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Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) Tutoria UC 8 Processo de Envelhecimento – Problema 1 Contextualizar os conceitos de transição demográfica e epidemiológica nas dimensões mundial, nacional, estadual e local; População idosa brasileira Um indivíduo envelhece à medida que a sua idade aumenta. Este é um processo irreversível, natural e individual. É acompanhado por perdas progressivas de função e de papéis sociais, um processo único que depende de capacidades básicas, adquiridas e do meio ambiente. Pode ser medido pela esperança de vida ao nascer. Já o envelhecimento populacional ocorre quando aumenta a participação de idosos no total da população. É acompanhado pelo aumento da idade média da população, um processo que pode ser revertido se a fecundidade aumentar. Sob o ponto de vista demográfico, o envelhecimento populacional é o resultado da manutenção, por um período razoavelmente longo, de taxas de crescimento da população idosa superiores às da população mais jovem. Isso implica uma mudança nas proporções dos diversos grupos etários no total da população. Ressalta-se que o processo do envelhecimento é muito mais amplo do que uma modificação de proporções de determinada população, pois altera a vida dos indivíduos, as estruturas familiares, a demanda por políticas públicas e a distribuição de recursos na sociedade. Para se entender o processo de envelhecimento da população brasileira, o primeiro passo é definir o que se considera como população idosa. 5 O que se pode dizer é que essa população vive a última fase da vida e é constituída por pessoas com “muita idade”. Assume-se que a idade avançada acarreta vulnerabilidades físicas, cognitivas e mentais; agravamento de doenças crônicas e degenerativas; perda de papéis sociais com a retirada da atividade econômica; aparecimento de novos papéis (ser avós), de rugas e cabelos brancos; perda de cônjuges, parentes e amigos; inversão de papéis parentais e proximidade da morte etc. Logo, são mudanças físicas e de papéis sociais. Embora se reconheça que muitos desses processos caracterizam essa fase, sabe-se que a delimitação do seu início é difícil, pois é afetado por condições sociais, econômicas, regionais, culturais, étnicas e de gênero. A associação entre velhice e fragilidade física e econômica começou a ganhar força a partir da segunda metade do século 19 (Tavares, 2015). Para Monteiro Lobato (1930), é a “idade dos reumatismos”. 6 Isso pode estar associado ao aumento do número de pessoas que sobrevivem às idades avançadas. O resultado é um grupo mais heterogêneo, tanto do ponto de vista físico quanto Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) social, e o aparecimento da velhice como uma nova categoria cultural e social, associada a imagens negativas (Debert, 1999). Ressalta-se que as características da velhice não dizem respeito apenas ao que acontece com o corpo. Acredita-se que “ser idoso” identifica não somente indivíduos em determinado ponto do ciclo de vida orgânico, mas também em certo ponto do curso de vida social, pois a classificação de “idoso” situa as pessoas em diversas esferas da vida social, tais como no trabalho, na família etc. Assume- se que as representações da velhice, bem como a posição social dos velhos na sociedade, são categorias históricas e socialmente determinadas (Camarano e Medeiros, 1999), ou seja, a “dependência” extrapola os aspectos puramente biológicos. É resultado, também, de uma particular divisão do trabalho e da estrutura social. Nas sociedades industriais, a “independência” e o papel social do indivíduo são associados não só à sua participação no mercado de trabalho, mas também à sua produtividade (Camarano e Medeiros, 1999). Dado isso, a “dependência” pode conter um componente socialmente construído por meio dos paradigmas negativos da população idosa, como o de discriminação no mercado de trabalho. Muitas vezes as políticas reforçam esta dependência (Walker, 1991). No caso de alguns países, como o Brasil, essa discriminação é expressa, entre outras formas, com elementos de controle social, como a aposentadoria compulsória. Aceitando que é a idade que define essa fase da vida, o Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso definem como população idosa a de 60 anos ou mais. No entanto, esta fase da vida também se prolongou. A esperança de vida aos 60 anos aumentou aproximadamente 5 anos entre 1980 e 2013, passando de 16,7 para 21,1 anos. 8 Isso significa que a partir dos 60 anos iniciase uma fase da vida mais longa que a infância e a adolescência juntas, que não é mais vivenciada apenas por uma minoria. A extensão dessa fase e a sua irreversibilidade foi percebida por Millôr Fernandes (1994): “A infância não, a infância dura pouco. A juventude não, a juventude é passageira. A velhice sim. Quando um homem fica velho é para o resto da vida e cada dia fica mais velho.” Essa definição resulta em uma heterogeneidade do segmento considerado idoso, já que aí estão incluídas pessoas de 60 a 100 anos. Além disso, ela é acentuada pela constatação de que este segmento experimentou ao longo da vida trajetórias diferenciadas que vão afetar a sua velhice, as quais são fortemente marcadas pelas desigualdades sociais, regionais e raciais em curso no país. As políticas sociais podem reforçar essas desigualdades ou atenuálas, bem como os mitos, estereótipos e preconceitos em relação à população idosa. Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) Em geral, o processo de envelhecimento populacional se inicia com a queda da fecundidade, que leva a uma redução na proporção da população jovem e a um consequente aumento na proporção da população idosa. Neste caso, está se falando do envelhecimento pela base. A redução da mortalidade infantil acarreta um rejuvenescimento da população, dada a maior sobrevivência das crianças. Por outro lado, a diminuição da mortalidade nas idades mais avançadas contribui para que esse segmento populacional, que passou a ser mais representativo no total da população, sobreviva por períodos mais longos, resultando no envelhecimento pelo topo. Este altera a composição etária dentro do próprio grupo, ou seja, a população idosa também envelhece. No caso brasileiro, observasse que a proporção da população muito idosa, ou seja, a de 80 anos ou mais no total da população brasileira também está aumentando e em ritmo bastante acelerado. Esse tem sido o segmento populacional que mais cresce, embora ainda apresente um contingente pequeno. De 170,7 mil pessoas em 1940, o contingente muito idoso passou para 2,9 milhões em 2010. Representava 14,3% da população idosa em 2010 e 1,5% da população total. Dada a alta fecundidade do período entre 19501970 e a redução contínua da mortalidade, especialmente nas idades avançadas, esperase que este contingente alcance, em 2050, um total de 13,3 milhões, o que significará 6,5% da população total e 19,6% da população idosa. 9 As taxas de mortalidade nas idades avançadas desempenharão um papel muito importante nesse crescimento, pois são dependentes do avanço da tecnologia médica e do acesso aos serviços de saúde. O envelhecimento pelo topo é mais expressivo entre as mulheres, haja vista a maior mortalidade masculina (Figura 5.1). É consenso que a população muito idosa é a mais exposta a doenças e agravos crônicos não transmissíveis, muitos deles culminando em sequelas limitantes de um bom desempenho funcional, o que acarreta situações de dependência e, consequente, necessidades de cuidados. A Figura 5.2 ilustra isso, apresentando a taxa de prevalência por demência, a proporção de idosos com dificuldades para a vida diária e a proporção de idosos que residem em casa de parentes. Justificasse a inclusão desta última por ser um indicativo de saída de casa para busca de cuidados familiares, o que poderia caracterizar uma “dependência”em relação à família. As três proporções crescem acentuadamente com a idade, o que leva a se supor que, mesmo que as taxas de prevalência não aumentem ou diminuam, a população afetada crescerá acentuadamente. É o que mostra a Figura 5.3, que apresenta Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) uma projeção do número de demenciados por idade. O que se pode esperar, portanto, é um aumento da população que demandará cuidados, o que pode vir acompanhado de um tempo maior passado na condição de demandantes de cuidados. De acordo com Jacobzone (1999), com base nos dados disponíveis para os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os indivíduos vivem em média entre 2 e 4 anos dependentes de cuidados mais intensivos no final de suas vidas. Esse crescimento expressivo da população em idade mais avançada ocorre em um contexto de transformações estruturais acentuadas nas famílias, decorrentes de mudanças na nupcialidade, da queda da fecundidade e do ingresso maciço das mulheres no mercado de trabalho. Este último aspecto afetou os contratos tradicionais de gênero, em que a mulher era a cuidadora e o homem, provedor. Hoje, a mulher brasileira está assumindo cada vez mais o papel de provedora; a sua renda foi responsável por cerca de 40% da renda das famílias brasileiras em 2013, mas ela ainda mantém a responsabilidade pelo cuidado dos membros dependentes. Essas mudanças afetam substancialmente a capacidade de as famílias ofertarem cuidado à população idosa. Feminização da velhice Em 2010, dos aproximados 20,6 milhões de idosos, 55,5% eram do sexo feminino. Como será visto na seção seguinte, a menor mortalidade da população feminina explica esse diferencial na composição por sexo e faz com que a população feminina cresça a taxas mais elevadas do que a masculina. Como consequência, quanto mais