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Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
Tutoria UC 8 
Processo de Envelhecimento – Problema 1
 
 Contextualizar os conceitos de 
transição demográfica e epidemiológica 
nas dimensões mundial, nacional, estadual 
e local; 
População idosa brasileira 
Um indivíduo envelhece à medida que a sua 
idade aumenta. Este é um processo 
irreversível, natural e individual. É 
acompanhado por perdas progressivas de 
função e de papéis sociais, um processo 
único que depende de capacidades básicas, 
adquiridas e do meio ambiente. Pode ser 
medido pela esperança de vida ao nascer. 
 
Já o envelhecimento populacional ocorre 
quando aumenta a participação de idosos 
no total da população. É acompanhado pelo 
aumento da idade média da população, um 
processo que pode ser revertido se a 
fecundidade aumentar. Sob o ponto de 
vista demográfico, o envelhecimento 
populacional é o resultado da manutenção, 
por um período razoavelmente longo, de 
taxas de crescimento da população idosa 
superiores às da população mais jovem. 
Isso implica uma mudança nas proporções 
dos diversos grupos etários no total da 
população. Ressalta-se que o processo do 
envelhecimento é muito mais amplo do que 
uma modificação de proporções de 
determinada população, pois altera a vida 
dos indivíduos, as estruturas familiares, a 
demanda por políticas públicas e a 
distribuição de recursos na sociedade. 
 
Para se entender o processo de 
envelhecimento da população brasileira, o 
primeiro passo é definir o que se 
considera como população idosa. 5 O que 
se pode dizer é que essa população vive a 
última fase da vida e é constituída por 
pessoas com “muita idade”. Assume-se que 
a idade avançada acarreta vulnerabilidades 
físicas, cognitivas e mentais; agravamento 
de doenças crônicas e degenerativas; 
perda de papéis sociais com a retirada da 
atividade econômica; aparecimento de 
novos papéis (ser avós), de rugas e 
cabelos brancos; perda de cônjuges, 
parentes e amigos; inversão de papéis 
parentais e proximidade da morte etc. 
Logo, são mudanças físicas e de papéis 
sociais. Embora se reconheça que muitos 
desses processos caracterizam essa 
fase, sabe-se que a delimitação do seu 
início é difícil, pois é afetado por condições 
sociais, econômicas, regionais, culturais, 
étnicas e de gênero. 
 
A associação entre velhice e fragilidade 
física e econômica começou a ganhar 
força a partir da segunda metade do 
século 19 (Tavares, 2015). Para Monteiro 
Lobato (1930), é a “idade dos 
reumatismos”. 6 Isso pode estar associado 
ao aumento do número de pessoas que 
sobrevivem às idades avançadas. O 
resultado é um grupo mais heterogêneo, 
tanto do ponto de vista físico quanto 
 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
social, e o aparecimento da velhice como 
uma nova categoria cultural e social, 
associada a imagens negativas (Debert, 
1999). 
 
Ressalta-se que as características da 
velhice não dizem respeito apenas ao que 
acontece com o corpo. Acredita-se que 
“ser idoso” identifica não somente 
indivíduos em determinado ponto do ciclo 
de vida orgânico, mas também em certo 
ponto do curso de vida social, pois a 
classificação de “idoso” situa as pessoas 
em diversas esferas da vida social, tais 
como no trabalho, na família etc. Assume-
se que as representações da velhice, bem 
como a posição social dos velhos na 
sociedade, são categorias históricas e 
socialmente determinadas (Camarano e 
Medeiros, 1999), ou seja, a “dependência” 
extrapola os aspectos puramente 
biológicos. É resultado, também, de uma 
particular divisão do trabalho e da 
estrutura social. Nas sociedades industriais, 
a “independência” e o papel social do 
indivíduo são associados não só à sua 
participação no mercado de trabalho, mas 
também à sua produtividade (Camarano e 
Medeiros, 1999). Dado isso, a “dependência” 
pode conter um componente socialmente 
construído por meio dos paradigmas 
negativos da população idosa, como o de 
discriminação no mercado de trabalho. 
Muitas vezes as políticas reforçam esta 
dependência (Walker, 1991). No caso de 
alguns países, como o Brasil, essa 
discriminação é expressa, entre outras 
formas, com elementos de controle social, 
como a aposentadoria compulsória. 
Aceitando que é a idade que define essa 
fase da vida, o Estatuto do Idoso e a 
Política Nacional do Idoso definem como 
população idosa a de 60 anos ou mais. No 
entanto, esta fase da vida também se 
prolongou. A esperança de vida aos 60 
anos aumentou aproximadamente 5 anos 
entre 1980 e 2013, passando de 16,7 para 
21,1 anos. 8 Isso significa que a partir dos 
60 anos iniciase uma fase da vida mais 
longa que a infância e a adolescência 
juntas, que não é mais vivenciada apenas 
por uma minoria. A extensão dessa fase e 
a sua irreversibilidade foi percebida por 
Millôr Fernandes (1994): 
 
“A infância não, a infância dura pouco. A 
juventude não, a juventude é passageira. A 
velhice sim. Quando um homem fica velho 
é para o resto da vida e cada dia fica mais 
velho.” 
 
Essa definição resulta em uma 
heterogeneidade do segmento considerado 
idoso, já que aí estão incluídas pessoas de 
60 a 100 anos. Além disso, ela é acentuada 
pela constatação de que este segmento 
experimentou ao longo da vida trajetórias 
diferenciadas que vão afetar a sua 
velhice, as quais são fortemente 
marcadas pelas desigualdades sociais, 
regionais e raciais em curso no país. As 
políticas sociais podem reforçar essas 
desigualdades ou atenuálas, bem como os 
mitos, estereótipos e preconceitos em 
relação à população idosa. 
 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
Em geral, o processo de envelhecimento 
populacional se inicia com a queda da 
fecundidade, que leva a uma redução na 
proporção da população jovem e a um 
consequente aumento na proporção da 
população idosa. Neste caso, está se 
falando do envelhecimento pela base. A 
redução da mortalidade infantil acarreta 
um rejuvenescimento da população, dada a 
maior sobrevivência das crianças. Por 
outro lado, a diminuição da mortalidade nas 
idades mais avançadas contribui para que 
esse segmento populacional, que passou a 
ser mais representativo no total da 
população, sobreviva por períodos mais 
longos, resultando no envelhecimento pelo 
topo. Este altera a composição etária 
dentro do próprio grupo, ou seja, a 
população idosa também envelhece. 
 
No caso brasileiro, observasse que a 
proporção da população muito idosa, ou 
seja, a de 80 anos ou mais no total da 
população brasileira também está 
aumentando e em ritmo bastante 
acelerado. Esse tem sido o segmento 
populacional que mais cresce, embora ainda 
apresente um contingente pequeno. De 
170,7 mil pessoas em 1940, o contingente 
muito idoso passou para 2,9 milhões em 
2010. Representava 14,3% da população 
idosa em 2010 e 1,5% da população total. 
Dada a alta fecundidade do período entre 
19501970 e a redução contínua da 
mortalidade, especialmente nas idades 
avançadas, esperase que este contingente 
alcance, em 2050, um total de 13,3 
milhões, o que significará 6,5% da 
população total e 19,6% da população idosa. 
9 As taxas de mortalidade nas idades 
avançadas desempenharão um papel muito 
importante nesse crescimento, pois são 
dependentes do avanço da tecnologia 
médica e do acesso aos serviços de 
saúde. O envelhecimento pelo topo é mais 
expressivo entre as mulheres, haja vista a 
maior mortalidade masculina (Figura 5.1). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É consenso que a população muito idosa é 
a mais exposta a doenças e agravos 
crônicos não transmissíveis, muitos deles 
culminando em sequelas limitantes de um 
bom desempenho funcional, o que 
acarreta situações de dependência e, 
consequente, necessidades de cuidados. A 
Figura 5.2 ilustra isso, apresentando a taxa 
de prevalência por demência, a proporção 
de idosos com dificuldades para a vida 
diária e a proporção de idosos que residem 
em casa de parentes. Justificasse a 
inclusão desta última por ser um indicativo 
de saída de casa para busca de cuidados 
familiares, o que poderia caracterizar uma 
“dependência”em relação à família. As três 
proporções crescem acentuadamente 
com a idade, o que leva a se supor que, 
mesmo que as taxas de prevalência não 
aumentem ou diminuam, a população 
afetada crescerá acentuadamente. É o 
que mostra a Figura 5.3, que apresenta 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
uma projeção do número de demenciados 
por idade. 
 
O que se pode esperar, portanto, é um 
aumento da população que demandará 
cuidados, o que pode vir acompanhado de 
um tempo maior passado na condição de 
demandantes de cuidados. De acordo com 
Jacobzone (1999), com base nos dados 
disponíveis para os países membros da 
Organização para a Cooperação e 
Desenvolvimento Econômico (OCDE), os 
indivíduos vivem em média entre 2 e 4 
anos dependentes de cuidados mais 
intensivos no final de suas vidas. 
 
Esse crescimento expressivo da população 
em idade mais avançada ocorre em um 
contexto de transformações estruturais 
acentuadas nas famílias, decorrentes de 
mudanças na nupcialidade, da queda da 
fecundidade e do ingresso maciço das 
mulheres no mercado de trabalho. Este 
último aspecto afetou os contratos 
tradicionais de gênero, em que a mulher 
era a cuidadora e o homem, provedor. 
Hoje, a mulher brasileira está assumindo 
cada vez mais o papel de provedora; a sua 
renda foi responsável por cerca de 40% 
da renda das famílias brasileiras em 2013, 
mas ela ainda mantém a responsabilidade 
pelo cuidado dos membros dependentes. 
Essas mudanças afetam substancialmente 
a capacidade de as famílias ofertarem 
cuidado à população idosa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Feminização da velhice 
Em 2010, dos aproximados 20,6 milhões de 
idosos, 55,5% eram do sexo feminino. 
Como será visto na seção seguinte, a 
menor mortalidade da população feminina 
explica esse diferencial na composição por 
sexo e faz com que a população feminina 
cresça a taxas mais elevadas do que a 
masculina. Como consequência, quanto 
mais velho for o contingente estudado, 
maior será a proporção de mulheres 
(Figura 5.4). Isso leva à constatação de 
que “o mundo dos muito idosos é um 
mundo das mulheres” (Carstensen e 
Pasupathi, apud Goldani, 1999). 
 
