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Estruturas de Mercado e Tomada de Decisão Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Bruno Leonardo Silva Tardelli Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos Estruturas e Poder de Mercado • Introdução • Custos Sociais do Poder de Monopólio: Aplicação do Caso de uma Empresa Monopolista • Análise do Excedente do Consumidor e Excedente do Produtor sob Concorrência Perfeita • A Curva de Oferta da Empresa no Curto Prazo • Análise do Excedente do Consumidor e Excedente do Produtor sob Monopólio • O Cartel • A Legislação Antitruste no Mundo • Concentração Econômica no Brasil • O Conselho Administrativo De Defesa Econômica (CADE) • Considerações Finais O objetivo desta Unidade é: · Entender o processo de custo social derivado das estruturas de mercado, de modo a mostrar como o bem-estar dos agentes econômicos podem ser alterados. Nesse contexto, surgem legislações específicas para tratar de práticas vistas como anticompetitivas. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta unidade, serão discutidos os custos sociais que as estruturas de mercado podem revelar, de modo a gerar perdas significativas aos agentes econômicos como um todo. A busca pela livre concorrência, entre outras, para evitar custos sociais tem sido aprimorada com o uso de legislação própria para tratar do assunto. Diante da complexidade do tema, realize todas as atividades propostas na unidade para obter o máximo de sucesso. ORIENTAÇÕES Estruturas e Poder de Mercado UNIDADE Estruturas e Poder de Mercado Contextualização Leia a reportagem “Cade aprova fusão entre Dabi Atlante e Gnatus com restrições”, publicada, em 25 de novembro de 2015, no portal G1, por Débora Cruz. “O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou nesta quarta-feira (25), com restrições, a fusão das empresas Dabi Atlante e Gnatus, que atuam no setor de produtos odontológicos. Para evitar possíveis efeitos anticompetitivos da operação, as empresas se comprometeram, por exemplo, a vender a marca Gnatus. Mediante acordo fechado com o Cade, também foi estabelecido que as empresas deverão encerrar a relação de exclusividade mantida com distribuidores dos produtos e na oferta de assistência técnica. As medidas foram propostas pelas próprias empresas, após o órgão apontar que a fusão poderia resultar em riscos à competição no setor. De acordo com o Cade, a Dabi Atlante e a Gnatus são os principais concorrentes no mercado de produtos odontológicos no país, com forte participação na venda de cadeiras odontológicas, bombas a vácuo, raio-x intraoral, equipamentos para profilaxia e peças de mão. O órgão entendeu que a aprovação da operação sem esses ‘remédios’ poderia resultar em aumento dos preços dos produtos e eliminação de concorrentes”. 6 7 Introdução O estudo das estruturas de mercado é fundamental para o entendimento de qualquer mercado. No que tange a essas estruturas, é sempre importante avaliar a forma pela qual os agentes produtores estão interagindo entre si, de modo a evitar substanciais prejuízos aos demais participantes da sociedade. Quando houver alguma prática que limite a concorrência nos mercados, de modo a causar prejuízos à sociedade como um todo, estará configurada uma importante falha de mercado: a do poder de mercado. Esta unidade está dividida amplamente em cinco seções, além desta introdução e das considerações finais. Na primeira seção, é apresentada a noção de custos sociais do poder de monopólio com a aplicação do caso de uma empresa monopolista; na segunda seção, é colocada a noção de cartel; na terceira seção, é inserida a abordagem da legislação antitruste, com foco nas leis norte-americanas; na quarta seção, o quadro de concentração econômica brasileira; e, por fim, na quinta seção, é realizada uma apresentação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a partir das funções gerais do conselho, os órgãos componentes, a estrutura e competência de cada um deles. Custos Sociais do Poder de Monopólio: Aplicação do Caso de uma Empresa Monopolista Algumas características clássicas distinguem mercados sob concorrência perfeita e monopólio. Por exemplo, sob concorrência perfeita, o