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1 DIREITO CIVIL – FLÁVIO TARTUCE AULA VI - DATA: 09.06.2021 Tema: Direito das Coisas (continuação) 4. Propriedade (art. 1.228 a 1.510 do CC) 4.1 Conceito de propriedade e seus atributos: A propriedade é a relação de domínio jurídico que uma pessoa exerce sobre uma coisa. ✓ Coisa = bem corpóreo. Trata-se de um direito subjetivo e fundamental, condicionado à sua função social, conforme art. 5º, XXII e XXIII, CF. A propriedade é o direito real por excelência (art. 1.225, I do CC). Quanto ao seu conteúdo, a propriedade é relacionada aos quatro atributos previstos no art. 1.228 do CC: GRUD 1. Gozar; 2. Reaver a coisa de quem injustamente a possua ou detenha; 3. Usar; 4. Dispor da coisa; ✓ Alguns autores, como Caio Mário da Silva Pereira e Maria Helena Diniz, conceituam a propriedade pela perspectiva dos atributos. Tais atributos, em regra e pelo que consta no CC/2002, são faculdades jurídicas. No CC/1916 (art. 524), entretanto, eram direitos. Questão: Por que houve essa mudança? Houve um claro intuito de abrandamento da propriedade, como bem apontado por Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald. Somente o atributo de reaver continua sendo um direito. 2 Conforme está expresso no último dispositivo citado, "O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha" (art. 1.228 do Código Civil). Somando todos os atributos temos a propriedade plena ou alodial. ✓ Se a pessoa tem todos os atributos, terá propriedade plena ou alodial (G+R+U+D) ✓ Se a pessoa tem alguns dos atributos, tem propriedade restrita ou limitada. A propriedade restrita ocorre nos direitos reais sobre coisa alheia, principalmente: • Direitos reais de gozo ou fruição; e • Direito reais de garantia: penhor, hipoteca e anticrese. ✓ Se a pessoa tem um dos atributos apenas, terá a posse (art. 1.196 do CC). 4.2. Estudo específico dos atributos da propriedade (domínio jurídico) a) Faculdade de gozar ou fruir (antigo ius fruendi) – faculdade de retirar os frutos do bem principal. Os frutos, ainda quando separados, pertencem, em regra, ao proprietário do bem principal (art. 1.232,CC) – Princípio da gravitação jurídica (o acessório segue o principal). Segundo o artigo 1.232 do Código Civil, é a faculdade de retirar ou perceber os frutos (tanto os naturais, como os industriais e os civis), bem como aproveitar economicamente os produtos da coisa. Ressalte-se que frutos são aqueles bens acessórios que saem do principal sem diminuir a sua quantidade ou alterar sua substância, como, por exemplo, as frutas de uma árvore (natural) ou os aluguéis de um imóvel (civil). 3 Por sua vez, tem-se que os produtos são os bens acessórios que saem do principal diminuindo sua quantidade, alterando-o, como, por exemplo, as pepitas de ouro retiradas de uma mina. Quanto à origem, os frutos podem ser de 3 tipos: - Naturais: decorrem da essência do bem (frutas). - Industriais: decorrem da atividade humana (cimento de uma fábrica). – Civis: rendimentos privados (juros de capital, dividendos de ações, aluguéis de imóvel). Atenção: a locação de um imóvel é ius fruendi e não ius disponendi (locar é fruir e não dispor). b) Direito de reaver ou buscar a coisa de quem injustamente a possua ou detenha (ius vindicandi): esse direito é exercido por meio das ações petitórias, fundadas na propriedade. Exemplo: a ação reivindicatória (rei vindicatio). As ações petitórias não se confundem com as ações possessórias. As ações petitórias discutem a propriedade e as ações possessórias discutem a posse. ✓ O art. 1.210, §2º, CC, baniu a exceptio proprietatis (defesa de alegação de propriedade). Estabeleceu a separação entre os juízos possessório e petitório (Enunciado 79 da I Jornada de Direito Civil). ✓ No mesmo sentido, há o art. 557 do CPC (equivale ao art. 923 do CPC/1973): CPC, art. 557: “Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa. Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de 4 propriedade ou de outro direito sobre a coisa.” Mitigando essa separação e admitindo o debate de propriedade dentro da ação possessória (“melhor posse”), ver EREsp 1.134.446/MT. ✓ Desse julgado, surgiu a Súmula 637 do STJ: “O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o domínio.” Sobre a ação reivindicatória, vejamos suas principais características (segundo casal Nery): - É uma ação real que tem como fundamento a propriedade (domínio jurídico). - A sua finalidade é a restituição da coisa. - Os requisitos são a prova da propriedade e do seu molestamento (Em caso de bem imóvel, é necessário juntar, na petição inicial, a certidão da matrícula). - Segue o procedimento comum. - Trata-se de uma ação imprescritível, segundo a posição do STJ – Ação declaratória. ✓ Apesar de ser imprescritível, cabe a alegação de usucapião como matéria de defesa. EMENTA: "AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REIVINDICATÓRIA.IMPRESCRITIBILIDADE. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA NÃO OCORRENTE. VERBETE Nº 83 DA SÚMULA DO STJ. Pacífica a jurisprudência do STJ no mesmo sentido do acórdão recorrido, incide o óbice do verbete n. 83 da Súmula desta Corte. Agravo improvido".(STJ - AgRg no Ag. 569.220/RJ, Rel. Ministro CÉSAR ASFOR ROCHA, julgado em 08/06/2004, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJ 04/10/2004, p. 315) 5 C) Faculdade de usar ou utilizar a coisa (antigo ius utendi): em regra, inclui o subsolo e o espaço aéreo (arts. 1.229 e 1.230, CC). ✓ O art. 1.230 do CC traz ressalvas: jazidas, minas, recursos minerais, potenciais de energia hidráulica, sítios arqueológicos entre outros. ✓ Esta faculdade tem fortes limitações: - Na CF/88 (função social e socioambiental da propriedade); - Na Legislação Administrativa (ex. Estatuto da Cidade – Lei 10.257/2001); e - No Código Civil de 2002 (função social da propriedade). Exemplo 1: abuso no exercício da propriedade – ato emulativo (aemulatio) ou ato chicaneiro - CC, art. 1.228, §2º. Exemplo 2: art. 1.277, CC - Regras quanto ao direito de vizinhança e o uso anormal da propriedade. ✓ O art. 1.277 do CC trata da chamada regra dos 3 S, que forma os seus três parâmetros: - Saúde; - Sossego; e - Segurança. ✓ Na esfera do condomínio edilício, a regra dos 3S volta a aparecer no art. 1.336, IV, CC. Atenção: prédios vizinhos são os que se relacionam. Não são, necessariamente, os prédios contíguos (que estão um ao lado do outro). d) Faculdade de dispor ou alienar (antigo ius disponendi) Atos de alienação: vender, doar, empenhar (dar o bem em penhor), hipotecar, celebrar compromisso de compra e venda, testar. ➢ Reitere-se que locar um bem não é dispor! Locar é fruir ou gozar. PONTO IMPORTANTE: os atributos da propriedade podem ser distribuídos entre pessoas distintas. É o que ocorre na propriedade restrita ou limitada – Direitos reais sobre coisa alheia, especialmente, nos direitos reais de gozo ou fruição. Vejamos o usufruto no esquema abaixo: 6 USUFRUTUÁRIO NU-PROPRIETÁRIO – despido de domínio útil Gozar/fruir Reaver/buscar Usar/utilizar Dispor/alienar Questões: *** O nu-proprietário pode locar o imóvel em usufruto? Não, somente o usufrutuário pode, pois é quem tem o atributo Gozar. *** O usufrutuário pode vender o imóvel em usufruto? Não, somente o nu-proprietário pode, pois é quem tem o atributo de dispor. ✓ O art. 1.393 do CC prevê que o usufruto é inalienável. *** O nu-proprietário pode usar o imóvel em usufruto? Pelo usufrutonão, pois ele não tem o atributo de usar. Porém, o usufrutuário pode lhe ceder esse atributo por locação, comodato... *** Quem pode ingressar com ação possessória do bem? Os dois, tanto o usufrutuário quanto o nu-proprietário, pois os dois têm posse. *** Quem pode ingressar com ação reivindicatória? Pelo esquema acima, somente o nu-proprietário, pois tem o atributo “Reaver”. Porém, o STJ tem entendido que o usufrutuário vitalício também tem essa legitimidade. Ver os julgados a seguir: STJ, REsp 1.202.843/PR; STJ, AgRg no REsp 1.291.197/MG. 4.3. Principais características do direito de propriedade (Maria Helena Diniz): a) Direito absoluto – é um direito absoluto, não porque prevalece sobre qualquer direito, mas porque é direito absoluto no sentido de ter uma eficácia erga omnes (contra todos). b) Direito exclusivo – em regra. É presunção relativa ou iuris tantum. O art. 1.231 do Código Civil prevê que a propriedade se presume plena e 7 exclusiva até prova em contrário. Exceção: nos casos de condomínio ou copropriedade. c) Direito perpétuo – a propriedade tem solução de continuidade até que ocorra um fato modificativo ou extintivo. Exceção: Propriedade resolúvel ou ad tempus – aquela que depende de condição ou termo. d) Direito elástico (Definição trazida por Orlando Gomes) – a propriedade pode ser distendida ou contraída de acordo com os seus atributos. Na propriedade plena, há a máxima elasticidade. No usufruto, no uso e na habitação, vai-se diminuindo sua elasticidade. e) Direito complexo – é complexo por seu conceito ser de difícil visualização e por seus atributos f) Direito fundamental – previsto na CF, no art. 5º, incisos XXII e XXIII13. Deve ser ponderada com outros direitos fundamentais, utilizando-se a técnica da ponderação de Robert Alexy, a qual foi adotada pelo CPC no art. 489, parágrafo 2º, CPC/2015. 4.4. Função social e socioambiental da propriedade (art. 5º, XXIII, CF; art. 186, CF; art. 170, CF; art. 225, CF; art. 1228, § 1º, CC). Definição de Orlando Gomes – a palavra "função" quer dizer finalidade. A palavra "social” tem o sentido de coletivo. Assim sendo, a propriedade tem uma finalidade coletiva. 8 ✓ Leon Duguit (jurista francês) – Nasceu em 1859 e morreu em 1928. Adotou a ideia de que “a propriedade é função social”, ou seja, a propriedade deve atender, ao mesmo tempo, aos interesses dos seus titulares e ao bem-estar social. ✓ Constituição Alemã de Weimar (1919) – foi a Constituição que adotou essa ideia e trouxe a concepção de que a propriedade obriga (atual art. 14 da Constituição Alemã): “Artigo 14 [Propriedade – Direito de sucessão – Expropriação]. (1) A propriedade e o direito de sucessão são garantidos. Seus conteúdos e limites são definidos por lei. (2) A propriedade obriga. Seu uso deve servir, ao mesmo tempo, ao bem comum. (3) Uma expropriação só é lícita quando efetuada para o bem comum. Pode ser efetuada unicamente por lei ou em virtude de lei que estabeleça o modo e o montante da indenização. A indenização deve ser fixada tendo em justa conta os interesses da comunidade e dos afetados. Quanto ao montante da indenização, em caso de litígio, admite-se o recurso judicial perante os tribunais ordinários.” Professor José de Oliveira Ascensão - A função social da propriedade tem dupla intervenção: 1) Intervenção limitadora (ou negativa) – ela limita ou restringe o exercício. 2) Intervenção impulsionadora (ou positiva) – ela impõe condutas. Ideia de dar uma destinação positiva à coisa (utilizar o bem para o bem). Exemplo: o conceito de posse-trabalho. Requisitos para função social da propriedade rural e urbana: CF, art. 186. O artigo 186, CF, prevê requisitos para o atendimento da função social da propriedade rural. Segundo a doutrina, esses parâmetros podem ser utilizados para a função social da propriedade urbana - Entendimento de José Afonso da Silva e Gustavo Tepedino. Portanto, são 4 os requisitos simultâneos para a função social: 9 1. Desenvolvimento sustentável; 2. Tutela do bem ambiental (art. 225, CF); 3. Proteção dos trabalhadores (art. 7º, CF); 4. Bem-estar geral. Não atendendo a um desses requisitos, a propriedade não cumpre a sua função social. A sanção, no caso de descumprimento da função social da propriedade, é a desapropriação agrária (imóvel rural – art. 184, CF). ✓ Contradição: o artigo 185, II do CF afasta a desapropriação agrária de propriedade produtiva. ✓ Luiz Edson Fachin, Paulo Lôbo, Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald, Gustavo Tepedino e Flávio Tartuce defendem que cabe desapropriação agrária de propriedade produtiva que não atenda a função social. Na jurisprudência, prevalece o entendimento de que não cabe. “É insuscetível de desapropriação a propriedade produtiva que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra (GUT) igual ou superior a 80% (oitenta por cento) e de eficiência na exploração (GEE) igual ou superior a 100% (cem por cento), nos termos do art. 6º, §§ 