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Indaial – 2021 Fisioterapia aquática Profª. Natália Ferraz Mello 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Profª. Natália Ferraz Mello Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M527f Mello, Natália Ferraz Fisioterapia aquática. / Natália Ferraz Mello. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 170 p.; il. ISBN 978-65-5663-380-0 ISBN Digital 978-65-5663-381-7 1.Hidroterapia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 615.853 Fisioterapia Aquática.indb 2Fisioterapia Aquática.indb 2 12/03/2021 16:30:2412/03/2021 16:30:24 apresentação Caro acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Fisioterapia Aquática! Nesta disciplina, você entenderá como a imersão em meio líquido pode ser uma ferramenta valiosa para o tratamento de diversas condições de saúde na prática clínica do fisioterapeuta. Na Unidade 1 deste livro didático, você conhecerá a história deste recurso e a evolução do uso da hidrocinesioterapia na prática fisioterapêutica. Além disso, conhecerá as principais propriedades físicas da água e seus efeitos fisiológicos no corpo humano. Destacaremos também os benefícios e indicações da hidroterapia. Na Unidade 2 você conhecerá os métodos, técnicas e manuseios que podem ser utilizados na fisioterapia aquática. Nesta mesma unidade, você também aprenderá como planejar e aplicar os protocolos de exercí- cios em imersão. Já na Unidade 3 falaremos sobre os equipamentos, acessórios e recursos necessários para a hidrocinesioterapia. Você conhecerá as diretrizes que norteiam a elaboração de projetos das piscinas e os cuidados necessários para sua manutenção. Preparamos também, ao final de cada tópico, um resumo com as principais evidências científicas destas técnicas na prática clínica. Isso per- mitirá um uso mais eficiente e seguro das técnicas no seu dia a dia. Espera- mos que este livro didático contribua na construção do seu conhecimento e na sua evolução profissional. Uma ótima leitura e bons estudos! Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA .................................................... 1 TÓPICO 1 — BREVE HISTÓRICO DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA ....................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 A HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA ........................................................................... 3 RESUMO DO TÓPICO 1....................................................................................................................... 9 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 10 TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FÍSICOS DA ÁGUA QUE FUNDAMENTAM A FISIOTERAPIA AQUÁTICA................................................................................. 11 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 11 2 CONCEITOS BÁSICOS DA HIDROSTÁTICA .......................................................................... 12 2.1 DENSIDADE RELATIVA ............................................................................................................. 13 2.2 EMPUXO ........................................................................................................................................ 14 2.3 PRESSÃO HIDROSTÁTICA ....................................................................................................... 16 2.4 VISCOSIDADE .............................................................................................................................. 16 2.5 TENSÃO SUPERFICIAL ............................................................................................................. 17 3 CONCEITOS BÁSICOS DA HIDRODINÂMICA...................................................................... 17 3.1 MOVIMENTO DE FLUXO .......................................................................................................... 18 3.2 FORÇA DE ARRASTO ................................................................................................................. 19 4 CONCEITOS BÁSICOS DA TERMODINÂMICA ..................................................................... 19 5 CONCEITOS BÁSICOS ÓTICOS ................................................................................................. 21 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 24 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 25 TÓPICO 3 — EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS EM IMERSÃO......................... 27 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 27 2 SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO ......................................................................................... 28 3 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO ..........................................................................................29 4 SISTEMA RENAL .............................................................................................................................. 30 5 SISTEMA NEUROLÓGICO ............................................................................................................ 31 6 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES ................................................................................... 31 7 BENEFÍCIOS DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA ........................................................................ 33 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 40 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 47 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 48 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 50 UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DE EXERCÍCIOS E MÉTODOS DE FISIOTERAPIA AQUÁTICA ............................................................................................................... 53 TÓPICO 1 — PRÁTICA DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA ......................................................... 55 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 55 2 AVALIAÇÃO DO PACIENTE ......................................................................................................... 55 3 TÉCNICAS E MANUSEIOS GERAIS ........................................................................................... 60 3.1 POSICIONAMENTOS NA PISCINA ....................................................................................... 61 4 PROGRAMAÇÃO DO TRATAMENTO AQUÁTICO .............................................................. 64 5 EXERCÍCIOS E CARGA .................................................................................................................. 65 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 67 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 68 TÓPICO 2 — FISIOTERAPIA AQUÁTICA NAS DIFERENTES ÁREAS ................................. 69 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 69 2 DISFUNÇÕES NEUROFUNCIONAIS.......................................................................................... 69 3 DOENÇAS TRAUMATO-ORTOPÉDICAS E REUMATOLÓGICAS .................................... 71 4 DISFUNÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS ............................................................................. 73 5 IDOSOS ............................................................................................................................................... 74 6 CRIANÇAS ......................................................................................................................................... 77 7 GESTANTES ...................................................................................................................................... 78 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 80 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 81 TÓPICO 3 — MÉTODOS DE FISIOTERAPIA AQUÁTICA ....................................................... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 83 2 MÉTODO BAD RAGAZ ................................................................................................................. 83 2.1 EXERCÍCIOS BAD RAGAZ ....................................................................................................... 86 3 MÉTODO HALLIWICK .................................................................................................................. 88 3.1 EXERCÍCIOS HALLIWICK ........................................................................................................ 91 4 MÉTODO WATSU ............................................................................................................................ 92 4.1 EXERCÍCIOS WATSU................................................................................................................... 93 5 MÉTODO AI CHI ............................................................................................................................. 94 5.1 EXERCÍCIOS AI CHI .................................................................................................................... 