos utilizar o parâmetro frequência com o intuito de estimular fibras musculares específicas. Os músculos que exigem controle motor fino e geram forças relativamente pequenas, como os que controlam os movimentos dos olhos ou dos dedos das mãos, estão geralmente associados a unidades motoras de tamanho menor. Essas unidades motoras apresentam um número menor de fibras musculares inervadas por axônio, são fibras de contração lenta e mais resistentes à fadiga. Os músculos usados no controle de movimentos menos refinados, envolvidos na produção de força maior, estão geralmente associados a unidades motoras de tamanho maior. Essas unidades motoras inervam um número maior de fibras musculares por axônio, são fibras de contração mais rápidas e menos fadigáveis. A figura a seguir demonstra a classificação dos tipos de unidades motoras e sua relação com perfil histoquímico das fibras, unidades motoras, quantidade de fibras musculares, ordem de recrutamento, resposta contrátil e fatigabilidade. 103 ELETROTERAPIA Tipos de unidade motora Fatigável rápida (FR) Resistente à fadiga e rápida (RFR) Lenta (L) Perfil histoquímico das fibras Glicolítico rápido (GR) Glicolítico oxidativo rápido (GOR) Oxidativo lento (OL) Grande Pequena Baixa taxa de inervação Alta taxa de inervação 50 50 50 40 40 40 30 30 30 20 20 20 10 10 10 0 0 0 04 4 460 60 602 2 26 6 6min. min. min. 100% 100% 100% 0 0 0 0 0 100 ms 100 ms 100 ms Resistente à fadiga Facilmente Facilmente fatigávelfatigável Contração Contração rápidarápida Contração Contração lentalenta Gr am as Gr am as Gr am as Unidades motoras Fibras musculares Ordem de recrutamento Resposta contrátil Fatigabilidade Figura 43 – Classificação dos tipos de fibras musculares Os músculos do corpo humano possuem tanto fibras de contração lenta quanto fibras de contração rápida, porém variam em porcentagem de músculo para músculo. Existem músculos com uma distribuição igual entre fibras rápidas e lentas, porém existem os com porcentagem maior de fibras rápidas do que lentas, ou vice-versa. A tabela a seguir apresenta em porcentagem a quantidade de fibras rápidas e lentas de diversos músculos do corpo humano, baseado no estudo de Jonhson e colaboradores em cadáveres. 104 Unidade III Tabela 1 – Porcentagem de fibras lentas e fibras rápidas em diferentes músculos do corpo humano Músculo Média (%) fibras lentas Média (%) fibras rápidas Abdutor do dedo mínimo 51,8 48,2 Abdutor curto do polegar 63,0 37,0 Adutor magno (superficial) 53,5 46,5 Adutor magno (profundo) 63,3 36,7 Bíceps braquial (superficial) 42,3 57,7 Bíceps braquial (profundo) 50,5 49,5 Bíceps femoral 66,9 33,1 Braquiorradial 39,8 60,2 Deltoide (superficial) 53,3 46,7 Deltoide (profundo) 61,0 39,0 Primeiro interósseo dorsal 57,4 42,6 Eretor espinal (superficial) 58,4 41,6 Eretor espinal (profundo) 54,9 45,1 Extensor longo dos dedos 47,3 52,7 Extensor curto dos dedos 45,3 54,7 Flexor curto dos dedos 44,5 55,5 Flexor profundo dos dedos 47,3 52,7 Frontal 64,1 35,9 Gastrocnêmio (cabeça lateral superficial) 43,5 56,5 Gastrocnêmio (cabeça lateral profundo) 50,3 49,7 Gastrocnêmio (cabeça medial) 50,8 49,2 Glúteo máximo 52,4 47,6 Iliopsoas 49,2 50,8 Infraespinal 45,3 54,7 Latíssimo do dorso 50,5 49,5 Orbicular do olho 15,4 84,6 Peitoral maior (parte clavicular) 42,3 57,7 Peitoral maior (parte esternal) 43,1 56,9 Fibular longo 62,5 37,5 Reto abdominal 46,1 53,9 Reto femoral (cabeça lateral superficial) 29,5 70,5 Reto femoral (cabeça lateral profunda) 42,0 58,0 Reto femoral (cabeça medial) 50,8 49,2 105 ELETROTERAPIA Músculo Média (%) fibras lentas Média (%) fibras rápidas Romboide 44,6 55,4 Sartório 49,6 50,4 Sóleo (superficial) 86,4 13,6 Sóleo (profundo)89,0 11,0 Esternocleiodomastóideo 35,2 64,8 Supraespinal 59,3 40,7 Temporal 46,5 53,5 Tibial anterior (superficial) 73,4 26,6 Tibial anterior (profundo) 72,7 27,3 Trapézio 53,7 46,2 Tríceps (superficial) 32,5 67,5 Tríceps (profundo) 32,7 19,6 Vasto lateral (superficial) 37,8 67,3 Vasto lateral (profundo) 46,9 53,1 Vasto medial (superficial) 43,7 56,3 Vasto medial (profundo) 61,5 38,5 Adaptado de: Johnson et al. (1973). Na prática clínica, podemos utilizar diferentes frequências com o intuito de estimular fibras de contração rápida ou lenta. As fibras musculares de contração rápida, que são fásicas e recrutadas para acrescentar força muscular e rapidez ao movimento, respondem melhor a frequências na faixa de 50-150 Hz. As fibras de contração lenta, que são posturais e as primeiras a se tornar ativas, respondem a uma frequência de 20-30 Hz. Com isso, podemos utilizar a tabela como base para estimular da melhor forma diversos músculos do corpo humano. É importante salientar que a contração muscular através da eletroestimulação difere da contração voluntária, portanto, sempre que possível, torna-se interessante a contração do músculo associada e sem associação da corrente elétrica, visando trabalhar o músculo de uma forma mais fisiológica também. Sobre a frequência, podemos destacar algumas características essenciais para a prática: • diferentes frequências estimulam diferentes tipos de fibras musculares; • frequência acima de 30 Hz são ideais para contração muscular; • o aumento da frequência aumenta a força muscular; • o aumento da frequência aumenta a fadiga muscular. 106 Unidade III Saiba mais A compreensão de estrutura e fisiologia muscular é essencial para utilizar o recurso de eletroestimulação. O artigo a seguir traz uma excelente discussão sobre a arquitetura muscular e suas implicações para a reabilitação, o que nos leva a uma visão crítica da prescrição de exercícios e da contração muscular baseado em anatomia e fisiologia muscular: WARD, S. R. et al. The architectural design of the gluteal muscle group: implications for movement and rehabilitation. J Orthop Sports Phy Ther., v. 40, n. 2, p. 95-102, 2010. Disponível em: https://www.jospt.org/doi/ pdf/10.2519/jospt.2010.3302. Acesso em: 19 nov. 2020. O quadro a seguir demonstra os principais parâmetros das correntes excitomotoras e suas relações positivas e negativas para a prática clínica. Quadro 3 – Implicação clínica dos principais parâmetros ajustáveis dos aparelhos de eletroestimulação Parâmetro Implicações clínicas Intensidade Alta o suficiente para produzir contração muscular. Duração de pulso Quanto maior a duração do pulso, mais fibras são estimuladas Quanto maior a duração do pulso, mais forte é o estímulo Quanto maior a duração do pulso, menor é a intensidade necessária para produzir contração muscular Quanto maior a duração de pulso, maior a força produzida pelo músculo Tempo de subida do pulso Preferencialmente, pulsos de onda quadrada para evitar acomodação. Utilizar tempo de subida de 1 a 2 segundos Frequência 3-20 Hz produzem contrações tetânicas não fundidas >30 Hz produz contração tetânica fundida >100 Hz não aumenta a contração muscular e o estímulo Quanto maior a frequência, maior é a força produzida pelo músculo Quanto maior a frequência, maior é a fadiga muscular Observação É de extrema importância o conhecimento de anatomia, fisiologia e contração muscular, facilitando, assim, a aplicação das correntes elétricas com o objetivo de contração muscular. 