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CURSO DE FISIOTERAPIA FISIOTERAPIA AQUÁTICA Profa. Mônica Rosa Zeni Santa Maria – RS - 2018 1. PRINCÍPIOS FÍSICOS HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA Neste capítulo serão descritos princípios físicos fundamentais para a realização de procedimentos fisioterapêuticos na água. Conhecer estes princípios é fundamental para a adequada avaliação, planejamento e execução do plano de tratamento. Entendendo que estes princípios se impõem durante todo o tempo em que o corpo está imerso, é importante entendê-los e utilizá-los para potencializar o alcance dos objetivos terapêuticos. 1.1. Densidade A densidade é definida como a quantidade de massa ocupada por um certo volume sob determinada temperatura, ou seja, massa por unidade de volume. Portanto, é medida em Kg/m³ ou em g/cm³. A densidade da água é considerada 1 g/cm³. Fonte: Sachelli, Accacio e Radl (2007) Considerando a densidade da água, podemos estabelecer a densidade específica (ou relativa) de outras substâncias. A densidade relativa é a relação entre a massa de um determinado volume da substância com a mesma massa do mesmo volume de água. Assim, pode-se dizer que a densidade relativa de qualquer substância é a relação entre a densidade desta e da água. Densidade Relativa = Densidade da substância / Densidade da água NAVARRO E JAKAITS (2007, p.10) – “O corpo humano, constituído por água, apresenta densidade relativa próxima de 1 (aproximadamente 0,95). Toda a massa gordurosa apresenta densidade 0,9, sendo a de indivíduos magros, próxima de 1,1 e de pessoas obesas próximas de 0,93.” Cada parte do corpo também tem diferentes densidades. Ex. Os membros superiores, menos densos, flutuam mais facilmente que os membros inferiores. CAMPION (2000, p.14) – “A densidade relativa do corpo humano varia com a idade, sendo que uma criança nova possui uma densidade relativa total de aproximadamente 0,86. Na adolescência e no início da fase adulta, a densidade relativa aumenta para aproximadamente 0,97. Mais tarde, com o passar dos anos, o corpo tende a adquirir mais tecido adiposo e a densidade relativa tende a retornar para 0,86. Por esta razão, o ser humano tem maior facilidade para flutuar em certas fases da vida do que em outras.” NORM E HANSON (1998, p.21) – “Se este valor for maior que 1,0, o objeto irá afundar; se for menor, o objeto flutuará. Se for o valor exatamente igual a 1,0, o objeto flutuará abaixo da superfície da água. A gravidade específica também indica a porção do volume do volume que um objeto que irá flutuar sob a água. Por exemplo, se uma pessoa em flutuação tem gravidade específica de 0,96, então 4% do corpo estará sobre a superfície da água e 96% abaixo.” Assim, é importante entendermos que a densidade é um determinante de diferentes posicionamentos na água. Portanto, quando o tratamento for aplicado a um indivíduo portador de plegias e alterações de tônus muscular, é importante considerar que haverá alterações marcantes de densidade, o que criará a necessidade de adaptações por parte do terapeuta. 1.2. Pressão Hidrostática Pressão é definida por força aplicada em uma determinada área. No caso de líquidos, aplica-se a Lei de Pascal, segundo a qual a pressão de um fluido é exercida de forma igual e qualquer nível em uma direção horizontal. Assim, quando um corpo é imerso em um líquido, a pressão é aplicada com igualdade sobre todas as áreas do corpo submerso. Fonte: Bates e Hanson (1996) Esta pressão aumenta com a profundidade e a densidade do fluido. Assim, quanto maior a profundidade (altura da coluna de líquido acima do ponto) e a densidade, maior será a pressão hidrostática exercida. As diferentes pressões provocadas por estas variáveis se traduzem em diferentes efeitos biológicos e, conseqüentemente, em diversas respostas terapêuticas. CAMPION (2000, p. 16) – “Uma profundidade maior tem conseqüentemente uma pressão maior, que pode ser utilizada para reduzir mais efetivamente edemas, desde que a parte tratada seja mantida o mais profundo possível. Essa pressão também provou ser útil na atenuação de movimentos espasmódicos e no aumento da coordenação quando os exercícios forem realizados abaixo da superfície.” Ex¹. Um corpo submerso a uma profundidade de 122 cm está sujeito a uma pressão de 88,9 mmHg. Este valor é levemente maior que a pressão sanguínea diastólica e, por isso, auxiliará no retorno venoso, o que terapeuticamente será traduzido como potencialmente redutor do edema. Ex². A pressão pode ser utilizada para o fortalecimento da musculatura respiratória durante a inspiração e para o auxílio do processo de expiração, além de favorecer a melhora da estabilidade articular. 1.3. Empuxo e Metacentro A razão pela qual flutuamos foi descoberta por Arquimedes (287 – 212 a.c). Seu princípio explica que um corpo submerso em um líquido sofre uma força de flutuabilidade igual ao peso do líquido que desloca. Assim, se explica o fato dos corpos imersos apresentarem um peso aparentemente inferior ao apresentado em solo. O empuxo é uma força de flutuação, de mesma direção e sentido contrário à força da gravidade, decorrente do volume de líquido deslocado pela imersão. É a força do empuxo que garante a diminuição da sobrecarga nos exercícios realizados na água, quando comparados ao solo. Fonte: Bates e Hanson (1996) O fator de flutuação pode ser alterado terapeuticamente por ajuste do volume imerso. A medida em que o corpo é gradualmente submerso, a água é deslocada e cria a força de flutuabilidade. Isto retira progressivamente o peso das articulações submersas. Ex. Com a imersão da cervical, uma força compressiva de apenas 2kg será exercida sobre a coluna vertebral. Fonte: Sachelli, Accacio e Radl (2007) Ex¹. Uma pelve que foi fraturada pode inicialmente não tornar-se mecanicamente estável sob a carga corporal total. Com a imersão, as forças podem ser compensadas, permitindo atividades assistidas de amplitude de movimento com leve aumento de força e até de treinamento de marcha. A flutuação pode ser utilizada de três formas: a) Assistência – movimentos na direção da superfície da água; b) Resistência – movimentos no sentido oposto ao empuxo; c) Apoio – movimentos horizontais, em que o empuxo equivale à gravidade Fonte: Bates e Hanson (1996) O torque de flutuabilidade de um indivíduo depende dos centros de gravidade e de flutuação. O centro de gravidade é o ponto no qual a massa do corpo é igualmente distribuída em todas as direções, aproximadamente na altura da 2ª vértebra lombar. O centro