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Introdução à Fisioterapia Dermatofuncional Introdução ao conhecimento da especialidade em Fisioterapia Dermatofuncional desde a sua origem, seu objeto de estudo, até as suas diversas áreas de atuação. Profa. Glória Lourenço Revelles 1. Itens iniciais Propósito O conhecimento sobre a Fisioterapia Dermatofuncional, bem como sobre as suas diversas possibilidades de atuação, é essencial para os profissionais que desejam seguir essa área, com a finalidade de desmistificar o que foi estigmatizado como Fisioterapia Estética. Objetivos Descrever os aspectos gerais que envolvem a especialidade em Fisioterapia Dermatofuncional. Distinguir as áreas de atuação da Fisioterapia Dermatofuncional. Introdução A especialidade da Fisioterapia Dermatofuncional estuda o sistema tegumentar, ou seja, a pele, e seus anexos, tais como: glândulas sudoríparas, glândulas sebáceas, folículos pilosos e unhas. Essa área é estigmatizada como um ramo de especialização estética da Fisioterapia. Ledo engano! O que muitos não sabem é que a área estética é apenas uma das oito áreas de atuação dessa especialidade. A pele, maior órgão do corpo humano, está atrelada, juntamente com os seus anexos, a diversas funções, como excreção, proteção, contenção das estruturas corporais, captação de sensações, termorregulação e síntese de vitamina D. Além disso, as suas disfunções podem ser advindas de distúrbios metabólicos, endócrinos, linfáticos, neurológicos, circulatórios e osteomioarticulares. Com o conhecimento da complexidade sobre o sistema tegumentar e as suas peculiaridades tanto funcionais quanto disfuncionais, houve a necessidade de estratificar a especialidade em oito áreas de atuação: queimados; hanseníase; endocrinologia; pré e pós-operatório de cirurgia plástica; pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica; angiologia e linfologia; dermatologia; estética e cosmetologia. Por isso, neste conteúdo, buscaremos entender a importância de se conhecer essa especialidade como um grande campo de atendimento em diversas possibilidades. Vamos estudar a origem dessa especialidade e o crescente interesse dos fisioterapeutas em entrar na área. Conheceremos também o objeto de estudo da especialidade, ou seja, a anatomia do sistema tegumentar e seus anexos, bem como os recursos terapêuticos amplamente utilizados. Por fim, conheceremos cada área de atuação da Fisioterapia Dermatofuncional. Vamos lá? • • • • • • • • • • 1. Conceitos gerais sobre a especialidade Breve histórico A especialidade de Fisioterapia Dermatofuncional é relativamente nova, porém a busca dos profissionais em expandir seus conhecimentos no âmbito estético permeia há mais de 50 anos. Segundo Guirro e Guirro (1992), a atuação da Fisioterapia na área estética vem desde os anos 70, quando alguns profissionais da época se dedicaram a observar os resultados de certos recursos terapêuticos aplicados com o objetivo estético. O interesse dos profissionais pela área aumentou de tal maneira que ocorreu a elaboração dos primeiros registros de publicações científicas nacionais registradas no início da década de 90, culminando na origem da Fisioterapia aplicada à estética. Saiba mais O livro “Fisioterapia em Estética, fundamentos, recursos e patalogias”, dos autores Elaine Guirro e Rinaldo Guirro, publicado em 1992, foi um dos primeiros registros bibliográficos da Fisioterapia aplicada em estética. Com o interesse e o ingresso de muitos profissionais na área, ocorreu o seu primeiro marco histórico: foi estabelecida pela Associação Brasileira de Fisioterapia (ABF), em 1997, a Comissão de Estudos em Fisioterapia Estética, dando apoio e suporte à área e aos seus profissionais atuantes. O segundo marco histórico foi instaurado em 1998, com a realização do I Congresso Brasileiro de Fisioterapia Estética, contando com mais de quinhentos congressistas, em sua maioria de profissionais fisioterapeutas atuantes nessa área. A Fisioterapia estética passou a se expandir em caráter científico e no campo de atuação, ou seja, atendia não apenas pacientes com queixas estéticas, mas também aqueles com disfunções tissulares decorrentes de queimaduras, dermatoses (doenças de pele por manifestações alérgicas persistentes) e sequelas de diversas cirurgias, como as mastectomias (retirada cirúrgica da mama para o tratamento de câncer de mama), reparadoras e plásticas. Observou-se que o foco no tratamento estava na recuperação da função, não sendo exclusivo à estética e à beleza. Desse modo, a Comissão de Estudos em Fisioterapia Estética sugeriu a substituição do termo “estética” para “dermatofuncional”, a fim de estar em conformidade com os requisitos de outras especialidades oficialmente reconhecidas pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) e mais adequado à realidade terapêutica da área. No ano 2012, com o apoio do COFFITO e dos Conselhos Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO), foi realizado o I Congresso Brasileiro de Fisioterapia Dermatofuncional, evento com alto padrão científico que também marcou a história da especialidade. Registro da mesa de abertura do I Congresso Brasileiro de Fisioterapia Dermatofuncional. O reconhecimento da especialidade A Fisioterapia Dermatofuncional foi reconhecida como especialidade fisioterapêutica no dia 20 de maio de 2009 através da Resolução COFFITO nº 362. Em seguida, o plenário do COFFITO regulamentou a atividade do Fisioterapeuta no exercício da especialidade profissional em Fisioterapia Dermatofuncional por meio da Resolução nº 394/2011. De acordo com o art. 7º dessa resolução, a atuação desse profissional tem como característica o: Exercício profissional em todos os níveis de atenção à saúde, em todas as fases do desenvolvimento ontogênico, com ações de prevenção, promoção, proteção, educação, intervenção, recuperação e reabilitação do cliente/paciente/usuário, nos seguintes ambientes, entre outros: hospitalar, ambulatorial, domiciliar, home care, públicos, filantrópicos, militares, privados, terceiro setor. (RESOLUÇÃO COFFITO Nº 394/2011) Nos últimos anos, observa-se um crescente interesse de profissionais e estudantes a ingressarem nessa área de atuação. Isso pode ser explicado tanto pela crescente busca da população pelo “corpo perfeito”, gerando grande interesse por procedimentos, estéticos, quanto dos próprios profissionais, empenhados em avançar cientificamente no universo de possibilidades que a própria especialidade oferece, imergindo cada vez mais no desenvolvimento de publicações científicas e livros com o objetivo de aprofundar os conhecimentos na área. Além disso, há o aumento do interesse