95 6 MÉTODO AQUASTRETCHING ................................................................................................... 96 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 98 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 102 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 103 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 105 UNIDADE 3 — INSTALAÇÕES DA PISCINA TERAPÊUTICA E EQUIPAMENTOS .......... 109 TÓPICO 1 — INSTALAÇÕES .......................................................................................................... 111 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 111 2 INFORMAÇÕES GERAIS ............................................................................................................. 112 2.1 LEGISLAÇÕES E DIRETRIZES ................................................................................................ 117 2.2 DESIGN E DIMENSÕES ............................................................................................................ 118 2.3 SISTEMA DE VENTILAÇÃO E ILUMINAÇÃO ................................................................... 120 2.4 SISTEMA DE AQUECIMENTO ................................................................................................ 121 2.5 VESTIÁRIOS ................................................................................................................................ 122 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 124 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 125 TÓPICO 2 — ACESSÓRIOS E MANUTENÇÃO ......................................................................... 127 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 127 2 EQUIPAMENTOS ........................................................................................................................... 128 3 SISTEMA DE SEGURANÇA ........................................................................................................ 135 4 QUALIDADE DA ÁGUA ............................................................................................................... 138 RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................140 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 141 TÓPICO 3 — EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS ................................................................................ 143 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 143 2 PROTOCOLOS E PROGRAMAS DE TREINAMENTO/ TRATAMENTO ......................... 143 3 ENTIDADES E SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA AQUÁTICA ............................................... 148 4 CURSO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO ................................................................ 150 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 152 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 157 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 158 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 159 1 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer a história da fisioterapia aquática e sua evolução; • aprender as propriedades físicas da água utilizadas para prática terapêutica; • compreender os efeitos fisiológicos da imersão; • conhecer indicações e contraindicações da Fisioterapia Aquática. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – BREVE HISTÓRICO DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS FÍSICOS DA ÁGUA QUE FUNDAMENTAM A FISIOTERAPIA AQUÁTICA TÓPICO 3 – RESPOSTAS E EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS EM IMERSÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 BREVE HISTÓRICO DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA 1 INTRODUÇÃO A Fisioterapia Aquática, também conhecida como Hidroterapia ou Hi- drocinesioterapia, é uma intervenção que utiliza exercícios terapêuticos em imersão no meio líquido através dos princípios físicos da água e efeitos fisio- lógicos no organismo humano. Ela visa prevenir e tratar patologias, além de promover a saúde. Trata-se de um recurso utilizado há muitos séculos, no entanto, somente em meados de 1900 foi consolidada como terapia de reabilitação e teve sua eficácia científica comprovada. O profissional fisioterapeuta devidamente regulamentado pelo CREFITO está habilitado a usar para tratamento ou terapia pela água sob a forma sólida, líquida e gasosa, utilizando como fins terapêuticos suas propriedades físicas. Interessante, não é mesmo? Como em todos os recursos utilizados pelo fisioterapeuta, realizamos uma avaliação cinético funcional antes da sessão de Fisioterapia Aquática. Geralmente, engloba várias fases de tratamento, envolvendo, principalmente, aquecimento, alongamento, exercícios específicos e relaxamento. Nesta unidade, entenderemos como surgiu esse recurso, os seus princípios físicos e quais são os seus principais benefícios para os praticantes. Vamos lá? 2 A HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA O uso da água como um recurso terapêutico tem registros muito antigos, porém, o seu verdadeiro início é desconhecido. Há registros no Antigo Egito, perpassando a Grécia, Japão, Índia e tendo seu auge no Império Romano, chegando até os dias atuais. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA 4 FIGURA 1 – ESCRAVOS DO ANTIGO EGITO DANDO BANHO EM SEU SENHOR FONTE: <https://bit.ly/39JBdLV>. Acesso em: 22 jan. 2021. Inicialmente, a utilização da água era atrelada ao misticismo e religiosidade, de forma empírica. Só no final do século XV que as primeiras evidências científicas sobre os benefícios da imersão começaram a ser produzidas (CUNHA et al., 1998). Vamos conhecer melhor a relação entre a humanidade e água? Assista ao documentário Marcas da Água, que retrata a interação entre os seres humanos e a água. FONTE: <https://amzn.to/2LgjToj>. Acesso em: 2 fev. 2020. DICAS TÓPICO 1 — BREVE HISTÓRICO DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA 5 FIGURA 2 – JAPONESAS ADORAÇÃO A ÁGUA FONTE: <https://creabain-energies.fr/wp-content/uploads/2017/05/bains-japonais.jpg>. Acesso em: 15 jun. 2020. Existem documentos sobre instalações higiênicas na cultura hindu que datam de antes de 2400 a.C. Na Grécia, por volta de 334 a.C., foram desenvolvidos centros de banhos que tinham como objetivo higiene e recreação (CUNHA et al., 1998; BRANCO et al., 2006). Somente em meados de 500 a.C., os gregos começaram explorar a água de outra forma, procurando estudar as suas propriedades, deixando de ter um caráter místico, passou a ser utilizada para tratamentos físicos específicos. Hipócrates foi o primeiro a relatar os benefícios da imersão para reumatismos, icterícia, paralisias, espasmos musculares e doenças articulares (CUNHA et al., 1998; BRANCO et al., 2006). Durante o império romano, o sistema de banhos desenvolvido pelos gregos foi ampliado. Os Romanos se destacaram por sua habilidade na arquitetura e construção. Foram construídos centros de banho para saúde, repouso, atividades intelectuais, recreação e exercícios físicos. Além disso, por volta de 330 d.C. criaram-se as modalidades de banho, com utilização de águas frias (“frigidarium”), tépidas (“tepidarium”) e quentes (“caldarium”). Os banhos do Imperador Caracalla cobriam uma milha quadrada com uma piscina que media 1390 pés (CUNHA et al., 1998; BRANCO et al., 2006). UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA 6 FIGURA 3 – BANHO ROMANO FONTE: <https://bit.ly/2Lg0TpX>. Acesso em: 15 jun. 2020. FIGURA 4 – THERMAS ROMANAS FONTE: <https://bit.ly/39LPVSB>. Acesso em: 15 jun. 2020. Entretanto, com o declínio do Império Romano e a influência religiosa na Idade Média, os elaborados sistemas de banhos romanos foram extintos. Somente no início dos anos 1700, Sigmund Hahn, um médico alemão, junto aos seus filhos, propôs a ideia do uso da água com fins terapêuticos (BRANCO et al., 2006). Foi quando surgiu a hidroterapia, assim definida por Wyman e Glazer, que consistia na utilização da água em todos seus estados físicos para tratamento de doenças (CUNHA et al., 1998). Em 1697, na Grã Bretanha, Sir John Floyer, após anos de dedicação ao estudo da hidroterapia, publicou o tratado intitulado An inquiry into the right use and abuse of hot, cold and temperature baths (uma investigação sobre o uso correto e o abuso de banhos quentes, frios e temperados). TÓPICO 1 — BREVE HISTÓRICO DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA 7 Esse fato é apontado por Baruch (apud CUNHA et al., 1998) como o início da hidroterapia científica, visto que os achados de Floyer foram incluídos nos ensinamentos do professor Friedrich Hoffmann na Heidelberg University e ensinados na França. Na Inglaterra, o Dr. Currie aprofundou seus estudos por meio de pesquisas, publicando-os em várias línguas, teve boa aceitação na Alemanha. Em 1747, John Wesley publicou um livro enfocando o uso da água como meio de cura para doenças, passando a ser considerado como o fundador do metodismo (CUNHA et al., 1998). Nesse mesmo contexto, banhos frios seguidos de banhos de vapor quente foram popularizados pelos russos e escandinavos, enquanto os banhos quentes após frios tornaram-se tradição e assim permaneceram por várias gerações (BRANCO et al., 2006). Em meados do século XIX, a hidroterapia era uma técnicade caráter passivo e incluía banhos de lençol, compressas úmidas, banhos frios de fricção e banhos de dióxido de carbono. A técnica era usada para fins sociais e não terapêutico, para as classes mais abastadas, até que médicos treinados na Europa iniciaram a introdução da cura pela água (CUNHA et al., 1998). Durante o Século XX, o uso da hidroterapia em spas foi diminuindo nos Estados Unidos, até que, Baruch conquistou seu espaço de hidroterapia em 1907 e, na década de 1930, produziu um livro sobre o assunto, evidenciando para a população o uso terapêutico do meio aquoso (CUNHA et al., 1998). Nesta mesma época, na Europa, os spas prosperavam e os pacientes eram exercitados na água através da flutuabilidade, surgindo, em meados de 1900, o médico Walter Blount descreveu um tanque que incluía turbilhão (Tanque de Hubbard) (CUNHA et al., 1998). FIGURA 5 – TANQUE DE HUBBARD FONTE: <https://bit.ly/2MyV3jU>. Acesso em: 23 jan. 2021. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA 8 Alguns anos depois, surgiram dois dos métodos atualmente mais utilizados: Bad Ragaz e Halliwick. Com a epidemia de poliomielite, em 1916, a hidroterapia começava a ganhar popularidade na Geórgia, devido a um fato imprevisto: um jovem, portador de sequelas da doença, caiu em uma piscina e conseguiu movimentar suas pernas, o que lhe era impossível em solo. Esse jovem permaneceu em tratamento com exercícios terapêuticos na água e passou da condição de cadeirante para a deambulação independente com apenas uma bengala (CUNHA et al., 1998; BRANCO et al., 2006). Após as duas grandes guerras, a hidroterapia passou a ser mais empregada em programas de reabilitação nos Estados Unidos, mas não somente em spas, como também em clínicas, tornando-se uma modalidade terapêutica térmica e química. Em meados do século XX começaram a surgir na Europa novas ideias e técnicas de reabilitação aquática, muitas das quais ainda hoje são utilizadas (CUNHA et al., 1998). FIGURA 6 – LINHA DO TEMPO DA EVOLUÇÃO DO USO DA ÁGUA ´ ´ FONTE: A autora No Brasil, a Fisioterapia Aquática teve início em 1922, na Santa Casa do Rio de Janeiro, com o Dr. Artur Silva, eram utilizados banhos de água doce e salgada de origem marítima (CUNHA et al., 1998). Atualmente, a hidrocinesioterapia é consolidada como uma importante técnica de reabilitação, sua evolução foi considerável e consta como disciplina na matriz curricular de vários cursos de graduação em Fisioterapia. Muitas patologias são tratadas em ambiente aquático paralelamente a outros serviços de reabilitação, embora as pesquisas científicas na área sejam escassas, o que prejudica o desenvolvimento de protocolos de tratamento. 9 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • Inicialmente, o uso da água era atrelado ao misticismo e a religiosidade. • Civilizações japonesas, hindus e chinesas faziam menção honrosa e de adoração à água corrente. • Em meados de 500 a.C., os gregos começaram explorar a água de outra forma, procurando estudar as suas propriedades, deixando de ter um caráter místico, passou a ser utilizada para tratamentos físicos específicos. • Na Roma Antiga, as termas passaram a ser um costume romano, um ato tão importante na vida social de Roma como as artes. • Os romanos utilizavam os banhos para atletas, para higiene e prevenção de doenças. Os romanos frequentavam diariamente as termas e permaneciam nas suas dependências por várias horas. • Piscinas imensas foram criadas no Império Romano, suas atividades eram voltadas para aspectos intelectuais além de tornarem-se centros de saúde, higiene, repouso, atividades recreativas e de exercícios onde os banhos não eram só para atletas, mas também para a nobreza. • Em 1697, na Grã Bretanha, Sir John Floyer, publicou o tratado intitulado An inquiry into the right use and abuse of hot, cold and temperature baths o qual é considerado o início da hidroterapia científica. • Em 1700, o médico alemão Sigmund Hahn e seus filhos defenderam a utilização da água para tratamento de úlceras nas pernas. • O “Tanque de Hubbard” foi descrito pelo médico Walter Blount. Ele descreveu o uso de um tanque com turbilhão ativado por motor. • No Brasil, a hidroterapia científica teve início na Santa Casa do Rio de Janeiro, com banhos de água doce e salgada. Naquela época, a entrada principal da Santa Casa era banhada pelo mar (em meados de 1922). 10 1 A hidroterapia passou por várias evoluções e eventos históricos que marcaram o surgimento da hidroterapia no Brasil e no Mundo. Sobre o exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Arquivos históricos constam que civilizações japonesas e chinesas antigas faziam menções de culto (adoração) para a água corrente. ( ) No Brasil, a hidroterapia científica, teve início na Santa Casa de São Paulo, com banhos de água doce e salgada. ( ) Os gregos criaram dois tipos de banhos: Caldarium, e Frigidarium ( ) A civilização grega foi a primeira a reconhecer a relação entre os benefícios para o corpo e a mente através dos banhos e recreação. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) F – F – V – F. c) ( ) F – V – F – V. d) ( ) V – V – F – F. 2 O uso terapêutico da água começou a ressurgir gradualmente e, só a partir de 1.800 surgiram as primeiras evidências de métodos e tratamentos de hidroterapia. Com base nesta afirmação, analise as sentenças a seguir: I- O “Tanque de Hubbard” foi descrito pelo médico Walter Blount em 1900. Ele descreveu o uso de um tanque com turbilhão ativado por motor. II- Durante a primeira metade do século na Europa, os tratamentos foram baseados em duas técnicas: Bad Ragaz e Halliwick. III- Baruch foi considerado o melhor especialista em hidroterapia na América. Em 1907, ele ocupou a primeira cadeira de hidroterapia na Columbia University. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a sentença III está correta. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) Somente a sentença I está correta. d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. AUTOATIVIDADE 11 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 PRINCÍPIOS FÍSICOS DA ÁGUA QUE FUNDAMENTAM A FISIOTERAPIA AQUÁTICA 1 INTRODUÇÃO A fisioterapia aquática é embasada pelas propriedades físicas da água e pelos efeitos fisiológicos da imersão. Estes conhecimentos são fundamentais para compreender as vantagens, limitações, indicações e contraindicações da água como meio de reabilitação, bem como os fundamentos das técnicas terapêuticas utilizadas. Por isso, é muito importante que você, acadêmico, entenda-os, pois, essa compreensão associada ao uso de movimentos e exercícios pode favorecer a atuação da fisioterapia aquática e potencializar o processo de intervenção fisioterapêutica. Vamos lá? A hidrostática, a hidrodinâmica e a termodinâmica são as bases do emprego da fisioterapia aquática. Por isso, relembraremos os seguintes conceitos: • Hidrostática é quando os fluídos estão em equilíbrio estático, ou seja, em repouso. • Hidrodinâmica é quando os fluídos estão sujeitos a forças externas diferentes de zero, em movimento. • Termodinâmica é quando ocorre troca entre o corpo e o meio líquido. Interessante, não é mesmo? FONTE: <http://bit.ly/2YDTunv>. Acesso em: 23 jan. 2021. INTERESSA NTE 12 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA 2 CONCEITOS BÁSICOS DA HIDROSTÁTICA As principais propriedades físicas da água da Hidrostática sobre o corpo imerso são: QUADRO 1 – PROPRIEDADES HIDROSTÁTICAS DA ÁGUA Propriedade Conceito Efeito Densidade þ = m / V Corpo humano tem densidade aproximada de 0,97, determinando a característica de flutuação do corpo. Empuxo Todo corpo que esteja submersoem um fluido em repouso experimenta um empuxo vertical, e para cima, igual ao peso de fluido deslocado. Determina a porcentagem de descarga de peso corporal, que varia conforme a profundidade na qual o indivíduo se encontra. Pressão hidrostática P= F / A Age nos tecidos e exerce uma compressão de vasos sanguíneos, podendo auxiliar no retorno venoso e na redução de edemas. Viscosidade Resistência de um fluido em deslocar-se. Promove resistência tridimensional com movimentos lentos, favorece a propriocepção, a cocontração e uma maior estabilização postural e dos movimentos de segmentos corporais. Tensão superficial Camada superficial de um líquido venha a se comportar como uma membrana elástica, devido à força de coesão das moléculas A coesão cria uma resistência ao movimento, isto é, uma tensão superficial. Legenda: densidade (ρ); pode definir-se como a massa (m); por unidade de volume (V); pressão (P) pode entender-se como uma força (F); atuando perpendicularmente sobre uma área (A). FONTE: A autora TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FÍSICOS DA ÁGUA QUE FUNDAMENTAM A FISIOTERAPIA AQUÁTICA 13 2.1 DENSIDADE RELATIVA A água, assim como todos os compostos orgânicos, apresenta uma determinada densidade, a qual é definida