de Flutuação é o ponto ao redor do qual a flutuabilidade do corpo é distribuída da mesma forma, localizado geralmente no tórax. Fonte: Sachelli, Accacio e Radl (2007) Assim, um corpo submerso na água está sujeito a duas forças em sentidos opostos, a gravidade (para baixo) e o empuxo (para cima). Se as duas forem iguais, o corpo está em equilíbrio estático, ou seja, não há movimento. Entretanto, quando estas forças se diferenciam ou forem desalinhadas, o movimento de rotação ocorrerá até o equilíbrio de forças. Fonte: Bates e Hanson (1996) Assim, em posição vertical com os dois centros alinhados, apenas as forças verticais estão aparentes (mesma direção e sentidos opostos) e se anulam, mantendo o indivíduo em equilíbrio estável. No caso da flutuação horizontal ou diagonal, os dois centros se desalinham fazendo com que, além do peso e do empuxo, haja uma força rotacional, provocada pelo deslocamento horizontal, o que configura um equilíbrio instável sujeito a forças rotacionais. Para reconquistar o equilíbrio estável, acontecerão rotações até o alinhamento dos centros. Este momento é denominado efeito metacêntrico. Ex¹. Durante a flutuação o corpo estará balanceado e em equilíbrio, mas se uma parte do corpo fosse levada acima da superfície da água, o equilíbrio seria perturbado (já que as forças degravidade e flutuabilidade se tornariam desiguais) e o corpo tenderia à rotação. CAMPION (2000, p. 15) – “Qualquer movimento dos membros, tronco ou cabeça, seja ele acima ou abaixo da superfície, altera a forma corporal e provoca efeitos rotacionais, o que também acontece com qualquer alteração na forma por causa de uma deficiência. Assim , o controle das rotações que ocorrem é um fator importante durante as atividades na água.” O fisioterapeuta precisa observar e analisar os movimentos de forma a orientar o paciente à realização de ações que contrabalancem os efeitos rotacionais da água, tanto em posição vertical quanto horizontal. Além disso, é preciso entender que a flutuação age como uma força contrária à gravidade e por isso proporciona sustentação para o corpo, auxiliando nos movimentos para cima e resistindo aos movimentos para baixo. Assim, é preciso adequar o exercício às forças, adaptando-o ao meio líquido. 1.4. Refração É o desvio da luz quando passa de um meio físico a outro, ou seja, atravessa diferentes densidades. Assim, é importante que o Fisioterapeuta esteja dentro da piscina de forma a otimizar posicionamentos e amplitudes de movimento. Fonte: Sachelli, Accacio e Radl (2007) Quando a luz passa do ar para a água, sofre uma alteração em sua direção. Assim, a observação de fora da água deve levar em conta a alteração de proporções e da percepção da postura. Ex. Observando da borda da piscina, uma pessoa em pé com a água na altura da cintura, parece possuir tronco e membros inferiores curtos. Esta sensação aumenta à medida que o observador se afasta. 1.5. Calor específico É a quantidade de energia necessária para aumentar em 1 grau, 1g de água. Sabendo que o calor específico da água é 1 e do ar é 0,001 e que, a perda de calor na água é aproximadamente 25 vezes maior que no ar, torna-se evidente a “necessidade” de adequação da temperatura da água para cada tipo de exercício ou resultado terapêutico desejável. Durante o exercício, o indivíduo produz calor e a transferência deste calor aumenta em função da velocidade dos movimentos. Por exemplo: um nadador produz e perde mais calor quando está nadando rapidamente em águas frias do que uma pessoa parada na mesma água. Assim, a prática de exercícios vigorosos, como a hidroginástica, requer a água com temperatura menor (28 a 30ºC). Já, para exercícios terapêuticos, a hidrocinesioterapia, a indicação é uma temperatura maior (33 a 35ºC). Para CAMPION (2000) para pensar na temperatura ideal deve-se ter em mente o tipo e a intensidade do exercício, além da duração da atividade. Não há consenso na literatura que indique a temperatura ideal para a hidroterapia. Mas vale registrar que a temperatura sofre influências das condições atmosféricas e da ventilação local e que o aumento da umidade é diretamente proporcional ao aumento da temperatura da água. Para CAMPION (2000), é impossível alterar a temperatura da piscina para adequá-la a cada paciente, então a piscina deve ser mantida com uma temperatura entre 32 e 35ºC, evitando qualquer efeito debilitante. Quanto à temperatura do ar da área da piscina, deve ser de 25ºC e a dos vestiários 4ºC mais baixa. Quanto à ventilação, a indicação é evitar a condensação excessiva, mantendo a umidade do ar em 50%. 1.6. Tensão Superficial É a força exercida entre as moléculas da superfície de um líquido. Assim, a superfície do líquido age como uma membrana sob tensão. A tensão superficial é uma camada na superfície do líquido que faz com que sua superfície se comporte como uma membrana elástica que não deixa o objeto afundar. A resistência é pequena e pode ser percebida quando um membro está parcialmente submerso, sendo proporcional à distância do corpo em relação à superfície da água e ao tamanho da área de contato. http://curiofisica.com.br/wp-content/uploads/2009/06/tensao_superficial_inseto.jpg Conforme ilustração, as moléculas da água (H2O) interagem entre si dentro do liquido e todas as direções, mas as moléculas que estão na superficie só interagem com as que estão abaixo porque não há nada em cima. Dessa forma cria-se a tensão superficial! O resultado dessa interação só com as moléculas do lado de dentro, faz surgir uma tensão que exerce uma força sobre a camada da superfície, com a intenção de compensar essa tensão do lado de dentro do liquido. Essa “força” é a: tensão superficial dos líquidos. 2. A MOVIMENTAÇÃO NA ÁGUA A movimentação na água tem alguns determinantes que se traduzem em forças propulsivas (que potencializam o movimento) e repulsivas (que dificultam o movimento). Estas forças dependem basicamente de três elementos: da viscosidade, do fluxo e da velocidade. 2.1. Viscosidade / Velocidade A viscosidade se refere à magnitude da fricção interna específica do fluido (diferentes quantidades de atração molecular). Quanto maior o coeficiente, maior a força necessária para criar o movimento. Então, a viscosidade pode ser entendida como a resistência que um fluido oferece à realização de um movimento. Esta resistência é provocada pela fricção entre as moléculas de determinada substância. Assim, a força necessária para a realização do movimento é proporcional ao número de moléculas movimentadas e à velocidade do movimento. Fonte: Sachelli, Accacio e Radl (2007) OBS. Pela velocidade ser descrita como distância sobre tempo, pode-se afirmar que a viscosidade é uma propriedade aquática dependente do tempo. 