dos próprios médicos (angiologistas, endocrinologistas e dermatologistas) e cirurgiões (bariátricos, plásticos e reparadores) em contar com fisioterapeutas dermatofuncionais em suas equipes interdisciplinares, reconhecendo a importância dessa parceria com o objetivo de oferecer um atendimento completo e de qualidade ao paciente. Há ainda o interesse das próprias instituições de ensino superior, oferecendo o curso de pós-graduação lato sensu em Fisioterapia Dermatofuncional para especialização acadêmica. Segundo o Ministério da Educação (BRASIL, 2021), o curso de pós-graduação em Fisioterapia Dermatofuncional deve ter duração de pelo menos 360 horas, no mínimo. Conceitos gerais A Fisioterapia Dermatofuncional estuda o sistema tegumentar, bem como seus anexos e suas disfunções advindas de distúrbios metabólicos, endócrinos, circulatórios, linfáticos, neurológicos e osteomioarticulares. Avalia ainda as condições dermatológicas no que diz respeito à sua funcionalidade ou à estética, atuando de forma preventiva e corretiva tanto nas disfunções estéticas quanto na recuperação funcional e no reparo tecidual, como, por exemplo: em úlceras, queimaduras, dermatoses, hanseníase, psoríase, acne, aderências cicatriciais, gordura localizada, fibroedema geloide, flacidez, estrias, fotoenvelhecimento, rugas, edemas, linfedemas, cicatrizes diversas (atróficas, queloideanas,hipertróficas, deiscências), dentre outros. A Fisioterapia Dermatofuncional também previne e trata as respostas oriundas de intervenções cirúrgicas, atuando no pré e pós-operatório de cirurgias plásticas estéticas e reparadoras, bariátricas, mastectomias e vasculares, promovendo a melhora da autoestima e da qualidade de vida nesses pacientes. Atuação do fisioterapeuta dermatofuncional. O profissional da área Fisioterapia Dermatofuncional atua tanto em domicílio, consultórios e clínicas especializadas, quanto na atenção à saúde em alta complexidade em hospitais de grandes queimados. Esse profissional poderá ter a especialização acadêmica ou a titulação de especialidade. Especialização acadêmica x Título de especialidade Existe uma grande diferença entre ter a especialização e ser especialista na área. O curso de pós-graduação em Fisioterapia Dermatofuncional não titula o fisioterapeuta como especialista profissional desse ramo de atuação. Embora o profissional adquira o certificado de conclusão da especialização ao final do curso, isso não lhe dá o direito a ter o título de especialista. A concessão do Título de Especialista Profissional em Fisioterapia Dermatofuncional, assim como nas demais áreas da Fisioterapia, possui alguns dos seguintes requisitos (RESOLUÇÃO COFFITO Nº 394/2011): O profissional deverá ter experiência comprovada e estar inscrito no CREFITO da sua região por, no mínimo, 2 anos. Deverá ser aprovado no Exame Nacional para Concessão do Título de Especialista Profissional, emitido pelo COFFITO e pelas associações conveniadas (a Fisioterapia Dermatofuncional é representada no Brasil pela Associação Brasileira de Fisioterapia Dermatofuncional – ABRAFIDEF). Após a aprovação, há uma segunda etapa: a Prova de Títulos, ou seja, uma avaliação de toda a documentação comprobatória do profissional sobre a sua experiência e aperfeiçoamento na especialidade requerida. Ambas as etapas possuem pesos para a composição da nota necessária para a aprovação final. Aprovado nas duas etapas, o profissional terá o direito de ser intitulado Especialista em Fisioterapia Dermatofuncional. Agora que você já conhece os aspectos históricos e regulamentares da especialidade, vamos conhecer o seu objeto de estudo. • • • Introdução sobre o sistema tegumentar O objeto de estudo da Fisioterapia Dermatofuncional é a pele e tudo o que estiver atrelado a esse tecido. Portanto, não há como conhecermos a especialidade sem ao menos fazer um breve resumo sobre o sistema tegumentar. O sistema tegumentar consiste na pele e em seus anexos, que são as unhas, os pelos e as glândulas sudoríparas e sebáceas, e no tecido subcutâneo, que está localizado imediatamente abaixo da pele. Pele A pele é o maior órgão do corpo humano, sendo também sensorial e responsável pelo revestimento externo, possuindo duas grandes funções: de proteção e receptáculo do corpo. Segundo Moore & Dalley, a pele é considerada “um dos melhores indicadores da saúde geral” e, por meio dela, com uma observação cautelosa ao exame físico, é possível estabelecer diagnósticos clínicos diferenciais em diversos distúrbios e na maioria das doenças. Vitiligo: exemplo de afecções do sistema tegumentar. A pele apresenta diversas funções importantíssimas para a manutenção da saúde e da vida, sendo responsável pela: Proteção corporal mediante diversas ameaças do meio no qual vivemos, como escoriações, contato com substâncias prejudiciais, perda de líquido, microrganismos invasores e radiação ultravioleta (UV). Termorregulação corporal, ou seja, regulação do calor pela dilatação ou constrição dos capilares sanguíneos ou por intermédio da evaporação do suor. Contenção das diversas estruturas corporais (funcionando como um grande revestimento externo) e de substâncias vitais, prevenindo a desidratação. Síntese de vitamina D, por intermédio do contato da radiação solar com a pele. Sensibilidade por intermédio das terminações sensoriais dos nervos superficiais. A pele é dividida em 3 camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme. Vamos entender cada uma delas? • • • • • As três camadas da pele. Epiderme A epiderme é a camada mais superficial da pele. Não possui capilares sanguíneos e linfáticos, sendo nutrida pela derme, subjacente a epiderme. É caracterizada por ser um epitélio queratinizado dividida em 5 camadas: Camada basal É a camada mais interna, a base da epiderme, na qual são formados os tipos de células mais comuns da pele, os queratinócitos. Camada espinhosa É a camada localizada logo acima da camada basal. Nela, há um aglomerado de queratinócitos dispostos em fileiras, os quais são responsáveis por produzirem queratina. Camada granulosa Composta por células achatadas responsáveis pela queratinização. Camada lúcida Camada mais espessa, isto é, aquela presente na palma das mãos e na planta dos pés. É composta por filamentos de queratina e células bem achatadas sem organelas e núcleos. Quando presente, está localizada entre as camadas córnea e granulosa. Camada córnea Camada mais externa de células sem núcleos e organelas, mortas, achatadas, resistente, responsável por promover proteção sobre a camada basal. As células dessa camada são removidas através da descamação natural da pele. As quatro camadas da epiderme. A imagem não mostra a camada lúcida, pois essa apresenta-se apenas nas palmas das mãos e na planta dos pés. A epiderme possui quatro tipos de células com funções diferentes: queratinócitos, melanócitos, células de Langerhans e células de Merkel. 