Buscar

Resenha crítica - Não Tem Bacanal na Quarentena

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Resenha crítica - EP Não Tem Bacanal na Quarentena, Baco Exu do Blues
Caos e crise sanitária, social e política, esse foi, e ainda é, o cenário
enfrentado pelo mundo nos últimos anos. São em momentos de crise que
compreendemos a arte e a cultura como algo essencial ao humano, cumprindo tanto
seu papel de questionar a realidade vivida quanto de nos entreter. Nesse contexto,
onde todos sentiam na pele a ansiedade causada pela quarentena, o rapper Baco
Exu do Blues lança o EP “Não Tem Bacanal na Quarentena” (2020), produzido em
três dias, no estúdio de sua casa, reunindo em suas faixas os anseios, as
preocupações e a revolta geradas pelo pior da pandemia do Coronavírus e pela
indiferença do Estado perante este momento de instabilidade.
Inspirado pela quarentena, Baco trás críticas diretas ao governo em suas
letras, como em “Amo Cardi B e Odeio Bozo”, umas das faixas mais expressivas do
EP, onde, além do título ser totalmente sugestivo, o rapper ataca diretamente o
presidente Jair Bolsonaro no trecho “Cardi B fez mais que o presidente, porra”,
fazendo referência a artista Cardi B, que, no auge da pandemia, teve um vídeo
próprio viralizado, onde ela alertava as pessoas sobre os perigos da covid-19. Além
disso, a música mostra áudios de pessoas relatando sobre a situação dos lugares
que vivem, lamentando por aqueles que não puderam se proteger e também
expressando seus próprios receios sobre o vírus.
Também abordando questões políticas, “Tudo Vai Dar Certo” é acompanhada
pelo som dos diversos panelaços ocorridos contra o governo Bolsonaro, junto com
os gritos de “Fora Bolsonaro” e outros insultos ao governante. Mas, além da
desaprovação explícita à presidência atual, a obra retrata os conflitos pessoais do
artista, manifestados através de versos enigmáticos, que requerem a atenção do
ouvinte para serem interpretados. Tópicos como sentimentos, crenças e até a
opinião alheia sobre si mesmo são cantados por Baco, que encontra na poesia uma
forma de desabafar suas angústias durante esses momentos de crise.
Além dos temas políticos, não deixando de lado suas raízes, Exu do Blues
traz no EP críticas ao racismo presente em nossa sociedade, tratando
principalmente sobre o tormento causado pelo preconceito e a violência sofrida por
pessoas pretas. Em “Jovem Preto Rico”, é mostrado essa visão negativa e atroz que
a sociedade tem em relação à ascensão social do negro. “Olhe, olhe no meu olho/
Jovem, negro e rico/ Isso é perigoso” e “(Que criança? Eu fumo, eu cheiro)/ É assim
que eles querem nos ver/ (Já matei e já roubei, sou sujeito homem)/ Não dê esse
gosto a eles” são versos que nos gritam com perfeição a mensagem que a música
expressa. “Humanos Não Matam Deuses” e “O Sol Mais Quente” seguem essas
mesmas críticas, explicitando sobre a pressão e a agressividade frequentemente
direcionadas à pele preta e, principalmente, exaltando a cor, a cultura e o povo
negro.
E, pensando na “cultura da quarentena”, até o reality show Big Brother Brasil
entra em cena, com “Tropa do Babu”, que faz menção ao participante Babu
Santana, que teve grande relevância no programa sendo porta-voz de questões
raciais e principalmente, exaltando a importância do cabelo black power.
Mas, em meio a tantas letras carregadas de denúncias e reflexões, Baco
acalma os ânimos trazendo melodias mais envolventes e com um quê de
sensualidade, nos presenteando com “Ela é Gostosa Pra Caralho” e “Preso em
Casa Cheio de Tesão”, composições cuja temática gira em torno de
relacionamentos afetivos e sexuais, proporcionando ao público um momento de
contemplação e relaxamento.
O título faz menção ao álbum “Bacanal”, que teve seu lançamento adiado
devido ao isolamento social causado pela pandemia, e o urso usando máscara com
um frasco de álcool 70% ao lado, faz alusão ao vírus e as medidas de prevenção
contra ele, já deixando subentendido aos ouvintes o principal tema abordado no EP.
Dayanne Rabelo da Silva - 3º G

Continue navegando