2.2. Fluxos 2.2.1. Fluxo laminar ou corrente Quando a movimentação do objeto ocorre em linha reta e o movimento do líquido é contínuo (Princípio da Inércia). A fricção entre as camadas de líquido é pequena porque há um movimento contínuo de todas as camadas com a mesma velocidade. Assim, as camadas movimentam-se lenta e paralelamente, se separam, mas unem-se rapidamente após a passagem do objeto. 2.2.2. Fluxo Turbulento Turbulência é um termo que indica redemoinhos que seguem um objeto que se movimenta através de um fluido e depende da velocidade do movimento. Quando o movimento for muito lento, então o fluxo de partículas será quase paralelo ao objeto e prosseguirá em curvas leves e contínuas. Quando o movimento acelerar, haverá a produção de redemoinhos e a energia dissipada, reduzindo a pressão e aumentando o arrastamento do corpo. OBS. Uma vez que todo o movimento gera alguma turbulência, esta força pode ser utilizada tanto para auxiliar quanto para dificultar o movimento! Quando um objeto se move em relação a um líquido, ele é submetido aos efeitos resistivos, o que causa turbulência atrás do objeto levando a um efeito de esteira ou arrastamento. Este efeito pode ser bastante útil para facilitar ou dificultar o deslocamento do paciente, utilizando o efeito de esteira criado pelo deslocamento do fisioterapeuta. Fonte: Bates e Hanson (1996) Ex. Se fizermos uma adução horizontal com a mão pronada ou supinada, o efeito da resistência será pequeno porque o fluxo está alinhado com a corrente, formando pouca turbulência e arrasto. Mas se mantivermos a mesma velocidade e a mão ficar em rotação lateral, oferecendo uma maior área de resistência, ocorrerá um fluxo desalinhado, formando mais ondas, provocando mais resistência ao movimento. Com este exemplo podemos concluir que a área de contato e a velocidade do movimento são diretamente proporcionais à resistência. Exercícios de fixação 1. O que é densidade relativa? Qual é a relação dela com o posicionamento do objeto imerso? 2. Descreva a lei de Pascal. Faça um esquema gráfico evidenciando as pressões. 3. A pressão varia em proporção a dois fatores. Quais são eles? 4. O que explica o fato de corpos imersos apresentarem peso aparente inferior ao apresentado no solo? Explique. 5. Quais são as três forças a que um corpo imerso está sujeito? Esquematize essas forças destacando sua direção e sentido. 6. Como o fator de flutuação pode ser alterado?Como isso pode ser utilizado no processo terapêutico? 7. Como o corpo atinge o equilíbrio estático? 8. O que é o efeito metacêntrico? 9. Qual a importância da temperatura da água no processo terapêutico? 10. O que é refração? Qual sua importância? 11. O que é viscosidade? De que fatores ela depende? 12. Quais os tipos de fluxo? Explique e exemplifique. 13. O que é o efeito de esteira? 14. Leia com atenção a notícia sobre a flutuação no Mar Morto e relacione as informações com o conteúdo estudado até aqui. Explique por que este fenômeno acontece. Turista flutuando no Mar Morto Situado 408 metros abaixo do nível do mar, o Mar Morto é o mais baixo reservatório de água do mundo e também o mais salgado, com sete vezes mais sal que os oceanos. Localizado na foz do rio Jordão, ao norte, o lago faz fronteira com Israel, ao oeste e Jordânia, ao leste. O Mar Morto recebe abundante quantidade de água doce vinda do leste, mas o calor extremo e a baixíssima umidade da região acabam por evaporá-la, tornando-o sempre salgado. A grande quantidade de sal permite a fácil flutuação. Alguns acreditam que sua água tenha propriedades medicinais, o que fez surgir em sua orla uma grande quantidade de balneários voltados à saúde. Por outro lado o sal em abundância também elimina as espécies animais e vegetais. Os peixes que ali chegam vindos do rio Jordão não sobrevivem. O Mar morto tem 80 km de comprimento e 18 km de largura e é cercado por terreno rochoso e estéril. Penhascos inclinados erguem-se tantos nas margens orientais como ocidentais. 3. A HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA (Irion apud Routi, Morris e Cole, 2000) O início do uso da água como modalidade terapêutica é desconhecido, mas os primeiros registros datam de 2400 a.C. com instalações higiênicas. Os antigos egípcios, assírios e muçulmanos já usavam águas curativas. Em 1500 a.C, os hindus usavam água para combater a febre. Em registros históricos das antigas civilizações orientais é mencionado o respeito e a adoração da água corrente e da imersão por períodos prolongados. Também aparece o uso da http://2.bp.blogspot.com/__6DhSS--nhI/SggZzT6ao2I/AAAAAAAABOU/h3s4BR3eSsM/s1600-h/050907marmorto.jpg http://2.bp.blogspot.com/__6DhSS--nhI/SggZzT6ao2I/AAAAAAAABOU/h3s4BR3eSsM/s1600-h/050907marmorto.jpg água para tratar a fadiga, curar lesões e combater a melancolia. Em 800 a.C. na Inglaterra, a água era utilizada com finalidade curativa. Por volta de 500 a.C. a civilização grega já não via a água como um elemento místico e começou a usá-la para tratamentos físicos específicos. Escolas de medicina foram criadas nas proximidades de muitas estações de banho e fontes. O primeiro sistema de banhos públicos foi instalado em 334 a.C. A civilização grega foi a primeira a reconhecer e apreciar a relação entre o estado da mente e o bem-estar físico. Os centros de banho ficavam perto de fontes naturais e rios e tinham a finalidade higiênica e recreativa. Hipócrates (460 -375 a.C) recomendava a hidroterapia para vários tratamentos, incluindo o reumatismo e a paralisia. Usava a água quente e fria para tratar espasmos musculares e problemas articulares. O Império Romano expandiu ainda mais o sistema de banhos desenvolvidos pelos gregos, destacando-se pelas construções arquitetônicas. Os banhos romanos eram originalmente utilizados por atletas e serviam mais como medidas de higiene e prevenção do que de tratamento. O sistema romano evoluiu para uma série de banhos em variadas temperaturas. Os banhos muito quentes, chamados caldarium; os mornos, tepidarium; e os frios, frigidarium. Alguns desses locais eram muito elaborados e ocupavam grandes áreas. Segundo IRION (2000), havia piscinas que mediam mais de 130 mil metros quadrados. Os banhos tornaram-se centros de saúde, higiene, repouso, atividades intelectuais, recreativas e esportivas. Por volta de 330 a.C. a finalidade principal era o tratamento de