preço de mercado (Pc) é definido pelas forças competitivas entre ofertantes e demandantes de modo que cada agente é visto como um átomo. Isso faz com que a receita marginal de uma empresa qualquer seja igual ao preço de mercado. Ou seja, o que a receita recebe pelo bem vendido é sempre o mesmo, independentemente da quantidade vendida. Diferentemente disso, sob monopólio, a única empresa ofertante afeta o preço de mercado (Pm) pelo fato de esta ser a própria oferta do mercado. Assim, a empresa monopolista possui certa capacidade de impor preços por meio da quantidade colocada à disposição dos consumidores – além de ter que considerar o aspecto da elasticidade-preço da demanda. Em qualquer estrutura de mercado, o nível maximizador de lucro empresarial ocorre quando a receita marginal (RMg) é igual ao custo marginal (CMg). Sob concorrência perfeita, uma característica é acrescentada. Como RMg = CMg e qualquer empresa inserida em um mercado com essa estrutura tem de conviver com a receita marginal sendo igual ao preço (Pc), assim Pc = RMg = CMg. 7 UNIDADE Estruturas e Poder de Mercado A empresa monopolista produz no nível em que RMg = CMg, mas este ponto não será igual ao preço (Pm). A empresa monopolista será capaz de sustentar preço acima do CMg e que, por essa medida, terá certo poder de mercado (ou monopólio). As diferenças entre as estruturas de concorrência perfeita e monopólio mostrarão os custos sociais que o monopólio exibe. Para entender o que seriam esses custos sociais, é preciso apresentar dois conceitos: o de excedente do consumidor e excedente do produtor. Definição de Excedente do Consumidor e Excedente do Produtor Conforme Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 117), “[...] o excedente do consumidor é a diferença entre o que um consumidor está desejando pagar por certo bem e o que efetivamente paga.”. Isso implica dizer que os consumidores podem ter diferentes concepções sobre o que pagariam por determinado bem independentemente do preço de mercado. Imagine que você esteja observando um carro na vitrine de uma concessionária e mentaliza que pagaria até $ 50.000 pelo automóvel. Entretanto, ao entrar na agência descobre que o valor correto é $45.000. Dessa forma, o “seu” excedente do consumidor é de $ 5.000. Observe que o montante do excedente depende de consumidor para consumidor. Da mesma forma, os produtores também têm um excedente, o chamado excedente do produtor. Segundo Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 117), “[...] o excedente do produtor é a soma das diferenças entre o preço de mercado e o custo marginal de produção, relativo a todas as unidades produzidas pela empresa.”. Por esta definição fica fácil perceber que na estrutura de mercado de concorrência perfeita, como P = CMg no patamar de produção que maximiza o lucro, o excedente do produtor será zero neste ponto. Por outro lado, em estruturas como o monopólio e a concorrência monopolista haverá este tipo de excedente. Isso ocorre pelo fato de apresentarem um nível produtivo maximizador de lucro definido em um ponto no qual P > CMg. Ex pl or Análise do Excedente do Consumidor e Excedente do Produtor sob Concorrência Perfeita Sob concorrência perfeita, o preço de mercado de qualquer bem ou serviço é o definido pela interação entre ofertantes e demandantes em um cenário, no qual os agentes econômicos são tão pequenos que, individualmente, não poderiam determinar o preço. Entretanto, em conjunto, o preço de mercado acaba por ser uma “média” em relação ao preço que cada demandante estaria disposto a pagar e, também, de quanto o ofertante gostaria de receber. 8 9 Em uma análise inicial para um mercado sob concorrência perfeita, se o preço de mercado de um bem qualquer fosse $5, existiriam os consumidores dispostos a pagar maisde $5 (caso o preço de mercado realmente fosse superior), os dispostos a pagar menos de $5 e os dispostos a pagar exatamente $5. O excedente do consumidor expressa a soma dos valores que os consumidores dispostos a pagar acima de $5 efetivamente desembolsariam. Pelo gráfico 1, as áreas sombreadas representam a soma do excedente de todos os consumidores (na parte acima do preço $5 e abaixo da curva de demanda) e a soma do excedente de todos os (parte abaixo do preço $5 e acima da curva de oferta). Mas, por que elas representam o excedente do consumidor e do produtor? Essa é uma pergunta que será respondida com a devida calma necessária. Gráfico 1 – Excedente do consumidor e do produtor em um mercado competitivo Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 272)/ Fernando e Ivonn Quijano (2010) Primeiramente, leia o box a seguir sobre a curva de oferta da empresa competitiva – ou seja, sob concorrência perfeita – no curto prazo. 