No Brasil, a predominância feminina entre 
os idosos é um fenômeno tipicamente 
urbano; nas áreas rurais, predominam os 
homens. A maior participação das mulheres 
no fluxo migratório rural urbano explica 
essa diferença (Camarano e Abramovay, 
1998; Camarano, 2003 e Bercovich, 1993). 
Isso implica necessidades distintas de 
cuidados para a população idosa. Por 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
exemplo, a literatura sugere que a 
predominância masculina nas áreas rurais 
pode resultar em isolamento e abandono 
das pessoas idosas (Camarano et al., 2004; 
Saad, 1999 e 2004). 
 
 
 
 
 
 
 
 
De acordo com LloydSherlock (2004), 
mesmo que a velhice não seja 
universalmente feminina, tem forte 
componente de gênero. Por exemplo, 
mulheres idosas experimentam maior 
probabilidade de ficarem viúvas e, muitas 
vezes, em situação socioeconômica 
desvantajosa. Além disso, embora vivam 
mais do que os homens, passam por um 
período maior de debilitação física antes da 
morte do que eles (Nogales, 1998; 
Camarano et al., 2007), o que as torna 
mais dependentes de cuidado, apesar de 
serem as tradicionais cuidadoras. O cuidado 
com membros dependentes da família é 
determinado pelas trocas intergeracionais 
e apresenta fortes características de 
gênero (Camarano, 2005). Cuidar de netos 
é, em geral, visto como uma extensão do 
trabalho doméstico feminino. No Brasil, é 
relativamente elevada a proporção de 
mulheres morando sozinhas, 
aproximadamente 18% em 2013, e de 
residentes na casa de outros parentes, 
13%. 10 Também predominam entre os 
residentes nas instituições de longa 
permanência; constituem aproximadamente 
57,6% do total (Camarano et al., 2010). 
 
Por outro lado, as mulheres, mais do que 
os homens, participam de atividades 
extradomésticas, de organizações e 
movimentos de mulheres, fazem cursos 
especiais, viagens e trabalho remunerado 
temporário. Diferentemente do que 
fizeram na sua vida adulta, 
progressivamente assumem o papel de 
chefes de família e de provedoras 
(Camarano, 2003). Já homens mais velhos 
têm maiores dificuldades de se adaptarem 
à saída do mercado de trabalho (Goldani, 
1999; Simões, 2004). 
 
EPIDEMIOLOGIA 
A quantas anda a saúde dos idosos no 
Brasil? A análise da mortalidade deste 
grupo populacional, por paradoxal que seja, 
oferece valiosas informações sobre suas 
condições e hábitos de vida. Em virtude da 
estreita correlação entre fatores 
demográficos, epidemiológicos e 
socioeconômicos, é possível explorar as 
múltiplas questões relacionadas aos óbitos 
e inferir as razões pelas quais eles 
ocorreram. “Razão” e “causa básica do 
óbito” são conceitos distintos: um idoso 
jovem só irá falecer por um 
adenocarcinoma do intestino (causa 
básica) se não teve oportunidade de 
realizar o rastreamento adequado ao longo 
da sua vida (razão). 
 
Em uma perspectiva populacional, a razão 
da drástica redução da mortalidade infantil 
ocorrida no Brasil entre as décadas de 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
1940 e 1970 foi o controle de doenças 
infecciosas pela incorporação de novas 
tecnologias de saúde (antibióticos, terapia 
de reidratação oral) às políticas públicas. 
Sem a contrapartida do desenvolvimento 
socioeconômico, entretanto, as dezenas 
de milhões de crianças nascidas neste 
período de elevada fecundidade cresceram 
em uma conjuntura de desigualdade social, 
marcada pela elevada mortalidade por 
causas externas (homicídios e acidentes), 
especialmente entre os homens. Os 
sobreviventes das coortes de 19401970 
têm hoje entre 45 e 75 anos e 
representam 25% da população. A maioria 
deles envelheceu cultivando hábitos de 
vida deletérios – especialmente os homens 
– e não têm acesso adequado às 
tecnologias de saúde para prevenção de 
doenças. Esta sobre mortalidade masculina 
durante a vida adulta é determinante do 
processo de feminização do 
envelhecimento. Em 2014, para cada 100 
mulheres com idade entre 40 e 49 anos, 
60 e 69 anos e 80 ou mais havia, 
respectivamente, 92, 85 e 55 homens 
(Figura 6.1). Analisar a mortalidade de 
“idosos”, portanto, requer um olhar 
diferenciado por gênero. 
 
A proporção de mulheres idosas que 
alcança idades mais avançadas também é 
superior à dos homens. Em 2013, 36% das 
mulheres, mas apenas 21% dos homens 
completaram 80 anos antes de morrer 
(Figura 6.2). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Uma mulher que completou 80 anos em 
2015 deverá viver em média mais 10 anos, 
enquanto um homem deverá viver mais 8 
anos (Figura 6.3). Em 2030 esta sobrevida 
será de 11 e 10 anos, respectivamente. O 
aumento da expectativa de vida de idosos 
é muito importante: questões de saúde de 
octogenários são tão diferentes daquelas 
de idosos jovens quanto questões de 
saúde de recémnascidos são diferentes 
das de crianças de 5 a 10 anos. 
 
Do mesmo modo que não é adequado se 
referir aos “idosos”, agrupando os idosos 
mais jovens e mais velhos, não é razoável 
se referir aos “idosos brasileiros”. 
Variações regionais (que refletem 
diferenças socioeconômicas e de acesso 
aos cuidados à saúde) são muito 
significativas no país. Afirmar que em 2013 
“34% dos brasileiros conseguiram 
completar 85 anos antes de morrer” 
pressupõe mesclar números tão díspares 
quanto os de Rondônia (23%) e Santa 
Catarina (40%). O próprio processo de 
transição epidemiológica segue ritmos 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
diferentes: os óbitos causados por 
neoplasias representavam ainda apenas 11% 
do total no Maranhão, mas 21% em Santa 
Catarina; os óbitos por causas externas 
alcançavam ainda 18% do total em Alagoas, 
mas já haviam sido reduzidos para metade 
deste número em São Paulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As informações mais confiáveis sobre 
óbitos no Brasil derivam de um sistema de 
vigilância epidemiológica nacional, o Sistema 
de Informações sobre Mortalidade (SIM), 
do Ministério da Saúde.Para os óbitos de 
adultos, e principalmente de idosos, a 
cobertura do SIM é mais abrangente do 
que as do Registro Civil (Carvalho, 2015) e 
em 2011 ultrapassou 96% dos óbitos 
projetados pelo IBGE. Um obstáculo comum 
à análise das causas de morte é o grande 
número de atestados de óbitos 
preenchidos com informações pouco 
específicas, como os óbitos por “tosse” ou 
“dor abdominal”. Estes óbitos são 
agrupados em um capítulo denominado 
“Sintomas, sinais e achados anormais de 
exames clínicos e de laboratório não 
classificados em outra parte” (SSAAECL). 
Entretanto, a qualidade da informação 
sobre os óbitos vem aumentando, haja 
vista que estão em queda os percentuais 
destes óbitos cuja causa básica não foi 
bem definida (5,9% em 2013). Dentre o 
total de óbitos por causas externas (6,5% 
em 2013), também vem caindo a 
proporção de “óbitos com intenção 
indeterminada”, sobre os quais não se 
conhecem as circunstâncias. Neste 
capítulo iremos caracterizar a mortalidade 
de idosos no Brasil para analisar suas 
razões: inferir sobre os hábitos de vida 
desta coorte e as oportunidades de 
acesso que tiveram à assistência à saúde. 
Serão apresentados inicialmente os dados 
relativos à evolução da mortalidade 
proporcional por idade e por grandes 
grupos de causas nas últimas décadas. Em 
seguida, para o aprofundamento da análise, 
serão apresentadas as taxas de 
mortalidade específicas por sexo de idosos 
jovens e mais velhos, utilizando os dados 
populacionais (IBGE, 2013) e de mortalidade 
de 2013 (Brasil, 2016). 
 
 
O processo de envelhecimento da 
população brasileira, em função do declínio 
da fecundidade em algumas regiões mais 
desenvolvidas do Brasil, é conhecido desde 
a década de 1960. As PNAD’s (Pesquisa 
Nacional por Amostra de Domicílios) da 
década de 70 passaram a demonstrar que 
o fenômeno se estendia paulatinamente 
às demais regiões brasileiras, tanto nas 
áreas urbanas quanto rurais, e a todas as 
classes sociais (CHAIMOWICZ, 1997). 
 
No período de 1960 a 1991, a taxa de 
fecundidade total apresentou uma 
redução superior a 50% e o índice de 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
envelhecimento da população, que era igual 
a 11,2% em 1960, alcançou 44,8% no ano 
de 2010. No início, os decréscimos nas 
taxas reprodutivas reduziram a proporção 
de jovens e aumentaram a de idosos, em 
seguida ocorreu um decréscimo nas taxas 
de mortalidade de pessoas adultas e idosas 
e, a proporção delas em relação à 
população como um todo aumentou ainda 
mais. Esse processo dinâmico no 
comportamento populacional tem sido 
chamado de transição epidemiológica por 
alguns ou demográfica por outros 
(KALACHE, VERAS e RAMOS, 1987). 
 
Segundo os autores essa transição ocorre 
em quatro estágios, sendo que no primeiro 
a mortalidade é concentrada nos primeiros 
anos de vida (grande percentagem da 
população é jovem); no segundo a 
mortalidade decresce e as taxas de 
crescimento aumentam ou se mantêm 
elevadas (percentagem de jovens na 
população aumenta); no terceiro 
momento, as taxas de fertilidade 
decrescem e a mortalidade continua a cair 
(aumento da percentagem de adultos 
jovens, e progressivamente de pessoas 
idosas) e no último estágio, a mortalidade 
em todos os grupos etários continua a 
cair (aumento contínuo na percentagem 
de idosos na população). 
 
Agora, na segunda década do século XXI, o 
cenário contempla os governos nas 
esferas municipal, estadual e federal, ainda 
com dificuldades para o enfrentamento 
de desafios como o controle de doenças 
transmissíveis ou de dedicar-se a 
estratégias para a efetiva prevenção e 
tratamento das doenças 
crônicodegenerativas e suas complicações. 
Em um contexto de importantes 
desigualdades regionais e sociais, idosos 
não encontram amparo adequado no 
sistema público de saúde e previdência, 
acumulam sequelas daquelas doenças, 
desenvolvem incapacidades e perdem 
autonomia e qualidade de vida 
(CHAIMOWICZ, 1997). 
 