lesões, paralisias e problemas reumáticos. Com o declínio do Império Romano, houve um declínio do uso de banhos públicos, transformando-se em ruínas ao longo das décadas. Por volta dos anos 500, estas estruturas já não existiam mais. A influência religiosa durante a Idade Média conduziu a um declínio ainda maior do uso destes locais e da crença na água como elemento curativo. Os cristãos desta época consideravam o uso das forças físicas, um ato pagão. Esta atitude persistiu até o século XV, quando ressurgiu o interesse pelo poder curados da água. Nos séculos XVII e XVIII, banhar-se com finalidade de higiene não era uma prática aceita. Apesar disso, o uso terapêutico da água foi ganhando espaço. Os pioneiros nestes estudos foram Floyer, Wesley e Wright. A Grã-Bretanha é indicada como o berço da Hidroterapia Científica pela publicação de John Floyer em 1697. O tratado intitulado: “Uma Inquérito sobre a Utilização Correta e o Abuso dos Banhos Quentes, Frios e Temperados” influenciou cientistas franceses e alemães. No início dos anos 1700, um médico alemão chamado Sigmund Hahn, defendeu a idéia de uso da água para o tratamento de “úlceras na perna e coceira” e outros “problemas médicos”. Essa disciplina médica passou a ser denominada Hidroterapia – a aplicação da água sob qualquer forma para o tratamento de doenças. Em 1747, Wesley publicou “Uma Forma Fácil e Natural de Curar a Maioria das Doenças” e em 1779, Wright escreveu um trabalho sobre o uso do frio no tratamento da varíola. O uso da Hidroterapia continuava a ser passiva. As técnicas incluíam banhos de lençol, compressas úmidas, banhos frios de fricção, banhos sedativos, banho com corpo suspenso por uma rede e banhos de dióxido de carbono. Em 1830, Priessnitz (um pastor naturopata) transformou um ambiente florestal em um lugar de banhos e desenvolveu programas de tratamento com banhos ao ar livre com água fria, chuveiros, compressas, massagem e cortes de lenha. Sebastian Kniepp (1821 -1897) modificou as técnicas de Prienitz, alternado aplicações frias com banhos mornos e até mesmo quentes em segmentos corporais através do encharcamento do corpo com mangueiras e chuveiros. O “remédio de Kniepp” tornou-se popular nos países de língua alemã e no norte da Itália. Este tratamento é utilizado até hoje. Outro estudioso da hidroterapia foi Winterwitz (1834 – 1912), professor austríaco e fundador de uma escola de hidroterapia (ou hidrática) e um centro de pesquisa em Viena. Sua instituição era conhecida como “Instituto para Hidroterapia”. Foi lá que pesquisou sobre a reação dos tecidos à água em diferentes temperaturas. Seus estudos são reconhecidos como o fundamento do uso da hidroterapia como recurso de tratamento, estabelecendo uma base fisiológica aceitável naquela época. Alguns de seus discípulos (Kelogg, Buxbaum e Strasser) contribuíram de forma relevante nos estudos sobre os efeitos fisiológicos da aplicação de calor e frio, da termorregulação e da hidroterapia clínica. Assim, os banhos quentes gradualmente ganharam popularidade e passaram a ser tomados em decúbito e utilizados em tratamentos cirúrgicos, neurológicos e psiquiátricos. Estas pesquisas serviram de impulso para a instalação de banhos de turbilhão e exercícios subaquáticos. Apesar disso, estas técnicas só tornaram-se regularmente utilizadas no começo do século XX. Um dos primeiros americanos a se dedicar a pesquisa da hidroterapia foi Simon Baruch. Ele viajou à Europa para estudar com os pesquisadores já citados. Em seu livro “Um Resumo da Hidroterapia” discute os princípios e métodos de uso da água para o tratamento de febre tifóide, gripe, insolação, tuberculose, neurastenia, reumatismo, gota e neurite. Baruch foi o primeiro professor na Columbia University a ensinar hidroterapia e publicou outros dois livros em 1893: “Os usos da Água na Medicina Moderna” e “Princípios e Prática da Hidroterapia”. Baruch defendia a idéia de que o calor e o frio eramtransportados para o Sistema Nervoso Central pelos nervos cutâneos e se refletiam nas vias motoras. Entre o final do século XIX e o início do século XX, a propriedade de flutuabilidade começou a ser usada para exercitar pacientes na água. Nesta época, saps europeus começaram a tratar distúrbios locomotores e reumáticos. Em 1898, o conceito de Hidroginástica foi recomendado por Leyden e Goldwater. Este conceito implicava o uso de exercícios dentro da água e pode ser considerado como o mais próximo precursor do conceito atual de reabilitação aquática. A hidroginástica se constituía no uso de exercícios na água em substituição ao tratamento passivo do paciente por um profissional de saúde. Em 1928, o médico Walter Blount descreveu o uso de um grande tanque de água com um turbilhão ativado por motor, denominado como Hubbard. Esta invenção ajudou no desenvolvimento dos programas de exercícios em piscinas. “As duas guerras mundiais, especialmente a Segunda, salientaram a necessidade do uso da água para os exercícios e a manutenção do condicionamento e agiram como precursoras para o ressurgimento atual do uso da piscina de hidroterapia e a utilização da imersão total como uma forma de reabilitação para uma ampla faixa de doenças.” (Harris, 1963 citado por Campion, 2000) Durante o século XX, destaca-se na Europa o desenvolvimento de duas técnicas de tratamento aquático: o método de anéis de Bad Ragaz e o método Halliwick. Na década de 1990, a reabilitação aquática se tornou cada vez mais popular. “Embora seja evidente que a reabilitação aquática tenha realizado grandes avanços e progressos desde o começo do século XX, ainda há um grande espaço para maior aperfeiçoamento e intensificação dessa prática terapêutica.” (Irion apud Routi, Morris e Cole, 2000) “A Fisioterapia Aquática ainda apresenta a visão de ser um simples recurso de fisioterapia destinado ao relaxamento e ao divertimento. Não queremos questionar isso, mas que bom deve ser fazer terapia podendo relaxar e se divertir ao mesmo tempo, não acham? O que muitos não sabem é que além de ser um recurso amplamente difundido nas áreas de reabilitação ortopédica, neurológica, reumatológica, geriátrica, pediátrica e desportiva, a fisioterapia aquática é um recurso amplamente cercado de fundamentações científicas, com ampla variedade de técnicas e abordagens terapêuticas que acabou por se tornar uma área de estágio exclusiva da fisioterapia, bem como disciplina universitária obrigatória.” Sachelli, Accacio e Radl (2007) Curiosidades da História! Olhe esta imagem e imagine dezenas de cidadãos romanos juntos na água