1 Queratinócitos São as células mais comuns e numerosas da epiderme, formadas na camada basal. 2 Melanócitos São as células responsáveis pela síntese do pigmento melanina, dando à pele a sua cor. A função primordial da melanina é proteger o DNA contra as ações nocivas da radiação ultravioleta (UV). 3 Células de Langerhans Mais frequentes na camada espinhosa, são células dendríticas responsáveis pela defesa imunológica da pele. Captam e processam antígenos cutâneos e os apresentam aos linfócitos T (células de defesa do organismo). 4 Células de Merkel Localizadas na camada basal, são responsáveis pela sensibilidade tátil e denominadas de mecanorreceptores. Estão mais concentradas nas palmas das mãos e na planta dos pés. A estrutura e as células da epiderme. Derme A derme é o tecido conjuntivo que está subjacente à epiderme, apoiando-a. Caracteriza-se por ser uma camada densa de fibras elásticas (elastina), colágenas e ácido hialurônico, responsáveis diretamente pelos tônus cutâneos, os quais contribuem para a firmeza e a resistência da pele. Na derme, estão localizados os fibroblastos, que são as células responsáveis pela síntese das fibras da matriz extracelular (tecido conjuntivo), como o colágeno, a elastina e as glicoproteínas e proteoglicanas. Age também na manutenção da sua integridade, atuando diretamente na cicatrização. Ilustração simplificada da estrutura da derme. É constituída por duas camadas: Camada papilar É a camada mais superficial, que se caracteriza por ser feita de tecido conjuntivo frouxo, localizado na parte superior da derme em contato direto com a camada basal da epiderme. Camada reticular É a camada mais profunda, que se caracteriza por ser constituída por tecido conjuntivo denso, mais espesso, localizado na parte mais profunda da derme. Na derme, são encontrados também os capilares sanguíneos, capilares linfáticos, nervos, glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas e os folículos pilosos. As camadas da derme. Hipoderme A hipoderme (tecido subcutâneo) é constituída por tecido conjuntivo frouxo, sendo responsável pelo contato e pelo deslizamento da pele sobre as demais estruturas das quais obtém apoio. É na hipoderme que se encontra o tecido adiposo, também conhecido como panículo adiposo, e seu tamanho e densidade variam de acordo com a localização e a nutrição do organismo. O tecido adiposo tem como função a reserva de energia, além de modelar o corpo e ser um verdadeiro isolante térmico, protegendo-o contrao frio. Além das células de gordura, denominadas adipócitos, na hipoderme também se encontram vasos sanguíneos, vasos linfáticos, nervos e fibras especiais de colágenos, responsáveis por manter os adipócitos juntos. Tecido adiposo. Receptores sensoriais Além das células de Merkel, que são responsáveis pela sensibilidade tátil, localizadas na camada basal da epiderme, existem os receptores sensoriais que estão localizados tanto na derme quanto na hipoderme. Esses receptores sensoriais são: Os corpúsculos de Ruffini Mecanorreceptor de adaptação lenta localizado profundamente à derme, com resposta ao estímulo de maneira contínua, detecção de calor. Valter-Pacini Mecanorreceptor de adaptação rápida também localizado profundamente na derme e sensível a estímulos vibratórios. Meissner Mecanorreceptor de adaptação rápida, localizado entre a epiderme e a derme, sensível ao tato e aos estímulos vibratórios. Krause Termorreceptor específico para detecção do frio. Os receptores sensoriais da pele. Os anexos da pele Vamos agora conhecer com mais detalhes os anexos da pele, ou seja, as unhas, os pelos e as glândulas sudoríparas e sebáceas. Unhas As unhas são placas de células duras queratinizadas dispostas na superfície dorsal das extremidades dos dedos. Na parte proximal da unha, denominada de raiz da unha, ocorre a sua formação. Anatomia da unha. Pelos Os pelos são estruturas queratinizadas e delgadas, desenvolvidas a partir do folículo piloso, ou seja, uma invaginação da epiderme. O pelo possui o bulbo piloso (dilatação terminal responsável pelo crescimento), a cutícula (formada por células queratinizadas que envolvem o córtex como escamas), o córtex (responsável pela cor do cabelo) e a medula (parte central do pelo). Desenho de um folículo piloso. Glândulas sudoríparas As glândulas sudoríparas são divididas em: Merócrinas Possuem uma característica tubulosa simples, com a abertura dos seus ductos na superfície da pele. Essas glândulas são dispostas em toda a extensão da pele, com exceção da glande. O suor secretado por essas glândulas é bem diluído e se evapora ao atingir a superfície da pele, com o objetivo de baixar a temperatura corporal. Apócrinas São caracterizadas por serem glândulas de maior tamanho, localizadas nas regiões das axilas, pubiana e perianal, possuindo sua cavidade secretora mais dilatada. Diferentemente das glândulas sudoríparas merócrinas, seus ductos desembocam no folículo piloso, e sua secreção é um pouco mais viscosa e sem cheiro. As glândulas sudoríparas merócrinas e apócrinas. Glândulas sebáceas As glândulas sebáceas originam-se na derme, desembocando seus ductos – em sua maioria – nos folículos pilosos, com exceção dos lábios, glande, mamilos e pequenos lábios da vagina, nos quais os ductos se abrem na superfície da pele. Estão dispostas em todo o corpo, com exceção da palma das mãos e planta dos pés. O produto da sua secreção é um mix complexo de lipídeos contendo ácidos graxos livres, triglicerídeos e colesterol. Glândula sebácea. Recursos e técnicas da Fisioterapia Dermatofuncional O fisioterapeuta dermatofuncional utiliza diversos recursos terapêuticos, como os manuais, eletrotermofototerápicos e mecânicos. No âmbito estético, a cada ano surgem inovações tecnológicas para a garantia de melhores resultados nas diversas disfunções inestéticas. Alguns dos recursos eletrotermofototerapêuticos mais utilizados na especialidade são: Laser Existem vários tipos de laser e cada um deles é empregado em um tratamento específico. O laser é utilizado tanto para fins depilatórios quanto para alguns tratamentos, por exemplo, contra discromias, telangiectasias (dilatação de até 2 milímetros dos pequenos vasos sanguíneos na superfície da pele), rugas, cicatrizes atróficas (cicatrizes com perda tecidual, dando aspecto deprimido com relação à pele circundante) de acne, dentre outros. Radiofrequência Recurso muito utilizado para o tratamento