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historia_contemporanea_2018(1)

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Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6419-9
Dennison de Oliveira / Lorena Zom
er
História Contem
porânea
IESDE BRASIL S/A
2018
História Contemporânea
Dennison de Oliveira
Lorena Zomer
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagens da capa: SSGT F. Lee Corkran - DoD photo, USA.
Wikimedia Commons.
GÉRARD, François. La bataille d’Austerlitz. 1805. 
1 óleo sobre tela: color: 510 x 958 cm. Musée de Trianon, Paris, França.
StockQuest/iStockphoto.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
O51h Oliveira, Dennison de
História contemporânea / Dennison de Oliveira, Lorena Zo-
mer. - [2. ed.] - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2018.
176 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6419-9
1. História contemporânea. I. Zomer, Lorena. II. Título.
17-46165 CDD: 909.82CDU: 94(100)
© 2018 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos 
autores e do detentor dos direitos autorais.
Apresentação
Este livro abrange os séculos XIX, XX e XXI, a partir das mudanças 
ocasionadas pela Revolução Francesa. Nele são discutidos os principais 
acontecimentos, tendências e instituições que mais influência exerceram 
sobre a conformação da sociedade na qual vivemos. Por se tratar de uma 
síntese, espera-se que ele sirva como material de introdução ao estudo 
da História Contemporânea e também como guia para que o leitor iden-
tifique os temas mais importantes desse período e possa aprofundar os 
assuntos aqui tratados.
Pretende-se que o texto de cada capítulo seja inteligível em si mes-
mo. Contudo, é indispensável não perder de vista que tanto o viver social 
quanto o tempo histórico são um todo contínuo e indivisível e, se o divi-
dimos formalmente, é apenas para fins de estudo. O leitor deve atentar 
para as diferentes durações dos fenômenos históricos e sociológicos aqui 
descritos, as quais recorrentemente transcendem o conteúdo abarcado 
em cada capítulo.
Além disso, é indispensável não perder de vista que a disciplina 
de História exige um constante exercício de erudição. É necessário, tanto 
quanto possível e, na medida dos interesses de cada um, ler as obras com-
pletas, confrontar os originais com as diferentes leituras que deles são 
feitas e tentar manter-se atualizado com os contínuos avanços da ciência 
da história. Como qualquer outro campo do conhecimento, a história está 
em constante transformação no que se refere à elaboração de novas inter-
pretações e à descoberta de novas fontes e registros.
Mais do que um conjunto de informações e conteúdos, a história é 
um método de entendimento das diferentes perspectivas que podemos 
ter da realidade. Não é nem pretende ser apenas e tão somente o estu-
do do que já se passou, ou o estudo do passado. O que se pretende com 
este livro é contribuir para que o leitor desenvolva uma forma de pensar 
historicamente o processo de constituição da sociedade na qual vive e, 
dessa forma, possa aperfeiçoar o entendimento dos fenômenos que lhe 
são contemporâneos.
Sobre os autores
Dennison de Oliveira
Pós-doutor em Estudos Estratégicos pelo Instituto de Estudos 
Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (INEST/UFF). Doutor 
em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 
Mestre em Ciência Política pela Unicamp. Bacharel e licenciado em História 
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor titular do depar-
tamento de História da UFPR. Interesses de pesquisa: história política e 
história militar relacionadas ao período da História Contemporânea.
Lorena Zomer
Doutora e mestre em História pela Universidade Federal de Santa 
Catarina (UFSC). Especialista em Educação Especial pela Escola Superior 
Aberta do Paraná (Esap) e licenciada em História pela Universidade 
Estadual de Ponta Grossa (UEPG-PR). Tem experiência como profes-
sora de História no ensino superior (presencial e EAD), bem como na 
Educação Básica.