9 UNIDADE Estruturas e Poder de Mercado A Curva de Oferta da Empresa no Curto Prazo Agora que está definida a condição de maximização de lucro da empresa envolvida num mercado com concorrência perfeita, deve-se entender qual será a curva de oferta individual desta empresa. Quando se observa a formação de preço em um mercado, ele se daria tradicionalmente no ponto em que a quantidade demandada é igual à quantidade ofertada. Entretanto, uma empresa, individualmente, poderá não ter interesse em ofertar. A empresa fechará caso o custo variável médio estiver abaixo do preço de mercado do bem envolvido. Essa é uma regra válida no curto prazo como no longo prazo. Outra observação a ser levantada é sobre o ponto de maximização de lucros da empresa competitiva. A empresa envolvida em um mercado sob concorrência perfeita estará maximizando o lucro quando P = CMg. Assim, à medida que o preço de mercado oscila, a empresa acompanha a quantidade ofertada, baseando-se nos pontos de cruzamento entre a linha de preços e a curva de custo marginal (CMg). Assim, no curto prazo, a oferta da empresa estará associada à igualdade entre P = CMg, mas, quando o P < CVMe, a empresa não ofertará qualquer quantidade ao mercado. O menor preço pelo qual a empresa exibe algum interesse em produzir é quando o preço de mercado iguala-se ao CVMe mínimo. O nível de produção associado ao CVMe mínimo é encontrado no ponto de cruzamento entre a curva de CVMe e a curva de CMg. Portanto, a representação gráfica da curva de oferta será iniciada quando o preço for pelo menos igual ao CVMe mínimo. O gráfico 2 apresenta a curva de oferta de curto prazo ao longo da curva de CMg a partir do CVMe mínimo. Gráfico 2 – Oferta da empresa individual no curto prazo Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 249)/ Fernando e Ivonn Quijano (2010) 10 11 No longo prazo, a empresa não aceitará ofertar a um preço inferior ao custo médio total de produção. No caso do curto prazo, a empresa até aceitaria algum prejuízo proveniente da incapacidade de cobrir custos fixos no nível de produção ótima, mas, no longo prazo, a permanência da empresa no setor dependerá de P ≥ CTMe no nível de produção maximizador de lucro. Pelo que foi exposto anteriormente sobre a formação da curva de oferta da empresa competitiva, verifica-se que a empresa estaria satisfeita com a situação na qual o preço é igual ao custo marginal, mas, acima do custo variável médio mínimo no curto prazo e acima do custo total médio no longo prazo. O importante, na explanação sobre a construção da curva de oferta, é mostrar que qualquer preço acima do que está previsto na curva de oferta representa algo que o ofertante não exige para produzir, mas ficaria muito feliz em receber, caso o mercado o oferecesse de alguma forma. Essa é a explicação sobre a razão de o excedente do produtor – que representa “[...] a soma das diferenças entre o preço de mercado e o custo marginal de produção relativos a todas as unidades produzidas pela empresa.” (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 117) – ser considerado a área acima da curva de oferta. Caso o preço do bem (ou serviço) se eleve, o excedente do produtor, também aumentará. O excedente do produtor para o caso do gráfico 1 será toda a área sombreada que está abaixo do preço $5 e acima da curva de oferta. A soma do excedente de cada ofertante gera o excedente (total) do produtor. Para ilustrar o excedente do consumidor, Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 326) supõem três agentes no gráfico 1: consumidor A, consumidor B e consumidor C. Caso o preço de mercado seja $5, o excedente do consumidor A será $5, pois este estaria disposto a pagar no máximo até $10. Já o consumidor B estaria disposto a pagar no máximo $7, de modo que o excedente do consumidor para este, será $ 2. Por fim, o consumidor C possui excedente igual a zero, dado que aceita pagar no máximo $5 pelo bem em questão, ou seja, o próprio preço de mercado. A soma do excedente de todos os consumidores individualmente formará a área sombreada superior – o trecho acima do preço de $5 e abaixo da curva de demanda – formará o excedente (total) do consumidor. 