107 ELETROTERAPIA 7.2 Mecanismo de ação A aplicação de estimulação elétrica no sistema neuromuscular periférico intacto vai despolarizar a membrana celular até o limiar de geração do potencial de ação em nervo e músculos que estão descaracterizados do processo fisiológico do sistema nervoso. Ao aplicar dois eletrodos de um circuito estimulador sob a pele diretamente sobre um pequeno ramo de um nervo periférico e iniciarmos a estimulação, a corrente passará de um eletrodo para o outro através da membrana do nervo. Se a corrente induzida através da membrana for muito baixa, a mudança no potencial rapidamente retornará ao seu potencial de repouso. Se a corrente induzida através da membrana for grande o suficiente, um potencial de ação será evocado e propagado ao longo dela. O potencial de membrana evocado pela estimulação elétrica é idêntico ao produzido ao longo da membrana da fibra em resposta à ativação fisiológica. Durante a estimulação de um nervo periférico, as fibras com maior diâmetro e menor resistência interna são as mais fáceis de ser excitadas, no caso, as fibras Aα são as que mais rapidamente são ativadas. Para a ativação das fibras Aβ, Aδ ou C é preciso de estímulos de maior duração e/ou intensidade. Na aplicação da estimulação elétrica, a ordem de recrutamento de fibras ocorre das fibras de grande diâmetro para as de menor diâmetro, que é o padrão oposto que ocorre durante a contração fisiológica. A estimulação elétrica do músculo é diferente da contração voluntária em vários aspectos, como demonstra o quadro a seguir. Quadro 4 – Diferenças entre a contração muscular voluntária e através da eletroestimulação Contração voluntária Eletroestimulação Disparo não sincronizado de neurônios motores Disparo sincronizado de todos os neurônios motores estimulados Fibras musculares do tipo I são recrutadas primeiro, em seguida, as do tipo II Estimula primeiro os neurônios motores de maior diâmetro (fibras tipo II) Nervos sensoriais não são estimulados Nervos sensoriais são inevitavelmente estimulados Frequência de disparo é variável Frequência de disparo é fixa Produz contrações musculares mais suaves Produz contrações musculares mais fortes Lembrete A contração muscular através da eletroestimulação difere da contração voluntária, portanto, sempre que possível, torna-se interessante a contração do músculo associada e sem associação da corrente elétrica, visando trabalhar o músculo de uma forma mais fisiológica também. 108 Unidade III A estimulação de nervos e fibras musculares não depende apenas da excitabilidade desses tecidos, mas da sua localização relacionada ao eletrodo que é utilizado para transferir corrente. Como exemplo, caso o eletrodo esteja posicionado sobre fibras de tato e pressão e próximo a fibras de dor, a tendência é que essas fibras sejam estimuladas previamente às fibras motoras que estão mais profundas no tecido, ou seja, axônios de pequeno diâmetro muito próximos dos eletrodos podem ser ativados antes das fibras de grande diâmetro localizadas mais profundamente. Em casos de nervos periféricos mistos – fibras motoras, sensitivas de tato-pressão e sensitivas de dor –, quando eletroestimulados, provocará respostas sensitivas de alfinetadas antes mesmo de respostas motoras ou dolorosas, porém quando aumentada a intensidade ou duração do pulso, respostas motoras serão produzidas e sobrepostas à estimulação sensitiva. Se aumentar ainda mais a duração do pulso ou intensidade, provocará uma resposta dolorosa, a qual ocorre simultaneamente às repostas sensitivas e motoras. A figura a seguir ilustra a ordem de recrutamento dessas fibras e a relação com a intensidade/ amplitude e duração do pulso. Duração do pulso (μs) Subsensitivo 5 10 20 50 100 100 200 300 400 300 500 1000 Sensitivo Motor NocivoAmplitude do pulso (mA) Figura 44 – Relação entre duração de pulso e amplitude/intensidade para os três níveis clínicos comuns da estimulação elétrica Caso na área a ser estimulada não existir axônios de motoneurônios alfas ou fibras musculares esqueléticas, por exemplo, como ocorre nas proeminências ósseas, o aumento da intensidade pode produzir uma resposta dolorosa na ausência de contração muscular. A estimulação elétrica muscular é usada com diversas finalidades terapêuticas e até de rendimento. Discutiremos a seguir as principais delas. 109 ELETROTERAPIA 7.2.1 Fortalecimento em músculos saudáveis O uso da eletroestimulaçãoem músculos saudáveis é um tema controverso na literatura, mesmo com diversas pesquisas realizadas. Pesquisas recentes demonstram que associar a eletroestimulação ao exercício físico é mais eficaz que realizar o exercício isolado em pessoas saudáveis, em níveis atléticos ou na terceira idade. Em contrapartida, outros estudos não demonstram diferenças entre exercícios voluntários e exercícios associados à eletroestimulação, causando uma divergência de informações na literatura. Ao consultar o maior nível de evidência da literatura, as revisões sistemáticas com metanálise, um trabalho demonstra que a eletroestimulação não adiciona efeitos ao fortalecimento do músculo quadríceps em pessoas saudáveis. A hipótese de que a eletroestimulação não adiciona benefícios ao exercício isolado em pessoas saudáveis dá-se pelo fato de essa população não apresentar alterações neurais ou no trofismo muscular, sendo os dois sistemas alvos da utilização da eletroestimulação e, portanto não acrescentando efeitos a um sistema íntegro. 7.2.2 Fortalecimento em músculos fracos O uso do recurso de eletroterapia nesses pacientes está mais claro na literatura e são demonstrados resultados positivos na função muscular. Uma revisão sistemática da colaboração de Cochrane, a qual tinha como objetivo avaliar a efetividade da eletroestimulação na força muscular do quadríceps em adultos com doenças avançadas, como doença respiratória crônica avançada, insuficiência cardíaca crônica, câncer ou HIV/AIDS, conclui que a eletroestimulação é um tratamento eficaz para a fraqueza muscular em adultos com doenças avançadas e pode ser um recurso associado aos exercícios como parte de um programa de reabilitação. O recurso também demonstra resultados promissores quando aplicado em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), aumentando a força e a resistência do quadríceps, porém a qualidade de evidência dos estudos é baixa. Uma revisão sistemática com metanálise conclui que a eletroestimulação é um meio eficaz de aumentar a força do quadríceps e a capacidade de exercício em pacientes com DPOC nível moderado a grave. Em pacientes com músculos fracos, a eletroestimulação contribui para maior recrutamento de fibras musculares, aumentando a capacidade de contração do músculo, além de melhorar o disparo dos neurônios motores. 7.2.3 Facilitação do controle muscular O recurso pode ser utilizado em várias circunstâncias para facilitar a ativação e o controle muscular, como exemplificado a seguir. • Quando ocorre transplante de um músculo ou nervo motor. 110 Unidade III • Em estágios tardios de recuperação de uma lesão de nervo periférico com o objetivo de encorajar a contração muscular voluntária em que a reinervação aconteceu recentemente. • Em músculos de difícil percepção da contração muscular por desuso ou falta de consciência corporal, como os músculos intrínsecos de pé, glúteos etc. • Em situações em que a ação muscular é inibida por dor ou lesão, como em pacientes com cirurgia ou doença degenerativa do joelho. • Em situações em que a ação muscular precisa ser aprendida para tornar-se voluntária, como em músculos do assoalho pélvico para controlar a perda de urina. • Em crianças com paralisia cerebral, favorecendo a contração muscular com o objetivo de melhorar funções motoras. • Em pacientes após AVC, com o objetivo de facilitar a função motora em tarefas funcionais dos membros superiores e inferiores. Nas situações clínicas citadas, a eletroestimulação pode iniciar a contração muscular e facilitar a percepção da contração, auxiliando o paciente na manutenção da contração e interpretação de como realizá-la. 7.2.4 Substituição de órteses A contração muscular através da estimulação elétrica produz movimento ou reposicionamento articular, substituindo órteses para subluxação de ombro ou pé equino em pacientes hemiplégicos. Uma revisão sistemática com metanálise demonstra resultados benéficos do uso da eletroestimulação para reduzir a subluxação do ombro em pessoas com AVC agudo e subagudo, porém não foram encontrados resultados significativos para AVC crônico. O seu uso demonstra benefícios ao substituir órteses para pé equino em pacientes com alterações neurológicas, como a paralisia cerebral espástica. 7.2.5 Controle da espasticidade A eletroestimulação pode atuar no controle da espasticidade através da ativação dos músculos antagonistas aos espásticos, fazendo com que ele relaxe através do conceito de inibição recíproca ou através da estimulação do próprio músculo espástico, onde ocorre a fadiga do músculo, levando a sua inibição. O uso da eletroestimulação associada a outras terapêuticas reduz a espasticidade e aumenta a amplitude de movimento em pacientes após AVC. Os mesmos resultados são apresentados com o uso da eletroestimulação em pacientes com lesão medular e paralisia cerebral. 