6 História Contemporânea
Sumário
1 Política e sociedade após a Revolução Francesa 9
1.1 A França de Bonaparte 10
1.2 Nação e nacionalismos 16
1.3 Operariado e a primavera dos povos 17
2 A cidade, a indústria e a classe trabalhadora 27
2.1 A ideia de progresso, o liberalismo e o mundo burguês 28
2.2 Construção de nações e a democracia 29
2.3 Trabalhadores, arte e ciência 32
3 O mundo ao alvorecer do século XX 43
3.1 A predominância da Europa 43
3.2 Os EUA, a Alemanha e o Japão como potências emergentes 44
3.3 A Segunda Revolução Industrial 46
3.4 O imperialismo 47
3.5 As forças da tradição e da transformação 49
4 Primeira Guerra Mundial 53
4.1 A política de alianças e as causas imediatas da guerra 53
4.2 O impasse militar: a guerra de trincheiras 55
4.3 As novas tecnologias e a guerra no ar e no mar 56
4.4 O desfecho da guerra 57
4.5 Consequências do conflito 58
5 Revoluções socialistas e movimento operário 63
5.1 Os vários socialismos e suas origens 63
5.2 O movimento operário 65
5.3 A Revolução Russa 67
5.4 Outras revoluções socialistas 68
5.5 A social-democracia 69
História Contemporânea 7
Sumário
6 Modelos econômicos: o desenvolvimento do capitalismo 75
6.1 O taylorismo e o fordismo 75
6.2 A urbanização 78
6.3 A divisão internacional do trabalho 80
6.4 A crise de 1929 e as relações internacionais 81
7 Modelos econômicos: o desenvolvimento do comunismo 87
7.1 A nova sociedade socialista 87
7.2 A planificação e seus objetivos 89
7.3 A industrialização, urbanização e educação 90
7.4 A coletivização e o fim da propriedade privada 91
7.5 Economia, política e sociedade sob a ordem comunista 91
8 Segunda Guerra Mundial 95
8.1 A ascensão do nazifascismo e do militarismo japonês 95
8.2 A mundialização do conflito 97
8.3 As novas tecnologias: a guerra no ar e no mar 99
8.4 O desfecho da guerra 100
8.5 Consequências do conflito 104
9 Guerra Fria e bipolarização 109
9.1 Origens da Guerra Fria 109
9.2 A bipolarização e as superpotências 111
9.3 As guerras localizadas e a bipolarização 112
9.4 A Guerra Fria, a descolonização e o Terceiro Mundo 114
9.5 O fim da Guerra Fria 116
10 Socialismo: seus limites e possibilidades 121
10.1 A economia planificada e seus êxitos 121
10.2 As limitações do planejamento centralizado e suas manifestações 122
10.3 As reações do autoritarismo soviético 125
10.4 A era da “estagnação” 125
10.5 O fim do socialismo 127
8 História Contemporânea
Sumário
11 Capitalismo: suas crises e superações 133
11.1 O estado do bem-estar social (welfare state) e o keynesianismo 133
11.2 O fordismo como projeto de sociedade 135
11.3 As tensões e contradições do fordismo e do welfare state 136
11.4 Os excluídos do sistema e suas manifestações 138
11.5 O declínio e crise do fordismo e do keynesianismo 139
12 Neoliberalismo, globalização e mundialização do capital 
no final do século XX 143
12.1 O choque do petróleo e suas implicações 143
12.2 A nova sociedade capitalista: a “acumulação flexível” 145
12.3 O “Estado mínimo” 146
12.4 O neoliberalismo e suas bases sociais e culturais de apoio 147
12.5 O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações 
e a era da globalização 148
13 Terrorismo, guerras e conflitos 153
13.1 Historicidade do terrorismo 153
13.2 A questão palestina e o terrorismo 154
13.3 As guerras árabe-israelenses 155
13.4 Os grupos terroristas nos países do Primeiro Mundo 157
13.5 As guerras no Iraque e Afeganistão 158
14 Economia e sociedade no século XXI 163
14.1 O fim da política 163
14.2 Os EUA como única superpotência 164
14.3 A ascensão da China 166
14.4 O aquecimento global e os problemas ambientais 167
14.5 A questão demográfica 168
História Contemporânea 9
1
Política e sociedade após a 
Revolução Francesa
Um inglês que não se sinta cheio de estima e admiração pela maneira sublime com que estáagora se efetuando uma das mais IMPORTANTES REVOLUÇÕES que o mundo jamais viu 