pela relação entre a sua massa e seu volume (CARREGARO; TOLEDO, 2008). A densidade é a resultante da divisão da massa pela unidade de volume, em que: D = M/V É mensurada pelo sistema internacional (S.I.) como quilograma por metro cúbico (kg/m3) ou grama por centímetro cúbico (gr/cm3). QUADRO 2 – DENSIDADES DE DIFERENTES MATERIAIS Material Densidade (Gr/cm³ Água Pura (4°C) 1,00 Água Pura (0°C) 0,92 Água do Mar (10°C e salinidade de 3,3%) 1,03 Ar 0,001 Corpo Humano (média) 0,97 Massa Magra ( ossos e músculos) 1,10 Tecido Adiposo 0,90 FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3rfOCRJ>. Acesso em: 23 jan. 2021. Já a gravidade específica é a relação entre a densidade de uma substância com a densidade da água. Deste modo, a gravidade específica da água sendo igual a 1, todo corpo que for colocado no ambiente aquático, e apresentar uma densidade menor do que a da água, flutuará. Caso a sua densidade seja maior o corpo afundará (CARREGARO; TOLEDO, 2008; RUOTI; MORRIS; COLE, 2000). O corpo humano, conforme a figura 6, tem densidade aproximada de 0,97 e, por esse motivo tende a flutuar na água. A densidade pode variar conforme a temperatura e de substância para substância. Sendo assim, normalmente idosos apresentam menor densidade que adultos (em torno de 0,86), em função da sua composição corporal, que em decorrência do processo de envelhecimento, tende a acumular mais tecido adiposo e menos massa muscular (CARREGARO; TOLEDO, 2008; IDE et al., 2004; RUOTI; MORRIS; COLE, 2000). 14 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA Cada segmento corporal, devido à composição de tecidos, apresenta variações na sua densidade. Você já percebeu ao entrar em uma piscina que seus membros superiores flutuam mais facilmente que os inferiores? Isso ocorre em função deles possuírem menor densidade (CARREGARO; TOLEDO, 2008). Você sabia que os pulmões também podem influenciar nessa variação? Uma respiração calma provoca pouca variação na densidade relativa do corpo e menor desequilíbrio durante a flutuação! INTERESSA NTE No uso da fisioterapia aquática é importante também consideramos a massa muscular do paciente quando analisamos sua densidade. Quando um músculo se encontra hipotônico ou sofre atrofia, ocorre diminuição da sua densidade e, portanto, tenderá a flutuar mais. Ao contrário, quando há hipertonia ou hipertrofia, a densidade do segmento aumenta e ele tende a afundar (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). Isso é uma questão importante, pois a interação entre os conceitos de densidade e flutuação, determina a necessidade de equipamentos de assistência, como flutuadores, durante a terapia (CARREGARO; TOLEDO, 2008). 2.2 EMPUXO O Empuxo, ou também chamada Força de flutuação, pode ser definido como uma força que age contra a gravidade, e está relacionado ao volume de água deslocado pelo corpo submerso (CARREGARO; TOLEDO, 2008). É em decorrência dessa propriedade que na água, a gravidade pode ser relativamente anulada e ocasionar uma menor descarga de peso corporal. É originada pelo fato de que a pressão de um líquido aumenta com a profundidade. Para compreender como isso ocorre, precisamos entender a relação entre o centro de gravidade (CG) e o centro de flutuação (CF). O CG é o ponto em torno do qual a massa corporal é distribuída igual- mente em todas as direções e, em pé, localiza-se próximo ao nível da segunda vértebra lombar. Já o CF é o ponto ao redor do qual a flutuação está distribuída de maneira uniforme, e normalmente localiza-se no meio do tórax (CARREGARO; TOLEDO, 2008). TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FÍSICOS DA ÁGUA QUE FUNDAMENTAM A FISIOTERAPIA AQUÁTICA 15 FIGURA 7 – INTERAÇÃO ENTRE A FORÇA DE GRAVIDADE E FLUTUAÇÃO FONTE: Caromano e Nowotny (2002, p. 3) Além disso, conforme a profundidade, a flutuação determina a porcentagem de descarga de peso corporal. Observe na figura 8: FIGURA 8 – INFLUÊNCIA DA FLUTUAÇÃO NA ELIMINAÇÃO DE PESO CORPORAL COM BASE EM DIFERENTES GRAUS DE IMERSÃO FONTE: Carregaro e Toledo (2008, p. 24) Devemos levar em consideração este fato durante a reabilitação, pois podemos utilizar de como evolução gradativa para o aumento da descarga de peso (CARREGARO; TOLEDO, 2008). 16 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA 2.3 PRESSÃO HIDROSTÁTICA O meio aquoso exerce uma pressão em todas as direções em um corpo submerso, e este então está exposto a um determinado grau de pressão, que é determinada pela força por unidade de área (CARREGARO; TOLEDO, 2008). Conforme a equação matemática: P= F / A Caromano e Nowotny (2002, p. 4) discorrem que segundo a Lei de Pascal: “(...) a pressão hidrostática P é definida como a força (F) exercida por unidade de área (A), em que a força por convenção é suposta, e é exercida igualmente sobre toda área da superfície de um corpo imerso em repouso, a uma dada profundidade”. A pressão é influenciada pela densidade do líquido e pela profundidade, quanto maior a profundidade, maior a pressão exercida. Essa propriedade age nos tecidos e exerce uma compressão de vasos sanguíneos, podendo auxiliar no retorno venoso e na redução de edemas. (CARREGARO; TOLEDO, 2008). Além disso, auxilia no desenvolvimento da coordenação motora e melhora o suporte e a sustentação do corpo em situações que requerem mais equilíbrio. Também promove uma maior resistência à musculatura inspiratória e favorece a expiratória (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). 2.4 VISCOSIDADE Representa uma medida importante no que refere à resistência ao movimento, pois refere-se ao atrito que o líquido exerce em um corpo, quando ele se movimenta (CARREGARO; TOLEDO, 2008). O coeficiente de viscosidade mostra que, quanto mais viscoso um líquido, maior a força requerida para se criar um movimento, quando imerso neste líquido (CARREGARO; TOLEDO, 2008). Para compreendermos melhor é importante destacar que resistência na água é até 800 vezes maior que no ar e é inversamente proporcional à temperatura, isto é, a viscosidade diminui conforme a água é aquecida. Além disso, é proporcional a velocidade do movimento e com a área de atrito do corpo. Assim, quanto mais rápido o movimento ou maior a área de atrito, maior será a resistência. Essa propriedade auxilia na propriocepção, cocontração e uma maior estabilização postural e dos movimentos de segmentos corporais (CARREGARO; TOLEDO, 2008). TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FÍSICOS DA ÁGUA QUE FUNDAMENTAM A FISIOTERAPIA AQUÁTICA 17 2.5 TENSÃO SUPERFICIAL Esta propriedade deve-se à coesão de atração entre moléculas vizinhas, a qual provocaresistência pequena, quando um segmento está parcialmente submerso, além de ser proporcional ao tamanho do corpo a sua distância em relação à superfície da água. Esse princípio não tem muita interferência na Hidroterapia, mas é fundamental em caso de saltos ornamentais, onde é necessário romper a tensão superficial quando o indivíduo atinge a superfície da água. Além disso, é essa propriedade que permite que um inseto caminhe sobre água sem afundar (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). FIGURA 9 – INSETO SOBRE A ÁGUA FONTE: <https://bit.ly/3tjPHdb>. Acesso em: 23 jan. 2021. 3 CONCEITOS BÁSICOS DA HIDRODINÂMICA Na Fisioterapia Aquática, o conceito de Hidrodinâmica relacionada ao movimento é importante, visto que a cinesioterapia é uma das principais condutas do fisioterapeuta. São propriedades de hidrodinâmica: movimento de fluxo e fluxo de arrasto. QUADRO 3 – PROPRIEDADES DA HIDRODINÂMICA Propriedade Conceito Efeito Movimento de Fluxo É determinado pela veloci- dade, oscilação e formato do corpo, podendo ser laminar ou turbulento. Aumenta a Resistência ao movimento. 18 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA Fluxo de Arrasto Diferença na pressão à fren- te e na traseira do objeto em deslocamento, sendo que a pressão traseira se torna menor que a dianteira. Facilita ou dificulta a marcha. FONTE: A autora 3.1 MOVIMENTO DE FLUXO Durante a imersão, quando um corpo se movimenta, estará exposto a peculiaridades de fluxo do líquido, que são determinadas pela velocidade, oscilação e formato do corpo (CARREGARO; TOLEDO, 2008). Assim, durante a movimentação suave e lenta, o fluxo da água ao redor do objeto é chamado de fluxo laminar. As moléculas se movimentam paralelamente e não se cruzam. Já quando o movimento é rápido, formam-se cruzamentos e oscilações, formando um fluxo turbulento (CARREGARO; TOLEDO, 2008). FIGURA 10 – FLUXO TURBULENTO E LAMINAR FONTE: <https://docplayer.com.br/docs-images/95/123536684/images/29-0.jpg>. Acesso em: 25 jan. 2021. Durante o movimento, a resistência friccional é maior no fluxo turbulento. No fluxo laminar, a resistência é diretamente proporcional à velocidade – isso devido ao atrito entre as camadas de moléculas do líquido; enquanto no fluxo turbulento é proporcional ao quadrado da velocidade, em decorrência do atrito entre as moléculas individuais do líquido e entre o líquido e a superfície do continente. Assim, é mais difícil equilibrar-se ou deslocar-se em um fluxo turbulento do que em um fluxo contínuo. https://docplayer.com.br/docs-images/95/123536684/images/29-0.jpg TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FÍSICOS DA ÁGUA QUE FUNDAMENTAM A FISIOTERAPIA AQUÁTICA 19 3.2 FORÇA DE ARRASTO Durante o movimento, cria-se uma diferença na pressão à frente e na traseira do objeto, sendo que a pressão traseira torna-se menor que a dianteira. Nesse sentido, ocorre o que chamamos de esteira, um deslocamento do fluxo de água para dentro da área de pressão reduzida (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). Na região da esteira forma-se redemoinhos, que tendem a arrastar para trás o objeto. Quanto mais rápido o movimento, maior o arrasto. FIGURA 11 – FORÇA DE ARRASTO FONTE: Shirabe (2017, p. 21) O coeficiente de arrasto está relacionado com a forma como o corpo está alinhado com a correnteza. Assim, a resistência ao movimento depende da velocidade e da forma do objeto (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). Este princípio não afeta diretamente a imersão ou movimento de um corpo na água, mas é importante para lembrar de alguns cuidados a serem prestados aos pacientes durante e após a sessão de hidroterapia (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). 