11 UNIDADE Estruturas e Poder de Mercado Análise do Excedente do Consumidor e Excedente do Produtor sob Monopólio Uma empresa monopolista produz menos e um preço de mercado maior em relação à empresa competitiva. O fato é apresentado no gráfico 3, no qual Pc e Pm representam os preços de mercado sob concorrência perfeita e monopólio, respectivamente, e Qc e Qm, os respectivos níveis de produção maximizadores de lucro da empresa competitivas e da empresa monopolista. Gráfico 3 – O Custo Social do Monopólio Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 326)/ Fernando e Ivonn Quijano (2010) Migrando da concorrência perfeita para o monopólio, existem dois efeitos relevantes: a mudança do preço de mercado e da quantidade de bens no mercado. Quando o nível de preços aumenta de Pc para Pm, existe perda do excedente do consumidor. Se o excedente do consumidor é retratado como a área acima da linha de preço e abaixo da curva de demanda – que está representada pela curva de receita média –, então os consumidores deixam de ter o excedente representado pelo retângulo A, como também o triângulo B, ou seja, a área A + B. Da mesma forma, o excedente do produtor também foi alterado. Se esse excedente é representado pela área abaixo da linha de preço e acima da curva de oferta, sob monopólio – comparativamente à concorrência perfeita –, o excedente do produtor é aumentado pela área A. Entretanto, como o monopolista deixa de produzir a quantidade (Qc – Qm) – em relação ao que produziria as empresas competitivas, o produtor deixa de ter o excedente retratado pela área C. Desse modo, tem-se que: » Resultado do excedente do consumidor: –A – B » Resultado do excedente do produtor: +A –C 12 13 O resultado líquido do bem-estar social, somando os dois resultados, é (–A –B) + (+A – C) = –B – C, ou seja, apesar de os produtores “abocanharem” a área A dos consumidores, o resultado final é de custo social mensurado pela área B + C. A área B + C é denominada como peso morto. Eficiência de mercado O termo eficiência econômica pode ser sintetizada como a “[...] maximização dos excedentes do consumidor e do produtor em conjunto.” (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 277). Pelo que foi visto no tópico anterior, a passagem entre um mercado competitivo para um mercado monopolizado representa perda líquida de excedentes – dado pela área B + C. Assim, a estrutura de monopólio não seria tão eficiente economicamente quanto à estrutura de concorrência perfeita. Essa seria uma das razões para haver restrições a práticas anticompetitivas como a formação de cartéis, os quais tentam imitar o comportamento próximo da empresa monopolista por meio de acordos entre grandes empresas de um mercado, com a finalidade de elevar os lucros. O Cartel Pindyck e Rubinfeld (2010) apresentam a definição e o mecanismo de sustentação de forma clara e direta. Conforme os autores: [...] em um cartel,os produtores concordam explicitamente em agir em conjunto na determinação de preços e nível de produção. Nem todos os produtores de um setor necessitam fazer parte do cartel, e a maioria dos cartéis envolve apenas um subconjunto de produtores. Mas, se uma quantidade suficientemente grande de produtores optar por aderir aos termos do acordo do cartel e se a demanda do mercado for suficientemente inelástica, o cartel poderá conseguir elevar os preços bem acima dos nível competitivos. (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 425) A partir dos cartéis e de outras práticas que tentam minar a competitividade, criou- se toda uma legislação para tentar inibi-las. O destaque da literatura internacional fica por conta das leis americanas. 