de flacidez, fibroedema geloide e gordura localizada. O equipamento emite ondas eletromagnéticas que passam pela pele, promovendo o seu aquecimento. Dependendo da sua potência e frequência (em Hertz), pode atuar na derme (estimulando a síntese de colágeno) ou na hipoderme (estimulando a síntese de colágeno e a lipólise – quebra das células de gordura). O aquecimento deve ser controlado pelo fisioterapeuta através de um termômetro digital de infravermelho, mantendo a temperatura da superfície entre 40ºC a 42ºC por pelo menos 2 minutos. Nessa faixa de temperatura, haverá uma promoção da desnaturação do colágeno existente na derme, estimulando os fibroblastos a produzirem novas fibras de colágeno. O efeito térmico também estimula a vasodilatação tecidual, melhorando o aporte sanguíneo na pele, bem como sua nutrição, oxigenação e aumento da circulação periférica, favorecendo também a redução do fibroedema geloide. Ultrassom Recurso amplamente utilizado pelos fisioterapeutas para tratar disfunções musculares, ligamentares e articulares atuando na redução da dor, inflamação e regeneração tecidual, sendo indicado até em cicatrizações de difícil resolução, como as úlceras de pressão. O equipamento emite energia ultrassônica (onda acústica inaudível) nos tecidos biológicos, gerando efeitos térmicos e não térmicos (mecânicos) através de frequências que giram em torno de 1 MHz, 3MHz e 5MHz. Equipamentos com frequência de 1MHz são destinados ao tratamento de tecidos mais profundos, como os musculares e ósseos. Já as frequências mais altas, entre 3MHz e 5 MHz, atuam na hipoderme e na derme. Atualmente, existem diversos equipamentos que utilizam as ondas ultrassônicas para fins estéticos, com frequências que variam de 3MHz a 40KHz, para a redução da adiposidade localizada e fibroedema geloide, como os aparelhos de cavitação, ultracavitação, ultrassom microfocado (destinado principalmente ao tratamento da flacidez de pele), equipamentos de terapia combinada que utilizam o ultrassom, fototerapia com LED (Light Emitting Diode), e correntes terapêuticas. Correntes terapêuticas Recurso que utiliza correntes elétricas para diversos fins terapêuticos, como analgesia, aumento da permeabilidade vascular, estímulo à contração muscular, regeneração e cicatrização da pele, estímulo à drenagem linfática, vasodilatação, estímulo à síntese de fibras elásticas, dentre outros. As correntes terapêuticas mais utilizadas na área de dermatofuncional são: Alta frequência (bactericida, antisséptico, cauterizador e anti-inflamatório, utilizado também no reparo tecidual), TENS (para analgesia), Russa (para o fortalecimento muscular), Aussie ou Australiana (fortalecimento muscular e estímulo à drenagem linfática), galvânica (para a permeação de ativos e vasodilatação) e microcorrentes (para cicatrização de feridas, síntese de fibras elásticas e com ação anti- inflamatória e bactericida). Ainda existem diversos outros recursos eletrotermofototerapêuticos para serem utilizados em tratamentos, tais como: • A criofrequência para redução da adiposidade localizada e flacidez tissular. • A criolipólise para eliminação das células de gordura através do seu resfriamento profundo. • A endermoterapia, ou vacuoterapia, para o tratamento do fibroedema geloide e contorno corporal. • A terapia vibro-oscilatória, feita por meio de aparelho de vibração localizada que ativa a circulação local, no relaxamento muscular e no alívio da dor. • A laserterapia para gordura localizada, que estimula a lipólise. • O LED, que possui diversas cores com fins terapêuticos diferentes. Por exemplo, o LED vermelho é amplamente utilizado para cicatrização de feridas, pois tem efeito anti-inflamatório e estimula a síntese de colágeno. • As ondas de choque, que são ondas acústicas de alta intensidade para estimulação mecânica no tecido subcutâneo, atuando no tratamento do fibroedema geloide, da flacidez e da gordura localizada, além de ter efeito analgésico. • A carboxiterapia, uma injeção de CO2 subcutâneo que tem como finalidade aumento da lipólise, vasodilatação, síntesede colágeno e reparo tecidual. Sobre os recursos manuais, o fisioterapeuta dermatofuncional utiliza as seguintes técnicas: terapia manual (tanto para as diversas condições neuromusculoesqueléticas quanto para a condução do pós-operatório imediato de cirurgias plásticas estéticas, prevenindo ou tratando a formação de fibroses – excesso de tecido cicatricial no tecido subcutâneo – aderências e retrações cicatriciais); drenagem linfática manual (para a redução do edema e estímulo à circulação periférica); massagem modeladora (para o estímulo da circulação periférica e melhora do contorno corporal); massagem relaxante, além dos tradicionais recursos da fisioterapia, como a mecanoterapia (exercícios ativo-resistidos com uso de equipamentos como faixas elásticas, halteres etc) e cinesioterapia motora e respiratória, utilizadas nas diversas áreas da Fisioterapia Dermatofuncional. A pele e seus anexos Confira um resumo do sistema tegumentar, abordando a pele e seus anexos, bem como a importância desse conhecimento para o dia a dia da Fisioterapia Dermatofuncional. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Diferença entre especialização acadêmica x Título de especialidade Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. A pele e as suas funções Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Recursos terapêuticos utilizados na Fisioterapia Dermatofuncional Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 A especialidade de Fisioterapia Dermatofuncional é relativamente nova. O seu surgimento foi no início da década de 90, sendo primeiramente denominada de Fisioterapia aplicada à estética. Anos depois, a Comissão de Estudos em Fisioterapia Estética, órgão que oferecia apoio e suporte à área e aos seus profissionais atuantes, sugeriu a substituição do termo “estética” para dermatofuncional. Sobre essa informação, assinale a alternativa que contempla a justificativa correta para a alteração do nome da especialidade. A A partir do aumento do quantitativo de profissionais interessados na área, a Comissão de Estudos em Fisioterapia Estética sugeriu a alteração do nome devido à concorrência com os profissionais esteticistas, com o intuito de diferenciar e valorizar a especialidade. B O crescimento da área chamou a atenção da Comissão de Estudos em Fisioterapia Estética, pois aumentava o interesse profissional, e não científico, no qual os atendimentos se resumiam apenas no âmbito estético, obrigando a comissão estabelecer a mudança de foco do atendimento a partir da alteração do nome. C Conforme o desinteresse dos