conversando sobre guerras e política. Pois é , isso mostra com fidelidade o que era um banho público romano. Desde os idos tempos na Roma Antiga, os banhos em águas termais eram uma atividade comum na rotina dos citadinos. Não se tratava de luxo exclusivo das classes mais ricas, mas também as classes menos favorecidas podiam banhar-se nos banhos públicos. Nas Termas de Diocleciano, cabiam até 3 mil pessoas que se encontravam para conversar no Frigidarium central. O banho romano era uma atividade complexa e demorada. Inicialmente, um tipo de banho turco (sauna vapor com temperatura média, como ambientação preliminar do corpo ao calor). Após, o cidadão permanecia um período no Calidarium (sala grande, úmida e aquecida a grandes temperaturas). Antes de passar para o Frigidarium (salão refrigerado, grande ponto central de reunião), permanecia um certo tempo no Tepidarium (forno de temperatura morna), novamente ambientando o corpo, desta vez à uma temperatura mais baixa. Finalmente, um mergulho na Natatio, piscina ao ar livre. Para os ricos, este ritual era seguido de massagem com lã perfumada. Além dos banhos, havia espaço para ginástica, galerias de arte, bibliotecas, jardins. Havia bares, barbeiros, bordéis e espaço para a prática de esportes. As termas romanas eram na verdade grandes centros de lazer. Apesar da época, parece que os romanos já sabiam o significado do termo "Qualidade de Vida". 4. EFEITOS FISIOLÓGICOS E TERAPÊUTICOS DA IMERSÃO O uso terapêutico da água é uma das mais antigas formas de reabilitação. Como já vimos ao longo da história, as fontes naturais e as terapias aquáticas tornaram-se o principal foco de muitos estabelecimentos de saúde. Os tratamentos aquáticos evoluíram através da observação, tentativas e erros e, progressivamente da metodologia científica. Para BECKER (2000), o primeiro estímulo para as pesquisas recentes foi o reconhecimento da terapia aquática como um método ideal para estudar as respostas cardíacas, pulmonares e renais às súbitas alterações de fluxo sanguíneo. O segundo, impulsionado pela conquista espacial, foi o reconhecimento de que a imersão aquática é o ambiente ideal para mimetizar a ausência da gravidade. Assim, a imersão do corpo na água produz muitos efeitos fisiológicos que vem sendo relatados ao longo da História e utilizados terapeuticamente. Estes efeitos devem-se tanto às propriedades físicas da água quanto às propriedades terapêuticas da aplicação de diferentes temperaturas. Para CAMPION (2000), o resultado da imersão é semelhante em adultos e crianças e está diretamente relacionado à temperatura do corpo, à circulação e à intensidade dos exercícios. Exercícios que geram efeitos terapêuticos como o alívio da dor e dos espasmos musculares; manutenção ou aumento da amplitude de movimento articular; melhora da força muscular ou da resistência à atividade; reeducação de músculos paralisados; melhoria da circulação; encorajamento para atividades funcionais; manutenção ou melhora do equilíbrio, coordenação e postura. Para a autora, a água ainda fornece o potencial para a realização de exercícios em três dimensões e uma considerável estimulação da percepção visual, auditiva, térmica e proprioceptiva. “Os olhos precisam acomodar-se aos níveis da água em constante alteração (...) quando os ouvidos estão submersos, a pressão sobre eles aumenta em relação a existente no ar. A pele reage a diferentes temperatura bem como aprecia o efeito do envolvimento total da água sobre o corpo imerso.” (CAMPION, 2000, p.03) 4.1. Sistema Cardiovascular O conjunto de respostas cardiovasculares à imersão inclui bradicardia, vasoconstrição e desvio do sangue para áreas vitais é conhecido como Reflexo de Mergulho. A bradicardia não está relacionada ao nível de imersão ou à postura, mas sim à variação de temperatura. A vasoconstrição é maior a baixas temperaturas e a água morna aumenta a vasodilatação periférica. BOOKSPAN (2000) afirma que a magnitude da bradicardia foi constatada como sendo diretamente proporcional à temperatura da pele. A autora cita as pesquisas de Tuttle e Colleaux (1935), afirmando que a imersão em água fria reduz a freqüência cardíaca, em água morna e quente aumenta a freqüência cardíaca, e a água à temperatura do corpo foi considerada termoneutra. A bradicardia não está relacionada ao nível de imersão. A imersão facial constitui estímulo suficiente para provocá-la. Isto leva a crer que, além da baixa temperatura, a apnéia é o desencadeador da queda da freqüência respiratória, já que a imersão não-apnéica pode reduzir ou eliminar o efeito bradicárdico. Na água fria, embora haja diminuição da freqüência cardíaca, não há redução do metabolismo. Então, uma resposta imediata à imersão fria é o aumento do consumo de Oxigênio pelo aumento do metabolismo como uma adaptação para lidar com o resfriamento. BECKER (2000) cita uma pesquisa realizada por Gleim e Nicholas em 1989 que descobriu que o consumo de Oxigênio (VO²) era três vezes maior na água do que em terra em uma velocidade de corrida de 53 m/min. Verificou-se que durante este exercício foi necessário apenas a metade ou um terço da velocidade para atingir a mesma intensidade metabólica queem solo. De forma resumida é possível afirmar que imersão aumenta o volume sanguíneo central, o que aumenta a pressão atrial. Esta distensão provocada pelo aumento do volume de sangue (a pressão da artéria pulmonar sobe de 5 para 22 mmHg) que retorna ao coração provoca maior eficiência contrátil do miocárdio, aumentando o volume de ejeção pelo ventrículo. Assim, o efeito final é o aumento significativo do débito cardíaco, independentemente da temperatura. Fonte: Sacchelli, Accacio e Radl, 2007 A idéia de que a melhoria do condicionamento cardiovascular é inefetiva no meio aquático é questionada por BECKER (2000, p. 33) que afirma que a imersão até o pescoço, por si só, já é suficiente para provocar sobrecarga do músculo cardíaco: “O débito cardíaco normal é de aproximadamente 5l/min em média em um indivíduo em repouso. Em um atleta bem condicionado, o débito máximo durante exercícios extremos é de aproximadamente 40 l/min, o que equivale a 205 ml/batida multiplicado por 195 bpm. O débito máximo durante o exercício para um indivíduo sedentário em Terra é aproximadamente 20 l/min, o que é equivalente a 105 ml/batida multiplicado por 195 bpm. Devido ao fato de a imersão até o pescoço produzir um volume sistólico de 100 ml/batida, um pulso de repouso de 86 bpm produz um débito cardíaco de 8,6 l/min e, portanto, já está produzindo exercício cardíaco.” Para o autor, o débito cardíaco depende da idade, sendo maior em indivíduos jovens, e da temperatura, variando diretamente com o aumento, de 30% em 33°C para 121% em 39°C. A partir disso, considera falso o mito de que os exercícios na água não são aerobicamente eficientes e aponta a água como um meio ideal para o condicionamento cardiovascular. 