velho for o contingente estudado, maior será a proporção de mulheres (Figura 5.4). Isso leva à constatação de que “o mundo dos muito idosos é um mundo das mulheres” (Carstensen e Pasupathi, apud Goldani, 1999). No Brasil, a predominância feminina entre os idosos é um fenômeno tipicamente urbano; nas áreas rurais, predominam os homens. A maior participação das mulheres no fluxo migratório rural urbano explica essa diferença (Camarano e Abramovay, 1998; Camarano, 2003 e Bercovich, 1993). Isso implica necessidades distintas de cuidados para a população idosa. Por Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) exemplo, a literatura sugere que a predominância masculina nas áreas rurais pode resultar em isolamento e abandono das pessoas idosas (Camarano et al., 2004; Saad, 1999 e 2004). De acordo com LloydSherlock (2004), mesmo que a velhice não seja universalmente feminina, tem forte componente de gênero. Por exemplo, mulheres idosas experimentam maior probabilidade de ficarem viúvas e, muitas vezes, em situação socioeconômica desvantajosa. Além disso, embora vivam mais do que os homens, passam por um período maior de debilitação física antes da morte do que eles (Nogales, 1998; Camarano et al., 2007), o que as torna mais dependentes de cuidado, apesar de serem as tradicionais cuidadoras. O cuidado com membros dependentes da família é determinado pelas trocas intergeracionais e apresenta fortes características de gênero (Camarano, 2005). Cuidar de netos é, em geral, visto como uma extensão do trabalho doméstico feminino. No Brasil, é relativamente elevada a proporção de mulheres morando sozinhas, aproximadamente 18% em 2013, e de residentes na casa de outros parentes, 13%. 10 Também predominam entre os residentes nas instituições de longa permanência; constituem aproximadamente 57,6% do total (Camarano et al., 2010). Por outro lado, as mulheres, mais do que os homens, participam de atividades extradomésticas, de organizações e movimentos de mulheres, fazem cursos especiais, viagens e trabalho remunerado temporário. Diferentemente do que fizeram na sua vida adulta, progressivamente assumem o papel de chefes de família e de provedoras (Camarano, 2003). Já homens mais velhos têm maiores dificuldades de se adaptarem à saída do mercado de trabalho (Goldani, 1999; Simões, 2004). EPIDEMIOLOGIA A quantas anda a saúde dos idosos no Brasil? A análise da mortalidade deste grupo populacional, por paradoxal que seja, oferece valiosas informações sobre suas condições e hábitos de vida. Em virtude da estreita correlação entre fatores demográficos, epidemiológicos e socioeconômicos, é possível explorar as múltiplas questões relacionadas aos óbitos e inferir as razões pelas quais eles ocorreram. “Razão” e “causa básica do óbito” são conceitos distintos: um idoso jovem só irá falecer por um adenocarcinoma do intestino (causa básica) se não teve oportunidade de realizar o rastreamento adequado ao longo da sua vida (razão). Em uma perspectiva populacional, a razão da drástica redução da mortalidade infantil ocorrida no Brasil entre as décadas de Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) 1940 e 1970 foi o controle de doenças infecciosas pela incorporação de novas tecnologias de saúde (antibióticos, terapia de reidratação oral) às políticas públicas. Sem a contrapartida do desenvolvimento socioeconômico, entretanto, as dezenas de milhões de crianças nascidas neste período de elevada fecundidade cresceram em uma conjuntura de desigualdade social, marcada pela elevada mortalidade por causas externas (homicídios e acidentes), especialmente entre os homens. Os sobreviventes das coortes de 19401970 têm hoje entre 45 e 75 anos e representam 25% da população. A maioria deles envelheceu cultivando hábitos de vida deletérios – especialmente os homens – e não têm acesso adequado às tecnologias de saúde para prevenção de doenças. Esta sobre mortalidade masculina durante a vida adulta é determinante do processo de feminização do envelhecimento. Em 2014, para cada 100 mulheres com idade entre 40 e 49 anos, 60 e 69 anos e 80 ou mais havia, respectivamente, 92, 85 e 55 homens (Figura 6.1). Analisar a mortalidade de “idosos”, portanto, requer um olhar diferenciado por gênero. A proporção de mulheres idosas que alcança idades mais avançadas também é superior à dos homens. Em 2013, 36% das mulheres, mas apenas 21% dos homens completaram 80 anos antes de morrer (Figura 6.2). Uma mulher que completou 80 anos em 2015 deverá viver em média mais 10 anos, enquanto um homem deverá viver mais 8 anos (Figura 6.3). Em 2030 esta sobrevida será de 11 e 10 anos, respectivamente. O aumento da expectativa de vida de idosos é muito importante: questões de saúde de octogenários são tão diferentes daquelas de idosos jovens quanto questões de saúde de recémnascidos são diferentes das de crianças de 5 a 10 anos. Do mesmo modo que não é adequado se referir aos “idosos”, agrupando os idosos mais jovens e mais velhos, não é razoável se referir aos “idosos brasileiros”. Variações regionais (que refletem diferenças socioeconômicas e de acesso aos cuidados à saúde) são muito significativas no país. Afirmar que em 2013 “34% dos brasileiros conseguiram completar 85 anos antes de morrer” pressupõe mesclar números tão díspares quanto os de Rondônia (23%) e Santa Catarina (40%). O próprio processo de transição epidemiológica segue ritmos Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) diferentes: os óbitos causados por neoplasias representavam ainda apenas 11% do total no Maranhão, mas 21% em Santa Catarina; os óbitos por causas externas alcançavam ainda 18% do total em Alagoas, mas já haviam sido reduzidos para metade deste número em São Paulo. As informações mais confiáveis sobre óbitos no Brasil derivam de um sistema de vigilância epidemiológica nacional, o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.Para os óbitos de adultos, e principalmente de idosos, a cobertura do SIM é mais abrangente do que as do Registro Civil (Carvalho, 2015) e em 2011 ultrapassou 96% dos óbitos projetados pelo IBGE. Um obstáculo comum à análise das causas de morte é o grande número de atestados de óbitos preenchidos com informações pouco específicas, como os óbitos por “tosse” ou “dor abdominal”. Estes óbitos são agrupados em um capítulo denominado “Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório não classificados em outra parte” (SSAAECL). Entretanto, a qualidade da informação sobre os óbitos vem aumentando, haja vista que estão em queda os percentuais destes óbitos cuja causa básica não foi bem definida (5,9% em 2013). Dentre o total de óbitos por causas externas (6,5% em 2013), também vem caindo a proporção de “óbitos com intenção indeterminada”, sobre os quais não se conhecem as circunstâncias. Neste capítulo iremos caracterizar a mortalidade de idosos no Brasil para analisar suas razões: inferir sobre os hábitos de vida desta coorte e as oportunidades de acesso que tiveram à assistência à saúde. Serão apresentados inicialmente os dados relativos à evolução da mortalidade proporcional por idade e por grandes grupos de causas nas últimas décadas. Em seguida, para o aprofundamento da análise, serão apresentadas as taxas de mortalidade específicas por sexo de idosos jovens e mais velhos, utilizando os dados populacionais (IBGE, 2013) e de mortalidade de 2013 (Brasil, 2016). O processo de envelhecimento da população brasileira, em função do declínio da fecundidade em algumas regiões mais desenvolvidas do Brasil, é conhecido desde a década de 1960. As PNAD’s (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) da década de 70 passaram a demonstrar que o fenômeno se estendia paulatinamente às demais regiões brasileiras, tanto nas áreas urbanas quanto rurais, e a todas as classes sociais (CHAIMOWICZ, 1997). No período de 1960 a 1991, a taxa de fecundidade total apresentou uma redução superior a 50% e o índice de Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) envelhecimento da população, que era igual a 11,2% em 1960, alcançou 44,8% no ano de 2010. No início, os decréscimos nas taxas reprodutivas reduziram a proporção de jovens e aumentaram a de idosos, em seguida ocorreu um decréscimo nas taxas de mortalidade de pessoas adultas e idosas e, a proporção delas em relação à população como um todo aumentou ainda mais. Esse processo dinâmico no comportamento populacional tem sido chamado de transição epidemiológica por alguns ou demográfica por outros (KALACHE, VERAS e RAMOS, 1987). Segundo os autores essa transição ocorre em quatro estágios, sendo que no primeiro a mortalidade é concentrada nos primeiros anos de vida (grande percentagem da população é jovem); no segundo a mortalidade decresce e as taxas de crescimento aumentam ou se mantêm elevadas (percentagem de jovens na população aumenta); no terceiro momento, as taxas de fertilidade decrescem e a mortalidade continua a cair (aumento da percentagem de adultos jovens, e progressivamente de pessoas idosas) e no último estágio, a mortalidade em todos os grupos etários continua a cair (aumento contínuo na percentagem de idosos na população). Agora, na segunda década do século XXI, o cenário contempla os governos nas esferas municipal, estadual e federal, ainda com dificuldades para o enfrentamento de desafios como o controle de doenças transmissíveis ou de dedicar-se a estratégias para a efetiva prevenção e tratamento das doenças crônicodegenerativas e suas complicações. Em um contexto de importantes desigualdades regionais e sociais, idosos não encontram amparo adequado no sistema público de saúde e previdência, acumulam sequelas daquelas doenças, desenvolvem incapacidades e perdem autonomia e qualidade de vida (CHAIMOWICZ, 1997). Diante do fenômeno