Diante do fenômeno do envelhecimento da 
população brasileira, existe a premente 
necessidade de estruturação de serviços 
e de programas de saúde que possam 
responder às demandas emergentes do 
novo perfil epidemiológico do país 
(SIQUEIRA, CORDEIRO, et al., 2004), pois os 
idosos utilizam os serviços hospitalares de 
maneira mais intensiva que os demais 
grupos etários, envolvendo maiores 
custos, implicando no tratamento de 
duração mais prolongada e de recuperação 
mais lenta e complicada (COELHO FILHO , 
2000). 
 
O conceito de transição epidemiológica 
refere-se às mudanças ocorridas, no 
tempo, nos padrões de morbidade, invalidez 
e morte que caracterizam uma população 
específica e que, em geral, ocorrem em 
conjunto com outras transformações 
demográficas, sociais e econômicas 
(OMRAN, 2001). As alterações nos padrões 
de morbidade e mortalidade correspondem 
a uma fase mais recente de um processo 
histórico secular, ao qual Omran, em 1971, 
denominou de 'transição epidemiológica' 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
(ARAÚJO, 2012). Segundo essa teoria, a 
humanidade teria atravessado três fases 
epidemiológicas ao longo da sua história: 
a) A 'Era da Fome das Pestilências', que 
durou desde o início dos tempos históricos 
até o fim da Idade Média, foi 
caracterizada por altos índices de 
natalidade, altas taxas de mortalidade por 
doenças infecciosas endêmicas e 
epidemias que assumiam, com frequência, 
caráter pandêmico, devastando as 
populações. Nessa fase, a expectativa de 
vida estava em torno de 20 anos e o 
crescimento demográfico foi lento. 
 
b) A 'Era do Declínio das Pandemias', 
correspondendo historicamente ao período 
que vai da Renascença até o início da 
Revolução Industrial, foi caracterizada pelo 
progressivo desaparecimento das grandes 
pandemias, embora as doenças infecciosas 
continuassem a ser a principal causa de 
morte. Nesse período verificou-se uma 
gradual melhora no padrão de vida e a 
expectativa de vida alcançou os 40 anos. 
Como as taxas de mortalidade declinaram 
até níveis de 30 por 1000 e a natalidade 
continuava acima de 40 por 1000, iniciou-
se um longo período de crescimento 
populacional. 
 
c) A 'Era das Doenças Degenerativas e das 
Causadas pelo Homem' estende-se da 
Revolução Industrial até os tempos 
modernos. Caracterizou se por uma 
progressiva melhora do padrão de vida das 
populações (habitação, saneamento, 
alimentação, educação) e um 
correspondente declínio das doenças 
infecciosas, que se iniciou várias décadas 
antes do aparecimento das sulfas e dos 
antibióticos e se acentuou após esses 
progressos da medicina. A expectativa de 
vida foi aumentando até atingir os 70 
anos, nos meados deste século. As 
principais causas de mortalidade passaram 
a ser doenças cardiovasculares e as 
neoplasias malignas. Nessa fase, houve 
uma desaceleração no crescimento 
demográfico (OMRAN , 1971). 
 
Conceitualmente, Omran focou a teoria da 
transição epidemiológica nas complexas 
mudanças dos padrões saúde-doença e 
nas interações entre esses padrões, seus 
determinantes demográficos, econômicos 
e sociais, e suas consequências (OMRAN, 
2005). E, conforme explicam Duarte e 
Barreto (2012), entre as proposições 
centrais incluídas nessa teoria, destacam-
se: (i) existe um processo longo de 
mudanças nos padrões de mortalidade e 
adoecimento, em que as pandemias por 
doenças infecciosas são gradativamente 
substituídas pelas doenças degenerativas e 
agravos produzidos pelo homem; (ii) 
durante essa transição, as mais profundas 
mudanças nos padrões de saúde-doença 
ocorrem nas crianças e nas mulheres 
jovens; (iii) as mudanças que caracterizam 
a transição epidemiológica são fortemente 
associadas às transições demográfica e 
socioeconômica que constituem o 
complexo da modernização; e (iv) as 
variações peculiares no padrão, no ritmo, 
nos determinantes e nas consequências 
das mudanças na população diferenciam 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
três modelos básicos de transição 
epidemiológica, o modelo clássico ou 
ocidental, o modelo acelerado eo modelo 
contemporâneo ou prolongado (OMRAN, 
2005). 
 
Num entendimento mais simplificado 
Schramm, Oliveira et al (2004), asseveram 
que o processo engloba três mudanças 
básicas: substituição das doenças 
transmissíveis por doenças não 
transmissíveis e causas externas; 
deslocamento da carga de 
morbimortalidade dos grupos mais jovens 
aos grupos mais idosos; e transformação 
de uma situação em que predomina a 
mortalidade para outra na qual a morbidade 
é dominante. 
 
A definição da transição epidemiológica 
deve ser considerada componente de um 
conceito mais amplo apresentado como 
transição da saúde, que inclui elementos 
das concepções e comportamentos 
sociais, correspondentes aos aspectos 
básicos da saúde nas populações humanas 
(SCHRAMM, OLIVEIRA, et al., 2004). Nesse 
contexto, Frenk, Frejka e et al (1991) 
destacam que a transição da saúde pode 
ser dividida em dois elementos principais: 
de um lado, fazendo referência as 
mudanças na frequência, magnitude e 
distribuição das condições de saúde, 
expressas através das mortes, doenças e 
incapacidades, encontra-se a transição das 
condições de saúde e, de outro a 
transição da atenção sanitária que, como 
resposta social organizada a estas 
condições e que se instrumenta por meio 
dos sistemas de atenção à saúde, 
determinada pelo desenvolvimento social, 
econômico e tecnológico mais amplo. 
 
Com exposto, existe uma correlação direta 
entre os processos de transição 
epidemiológica e demográfica, pois na 
medida em que aumenta a expectativa de 
vida, as doenças não transmissíveis 
tornam-se mais frequentes e os idosos 
passam a conviver com fatores de risco 
associados às doenças crônico-
degenerativas (CHAIMOWICZ, 1997), 
resultando em mudanças no padrão de 
utilização dos serviços de saúde e no 
aumento de gastos, considerando a 
necessidade de incorporação tecnológica 
para o tratamento das mesmas (SCHRAMM, 
OLIVEIRA, et al., 2004). Ainda, segundo os 
autores, estes aspectos ocasionam 
importantes desafios e a necessidade de 
uma agenda para as políticas de saúde que 
possam dar conta das várias transições 
em curso. 
 
 Dimensionar as repercussões da 
transição epidemiológica e demográfica 
para as famílias das pessoas em fase de 
envelhecimento e idosas; 
Família é popularmente conhecida como o 
conjunto de pessoas que, com algum grau 
de parentesco, vivem na mesma 
residência e assim formam um lar. De 
acordo com Medeiros e Osório (2001, p. 
06) “famílias são instituições com várias 
características, como laços de parentesco 
e normas de relacionamento que 
determinam direitos e obrigações de várias 
espécies a seus membros”. A família é uma 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
instituição que, via de regra, possui grande 
valor em todas as camadas sociais tendo 
em vista que sua função principal é cuidar, 
zelar e proteger seus membros; entre 
outras responsabilidades. Com toda a carga 
social existente sobre o núcleo familiar, o 
Estado, no Brasil, de forma visível e 
significativa, se esquiva do compromisso e 
da responsabilidade com a proteção social 
da população. 
 
Logo, a família, toma para si a 
responsabilidade pelos seus membros e, 
enfrenta uma série de consequências 
naturais da evolução do ser humano. Entre 
elas, destaca-se o envelhecimento e a 
atividade do cuidado com o idoso, doente 
ou não. 
 
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística - IBGE3 mostram que no ano de 
2009 havia cerca de 21 milhões de idosos 
no país e as principais causas para o 
aumento do envelhecimento eram 
resultados da baixa taxa de fecundidade e 
de mortalidade, nas décadas anteriores. Em 
2000, outros relatos do IBGE revelam que 
44% das mulheres em idade reprodutiva 
tinham menos de dois filhos; e em 20064 , 
a taxa de fecundidade total (número 
médio de filhos que uma mulher teria ao 
final do seu período fértil) foi 2,0 filhos. 
Segundo a Síntese de Indicadores Sociais 
(2007), a queda da taxa de fecundidade 
nas décadas anteriores era uma tendência 
não só no Brasil, diversos países já atingiam 
valores bem abaixo do chamado nível de 
reposição natural da população, 
principalmente os europeus. O outro fator 
responsável foi a diminuição da taxa de 
mortalidade e isso se dá por conta da 
expectativa de vida das mulheres, que é 
maior do que dos homens. No ano 2000 a 
expectativa de vida feminina era de 7,6 
anos a mais que a masculina. 
 
1.1 O ciclo vital da família e o 
envelhecimento 
Com a mudança nos arranjos familiares e 
o desenvolvimento de novas perspectivas, 
a família inicia uma nova fase no seu ciclo 
vital. O envelhecimento, como processo 
multidimensional num todo, integra as 
mudanças associadas com a passagem do 
tempo e que, em muitos casos, alteram a 
capacitação funcional individual do idoso, 
sua personalidade, bem como a afetividade 
em relação aos familiares e ao meio em 
que vive. As alterações da estrutura 
familiar inerentes à última etapa do ciclo 
vital da família são caracterizadas por 
transições interligadas ao envelhecimento, 
como processo novo e único. A 
reconstrução relacional com as gerações 
mais novas, aliada às mudanças 
necessárias decorrentes do 
envelhecimento, constitui-se como 
desafios fundamentais às famílias nesta 
etapa do seu ciclo. 
 
Sendo assim, o ciclo vital da família é uma 
sequência de transformações na 
organização familiar, ou seja, é a evolução 
histórica da família, onde as mudanças têm 
a ver com o desenvolvimento dos seus 
membros. No geral, a família desempenha 
dois papéis principais que caracterizam o 
ciclo vital, que são a função interna – 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
proteção dos familiares que a compõem - 
e função externa, que é a socialização e 
transmissão de tradições e culturas. 
Quando a família assume o cuidado de uma 
pessoa idosa, ela encontra-se no ciclo 
fase madura ou fase última. 
 
O envelhecimento representa essa última 
fase do ciclo vital, as relações familiares 
nessa fase serão marcadas por uma nova 
estruturação de papeis, com a saída de 
alguns integrantes e a inserção de novos. 
Essa intergeracionalidade representa o 
movimento da família, não sendo algo 
parado no tempo, mas circula entre o 
passado e o futuro, estando ligada num 
tempo histórico que sempre explica ao 
sujeito o seu estar em um grupo 
fundamental: a família. 
 