1º e 2ª, da Lei n. 8.629/1993 e à luz do disposto no art. 185 da CF. 5. Em relação ao GUT, os laudos judicial e administrativo convergem quanto ao percentual de 100%, superior ao mínimo estabelecido na legislação de regência, divergindo os experts somente em relação ao GEE, visto que o INCRA desconsiderou no seu cálculo o projeto de bovinocultura de corte elaborado para a obtenção de financiamento, cujo objetivo seria a reforma e formação de pastagens, bem como o número de equinos existentes na ocasião das vistorias, encontrando o índice de 76,27%, enquanto o perito judicial computou tais animais na análise da produtividade do imóvel, chegando ao percentual de 99,98%. 6. Incontroverso nos autos que, durante o período em que foram elaborados os dois laudos técnicos, a região onde se localiza o imóvel passou por longo período de estiagem, o que resultou inclusive na edição de Decretos de situação de emergência, circunstância que, segundo o juiz sentenciante, dificultou a execução do cronograma do projeto de recuperação de pastagem 10 para bovinocultura de corte” (STJ; AREsp 1.391.146; Proc. 2018/0288634-3; RJ; Rel. Min. Gurgel de Faria; DJE 09/08/2019) O principal julgado do STJ sobre a função social da propriedade é o caso da “Favela Pullman”– Resp 75.659/SP/2005. A ideia adotada foi de que quem não cumpre a função social não tem propriedade. Não haveria sequer legitimidade dos adquirentes para ação reivindicatória. O STJ adotou o entendimento de que houve abandono da área pelos proprietários. Confira a ementa: “CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. TERRENOS DE LOTEAMENTO SITUADOS EM ÁREA FAVELIZADA. PERECIMENTO DO DIREITO DE PROPRIEDADE. ABANDONO. CC, ARTS. 524, 589, 77 E 78. MATÉRIA DE FATO. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N. 7-STJ. I. O direito de propriedade assegurado no art. 524 do Código Civil anterior não é absoluto, ocorrendo a sua perda em face do abandono de terrenos de loteamento que não chegou a ser concretamente implantado, e que foi paulatinamente favelizado ao longo do tempo, com a desfiguração das frações e arruamento originariamente previstos, consolidada, no local, uma nova realidade social e urbanística, consubstanciando a hipótese prevista nos arts. 589 c/c 77 e 78, da mesma lei substantiva. II. “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial” - Súmula n. 7- STJ. III. Recurso especial não conhecido" (STJ - REsp: 75.659 SP 1995/0049519-8, Relator: Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Data de Julgamento: 21/06/2005, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJ 29/08/2005, p. 344) Ver vídeo da entrevista do Des. José Osório de Azevedo Júnior para o Professor Alexandre Gomide sobre o caso da favela Pullman: https://www.youtube.com/watch?v=ehHpkkGDg_Q ➢ Ver o artigo de Jânio Urbano: https://www.youtube.com/watch?v=ehHpkkGDg_Q11 https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-172/pullman-e- pinheirinho-reflexoes-a-respeito-da-funcao-social-da-propriedade-e-do- instituto-da-desapropriacao-judicial-privada-por-posse-trabalho/ Função socioambiental da propriedade (art. 225 da CF e art. 1.228, §1º, CC): Dentro da função social da propriedade está a função socioambiental, envolvendo a tutela do bem ambiental (art. 1.228, §1º, CC). Quais são as principais concretizações da função socioambiental da propriedade? O STJ tem entendido que o adquirente do imóvel deve fazer a sua recuperação ambiental, mesmo não sendo o causador do dano. ✓ Nesse âmbito, o art. 14, §1º da Lei 6.938/81, que traz a responsabilidade objetiva ambiental e por risco integral, foi muito utilizado. Entretanto, o principal argumento é a obrigação propter rem (própria da coisa). Entendimento consolidado pelo STJ (Súmula 623). ➢ A ideia da existência de uma obrigação propter rem foi adotada pelo art. 2º, §2°, Lei 12.651/2012. 