do envelhecimento da população brasileira, existe a premente necessidade de estruturação de serviços e de programas de saúde que possam responder às demandas emergentes do novo perfil epidemiológico do país (SIQUEIRA, CORDEIRO, et al., 2004), pois os idosos utilizam os serviços hospitalares de maneira mais intensiva que os demais grupos etários, envolvendo maiores custos, implicando no tratamento de duração mais prolongada e de recuperação mais lenta e complicada (COELHO FILHO , 2000). O conceito de transição epidemiológica refere-se às mudanças ocorridas, no tempo, nos padrões de morbidade, invalidez e morte que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas (OMRAN, 2001). As alterações nos padrões de morbidade e mortalidade correspondem a uma fase mais recente de um processo histórico secular, ao qual Omran, em 1971, denominou de 'transição epidemiológica' Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) (ARAÚJO, 2012). Segundo essa teoria, a humanidade teria atravessado três fases epidemiológicas ao longo da sua história: a) A 'Era da Fome das Pestilências', que durou desde o início dos tempos históricos até o fim da Idade Média, foi caracterizada por altos índices de natalidade, altas taxas de mortalidade por doenças infecciosas endêmicas e epidemias que assumiam, com frequência, caráter pandêmico, devastando as populações. Nessa fase, a expectativa de vida estava em torno de 20 anos e o crescimento demográfico foi lento. b) A 'Era do Declínio das Pandemias', correspondendo historicamente ao período que vai da Renascença até o início da Revolução Industrial, foi caracterizada pelo progressivo desaparecimento das grandes pandemias, embora as doenças infecciosas continuassem a ser a principal causa de morte. Nesse período verificou-se uma gradual melhora no padrão de vida e a expectativa de vida alcançou os 40 anos. Como as taxas de mortalidade declinaram até níveis de 30 por 1000 e a natalidade continuava acima de 40 por 1000, iniciou- se um longo período de crescimento populacional. c) A 'Era das Doenças Degenerativas e das Causadas pelo Homem' estende-se da Revolução Industrial até os tempos modernos. Caracterizou se por uma progressiva melhora do padrão de vida das populações (habitação, saneamento, alimentação, educação) e um correspondente declínio das doenças infecciosas, que se iniciou várias décadas antes do aparecimento das sulfas e dos antibióticos e se acentuou após esses progressos da medicina. A expectativa de vida foi aumentando até atingir os 70 anos, nos meados deste século. As principais causas de mortalidade passaram a ser doenças cardiovasculares e as neoplasias malignas. Nessa fase, houve uma desaceleração no crescimento demográfico (OMRAN , 1971). Conceitualmente, Omran focou a teoria da transição epidemiológica nas complexas mudanças dos padrões saúde-doença e nas interações entre esses padrões, seus determinantes demográficos, econômicos e sociais, e suas consequências (OMRAN, 2005). E, conforme explicam Duarte e Barreto (2012), entre as proposições centrais incluídas nessa teoria, destacam- se: (i) existe um processo longo de mudanças nos padrões de mortalidade e adoecimento, em que as pandemias por doenças infecciosas são gradativamente substituídas pelas doenças degenerativas e agravos produzidos pelo homem; (ii) durante essa transição, as mais profundas mudanças nos padrões de saúde-doença ocorrem nas crianças e nas mulheres jovens; (iii) as mudanças que caracterizam a transição epidemiológica são fortemente associadas às transições demográfica e socioeconômica que constituem o complexo da modernização; e (iv) as variações peculiares no padrão, no ritmo, nos determinantes e nas consequências das mudanças na população diferenciam Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) três modelos básicos de transição epidemiológica, o modelo clássico ou ocidental, o modelo acelerado eo modelo contemporâneo ou prolongado (OMRAN, 2005). Num entendimento mais simplificado Schramm, Oliveira et al (2004), asseveram que o processo engloba três mudanças básicas: substituição das doenças transmissíveis por doenças não transmissíveis e causas externas; deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens aos grupos mais idosos; e transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra na qual a morbidade é dominante. A definição da transição epidemiológica deve ser considerada componente de um conceito mais amplo apresentado como transição da saúde, que inclui elementos das concepções e comportamentos sociais, correspondentes aos aspectos básicos da saúde nas populações humanas (SCHRAMM, OLIVEIRA, et al., 2004). Nesse contexto, Frenk, Frejka e et al (1991) destacam que a transição da saúde pode ser dividida em dois elementos principais: de um lado, fazendo referência as mudanças na frequência, magnitude e distribuição das condições de saúde, expressas através das mortes, doenças e incapacidades, encontra-se a transição das condições de saúde e, de outro a transição da atenção sanitária que, como resposta social organizada a estas condições e que se instrumenta por meio dos sistemas de atenção à saúde, determinada pelo desenvolvimento social, econômico e tecnológico mais amplo. Com exposto, existe uma correlação direta entre os processos de transição epidemiológica e demográfica, pois na medida em que aumenta a expectativa de vida, as doenças não transmissíveis tornam-se mais frequentes e os idosos passam a conviver com fatores de risco associados às doenças crônico- degenerativas (CHAIMOWICZ, 1997), resultando em mudanças no padrão de utilização dos serviços de saúde e no aumento de gastos, considerando a necessidade de incorporação tecnológica para o tratamento das mesmas (SCHRAMM, OLIVEIRA, et al., 2004). Ainda, segundo os autores, estes aspectos ocasionam importantes desafios e a necessidade de uma agenda para as políticas de saúde que possam dar conta das várias transições em curso. Dimensionar as repercussões da transição epidemiológica e demográfica para as famílias das pessoas em fase de envelhecimento e idosas; Família é popularmente conhecida como o conjunto de pessoas que, com algum grau de parentesco, vivem na mesma residência e assim formam um lar. De acordo com Medeiros e Osório (2001, p. 06) “famílias são instituições com várias características, como laços de parentesco e normas de relacionamento que determinam direitos e obrigações de várias espécies a seus membros”. A família é uma Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) instituição que, via de regra, possui grande valor em todas as camadas sociais tendo em vista que sua função principal é cuidar, zelar e proteger seus membros; entre outras responsabilidades. Com toda a carga social existente sobre o núcleo familiar, o Estado, no Brasil, de forma visível e significativa, se esquiva do compromisso e da responsabilidade com a proteção social da população. Logo, a família, toma para si a responsabilidade pelos seus membros e, enfrenta uma série de consequências naturais da evolução do ser humano. Entre elas, destaca-se o envelhecimento e a atividade do cuidado com o idoso, doente ou não. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE3 mostram que no ano de 2009 havia cerca de 21 milhões de idosos no país e as principais causas para o aumento do envelhecimento eram resultados da baixa taxa de fecundidade e de mortalidade, nas décadas anteriores. Em 2000, outros relatos do IBGE revelam que 44% das mulheres em idade reprodutiva tinham menos de dois filhos; e em 20064 , a taxa de fecundidade total (número médio de filhos que uma mulher teria ao final do seu período fértil) foi 2,0 filhos. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais (2007), a queda da taxa de fecundidade nas décadas anteriores era uma tendência não só no Brasil, diversos países já atingiam valores bem abaixo do chamado nível de reposição natural da população, principalmente os europeus. O outro fator responsável foi a diminuição da taxa de mortalidade e isso se dá por conta da expectativa de vida das mulheres, que é maior do que dos homens. No ano 2000 a expectativa de vida feminina era de 7,6 anos a mais que a masculina. 1.1 O ciclo vital da família e o envelhecimento Com a mudança nos arranjos familiares e o desenvolvimento de novas perspectivas, a família inicia uma nova fase no seu ciclo vital. O envelhecimento, como processo multidimensional num todo, integra as mudanças associadas com a passagem do tempo e que, em muitos casos, alteram a capacitação funcional individual do idoso, sua personalidade, bem como a afetividade em relação aos familiares e ao meio em que vive. As alterações da estrutura familiar inerentes à última etapa do ciclo vital da família são caracterizadas por transições interligadas ao envelhecimento, como processo novo e único. A reconstrução relacional com as gerações mais novas, aliada às mudanças necessárias decorrentes do envelhecimento, constitui-se como desafios fundamentais às famílias nesta etapa do seu ciclo. Sendo assim, o ciclo vital da família é uma sequência de transformações na organização familiar, ou seja, é a evolução histórica da família, onde as mudanças têm a ver com o desenvolvimento dos seus membros. No geral, a família desempenha dois papéis principais que caracterizam o ciclo vital, que são a função interna – Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) proteção dos familiares que a compõem - e função externa, que é a socialização e transmissão de tradições e culturas. Quando a família assume o cuidado de uma pessoa idosa, ela encontra-se no ciclo fase madura ou fase última. O envelhecimento representa essa última fase do ciclo vital, as relações familiares nessa fase serão marcadas por uma