4.2. Sistema Respiratório O sistema respiratório é profundamente afetado pela imersão do corpo no nível do tórax. Isso se deve basicamente à mudança do direcionamento sanguíneo que se concentra no tórax (aumento do volume nos vasos pulmonares) e à compressão da parede torácica pela água. O resultado é a alteração da função pulmonar com alteração da dinâmica ventilatória e aumento do trabalho respiratório. Lembrando resumidamente da fisiologia respiratória normal: A capacidade vital (CV = VC+VRI+VRE) é o volume máximo de ar que pode ser inspirado ou expirado normalmente; O volume residual (VR) é um volume de ar que não é liberado dos pulmões; A capacidade residual funcional (CRF) é o total de ar entre VR + VRE; Durante o exercício há um aumento da demanda de Oxigênio, que é suprida pelo aumento do VC graças à diminuição dos VRI e VRE. Como conseqüência, há uma CV diretamente relacionada à disponibilidade de oxigênio para o metabolismo Durante a imersão: Com imersão até o apêndice xifóide, a CRF diminui aproximadamente 54% em função da queda no VRE e no VR, 75% e 15%, respectivamente. A pressão sobre a parede torácica diminui a expansibilidade em 10%, o que resulta na queda de volume pulmonar e da capacidade vital. As alterações na CV relacionam-se à temperatura da água. Na água quente (40ºC), há aumento da CV. Na fria (25ºC), há diminuição da CV. A capacidade vital diminui – o aumento do volume sanguíneo nos vasos pulmonares reduz a complacência pulmonar (pelo aumento da pressão pleural) e a capacidade de difusão dos alvéolos. A conseqüência é o aumento da resistência ao fluxo ventilatório, a diminuição dos volumes e a queda da concentração de Oxigênio no sangue. O trabalho respiratório aumenta em 60% durante a imersão até o pescoço. Deste efeito, 75% pode ser atribuído ao aumento do trabalho elástico e 25%, ao trabalho dinâmico (como resposta à pressão hidrostática no tórax). Fonte: Sacchelli, Accacio e Radl, 2007 4.3. Sistema Musculoesquelético Os efeitos da imersão no sistema muscular estão diretamente relacionados à força de compressão provocada pela Pressão Hidrostática e pela regulação do tônus dos vasos sanguíneos. Fisiologicamente, para resistir à coagulação em condições secas, a vasoconstrição simpática aumenta a resistência vascular dos músculos esqueléticos. Já no corpo imerso, a pressão acaba por remover a necessidade biológica de vasoconstrição, aumentando o fluxo muscular. Assim, a força hidrostática soma-se à circulatória adicional. O que acontece é que o aumento do débito cardíaco aumenta o fluxo sanguíneo na pele e, em especial, nos músculos que recebem o dobro do fluxo se comparado com o solo. Desta forma, BECKER (2000) afirma que tanto a distribuição de oxigênio quanto a remoção dos produtos de degradação do metabolismo muscular são significativamente aumentados durante a imersão. Outra conseqüência do aumento do fluxo, apontada por SACHELLI (2007) seria a redução do espasmo muscular. “O interesse terapêutico sobre o efeito da imersão na musculatura deve-se, principalmente, ao fato de a força hidrostática da água, em um indivíduo em imersão com água até o pescoço, exercer uma pressão superior à pressão diastólica, o que favorece a eliminação de edemas e produtos como o lactato, e também a flutuação, que diminui consideravelmente a compressão nas articulações, e possibilita o trabalho muscular mesmo em pacientes com lesões articulares.” Fonte: Sacchelli, Accacio e Radl, 2007, p. 20 “Durante as caminhadas na água, as forças geradas são reduzidas em magnitude em mais de 50%, são geradas mais lentamente e distribuídas durante um intervalo de tempo mais longo. Clinicamente, isto significa que há produção de menor pressão articular e uma diminuição da força de impacto.” Fonte: Becker, 2000, p.41 4.4. Sistema Nervoso Os efeitos de relaxamento e “analgésico” são os mais significativos já que as terminações nervosas cutâneas são afetadas pela imersão e isto inclui um bloqueio parcial dos receptores de temperatura, tato e pressão. A modulação da dor é afetada por um aumento no limiar da dor, que aumenta em proporção com a temperatura e a turbulência. Ou seja, a dor diminui em razão da rápida transmissão ocorrida nas fibras de calor e tato em relação às fibras de dor. Alterações na liberação de neurotransmissores também ocorrem. Isto envolve a diminuição de catecolaminias, epinefrina e norepinefrina e aumento dos níveis de dopamina. Dada a instabilidade do meio aquático, o sistema vestibular é constantemente solicitado, o que promoverá a necessidade constante de reações de retificação e equlíbrio. 4.5. Sistema Urinário e Endócrino Estes dois sistemas são tratados em conjunto porque a função renal é regulada por hormônios que são diretamente afetados pela imersão. Estudos de Murray Epstein (1992) são citados por BECKER (2000) e SACHELLI (2007) e apontam as seguintes conclusões: O fluxo de sangue para os rins aumenta imediatamente após a imersão, o que aumenta a creatinina; A excreção de sódio aumenta em dez vezes e é acompanhada por água livre, criando parte do efeito diurético da imersão; A excreção do sódio é um fenômeno que depende proporcionalmente do tempo e da profundidade da imersão; A excreção de potássio também aumenta com a imersão; A função renal é altamente regulada pelos hormônios renina, aldosterona e antidiurético. Todos estes hormônios são grandemente afetados pela imersão, o que acontece quase imediatamente, aumenta constantemente durante as horas e diminui suavemente durante as horas subseqüentes. As reduções hormonais são muito significativas. A secreção de ADH reduz 50%; a renina, até 60% e a aldosterona, cerca de 35%. Para ROUTI, MORRIS e COLE (2000) a resposta renal à imersão pode ser resumida em três fenômenos básicos: o aumento da diurese, a natriurese (excreção aumentada de sódio) e a potassiurese (excreção aumentada de potássio). A diurese é descrita como uma forma de compensação homeostática à distensão dos receptores cardíacos, reduzindo a distensão atrial direita. Os mecanismosque interferem nesta resposta fisiológica de imersão elencados pelos autores são: Flutuação – a mudança hemodinâmica leva ao aumento do débito e