deve estar morto para todos os sentidos da virtude e da liberdade; nenhum de meus patrícios 
que tenha tido a sorte de presenciar as ocorrências dos últimos três dias nesta grande cidade 
fará mais que testemunhar que minha linguagem não é hiperbólica. (The Morning Post, 21 de 
julho de 1789, sobre a queda da Bastilha, apud HOBSBAWM, 2009, p. 97, grifos do original)
Essa citação traz o entusiasmo de alguém empolgado com o que vivenciou nos dias 
da Revolução Francesa. Os franceses da época talvez pensassem que a família real e a 
nobreza saberiam o que é um dia de trabalho ou de pagamento de impostos e achassem 
que todos poderiam ler, argumentar e ter ideias. Não sabemos exatamente onde situar 
o entusiasta exposto na citação. Mas podemos compreender que a Revolução Francesa 
inaugurou uma nova política no mundo ocidental contemporâneo. Isso também ocor-
reu com o conceito de revolução, que até aquele período significava movimento gira-
tório (relacionado ao movimento de um astro percorrendo a sua órbita), e, após esse 
momento, passou a ser compreendido como algo transformado e que não retornaria 
ao seu estado anterior. Como afirma o historiador Reinhart Koselleck, a experiência 
não caberia mais no horizonte de expectativa sentido nesse tempo (KOSELLECK, 2006, 
p. 65-69). Ao mesmo tempo, a burguesia – composta de representantes mais ou menos 
abastados e com pouca representação política – e também os grupos mais populares 
que logo defenderam a Revolução Francesa poderiam ter focado em construir uma 
política que protegesse a liberdade, para que, desse modo, construíssem uma demo-
cracia mais igualitária na Nova República. Já os grupos menos abastados buscaram 
segurança nas novas propostas políticas, sem se preocupar ou refletir sobre os abusos 
possíveis em uma política não igualitária. Nesse caso, o Estado passou a representar 
mais a própria burguesia.
Lorena Zomer
Política e sociedade após a Revolução Francesa1
História Contemporânea10
Este capítulo tem por objetivo apresentar ideias sobre o contexto político, social, 
cultural e econômico da França com base em alguns acontecimentos após a Revolução 
Francesa e os seus efeitos. Concentramos nossas atenções no período posterior à 
Revolução Francesa, retomando em alguns momentos acontecimentos do contexto re-
volucionário francês – e em parte na Inglaterra –, por entendermos que os rumos toma-
dos na França influenciaram, em diversos âmbitos, outros países europeus e também 
americanos (devido ao fim da escravidão de suas colônias e a conquista da república). 
Não obstante, as novas conquistas como ideais de república, de democracia, de igual-
dade e até mesmo de constituições em alguns países fomentaram movimentos sociais 
que buscavam direitos de representação, sociais e trabalhistas. Entre eles, estão o movi-
mento operário, o Manifesto do Partido Comunista, a Primavera dos Povos e a formação 
nacionalista após 1830, temas que colaboraram em nosso entendimento sobre a constru-
ção do mundo contemporâneo capitalista, assim como a influência da Inglaterra no que 
diz respeito à indústria. Essas ideias têm por base uma perspectiva do historiador Eric 
Hobsbawm, que afirma: “Se a economia do mundo do século XIX foi formada principal-
mente sob a influência da Revolução Industrial britânica, sua política e ideologia foram 
formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa.” (HOBSBAWM, 2009, p. 97). Ou 
seja, o historiador deixa evidente que os contextos de ambos os países não são contrá-
rios, mas complementares. Por isso, este capítulo contempla a reflexão sobre a Europa 
nova que estava em formação, muitas vezes visando acabar com os resquícios do Antigo 
Regime, assim como convocar as massas por meio de associações e propagandas. Diante 
disso, algumas décadas foram necessárias para que uma nova ordem se erguesse e, junto 
a ela, muitas ideias sociais e políticas.