nova estruturação de papeis, com a saída de alguns integrantes e a inserção de novos. Essa intergeracionalidade representa o movimento da família, não sendo algo parado no tempo, mas circula entre o passado e o futuro, estando ligada num tempo histórico que sempre explica ao sujeito o seu estar em um grupo fundamental: a família. Quando o envelhecimento passa ser visto como um problema, e para o idoso ter significado de morte, este se coloca ou acaba sendo colocado em uma posição negativa de sua existência; com isso, a perspectiva de presente e de futuro se fecha e faz nascer um sentimento de perda da própria existência. O processo do envelhecimento torna-se difícil quando a pessoa idosa é acometida de alguma doença crônica, grave ou degenerativa, com isso é necessário um cuidado intenso; pois a perda de autonomia para as atividades da vida diária, geralmente, é o primeiro fator a ser verificado. Quando isso ocorre, a família se vê, por incumbência das circunstâncias, obrigada a tomar as providências necessárias quanto aos procedimentos a serem definidos que nem sempre são os mais precisos ou cabíveis para o momento. Mas, sem auxílio e sem o respaldo do Estado, geralmente as famílias se veem abandonadas e sem apoio do setor público quando o assunto é cuidado familiar. Os estudos sobre o envelhecimento mostram que a saúde na velhice depende muito de hábitos de vida saudáveis e de cuidados que a pessoa recebeu ao longo de toda a vida, a partir da infância e até mesmo antes de nascer. Esses estudos permitem afirmar que velhice não é doença. No entanto, sabemos também, que as pessoas idosas são, em geral, mais vulneráveis, isto é, ficam mais sujeitas a adoecer e, quando adoecem, demoram mais para sarar. Esta é a razão por que o Brasil passou a realizar campanhas de vacinação contra a influenza (gripe) das pessoas de 60 anos e mais. Numa população envelhecida, isto é, onde há grande proporção de pessoas de 60 anos e mais, em relação àquelasque têm menos de 15 anos, há aumento de doenças crônicas, isto é, doenças que não tem cura, como pressão alta, diabetes, reumatismos, doenças do coração, do pulmão, do fígado, demência, câncer etc. que podem deixar marcas e complicações, levando a incapacidades, dependência, necessidade de cuidados de longa duração e instituições de longa permanência. (BORN, 2008 p. 113) Sendo assim, conclui-se que superar os preconceitos e oferecer garantias de um envelhecimento mais pleno, satisfatório e Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) com respeito, é obrigação de todos. Logo, é necessária uma reflexão sobre a própria velhice do indivíduo, bem como a construção de um futuro com vivência mais positiva, tranquila e facilitada. Afinal, pressupõe-se que será uma etapa a ser vivida por todos, e o indivíduo já em sua fase jovem deveria desenvolver um aprendizado constante, que vem junto com a experiência de vida e da fase adulta, para uma transição tranquila durante o processo de envelhecimento dentro do convívio familiar e da sociedade. 2. As políticas sociais, a família e o cuidado Como resultado do pluralismo de bem- estar, a família ganhou centralidade no debate sobre a produção do bem-estar no campo da política social. A função moral atribuída à família e a importância dada aos vínculos afetivos, naturaliza o cuidado como responsabilidade familiar eximindo o Estado dessa atribuição tão complexa nos sistemas de proteção social. Historicamente a família sempre teve um papel importante no cuidado e na proteção dos membros que a compõem. Na atualidade ganhou uma atenção especial do Estado, mas ainda não tem o respaldo que merece. Quando o assunto é política social, a família é tida como provedora do bemestar, como se ela se bastasse sem necessitar da assistência que tem direito; com isso há um estímulo de sua autonomia e uma redução de bens e serviços a seu dispor. Conforme Mioto, tal realidade “[...] vincula-se ao declínio da sociedade salarial e à crise do Welfare State, que fizeram com que a família fosse ‘redescoberta’, tanto como instância de proteção, como também possibilidade de ‘recuperação e sustentação’ de seus membros” (2008, p.130). Se existe certo consenso de que as famílias necessitam de atenção social, quando colocamos em pauta os cuidados que lhes devem ser dirigidos, aparecem divergências que passam mesmo despercebidas. Na maioria das vezes, não nos damos conta de que, ao propormos e realizarmos ações de cuidados que envolvam as famílias, ou segmentos vulneráveis, colocamos em movimento diferentes formas de conceber a família e suas relações com outras esferas da sociedade, como Estado, trabalho e mercado. Das diferentes formas de concepção nascem diferentes modos de dirigir atenção aos grupos familiares e aos segmentos sociais vulneráveis. Por estes motivos, o tratamento do tema é complexo e extrapola o âmbito de uma discussão puramente operativa. (MIOTO, 2000, p.217) Ao tratarmos das políticas públicas, a política social é a que ganha destaque, segundo o olhar do Serviço Social, política social pode ser compreendida como um conjunto de ações determinantes do Estado na formulação, execução e avaliação de programas, que visem estabelecer medidas de proteção social aos indivíduos, marcados pela exclusão econômica resultante do modelo de produção capitalista, ou mesmo dos Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) múltiplos imprevistos do cotidiano. Toda política social deve ser voltada para os trabalhadores e àqueles que estão à margem sofrendo as consequências do sistema instituído. Assim, tanto o poder público como a sociedade devem se convencer de que cabe ao Estado a tarefa de organizar a política social do ponto de vista que funcione, e não como uma ação filantrópica. Cabe às políticas públicas garantir os direitos fundamentais como habitação, renda, alimentação, saúde, educação e segurança e desenvolver programas voltados às necessidades específicas a determinado tipo de população atendida. Aos poucos o Estado diminui sua carga de responsabilidades com as demandas sociais, ressurgindo a família como alternativa no processo de proteção das vulnerabilidades. Tratando-se de uma unidade econômica voluntária, espera-se que a família possa dar conta da reprodução e proteção dos membros que a compõem. 2.1 O cuidado e o cuidador A definição corrente para o verbo cuidar é: cautela, precaução, zelo, atenção, desvelo. Quando se trata de envelhecimento, o cuidado é algo ainda maior, pois é na realidade atitude de preocupação, ocupação, responsabilização e envolvimento afetivo. O cuidado embora sendo uma prática que faz parte da história é algo recente, cuidar é uma atividade que vai além do atendimento às necessidades do ser humano no momento que se encontra doente. O cuidado aparece quando alguém próximo necessita dele, e por sua natureza é uma atitude de atenção e carinho, ao mesmo tempo em que é uma preocupação e inquietação, pois o cuidador sente-se afetivamente envolvido e cria uma forte ligação com quem cuida. Isso se intensifica quando o cuidador faz parte diretamente da família. As questões relacionadas ao cuidado com o idoso em domicílio são sempre mais complexas e de grande importância. A compreensão da pessoa idosa como pessoa única que está inserida em um contexto familiar e social com o qual mantêm contato de forma continuada deve ser sempre levada em consideração quando o cuidado é domiciliar. Deve-se levar em consideração a autonomia, a independência do idoso, assim como, sua capacidade para o desempenho de atividades rotineiras e sua vontade de ficar em determinado espaço, quando este ainda tem lucidez para isso. Atualmente rompeu-se com essa visão de isolamento. Hoje o cuidado é visto como uma questão de saúde e assistência produzindo uma revalorização do ambiente familiar, onde o bem-estar da pessoa cuidada é a priori o principal objetivo das políticas publicas e da família. O Ministério da Saúde, em 2008, elaborou o Guia Prático do Cuidador, com o objetivo de orientar cuidadores na atenção à saúde de qualquer faixa etária e também esclarecer os pontos mais comuns no cuidado domiciliar, acentuando a responsabilização Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) da família, assim sendo conceitua duas categorias de cuidadores, a seguir apresentamos a definição de ambos: Cuidador Informal: é o membro familiar, esposa(o), filha(o), irmã(ão), nora, normalmente do sexo feminino, que é ‘escolhido’ entre os familiares por ter melhor relacionamento ou intimidade com a pessoa idosa e por apresentar maior disponibilidade de tempo. Inclui-se neste grupo uma amiga ou vizinha, que mesmo não tendo laços de parentesco, cuida da pessoa idosa, sem receber pagamento, como voluntária. (BORN, 2008 p.54) Cuidador Formal: é o profissional, que recebeu um treinamento específico para a função, exerce a atividade de cuidador mediante uma remuneração, mantendo vínculos contratuais. Ele pode ser contratado para exercer suas funções na residência de uma família, em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), ou acompanhar a pessoa idosa em sua permanência em Unidades de Saúde (hospitais/clínicas, etc.). (BORN, 2008 p.54 e 55) O ato de cuidar é muito complexo, pois, em certos momentos o cuidador informal é tomado por sentimentos diversos, como raiva, culpa, medo, angústia, confusão, cansaço. Tais sentimentos podem ser simultâneos e devem ser compreendidos pelos que cercam o cuidador, pois faz parte da relação entre ele e a pessoa cuidada. Quando um cuidador está disponível somente para esse fim, a carga sobre ele poder ser muito significativa, sendo muito importante haver opções de lazer e outras atividades, mesmo que voltadas as necessidades emanadas pelo idoso. De um modo geral, as pessoas