4 CONCEITOS BÁSICOS DA TERMODINÂMICA Quando trabalhamos com imersão, impomos ao corpo uma temperatura diferente da sua, ocasionando uma troca energética entre o meio e o corpo. Vamos entender como isso acontece? Segundo Branco et al. (2006), os benefícios da água também se devem a sua capacidade de conservar e transferir calor. Os autores postulam que: ESTEIRA REDEMOINHO 20 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA Como todas as substâncias, a água possui energia armazenada sobre a forma de calor. Esta energia, expressa em calorias, pode ser libertada (arrefecimento) ou captada (aquecimento), segundo a expressão: Q = mc ΔT° Na qual “m” equivale à massa da água, “c” à capacidade térmica específica do fluido e “ΔT°” à variação de temperatura (BRANCO et al., p. 28). Assim, um corpo imerso no meio líquido forma um sistema dinâmico. Se a temperatura da água exceder a do corpo imerso, o sistema reequilibra-se atra- vés do aquecimento do corpo e do arrefecimento da água (BRANCO et al., 2006). É importante destacar que a água é um excelente condutor, transferindo calor 25 vezes mais depressa do que o ar. Branco et al. (2006) afirmam que os efeitos térmicos da água permitem a troca de calor com o corpo imerso por duas vias: condução e convecção. A primeira ocorre pelo movimento normal de energia do corpo mais quente em direção ao mais frio, enquanto a segunda consiste na perda que ocorre pelo movimento da água contra o corpo, mesmo em temperaturas idênticas. FIGURA 12 – CONDUÇÃO DE CALOR FONTE: <https://bit.ly/3oGMYGV>. Acesso em: 1º out. 2020. Os efeitos variam com a duração do exercício, seu tipo, progressão e intensidade, temperatura da água, postura adotada e patologia do paciente. Segundo Caromano e Nowotny (2002), a temperatura do nosso corpo varia por região, em torno de 0,6°. Nesse sentido, podemos dividir em temperatura central e temperatura superficial. A temperatura normal média é considerada como sendo de 37°C, quando medida oralmente. Os mesmos autores destacam que a realização de exercícios vigorosos em água aquecida (35°C), resulta em aumento da temperatura central para 39°C e fadiga prematura. TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FÍSICOS DA ÁGUA QUE FUNDAMENTAM A FISIOTERAPIA AQUÁTICA 21 Já o exercício vigoroso em água fria (18°C) resulta em diminuição da temperatura corporal central para aproximadamente 36°C, associada com a inabilidade de realizar contração muscular (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). Você sabia que a água retém 1.000 vezes mais calor que um volume equivalente de ar? O corpo humano, por sua vez, tem capacidade calórica específica igual a 0,83. A capacidade do ar de reter água é conhecida como umidade. Umidade relativa é a relação entre a quantidade que estaria presente se o ar estivesse saturado na mesma temperatura. Se a umidade e a temperatura estiverem elevadas, o corpo terá muita dificuldade em perder calor e o ambiente torna-se desconfortável. Por esse motivo, aconselha-se temperatura ambiente entre 20 e 21°C e umidade de 55% em piscinas terapêuticas (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). INTERESSA NTE Quando consideramos o resfriamento, a lei de Newton, afirma que a velocidade de resfriamento de um corpo, em um dado tempo, é proporcional à diferença de temperatura entre o corpo e sua vizinhança. Quanto maior a diferença, maior a velocidade de resfriamento (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). 5 CONCEITOS BÁSICOS ÓTICOS A Ótica é o ramo da Física que se dedica ao estudo de fenômenos relacionados à luz. Um dos conceitos dessa área discorre sobre a refração uma propriedade que deve ser considerada na atuação do fisioterapeuta. Ela consiste em uma deflexão de um raio, quando ele passa de um meio mais denso para um menos denso ou vice-versa. Quando um raio de luz é refletido no fundo da piscina, será refratado afastando-se do normal, ao passar da água para o ar, portanto, o ponto A parece ocorrer no ponto B, porque o observador imagina que a luz viaja em linha reta (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). 22 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA FIGURA 13 – REFRAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3jeFHNo>. Acessoem: 25 jan. 2021. A piscina parece ser mais rasa do que realmente é, e os membros inferiores de um paciente, quando imersos, parecem deformados, e quando parcialmente imersos parecem quebrados. Isto dificulta a observação do paciente, a partir da superfície da piscina (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). FIGURA 14 – REFRAÇÃO FONTE: Caromano e Nowotny (2002, p. 6) TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FÍSICOS DA ÁGUA QUE FUNDAMENTAM A FISIOTERAPIA AQUÁTICA 23 Você percebeu como as propriedades físicas da água são importantes para a fisioterapia Aquática? Todos os princípios são uteis e cabe a você, futuro fisioterapeuta, analisar as situações clínicas, adicionando ou retirando equipamentos da sua intervenção. Segundo Caromano e Nowotny (2002), vale ressaltar que: • De forma geral, a densidade pode ser alterada para facilitar ou resistir movimentos e auxiliar na sustentação e flutuação do corpo. • A força de flutuação poder auxiliar em técnicas de mudança de decúbito e facilitar o deslocamento de todo corpo, como por exemplo, durante a marcha. • A pressão hidrostática auxilia na diminuição da descarga de peso sobre os membros inferiores, na resolução de edemas e pode servir como exercício respiratório em algumas doenças respiratórias. • A viscosidade provoca resistência ao deslocamento. • Variações no ambiente aquático, como a produção de turbulência, criam um meio interessante para o trabalho do equilíbrio estático e dinâmico. • O fluxo também pode ser modificado por equipamentos como palmares, que, dependendo de como são utilizados, podem dificultar ou facilitar um determinado movimento. • O movimento em meio aquoso, sendo dependente da forma do corpo, ao se deslocar na água e da velocidade pode ser modificado de inúmeras maneiras, criando as mais diversas situações terapêuticas. • A força de arrasto pode ser utilizada para facilitar os movimentos, tanto do paciente quando do terapeuta. Uma vez o paciente posicionado atrás do terapeuta, o movimento de resistência é vencido pelo terapeuta e facilitado para o paciente. • A utilidade da temperatura tépida da água depende de sua grande capacidade de reter e transferir calor. IMPORTANT E 24 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A fisioterapia aquática é embasada pelas propriedades físicas da água e pelos efeitos fisiológicos da imersão. • As principais propriedades físicas da água da Hidrostática sobre o corpo imerso são: densidade, empuxo, pressão hidrostática, viscosidade e tensão superficial. • As principais propriedades físicas da água da Hidrodinâmica são: movimento de fluxo e arrasto. • A refração é uma propriedade ótica, que consiste em uma deflexão de um raio, quando ele passa de um meio mais denso para um menos denso ou vice-versa. • Os benefícios da água também se devem a sua capacidade de conservar e transferir calor. • A densidade pode ser alterada para facilitar ou resistir movimentos e auxiliar na sustentação e flutuação do corpo. • No uso da fisioterapia aquática é importante também consideramos a massa muscular do paciente quando analisamos sua densidade. • A pressão hidrostática auxilia na diminuição da descarga de peso sobre os membros inferiores. • A viscosidade provoca resistência ao deslocamento. 25 1 Para compreender as adaptações fisiológicas de um corpo em imersão é necessário o entendimento sobre os princípios da hidrostática, da hidrodinâmica e da termodinâmica. Nesse sentido, sobre os princípios físicos da água, associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Pressão hidrostática. II- Turbulência. III- Flutuação. ( ) Cria um meio interessante para o trabalho do equilíbrio estático e dinâmico ( ) É a força experimentada como empuxo para cima, atuando em sentido contrário ao da ação da gravidade, aparentando que todo corpo submerso possui menor peso do que em terra. ( ) É proporcional a sua profundidade e densidade, portanto, quanto mais profunda, maior a pressão. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I – III – II. b) ( ) II – III – I. c) ( ) I – II – III. d) ( ) III – II – I. 2 O reconhecimento dos benefícios da hidroterapia sobre as mais diversas patologias leva a sua incorporação nos programas de reabilitação da fisioterapia, devido às propriedades físicas da água e os ganhos fisiológicos dos exercícios aquáticos. Nesse sentido, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A viscosidade facilita os movimentos e auxilia na sustentação e flutuação do corpo. ( ) A turbulência, pode ser utilizada para o trabalho do equilíbrio estático e dinâmico. ( ) O fluxo pode ser modificado por equipamentos como palmares, que dependendo de como são utilizados, podem dificultar ou facilitar um determinado movimento. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – V. d) ( ) F – F – V. AUTOATIVIDADE 26 3 As forças físicas da água que agem sobre um organismo imerso, provocam alterações fisiológicas extensas, atuando em quase todos os sistemas do organismo. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A hidrostática, hidrodinâmica e a turbulência são áreas da física que fundamentam a hidroterapia. b) ( ) A hidrostática estuda o comportamento do dos líquidos em movimento. c) ( ) A hidrodinâmica estuda o comportamento dos líquidos em repouso. d) ( ) As principais propriedades físicas da água de maior alcance clínico sobre o corpo imerso são: densidade, empuxo, pressão hidrostática, turbulência, viscosidade, tensão superficial e refração. 4 A Fisioterapia Aquática, também conhecida como Hidroterapia ou Hidrocinesioterapia, é o emprego de exercícios terapêuticos utilizando os princípios físicos da água e seus efeitos fisiológicos, visando proporcionar a cura e a prevenção de doenças, além da promoção da saúde. Nesse sentido, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A flutuação permite que o paciente realize movimentos em diversos planos, proporcionando atividades que até então poderiam ser impossíveis de serem realizadas em solo. ( ) A água aumenta o impacto de movimento das articulações, aumentando o risco de causar lesões em pacientes com doenças articulares ou degenerativas. ( ) A fisioterapia aquática traz benefícios exclusivamente psicológicos para a saúde do paciente. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 27 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS EM IMERSÃO 1 INTRODUÇÃO Agora que já compreendemos as propriedades físicas da água, entenderemos quais são os resultados dela no nosso organismo: os efeitos fisiológicos. Estes dependem de fatores como temperatura da água, profundidade da piscina, tipo e intensidade da atividade realizada, duração da fisioterapia aquática, postura do paciente e sua condição clínica. A imersão pode provocar respostas cardíacas, respiratórias, renais, musculoesqueléticas, entre outras. FIGURA 15 – SISTEMAS ALTERADOS NA IMERSÃO FONTE: A autora 28 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA Os mecanismos de adaptação ao exercício são semelhantes dentro e fora de água, porém podem existir grandes diferenças quantitativas. O consumo energético durante o exercício aeróbico submáximo em imersão pode ser superior, idêntico ou inferior ao verificado, para o mesmo tipo de exercício fora de água (BRANCO et al., 2006). Como a relação entre o consumo de oxigênio e a frequência cardíaca varia com as características do exercício e do próprio meio aquático, o uso deste parâmetro para monitorizar a intensidade do exercício exige precauções especiais (BRANCO et al., 2006).Branco et al. (2006) discorrem que apesar dos volumes pulmonares serem influenciados pela imersão, a resposta ventilatória ao exercício é semelhante à verificada fora de água. As adaptações induzidas pelo exercício aquático submáximo são parecidas com as realizadas fora de água. Isso ocorre pelo fato que a água impede a evaporação do suor, a dissipação eficaz do calor depende essencialmente da temperatura da água, da intensidade do exercício e da massa gorda do indivíduo. 2 SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO Um dos principais efeitos no sistema cardiorrespiratório é provocado pela pressão hidrostática, conforme a diminuição da profundidade proporciona o deslocamento do sangue em uma via de mão única, que aumenta o fluxo nos maiores vasos da cavidade abdominal e para o coração (CAROMANO; FILHO; CANDELORO, 2003). Além disso, o fluxo sanguíneo no pulmão também aumenta, devido ao au- mento da pressão sanguínea. Esta resposta favorece uma maior troca gasosa, devido ao aumento de sangue na circulação pulmonar (CARREGARO, TOLEDO, 2008). Ocorre também um aumento no consumo energético, pois o coração deve aumentar a força de contração e aumentar o débito cardíaco, em resposta ao aumento de volume de sangue (CAROMANO; FILHO; CANDELORO, 2003). Aumentos do débito cardíaco parecem estar relacionados a variações da temperatura da água, podendo atingir aumentos de 30% a uma temperatura de aproximadamente 33°C (CARREGARO, TOLEDO, 2008). Ainda, a imersão na altura do tórax afeta significativamente o ritmo respiratório e ocasiona aumento do trabalho respiratório, devido à compressão da caixa torácica e deslocamento do centro diafragmático cranialmente. A capacidade vital sofre uma redução de 6,0% e o volume de reserva expiratória fica reduzido de 66,0% (CAROMANO; FILHO; CANDELORO, 2003). TÓPICO 3 — EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS EM IMERSÃO 29 FIGURA 16 – ALTERAÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIA FONTE: Arca et al. (2012, p. 428) 3 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO Na imersão em temperaturas acima de 37°C ocorre vasodilatação e au- mento o fluxo sanguíneo muscular. Além disso, o auxílio da flutuação diminui a sobrecarga articular e favorece uma atuação equilibrada dos músculos, pro- porcionando um meio de fácil movimentação e potencializando a realização de exercícios que não seriam possíveis em solo, principalmente em indivíduos com limitações de força e movimento (CAROMANO; FILHO; CANDELORO, 2003). Como já visto anteriormente, a viscosidade provoca uma resistência tridimensional, fazendo com que as contrações musculares sejam sincrônicas. Nesta perspectiva, com menor descarga de peso, o fisioterapeuta pode usar equipamentos específicos e aumentar a resistência durante os movimentos na água. FIGURA 17 – USO DE EQUIPAMENTOS PARA POTENCIALIZAR AÇÃO MUSCULAR FONTE: <https://bit.ly/3pMdVdO>. Acesso em: 25 jan. 2021. 30 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA 4 SISTEMA RENAL No sistema renal ocorre um aumento do fluxo sanguíneo renal, ocasionando aumento da liberação de creatinina. Não obstante, a distensão atrial esquerda diminui a atuação simpática e ocasiona maior transporte de sódio tubular, com diminuição de aproximadamente um terço da resistência vascular renal (CAROMANO; FILHO; CANDELORO, 2003). A excreção de sódio aumentada gera uma parte do efeito diurético da imersão. Outro fator é que a função renal é largamente controlada pelos hormônios renina, aldosterona e hormônio antidiurético (CARREGARO, TOLEDO, 2008). A aldosterona controla a reabsorção de sódio nos túbulos distais, atingindo um máximo após três horas de imersão. A regulação do peptídeo atrial natriurético é suprimida em 50% de sua função no solo, após a imersão (CAROMANO; FILHO; CANDELORO, 2003). Acompanhando as alterações no controle renal ocorrem alterações em alguns neurotransmissores do sistema nervoso autônomo. As catecolaminas agem regulando a resistência vascular, a frequência cardíaca e a força de contração cardíaca e são ativadas logo após a imersão (CAROMANO; FILHO; CANDELORO, 2003). Os efeitos combinados no sistema renal e cardiovascular, em temperaturas neutras, contribuem para a diminuição da pressão em longas imersões, gerando diminuições da pressão sanguínea que duram até horas, pós-imersão. FIGURA 18 – ALTERAÇÕES RENAIS FONTE: Arca et al. (2012, p. 428) TÓPICO 3 — EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS EM IMERSÃO 31 5 SISTEMA NEUROLÓGICO No sistema nervoso, a imersão influencia na percepção dos níveis de dor, por um mecanismo de redução de sensibilidade das terminações nervosas livres, causado por um extravasamento sensorial, dado pela temperatura, atrito e pressão, o qual pode aumentar o limiar da dor (CARREGARO, TOLEDO, 2008). Não obstante, ocorre o relaxamento do tônus muscular, que pode ser de- vido à vasodilatação e diminuição da sobrecarga corporal, benéfico nos casos de espasticidade ou tensão muscular exacerbada (CARREGARO, TOLEDO, 2008). Durante os exercícios aquáticos, o sistema vestibular é bastante requisitado pela instabilidade provocada pela água, o que possibilita o tratamento de pacientes portadores de distúrbios do equilíbrio. 