1.1 A França de Bonaparte
O marco da Revolução Francesa é 1789, ano da tomada de Versailles, de 
Paris e dos principais centros e instituições representantes do Antigo Regime 
e da monarquia. Mas se a Revolução não começou em 1789 – visto que foram 
muitos os acontecimentos para que ela ocorresse –, também não finalizou 
nessa data. Foram necessários cerca de dez anos para que o período revolu-
cionário alcançasse um novo patamar político, com o 18 de Brumário de Napoleão Bonaparte 
e sua tomada de poder, e a futura disputa dos Bourbons com a expulsão de Bonaparte. 
Nesse sentido, a ideia de revolução de Hannah Arendt no livro Entre o passado e o futuro, de 
1987, colabora para entendermos que o contexto francês era de opressão e de muita pobreza 
para as massas. A filósofa ressalta que não houve anteriormente na história francesa qual-
quer levante como o Grande Medo ou a Tomada da Bastilha, acontecimentos nos quais o povo 
tomou diversas propriedades particulares e públicas, representando o desejo de mudança. 
Entretanto, para ela, a burguesia – que promoveu ideologicamente esses acontecimentos e 
que se via como classe – logo tomou a direção e manipulou o sentido de liberdade e de igual-
dade com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. A filósofa faz a seguinte afirmação:
Vídeo
Política e sociedade após a Revolução Francesa
História Contemporânea
1
11
[...] aqueles que precisavam ser liberados de seus senhores, ou da necessidade 
[...] correram em auxílio àqueles que desejavam criar um espaço para a liberdade 
pública – com a consequência inevitável de que a prioridade teve de ser dada 
à liberação e de que os homens da revolução se desviaram cada vez mais da-
quilo que originalmente haviam considerado seu mais importante objetivo [...]. 
(ARENDT, 1979, p. 185)
Entendemos nessa citação que o espaço criado pela burguesia e pela luta do povo logo 
após a Revolução Francesa foi utilizado tendo-se em vista um caráter prioritário de ques-
tões sociais, cujo objetivo não foi uma política que defendesse a liberdade, mas a segurança 
social, algo inexistente no Antigo Regime (ARENDT, 1979, p. 106)1. Lynn Hunt, historiadora 
cultural francesa2 e especialista em Revolução Francesa, por sua vez, explica:
A falta de definição social da nova classe política tornou a experiência da 
Revolução ainda mais incisiva em sua contestação do costume e da tradição. 
A busca de uma nova identidade nacional levou à rejeição de todos os mode-
los e padrões de autoridade anteriores [...] Recém-chegados, jovens notáveis que 
haviam saído de sua terra para estudar, comerciantes que viajavam pelo inte-
rior, advogados com contatos na capital departamental ou em Paris [...] todos 
esses indivíduos tinham probabilidade de se tornar formadores de redes políti-
cas. Suas profissões e posições sociais eram em geral diferentes, porém, seus pa-
péis como agentes de cultura e do poder eram fundamentalmente semelhantes. 
(HUNT, 2007, p. 249-250)
O que Hunt sugere é a diversidade que compunha o início da revolução, com grupos de-
sejosos de uma nova política social que não tinham outros pontos em comum e que precisavam 
ter um “acordo” para que pudessem implementar uma nova política. Grupos que poderiam for-
mar redes políticas, dependendo de seus contatos e estratégias no mundo pós-revolução. Tanto 
Hannah Arendt quanto Lynn Hunt têm um ponto em comum: a Revolução Francesa, devido ao 
período conturbado após 1789 e pela pluralidade de questões sociais, acabou por não dar um 
sentido político ao conceito de liberdade, o qual daria segurança às questões sociais.