fisioterapeutas aumentava pela área, ou seja, muitos fisioterapeutas criticavam outros colegas em seguir a “área estética”, a Comissão se reuniu em busca de uma estratégia para atrair os profissionais a seguirem a especialidade, mudando o nome da área para Fisioterapia Dermatofuncional, com o intuito de descaracterizar o objetivo estético. D Conforme o crescimento da área se tornava mais latente, bem como o seu aumento científico e campo de atuação, os atendimentos não se resumiam apenas no âmbito estético, mas também nas diversas sequelas decorrentes de cirurgias e disfunções tissulares, então foi observado que o foco do atendimento era a função, não sendo exclusivo à beleza. E Devido ao crescimento da área, tanto científico quanto no campo de atuação, foi observado que os profissionais fisioterapeutas estavam cada vez mais aprofundando seus conhecimentos no âmbito da beleza, porém os profissionais esteticistas reivindicaram o nome “estética”, tirando o direito dos fisioterapeutas de se especializarem na área, levando a Comissão de Estudos em Fisioterapia Estética a tomar uma providência imediata para a alteração do nome. A alternativa D está correta. A Fisioterapia estética crescia cientificamente também no campo de atuação, onde os atendimentos não eram exclusivos a pacientes com queixas estéticas, mas também para aqueles com disfunções tegumentares oriundas de dermatoses, queimaduras e sequelas de diversas cirurgias tanto estéticas quanto reparadoras. A partir desse fato, foi observado que o foco no tratamento estava na recuperação da função, e não exclusivo à beleza. Então, a Comissão de Estudos em Fisioterapia Estética sugeriu a substituição do termo "estética" para "dermatofuncional", estando de acordo com os requisitos de outras especialidades reconhecidas oficialmente pelo COFFITO e mais adequado à realidade terapêutica da área. Questão 2 A pele é o maior órgão do corpo humano, sendo considerada um dos melhores indicadores de saúde de um modo geral. Ela é responsável por diversas funções importantes para a saúde. Assinale a alternativa que aborda corretamente uma das funções da pele. A Síntese de vitaminas A e D. B Contenção do sangue. C Termorregulação corporal. D Resfriamento corporal. E Síntese de vitamina C. A alternativa C está correta. A termorregulação corporal, isto é, a regulação do calor a partir da evaporação do suor e da vasodilatação/ constrição, é uma das diversas funções da pele. A pele também é responsável pela síntese de vitamina D, pela proteção contra diversos agentes físicos, químicos, microrganismos invasores, desidratação, raios UV, contenção das estruturas corporais e sensibilidade. Portanto, as demais alternativas não correspondem às funções da pele. 2. Áreas de atuação da Fisioterapia Dermatofuncional Áreas de atuação da especialidade Em nossa sociedade, a Fisioterapia Dermatofuncional é estigmatizada por ser uma área meramente estética. Contudo, conforme estudamos no módulo anterior, existem diversas possibilidades de atuações para o profissional dessa área, como nas disfunções tissulares oriundas de distúrbios metabólicos, circulatórios, linfáticos, endócrinos, neurológicos e osteomioarticulares. O fisioterapeuta dessa área age de forma corretiva e preventiva tanto no âmbito estético quanto na recuperação funcional e no reparo tecidual em diversas afecções de pele (queimaduras, úlceras, dermatoses, hanseníase, psoríase, dentre outras). Além disso, também previne e trata as intercorrências de diversas intervenções cirúrgicas para a redução do tempo de recuperação pós-operatória, sempre com o intuito de promover a melhora da qualidade de vida e da autoestima em seus pacientes. Apesar de ser uma especialização única, observamos nichos diferentes de atuação que necessitam de aprofundamento científico para, enfim, atuarmos. Conforme já aprendemos, em meio às diversas possibilidades, a especialidade foi estratificada em oito áreas de atuação, a saber: queimados; hanseníase; endocrinologia; pré e pós-operatório de cirurgia plástica; pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica; angiologia e linfologia; dermatologia; estética e cosmetologia. O fisioterapeuta dermatofuncional que segue o ramo estético atua com procedimentos não invasivos ou minimamente invasivos para a melhora de várias disfunções estéticas. Vamos conhecer um pouco sobre cada área de atuação e suas possibilidades de atendimento. Estética e cosmetologia • • • • • • • • Fisioterapeuta dermatofuncional aplicando laser de CO 2 fracionado em estrias. O ramo estético vem crescendo exponencialmente nos últimos anos. A preocupação com a aparência repercute na busca por cosméticos e procedimentos estéticos. Segundo a Forbes, o Brasil se destaca por ser o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo, estando apenas atrás dos EUA, da China e do Japão (WEBER, 2020). No ano de 2021, mesmo em plena pandemia, o número de procedimentos estéticos aumentou cerca de 140% entre jovens brasileiros (LOURENÇO, 2021). O notório crescimento vem engajando fisioterapeutas a se especializarem na área dermatofuncional e a seguirem a área de atuação em estética e cosmetologia. O profissional desse ramode atuação tem total autonomia para avaliar e estabelecer um plano de tratamento para flacidez, estrias, gordura localizada, fibroedema geloide (popularmente conhecida como “celulite”) e rugas. O fisioterapeuta dermatofuncional possui um olhar clínico para as diversas disfunções inestéticas. Durante a sua avaliação fisioterapêutica, é importante discernir a origem da queixa do paciente. Para isso, basta perguntar sobre os hábitos de vida (alimentação, prática de exercícios físicos, sedentarismo, tabagismo etc.), histórico de sobrepeso e emagrecimento, consumo de corticoides, histórico de patologias pregressas, dentre outras questões. Essas perguntas são importantes uma vez que cada fator pode estar relacionado ao surgimento de alguma disfunção inestética que originou a queixa do paciente. Por exemplo: maus hábitos alimentares, como o consumo de alimentos ricos em açúcar, carboidratos, frituras e industrializados, além da baixa ingestão de água, promove diversas alterações metabólicas. Essas alterações repercutem diretamente no contorno corporal (aumento do peso, aumento de infiltrado inflamatório, glicação dérmica) e contribuem potencialmente para o acúmulo de gordura localizada e o surgimento de estrias e lipodistrofia ginoide. Consulta fisioterapêutica. Outro exemplo é a flacidez tissular (de pele), bem como as rugas e as estrias, que estão relacionadas ao emagrecimento repentino (como em casos de cirurgias bariátricas ou dietas muito