Quando o envelhecimento passa ser visto 
como um problema, e para o idoso ter 
significado de morte, este se coloca ou 
acaba sendo colocado em uma posição 
negativa de sua existência; com isso, a 
perspectiva de presente e de futuro se 
fecha e faz nascer um sentimento de 
perda da própria existência. O processo do 
envelhecimento torna-se difícil quando a 
pessoa idosa é acometida de alguma 
doença crônica, grave ou degenerativa, 
com isso é necessário um cuidado intenso; 
pois a perda de autonomia para as 
atividades da vida diária, geralmente, é o 
primeiro fator a ser verificado. Quando 
isso ocorre, a família se vê, por 
incumbência das circunstâncias, obrigada a 
tomar as providências necessárias quanto 
aos procedimentos a serem definidos que 
nem sempre são os mais precisos ou 
cabíveis para o momento. Mas, sem auxílio 
e sem o respaldo do Estado, geralmente 
as famílias se veem abandonadas e sem 
apoio do setor público quando o assunto é 
cuidado familiar. 
 
Os estudos sobre o envelhecimento 
mostram que a saúde na velhice depende 
muito de hábitos de vida saudáveis e de 
cuidados que a pessoa recebeu ao longo 
de toda a vida, a partir da infância e até 
mesmo antes de nascer. Esses estudos 
permitem afirmar que velhice não é 
doença. No entanto, sabemos também, que 
as pessoas idosas são, em geral, mais 
vulneráveis, isto é, ficam mais sujeitas a 
adoecer e, quando adoecem, demoram 
mais para sarar. Esta é a razão por que o 
Brasil passou a realizar campanhas de 
vacinação contra a influenza (gripe) das 
pessoas de 60 anos e mais. Numa 
população envelhecida, isto é, onde há 
grande proporção de pessoas de 60 anos 
e mais, em relação àquelasque têm 
menos de 15 anos, há aumento de doenças 
crônicas, isto é, doenças que não tem 
cura, como pressão alta, diabetes, 
reumatismos, doenças do coração, do 
pulmão, do fígado, demência, câncer etc. 
que podem deixar marcas e complicações, 
levando a incapacidades, dependência, 
necessidade de cuidados de longa duração 
e instituições de longa permanência. (BORN, 
2008 p. 113) 
 
Sendo assim, conclui-se que superar os 
preconceitos e oferecer garantias de um 
envelhecimento mais pleno, satisfatório e 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
com respeito, é obrigação de todos. Logo, 
é necessária uma reflexão sobre a própria 
velhice do indivíduo, bem como a 
construção de um futuro com vivência 
mais positiva, tranquila e facilitada. Afinal, 
pressupõe-se que será uma etapa a ser 
vivida por todos, e o indivíduo já em sua 
fase jovem deveria desenvolver um 
aprendizado constante, que vem junto 
com a experiência de vida e da fase 
adulta, para uma transição tranquila 
durante o processo de envelhecimento 
dentro do convívio familiar e da sociedade. 
 
2. As políticas sociais, a família e o cuidado 
Como resultado do pluralismo de bem-
estar, a família ganhou centralidade no 
debate sobre a produção do bem-estar no 
campo da política social. A função moral 
atribuída à família e a importância dada aos 
vínculos afetivos, naturaliza o cuidado 
como responsabilidade familiar eximindo o 
Estado dessa atribuição tão complexa nos 
sistemas de proteção social. 
 
Historicamente a família sempre teve um 
papel importante no cuidado e na proteção 
dos membros que a compõem. Na 
atualidade ganhou uma atenção especial do 
Estado, mas ainda não tem o respaldo que 
merece. Quando o assunto é política social, 
a família é tida como provedora do 
bemestar, como se ela se bastasse sem 
necessitar da assistência que tem direito; 
com isso há um estímulo de sua autonomia 
e uma redução de bens e serviços a seu 
dispor. Conforme Mioto, tal realidade “[...] 
vincula-se ao declínio da sociedade salarial 
e à crise do Welfare State, que fizeram 
com que a família fosse ‘redescoberta’, 
tanto como instância de proteção, como 
também possibilidade de ‘recuperação e 
sustentação’ de seus membros” (2008, 
p.130). 
 
Se existe certo consenso de que as 
famílias necessitam de atenção social, 
quando colocamos em pauta os cuidados 
que lhes devem ser dirigidos, aparecem 
divergências que passam mesmo 
despercebidas. Na maioria das vezes, não 
nos damos conta de que, ao propormos e 
realizarmos ações de cuidados que 
envolvam as famílias, ou segmentos 
vulneráveis, colocamos em movimento 
diferentes formas de conceber a família 
e suas relações com outras esferas da 
sociedade, como Estado, trabalho e 
mercado. Das diferentes formas de 
concepção nascem diferentes modos de 
dirigir atenção aos grupos familiares e aos 
segmentos sociais vulneráveis. Por estes 
motivos, o tratamento do tema é 
complexo e extrapola o âmbito de uma 
discussão puramente operativa. (MIOTO, 
2000, p.217) 
 
Ao tratarmos das políticas públicas, a 
política social é a que ganha destaque, 
segundo o olhar do Serviço Social, política 
social pode ser compreendida como um 
conjunto de ações determinantes do 
Estado na formulação, execução e 
avaliação de programas, que visem 
estabelecer medidas de proteção social 
aos indivíduos, marcados pela exclusão 
econômica resultante do modelo de 
produção capitalista, ou mesmo dos 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
múltiplos imprevistos do cotidiano. Toda 
política social deve ser voltada para os 
trabalhadores e àqueles que estão à 
margem sofrendo as consequências do 
sistema instituído. Assim, tanto o poder 
público como a sociedade devem se 
convencer de que cabe ao Estado a 
tarefa de organizar a política social do 
ponto de vista que funcione, e não como 
uma ação filantrópica. Cabe às políticas 
públicas garantir os direitos fundamentais 
como habitação, renda, alimentação, saúde, 
educação e segurança e desenvolver 
programas voltados às necessidades 
específicas a determinado tipo de 
população atendida. 
 
Aos poucos o Estado diminui sua carga de 
responsabilidades com as demandas sociais, 
ressurgindo a família como alternativa no 
processo de proteção das vulnerabilidades. 
Tratando-se de uma unidade econômica 
voluntária, espera-se que a família possa 
dar conta da reprodução e proteção dos 
membros que a compõem. 
 
2.1 O cuidado e o cuidador 
A definição corrente para o verbo cuidar 
é: cautela, precaução, zelo, atenção, 
desvelo. Quando se trata de 
envelhecimento, o cuidado é algo ainda 
maior, pois é na realidade atitude de 
preocupação, ocupação, responsabilização 
e envolvimento afetivo. O cuidado embora 
sendo uma prática que faz parte da 
história é algo recente, cuidar é uma 
atividade que vai além do atendimento às 
necessidades do ser humano no momento 
que se encontra doente. O cuidado 
aparece quando alguém próximo necessita 
dele, e por sua natureza é uma atitude de 
atenção e carinho, ao mesmo tempo em 
que é uma preocupação e inquietação, pois 
o cuidador sente-se afetivamente 
envolvido e cria uma forte ligação com 
quem cuida. Isso se intensifica quando o 
cuidador faz parte diretamente da família. 
 
As questões relacionadas ao cuidado com 
o idoso em domicílio são sempre mais 
complexas e de grande importância. A 
compreensão da pessoa idosa como 
pessoa única que está inserida em um 
contexto familiar e social com o qual 
mantêm contato de forma continuada 
deve ser sempre levada em consideração 
quando o cuidado é domiciliar. Deve-se 
levar em consideração a autonomia, a 
independência do idoso, assim como, sua 
capacidade para o desempenho de 
atividades rotineiras e sua vontade de 
ficar em determinado espaço, quando 
este ainda tem lucidez para isso. 
 
Atualmente rompeu-se com essa visão de 
isolamento. Hoje o cuidado é visto como 
uma questão de saúde e assistência 
produzindo uma revalorização do ambiente 
familiar, onde o bem-estar da pessoa 
cuidada é a priori o principal objetivo das 
políticas publicas e da família. 
 
O Ministério da Saúde, em 2008, elaborou o 
Guia Prático do Cuidador, com o objetivo de 
orientar cuidadores na atenção à saúde de 
qualquer faixa etária e também esclarecer 
os pontos mais comuns no cuidado 
domiciliar, acentuando a responsabilização 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
da família, assim sendo conceitua duas 
categorias de cuidadores, a seguir 
apresentamos a definição de ambos: 
 
Cuidador Informal: é o membro familiar, 
esposa(o), filha(o), irmã(ão), nora, 
normalmente do sexo feminino, que é 
‘escolhido’ entre os familiares por ter 
melhor relacionamento ou intimidade com a 
pessoa idosa e por apresentar maior 
disponibilidade de tempo. Inclui-se neste 
grupo uma amiga ou vizinha, que mesmo 
não tendo laços de parentesco, cuida da 
pessoa idosa, sem receber pagamento, 
como voluntária. (BORN, 2008 p.54) 
 
Cuidador Formal: é o profissional, que 
recebeu um treinamento específico para a 
função, exerce a atividade de cuidador 
mediante uma remuneração, mantendo 
vínculos contratuais. Ele pode ser 
contratado para exercer suas funções na 
residência de uma família, em Instituições 
de Longa Permanência para Idosos (ILPI), ou 
acompanhar a pessoa idosa em sua 
permanência em Unidades de Saúde 
(hospitais/clínicas, etc.). (BORN, 2008 p.54 
e 55) 
 
O ato de cuidar é muito complexo, pois, em 
certos momentos o cuidador informal é 
tomado por sentimentos diversos, como 
raiva, culpa, medo, angústia, confusão, 
cansaço. Tais sentimentos podem ser 
simultâneos e devem ser compreendidos 
pelos que cercam o cuidador, pois faz 
parte da relação entre ele e a pessoa 
cuidada. Quando um cuidador está 
disponível somente para esse fim, a carga 
sobre ele poder ser muito significativa, 
sendo muito importante haver opções de 
lazer e outras atividades, mesmo que 
voltadas as necessidades emanadas pelo 
idoso. 
 