4.5. Desapropriação judicial privada por posse-trabalho (art. 1228, parágrafos 4º e 5º do CC): Trata-se de um instituto criado por Miguel Reale, sem previsão em qualquer outra codificação. CC, art. 1228 (...): "§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. § 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-172/pullman-e-pinheirinho-reflexoes-a-respeito-da-funcao-social-da-propriedade-e-do-instituto-da-desapropriacao-judicial-privada-por-posse-trabalho/ https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-172/pullman-e-pinheirinho-reflexoes-a-respeito-da-funcao-social-da-propriedade-e-do-instituto-da-desapropriacao-judicial-privada-por-posse-trabalho/ https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-172/pullman-e-pinheirinho-reflexoes-a-respeito-da-funcao-social-da-propriedade-e-do-instituto-da-desapropriacao-judicial-privada-por-posse-trabalho/ 12 proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores". Requisitos: 1. Ação reivindicatória proposta pelos proprietários; 2. Extensa área; 3. Ocupada por um considerável número de pessoas; 4. Posse ininterrupta e de boa-fé por mais de 5 anos; 5. Presença da posse-trabalho; 6. Pagamento de uma justa indenização devida ao proprietário. ✓ Não se trata de usucapião, pois existe a justa indenização. Este instituto é diferente da usucapião coletiva (art. 10, Lei 10.257/2001). ✓ No Brasil, não existe usucapião onerosa. ➢ Precedente importante do STJ sobre desapropriação: RESp 1.442.440/AC Enunciados importantes sobre o tema: • Enunciado 82, I Jornada de Direito Civil: “É constitucional a modalidade aquisitiva de propriedade imóvel prevista nos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo Código Civil.” • Enunciado 83, I Jornada de Direito Civil: “Nas ações reivindicatórias propostas pelo Poder Público, não são aplicáveis as disposições constantes dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo Código Civil. (Alterado pelo Enunciado 304 – IV Jornada)” Obs.: ressalva no enunciado 304 da IV Jornada de Direito Civil - bem público dominical. • Enunciado 304, IV Jornada de Direito Civil: “São aplicáveis as disposições dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do Código Civil às ações 13 reivindicatórias relativas a bens públicos dominicais, mantido, parcialmente, o Enunciado 83 da I Jornada de Direito Civil, no que concerne às demais classificações dos bens públicos.” (STJ – Exemplo: terras devolutas). • Enunciado 84, I Jornada de Direito Civil: “A defesa fundada no direito de aquisição com base no interesse social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser argüida pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios responsáveis pelo pagamento da indenização.” Obs.: ressalva no enunciado 308 da IV Jornada de Direito Civil– em se tratando de família de baixa renda, o pagamento da indenização será feito pela Administração Pública. Enunciado 308, IV Jornada de Direito Civil: “A justa indenização devida ao proprietário em caso de desapropriação judicial (art. 1.228, § 5º) somente deverá ser suportada pela Administração Pública no contexto das políticas públicas de reforma urbana ou agrária, em se tratando de possuidores de baixa renda e desde que tenha havido intervenção daquela nos termos da lei processual. Não sendo os possuidores de baixa renda, aplica-se a orientação do Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil.” • Enunciado 305, IV Jornada de Direito Civil: “Tendo em vista as disposições dos §§ 3º e 4º do art. 1.228 do Código Civil, o Ministério Público tem o poder-dever de atuar nas hipóteses de desapropriação, inclusive a indireta, que encerrem relevante interesse público, determinado pela natureza dos bens jurídicos envolvidos.” • Enunciado 309, IV Jornada de Direito Civil: “O conceito de posse de boa-fé de que trata o art. 1.201 do Código Civil não se aplica ao instituto previsto no § 4º do art. 1.228.” ✓ O conceito de posse de boa-fé aplicado não é o do art. 1.201 do CC (não é boa-fé subjetiva). ✓ Trata-se, portanto, da boa-fé objetiva ou boa-fé comportamental – “Melhor posse”. 14 • Enunciado 310, IV Jornada de Direito Civil: “Interpreta-se extensivamente a expressão “imóvel reivindicado” (art. 1.228, § 4º), abrangendo pretensões tanto no juízo petitório quanto no possessório.” ✓ O instituto também se aplica quando o proprietário ingressa com a ação possessória.