restritivas), ao “efeito sanfona” (aumento e perda de peso em vários momentos durante um período), ao envelhecimento ou fotoenvelhecimento (provocado pelo excesso de exposição solar) e ao excesso de açúcar na alimentação durante anos. A glicose em contato com as fibras de colágeno provoca um fenômeno chamado de glicação dérmica, processo no qual as moléculas de glicose se unem às fibras de colágeno e elastina, promovendo o enrijecimento dessas fibras e, como consequência, a sua quebra. O colágeno e a elastina são responsáveis pela firmeza e, consequentemente, pela jovialidade da pele. Sobre a flacidez, o fisioterapeuta saberá se é tissular, muscular ou de ambos a partir de uma avaliação precisa. Dermatologia A atuação do fisioterapeuta dermatofuncional na Dermatologia está atrelada ao tratamento das diversas disfunções cutâneas, como em dermatoses, psoríase, cicatrizes (atróficas, queloideanas, hipertróficas e deiscências), acnes e discromias (alterações na pigmentação da pele). Muitos médicos dermatologistas estreitam parceria com o fisioterapeuta atuante nessa área a fim de proporcionar ao paciente um atendimento interdisciplinar e de qualidade, lançando mão de diversos recursos terapêuticos manuais e eletrotermofototerápicos para o tratamento e prevenção dessas disfunções. Fisioterapeuta utilizando um dermatoscópio para avaliar a pele de uma paciente. Endocrinologia O fisioterapeuta dermatofuncional atuante na área de Endocrinologia trata as disfunções adquiridas da obesidade e de outros distúrbios endócrinos e metabólicos, por exemplo diabetes e síndrome metabólica. O objetivo terapêutico gira em torno do fortalecimento muscular dos membros superiores, inferiores, tronco e abdômen, pois o paciente obeso apresenta redução da massa muscular gerando fadiga e dores, além da reeducação postural, promovendo o realinhamento da postura. Objetiva ainda o fortalecimento da musculatura pélvica, tratando e prevenindo problemas relacionados ao seu enfraquecimento, tais como incontinência urinária e disfunções sexuais; e os recursos da terapia manual e mobilização neural para o alívio das dores provocadas pela obesidade e diabetes (neuropatias periféricas), bem como a utilização de recursos da fisioterapia e das orientações que visam ao aumento da circulação sanguínea nos membros inferiores e à prevenção de lesões, especialmente nos pés de pacientes diabéticos, evitando o surgimento de úlceras. Terapia manual realizada no pé de um paciente diabético. Embora não seja o foco da área, o tratamento ou a prevenção das disfunções tissulares inestéticas (estrias, flacidez, gordura localizada) também podem ser realizados, visto que são consequências dos diversos distúrbios endócrinos. Por fim, existem ainda as orientações gerais no tocante às atividades de vida diárias, como alongamentos e exercícios terapêuticos, sempre com o objetivo de proporcionar a melhora da qualidade de vida dos pacientes. Hanseníase A hanseníase, também conhecida como lepra ou mal de Lázaro, é uma doença infecciosa, contagiosa, que afeta os nervos e a pele e é causada por um bacilo chamado Mycobacterium lepra. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007, n.p) O paciente apresenta vários sintomas dermatológicos e neurológicos (nervos periféricos), tais como manchas, placas, caroços, alteração da secreção de suor, alteração e/ou perda da sensibilidade à dor, ao frio, calor e tato, formigamentos, dormência e fisgadas nas regiões de extremidade do corpo, contraturas, deformidades e perda da força muscular. Apesar de o tratamento contra a hanseníase ser de fácil acesso nas unidades públicas de saúde, o seu prognóstico dependerá do quão precoce ocorrer o seu diagnóstico, ou seja, quanto mais cedo for diagnosticado, mais rápida será a cura da doença e, consequentemente, menos sequelas possíveis. Em casos de demora para o início do tratamento, as sequelas estarão mais evidentes e difíceis de tratar. Paciente em estágio avançado de hanseníase. O fisioterapeuta dermatofuncional que atua na área de hanseníase tem como objetivo prevenir as consequências possíveis de serem adquiridas a partir do diagnóstico precoce, como na prevenção de deformidades e contraturas, na recuperação da força, ou mesmo atuar no tratamento das sequelas tardias, como na redução da dor, nas úlceras, na melhora da sensibilidade e da propriocepção. Pré e pós-operatório de cirurgias plásticas A atuação do fisioterapeuta dermatofuncional nas cirurgias plásticas estéticas e reparadoras é fundamental tanto para as orientações no pré-operatório (orientações e exercícios respiratórios para reduzir o desconforto respiratório no pós-operatório imediato) quanto no pós-operatório, visando a uma recuperação mais segura e rápida do indivíduo, a partir do emprego de técnicas como a terapia manual (para a prevenção e tratamento de fibroses, aderências e retrações cicatriciais), drenagem linfática manual (para o controle do edema), kinesio taping (para o controle do edema e otimização da cicatrização) e a eletroterapia (microcorrentes, LED, laser, alta frequência, ultrassom, utilizados de acordo com a necessidade do paciente). Foto de um pós-operatório imediato de abdominoplastia. O profissional deverá conhecer com detalhes o reparo tecidual para entender tanto o processo de cicatrização normal das diversas deficiências e distúrbios cicatriciais, para então elencar as técnicas adequadas para cada caso. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica reconheceu a Fisioterapia Dermatofuncional em 2015, recomendando a toda classe de cirurgiões plásticos o profissional dessa especialidade para a condução do pós-operatório de cirurgias plásticas estéticas e reparadoras. Pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica O quadro de obesidade pode proporcionar inúmeras complicações durante e após a cirurgia. São algumas complicações, por exemplo: alterações respiratórias (quanto maior o índice de massa corporal – IMC – maior serão as alterações somadas à cirurgia, pois o paciente será submetido à intubação, anestesia geral e a medicamentos, alterando a capacidade respiratória), trombose venosa profunda, embolias, alterações posturais, perda da força e resistência muscular, fadiga, disfunções tegumentares e incontinência urinária. O especialista atuante nessa área visa proporcionar a redução do tempo de internação hospitalar e melhora da qualidade de vida do paciente obeso que passará por uma cirurgia bariátrica. No pré-operatório, o fisioterapeuta inicia um trabalho de fortalecimento geral do paciente, focando nos seguintes pontos: Na musculatura respiratóriaatravés da cinesioterapia respiratória para