De um modo geral, as pessoas 
encarregadas do cuidado e suas famílias 
têm poucopreparo para administrar essa 
situação. A ajuda de profissionais 
especializados é primordial na 
determinação do bem-estar do idoso, o 
preparo profissional e pessoal dos 
indivíduos relacionados ao cuidado é hoje 
uma necessidade crescente em muitos 
países, tendo um aumento significativo 
também em nosso país. O cuidador precisa 
colocar regras em sua rotina e impor um 
dia para cuidar de si, da sua saúde e do 
seu bem-estar. Pois, com o passar do 
tempo a pessoa cuidada, que normalmente 
se encontra doente, fica com a situação 
estável e a pessoa que o cuida adoece, é 
necessário que o cuidador tenha 
consciência da necessidade deste 
autocuidado e que se organize junto com 
os outros familiares e com sua agenda, 
para buscar aquilo que considera positivo 
para proporcionar-lhe benefícios físicos, 
mentais e emocionais. Com toda essa 
situação que cerca o cuidador, atualmente 
há uma luta pela regulamentação dessa 
profissão, pois esse fator pode contribuir 
para a melhoria da atividade e a qualidade 
de vida dos cuidadores. Sendo um 
profissional regularizado, com direitos e 
um salário condizente com seus afazeres, 
muda o olhar sobre o cuidar, rompendo um 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
pouco com os paradigmas fraternos e as 
obrigações familiares. 
 
 Discernir as características 
inovadoras da Política Nacional de Saúde 
da Pessoa Idosa a partir do seu foco 
“capacidade funcional”. 
No Brasil, o direito universal e integral à 
saúde foi conquistado pela sociedade na 
Constituição de 1988 e reafirmado com a 
criação do Sistema Único de Saúde (SUS), 
por meio da Lei Orgânica da Saúde nº 
8.080/90. Por esse direito, entende-se o 
acesso universal e equânime a serviços e 
ações de promoção, proteção e 
recuperação da saúde, garantindo a 
integralidade da atenção, indo ao encontro 
das diferentes realidades e necessidades 
de saúde da população e dos indivíduos. 
Esses preceitos constitucionais 
encontram-se reafirmados pela Lei nº 
8.142, de 28 de dezembro de 1990, que 
dispôs sobre a participação da comunidade 
na gestão do Sistema Único de Saúde e 
sobre as transferências 
intergovernamentais de recursos 
financeiros na área de saúde e as Normas 
Operacionais Básicas (NOB), editadas em 
1991, 1993 e 1996, que, por sua vez, 
regulamentam e definem estratégias e 
movimentos táticos que orientam a 
operacionalidade do Sistema. 
 
A regulamentação do SUS estabelece 
princípios e direciona a implantação de um 
modelo de atenção à saúde que priorize a 
descentralização, a universalidade, a 
integralidade da atenção, a eqüidade e o 
controle social, ao mesmo tempo em que 
incorpora, em sua organização, o princípio 
da territorialidade para facilitar o acesso 
das demandas populacionais aos serviços 
de saúde. Com o objetivo de reorganizar a 
prática assistencial é criado em 1994, pelo 
Ministério da Saúde, o Programa de Saúde 
da Família (PSF), tornando-se a estratégia 
setorial de reordenação do modelo de 
atenção à saúde, como eixo estruturante 
para reorganização da prática assistencial, 
imprimindo nova dinâmica nos serviços de 
saúde e estabelecendo uma relação de 
vínculo com a comunidade, humanizando 
esta prática direcionada à vigilância na 
saúde, na perspectiva da intersetorialidade 
(Brasil, 1994), denominando-se não mais 
programa e sim Estratégia Saúde da 
Família (ESF). 
 
Concomitante à regulamentação do SUS, o 
Brasil organiza-se para responder às 
crescentes demandas de sua população 
que envelhece. A Política Nacional do Idoso, 
promulgada em 1994 e regulamentada em 
1996, assegura direitos sociais à pessoa 
idosa, criando condições para promover 
sua autonomia, integração e participação 
efetiva na sociedade e reafirmando o 
direito à saúde nos diversos níveis de 
atendimento do SUS (Lei nº 8.842/94 e 
Decreto nº 1.948/96). 
 
Em 1999, a Portaria Ministerial nº 1.395 
anuncia a Política Nacional de Saúde do 
Idoso, a qual determina que os órgãos e 
entidades do Ministério da Saúde 
relacionados ao tema promovam a 
elaboração ou a readequação de planos, 
projetos e atividades na conformidade das 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
diretrizes e responsabilidades nela 
estabelecidas (Brasil, 1999). Essa política 
assume que o principal problema que pode 
afetar o idoso é a perda de sua 
capacidade funcional, isto é, a perda das 
habilidades físicas e mentais necessárias 
para realização de atividades básicas e 
instrumentais da vida diária. 
 
Em 2002, é proposta a organização e a 
implantação de Redes Estaduais de 
Assistência à Saúde do Idoso (Portaria nº 
702/SAS/MS, de 2002), tendo como base 
as condições de gestão e a divisão de 
responsabilidades definida pela Norma 
Operacional de Assistência à Saúde (NOAS). 
Como parte de operacionalização das 
redes, são criadas as normas para 
cadastramento de Centros de Referência 
em Atenção à Saúde do Idoso (Portaria nº 
249/SAS/MS, de 2002). 
 
Em 2003, o Congresso Nacional aprova e o 
Presidente da República sanciona o 
Estatuto do Idoso, elaborado com intensa 
participação de entidades de defesa dos 
interesses dos idosos. O Estatuto do Idoso 
amplia a resposta do Estado e da 
sociedade às necessidades da população 
idosa, mas não traz consigo meios para 
financiar as ações propostas. O Capítulo IV 
do Estatuto reza especificamente sobre o 
papel do SUS na garantia da atenção à 
saúde da pessoa idosa de forma integral, 
em todos os níveis de atenção. 
 
Assim, embora a legislação brasileira 
relativa aos cuidados da população idosa 
seja bastante avançada, a prática ainda é 
insatisfatória. A vigência do Estatuto do 
Idoso e seu uso como instrumento para a 
conquista de direitos dos idosos, a 
ampliação da Estratégia Saúde da Família 
que revela a presença de idosos e famílias 
frágeis e em situação de grande 
vulnerabilidade social e a inserção ainda 
incipiente das Redes Estaduais de 
Assistência à Saúde do Idoso tornaram 
imperiosa a readequação da Política 
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI). 
Em fevereiro de 2006, foi publicado, por 
meio da Portaria nº 399/GM, o documento 
das Diretrizes do Pacto pela Saúde que 
contempla o Pacto pela Vida. Neste 
documento, a saúde do idoso aparece 
como uma das seis prioridades pactuadas 
entre as três esferas de governo sendo 
apresentada uma série de ações que 
visam, em última instância, à 
implementação de algumas das diretrizes 
da Política Nacional de Atenção à Saúde do 
Idoso. 
 
A publicação do Pacto pela Vida, 
particularmente no que diz respeito à 
saúde da população idosa, representa, sem 
sombra de dúvida, um avanço importante. 
Entretanto, muito há que se fazer para 
que o Sistema Único de Saúde dê 
respostas efetivas e eficazes às 
necessidades e demandas de saúde da 
população idosa brasileira. Dessa maneira, a 
participação da Comissão Intergestores 
Tripartite e do Conselho Nacional de Saúde, 
no âmbito nacional, é de fundamental 
importância para a discussão e formulação 
de estratégias de ação capazes de dar 
conta da heterogeneidade da população 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
idosa e, por conseguinte, da diversidade de 
questões apresentadas. 
 
Cabe destacar, por fim, que a organização 
da rede do SUS é fundamental para que 
as diretrizes dessa Política sejam 
plenamente alcançadas. Dessa maneira, 
torna-se imperiosa a revisão da Portaria 
nº 702/GM, de 12 de abril de 2002, que cria 
os mecanismos de organização e 
implantação de Redes Estaduais de 
Assistência à Saúde do Idoso e a Portaria 
nº 249/SAS, de 16 de abril de 2002, com 
posterior pactuação na Comissão 
Intergestores Tripartite. 
 
A meta final deve ser uma atenção à 
saúde adequada e digna para os idosos e 
idosas brasileiras, principalmente para 
aquela parcela da população idosa que 
teve, por uma série de razões, um 
processo de envelhecimento marcado por 
doenças e agravos que impõem sérias 
limitações ao seu bem-estar. 
 
1. Finalidade 
A finalidade primordial da Política Nacional de 
Saúde da Pessoa Idosa é recuperar, 
manter e promover a autonomiae a 
independência dos indivíduos idosos, 
direcionando medidas coletivas e individuais 
de saúde para esse fim, em consonância 
com os princípios e diretrizes do Sistema 
Único de Saúde. É alvo dessa política todo 
cidadão e cidadã brasileiros com 60 anos 
ou mais de idade. 
 
Considerando: 
a) o contínuo e intenso processo de 
envelhecimento populacional brasileiro; 
 
b) os inegáveis avanços políticos e 
técnicos no campo da gestão da saúde; 
 
c) o conhecimento atual da Ciência; 
 
d) o conceito de saúde para o indivíduo 
idoso se traduz mais pela sua condição de 
autonomia e independência que pela 
presença ou ausência de doença orgânica; 
e) a necessidade de buscar a qualidade da 
atenção aos indivíduos idosos por meio de 
ações fundamentadas no paradigma da 
promoção da saúde; 
 
f) o compromisso brasileiro com a 
Assembleia Mundial para o Envelhecimento 
de 2002, cujo Plano de Madri fundamenta-
se em: (a) participação ativa dos idosos na 
sociedade, no desenvolvimento e na luta 
contra a pobreza; (b) fomento à saúde e 
bem-estar na velhice: promoção do 
envelhecimento saudável; e (c) criação de 
um entorno propício e favorável ao 
envelhecimento; e 
 
g) escassez de recursos sócio-educativos 
e de saúde direcionados ao atendimento 
ao idoso; 
 
A necessidade de enfrentamento de 
desafios como: 
a) a escassez de estruturas de cuidado 
intermediário ao idoso no SUS, ou seja, 
estruturas de suporte qualificado para 
idosos e seus familiares destinadas a 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
promover intermediação segura entre a 
alta hospitalar e a ida para o domicílio; 
 
b) número insuficiente de serviços de 
cuidado domiciliar ao idoso frágil previsto 
no Estatuto do Idoso. Sendo a família, via 
de regra, a executora do cuidado ao idoso, 
evidencia-se a necessidade de se 
estabelecer um suporte qualificado e 
constante aos responsáveis por esses 
cuidados, tendo a atenção básica por meio 
da Estratégia Saúde da Família um papel 
fundamental; 
c) a escassez de equipes multiprofissionais 
e interdisciplinares com conhecimento em 
envelhecimento e saúde da pessoa idosa; e 
 
d) a implementação insuficiente ou mesmo 
a falta de implementação das Redes de 
Assistência à Saúde do Idoso. 
 