111 ELETROTERAPIA 7.2.6 Alterações na estrutura e nas propriedades do músculo O uso da eletroestimulação com baixas frequências (≤20 Hz) e altas frequências (≥50 Hz) promove alterações nas enzimas oxidativas. O quadro a seguir demonstra o tipo de enzima oxidativa, sua função e o tipo de estimulação que altera seus valores. Quadro 5 – Funções das enzimas oxidativas e a relação com a estimulação elétrica Enzima oxidativa Função Estimulação elétrica Citrato sintase Marcadora do ciclo do ácido tricarboxílico (ciclo de Krebs) Aumento com baixa frequência Isocitrato desidrogenase Participa do ciclo de Krebs Aumento com alta frequência (≥50 Hz) 3-Hidroxiacil-CoA desidrogenase Importante na oxidação dos ácidos graxos Aumento com baixa frequência e diminuição com alta frequência Crotonase Participa da oxidação beta dos ácidos graxos Amento com alta frequência NADH-ubiquinona oxidorredutase Primeira enzima da cadeia transportadora de elétrons mitocondrial Aumento com alta frequência Desidrogenase do succinato Participa do ciclo de Krebs e do complexo II da cadeia de transporte de elétrons Aumento com alta frequência Coenzima Q-citocromo c redutase Terceiro complexo da cadeia respiratória com papel na geração de ATP Aumento com alta frequência Citocromo c oxidase Complexo IV do metabolismo da cadeia de transferência de elétrons Aumento com baixa frequência Piruvato desidrogenase Contribui para vincular a via metabólica da glicólise ao ácido cítrico Aumento com alta frequência As enzimas glicolíticas (fosfofrutoquinase, gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase, hexocinase e enolase) não alteram ou diminuem após estimulação de baixa frequência e alta frequência, respectivamente. A eletroestimulação também pode proporcionar alterações na composição das fibras musculares. Estudos em indivíduos saudáveis não são conclusivos quanto a aumento ou diminuição na proporção das fibras do tipo I, resultados demonstram aumento ou nenhuma alteração com estimulação de baixa frequência e aumento e diminuição com estimulação de alta frequência. As fibras do tipo IIa apresentam aumento após baixa frequência e alta frequência, porém dados demonstram que com alta frequência a população ativa apresenta um aumento de 42% na composição, e diminuição de 9% na população ativa. Em contrapartida, as fibras do tipo IIb apresentaram diminuição com baixa e alta frequência. Em indivíduos saudáveis, a estimulação de baixa frequência não apresentou alterações na área de secção transversa (AST) do músculo e apresenta inconsistência entre aumento e nenhuma alteração com estimulação de alta frequência. Em pacientes com alterações cardiopulmonares, a estimulação de baixa frequência aumentou a AST, porém, na alta frequência, estudos demonstram aumento e nenhuma alteração nessa população. 112 Unidade III Em pacientes com problemas ortopédicos, a estimulação de alta frequência apresentou aumento e nenhuma alteração na AST da fibra muscular. Saiba mais A revisão sistemática da literatura referenciada a seguir revisou as principais alterações na estrutura e no metabolismo dos músculosdo membro inferior após a utilização da eletroestimulação e traz uma discussão bem interessante sobre as alterações adquiridas no músculo: SILLEN, M. J. H. et al. Metabolic and structural changes in lower-limb skeletal muscle following neuromuscular electrical stimulation: a systematic review. PLoS One, v. 8, n. 9, 2013. Disponível em: https://journals.plos.org/ plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0069391. Acesso em: 19 nov. 2020. 7.2.7 Efeitos sobre o metabolismo muscular e fluxo sanguíneo Como o objetivo da eletroestimulação é produzir contração muscular, ela apresentará os mesmos efeitos que a contração muscular voluntária para causar aumento no metabolismo muscular. A sua utilização provocará aumento na captação de oxigênio e produção de dióxido de carbono, ácido láctico e outros metabólitos, assim como um aumento na temperatura local e maior fluxo sanguíneo local. Currier, Petrilli e Threlkeld (1986) demonstraram um aumento de 20% no fluxo sanguíneo após 1 minuto de estimulação elétrica, e permaneceu por cerca de 5 minutos após o fim do protocolo. A contração e o relaxamento muscular promovem uma ação de bombeamento muscular e isso produz um aumento do fluxo nas veias, podendo auxiliar, terapeuticamente, a controlar o edema dos membros e aumentando o fluxo nos vasos venosos e linfáticos. Estudo recente demonstra que a estimulação elétrica aplicada com 5 Hz sobre o músculo tibial anterior por 10 minutos resulta em aumento na oxi-hemoglobina e hemoglobina total em comparação com os valores basais em repouso e permaneceram mais altos no período de 5 e 10 minutos após aplicação, sem reduzir a saturação de oxigênio em pacientes com isquemia crítica de membros após terapia regenerativa (YAMABATA et al., 2016). 8 APARELHO GERADOR DE CORRENTE EXCITOMOTORA DE BAIXA FREQUÊNCIA 8.1 Características físicas Uma grande variedade de marcas disponíveis no mercado produz aparelhos geradores de pulsos ou geradores de corrente excitomotora de baixa frequência, os quais, na maioria das vezes, utilizam o nome de FES para denominar esse tipo de aparelho. 113 ELETROTERAPIA É importante ressaltar que o aparelho denominado FES é utilizado para replicar o conceito NMES e FES, e o nome utilizado pelas marcas é uma estratégia puramente comercial. Os fabricantes, com suas particularidades, irão produzir o aparelho com características de correntes específicas, podendo ocorrer variações entre fabricantes e modelos, porém na grande maioria são utilizados corrente pulsada, bifásica e simétrica com pulsos retangulares de baixa frequência, ou seja, que variam de 1 a 1.000 Hertz (Hz), conforme demonstrado na figura a seguir. Amplitude de corrente Tempo Figura 45 – Corrente pulsada, bifásica e simétrica, com pulsos retangulares Diferentes modelos de aparelhos estão disponíveis no mercado atualmente, desde aparelhos de bancada até os portáteis, aparelhos que possuem uma única corrente até geradores de correntes com diversos tipos de corrente. A figura a seguir demonstra alguns aparelhos disponíveis atualmente, de diferentes marcas do mercado, e que não possui nenhum conflito de interesse com nenhuma delas. Figura 46 – Diferentes modelos de aparelhos de eletroterapia de diferentes marcas: de A a D: aparelhos de mesa; E: aparelho portátil; F: gerador de correntes elétricas A disposição dos botões para parametrizar o aparelho muda de fabricante, porém, a figura a seguir demonstra uma visão geral dos parâmetros e botões disponíveis na maior parte dos aparelhos. 114 Unidade III Parâmetros ajustáveis Duração de pulso (μs) Frequência (Hz) Tempo on ou tempo ativo (seg) Tempo off ou tempo inativo (seg) Tempo (min) Tempo descida (seg) Programas pré-definidos Iniciar e parar tratamento Intensidade dos canais (mA) Ajustes do aparelho para alterar o parâmetro ou aumentar e diminuir o valor a ser utilizado Tempo subida (seg) Figura 47 – Controles do aparelho de baixa frequência Alguns aparelhos mais antigos podem possuir controle analógico ao invés de controle digital e não estão disponíveis todos os parâmetros ajustáveis, por exemplo, aparelhos mais antigos não permitem que você controle o tempo no próprio aparelho, sendo necessário controlar através de um relógio ou cronômetro. Um dos recursos dos aparelhos atuais é a disponibilidade de protocolos pré-programados, nos quais os parâmetros de estímulo são definidos pelo fabricante. Esses protocolos podem ser úteis para pessoas que não conhecem o uso da eletroestimulação, porém os fisioterapeutas devem ser capazes de programar os parâmetros e eletroestimulação individualmente com o objetivo de personalizar e modificar o tratamento ao longo do tempo, com base nas características e respostas do paciente e nos resultados clínicos. Contudo, não é recomendada a utilização desses programas pré-estabelecidos. Os dispositivos atuais geralmente permitem que os terapeutas personalizem e salvem alguns protocolos. Esse recurso economiza tempo na configuração do dispositivo para um tratamento contínuo de um paciente específico. A intensidade é o único parâmetro que não fica salvo nesse recurso e precisa ser definida a cada tratamento. Os parâmetros ajustados pelo fisioterapeuta são: • duração de pulso; • frequência; • tempo ativo; • tempo inativo; • tempo de subida; 115 ELETROTERAPIA • tempo de descida; • intensidade; • tempo de aplicação. Os ajustes dos parâmetros têm relação importante com a fisiologia muscular e neural e podem ser consultados previamente neste livro-texto. As evidências relacionadas aos parâmetros divergem do tipo de lesão, pois a população