encarregadas do cuidado e suas famílias têm poucopreparo para administrar essa situação. A ajuda de profissionais especializados é primordial na determinação do bem-estar do idoso, o preparo profissional e pessoal dos indivíduos relacionados ao cuidado é hoje uma necessidade crescente em muitos países, tendo um aumento significativo também em nosso país. O cuidador precisa colocar regras em sua rotina e impor um dia para cuidar de si, da sua saúde e do seu bem-estar. Pois, com o passar do tempo a pessoa cuidada, que normalmente se encontra doente, fica com a situação estável e a pessoa que o cuida adoece, é necessário que o cuidador tenha consciência da necessidade deste autocuidado e que se organize junto com os outros familiares e com sua agenda, para buscar aquilo que considera positivo para proporcionar-lhe benefícios físicos, mentais e emocionais. Com toda essa situação que cerca o cuidador, atualmente há uma luta pela regulamentação dessa profissão, pois esse fator pode contribuir para a melhoria da atividade e a qualidade de vida dos cuidadores. Sendo um profissional regularizado, com direitos e um salário condizente com seus afazeres, muda o olhar sobre o cuidar, rompendo um Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) pouco com os paradigmas fraternos e as obrigações familiares. Discernir as características inovadoras da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa a partir do seu foco “capacidade funcional”. No Brasil, o direito universal e integral à saúde foi conquistado pela sociedade na Constituição de 1988 e reafirmado com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90. Por esse direito, entende-se o acesso universal e equânime a serviços e ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, garantindo a integralidade da atenção, indo ao encontro das diferentes realidades e necessidades de saúde da população e dos indivíduos. Esses preceitos constitucionais encontram-se reafirmados pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispôs sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área de saúde e as Normas Operacionais Básicas (NOB), editadas em 1991, 1993 e 1996, que, por sua vez, regulamentam e definem estratégias e movimentos táticos que orientam a operacionalidade do Sistema. A regulamentação do SUS estabelece princípios e direciona a implantação de um modelo de atenção à saúde que priorize a descentralização, a universalidade, a integralidade da atenção, a eqüidade e o controle social, ao mesmo tempo em que incorpora, em sua organização, o princípio da territorialidade para facilitar o acesso das demandas populacionais aos serviços de saúde. Com o objetivo de reorganizar a prática assistencial é criado em 1994, pelo Ministério da Saúde, o Programa de Saúde da Família (PSF), tornando-se a estratégia setorial de reordenação do modelo de atenção à saúde, como eixo estruturante para reorganização da prática assistencial, imprimindo nova dinâmica nos serviços de saúde e estabelecendo uma relação de vínculo com a comunidade, humanizando esta prática direcionada à vigilância na saúde, na perspectiva da intersetorialidade (Brasil, 1994), denominando-se não mais programa e sim Estratégia Saúde da Família (ESF). Concomitante à regulamentação do SUS, o Brasil organiza-se para responder às crescentes demandas de sua população que envelhece. A Política Nacional do Idoso, promulgada em 1994 e regulamentada em 1996, assegura direitos sociais à pessoa idosa, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade e reafirmando o direito à saúde nos diversos níveis de atendimento do SUS (Lei nº 8.842/94 e Decreto nº 1.948/96). Em 1999, a Portaria Ministerial nº 1.395 anuncia a Política Nacional de Saúde do Idoso, a qual determina que os órgãos e entidades do Ministério da Saúde relacionados ao tema promovam a elaboração ou a readequação de planos, projetos e atividades na conformidade das Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) diretrizes e responsabilidades nela estabelecidas (Brasil, 1999). Essa política assume que o principal problema que pode afetar o idoso é a perda de sua capacidade funcional, isto é, a perda das habilidades físicas e mentais necessárias para realização de atividades básicas e instrumentais da vida diária. Em 2002, é proposta a organização e a implantação de Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso (Portaria nº 702/SAS/MS, de 2002), tendo como base as condições de gestão e a divisão de responsabilidades definida pela Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS). Como parte de operacionalização das redes, são criadas as normas para cadastramento de Centros de Referência em Atenção à Saúde do Idoso (Portaria nº 249/SAS/MS, de 2002). Em 2003, o Congresso Nacional aprova e o Presidente da República sanciona o Estatuto do Idoso, elaborado com intensa participação de entidades de defesa dos interesses dos idosos. O Estatuto do Idoso amplia a resposta do Estado e da sociedade às necessidades da população idosa, mas não traz consigo meios para financiar as ações propostas. O Capítulo IV do Estatuto reza especificamente sobre o papel do SUS na garantia da atenção à saúde da pessoa idosa de forma integral, em todos os níveis de atenção. Assim, embora a legislação brasileira relativa aos cuidados da população idosa seja bastante avançada, a prática ainda é insatisfatória. A vigência do Estatuto do Idoso e seu uso como instrumento para a conquista de direitos dos idosos, a ampliação da Estratégia Saúde da Família que revela a presença de idosos e famílias frágeis e em situação de grande vulnerabilidade social e a inserção ainda incipiente das Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso tornaram imperiosa a readequação da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI). Em fevereiro de 2006, foi publicado, por meio da Portaria nº 399/GM, o documento das Diretrizes do Pacto pela Saúde que contempla o Pacto pela Vida. Neste documento, a saúde do idoso aparece como uma das seis prioridades pactuadas entre as três esferas de governo sendo apresentada uma série de ações que visam, em última instância, à implementação de algumas das diretrizes da Política Nacional de Atenção à Saúde do Idoso. A publicação do Pacto pela Vida, particularmente no que diz respeito à saúde da população idosa, representa, sem sombra de dúvida, um avanço importante. Entretanto, muito há que se fazer para que o Sistema Único de Saúde dê respostas efetivas e eficazes às necessidades e demandas de saúde da população idosa brasileira. Dessa maneira, a participação da Comissão Intergestores Tripartite e do Conselho Nacional de Saúde, no âmbito nacional, é de fundamental importância para a discussão e formulação de estratégias de ação capazes de dar conta da heterogeneidade da população Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) idosa e, por conseguinte, da diversidade de questões apresentadas. Cabe destacar, por fim, que a organização da rede do SUS é fundamental para que as diretrizes dessa Política sejam plenamente alcançadas. Dessa maneira, torna-se imperiosa a revisão da Portaria nº 702/GM, de 12 de abril de 2002, que cria os mecanismos de organização e implantação de Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso e a Portaria nº 249/SAS, de 16 de abril de 2002, com posterior pactuação na Comissão Intergestores Tripartite. A meta final deve ser uma atenção à saúde adequada e digna para os idosos e idosas brasileiras, principalmente para aquela parcela da população idosa que teve, por uma série de razões, um processo de envelhecimento marcado por doenças e agravos que impõem sérias limitações ao seu bem-estar. 1. Finalidade A finalidade primordial da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa é recuperar, manter e promover a autonomiae a independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. É alvo dessa política todo cidadão e cidadã brasileiros com 60 anos ou mais de idade. Considerando: a) o contínuo e intenso processo de envelhecimento populacional brasileiro; b) os inegáveis avanços políticos e técnicos no campo da gestão da saúde; c) o conhecimento atual da Ciência; d) o conceito de saúde para o indivíduo idoso se traduz mais pela sua condição de autonomia e independência que pela presença ou ausência de doença orgânica; e) a necessidade de buscar a qualidade da atenção aos indivíduos idosos por meio de ações fundamentadas no paradigma da promoção da saúde; f) o compromisso brasileiro com a Assembleia Mundial para o Envelhecimento de 2002, cujo Plano de Madri fundamenta- se em: (a) participação ativa dos idosos na sociedade, no desenvolvimento e na luta contra a pobreza; (b) fomento à saúde e bem-estar na velhice: promoção do envelhecimento saudável; e (c) criação de um entorno propício e favorável ao envelhecimento; e g) escassez de recursos sócio-educativos e de saúde direcionados ao atendimento ao idoso; A necessidade de enfrentamento de desafios como: a) a escassez de estruturas de cuidado intermediário ao idoso no SUS, ou seja, estruturas de suporte qualificado para idosos e seus familiares destinadas a Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) promover intermediação segura entre a alta hospitalar e a ida para o domicílio; b) número insuficiente de serviços de cuidado domiciliar ao idoso frágil previsto no Estatuto do Idoso. Sendo a família, via de regra, a executora do cuidado ao idoso, evidencia-se a necessidade de se estabelecer um suporte qualificado e constante aos responsáveis por esses cuidados, tendo a atenção básica por meio da Estratégia Saúde da Família um papel fundamental; c) a escassez de equipes multiprofissionais e interdisciplinares com conhecimento em envelhecimento e saúde da pessoa idosa; e d) a implementação insuficiente ou mesmo a falta de implementação das Redes de Assistência à Saúde do Idoso. 