2. Justificativa 
O Brasil envelhece de forma rápida e 
intensa. No Censo de 2000, contava com 
mais de 14,5 milhões de idosos (IBGE, 2002), 
em sua maioria com baixo nível 
socioeconômico e educacional e com uma 
alta prevalência de doenças crônicas e 
causadoras de limitações funcionais e de 
incapacidades (Lima-Costa et al, 2003; 
Ramos, 2002). A cada ano, 650 mil novos 
idosos são incorporados à população 
brasileira (IBGE, 2000). Essa transição 
demográfica repercute na área da saúde, 
em relação à necessidade de (re)organizar 
os modelos assistenciais (Lima-Costa & 
Veras, 2003). A maior causa de 
mortalidade entre idosos brasileiros é o 
acidente vascular cerebral (Lima-Costa et 
al., 2000). Na transição epidemiológica 
brasileira ocorrem incapacidades 
resultantes do não-controle de fatores 
de risco preveníveis (Lima-Costa et al., 
2003). 
 
O sistema de saúde brasileiro 
tradicionalmente está organizado para 
atender à saúde materno-infantil e não 
tem considerado o envelhecimento como 
uma de suas prioridades. Uma importante 
consequência do aumento do número de 
pessoas idosas em uma população é que 
esses indivíduos provavelmente 
apresentarão um maior número de 
doenças e/ou condições crônicas que 
requerem mais serviços sociais e médicos 
e por mais tempo (Firmo et al, 2003). Isso 
já pode ser notado, uma vez que a 
população idosa, que hoje representa cerca 
de 9% da população, consome mais de 
26% dos recursos de internação hospitalar 
no SUS (Lima-Costa et al, 2000). Além 
disso, é notável a carência de profissionais 
qualificados para o cuidado ao idoso, em 
todos os níveis de atenção. 
 
Outro fato importante a ser considerado 
é que saúde para a população idosa não se 
restringe ao controle e à prevenção de 
agravos de doenças crônicas não-
transmissíveis. Saúde da pessoa idosa é a 
interação entre a saúde física, a saúde 
mental, a independência financeira, a 
capacidade funcional e o suporte social 
(Ramos, 2002). 
 
As políticas públicas de saúde, objetivando 
assegurar atenção a toda população, têm 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
dado visibilidade a um segmento 
populacional até então pouco notado pela 
saúde pública - os idosos e as idosas com 
alto grau de dependência funcional -. É 
possível a criação de ambientes físicos, 
sociais e atitudinais que possibilitem 
melhorar a saúde das pessoas com 
incapacidades tendo como uma das metas 
ampliar a participação social dessas 
pessoas na sociedade (Lollar & Crews, 
2002). Por isso mesmo, é imprescindível 
oferecer cuidados sistematizados e 
adequados a partir dos recursos físicos, 
financeiros e humanos de que se dispõe 
hoje. 
 
3. Diretrizes 
Não se fica velho aos 60 anos. O 
envelhecimento é um processo natural 
que ocorre ao longo de toda a 
experiência de vida do ser humano, por 
meio de escolhas e de circunstâncias. O 
preconceito contra a velhice e a negação 
da sociedade quanto a esse fenômeno 
colaboram para a dificuldade de se pensar 
políticas específicas para esse grupo. Ainda 
há os que pensam que se investe na 
infância e se gasta na velhice. Deve ser 
um compromisso de todo gestor em 
saúde compreender que, ainda que os 
custos de hospitalizações e cuidados 
prolongados sejam elevados na parcela 
idosa, também aí está se investindo na 
velhice “Quando o envelhecimento é aceito 
como um êxito, o aproveitamento da 
competência, experiência e dos recursos 
humanos dos grupos mais velhos é 
assumido com naturalidade, como uma 
vantagem para o crescimento de 
sociedades humanas maduras e 
plenamente integradas” (Plano de Madri, 
Artigo 6º). 
 
Envelhecer, portanto, deve ser com saúde, 
de forma ativa, livre de qualquer tipo de 
dependência funcional, o que exige 
promoção da saúde em todas as idades. 
Importante acrescentar que muitos idosos 
brasileiros envelheceram e envelhecem 
apesar da falta de recursos e da falta de 
cuidados específicos de promoção e de 
prevenção em saúde. Entre esses estão 
os idosos que vivem abaixo da linha de 
pobreza, analfabetos, os seqüelados de 
acidentes de trabalho, os amputados por 
arteriopatias, os hemiplégicos, os idosos 
com síndromes demenciais, e para eles 
também é preciso achar respostas e ter 
ações específicas. 
 
São apresentadas abaixo as diretrizes da 
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa: 
a) promoção do envelhecimento ativo e 
saudável; 
 
b) atenção integral, integrada à saúde da 
pessoa idosa; 
 
c) estímulo às ações intersetoriais, visando 
à integralidade da atenção; 
 
d) provimento de recursos capazes de 
assegurar qualidade da atenção à saúde da 
pessoa idosa; 
 
e) estímulo à participação e 
fortalecimento do controle social; 
 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
f) formação e educação permanente dos 
profissionais de saúde do SUS na área de 
saúde da pessoa idosa; 
 
g) divulgação e informação sobre a Política 
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa para 
profissionais de saúde, gestores e usuários 
do SUS; 
 
h) promoção de cooperação nacional e 
internacional das experiências na atenção 
à saúde da pessoa idosa; e 
i) apoio ao desenvolvimento de estudos e 
pesquisas. 
 
3.1. Promoção do Envelhecimento Ativo e 
Saudável 
A promoção do envelhecimento ativo, isto 
é, envelhecer mantendo a capacidade 
funcional e a autonomia, é 
reconhecidamente a meta de toda ação 
de saúde. Ela permeia todas as ações 
desde o pré-natal até a fase da velhice. A 
abordagem do envelhecimento ativo 
baseia-se no reconhecimento dos direitos 
das pessoas idosas e nos princípios de 
independência, participação, dignidade, 
assistência e auto-realização 
determinados pela Organização das Nações 
Unidas (WHO, 2002). Para tanto é 
importante entender que as pessoas 
idosas constituem um grupo heterogêneo. 
Também será necessário vencer 
preconceitos e discutirmitos arraigados 
em nossa cultura. Os profissionais de 
saúde e a comunidade devem perceber 
que a prevenção e a promoção de saúde 
não é privilégio apenas dos jovens. A 
promoção não termina quando se faz 60 
anos e as ações de prevenção, sejam elas 
primárias, secundárias ou terciárias, devem 
ser incorporadas à atenção à saúde, em 
todas as idades. 
 
Envelhecimento bem-sucedido pode ser 
entendido a partir de seus três 
componentes: (a) menor probabilidade de 
doença; (b) alta capacidade funcional 
física e mental; e (c) engajamento social 
ativo com a vida (Kalache & Kickbush, 
1997; Rowe & Kahn, 1997; Healthy People 
2000). O Relatório Healthy People 2000 da 
OMS enfatiza em seus objetivos: 
aumentar os anos de vida saudável, 
reduzir disparidades na saúde entre 
diferentes grupos populacionais e 
assegurar o acesso a serviços 
preventivos de saúde. Além disso, é 
preciso incentivar e equilibrar a 
responsabilidade pessoal – cuidado consigo 
mesmo – ambientes amistosos para a 
faixa etária e solidariedade entre 
gerações. As famílias e indivíduos devem 
se preparar para a velhice, esforçando-se 
para adotar uma postura de práticas 
saudáveis em todas as fases da vida 
(OMS, 2002). 
 
Com a perspectiva de ampliar o conceito 
de “envelhecimento saudável”, a 
Organização Mundial da Saúde propõe 
“Envelhecimento Ativo: Uma Política de 
Saúde” (2005), ressaltando que o governo, 
as organizações internacionais e a 
sociedade civil devam implementar políticas 
e programas que melhorem a saúde, a 
participação e a segurança da pessoa 
idosa. Considerando o cidadão idoso não 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
mais como passivo, mas como agente das 
ações a eles direcionadas, numa 
abordagem baseada em direitos, que 
valorize os aspectos da vida em 
comunidade, identificando o potencial para 
o bem-estar físico, social e mental ao 
longo do curso da vida. 
 
Aproveitar todas as oportunidades para: 
a) desenvolver e valorizar o atendimento 
acolhedor e resolutivo à pessoa idosa, 
baseado em critérios de risco; 
b) informar sobre seus direitos, como ser 
acompanhado por pessoas de sua rede 
social (livre escolha) e quem são os 
profissionais que cuidam de sua saúde; 
 
c) valorizar e respeitar a velhice; 
 
d) estimular a solidariedade para com esse 
grupo etário; 
 
e) realizar ações de prevenção de 
acidentes no domicílio e nas vias públicas, 
como quedas e atropelamentos; 
 
f) realizar ações integradas de combate à 
violência doméstica e institucional contra 
idosos e idosas; 
 
g) facilitar a participação das pessoas 
idosas em equipamentos sociais, grupos de 
terceira idade, atividade física, conselhos 
de saúde locais e conselhos comunitários 
onde o idoso possa ser ouvido e 
apresentar suas demandas e prioridades; 
 
h) articular ações e ampliar a integração 
entre as secretarias municipais e as 
estaduais de saúde, e os programas locais 
desenvolvidos para a difusão da atividade 
física e o combate ao sedentarismo; 
 
i) promover a participação nos grupos 
operativos e nos grupos de convivência, 
com ações de promoção, valorização de 
experiências positivas e difusão dessas na 
rede, nortear e captar experiências; 
 
j) informar e estimular a prática de 
nutrição balanceada, sexo seguro, 
imunização e hábitos de vida saudáveis; 
 
k) realizar ações motivadoras ao abandono 
do uso de álcool, tabagismo e 
sedentarismo, em todos os níveis de 
atenção; 
 
l) promover ações grupais integradoras 
com inserção de avaliação, diagnóstico 
e tratamento da saúde mental da pessoa 
idosa; 
 
m) reconhecer e incorporar as crenças e 
modelos culturais dos usuários em seus 
planos de cuidado, como forma de 
favorecer a adesão e a eficiência dos 
recursos e tratamentos disponíveis; 
 
n) promover a saúde por meio de serviços 
preventivos primários, tais como a 
vacinação da população idosa, em 
conformidade com a Política Nacional de 
Imunização; 
 
o) estimular programas de prevenção de 
agravos de doenças crônicas não-
transmissíveis em indivíduos idosos; 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
 
p) implementar ações que contraponham 
atitudes preconceituosas e sejam 
esclarecedoras de que envelhecimento 
não é sinônimo de doença; 
 
q) disseminar informação adequada sobre 
o envelhecimento para os profissionais de 
saúde e para toda a população, em 
especial para a população idosa; 
r) implementar ações para reduzir 
hospitalizações e aumentar habilidades para 
o autocuidado dos usuários do SUS; 
 
s) incluir ações de reabilitação para a 
pessoa idosa na atenção primária de modo 
a intervir no processo que origina a 
dependência funcional; 
 
t) investir na promoção da saúde em 
todas as idades; e 
 
u) articular as ações do Sistema Único de 
Saúde com o Sistema Único de Assistência 
Social – SUAS. 
 