não é a mesma e as alterações neuromusculares também são distintas, porém, a seguir apresentamos no quadro uma forma geral de aplicação das correntes de abaixar a frequência, em seguida, iremos apresentar evidências relacionadas a diferentes tipos de lesões e sistemas acometidos. Quadro 6 – Justificativa para os ajustes dos principais parâmetros de corrente de baixa frequência Parâmetro ajustável Ajuste Justificativa Duração do pulso Baixa: fases iniciais de fortalecimento Alta: fases avançadas de fortalecimento Músculos mais fracos podem fadigar mais rapidamente com duração de pulso alta, portanto, podemos controlá-la com intuito de evitar a fadiga precoce Frequência Usar sempre acima de 30 Hz 20-30/50 Hz: fibras de contração lenta 50-150 Hz: fibras de contração rápida Frequências >30 Hz são necessárias para produzir contração tetânica fundida Fibras de contração lenta possuem menor diâmetro do axônio e respondem a frequências mais baixas Fibras de contração rápida possuem diâmetro maior do axônio e respondem a frequência mais altas Tempo ativo (Ton) Será parametrizado de acordo com o tempo necessário para realizar a quantidade de repetições pré-estabelecida ou tempo de isometria Exemplo: prescreve-se 10 repetições para realização de determinado exercício, em que se pretende 2 segundos de contração concêntrica e 2 segundos de excêntrica. Para as 10 repetições são necessários 40 segundos de estimulação, portanto, o tempo ativo deve ser programado com 40 segundos Tempo inativo (Toff) Será parametrizado de acordo com o tempo de descanso necessário entre as séries de exercícios Recomenda-se, no mínimo, o mesmo tempo de tempo ativo Para músculos mais fracos, pode ser utilizado o dobro, triplo, quádruplo ou quíntuplo do tempo ativo Evita fadiga precoce do paciente, visto a eletroestimulação ser altamente fatigável Relação Ton:Toff Relação entre o tempo ativo e tempo inativo da corrente Músculos mais fracos requerem mais tempo de descanso Músculos mais fortes precisam de menos tempo de descanso 116 Unidade III Parâmetro ajustável Ajuste Justificativa Tempo de subida 1 a 2 segundos É necessário que seja rápida para evitar acomodação dos tecidos Tempo de descida 1 a 2 segundos Não tem muita influência sobre a terapêutica, portanto, podemos deixar qualquer valor Intensidade Máximatolerada pelo paciente, sem produzir dor, porém produzindo contração muscular. Vai variar de paciente para paciente e terapia para terapia Deve ser alta para produzir potencial de ação e, consequentemente, contração muscular Tempo de aplicação Tempo total suficiente para realizar as séries estipuladas do exercício, levando em consideração o tempo inativo Soma do tempo ativo e tempo inativo multiplicado pela quantidade de séries Exemplo: 30 segundos de tempo ativo e 90 de tempo inativo, paciente realizará 3 séries. Tempo de aplicação: 360 segundos ou 6 minutos 8.2 Eletroestimulação em condições neurológicas 8.2.1 Subluxação do ombro após acidente vascular cerebral A tabela a seguir apresenta parâmetros baseados na literatura para o uso da eletroestimulação em pacientes com subluxação do ombro decorrente de hemiplegia após acidente vascular cerebral (AVC). Tabela 2 – Ajuste recomendado para pacientes com subluxação do ombro decorrente de hemiplegia após AVC Parâmetro Ajuste recomendado Duração do pulso 250-350 µs Frequência 30-35 Hz Tempo ativo (Ton) 10-15 segundos Tempo inativo (Toff) 2 segundos Tempo de subida 1-4 segundos Tempo de descida Longo, para evitar dor ou estiramento dos tecidos quando a corrente para e o úmero abaixa devido à gravidade Intensidade Suficiente para produzir contração muscular suave e sustentada e reduzir a subluxação do ombro Tempo de aplicação 2-4 horas /dia com base na fadiga muscular Frequência das sessões 7 dias por semana por 4-6 semanas ou até que o controle voluntário for restaurado A aplicação da eletroestimulação em pacientes com subluxação do ombro decorrente de hemiplegia após AVC pode ser iniciada assim que a flacidez de ombro ocorrer e antes que a dor se manifeste, podendo ser associado com outras estratégias de reabilitação, como os exercícios. O protocolo de eletroestimulação pode ser iniciado com segurança entre 24 e 72 horas após a lesão. 117 ELETROTERAPIA Com até 6 meses após a lesão, a eletroestimulação é eficiente, porém a probabilidade de melhora reduz progressivamente com o tempo após o AVC. Órteses de ombro são importantes quando a eletroestimulação não está sendo utilizada para evitar alongamento aos tecidos. A aplicação para esse caso deve ser feita no ventre muscular do supraespinal e deltoide posterior. As fibras musculares do trapézio devem ser evitadas, pois elevam a escápula e não é o objetivo da aplicação. Um segundo canal pode ser utilizado para estimular a cabeça longa do bíceps para auxiliar na correção do alinhamento da cabeça do úmero. Estudos demonstram benefícios com a aplicação da eletroestimulação, como redução da subluxação, aumento da força muscular de abdução e rotação externa do ombro, aumento da amplitude de movimento, aumento da atividade eletromiográfica, redução da dor em repouso e com movimento ativo e passivo e melhora da função do braço. 8.2.2 Funcionalidade do membro superior A eletroestimulação também pode ser utilizada nos extensores de punho e dedos após AVC, visto a lesão alterar o sinergismo muscular entre flexores e extensores de punho e dedos e implicar nas funções do membro superior. O uso da eletroestimulação pode evitar atrofia e contraturas por desuso e incentivar o uso funcional da mão parética. A tabela a seguir apresentam parâmetros baseados na literatura para o uso da eletroestimulação em pacientes com fraqueza nos extensores de punho e dedos. Tabela 3 – Ajuste recomendado para pacientes com fraqueza nos extensores de punho e dedos Parâmetro Ajuste recomendado Duração do pulso 200 ou 300 µs Frequência 30-40 Hz Tempo ativo (Ton) 10 segundos Tempo inativo (Toff) 30 a 60 segundos Tempo de subida 1 a 2 segundos Tempo de descida 1 a 2 segundos Intensidade Máxima tolerada pelo paciente; produzir extensão de punho e dedos Tempo de aplicação Em média 30 minutos por dia Frequência das sessões 5 dias por semana, 4 a 8 semanas Aumento da duração em semanas, pode ser necessária se aplicada>6 meses após AVC A aplicação para esse caso deve ser feita com os eletrodos sobre os músculos: extensor ulnar e radial do carpo, visando uma posição neutra do punho durante a extensão, evitando desvio ulnar ou radial. 118 Unidade III Estudos demonstram benefícios nesses pacientes como: aumento do recrutamento muscular, aumento da extensão do punho e dedo, maior força de preensão, aumento da ADM de punho, redução da espasticidade flexora do punho, aumento da ativação cortical e melhora da função. 8.2.3 Funcionalidade dos membros inferiores A eletroestimulação também pode ser utilizada nos membros inferiores em pacientes após AVC que evoluem com queda do pé, caracterizada por incapacidade de realizar a dorsiflexão do tornozelo. Essa característica altera a velocidade da marcha, aumenta o gasto energético e o risco de quedas. Os objetivos da eletroestimulação nessa população é aumentar a força muscular dos dorsiflexores e, como consequência, reduzir a queda do pé e diminuir a espasticidade dos flexores plantares. Os parâmetros recomendados para essas características são expressos na tabela a seguir. Tabela 4 – Ajuste recomendado para pacientes com falta de controle dos dorsiflexores do tornozelo Parâmetro Ajuste recomendado Duração do pulso 300 µs Frequência 30-50 Hz Tempo ativo (Ton) 5-10 segundos Tempo inativo (Toff) 6-30 segundos Tempo de subida 1 a 2 segundos Tempo de descida 1 a 2 segundos Intensidade Máximo tolerado pelo indivíduo para produzir dorsiflexão no tornozelo Tempo de aplicação 30 minutos por dia Frequência das sessões 5 dias por semana com duração de 3 a 4 semanas Os eletrodos devem ser posicionados sobre o nervo fibular na região da cabeça da fíbula e outro eletrodo no ponto motor do tibial anterior. Pode ser utilizado um eletrodo no ponto motor do tibial anterior e no ponto motor do fibular. A aplicação da eletroestimulação demonstra efeitos clínicos importantes para esses pacientes, como aumento na força muscular, aumento da dorsiflexão do tornozelo, atividade eletromiográfica, diminuição da espasticidade dos flexores plantares, aumento da velocidade da marcha, melhora da função da extremidade inferior, cinemática da marcha e equilíbrio. 