2. Justificativa O Brasil envelhece de forma rápida e intensa. No Censo de 2000, contava com mais de 14,5 milhões de idosos (IBGE, 2002), em sua maioria com baixo nível socioeconômico e educacional e com uma alta prevalência de doenças crônicas e causadoras de limitações funcionais e de incapacidades (Lima-Costa et al, 2003; Ramos, 2002). A cada ano, 650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira (IBGE, 2000). Essa transição demográfica repercute na área da saúde, em relação à necessidade de (re)organizar os modelos assistenciais (Lima-Costa & Veras, 2003). A maior causa de mortalidade entre idosos brasileiros é o acidente vascular cerebral (Lima-Costa et al., 2000). Na transição epidemiológica brasileira ocorrem incapacidades resultantes do não-controle de fatores de risco preveníveis (Lima-Costa et al., 2003). O sistema de saúde brasileiro tradicionalmente está organizado para atender à saúde materno-infantil e não tem considerado o envelhecimento como uma de suas prioridades. Uma importante consequência do aumento do número de pessoas idosas em uma população é que esses indivíduos provavelmente apresentarão um maior número de doenças e/ou condições crônicas que requerem mais serviços sociais e médicos e por mais tempo (Firmo et al, 2003). Isso já pode ser notado, uma vez que a população idosa, que hoje representa cerca de 9% da população, consome mais de 26% dos recursos de internação hospitalar no SUS (Lima-Costa et al, 2000). Além disso, é notável a carência de profissionais qualificados para o cuidado ao idoso, em todos os níveis de atenção. Outro fato importante a ser considerado é que saúde para a população idosa não se restringe ao controle e à prevenção de agravos de doenças crônicas não- transmissíveis. Saúde da pessoa idosa é a interação entre a saúde física, a saúde mental, a independência financeira, a capacidade funcional e o suporte social (Ramos, 2002). As políticas públicas de saúde, objetivando assegurar atenção a toda população, têm Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) dado visibilidade a um segmento populacional até então pouco notado pela saúde pública - os idosos e as idosas com alto grau de dependência funcional -. É possível a criação de ambientes físicos, sociais e atitudinais que possibilitem melhorar a saúde das pessoas com incapacidades tendo como uma das metas ampliar a participação social dessas pessoas na sociedade (Lollar & Crews, 2002). Por isso mesmo, é imprescindível oferecer cuidados sistematizados e adequados a partir dos recursos físicos, financeiros e humanos de que se dispõe hoje. 3. Diretrizes Não se fica velho aos 60 anos. O envelhecimento é um processo natural que ocorre ao longo de toda a experiência de vida do ser humano, por meio de escolhas e de circunstâncias. O preconceito contra a velhice e a negação da sociedade quanto a esse fenômeno colaboram para a dificuldade de se pensar políticas específicas para esse grupo. Ainda há os que pensam que se investe na infância e se gasta na velhice. Deve ser um compromisso de todo gestor em saúde compreender que, ainda que os custos de hospitalizações e cuidados prolongados sejam elevados na parcela idosa, também aí está se investindo na velhice “Quando o envelhecimento é aceito como um êxito, o aproveitamento da competência, experiência e dos recursos humanos dos grupos mais velhos é assumido com naturalidade, como uma vantagem para o crescimento de sociedades humanas maduras e plenamente integradas” (Plano de Madri, Artigo 6º). Envelhecer, portanto, deve ser com saúde, de forma ativa, livre de qualquer tipo de dependência funcional, o que exige promoção da saúde em todas as idades. Importante acrescentar que muitos idosos brasileiros envelheceram e envelhecem apesar da falta de recursos e da falta de cuidados específicos de promoção e de prevenção em saúde. Entre esses estão os idosos que vivem abaixo da linha de pobreza, analfabetos, os seqüelados de acidentes de trabalho, os amputados por arteriopatias, os hemiplégicos, os idosos com síndromes demenciais, e para eles também é preciso achar respostas e ter ações específicas. São apresentadas abaixo as diretrizes da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa: a) promoção do envelhecimento ativo e saudável; b) atenção integral, integrada à saúde da pessoa idosa; c) estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção; d) provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa; e) estímulo à participação e fortalecimento do controle social; Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) f) formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS na área de saúde da pessoa idosa; g) divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS; h) promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na atenção à saúde da pessoa idosa; e i) apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas. 3.1. Promoção do Envelhecimento Ativo e Saudável A promoção do envelhecimento ativo, isto é, envelhecer mantendo a capacidade funcional e a autonomia, é reconhecidamente a meta de toda ação de saúde. Ela permeia todas as ações desde o pré-natal até a fase da velhice. A abordagem do envelhecimento ativo baseia-se no reconhecimento dos direitos das pessoas idosas e nos princípios de independência, participação, dignidade, assistência e auto-realização determinados pela Organização das Nações Unidas (WHO, 2002). Para tanto é importante entender que as pessoas idosas constituem um grupo heterogêneo. Também será necessário vencer preconceitos e discutirmitos arraigados em nossa cultura. Os profissionais de saúde e a comunidade devem perceber que a prevenção e a promoção de saúde não é privilégio apenas dos jovens. A promoção não termina quando se faz 60 anos e as ações de prevenção, sejam elas primárias, secundárias ou terciárias, devem ser incorporadas à atenção à saúde, em todas as idades. Envelhecimento bem-sucedido pode ser entendido a partir de seus três componentes: (a) menor probabilidade de doença; (b) alta capacidade funcional física e mental; e (c) engajamento social ativo com a vida (Kalache & Kickbush, 1997; Rowe & Kahn, 1997; Healthy People 2000). O Relatório Healthy People 2000 da OMS enfatiza em seus objetivos: aumentar os anos de vida saudável, reduzir disparidades na saúde entre diferentes grupos populacionais e assegurar o acesso a serviços preventivos de saúde. Além disso, é preciso incentivar e equilibrar a responsabilidade pessoal – cuidado consigo mesmo – ambientes amistosos para a faixa etária e solidariedade entre gerações. As famílias e indivíduos devem se preparar para a velhice, esforçando-se para adotar uma postura de práticas saudáveis em todas as fases da vida (OMS, 2002). Com a perspectiva de ampliar o conceito de “envelhecimento saudável”, a Organização Mundial da Saúde propõe “Envelhecimento Ativo: Uma Política de Saúde” (2005), ressaltando que o governo, as organizações internacionais e a sociedade civil devam implementar políticas e programas que melhorem a saúde, a participação e a segurança da pessoa idosa. Considerando o cidadão idoso não Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) mais como passivo, mas como agente das ações a eles direcionadas, numa abordagem baseada em direitos, que valorize os aspectos da vida em comunidade, identificando o potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida. Aproveitar todas as oportunidades para: a) desenvolver e valorizar o atendimento acolhedor e resolutivo à pessoa idosa, baseado em critérios de risco; b) informar sobre seus direitos, como ser acompanhado por pessoas de sua rede social (livre escolha) e quem são os profissionais que cuidam de sua saúde; c) valorizar e respeitar a velhice; d) estimular a solidariedade para com esse grupo etário; e) realizar ações de prevenção de acidentes no domicílio e nas vias públicas, como quedas e atropelamentos; f) realizar ações integradas de combate à violência doméstica e institucional contra idosos e idosas; g) facilitar a participação das pessoas idosas em equipamentos sociais, grupos de terceira idade, atividade física, conselhos de saúde locais e conselhos comunitários onde o idoso possa ser ouvido e apresentar suas demandas e prioridades; h) articular ações e ampliar a integração entre as secretarias municipais e as estaduais de saúde, e os programas locais desenvolvidos para a difusão da atividade física e o combate ao sedentarismo; i) promover a participação nos grupos operativos e nos grupos de convivência, com ações de promoção, valorização de experiências positivas e difusão dessas na rede, nortear e captar experiências; j) informar e estimular a prática de nutrição balanceada, sexo seguro, imunização e hábitos de vida saudáveis; k) realizar ações motivadoras ao abandono do uso de álcool, tabagismo e sedentarismo, em todos os níveis de atenção; l) promover ações grupais integradoras com inserção de avaliação, diagnóstico e tratamento da saúde mental da pessoa idosa; m) reconhecer e incorporar as crenças e modelos culturais dos usuários em seus planos de cuidado, como forma de favorecer a adesão e a eficiência dos recursos e tratamentos disponíveis; n) promover a saúde por meio de serviços preventivos primários, tais como a vacinação da população idosa, em conformidade com a Política Nacional de Imunização; o) estimular programas de prevenção de agravos de doenças crônicas não- transmissíveis em indivíduos idosos; Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) p) implementar ações que contraponham atitudes preconceituosas e sejam esclarecedoras de que envelhecimento não é sinônimo de doença; q) disseminar