3.2. Atenção Integral e Integrada à Saúde 
da Pessoa Idosa 
A atenção integral e integrada à saúde da 
pessoa idosa deverá ser estruturada nos 
moldes de uma linha de cuidados, com 
foco no usuário, baseado nos seus 
direitos, necessidades, preferências e 
habilidades; estabelecimento de fluxos 
bidirecionais funcionantes, aumentando e 
facilitando o acesso a todos os níveis de 
atenção; providos de condições essenciais 
- infraestrutura física adequada, insumos 
e pessoal qualificado para a boa qualidade 
técnica. 
 
Instrumentos gerenciais baseados em 
levantamento de dados sobre a capacidade 
funcional (inventários funcionais) e sócio-
familiares da pessoa idosa deverão ser 
implementados pelos gestores municipais e 
estaduais do SUS, para que haja a 
participação de profissionais de saúde e 
usuários na construção de planos locais de 
ações para enfrentamento das 
dificuldades inerentes à complexidade de 
saúde da pessoa idosa. 
 
Incorporação, na atenção básica, de 
mecanismos que promovam a melhoria da 
qualidade e aumento da resolutividade da 
atenção à pessoa idosa, com envolvimento 
dos profissionais da atenção básica e das 
equipes do Saúde da Família, incluindo a 
atenção domiciliar e ambulatorial, com 
incentivo à utilização de instrumentos 
técnicos validados, como de avaliação 
funcional e psicossocial. 
 
Incorporação, na atenção especializada, de 
mecanismos que fortaleçam a atenção à 
pessoa idosa: reestruturação e 
implementação das Redes Estaduais de 
Atenção à Saúde da Pessoa Idosa, visando 
a integração efetiva com a atenção 
básica e os demais níveis de atenção, 
garantindo a integralidade da atenção, por 
meio do estabelecimento de fluxos de 
referência e contra-referência; e 
implementando de forma efetiva 
modalidades de atendimento que 
correspondam às necessidades da 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
população idosa, com abordagem 
multiprofissional e interdisciplinar, sempre 
que possível. Contemplando também fluxos 
de retaguarda para a rede hospitalar e 
demais especialidades, disponíveis no 
Sistema Único de Saúde. 
 
A prática de cuidados às pessoas idosas 
exige abordagem global, interdisciplinar e 
multidimensional, que leve em conta a 
grande interação entre os fatores físicos, 
psicológicos e sociais que influenciam a 
saúde dos idosos e a importância do 
ambiente no qual está inserido. A 
abordagem também precisa ser flexível e 
adaptável às necessidades de uma clientela 
específica. A identificação e o 
reconhecimento da rede de suporte social 
e de suas necessidades também faz parte 
da avaliação sistemática, objetivando 
prevenir e detectar precocemente o 
cansaço das pessoas que cuidam. As 
intervenções devem ser feitas e 
orientadas com vistas à promoção da 
autonomia e independência da pessoa 
idosa, estimulando-a para o auto-cuidado. 
Grupos de auto-ajuda entre as pessoas 
que cuidam devem ser estimulados. 
 
Uma abordagem preventiva e uma 
intervenção precoce são sempre 
preferíveis às intervenções curativas 
tardias. Para tanto, é necessária a 
vigilância de todos os membros da equipe 
de saúde, a aplicação de instrumentos de 
avaliação e de testes de triagem, para 
detecção de distúrbios cognitivos, visuais, 
de mobilidade, de audição,de depressão e 
do comprometimento precoce da 
funcionalidade, dentre outros. 
 
O modelo de atenção à saúde baseado na 
assistência médica individual não se mostra 
eficaz na prevenção, educação e 
intervenção, em questões sociais, ficando 
muitas vezes restritas às complicações 
advindas de afecções crônicas. A cada 
etapa de intervenção os profissionais 
deverão considerar os anseios do idoso e 
de sua família. Pressupondo-se troca de 
informações e negociação das 
expectativas de cada um, levando-se em 
consideração elementos históricos do 
paciente, seus recursos individuais e 
sociais e aqueles da rede de suporte social 
disponível no local. 
 
O modelo de atenção à saúde baseado na 
assistência médica individual não se mostra 
eficaz na prevenção, educação e 
intervenção, em questões sociais, ficando 
muitas vezes restritas às complicações 
advindas de afecções crônicas. A cada 
etapa de intervenção os profissionais 
deverão considerar os anseios do idoso e 
de sua família. Pressupondo-se troca de 
informações e negociação das 
expectativas de cada um, levando-se em 
consideração elementos históricos do 
paciente, seus recursos individuais e 
sociais e aqueles da rede de suporte social 
disponível no local. 
 
Um dos instrumentos gerenciais 
imprescindíveis é a implementação da 
avaliação funcional individual e coletiva. A 
partir da avaliação funcional coletiva 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
determina-se a pirâmide de risco funcional, 
estabelecida com base nas informações 
relativas aos critérios de risco da 
população assistida pelas Unidades Básicas 
de Saúde (UBS) de cada município. 
Verifica-se como está distribuída a 
população adscrita à equipe do Saúde da 
Família, com base no inventário de risco 
funcional. Nos municípios que não dispõem 
da Estratégia Saúde da Família, as equipes 
das UBS poderão ser responsáveis por 
esse levantamento e acompanhamento. 
Assim, é possível conhecer qual a 
proporção de idosos que vivem em 
Instituições de Longa Permanência para 
Idosos, a proporção daqueles com alta 
dependência funcional – acamados –, a 
proporção dos que já apresentam alguma 
incapacidade funcional para atividades 
básicas da vida diária (AVD) – como tomar 
banho, vestir-se, usar o banheiro, 
transferir-se da cama para a cadeira, ser 
continente e alimentar-se com a própria 
mão – e qual a proporção de idosos 
independentes. 
 
Considera-se o idoso independente aquele 
que é capaz de realizar sem dificuldades e 
sem ajuda todas as atividades de vida diária 
citadas acima. Esses idosos comporão a 
base da pirâmide. 
 
Indivíduos idosos, mesmo sendo 
independentes, mas que apresentem 
alguma dificuldade nas atividades 
instrumentais de vida diária (AIVD) – 
preparar refeições, controlar a própria 
medicação, fazer compras, controlar o 
próprio dinheiro, usar o telefone, fazer 
pequenas tarefas e reparos domésticos e 
sair de casa sozinho utilizando uma 
condução coletiva –, são considerados 
idosos com potencial para desenvolver 
fragilidade e por isso merecerão atenção 
específica pelos profissionais de saúde e 
devem ser acompanhados com maior 
frequência. 
 
Considera-se idoso frágil ou em situação 
de fragilidade aquele que: vive em ILPI, 
encontra-se acamado, esteve 
hospitalizado recentemente por qualquer 
razão, apresente doenças sabidamente 
causadoras de incapacidade funcional – 
acidente vascular encefálico, síndromes 
demenciais e outras doenças 
neurodegenerativas, etilismo, neoplasia 
terminal, amputações de membros –, 
encontra-se com pelo menos uma 
incapacidade funcional básica, ou viva 
situações de violência doméstica. Por 
critério etário, a literatura estabelece que 
também é frágil o idoso com 75 anos ou 
mais de idade. Outros critérios poderão ser 
acrescidos ou modificados de acordo com 
as realidades locais. 
 
Uma vez conhecida a condição de 
fragilidade, será necessário avaliar os 
recursos locais para lidar com ela, de modo 
a facilitar o cuidado domiciliar, incluir a 
pessoa que cuida no ambiente familiar 
como um parceiro da equipe de cuidados, 
fomentar uma rede de solidariedade para 
com o idoso frágil e sua família, bem 
como promover a reinserção da parcela 
idosa frágil na comunidade. 
 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
De acordo com a condição funcional da 
pessoa idosa serão estabelecidas ações de 
atenção primária, de prevenção – primária, 
secundária e terciária –, de reabilitação, 
para a recuperação da máxima autonomia 
funcional, prevenção do declínio funcional, 
e recuperação da saúde. Estarão incluídas 
nessas ações o controle e a prevenção de 
agravos de doenças crônicas não-
transmissíveis. 
 
Todo profissional deve procurar promover 
a qualidade de vida da pessoa idosa, quando 
chamado a atendê-la. É importante viver 
muito, mas é fundamental viver bem. 
Preservar a autonomia e a independência 
funcional das pessoas idosas deve ser a 
meta em todos os níveis de atenção. 
Ficam estabelecidos, portanto, os dois 
grandes eixos norteadores para a 
integralidade de ações: o enfrentamento 
de fragilidades, da pessoa idosa, da família 
e do sistema de saúde; e a promoção da 
saúde e da integração social, em todos os 
níveis de atenção. 
 
3.3. Estímulo às Ações Intersetoriais, 
visando à Integralidade da Atenção 
A prática da intersetorialidade pressupõe o 
reconhecimento de parceiros e de órgãos 
governamentais e não-governamentais 
que trabalham com a população idosa. A 
organização do cuidado intersetorial a essa 
população evita duplicidade de ações, 
corrige distorções e potencializa a rede de 
solidariedade. 
 
As ações intersetoriais visando à 
integralidade da atenção à saúde da 
pessoa idosa devem ser promovidas e 
implementadas, considerando as 
características e as necessidades locais. 
 