a prevenção e o controle das disfunções respiratórias no pós-operatório imediato. No fortalecimento muscular geral (membros superiores, inferiores, tronco e abdômen), pois o paciente obeso apresenta redução da massa muscular gerando dores e fadiga. Na reeducação postural, a fim de promover o realinhamento postural. No fortalecimento da musculatura pélvica, para o tratamento e a prevenção da incontinência urinária e disfunções sexuais. Nas orientações sobre todo o processo que passará no pós-operatório, tanto imediato quanto tardio. No pós-operatório imediato, a atuação do fisioterapeuta visa ao controle e à redução das complicações respiratórias, tais como atelectasias, infecções respiratórias, disfunção da mecânica respiratória devido ao enfraquecimento dos músculos respiratórios e agudização da asma e da bronquite; e na prevenção de tromboses e embolias através do uso de meias elásticas e exercícios; além da continuidade dos tratamentos iniciados no pré-operatório. • • • • • Fisioterapeuta realizando avaliação postural em um paciente obeso. Atuação fisioterapêutica no pós-operatório de cirurgia bariátrica. Conforme o paciente evolui no seu pós-operatório, o fisioterapeuta o prepara para o retorno das suas atividades de vida diárias, bem como para o início de atividades físicas e esportivas, além de tratar as disfunções tissulares inestéticas que foram oriundas do excesso de peso, como estrias, gordura localizada, flacidez e fibroedema geloide. Angiologia e linfologia O fisioterapeuta dermatofuncional atuante em angiologia e linfologia orienta, previne e/ou trata as intercorrências advindas das cirurgias vasculares (edema, fibrose, equimoses, hematomas, dores e retrações cicatriciais) e das diversas doenças e disfunções do sistema linfático (como o linfedema, por exemplo). No caso das cirurgias vasculares, a atuação fisioterapêutica inicia-se no pré-operatório, no intra-operatório (no centro cirúrgico) e no pós-operatório. 1 Pré-operatório O fisioterapeuta pode realizar a drenagem linfática manual para a melhora e o estímulo da circulação linfática, além de orientações dos cuidados no pós-operatório imediato (orientações sobre o uso da malha compressiva, por exemplo). 2Intra-operatório O fisioterapeuta atua imediatamente após a cirurgia vascular com a aplicação de bandagens elásticas, com o intuito de controlar o edema e o surgimento de equimoses e hematomas, que são comuns após a cirurgia, favorecendo diretamente na redução do tempo de recuperação. 3 Pós-operatório imediato O fisioterapeuta lança mão de recursos manuais como a terapia manual e a drenagem linfática manual, juntamente com a cinesioterapia motora passiva e ativa assistida para a recuperação funcional rápida e eficaz dos membros inferiores. Manobras de drenagem linfática manual em membros inferiores com linfedema. Queimados Segundo o Ministério da Saúde (2009), “queimadura é toda lesão provocada pelo contato direto com alguma fonte de calor ou frio, produtos químicos, corrente elétrica, radiação, ou mesmo alguns animais e plantas (como larvas, água-viva, urtiga), entre outros. Se a queimadura atingir 10% do corpo de uma criança ela corre sério risco. Já em adultos, o risco existe se a área atingida for superior a 15%”. Os tipos de queimaduras são térmicas, químicas e elétricas, as quais podem ser classificadas em 3 graus: 1º grau São queimaduras superficiais, atingindo a epiderme. Provocam edema, rubor e dor local. A principal característica é que esse tipo de queimadura não provoca bolhas. 2º grau São queimaduras que atingem a derme, provocando o seu desprendimento, bolhas, edema, dor e destruição de terminações nervosas e dos anexos da pele. 3º grau São queimaduras que atingem todas as camadas tissulares e músculos, podendo atingir os ossos. Nesse tipo de queimadura, há a destruição de grande parte ou de todas as terminações nervosas locais. Dependendo da gravidade, as queimaduras podem comprometer a qualidade de vida, provocando deficiências, deformidades e até a sobrevida do indivíduo. A atuação do fisioterapeuta dermatofuncional na área de queimados vai desde a internação do paciente até o atendimento ambulatorial, objetivando a recuperação funcional dos tecidos lesados utilizando malhas compressivas, laser, LED, prevenindo deformidades, fraturas articulares e complicações cardiovasculares e respiratórias. O fisioterapeuta preocupa-se com o posicionamento do paciente no leito através da utilização de órteses, devolvendo-lhe a funcionalidade, independência nas suas atividades de vida diárias e favorecendo a sua qualidade de vida. O especialista atua também no atendimento pré e pós-operatório das cirurgias reparadoras pós-queimaduras, orientando o paciente e os familiares quanto às adaptações nas atividades de vida diárias e realizando a recuperação funcional das estruturas acometidas. As áreas de atuação da Fisioterapia Dermatofuncional Confira agora as sete áreas de atuação da Fisioterapia Dermatofuncional. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Fisioterapia Dermatofuncional em estética e cosmetologia Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Fisioterapia Dermatofuncional no pré e pós-operatório de cirurgia plástica Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Fisioterapia Dermatofuncional no pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 A paciente F. A. S., ao longo dos anos, teve seu índice de massa corporal (IMC) aumentado, gerando obesidade. Sua qualidade de vida foi impactada consideravelmente, apresentando dores na coluna e nos joelhos devido ao sobrepeso, às doenças cardiovasculares e a diabetes. Em busca de melhorar a sua saúde, F. A. S. foi encaminhada ao cirurgião bariátrico para a realização de uma cirurgia bariátrica. Sua cirurgia foi um sucesso! Após grande perda de peso, ela apresentou muita flacidez tissular gerando excesso de pele, sendo encaminhada para uma cirurgia reparadora pós-bariátrica. Ao realizar a cirurgia reparadora, o cirurgião encaminhou F. A. S. para a Fisioterapia. Qual a área de atuação da Fisioterapia Dermatofuncional seria mais indicada para cuidar do pós-operatório da paciente? A Pré e pós-operatório de cirurgias bariátricas. B Estética e cosmetologia. C Dermatologia. D Pré e pós-operatório de cirurgias plásticas. E Angiologia e linfologia. A alternativa D está correta. O caso do enunciado se trata da reabilitação pós-operatória de cirurgia plástica reparadora pós-bariátrica, e a área de atuação recomendada da Fisioterapia Dermatofuncional é a de pré e pós-operatório de cirurgias plásticas, a qual abrange tanto as cirurgias plásticas estéticas quanto as reparadoras. As demais