informação adequada sobre o envelhecimento para os profissionais de saúde e para toda a população, em especial para a população idosa; r) implementar ações para reduzir hospitalizações e aumentar habilidades para o autocuidado dos usuários do SUS; s) incluir ações de reabilitação para a pessoa idosa na atenção primária de modo a intervir no processo que origina a dependência funcional; t) investir na promoção da saúde em todas as idades; e u) articular as ações do Sistema Único de Saúde com o Sistema Único de Assistência Social – SUAS. 3.2. Atenção Integral e Integrada à Saúde da Pessoa Idosa A atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa deverá ser estruturada nos moldes de uma linha de cuidados, com foco no usuário, baseado nos seus direitos, necessidades, preferências e habilidades; estabelecimento de fluxos bidirecionais funcionantes, aumentando e facilitando o acesso a todos os níveis de atenção; providos de condições essenciais - infraestrutura física adequada, insumos e pessoal qualificado para a boa qualidade técnica. Instrumentos gerenciais baseados em levantamento de dados sobre a capacidade funcional (inventários funcionais) e sócio- familiares da pessoa idosa deverão ser implementados pelos gestores municipais e estaduais do SUS, para que haja a participação de profissionais de saúde e usuários na construção de planos locais de ações para enfrentamento das dificuldades inerentes à complexidade de saúde da pessoa idosa. Incorporação, na atenção básica, de mecanismos que promovam a melhoria da qualidade e aumento da resolutividade da atenção à pessoa idosa, com envolvimento dos profissionais da atenção básica e das equipes do Saúde da Família, incluindo a atenção domiciliar e ambulatorial, com incentivo à utilização de instrumentos técnicos validados, como de avaliação funcional e psicossocial. Incorporação, na atenção especializada, de mecanismos que fortaleçam a atenção à pessoa idosa: reestruturação e implementação das Redes Estaduais de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa, visando a integração efetiva com a atenção básica e os demais níveis de atenção, garantindo a integralidade da atenção, por meio do estabelecimento de fluxos de referência e contra-referência; e implementando de forma efetiva modalidades de atendimento que correspondam às necessidades da Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) população idosa, com abordagem multiprofissional e interdisciplinar, sempre que possível. Contemplando também fluxos de retaguarda para a rede hospitalar e demais especialidades, disponíveis no Sistema Único de Saúde. A prática de cuidados às pessoas idosas exige abordagem global, interdisciplinar e multidimensional, que leve em conta a grande interação entre os fatores físicos, psicológicos e sociais que influenciam a saúde dos idosos e a importância do ambiente no qual está inserido. A abordagem também precisa ser flexível e adaptável às necessidades de uma clientela específica. A identificação e o reconhecimento da rede de suporte social e de suas necessidades também faz parte da avaliação sistemática, objetivando prevenir e detectar precocemente o cansaço das pessoas que cuidam. As intervenções devem ser feitas e orientadas com vistas à promoção da autonomia e independência da pessoa idosa, estimulando-a para o auto-cuidado. Grupos de auto-ajuda entre as pessoas que cuidam devem ser estimulados. Uma abordagem preventiva e uma intervenção precoce são sempre preferíveis às intervenções curativas tardias. Para tanto, é necessária a vigilância de todos os membros da equipe de saúde, a aplicação de instrumentos de avaliação e de testes de triagem, para detecção de distúrbios cognitivos, visuais, de mobilidade, de audição,de depressão e do comprometimento precoce da funcionalidade, dentre outros. O modelo de atenção à saúde baseado na assistência médica individual não se mostra eficaz na prevenção, educação e intervenção, em questões sociais, ficando muitas vezes restritas às complicações advindas de afecções crônicas. A cada etapa de intervenção os profissionais deverão considerar os anseios do idoso e de sua família. Pressupondo-se troca de informações e negociação das expectativas de cada um, levando-se em consideração elementos históricos do paciente, seus recursos individuais e sociais e aqueles da rede de suporte social disponível no local. O modelo de atenção à saúde baseado na assistência médica individual não se mostra eficaz na prevenção, educação e intervenção, em questões sociais, ficando muitas vezes restritas às complicações advindas de afecções crônicas. A cada etapa de intervenção os profissionais deverão considerar os anseios do idoso e de sua família. Pressupondo-se troca de informações e negociação das expectativas de cada um, levando-se em consideração elementos históricos do paciente, seus recursos individuais e sociais e aqueles da rede de suporte social disponível no local. Um dos instrumentos gerenciais imprescindíveis é a implementação da avaliação funcional individual e coletiva. A partir da avaliação funcional coletiva Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) determina-se a pirâmide de risco funcional, estabelecida com base nas informações relativas aos critérios de risco da população assistida pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de cada município. Verifica-se como está distribuída a população adscrita à equipe do Saúde da Família, com base no inventário de risco funcional. Nos municípios que não dispõem da Estratégia Saúde da Família, as equipes das UBS poderão ser responsáveis por esse levantamento e acompanhamento. Assim, é possível conhecer qual a proporção de idosos que vivem em Instituições de Longa Permanência para Idosos, a proporção daqueles com alta dependência funcional – acamados –, a proporção dos que já apresentam alguma incapacidade funcional para atividades básicas da vida diária (AVD) – como tomar banho, vestir-se, usar o banheiro, transferir-se da cama para a cadeira, ser continente e alimentar-se com a própria mão – e qual a proporção de idosos independentes. Considera-se o idoso independente aquele que é capaz de realizar sem dificuldades e sem ajuda todas as atividades de vida diária citadas acima. Esses idosos comporão a base da pirâmide. Indivíduos idosos, mesmo sendo independentes, mas que apresentem alguma dificuldade nas atividades instrumentais de vida diária (AIVD) – preparar refeições, controlar a própria medicação, fazer compras, controlar o próprio dinheiro, usar o telefone, fazer pequenas tarefas e reparos domésticos e sair de casa sozinho utilizando uma condução coletiva –, são considerados idosos com potencial para desenvolver fragilidade e por isso merecerão atenção específica pelos profissionais de saúde e devem ser acompanhados com maior frequência. Considera-se idoso frágil ou em situação de fragilidade aquele que: vive em ILPI, encontra-se acamado, esteve hospitalizado recentemente por qualquer razão, apresente doenças sabidamente causadoras de incapacidade funcional – acidente vascular encefálico, síndromes demenciais e outras doenças neurodegenerativas, etilismo, neoplasia terminal, amputações de membros –, encontra-se com pelo menos uma incapacidade funcional básica, ou viva situações de violência doméstica. Por critério etário, a literatura estabelece que também é frágil o idoso com 75 anos ou mais de idade. Outros critérios poderão ser acrescidos ou modificados de acordo com as realidades locais. Uma vez conhecida a condição de fragilidade, será necessário avaliar os recursos locais para lidar com ela, de modo a facilitar o cuidado domiciliar, incluir a pessoa que cuida no ambiente familiar como um parceiro da equipe de cuidados, fomentar uma rede de solidariedade para com o idoso frágil e sua família, bem como promover a reinserção da parcela idosa frágil na comunidade. Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) De acordo com a condição funcional da pessoa idosa serão estabelecidas ações de atenção primária, de prevenção – primária, secundária e terciária –, de reabilitação, para a recuperação da máxima autonomia funcional, prevenção do declínio funcional, e recuperação da saúde. Estarão incluídas nessas ações o controle e a prevenção de agravos de doenças crônicas não- transmissíveis. Todo profissional deve procurar promover a qualidade de vida da pessoa idosa, quando chamado a atendê-la. É importante viver muito, mas é fundamental viver bem. Preservar a autonomia e a independência funcional das pessoas idosas deve ser a meta em todos os níveis de atenção. Ficam estabelecidos, portanto, os dois grandes eixos norteadores para a integralidade de ações: o enfrentamento de fragilidades, da pessoa idosa, da família e do sistema de saúde; e a promoção da saúde e da integração social, em todos os níveis de atenção. 3.3. Estímulo às Ações Intersetoriais, visando à Integralidade da Atenção A prática da intersetorialidade pressupõe o reconhecimento de parceiros e de órgãos governamentais e não-governamentais que trabalham com a população idosa. A organização do cuidado intersetorial a essa população evita duplicidade de ações, corrige distorções e potencializa a rede de solidariedade. As ações intersetoriais visando à integralidade da atenção à saúde da pessoa idosa devem ser promovidas e implementadas, considerando as características e as necessidades locais. 