A historiadora Lynn Hunt aponta logo no prefácio de sua obra que a Revolução Francesa 
nos grandes centros foi liderada pelos burgueses comerciantes e manufatores marxistas, mas 
que a crítica era de que advogados e altos funcionários públicos seriam os líderes (HUNT, 
2007, p. 9). Hunt aponta que encontrou, em sua pesquisa, os líderes burgueses, mas de modo 
esparso e não homogêneo, ou seja, em alguns lugares eles tiveram destaque; em outros, nãotiveram ou perderam. A fim de responder a tal questão, a historiadora afirma: “a política 
de esquerda seduziu mais consistentemente em lugares distantes, relativamente atrasados e 
desprovidos de manufatura em grande escala” (HUNT, 2007, p. 10). Contraditoriamente, os 
1 A filósofa Hannah Arendt tem larga produção sobre processos totalitários e ideia de liberdade, os 
quais dialogam com diversos conceitos do mundo contemporâneo. Outra produção relacionada ao 
capítulo é ARENDT, Hannah. Sobre a revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
2 O livro Política, cultura e classe na Revolução Francesa foi lançado em 1987. Porém, em uma reedição 
de aniversário, em 2007, Hunt faz novas considerações no prefácio, cujas perspectivas foram utiliza-
das neste texto. HUNT, Lynn. Política, cultura e classe na Revolução Francesa. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2007.
Política e sociedade após a Revolução Francesa1
História Contemporânea12
Estados mais revolucionários foram os que menos se industrializaram. Nesse caso, apenas 
se considerados os aspectos culturais, como a existência de lojas maçônicas, dos laços de 
casamentos, dos indivíduos do Antigo Regime e dos influenciadores regionais (professores, 
viajantes), podemos compreender que a Revolução Francesa, a fim de forjar novas identida-
des políticas durante a década de 1790, teve em sua gênese “componentes culturais impor-
tantes” (HUNT, 2007, p. 10), para além de uma perspectiva econômica ou social.
Hobsbawm, por sua vez, também lembra a presença maçônica – uma das poucas ex-
periências democráticas conhecidas até 1789, visto que poucas instituições ou associações 
“aceitavam” o parecer ou a opinião de todos os participantes igualmente. Segundo o autor:
A ideologia de 1789 era a maçônica, expressa com tão sublime inocência na 
Flauta Mágica de Mozart (1791) uma das primeiras grandes obras de arte propa-
gandistas de uma época em que as mais altas realizações artísticas pertenceram 
tantas vezes à propaganda. Mais especificamente, as exigências do burguês fo-
ram delineadas na famosa Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 
de 1789. Este documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de pri-
vilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma sociedade democrática 
e igualitária: “os homens nascem e vivem iguais perante as leis” [...] mas ela [a 
Constituição] também prevê a existência de distinções sociais [...] (HOBSBAWM, 
2009, p. 106, grifos do original)
Desse modo, compreendemos que a bandeira da Revolução Francesa levantada sob a 
égide Liberdade, Igualdade, Fraternidade tinha uma ideia diferente do que boa parte da massa 
revolucionária acreditava. Para Klaus Eggennsperger (2010), a ópera de Mozart traz a ideia 
de luz e de livros, ligando-se aos princípios iluministas, em um universo masculino, cujo 
trajeto é da escuridão à luz. França, Alemanha, Áustria e Inglaterra debatiam-se diretamente 
contra o Antigo Regime. Tanto nessa ópera quanto na Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão, de 1789, Hobsbawm observa elementos que permitem pensar as diferenças sociais, 
tanto políticas quanto de classe. O que podemos compreender nesse início é que a república 
almejada – que seria construída no decorrer do século XIX – já encontrava em seu projeto 
entraves e dificuldades.