6 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES A fisioterapia aquática tem inúmeros indicações, principalmente em condições que necessitam a redução ou a eliminação total da sustentação do peso corporal, em processos inflamatórios, quadros álgicos, retração e espasmo musculares, amplitudes de movimentos reduzidas, promovendo uma restauração funcional eficaz. Assim, podemos destacar como indicações terapêuticas gerais as disfunções neurológicas em casos de espasmos ou dificuldade de equilíbrio/ deambulação, disfunções reumáticas, traumato-ortopédicas, e em populações como gestantes, crianças e idosos, dentre outros. Quer conhecer um pouco mais sobre a área de atuação do fisioterapeuta na Fisioterapia Aquática? Acesse o Site da Associação Brasileira de Fisioterapia Aquática, em: https://abfaquatica.com.br/. DICAS 32 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA FONTE: <https://abfaquatica.com.br/>. Acesso em: 26 jan. 2021. O fisioterapeuta deve analisar na avaliação os principais objetivos de suas condutas associando aos efeitos terapêuticos esperados na imersão. FIGURA 19 – EFEITOS TERAPÊUTICOS ESPERADOS COM A IMERSÃO FONTE: A autora As intervenções utilizadas vão depender da disfunção e do quadro clínico de cada paciente, bem como dos objetivos traçados para cada tratamento. Os manuseios e métodos empregados na reabilitação aquática diferem em conformidade com as necessidades individuais e a área da fisioterapia, mas todas se utilizam das propriedades físicas da água e seus efeitos no corpo humano. https://abfaquatica.com.br/ TÓPICO 3 — EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS EM IMERSÃO 33 Os autores sustentam ainda que a imersão na água provoca redução do tônus muscular, enquanto a dor pode ser reduzida por ambos os estímulos térmicos. Além disso, a imersão na água facilita a amplitude de movimento articular e força, demonstrando a eficácia do programa, e destacam o importante benefício da facilitação dos exercícios de amplitude em um ambiente aquático (CARREGARO, TOLEDO, 2008). As contraindicações podem ser divididas em relativas, absolutas e relacionadas com o estado clínico do paciente. As relativas dizem respeito a cuidados especiais com relação a: período menstrual, tímpano perfurado, uso de bolsa de colostomia, epilepsia, disfagia e medo de água. Processos infecciosos e inflamatórios agudos da região da face e pescoço, tais como inflamações dentárias, amigdalites, faringites, otites, sinusites e rinites costumam apresentar piora com a imersão, por isso deve ser avaliadas caso a caso (BIASOLI; MACHADO, 2006). Há algumascontraindicações absolutas, como feridas infectadas, infecções de pele e gastrointestinais, sintomas agudos de trombose venosa profunda, doença sistêmica, tratamento radioterápico em andamento e incontinência urinaria e/ou fecal (BIASOLI; MACHADO, 2006). Micoses e infecções por fungos graves também requerem afastamento do paciente de ambientes úmidos (BIASOLI; MACHADO, 2006). Deve-se ter atenção especial aos portadores de problemas cardíacos graves, além de hipo/hipertensão descontrolada, bem como insuficiências respiratórias e epilepsia ou uso de válvulas intracranianas (BIASOLI; MACHADO, 2006). Pacientes com fobia à água devem ter um acompanhamento criterioso, enquanto pacientes com aparelhos de surdez não devem utilizá-lo na piscina (BIASOLI; MACHADO, 2006). 7 BENEFÍCIOS DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA Os benefícios terapêuticos do meio líquido são promovidos pelas modificações fisiológicas durante a realização de exercícios em água aquecida, pelo desvio de calor somado aos princípios físicos da água, como já destacamos anteriormente. Podemos elencar muitos benefícios, e cabe ao profissional fisioterapeuta avaliar a relação custo/benefício do uso da Fisioterapia Aquática no tratamento de cada paciente. Na figura a seguir destacaremos os principais benefícios descritos na literatura atual. 34 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA FIGURA 20 – PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA FONTE: A autora Lima e Cordeiro (2020) destacam que a experiência prévia com a imersão deve ser considerada para o uso do recurso da fisioterapia aquática, pois indivíduos que são familiarizados e se sentem confortáveis no meio aquático participam com mais intensidade das atividades propostas em comparação àqueles menos adaptados. TÓPICO 3 — EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS EM IMERSÃO 35 FIGURA 21 – PACIENTE SENDO FAMILIARIZADO COM O MEIO LÍQUIDO FONTE: <https://interfisio.com.br/fisioterapia-aquatica-no-tratamento-da-paralisia-cerebral-em- adultos-revisao-da-literatura-e-relato-de-caso-2/>. Acesso em: 27 jan. 2021. Castro, Barbosa e Braga (2018) após analisarem a intervenção com fisioterapia aquática em crianças com paralisia cerebral, afirmam que os benefícios com esta população são inúmeros. Os autores discorrem que a turbulência é uma grande aliada ao tratamento da dor, pois fornece estímulos sensoriais que podem ser intensificadas com manuseios realizados pelo terapeuta, diminuindo a desconforto articular. Os mesmos autores destacam que durante a imersão, o fisioterapeuta consegue realizar uma estabilização articular mais eficaz do que no solo, em função da pressão em todas as direções. Essa estabilidade favorece a permanência desses pacientes em pé, situação realizada com dificuldades fora deste ambiente. Assim, utiliza-se da força vertical oposta à gravidade dada pelo empuxo, auxiliando as musculaturas enfraquecidas que não são capazes de vencer a força da gravidade. Esse fato é particularmente importante quando pensamos na inserção social e fator psicológico desses indivíduos, a maioria destes pacientes passa muito tempo da sua vida sentado em uma cadeira de rodas ou utilizando um dispositivo auxiliar de marcha, e a fisioterapia aquática permite que eles experenciem a posição em pé e a deambulação com auxílio contribuindo muito para o fator motivacional de seu tratamento. https://interfisio.com.br/fisioterapia-aquatica-no-tratamento-da-paralisia-cerebral-em-adultos-revisao-da-literatura-e-relato-de-caso-2/ https://interfisio.com.br/fisioterapia-aquatica-no-tratamento-da-paralisia-cerebral-em-adultos-revisao-da-literatura-e-relato-de-caso-2/ 36 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA FIGURA 22 – FISIOTERAPIA AQUÁTICA NA PARALISIA CEREBRAL FONTE: <https://fisioteraloucos.com.br/conheca-os-beneficios-da-fisioterapia-aquatica-para- tratar-criancas/>. Acesso em: 27 jan. 2021. Ide et al. (2009) destacam em seu estudo que o meio líquido possibilita a aquisição e vivências de diversas posturas para populações especiais, como idosos e crianças. As brincadeiras e os equipamentos utilizados propiciam a terapia um meio lúdico, fator importante na adesão ao tratamento. FIGURA 23 – USO DO LÚDICO COM CRIANÇAS NA FISIOTERAPIA AQUÁTICA FONTE: <https://www.amaralnatacao.com.br/brincar-ajuda-desenvolvimento-dos-bebes-e- criancas/>. Acesso em: 27 jan. 2021. Além disso, observa-se melhora das condições cardiorrespiratórias, através da influência direta da atividade na água na capacidade aeróbica, trocas gasosas e condição respiratória geral. https://fisioteraloucos.com.br/conheca-os-beneficios-da-fisioterapia-aquatica-para-tratar-criancas/ https://fisioteraloucos.com.br/conheca-os-beneficios-da-fisioterapia-aquatica-para-tratar-criancas/ https://www.amaralnatacao.com.br/brincar-ajuda-desenvolvimento-dos-bebes-e-criancas/ https://www.amaralnatacao.com.br/brincar-ajuda-desenvolvimento-dos-bebes-e-criancas/ TÓPICO 3 — EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS EM IMERSÃO 37 Não obstante, há melhora psicológica, provavelmente pelo relaxamento físico, descontração, prazer, integração e socialização que a atividade aquática proporciona. Segundo Ide et al. (2009), pode-se observar benefícios psicológicos em mulheres que adotam a atividade aquática como forma de atividade saudável durante o período gestacional. FIGURA 24 – FISIOTERAPIA AQUÁTICA EM GESTANTES FONTE: <https://bit.ly/3pOvERZ>. Acesso em: 27 jan. 2021. A imersão exerce efeitos particulares em pacientes com disfunções de locomoção, segundo Ide et al. (2009) isso deve-se ao efeito térmico da água, que diretamente diminui a dor e o espasmo muscular, e da flutuabilidade da água, que alivia o estresse mecânico nas articulações. Os mesmos autores discorrem que indica-se fisioterapia aquática para pacientes com quadros subagudos e crônicos de dor, espasmo muscular, edema, diminuição da amplitude de movimento e força muscular, déficit de equilíbrio e propriocepção, alterações posturais ou no retorno às condições cardiorrespiratórias prévias a algum problema, como em pós-operatórios ou pós-imobilizações prolongadas, especialmente quando não se permite a descarga total de peso por um motivo ou outro. A Fisioterapia Aquática pode ser usada como recreação e manutenção da saúde geral, promovendo saúde e auxiliando portadores de alguma patologia crônica ou grupos especiais, como idosos e gestantes. 