3.4. Provimento de Recursos Capazes de 
Assegurar Qualidade da Atenção à Saúde 
da Pessoa Idosa 
Deverão ser definidas e pactuadas com os 
estados, o Distrito Federal e os municípios 
as formas de financiamento que ainda não 
foram regulamentadas, para 
aprimoramento da qualidade técnica da 
atenção à saúde prestada à pessoa idosa. 
Os mecanismos e os fluxos de 
financiamento devem ter por base as 
programações ascendentes de estratégias 
que possibilitem a valorização do cuidado 
humanizado ao indivíduo idoso. Abaixo são 
apresentados os itens prioritários para a 
pactuação: 
 
a) provimento de insumos, de suporte em 
todos os níveis de atenção, 
prioritariamente na atenção domiciliar 
inclusive medicamentos; 
 
b) provimento de recursos para 
adequação de estrutura física dos 
serviços próprios do SUS; 
 
c) provimento de recursos para ações de 
qualificação e de capacitação de recursos 
humanos, e incremento da qualidade 
técnica dos profissionais de saúde do SUS 
na atenção à pessoa idosa; 
 
d) produção de material de divulgação e 
informativos sobre a Política Nacional de 
Saúde da Pessoa Idosa, normas técnicas e 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
operacionais, protocolos e manuais de 
atenção, para profissionais de saúde, 
gestores e usuários do SUS; 
 
e) implementação de procedimento 
ambulatorial específico para a avaliação 
global do idoso; e 
 
f) determinação de critérios mínimos de 
estrutura, processo e resultados, com 
vistas a melhorar o atendimento à 
população idosa, aplicáveis às unidades de 
saúde do SUS, de modo que a adequação a 
esses critérios seja incentivada e mereça 
reconhecimento. 
 
3.5. Estímulo à Participação e 
Fortalecimento do Controle Social 
Deve-se estimular a inclusão nas 
Conferências Municipais e Estaduais de 
Saúde de temas relacionados à atenção à 
população idosa, incluindo o estímulo à 
participação de cidadãos e cidadãs idosos 
na formulação e no controle social das 
ações deliberadas nessas Conferências. 
 
Devem ser estimulados e implementados 
os vínculos dos serviços de saúde com os 
seus usuários, privilegiando os núcleos 
familiares e comunitários, criando, assim, 
condições para uma efetiva participação e 
controle social da parcela idosa da 
população.3.6. Divulgação e Informação sobre a 
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa 
para Profissionais de Saúde, Gestores e 
Usuários do SUS 
 
As medidas a serem adotadas buscarão: 
a) incluir a PNSPI na agenda de atividades 
da comunicação social do SUS; 
 
b) produzir material de divulgação, tais 
como cartazes, cartilhas, folhetos e 
vídeos; 
 
c) promover ações de informação e 
divulgação da atenção à saúde da pessoa 
idosa, respeitando as especificidades 
regionais e culturais do País e direcionadas 
aos trabalhadores, aos gestores, aos 
conselheiros de saúde, bem como aos 
docentes e discentes da área de saúde e 
à comunidade em geral; 
 
d) apoiar e fortalecer ações inovadoras 
de informação e divulgação sobre a 
atenção à saúde da pessoa idosa em 
diferentes linguagens culturais; 
 
e) identificar, articular e apoiar 
experiências de educação popular, 
informação e comunicação em atenção à 
saúde da pessoa idosa; e 
 
f) prover apoio técnico e/ou financeiro a 
projetos de qualificação de profissionais 
que atuam na Estratégia Saúde da Família 
e no Programa de Agentes Comunitários 
de Saúde, para atuação na área de 
informação, comunicação e educação 
popular em atenção à saúde da pessoa 
idosa. 
 
3.7. Promoção de Cooperação Nacional e 
Internacional das Experiências na Atenção à 
Saúde da Pessoa Idosa 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
Devem-se fomentar medidas que visem à 
promoção de cooperação nacional e 
internacional das experiências bem-
sucedidas na área do envelhecimento, no 
que diz respeito à atenção à saúde da 
pessoa idosa, à formação técnica, à 
educação em saúde e a pesquisas. 
 
3.8. Apoio ao Desenvolvimento de Estudos 
e Pesquisas 
Apoiar o desenvolvimento de estudos e 
pesquisas que avaliem a qualidade e 
aprimorem a atenção de saúde à pessoa 
idosa. Identificar e estabelecer redes de 
apoio com instituições formadoras, 
associativas e representativas, 
universidades, faculdades e órgãos públicos 
nas três esferas, visando: 
 
a) fomentar pesquisas em envelhecimento 
e saúde da pessoa idosa; 
 
b) identificar e apoiar estudos/pesquisas 
relativos ao envelhecimento e à saúde da 
pessoa idosa existentes no Brasil, com o 
objetivo de socializar, divulgar e embasar 
novas investigações; 
 
c) criar banco de dados de pesquisadores 
e pesquisas em envelhecimento e saúde 
da pessoa idosa realizadas no Brasil, 
interligando-o com outros bancos de 
abrangência internacional; 
 
d) identificar e divulgar as potenciais linhas 
de financiamento – Ministério da Ciência e 
Tecnologia, Fundações Estaduais de 
Amparo à Pesquisa, terceiro setor e 
outros – para a pesquisa em 
envelhecimento e saúde da pessoa idosa; 
 
e) apoiar a realização de estudo sobre 
representações sociais, junto a usuários e 
profissionais de saúde sobre a saúde da 
pessoa idosa; 
 
f) priorizar as linhas de pesquisas em 
envelhecimento e saúde da pessoa idosa a 
serem implementadas pelo SUS, visando o 
aprimoramento e a consolidação da 
atenção à saúde da pessoa idosa no SUS; 
e 
 
g) implementar um banco de dados 
nacional com resultados de avaliação 
funcional da população idosa brasileira. 
 
4. Responsabilidades Institucionais 
Caberá aos gestores do SUS, em todos os 
níveis, de forma articulada e conforme 
suas competências específicas, prover os 
meios e atuar para viabilizar o alcance do 
propósito desta Política Nacional de Saúde 
da Pessoa Idosa. 
 
4.1. Gestor Federal 
a) elaborar normas técnicas referentes à 
atenção à saúde da pessoa idosa no SUS; 
 
b) definir recursos orçamentários e 
financeiros para a implementação desta 
Política, considerando que o financiamento 
do Sistema Único de Saúde é de 
competência das três esferas de 
governo; 
 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
c) estabelecer diretrizes para a 
qualificação e educação permanente em 
saúde da pessoa idosa; 
 
d) manter articulação com os estados e 
municípios para apoio à implantação e 
supervisão das ações; 
 
e) promover articulação intersetorial para 
a efetivação desta Política Nacional; 
 
f) estabelecer instrumentos e indicadores 
para o acompanhamento e avaliação do 
impacto da implantação/implementação 
desta Política; 
 
g) divulgar a Política Nacional de Saúde da 
Pessoa Idosa; e 
 
h) estimular pesquisas nas áreas de 
interesse do envelhecimento e da atenção 
à saúde da pessoa idosa, nos moldes do 
propósito e das diretrizes desta Política. 
 
4.2. Gestor Estadual 
a) elaborar normas técnicas referentes à 
atenção à saúde da pessoa idosa no SUS; 
 
b) definir recursos orçamentários e 
financeiros para a implementação desta 
Política, considerando que o financiamento 
do Sistema Único de Saúde é de 
competência das três esferas de 
governo; 
 
c) Discutir e pactuar na Comissão 
Intergestores Bipartite (CIB) as estratégias 
e metas a serem alcançadas por essa 
Política a cada ano; 
 
d) promover articulação intersetorial para 
a efetivação da Política; 
 
e) implementar as diretrizes da educação 
permanente e qualificação em 
consonância com a realidade loco regional; 
 
f) estabelecer instrumentos e indicadores 
para o acompanhamento e a avaliação do 
impacto da implantação/implementação 
desta Política; 
 
g) manter articulação com municípios para 
apoio à implantação e supervisão das 
ações; 
 
h) divulgar a Política Nacional de Saúde da 
Pessoa Idosa; 
 
i) exercer a vigilância sanitária no tocante 
a Saúde da Pessoa Idosa e a ações 
decorrentes no seu âmbito; e 
 
j) apresentar e aprovar proposta de 
inclusão da Política Nacional de Saúde da 
Pessoa Idosa no Conselho Estadual de 
Saúde. 
 
4.3. Gestor Municipal: 
a) elaborar normas técnicas referentes à 
atenção à saúde da pessoa idosa no SUS; 
 
b) definir recursos orçamentários e 
financeiros para a implementação desta 
Política, considerando que o financiamento 
do Sistema Único de Saúde é de 
competência das três esferas de 
governo; 
 
Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 
 
c) discutir e pactuar na Comissão 
Intergestores Bipartite (CIB) as estratégias 
e metas a serem alcançadas por essa 
Política a cada ano; 
 
d) promover articulação intersetorial para 
a efetivação da Política; 
e) estabelecer mecanismos para a 
qualificação dos profissionais do sistema 
local de saúde; 
 
f) estabelecer instrumentos de gestão e 
indicadores para o acompanhamento e a 
avaliação do impacto da 
implantação/implementação da Política; 
 
g) divulgar a Política Nacional de Saúde da 
Pessoa Idosa; e 
 
h) apresentar e aprovar proposta de 
inclusão da Política de Saúde da Pessoa 
Idosa no Conselho Municipal de Saúde. 
 
5. Articulação Intersetorial 
As diretrizes aqui definidas implicam o 
desenvolvimento de um amplo conjunto de 
ações, que requerem o compartilhamento 
de responsabilidades com outros setores. 
Nesse sentido, os gestores do SUS 
deverão estabelecer, em suas respectivas 
áreas de abrangência, processos de 
articulação permanente, visando ao 
estabelecimento de parcerias e a 
integração institucional que viabilizem a 
consolidação de compromissos multilaterais 
efetivos. Será buscada, igualmente, a 
participação de diferentes segmentos da 
sociedade, que estejam diretas ou 
indiretamente relacionadas com a 
presente Política. No âmbito federal, o 
Ministério da Saúde articulará com os 
diversos setores do Poder Executivo em 
suas respectivas competências, de modo a 
alcançar os objetivos a seguir explicitados. 
 
5.1. Educação 
a) inclusão nos currículos escolares de 
disciplinas que abordem o processo do 
envelhecimento, a desmistificação da 
senescência, como sendo diferente de 
doença ou de incapacidade, valorizando a 
pessoa idosa e divulgando as medidas de 
promoção e prevenção de saúde em todas 
as faixas etárias; 
 
b) adequação de currículos, metodologias e 
material didático de formação de 
profissionais na área da saúde, visando ao 
atendimento das diretrizes fixadas nesta 
Política; 
 
c) incentivo à criação de Centros 
Colaboradores de Geriatria e Gerontologia 
nas instituições de ensino superior, que 
possam atuar de forma integrada

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