8.2.4 Controle da espasticidade A espasticidade costuma estar presente em pacientes após lesões neurológicas como o AVC. Para o uso da eletroestimulação nessa condição, existem três abordagens: 119 ELETROTERAPIA • estimulação dos músculos antagonistas aos espásticos; • estimulação dos próprios músculos espásticos; • estimulação alternada de músculos agonistas e antagonistas. A abordagem inicial nesse paciente é estimular os músculos antagonistas aos espásticos, utilizando pulsos de 200 µs com frequência entre 3 Hz e 35 Hz. A frequência mais baixa utilizada nessa abordagem visa não fadigar a região muscular antagonista ao músculo espástico, visto serem músculos que se encontram frequentemente em posição de alongamento e fracos. A redução da espasticidade ocorre através da inibição recíproca, ou seja, quando estimulamos um grupo muscular, no caso os antagonistas ao espástico, o músculo antagonista, no caso o espástico, deve relaxar, permitindo assim maior função naquele segmento. A segunda abordagem utilizada envolve o uso de uma luva de malha para estimular toda a mão com frequência de 50 Hz e pulsos de 300 µs, através de eletrodos aplicados sobre o músculo espástico e com eletrodos sobre o antebraço para completar o circuito. A intervenção na maioria das vezes foi realizada por períodos de 30 minutos por dia, ocorrendo redução da espasticidade e favorecendo a atividade voluntária. Uma revisão sistemática com metanálise, publicada em 2015, com o objetivo de avaliar o efeito do tratamento com eletroestimulação nos músculos espásticos após AVC em comparação com placebo ou outra intervenção, identificou que em 22 estudos a frequência de estimulação variou de 18 Hz a 50 Hz, com duração de pulso de 100 μs a 400 µs. Em outros três estudos a frequênciavariou de 80 Hz a 100 Hz e duração de pulso de 100 μs a 300 µs, e outros quatro estudos não destacaram as características utilizadas (STEIN et al., 2015). A metanálise demonstrou que é eficaz utilizar a eletroestimulação nessa população comparada ao grupo sem uso do recurso, porém somente quando associada a outras terapias e não ao seu uso de forma isolada, tanto para reduzir a espasticidade quanto para melhorar a amplitude de movimento. Portanto os autores concluem que a eletroestimulação é um tratamento que fornece melhorias na espasticidade e amplitude de movimento nos pacientes após AVC. 8.2.5 Tratamento da escoliose A escoliose idiopática é uma curvatura lateral da coluna de etiologia desconhecida. A condição é comumente encontrada em crianças e, se não tratada, produz deformidades posturais severas, que podem levar a função cardiopulmonar prejudicada, doença articular da coluna, dor lombar e limitação nas atividades de vida diária. As abordagens comuns para minimizar ou corrigir a escoliose são o uso de órteses e fisioterapia que utiliza recursos da terapia manual e cinesioterapia. 120 Unidade III Estudos utilizando a eletroestimulação verificaram resultados satisfatórios nessa população e pode ser utilizada, desde que os pacientes satisfaçam os seguintes critérios de seleção (ECKERSON; AXELGAARD, 1984; AXELGAARD; BROWN, 1983): • curvas medindo 20° a 45° pelo ângulo de Cobb; • pelo menos um ano de crescimento espinal remanescente; • uma curva de natureza idiopática e progressiva; • cooperativo e psicologicamente estável; • condescendente e tolerante com a estimulação. A tabela a seguir demonstra os parâmetros recomendados para essa população. Tabela 5 – Ajuste recomendado para pacientes com escoliose Parâmetro Ajuste recomendado Duração do pulso 220 µs Frequência 25 Hz Tempo ativo (Ton) 6 segundos Tempo inativo (Toff) 6 segundos Tempo de subida 1 a 2 segundos Tempo de descida 1 a 2 segundos Intensidade Até a contração muscular ser forte o suficiente para produzir movimento em direção ao “endireitamento” Tempo de aplicação Gradualmente aumentada, até tolerar 8 horas contínuas Frequência das sessões Diariamente, até maturidade esquelética A sua aplicação se dá sobre os músculos paravertebrais, lateralmente sobre a linha axilar média ou em uma posição a meio caminho entre elas, sempre do lado convexo da curva. Os principais resultados clínicos encontrados são: estabilização e redução da curva. Os resultados dos estudos não são consistentes e atualmente a eletroestimulação é pouco utilizada em pacientes com escoliose idiopática. 8.3 Eletroestimulação em condições musculoesqueléticas A eletroestimulação também pode ser utilizada na reabilitação de condições musculoesqueléticas como desordens no quadril, joelho, tornozelo e ombro. 121 ELETROTERAPIA 8.3.1 Tratamento conservador e pós-operatório de reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho Após a lesão do ligamento cruzado anterior do joelho, presenciamos um quadro de inibição muscular artrogênica, definida como uma informação aferente anormal que parte da articulação afetada, resultando em ativação diminuída dos músculos que agem nessa articulação. Esse processo ocorre pois os mecanorreceptores capsulares são sensibilizados pela dor e pelo fluído intra-articular e emitem sinais para interneurônios inibitórios medulares, os quais provocam a inibição do motoneurônio alfa, e como consequência os sinais transmitidos ao músculo são reduzidos, diminuindo a frequência de disparos e ativando uma quantidade menor de fibras musculares. Portanto, após a intervenção cirúrgica ou durante o tratamento conservador, a eletroestimulação, principalmente do músculo quadríceps, torna-se um dos principais recursos utilizados pelos fisioterapeutas com o objetivo de recuperar a força muscular e o recrutamento voluntário da musculatura. A tabela a seguir demonstra os parâmetros recomendados para o recrutamento muscular do quadríceps nessa população. Tabela 6 – Ajuste recomendado para pacientes com lesão do LCA Parâmetro Ajuste recomendado Duração do pulso 250-400 µs Frequência 30-50 Hz Tempo ativo (Ton) 6-10 segundos Tempo inativo (Toff) 12-50 segundos Relação Ton:Toff Usar ciclo 1:3-1:5 se o músculo estiver mais fraco, para evitar fadiga Tempo de subida 1 a 2 segundos Tempo de descida 1 a 2 segundos Intensidade Máxima tolerada pelo indivíduo; deve produzir contração muscular Tempo de aplicação Iniciar dentro de 1 semana do pós-operatório e realizar 12-15 contrações por sessão Frequência das sessões 3 × por semana, principalmente nas primeiras 6 semanas de pós-operatório A forma de aplicação varia bastante na literatura, pode-se utilizar estimulação através do nervo femoral, ou sobre o ventre muscular do reto femoral, ou até mesmo sobre o ventre muscular ou ponto motor do vasto medial. Alguns estudos utilizam a eletroestimulação também sobre o vasto lateral. Pode-se objetivar a eletroestimulação dos flexores de joelho, utilizando eletrodos sobre o ventre muscular do bíceps femoral, semitendíneo e semimembranáceo. Os principais resultados relatados na literatura são: redução da dor, aumento da força muscular, redução da perda de volume muscular, melhora da função relatada pelo paciente, melhora nos parâmetros da marcha, melhora da circunferência do membro e do desempenho funcional. 122 Unidade III 8.3.2 Síndrome da dor femoropatelar A síndrome da dor femoropatelar (SDFP) é caracterizada por dor anterior ou retropatelar na ausência de outra patologia, reproduzida com movimentos de agachamento, subida e descida de escadas e períodos de inatividade com o joelho em flexão. O maior nível de evidência para a reabilitação da SDFP é o fortalecimento do quadríceps e abdutores extensores e rotadores laterais do quadril, e a eletroestimulação pode ser um recurso associado aos exercícios para essa população, principalmente para evitar dor durante a realização dos exercícios. Os parâmetros indicados para essa condição clínica estão expressos na tabela: Tabela 7 – Ajuste recomendado para pacientes com SDFP Parâmetro Ajuste recomendado Duração do pulso 250-500 µs Frequência 35-50 Hz Tempo ativo (Ton) 6-10; 10-50 segundos Tempo inativo (Toff) Consistentes com os objetivos do tratamento; 10 segundos para treino de resistência; 30-50 segundos para fortalecimento muscular Tempo de subida 1 a 2 segundos Tempo de descida 1 a 2 segundos Intensidade Máxima tolerada pelo indivíduo; deve produzir contração muscular Tempo de aplicação 12-15 contrações por sessão Frequência das sessões 3 × por semana; por 4 a 6 semanas Atualmente, não há nenhuma localização padronizada na literatura para o músculo quadríceps. Recomenda-se a utilização de dois canais: um (dois eletrodos) sobre o músculo reto femoral e o outro sobre o músculo vasto medial. Os exercícios recomendados associados à eletroestimulação são os exercícios para o quadríceps, como cadeira extensora, leg press e agachamentos, porém é aconselhado evitar a ADM provocativa de dor, ou seja, trabalhar em amplitudes onde não reproduza a dor do paciente. Os principais benefícios clínicos demonstrados na literatura são: redução da dor, aumento da capacidade de produção de força e desativação do vasto lateral. 