alternativas estão incorretas, pois se referem a outras áreas de atuação, com finalidades diferentes. Questão 2 A paciente P. S. J. está insatisfeita com algumas áreas do seu corpo. Apresenta uma flacidez nos glúteos e gordura localizada no abdômen, afetando diretamente a sua autoestima. Ao procurar um consultório de Fisioterapia Dermatofuncional, o profissional fisioterapeuta detectou que a sua flacidez era de origem muscular, e o acúmulo de gordura localizada no abdômen é de origem alimentar, devido ao seu estilo de vida: sedentarismo e dieta hipercalórica. Qual a área de atuação desse fisioterapeuta dermatofuncional? A Dermatologia. B Angiologia e linfologia. C Estética e cosmetologia. D Endocrinologia. E Queimados. A alternativa C está correta. A área da Fisioterapia Dermatofuncional que tem um olhar clínico e objetivo para avaliar e estabelecer um tratamento adequado para disfunções inestéticas como flacidez, estrias, gordura localizada, fibroedema geloide e rugas é a Estética e Cosmetologia.As demais áreas mencionadas apresentam outros objetivos terapêuticos. 3. Conclusão Considerações finais Não restam dúvidas de que a Fisioterapia Dermatofuncional é uma especialidade com ampla área de atuação, porém pouco explorada por alguns profissionais devido ao estigma estético que vem carregando desde a sua origem. Estudamos aqui brevemente o sistema tegumentar, o principal objeto de estudo da especialidade e os recursos terapêuticos mais utilizados na área. Vimos também que a Fisioterapia Dermatofuncional vai muito além do campo estético, atuando em oito áreas com diversas possibilidades de atendimento, estando ou não atreladas com a parceria de outros profissionais, como os médicos. Em suma, há muito o que explorar nessa área tão diversificada, e isso depende diretamente de os próprios profissionais estarem engajados na busca por conhecimento teórico, prático e científico, através de linhas de pesquisas que abranjam os diversos distúrbios metabólicos, endócrinos, inestéticos, vasculares, dermatológicos, dentre outros, nos diversos programas de pós-graduação lato sensu e stricto sensu. Independentemente da área de atuação, o fisioterapeuta dermatofuncional necessita se manter atualizado em meio às diversas possibilidades de atuação e inovações tecnológicas. Podcast Ouça agora um panorama geral da especialidade, abordando como foi o seu início, regulamentação e suas diversas possibilidades de atuação diante das oito áreas atuantes. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ouvir o áudio. Explore + Confira agora as indicações que separamos especialmente para você! Conheça as Resoluções que reconhecem a Fisioterapia Dermatofuncional como especialidade fisioterapêutica, acessando o site do COFFITO e buscando a Resolução nº 362 de 20 de maio de 2009 e a Resolução nº 394/2011. Conheça mais sobre a especialidade e a associação civil que representa os fisioterapeutas que atuam na área acessando o site da Associação Brasileira de Fisioterapia Dermatofuncional – ABRAFIDEF. Conheça as Resoluções COFFITO nº 377 e 378 para a concessão do título de especialista. Você encontra no próprio site do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO. Leia sobre a recomendação que a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica fez à classe de cirurgiões plásticos em 2015, recomendando o profissional de Fisioterapia Dermatofuncional para a condução do pós-operatório de cirurgias plásticas estéticas e reparadoras através do documento intitulado “Nota à comunidade médica sobre pós-operatório de cirurgias plásticas”. Referências BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Lato-Sensu - Saiba Mais. Brasília, 2021. CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. COFFITO. Resolução nº 394, de 03 de agosto de 2011. Brasília, 2011. GUIRRO, E. C. O.; GUIRRO, R. R. J. Fisioterapia em Estética: fundamentos, recursos e patologias. 1. ed. São Paulo: Manole, 1992. HANSENÍASE. Biblioteca Virtual em Saúde. Ministério da Saúde, Brasília, dez. 2007. Consultado na internet em: 20 jan. 2022. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. LOURENÇO T. Cresce em mais de 140% o número de procedimentos estéticos em jovens. Jornal da USP, São Paulo, 11 jan. 2021. MOORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomia orientada para a clínica. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. PIRES DE CAMPOS, M. S. M. Fibroedema geloide subcutâneo. Revista de Ciência & Tecnologia, v. 1, n. 1, pp. 77-82, 1992. QUEIMADURAS. Biblioteca Virtual em Saúde. Ministério da Saúde, Brasília, jun. 2019. Consultado na Internet em: 20 jan. 2022. WEBER M. Brasil é o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo. Forbes, 4. jun. 2020. Introdução à Fisioterapia Dermatofuncional 1. Itens iniciais Propósito Objetivos Introdução 1. Conceitos gerais sobre a especialidade Breve histórico Saiba mais O reconhecimento da especialidade Conceitos gerais Especialização acadêmica x Título de especialidade Introdução sobre o sistema tegumentar Pele Epiderme Camada basal Camada espinhosa Camada granulosa Camada lúcida Camada córnea Queratinócitos Melanócitos Células de Langerhans Células de Merkel Derme Camada papilar Camada reticular Hipoderme Receptores sensoriais Os corpúsculos de Ruffini Valter-Pacini Meissner Krause Os anexos da pele Unhas Pelos Glândulas sudoríparas Merócrinas Apócrinas Glândulas sebáceas Recursos e técnicas da Fisioterapia Dermatofuncional Laser Radiofrequência Ultrassom Correntes terapêuticas A pele e seus anexos Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Diferença entre especialização acadêmica x Título de especialidade Conteúdo interativo A pele e as suas funções Conteúdo interativo Recursos terapêuticos utilizados na Fisioterapia Dermatofuncional Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 2. Áreas de atuação da Fisioterapia Dermatofuncional Áreas de atuação da especialidade Estética e cosmetologia Dermatologia Endocrinologia Hanseníase Pré e pós-operatório de cirurgias plásticas Pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica Angiologia e linfologia Pré-operatório Intra-operatório Pós-operatório imediato Queimados 1º grau 2º grau 3º grau As áreas de atuação da Fisioterapia Dermatofuncional Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Fisioterapia Dermatofuncional em estética e cosmetologia Conteúdo interativo Fisioterapia Dermatofuncional no pré e pós-operatório de cirurgia plástica Conteúdo interativo Fisioterapia Dermatofuncional no pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 3. Conclusão Considerações finais Podcast Conteúdo interativo Explore + Referências