13 UNIDADE Estruturas e Poder de Mercado A Legislação Antitruste no Mundo A presença do poder de mercado no caso do monopólio evidenciou alguns efeitos da presença deste tipo de poder. Pode-se verificar que o preço de mercado sob monopólio é superior à situação de concorrência perfeita, assim como o preço é superior ao custo marginal. Adicionalmente, o nível produtivo maximizador de lucro é comparativamente inferior no monopólio, de modo que os consumidores terão menor acesso aos bens. Por fim, ainda existirá a essência de que a empresa monopolista estará lucrando acima do normal à custa de outros agentes. Este conjunto de efeitos não é apenas caracterizado no monopólio. Sob outras estruturas será possível encontrar algum tipo de custo social. Com a finalidade de suprir a falha de mercado ocasionada pelo poder de mercado, os países têm implementado uma série de medidas para coibir práticas anticompetitivas. Nos Estados Unidos, existe uma histórica legislação antitruste para tratar desses assuntos. Essa legislação representa “[...] um conjunto de regras e normas destinadas à promoção de uma economia competitiva por meio da proibição de ações que limitem, ou tenham a possibilidade de limitar a concorrência e por meio de restrições a estruturas de mercado que sejam permissivas.” (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 336). Participam com destaque da legislação antitruste norte-americada: a Lei Clayton (1914), a Lei federal Trade Commision Act (1914, com emendas em 1938, 1973 e 1975) e a Lei Sherman (1980). A Lei Clayton, entre outras medidas, torna ilegal a prática de preços predatórios e a instituição de fusões e aquisições quando existe substancial redução da competitividade ou que tendam a criam um monopólio. A prática de preços predatórios significa “[...] estabelecer preços que excluam a concorrência e desencorajam novas empresas a atuar no mercado, de tal modo que sejam obtidos lucros futuros.” (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 337). A Lei Sherman “[...] proíbe contratos, combinações ou conspirações capazes de restringir o mercado.” (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 336), como a “fixação de preços acima do nível competitivo” (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 336). A Lei Sherman é infringida não somente quando existe evidência explícita de combinação entre empresas, mas, também, quando existe conduta paralela. Esta conduta significa a existência de uma “forma implícita de coalização na qual uma empresa segue consistentemente as atitudes tomadas por outra” (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 337). Adicionalmente, a Lei “[...] torna ilegal monopolizar ou procurar monopolizar mercados e proíbe conspirações que resultem em monopolização.” (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 337). A lei federal Trade Commision Act complementa as demais leis proibindo formas anticompetitivas como propagandas e embalagens enganosas e diferenciação na relação dos produtores com os varejistas no mercado. No mesmo sentido da legislação antitruste dos Estados Unidos, a União Europeia também tem atuado com a aplicação de medidas preventivas e de repreensão às práticas anticompetitivas, com texto jurídico semelhante ao dos Estados Unidos. 14 15 Concentração Econômica no Brasil Em estudo realizado para a quarta edição do livro Fundamentos de Economia, Vasconcellos e Garcia (2012) apresentam os dados de uma pesquisa realizada a respeito do grau de concentração econômica no Brasil, por setor, em 1990. Foram abordados setores industriais e comerciais. A base de cálculo foi a proporção do faturamento das quatro maiores empresas de cada subsetor (por exemplo, do açúcar, dos sucos, dos pneus) em relação ao faturamento total de cada um destes subsetores. Assim, encontrou-se a representatividade das maiores empresas frente a todo o setor. Adicionalmente, foi realizada a média das ramificações dos setores. Por exemplo, encontrou-se o percentual de representatividade de faturamento das maiores empresas de sucos e concentrados (78%) cerveja (86%) e cigarros e fumo (91%), juntas formam o setor de alimentos. Assim, fez-se a média