8.3.3 Artrite degenerativa ou osteoartrose de joelho Pacientes com artrite degenerativa ou osteoartrose de joelho também se beneficiam do recurso. Sabe-se que a fraqueza do quadríceps aumenta o risco de piora da dor e função em pacientes com artrose de joelho e que é necessário um aumento na força do quadríceps de 30% e 40% para ter efeito sobre a dor e a capacidade funcional, respectivamente. 123 ELETROTERAPIA O maior nível de evidência científica para a reabilitação dessa população é o exercício, em que o fortalecimento do quadríceps é um dos alvos terapêuticos. As recomendações de parâmetros para essa população estão expressas na tabela: Tabela 8 – Ajuste recomendado para pacientes com osteoartrose dejoelho Parâmetro Ajuste recomendado Duração do pulso 250-300 µs Frequência 50 Hz Tempo ativo (Ton) 10 segundos Tempo inativo (Toff) 50 segundos Relação Ton:Toff 1:5 Tempo de subida 1 a 2 segundos Tempo de descida 1 a 2 segundos Intensidade Máxima tolerada pelo indivíduo; deve produzir contração muscular Tempo de aplicação 15-20 contrações por exercício Frequência das sessões 3 × por semana, por 4 a 8 semanas A aplicação recomendada para esses pacientes são dois eletrodos grandes, um sobre a região proximal do quadríceps e outro distal, sobre o vasto medial e lateral. Essa forma de aplicação não leva em consideração a densidade de corrente durante a aplicação da eletroestimulação, ou seja, a quantidade de corrente por área de condução. Ao aplicar dois eletrodos grandes sobre o quadríceps, a corrente é distribuída por eles, ou seja, não se concentra em um ponto específico, podendo estimular regiões que não são pretendidas ou até mesmo dificultar a contração muscular. Recomenda-se a utilização de eletrodos menores, com o foco de estimular individualmente os músculos do quadríceps. As recomendações de exercícios sugerem o uso da eletroestimulação com o paciente sentado, com o quadril flexionado à 90° e o joelho flexionado entre 60° e 90°. Porém, os exercícios indicados para os pacientes com SDFP também podem ser utilizados para essa população, com o foco de fortalecer o quadríceps. As principais vantagens na aplicação do recurso nessa população são: melhora da força muscular, aumento da função autorrelatada pelo paciente através de questionários e através de testes funcionais e melhora da dor. 8.3.4 Substituição total da articulação A evolução da osteoartrose, com a falha do tratamento conservador, é a substituição total da articulação acometida por uma prótese. As mais comuns são artroplastia total de joelho, artroplastia total ou parcial de quadril, artroplastia de tornozelo e ombro. 124 Unidade III Após a intervenção cirúrgica, o processo descrito anteriormente de inibição muscular artrogênica ocorre; além disso, a fraqueza muscular antes da intervenção cirúrgica também é um fator que deve ser revertido, portanto a eletroestimulação é um recurso muito importante associado ao exercício. A tabela a seguir demonstra os parâmetros recomendados para pacientes após artroplastia total de joelho e quadril. Tabela 9 – Ajuste recomendado para pacientes com prótese de quadril e joelho Parâmetro Ajuste recomendado Duração do pulso 250-400 µs Frequência 40-75 Hz Tempo ativo (Ton) 5-10 segundos Tempo inativo (Toff) 8-80 segundos Relação Ton:Toff 1:2 ou 1:3 Tempo de subida 1 a 2 segundos Tempo de descida 1 a 2 segundos Intensidade Máxima tolerada pelo indivíduo; deve produzir contração muscular O tratamento com a utilização da eletroestimulação deve-se iniciar no primeiro ou segundo dia de pós-operatório, realizando 10-30 contrações por dia, 3 vezes por semana, por 6 semanas para aumento da ativação e força do quadríceps. Para aumento da função, deve-se realizar 1 a 2 horas por dia, 5 vezes por semana, por 6 semanas. A sua utilização deve ser combinada com exercício ativo e exercício resistido, realizando a extensão do joelho entre 60° e 90°. Recomenda-se a aplicação no quadríceps com eletrodos grandes colocados na região proximal e distal do ventre muscular, principalmente no reto femoral e vasto medial, sempre buscando a orientação das fibras musculares. Os principais benefícios clínicos do uso da eletroestimulação nessa população são: aumento da força muscular, redução na perda de volume ou espessura muscular, melhora da função ou incapacidade autorreferida pelo paciente através de questionários subjetivos, melhora da função em testes funcionais, melhora da velocidade da marcha e melhora da qualidade de vida. 8.3.5 Músculos intrínsecos do pé Os músculos intrínsecos do pé ganharam grande destaque na literatura em 2015 com a publicação de um novo paradigma, o foot core system, onde foi revisada a função desses músculos e destacada a capacidade de controlar as deformações do arco longitudinal medial e proporcionar estabilidade ao médiopé e ao antepé, para que os músculos extrínsecos tenham uma base estável para trabalhar. 125 ELETROTERAPIA A partir desse novo paradigma, a abordagem para esses músculos foi incorporada na reabilitação de diversas lesões de pé e tornozelo e, também, do membro inferior. A evolução parte de exercícios isolados para esses músculos, seguido para associação com músculos extrínsecos e de forma mais funcional. Devido à dificuldade de contração desses músculos, recomenda-se a utilização da eletroestimulação para melhorar a percepção da contração e facilitar sua ativação. A tabela a seguir demonstra os parâmetros recomendados para eletroestimular esses músculos. Tabela 10 – Ajuste recomendado para estimular os músculos intrínsecos do pé Parâmetro Ajuste recomendado Duração do pulso 400 µs Frequência 85 Hz Tempo ativo (Ton) 4 segundos Tempo inativo (Toff) 8 segundos Tempo de subida 0,25 segundos Tempo de descida 0,75 segundos Intensidade Máxima tolerada pelo indivíduo; deve produzir contração muscular Tempo de tratamento 15 minutos Quantidade de contrações 75 contrações A eletroestimulação deve ser associada ao exercício, principalmente ao short foot, em que o paciente, com o pé todo no solo, tenta aproximar a cabeça dos metatarsos do calcâneo, sem fazer garra com os dedos e sem levantar a primeira metatarsofalangeana do solo. A aplicação dos eletrodos deve ser feita com dois médios na região medial da sola do pé, um na região proximal, anterior ao calcâneo, e o outro proximal à cabeça dos metatarsos, evitando contato excessivo com a fáscia plantar e com as estruturas ósseas, estimulando um dos principais e maiores músculos intrínsecos, o abdutor do hálux. Como a abordagem frente a esses músculos é recente, poucos estudos são relatados na literatura, com poucas evidências de qualidade, porém o principal benefício clínico percebido com o uso da eletroestimulação é uma maior altura do arco longitudinal medial. Observação É essencial associar o uso da corrente elétrica à contração voluntária através de exercício resistido, com o intuito de potencializar o seu efeito. 126 Unidade III 8.4 Corrente russa 8.4.1 Características físicas Na década de 1970, a corrente interrompida de média frequência investigada pela primeira vez pelo Dr. Kots na literatura russa começou a ganhar grande repercussão, pois o time olímpico russo, muito bem-sucedido, estava utilizando a corrente em complemento aos métodos de treinamento usuais e sugeriu que sua utilização produzia ganhos em torno de 30-40% na força muscular. A corrente original usada pelos pesquisadores é descrita como uma corrente alternada, simétrica, com pulsos sinusoidais ou retangulares, de 2.500 Hz de frequência (média frequência), que era modulada por burst a cada 10 ms, fornecendo 50 bursts por segundo. A figura a seguir demonstra a característica da corrente. 