38 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA Além de todos os benefícios fisiológicos do meio aquático, as atividades realizadas neste ambiente por si só, oferecem um momento de lazer e descontração, que promove a interação social e o bem estar psíquico aos seus adeptos (BIASOLI; MACHADO, 2006). FIGURA 25 – INTERAÇÃO SOCIAL NA HIDROTERAPIA FONTE: <http://bit.ly/36IJJIT>. Acesso em: 27 jan. 2021. Segundo Revisão Integrativa realizada por Abreu et al. (2020) a fisioterapia aquática possui benefícios significativos, em especial aos idosos, incluindo melhora da funcionalidade, independência, controle da coordenação corporal, melhora da aptidão física, diminuição de dores, musculares e articulares, e diminuindo comorbidades. Silva et al. (2013) destaca que o meio líquido permite o atendimento individual e em grupo, e diminui a ação da gravidade. Traz possiblidades para realização de exercícios tridimensionais, sem risco de quedas, e com ambos os membros, superiores e inferiores ao mesmo tempo. Não obstante, este tipo de recurso está associado à atividade prazerosa de relaxamento, num ambiente agradável e de fácil socialização. Todos esses fatores em conjunto contribuem para a melhora da confiança e autoestima dos pacientes A fisioterapia aquática tem como finalidade o bem-estar social do indivíduo,e proporciona uma integração do corpo e da mente para a obtenção de resultados ideais, levando a uma perfeita condição de exercício da cidadania. Segundo Motta et al. (2015), as atividades em grupo realizadas no meio líquido, proporcionam benefício psicológico que encorajam a interação social e troca de experiências, proporcionando apoio, motivação aos participantes, restituição da autoestima, alívio das tensões e aprendizado de novas habilidades. TÓPICO 3 — EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS EM IMERSÃO 39 FIGURA 26 – ATIVIDADES EM GRUPO E INTERAÇÃO SOCIAL FONTE: A autora 40 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA EFEITOS DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA NA DOR E NO ESTADO DE SONO E VIGÍLIA DE RECÉM-NASCIDOS PRÉ-TERMO ESTÁVEIS INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL Carine Vignochi Patrícia P. Teixeira Silvana S. Nader Resumo Objetivos: avaliar os efeitos da fisioterapia aquática na dor e no ciclo de sono e vigília de bebês prematuros estáveis hospitalizados. Métodos: a pesquisa caracterizou-se como ensaio clínico não controlado de séries temporais. Foram incluídos 12 recém-nascidos clinicamente estáveis com idade gestacional inferior a 36 semanas internados em unidade de terapia intensiva neonatal. Após serem selecionados, os recém-nascidos foram colocados no meio líquido, onde foi iniciada a fisioterapia aquática, com duração de 10 minutos, na qual foram realizados movimentos que estimulam as posturas flexoras e a organização postural. Foram avaliados os ciclos sono e vigília por meio da escala de avaliação do ciclo de sono e vigília adaptada de Brazelton (1973), a presença de sinais de dor por meio da escala Sistema de Codificação da Atividade Facial Neonatal (NFCS), além de parâmetros fisiológicos. Resultados: com relação aos estados de sono e vigília, antes da fisioterapia, os recém-nascidos apresentaram comportamentos que variaram entre totalmente acordados, com movimentos corporais vigorosos e choro. Após a fisioterapia, os estados de sono variaram entre sono leve com olhos fechados e algum movimento corporal. Esses valores apresentaram diferenças estatisticamente significativas (p<0,001). O escore da escala de avaliação de dor também diminuiu de 5,38±0,91 para 0,25±0,46 com p<0,001 após a intervenção. Os sinais vitais mantiveram-se estáveis. Conclusões: sugere-se que a fisioterapia aquática pode ser um método simples e efetivo na redução da dor e na melhora da qualidade do sono de bebês prematuros em UTI Neonatal. Tornam-se necessários estudos controlados e com maior número de indivíduos para a generalização dos resultados. Introdução Segundo Gaspardo, Linhares e Martinez, há evidências de que os recém- nascidos possuem capacidade neurológica para perceber a dor, mesmo os pré- termos. A redução da dor, além de evitar riscos potenciais, evita que os recém- nascidos, em uma fase difícil de adaptação à vida extrauterina, gastem energia para compensar essa adaptação. Anand, ao estudar a dor em crianças recém-nascidas, LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 3 — EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS EM IMERSÃO 41 explica que ela é um dos fatores mais prejudiciais do ambiente extrauterino e que, quando não tratada, provoca inúmeros efeitos deletérios, como alterações metabólicas, elevação nos níveis de hormônios circulantes, suscetibilidade às infecções, alterações do fluxo sanguíneo cerebral, hipoxia, alteração dos padrões de sono e vigília, além de alterações comportamentais. Procedimentos de alívio da dor melhoram a homeostase e estabilidade dos recém-nascidos e são essenciais para o cuidado e suporte aos neonatos imaturos. Assim, como os procedimentos de alívio da dor, os ciclos do sono são essenciais para o neurodesenvolvimento, o aprendizado, a memória e a preservação da plasticidade cerebral para a vida do indivíduo. Pesquisas indicam que técnicas de banho podem promover tanto a redução do choro e da angústia como a melhora do comportamento e qualidade do sono. A estimulação tátil e cinestésica, por sua vez, tem mostrado efeitos benéficos na redução da dor. Em decorrência do grau de complexidade do ambiente de UTI Neonatal, faz-se necessária a utilização de medidas terapêuticas multidisciplinares associa- das ao conforto do recém-nascido, além de procedimentos de alívio da dor. Esta pesquisa, portanto, tem como objetivo avaliar os efeitos da fisioterapia aquática na melhora da qualidade do sono e na redução da dor em bebês prematuros estáveis hospitalizados em UTI Neonatal. Materiais e métodos O delineamento do estudo foi um ensaio clínico não controlado de séries temporais, sendo o paciente seu próprio controle antes da intervenção fisioterapêutica. A amostra foi selecionada por conveniência por meio de seleção consecutiva de indivíduos que preencheram os critérios de inclusão. A pesquisa foi realizada na UTI Neonatal do Hospital Luterano de Porto Alegre (RS), Brasil, no período de julho de 2005 a junho de 2007. Foi estimado um número de 12 indivíduos baseados no desvio-padrão de 0,313, referente à média da diferença da avaliação antes e após os 60 minutos do procedimento na escala do Sistema de Codificação da Atividade Facial Neonatal (NFCS) em estudo piloto realizado previamente, com alfa de 0,05 e poder estimado em 80%. Os critérios de inclusão foram: recém-nascidos prematuros com idade gestacional inferior a 36 semanas, clinicamente estáveis, que já haviam tido liberação do pediatra para banho e que estavam apresentando anormalidades comportamentais, como intolerância ao toque, choro excessivo, sinais de dor de acordo com a escala NFCS e dificuldade de sair da fase de choro e agitação para uma fase de sono profundo durante um período igual ou superior a 60 minutos. Esses critérios são acompanhados na rotina da unidade pelos pediatras e fisioterapeutas. 42 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DA HIDROCINESIOTERAPIA Os critérios de exclusão foram: bebês prematuros clinicamente instáveis, com alterações de temperatura, contraindicações ao banho de imersão, problemas neurológicos, necessidade de suporte ventilatório, apresentação de processo infeccioso e crianças com malformações congênitas faciais que inviabilizam a aplicação da escala de avaliação NFCS. Neste estudo, foram avaliados parâmetros fisiológicos como frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), pressão arterial média (PAM), saturação de oxigênio (SaO2) e temperatura corporal (TAX). Foi adotado o NFCS, desenvolvido por Grunau e Craig, que foi utilizado para o estudo da dor. A escala NFCS é definida pela presença ou ausência de oito movimentos faciais: testa franzida, fenda palpebral comprimida, sulco nasolabial aprofundado, lábios entreabertos, boca esticada vertical ou horizontal, língua tensa e tremor do queixo. Para cada movimento facial presente, atribui-se um ponto, considerando-se que existe dor quando a pontuação é superior a três. A Escala de Avaliação do Estado de Sono e Vigília, adaptada de Brazelton, foi utilizada para análise do comportamento dos prematuros em relação às fases do sono e vigília. Essa escala fornece uma pontuação para cada estado de sono ou vigília da criança. Para realizar a fisioterapia aquática, utilizou-se um berço de plástico padrão, posicionado ao lado da incubadora após assepsia com solução de clorexidina e álcool 70%. A temperatura da água foi mantida em 37 °C, utilizando um termômetro aquático modelo zls-1270. Para verificação das variáveis fisiológicas (PAM, FR, FC e SaO2 e temperatura), foi utilizado um monitor da marca Dixtal com adaptador pediátrico. As pesquisadoras responsáveis pela aplicação da técnica, ambas especialistas em neonatologia, realizaram 30 dias de treinamento do protocolo de fisioterapia aquática e escalas de
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