aritmética destes percentuais para encontrar a média do grau de concentração do setor de alimentos, que foi de 85%, conforme a tabela 1. Para os demais setores, o mesmo cálculo foi realizado. Por meio dos dados da tabela 1 é possível identificar que a maior parte dos setores industriais e comerciais abordados apresenta elevado grau de concentração econômica. Os maiores exemplos de maior concentração econômica foram os de bebidas e fumo (85%), material de transporte (94%), borracha (75%), metalurgia (72%), minerais não metálicos (73%), mineração (76%) e distribuição de derivados de petróleo (79%). Apesar de os dados não serem tão recentes, há a constatação de que o quadro de concentração econômica não foi reduzido, de modo que os agentes econômicos convivem com estruturas altamente oligopolizadas (ou seja, a maior parte do setor sob o controle de um pequeno número de empresas). A ilustração mostra que a maior parte dos setores teria potencial para terem algum poder de mercado e gerar custos sociais aos demais agentes produzindo quantidade de bens menor à necessária em relação à livre concorrência estabelecida sob concorrência perfeita, assim como os preços seriam superiores aos desta última estrutura. 15 UNIDADE Estruturas e Poder de Mercado Tabela 1 – Faturamento das quatro maiores empresas sobre o faturamento total de cada setor em1990 Média do Grau de concentração média do setor Setor Industrial 63% 1. Alimentos (açúcar, álcool, moinhos, frigoríficos e conservas) 54% 2. Bebidas e Fumo (sucos e concentrados, cerveja, cigarros e fumo) 85% 3. Eletroeletrônico (eletrodomésticos, equipamentos para construção, condutores elétricos e computadores) 66% 4. Borracha (pneus e artefatos) 75% 5. Material de transporte 94% 6. Mecânica (motores e implementos agrícolas, máquinas operatrizes e equipamentos pesados) 67% 7. Metalurgia 72% 8. Química (petroquímica, fertilizantes e produtos de higiene e limpeza) 49% 9. Papel e celulose 56% 10. Têxtil (fiação, tecelagem e confecções) 29% 11. Minerais não metálicos (cimento, cal, vidro, cristal, amianto e gesso) 73% 12. Mineração 76% 13. Construção civil (construção pesada) 47% Setor Comercial 71% 1. Varejista (redes de supermercados) 55% 2. Distribuição de gás 66% 3. Distribuição de derivados de petróleo 79% Fonte: Vasconcellos e Garcia (2012, p. 119-120) O Conselho Administrativo De Defesa Econômica (CADE) O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) é uma autarquia federal, que tem por objetivo velar a manutenção da livre concorrência do mercado. O Cade possui três funções básicas: 1. Preventiva; 2. Repressiva; e, 3. Educacional ou Pedagógica. 16 17 No aspecto preventivo, o Cade estuda e decide pelos pedidos de autorização de qualquer forma de concentração econômica envolvendo grandes empresas e, que, portanto, possuem algum potencial de prejudicar a livre concorrência no mercado; no aspecto repressivo, ao Cade cabe investigar e julgar condutas anticompetitivas, como a formação de cartéis; e, por fim, no aspecto educacional, o Cade divulga ao público em geral condutas que escapam da livre concorrência, além de incentivar estudos sobre o tema, com o apoioda comunidade acadêmica, e disseminar por meio de eventos, como palestras, cursos, seminários e congressos. Na formação da defesa da concorrência, existe o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), o qual é composto pelo Cade e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE). O Cade é vinculado ao Ministério da Justiça e o SEAE ao Ministério da Fazenda. Estruturalmente, para que o Cade exerça suas funções, é constituído pelo Tribunal Administrativo de Defesa Econômica, pela Superintendência-Geral e pelo Departamento de Estudos Econômicos, tendo como auxiliares a Procuradoria Federal e o Ministério Público Federal. A tabela 2 apresenta um quadro para sintetizar a estrutura e competência do Tribunal Administrativo de Defesa Econômica, da Superintendência-Geral e do Departamento de Estudos Econômico. Tabela 2 - Órgãos que formam o Cade Órgão Estrutura Competências Tribunal Administrativo de Defesa Econômica Compõe-se de um Presidente e seis Conselheiros, nomeados pelo presidente da República depois de aprovados