10 ms 0 Amplitude de corrente 10 ms 10 ms Figura 48 – Característica da corrente russa Embora seja uma corrente de média frequência, os nervos são estimulados, pois ela é interrompida para produzir uma estimulação de baixa frequência de 50 Hz. Os seus pulsos curtos (de fase de 0,2 ms) fazem com que a corrente passe com mais facilidade através da pele e seja efetiva na estimulação de nervos motores. A escolha de um ciclo de trabalho de 50%, ou seja, 10 ms de corrente e 10 ms sem corrente, aconteceu decorrente observarem pouca diferença no torque máximo induzido eletricamente entre a variação contínua, porém com um ciclo de 50%, metade da energia é fornecida e, portanto, há menos risco de danos teciduais. Atualmente, o ciclo de trabalho dos aparelhos não é fixo em 50% e pode ser modulado pelo fisioterapeuta. Inicialmente a corrente foi amplamente divulgada, demonstrando efeitos melhores para força muscular e para desconforto relatado pelo paciente em comparaçãocom as correntes de baixa frequência, porém estudos atuais não demonstram essas vantagens. O nome de corrente russa tornou-se popular pelo fato de os atletas russos utilizarem a corrente para treinamento, porém é comum encontrar na literatura mais atual a descrição de “corrente alternada modulada em burst”, ou sua sigla BMAC, originária do termo em inglês burst modulated alternating current. Porém, o termo representa qualquer corrente alternada modulada em burst, em que temos 127 ELETROTERAPIA disponível a corrente interferencial também, portanto torna-se necessário descrever qual tipo de BMAC que está sendo utilizada e para qual propósito. Diferentes modelos de aparelhos de diferentes marcas estão no mercado atualmente. Eles podem ter somente a corrente russa ou outras correntes em conjunto. Existem modelos de mesa e modelos portáteis. A figura a seguir demonstra alguns aparelhos disponíveis. A) C)B) D) E) Figura 49 – Diferentes modelos de aparelhos de corrente russa: A e B: aparelhos de mesa de corrente russa; C: aparelho de mesa de corrente russa, TENS e FES; D: aparelho de corrente russa portátil; E: gerador de pulsos A figura a seguir demonstra uma disposição geral dos controles do aparelho de corrente russa, porém isso pode variar de fabricante para fabricante, principalmente a forma de controle: manual e digital. Frequência portadora Frequência de modulação Ciclo de trabalho Intensidade Tempo Controle de intensidade dos canais Botões para alterar função ou parâmetro Tempo on / tempo off Tempo de subida / Tempo de descida Figura 50 – Controles em aparelho de corrente russa digital 128 Unidade III Os parâmetros ajustados pelo fisioterapeuta são: • frequência portadora; • frequência de modulação; • ciclo de trabalho; • tempo on; • tempo off; • tempo de subida; • tempo de descida; • intensidade; • tempo de aplicação. Como nas correntes de baixa frequência, os ajustes da corrente de média frequência possuem relação com a fisiologia muscular e neural. O único botão que será diferente no controle do fisioterapeuta será a frequência portadora da corrente, que é a média de frequência da corrente. O quadro a seguir demonstra as justificativas dos parâmetros ajustáveis da corrente russa. Quadro 7 – Justificativa dos ajustes dos parâmetros ajustáveis da corrente russa Parâmetro ajustável Ajuste Justificativa Frequência portadora Fixa em 2.500 Hz Média frequência recomendada para produção de força muscular Frequência de modulação Usar sempre acima de 30 Hz. 20-30/50 Hz: fibras de contração lenta 50-150 Hz: fibras de contração rápida Frequência> 30 Hz são necessárias para produzir contração tetânica fundida Fibras de contração lenta possuem menor diâmetro do axônio e respondem a frequências mais baixas Fibras de contração rápida possuem diâmetro maior do axônio e respondem a frequência mais altas Ciclo de trabalho Varia entre 10-50%. Quanto menor o ciclo de trabalho, menor o tempo do burst e maior o tempo de inatividade Pode-se utilizar ciclo de trabalho menor para estimular músculos mais fracos e ciclos de trabalho maiores para estimular músculos mais fortes Um trabalho recente demonstra que o ciclo de trabalho com maior potencial a produzir torque no músculo quadríceps foi o de 20% comparado a 10% e 50%. Quando o ciclo de trabalho for maior, a corrente estará disponível por mais tempo, portanto, músculos mais preparados respondem melhor a um ciclo de trabalho maior 129 ELETROTERAPIA Parâmetro ajustável Ajuste Justificativa Tempo ativo (Ton) Será parametrizado de acordo com o tempo necessário para realizar a quantidade de repetições pré-estabelecida ou tempo de isometria Exemplo: prescreve-se 10 repetições para realização de determinado exercício, em que se pretende 2 segundos de contração concêntrica e 2 segundos de excêntrica. Para as 10 repetições são necessários 40 segundos de estimulação, portanto, o tempo ativo deve ser programado com 40 segundos Tempo inativo (Toff) Será parametrizado de acordo com o tempo de descanso necessário entre as séries de exercício Recomenda-se, no mínimo, o mesmo tempo de tempo ativo Para músculos mais fracos pode ser utilizado o dobro, o triplo, o quádruplo ou o quíntuplo do tempo ativo Evita fadiga precoce do paciente, visto a eletroestimulação ser altamente fatigável Relação Ton:Toff Relação entre o tempo ativo e o tempo inativo da corrente Músculos mais fracos requerem mais tempo de descanso Músculos mais fortes precisam de menos tempo de descanso Tempo subida 1 a 2 segundos É necessário que seja rápido para evitar acomodação dos tecidos Tempo descida 1 a 2 segundos Não tem muita influência sobre a terapêutica, portanto, pode-se deixar qualquer valor Intensidade Máxima tolerada pelo paciente, sem produzir dor, porém produzindo contração muscular; vai variar de paciente para paciente e terapia para terapia Deve ser alta para produzir potencial de ação e, consequentemente, contração muscular Tempo de aplicação Tempo total suficiente para realizar as séries estipuladas do exercício, levando em consideração o tempo inativo Soma do tempo ativo e tempo inativo multiplicado pela quantidade de séries. Exemplo: 30 segundos de tempo ativo e 90 de tempo inativo, paciente realizará 3 séries. Tempo de aplicação: 360 segundos ou 6 minutos A quantidade de estudos clínicos utilizando a corrente russa ou BMAC é menor quando comparada a correntes de baixa frequência, portanto, para determinadas lesões não se sabe os parâmetros ideais de utilização, podendo ser utilizados parâmetros com base na fisiologia, conforme descritos no quadro. A seguir, serão demonstrados os parâmetros ideais utilizados para lesões ortopédicas e neurológicas, baseados em dados da literatura. 8.5 Utilização da corrente russa em condições ortopédicas 8.5.1 Tratamento conservador e pós-operatório de reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho A tabela a seguir demonstra os ajustes recomendados da corrente russa para pacientes em tratamento conservador ou submetidos ao procedimento cirúrgico e em fase de reabilitação pós-operatória, com o intuito de estimular, principalmente, o músculo quadríceps femoral. 130 Unidade III Tabela 11 – Ajuste recomendado para pacientes com lesão do LCA Parâmetro Ajuste recomendado Frequência portadora 2.500 Hz Frequência de modulação 50 Hz Ciclo de trabalho 20% Tempo ativo (Ton) 6-10 segundos Tempo inativo (Toff) 12-50 segundos Relação Ton:Toff Usar ciclo 1:3-1:5 se o músculo estiver mais fraco para evitar fadiga Tempo de subida 1 a 2 segundos Tempo de descida 1 a 2 segundos Intensidade Máxima tolerada pelo indivíduo; deve produzir contração muscular Tempo de aplicação Iniciar dentro de 1 semana do pós-operatório e realizar 12-15 contrações por sessão Frequência das sessões 3 × por semana, principalmente nas primeiras 6 semanas de pós-operatório 8.5.2 Substituição total da articulação A tabela a seguir demonstra os ajustes recomendados da corrente russa para pacientes submetidos a artroplastia total de joelho ou quadril e em fase de reabilitação pós-operatória, com o intuito de estimular, principalmente, o músculo quadríceps femoral. Tabela 12 – Ajuste recomendado para pacientes com prótese de joelho e/ou quadril Parâmetro Ajuste recomendado Frequência portadora 2.500 Hz Frequência de modulação 50 Hz Ciclo de trabalho 20% Tempo ativo (Ton) 5-10 segundos Tempo inativo (Toff) 8-80 segundos Relação Ton:Toff 1:2 ou 1:3 Tempo de subida 1 a 2 segundos Tempo de descida 1 a 2 segundos Intensidade Máxima tolerada pelo indivíduo; deve produzir contração muscular 8.6 Utilização da corrente russa em condições cardiorrespiratórias 8.6.1 Treino respiratório em pacientes com DPOC Dall’Acqua, Döhnert e Dos Santos (2012) realizaram um ensaio clínico randomizado com o objetivo de analisar os efeitos da corrente russa aplicada aos músculos abdominais de pacientes com DPOC. Os pacientes foram divididosem dois grupos: eletroestimulação associada à terapia convencional e fisioterapia convencional. 