consequentemente a diurese; Respiração com pressão negativa – aumenta o volume sanguíneo no compartimento intratorácico, que resulta em diurese compensadora de volume; Temperatura – a baixa temperatura potencializa a diurese porque a vasoconstrição periférica induzida desvia o sangue centralmente, aumentando o volume sanguíneo torácico e a cascata de respostas renais reguladoras. Hora do dia – a diurese é maior durante o dia (variação circadiana) Densidade do líquido – é um fator pouco significativo. A água salgada, mais densa, aumenta a flutuação e o efeito diurético; Hidratação – a desidratação aumenta; Idade – diurese maior e mais rápida é encontrada em idosos; Emoção – o estresse aumenta o débito urinário; Exercício – no frio, reduz a diurese. Considerações finais Como vimos, a imersão tem inúmeros efeitos sobre as respostas fisiológicas que acontecem simultaneamente nos diferentes sistemas. De qualquer maneira, é importante entendermos que estas alterações podem ser desejáveis ou tornarem-se uma sobrecarga fisiológica e isto deve ser levado em consideração no processo de indicação (ou restrição) da água como meio terapêutico. Como exemplos da importância de considerar estas respostas e seus usos terapêuticos, podemos lembrar que: O aumento do trabalho ventilatório e cardíaco pode gerar sobrecarga muscular e, consequentemente, treinamento respiratório e cardiovascular; Os efeitos no SNA facilitam o fluxo sanguíneo muscular, melhorando a eliminação de resíduos metabólicos, facilitando a reparação dos tecidos; Os efeitos renais persistem após o término da imersão e incluem a promoção de excreção dos produtos da degradação metabólica; auxiliam na regulação de sódio, potássio e água e, geralmente, diminuem a pressão sanguínea; MÉTODO HALLIWICK O método Halliwick foi desenvolvido por James McMillan (1913 -1994), um engenheiro inglês especializado em mecânica dos fluidos e atleta de pólo aquático, após ter sido convidado para levar para a piscina as crianças da Escola Halliwick para Meninas Deficientes (Londres, 1949). Em 1950, utilizou o método pela primeira vez, revolucionando a atenção às crianças já que brincando na água criava a necessidade de controle motor. Assim, tudo começou como jogos aquáticos para crianças com paralisia cerebral, como um método de natação fundamentado nos princípios hidrodinâmicos e da mecânica corporal. Assim, o método constituiu-se como uma terapia prazeroza que enfatiza as habilidades (não as limitações). Os resultados do método foram relatados pelos professores: melhora da funcionalidade no solo, da auto-estima, da postura e da respiração. Assim, o método se consolidou, e em 1963 passou a ser ensinado em Bad Ragaz, na Suíça. Na década de 1970, tornou-se internacionalmente reconhecido. Hoje, continua sendo amplamente utilizado especialmente na Inglaterra, como um método de instrução objetivando manter o conforto, a segurança e o controle do movimento na água, sem necessariamente ensinar movimentos perfeitos de natação. As atividades, que iniciam com a entrada e terminam com a saída da água, são desenvolvidas individualmente ou em grupo sob a orientação de um instrutor e monitores de apoio, que propõem atividades lúdicas que estimulam a independência do indivíduo no meio aquático. Além disso, o método é muito utilizado como fundamento para programas de reabilitação aquática para crianças e adultos, já que se adapta às formas e densidades alteradas e objetiva um aprendizado que se torne significativo em solo. ATENÇÃO! Halliwick é uma forma de raciocínio terapêutico, não é um conjunto de exercícios específicos. Trata-se de entender o meio aquático e como cada movimento é influenciado. Conhecer os conceitos e entender estes mecanismos é o caminho para avaliar e desenvolver programas personalizados de fisioterapia aquática, que terão por objetivo a melhora funcional na água e em solo. Portanto, o grande objetivo do método é o mais alto nível de independência funcional, visando a melhora das habilidades funcionais em solo. São princípios do método: 1. O foco está na habilidade, na potencialidade. Os exercícios sempre iniciam de forma que o paciente tenha sucesso na tarefa e, assim que isto acontece, as atividades vão aumentando o grau de dificuldade. Ajudar menos – Dificultar mais!!! 2. O conceito está baseado na mecânica dos fluidos e na análise dos movimentos na água. Portanto requer total entendimento das propriedades físicas da água: flutuação, pressão hidrostática, viscosidade, densidade relativa e turbulência; 3. O efeito mecânico mais importante é o metacêntrico. Este efeito refere-se à interação das forças de gravidade e flutuação e a resultante das forças rotacionais sobre o corpo. Estes efeitos podem ser utilizados para assistir ou para desafiar o equilíbrio ou o movimento do paciente na água. 4. O equilíbrio do indivíduo é influenciado pelo formato e a densidade do corpo. Todos os corpos são assimétricos e, quanto maior a assimetria, maior será a tendência à rotação em torno dos vários eixos. O controle do equilíbrio é essencial para o movimento controlado. 5. Quando houver a necessidade de assistência para a manutenção do equilíbrio, esta ajuda será oferecida pelo terapeuta,sem o uso de flutuadores. Para isto, o terapeuta precisa utilizar técnicas adequadas de manuseio, usando a mínima assistência possível. O conceito Halliwick é composto de um Programa de Dez Pontos, dividido em três fases. Fase 1 – Adaptação mental (ajuste) 1. Ajuste mental e desprendimento Fase 2 – Controle do Equilíbrio 2. Controle de Rotação Sagital 3. Controle de Rotação Transversal 4. Controle de Rotação longitudinal 5. Controle da Rotação Combinada 6. Empuxo/ Inversão Mental 7. Equilíbrio Estável 8. Deslizamento Turbulento Fase 3 – Movimento 9. Progressão Simples 10. Movimento Halliwick básico MÉTODO BAD RAGAZ Sua história começa em 1038, com a descoberta de uma nascente de água quente em um pequeno cânion e o uso passivo desta água, sob a forma de imersões. O primeiro registro deste uso com propósitos curativos data de 1242 e já em 1420, foi construída a primeira casa de banho. No século XX, ocorre uma mudança importante no uso da água. Em 1930, nos spas de Bad Ragaz (Suíça), a água além de ser utilizada como meio passivo no tratamento, passou a ser um local de exercícios ativos aplicados a pessoas portadoras de paralisias ou limitações de movimento articular. Estes exercícios que objetivavam o ganho de movimento eram realizados com apoio em pranchas e corrimãos. Na década de 1950, Knupfer (Alemanha) desenvolveu