pelo Senado Federal. O mandato dos membros do Plenário é de quatro anos, não coincidentes, vedada a recondução. Compete-lhe o julgamento dos processos administrativos para análise ou apuração de atos de concentração econômica; o julgamento dos processos administrativos para imposição de sanções administrativas por infrações à ordem econômica (instaurados pela Superintendência-Geral); o julgamento dos recursos contra as medidas preventivas (adotadas pelo Conselheiro-Relator ou pela Superintendência-Geral); e a aprovação dos termos do compromisso de cessação de prática e dos acordos em controle de concentrações. Superintendência-Geral É chefiada por um Superintendente-Geral, nomeado pelo presidente da República depois de sabatinado pelo Senado Federal, para mandato de dois anos, permitida a recondução para um único período subsequente, com o auxílio de dois Superintendentes-Adjuntos. Compete-lhe a instauração e instrução de processos administrativos para análise ou apuração de atos de concentração econômica, remetendo-os ao Tribunal Administrativo para julgamento, nos casos previstos na referida lei; a sugestão, ao Tribunal Administrativo, de condições para celebração de acordo em controle de concentrações; a instauração e instrução de procedimentos investigatórios, sempre que se deparar com indícios de condutas anticoncorrenciais, remetendo- os ao Tribunal Administrativo quando concluir por seu arquivamento ou quando entender que houve prática de condutas anticoncorrenciais; a adoção de medidas preventivas; a proposição de termos de compromisso de cessação, submetendo-os à aprovação do Tribunal Administrativo. Departamento de Estudos Econômicos Dirigido por um Economista-Chefe “[…] a quem incumbirá elaborar estudos e pareceres econômicos, de ofício ou por solicitação do Plenário, do Presidente, do Conselheiro-Relator ou do Superintendente-Geral, zelando pelo rigor e atualização técnica e científica das decisões do órgão.” O texto legal menciona de forma resumida as atribuições do Economista- Chefe e, consequentemente, do Departamento de Estudos Econômicos, que, na realidade, se desdobram em várias atividades que constituem dois ramos de atuação complementares: o primeiro, de assessoria à Superintendência- Geral e ao Tribunal Administrativo de Defesa Econômica na instrução e análise de processos administrativos que tratam de atos de concentração e condutas anticompetitivas e, o segundo, de estudos que deverão garantir a atualização técnica e científica do Cade. Fonte: Cade (2015) 17 UNIDADE Estruturas e Poder de Mercado Considerações Finais Esta unidade abordou o aspecto de ineficiência que uma estrutura de mercado monopolista pode gerar, no sentido de trazer custos à sociedade, assim como práticas anticompetitivas que estimulem algum poder de monopólio. Na sequência foi introduzida a ideia da legislação antitruste, bem como, no caso brasileiro, das funções atribuídas ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), com o intuito de apresentar as formas de arrefecer qualquer tentativa de criar ineficiência econômica em prol de alguns agentes econômicos. 18 19 Material Complementar Leitura Como material complementar, verifique o link para o artigo “Os conceitos de mercado relevante e de poder de mercado no âmbito da defesa da concorrência”, de Mário Luiz Possas. Disponível em: http://www.ie.ufrj.br/grc/pdfs/os_conceitos_de_mercado_relevante_e_de_poder_de_mercado.pdf 19 http://www.ie.ufrj.br/grc/pdfs/os_conceitos_de_mercado_relevante_e_de_poder_de_mercado.pdf UNIDADE Estruturas e Poder de Mercado Referências CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA. O CADE. Disponível em: <http://www.Cade.gov.br/>. Acesso em 25 de nov. 2015. PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. VASCONCELLOS, M. A. S.; ENRIQUEZ GARCIA, M. Fundamentos de Economia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. VASCONCELLOS, M. A. S.; OLIVEIRA, R. G.; BARBIERI, F. Manual de Microeconomia. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011. VARIAN, H. R. Microeconomia: Princípios Básicos. 8. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2012. 20
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