131 ELETROTERAPIA O grupo de fisioterapia convencional realizou a ventilação com os lábios franzidos, compressão vibratória e huffing. A compressão foi aplicada com exercícios das diagonais dos membros superiores durante a fase expiratória sem peso, evoluindo para pesos e exercício de ponte. Os exercícios foram realizados por 2 séries de 10 repetições com descanso de 2 minutos entre séries. A fisioterapia era realizada duas vezes ao dia até a alta hospitalar. O grupo eletroestimulação realizou os mesmos exercícios do grupo fisioterapia convencional e utilizou a corrente russa com frequência portadora de 2.500 Hz, frequência de 5 Hz por 5 minutos com o objetivo de condicionamento muscular, 40 Hz por 10 minutos para treino de fibras musculares de contração lenta, 120 Hz por 5 minutos para treino de fibras de contração rápida e finalizando com 5 Hz por 5 minutos para relaxamento muscular. O tempo de subida e descida estipulado foi de 1 segundo, com o tempo ativo de 4 segundos ocorrendo durante a fase expiratória e o tempo inativo de 1 segundo para a fase inspiratória. O estudo conclui que a fisioterapia convencional associada ao uso da corrente russa melhora a força respiratória de pacientes DPOC hospitalizados, melhorando a pressão inspiratória e expiratória máxima. Alguns erros na metodologia do trabalho devem ser considerados e os resultados devem ser analisados com cautela, necessitando de mais estudos para concluir a sua real eficácia, porém os dados podem servir como base para futuras pesquisas e prática clínica, levando em consideração a experiência do profissional. 8.7 Corrente aussie A corrente aussie ou corrente australiana foi desenvolvida por um pesquisador da Universidade de LaTrobe, em Melbourne, Austrália, professor Alex Ward. Foi baseada na corrente russa, ou seja, uma corrente de média frequência que é modulada em baixa frequência. A diferença entre elas está no valor da média frequência e o tempo de duração do burst. Ward, Robertson e Ioannou (2004) avaliaram o efeito da frequência da corrente alternada no torque induzido eletricamente em indivíduos saudáveis com o objetivo de estabelecer uma frequência ideal para a estimulação motora. A partir desse estudo, concluem que o maior torque é produzido com a menor média frequência, ou seja, 1.000 Hz ou 1 kHz. Em seguida, os mesmos autores compararam a utilização de corrente de média frequência com duração de bursts de 10 ms e 2 ms e demonstram que bursts com duração de 2 ms produziam maior torque muscular. Portanto a corrente aussie, produzida pelo pesquisador, é uma corrente alternada que utiliza uma frequência de 1 kHz com bursts de 2 ms. Ward, Robertson e Ioannou (2004) também demonstraram que a corrente com frequência portadora de 4 kHz e bursts com duração de 4 ms produzia menor desconforto, e com isso sugeriu a utilização desses parâmetros para analgesia. 132 Unidade III A figura a seguir demonstra a característica física da corrente aussie. 18 ms 2 ms Tempo Tempo 16 ms 4 ms B) A) + 0 - Vo lta ge m Vo lta ge m Figura 51 – Característica física da corrente aussie: A: corrente aussie com burst de 4 ms; B: corrente aussie com burst de 2 ms Atualmente, a corrente aussie é exclusividade de uma única marca, a Ibramed. O aparelho de mesa é simples de ser controlado e possui controle digital. A figura a seguir demonstra o aparelho. Figura 52 – Aparelho gerador de pulsos que possui corrente aussie ou australiana 133 ELETROTERAPIA Os parâmetros ajustados pelo fisioterapeuta são: • frequência portadora; • frequência de modulação; • duração do burst; • tempo ativo; • tempo inativo; • tempo de subida; • tempo de descida; • intensidade; • tempo de aplicação. A frequência portadora é a média frequência da corrente que será modulada, em bursts, de baixa frequência. Na corrente aussie, podemos definir a frequência dos bursts e a duração de cada um. A figura a seguir demonstra os principais comandos da corrente aussie. Frequência portadora Frequência de modulação Duração do burst Ton / toff Tsub / Tdesc Intesidade Tempo Controle de intensidade dos canaisBotões para alterar funções ou parâmetros Figura 53 – Controles no aparelho de corrente aussie A grande maioria dos parâmetros continuam sendo ajustados, como na corrente russa e na corrente de baixa frequência, portanto intensidade, tempo ativo, tempo inativo, tempo de subida, tempo de descida e tempo do tratamento seguem os mesmos conceitos expressos anteriormente. 134 Unidade III A frequência portadora, a frequência de modulação e a duração do burst são os parâmetros que diferenciam das demais correntes, e será explicado a seguir. Devido a sua dupla função (estimulação muscular e controle da dor), esses parâmetros precisam ser ajustados de acordo com o objetivo terapêutico pretendido. A tabela a seguir apresenta os parâmetros ajustáveis pelo fisioterapeuta, como deve ser ajustado e a sua justificativa. Tabela 13 – Justificativa dos ajustes dos parâmetros ajustáveis da corrente aussie Parâmetro ajustável Ajuste Justificativa Frequência portadora 1.000 Hz ou 1 kHz: estimulação motora (aumenta força muscular) 4.000 Hz ou 4 kHz: estimulação sensorial (drenagem de edema ou analgesia) 1 kHz produz maior torque muscular 4 kHz produz menor desconforto Frequência de modulação 50 Hz: estimulação motora 50 Hz: produção de maior torque muscular Duração do burst 2 ms: estimulação motora 4 ms: estimulação sensorial 2 ms de burst associado a 1 kHz produz maior torque muscular 4 ms de burst associado a 4kHz produz o menor desconforto Tempo ativo (Ton) Será parametrizado de acordo com o tempo necessário para realizar a quantidade de repetições pré-estabelecido ou tempo de isometria Exemplo: prescreve-se 10 repetições para realização de determinado exercício, em que se pretende 2 segundos de contração concêntrica e 2 segundos de excêntrica. Para as 10 repetições são necessários 40 segundos de estimulação, portanto, o tempo ativo deve ser programado com 40 segundos Tempo inativo (Toff) Será parametrizado de acordo com o tempo de descanso necessário entre as séries de exercício Recomenda-se, no mínimo, o mesmo tempo de tempo ativo Para músculos mais fracos pode ser utilizado o dobro, o triplo, o quadruplo ou o quíntuplo do tempo ativo Evita fadiga precoce do paciente, visto a eletroestimulação ser altamente fatigável Relação Ton:Toff Relação entre o tempo ativo e o tempo inativo da corrente Músculos mais fracos requerem mais tempo de descanso Músculos mais fortes precisam de menos tempo de descanso Tempo de subida 1 a 2 segundos É necessário que seja rápido para evitar acomodação dos tecidos Tempo de descida 1 a 2 segundos Não tem muita influência sobre a terapêutica, portanto podemos deixar qualquer valor. Intensidade Máxima tolerada pelo paciente, sem produzir dor, porém produzindo contração muscular Vai variar de paciente para paciente e terapia para terapia Deve ser alta para produzir potencial de ação e consequentemente contração muscular Tempo de aplicação Tempo total suficiente para realizar as séries estipuladas do exercício, levando em consideração o tempo inativo Soma do tempo ativo e tempo inativo multiplicado pela quantidade de séries Exemplo: 30 segundos de tempo ativo e 90 segundos de tempo inativo; paciente realizará 3 séries. Tempo de aplicação: 360 segundos ou 6 minutos 135 ELETROTERAPIA Os principais estudos que utilizam a corrente aussie são conduzidos pelo criador da corrente, o que, naturalmente, traz desconfianças dos resultados. Como a corrente ganhou repercussão mundial em 2007, poucos estudos clínicos utilizam-na no tratamento de pacientes. As indicações e contraindicações da corrente seguem a linha das demais e, atualmente, não existem parâmetros recomendados para lesões específicas ou áreas específicas, devendo
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