o Método de Wildbader. Os exercícios passaram a ser feitos na horizontal e os pacientes passaram a ser apoiados por flutuadores em forma de anéis nas regiões cervical, pélvica, nos joelhos e nos tornozelos. Os movimentos eram realizados em cadeias simples e em um único plano de movimento. Assim, o paciente realizava a movimentação ativa se aproximando ou se afastando de um ponto fixo. O objetivo era aprimorar os exercícios para utilizá-los para a estabilização e a execução de atividades ativo-resistidas. Na década de 1960, incorporou-se a isso o trabalho de Maggie Knott e os fisioterapeutas Davis e Laggart, juntando a facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) e os exercícios de Knupfer, criaram a TÉCNICA DOS ANÉIS DE BAD RAGAZ. Beatrice Egger refinou a técnica desde a década de 1970 e em 1990, publicou o novo método, ainda em evolução. Esta metodologia se utiliza das propriedades da água, em especial a flutuação e a turbulência, para promover relaxamento, estabilidade e ganho de força. O esforço e a qualidade do movimento podem ser monitorados durante toda a amplitude do movimento, podendo ser utilizadatambém como ferramenta de avaliação. Os objetivos do método são: melhorar a mobilidade e a força, depois o equilíbrio e a coordenação muscular, alcançando uma boa estabilização de tronco e das articulações proximais. Assim, o foco do método é a melhora do controle de tronco e a estabilização provocando o trabalho necessário para a manutenção de uma boa postura. Para tal são necessários o alinhamento estático/dinâmico e a consciência corporal (propriocepção, cinestesia e coordenação). De forma sintética, podemos dizer que a estabilização do tronco requer: 1. Mobilidade adequada (ADM) 2. Força muscular 3. Coordenação muscular – habilidade de contração no momento certo 4. Propriocepção O Bad Ragaz pode ser utilizado em pacientes que apresentam limitação funcional por dor, perda de força ou ADM e hipertônus com o objetivos diversos: relaxamento, fortalecimento, tração e alongamento, adequação tônica, ganho de ADM, melhora de alinhamento e estabilidade corporal, preparação para carga e melhora da resistência. Sua aplicação é indicada nos estágios iniciais de reabilitação de pacientes com lesões do SNC, disfunções ortopédicas e reumatológicas, pós-mastectomia, dor crônica ou fibromialgia, distrofias e qualquer condição de instabilidade proximal. O método pode ser amplamente utilizado mesmo em pacientes com grande debilidade como preparação para as atividades funcionais que devem ser incluídas no plano de tratamento. A técnica se caracteriza por padrões de tronco, membros inferiores (MMII) e superiores (MMSS), mas todos afetam diretamente o tronco. Os pacientes utilizam flutuadores cervical e pélvico (trocantérico) e, se necessário, alguns nos MMII. O fisioterapeuta deve utilizar uma biomecânica corporal correta com uma base ampliada, joelhos flexionados, contração abdominal, ombros deprimidos, fazendo transferências de peso sem rotação de tronco. Os exercícios realizados podem ser categorizados como: a) Passivo – com o paciente relaxado é realizado o movimento pela água. Promove-se o alongamento passivo de tronco,relaxamento, diminuição do espasmo muscular e inibição do hipertônus; b) Isométrico – com a intenção de ganho de estabilidade. O terapeuta é que se move, mobilizando o paciente que deve manter-se na posição inicial. A posição do paciente é fixa e a água provê a resistência para a contração sustentada. Atenção: evitar apnéia! c) Isocinético – com a intenção de ganho de movimento. Agora o paciente se move e o fisioterapeuta fica fixo,estabilizando-o (ou o apoio acontece em um ponto fixo na piscina). O paciente determina a quantidade de resistência através do movimento e da mudança dos braços de alavanca; d) Isotônico – com a intenção de movimento ativo assistido ou resistido. Agora paciente e fisioterapeuta se movem! O fisioterapeuta inicia e o paciente continua o movimento. O movimento pode ter resistência aumentada ou diminuída e isto vai se dar pela direção do corpo para o movimento. O movimento para o mesmo lado gera turbulência e para o lado contrário, esteira. FNP Bad Ragaz O corpo é estável, pela gravidade e pelo apoio em uma prancha fixa. A estabilidade do corpo é promovida pelo fisioterapeuta com o auxílio de flutuadores, que se desestabilizam durante o movimento. A principal resistência é dada pelo fisioterapeuta A principal resistência é oferecida pela água e, em menor parcela, pelo fisioterapeuta. Há maior possibilidade de variações técnicas As técnicas são mais restritas pela imposição dos princípios físicos O movimento atinge sua ADM máxima Nem sempre a ADM máxima é atingida Os movimentos são muito seletivos Ocorrem movimentos de eixo e extremidades Princípios: 1. O objetivo é atingir a resistência máxima com qualidade de movimento suave e coordenado, sem compensações; 2. A repetição das atividades leva a aprendizagem motora, recruta mais unidades motoras e aumenta a ADM ativa; 3. Contatos manuais corretos são necessários para a facilitação do movimento; 4. A aproximação e a tração são utilizadas como forças contrárias de empuxa/puxa. A aproximação facilita a co-contração e a estabilização, e a tração, o movimento. 5. O alongamento potencializa o recrutamento dos fusos musculares (reflexo de estiramento); 6. Os comandos são curtos e precisos com instruções claras. O movimento pode ser demonstrado passivamente e depois realizado ao comando. Ex. empurra/puxa. 7. O ritmo pode ser alterado. De passivo e lento até com muita resistência. 8. A estabilização rítmica é a alternância de apoio que gera a turbulência. A água faz a resistência ao movimento, o que significa sobrecarga muscular; 9. A irradiação estimula o hemicorpo contra-lateral. Ex. Começar as atividades do lado mais forte para obter resultados contra-laterais. 10. Há mudanças nos braços de alavanca e os contatos manuais progridem de proximal para distal. Como aumentar o nível de dificuldade? 1. Mudando a direção do movimento da direção oposta ao esforço do paciente (esteira) para a mesma direção (turbulência); 2. Aumentar a amplitude de movimento, exigindo mais controle e força muscular; 3. Mudar o contato manual de proximal para distal; 4. Aumentar a velocidade do movimento; 5. Modificar o formato corporal para criar novos braços de alavanca; 6. Utilizar diferentes velocidades em padrões de movimento recíproco; 7. Adicionar ou remover equipamentos de resistência.
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