3.4. Provimento de Recursos Capazes de Assegurar Qualidade da Atenção à Saúde da Pessoa Idosa Deverão ser definidas e pactuadas com os estados, o Distrito Federal e os municípios as formas de financiamento que ainda não foram regulamentadas, para aprimoramento da qualidade técnica da atenção à saúde prestada à pessoa idosa. Os mecanismos e os fluxos de financiamento devem ter por base as programações ascendentes de estratégias que possibilitem a valorização do cuidado humanizado ao indivíduo idoso. Abaixo são apresentados os itens prioritários para a pactuação: a) provimento de insumos, de suporte em todos os níveis de atenção, prioritariamente na atenção domiciliar inclusive medicamentos; b) provimento de recursos para adequação de estrutura física dos serviços próprios do SUS; c) provimento de recursos para ações de qualificação e de capacitação de recursos humanos, e incremento da qualidade técnica dos profissionais de saúde do SUS na atenção à pessoa idosa; d) produção de material de divulgação e informativos sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, normas técnicas e Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) operacionais, protocolos e manuais de atenção, para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS; e) implementação de procedimento ambulatorial específico para a avaliação global do idoso; e f) determinação de critérios mínimos de estrutura, processo e resultados, com vistas a melhorar o atendimento à população idosa, aplicáveis às unidades de saúde do SUS, de modo que a adequação a esses critérios seja incentivada e mereça reconhecimento. 3.5. Estímulo à Participação e Fortalecimento do Controle Social Deve-se estimular a inclusão nas Conferências Municipais e Estaduais de Saúde de temas relacionados à atenção à população idosa, incluindo o estímulo à participação de cidadãos e cidadãs idosos na formulação e no controle social das ações deliberadas nessas Conferências. Devem ser estimulados e implementados os vínculos dos serviços de saúde com os seus usuários, privilegiando os núcleos familiares e comunitários, criando, assim, condições para uma efetiva participação e controle social da parcela idosa da população.3.6. Divulgação e Informação sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa para Profissionais de Saúde, Gestores e Usuários do SUS As medidas a serem adotadas buscarão: a) incluir a PNSPI na agenda de atividades da comunicação social do SUS; b) produzir material de divulgação, tais como cartazes, cartilhas, folhetos e vídeos; c) promover ações de informação e divulgação da atenção à saúde da pessoa idosa, respeitando as especificidades regionais e culturais do País e direcionadas aos trabalhadores, aos gestores, aos conselheiros de saúde, bem como aos docentes e discentes da área de saúde e à comunidade em geral; d) apoiar e fortalecer ações inovadoras de informação e divulgação sobre a atenção à saúde da pessoa idosa em diferentes linguagens culturais; e) identificar, articular e apoiar experiências de educação popular, informação e comunicação em atenção à saúde da pessoa idosa; e f) prover apoio técnico e/ou financeiro a projetos de qualificação de profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família e no Programa de Agentes Comunitários de Saúde, para atuação na área de informação, comunicação e educação popular em atenção à saúde da pessoa idosa. 3.7. Promoção de Cooperação Nacional e Internacional das Experiências na Atenção à Saúde da Pessoa Idosa Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) Devem-se fomentar medidas que visem à promoção de cooperação nacional e internacional das experiências bem- sucedidas na área do envelhecimento, no que diz respeito à atenção à saúde da pessoa idosa, à formação técnica, à educação em saúde e a pesquisas. 3.8. Apoio ao Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas Apoiar o desenvolvimento de estudos e pesquisas que avaliem a qualidade e aprimorem a atenção de saúde à pessoa idosa. Identificar e estabelecer redes de apoio com instituições formadoras, associativas e representativas, universidades, faculdades e órgãos públicos nas três esferas, visando: a) fomentar pesquisas em envelhecimento e saúde da pessoa idosa; b) identificar e apoiar estudos/pesquisas relativos ao envelhecimento e à saúde da pessoa idosa existentes no Brasil, com o objetivo de socializar, divulgar e embasar novas investigações; c) criar banco de dados de pesquisadores e pesquisas em envelhecimento e saúde da pessoa idosa realizadas no Brasil, interligando-o com outros bancos de abrangência internacional; d) identificar e divulgar as potenciais linhas de financiamento – Ministério da Ciência e Tecnologia, Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, terceiro setor e outros – para a pesquisa em envelhecimento e saúde da pessoa idosa; e) apoiar a realização de estudo sobre representações sociais, junto a usuários e profissionais de saúde sobre a saúde da pessoa idosa; f) priorizar as linhas de pesquisas em envelhecimento e saúde da pessoa idosa a serem implementadas pelo SUS, visando o aprimoramento e a consolidação da atenção à saúde da pessoa idosa no SUS; e g) implementar um banco de dados nacional com resultados de avaliação funcional da população idosa brasileira. 4. Responsabilidades Institucionais Caberá aos gestores do SUS, em todos os níveis, de forma articulada e conforme suas competências específicas, prover os meios e atuar para viabilizar o alcance do propósito desta Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. 4.1. Gestor Federal a) elaborar normas técnicas referentes à atenção à saúde da pessoa idosa no SUS; b) definir recursos orçamentários e financeiros para a implementação desta Política, considerando que o financiamento do Sistema Único de Saúde é de competência das três esferas de governo; Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) c) estabelecer diretrizes para a qualificação e educação permanente em saúde da pessoa idosa; d) manter articulação com os estados e municípios para apoio à implantação e supervisão das ações; e) promover articulação intersetorial para a efetivação desta Política Nacional; f) estabelecer instrumentos e indicadores para o acompanhamento e avaliação do impacto da implantação/implementação desta Política; g) divulgar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa; e h) estimular pesquisas nas áreas de interesse do envelhecimento e da atenção à saúde da pessoa idosa, nos moldes do propósito e das diretrizes desta Política. 4.2. Gestor Estadual a) elaborar normas técnicas referentes à atenção à saúde da pessoa idosa no SUS; b) definir recursos orçamentários e financeiros para a implementação desta Política, considerando que o financiamento do Sistema Único de Saúde é de competência das três esferas de governo; c) Discutir e pactuar na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) as estratégias e metas a serem alcançadas por essa Política a cada ano; d) promover articulação intersetorial para a efetivação da Política; e) implementar as diretrizes da educação permanente e qualificação em consonância com a realidade loco regional; f) estabelecer instrumentos e indicadores para o acompanhamento e a avaliação do impacto da implantação/implementação desta Política; g) manter articulação com municípios para apoio à implantação e supervisão das ações; h) divulgar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa; i) exercer a vigilância sanitária no tocante a Saúde da Pessoa Idosa e a ações decorrentes no seu âmbito; e j) apresentar e aprovar proposta de inclusão da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa no Conselho Estadual de Saúde. 4.3. Gestor Municipal: a) elaborar normas técnicas referentes à atenção à saúde da pessoa idosa no SUS; b) definir recursos orçamentários e financeiros para a implementação desta Política, considerando que o financiamento do Sistema Único de Saúde é de competência das três esferas de governo; Emylle Pereira – Medicina UNDB (M2) c) discutir e pactuar na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) as estratégias e metas a serem alcançadas por essa Política a cada ano; d) promover articulação intersetorial para a efetivação da Política; e) estabelecer mecanismos para a qualificação dos profissionais do sistema local de saúde; f) estabelecer instrumentos de gestão e indicadores para o acompanhamento e a avaliação do impacto da implantação/implementação da Política; g) divulgar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa; e h) apresentar e aprovar proposta de inclusão da Política de Saúde da Pessoa Idosa no Conselho Municipal de Saúde. 5. Articulação Intersetorial As diretrizes aqui definidas implicam o desenvolvimento de um amplo conjunto de ações, que requerem o compartilhamento de responsabilidades com outros setores. Nesse sentido, os gestores do SUS deverão estabelecer, em suas respectivas áreas de abrangência, processos de articulação permanente, visando ao estabelecimento de parcerias e a integração institucional que viabilizem a consolidação de compromissos multilaterais efetivos. Será buscada, igualmente, a participação de diferentes segmentos da sociedade, que estejam diretas ou indiretamente relacionadas com a presente Política. No âmbito federal, o Ministério da Saúde articulará com os diversos setores do Poder Executivo em suas respectivas competências, de modo a alcançar os objetivos a seguir explicitados. 5.1. Educação a) inclusão nos currículos escolares de disciplinas que abordem o processo do envelhecimento, a desmistificação da senescência, como sendo diferente de doença ou de incapacidade, valorizando a pessoa idosa e divulgando as medidas de promoção e prevenção de saúde em todas as faixas etárias; b) adequação de currículos, metodologias e material didático de formação de profissionais na área da saúde, visando ao atendimento das diretrizes fixadas nesta Política; c) incentivo à criação de Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia nas instituições de ensino superior, que possam atuar de forma integrada