Lynn Hunt faz uma análise de associações e atas dos conselhos municipais na França 
pré e pós-revolução, chegando à conclusão de que
A classe política revolucionária pode ser considerada “burguesa” tanto da pers-
pectiva da posição social como da consciência de classe. As autoridades revo-
lucionárias eram os proprietários dos meios de produção; eram comerciantes 
com capital, profissionais liberais qualificados, artesãos com oficinas próprias 
ou, mais raramente, camponeses com terras. Não foram encontrados homens 
sem qualificação ocupacional, trabalhadores diaristas e camponeses sem terra 
em posições de liderança e nem sequer sua representatividade foi expressiva 
entre as bases militantes. (HUNT, 2007, p. 207)
Com essa análise de Hunt, na qual a historiadora traz a ideia de que apenas uma “bur-
guesia” pode ser vista como classe no período, e também considerando os grupos culturais 
Política e sociedade após a Revolução Francesa
História Contemporânea
1
13
diferentes que existiam na França naquele momento, é possível dizer que o pós-1789 não 
tinha um sentido ou uma trajetória definidos. Camponeses – sem terras – estavam espalha-
dos pela França, muitos sem participar das organizações políticas, mas que colaboraram 
com o Grande Medo e a Tomada da Bastilha. Frisamos: Hunt (2007), ao sustentar que a classe 
revolucionária era a burguesa, não diminui a participação do povo, que, aliás, foi grande e 
deu outro caráter à revolução.
Hobsbawm caracteriza o caráter revolucionário e a importância do povo como muito maior 
que o próprio projeto liberal burguês em 1789, ainda antes da revolução. Entretanto, esse caráter 
teve mais voz nas assembleias daquele ano, em especial, nas eleições dos estados gerais – visto 
que muitos camponeses e trabalhadores pobres não eram alfabetizados –, com participações 
políticas mais simples e imaturas no Terceiro Estado (HOBSBAWM, 2009, p. 107).
Por sua vez, a burguesia constitucionalista eleita trazia, em maioria, ideias de defesa 
da propriedade privada e estava desejosa de que o voto fosse individual e não por Estado 
(HOBSBAWM, 2009, p. 108). Logo em seguida, os burgueses obtiveram vitória no que diz 
respeito a uma assembleia nacional que faria a Constituição francesa, pouco antes do Grande 
Medo e da Tomada da Bastilha.
Uma monarquia constitucional foi promulgada em 1791, período no qual a primeira 
Constituição foi publicada e cujos artigos foram determinados por uma prática política cen-
sitária. Apenas a burguesia referente ao Terceiro Estado teve voto, almejando um programa 
liberal não aceito pelas alas mais radicais e de esquerda.
A Convenção Nacional, fase do governo organizada após a morte de Luís XVI, rei de-
posto após a Revolução Francesa, acabou liderada pelos jacobinos3 (pequena burguesia4 e 
sans-culottes5) (HOBSBAWM, 2009, p. 109-113). Estes – de uma esquerda mais radical – cria-
ram novos impostos sobre os ricos entre 1793 e 1794, fizeram “caças” a todo tipo de cor-
rupção, construíram escolas, regulamentaram salários e preços sobre produtos, além de ter 
o apoio das massas. Contudo, os jacobinos tiveram o governo desgastado e sofreram com 
cisões dentro do próprio partido, em consequência do caráter agressivo e ditatorial em rela-
ção à rainha e a qualquer oponente do Antigo Regime, quando foram mortas cerca de 35 mil 
pessoas. Foi também no período jacobino que houve a propagação de ideais franceses, isto 
é, por meio de associações, clubes, leituras, panfletos, proclamava-se quais deveriam ser as 
inspirações sociais e culturais para que a França se tornasse uma república como exemplo 
para todas as outras (HOBSBAWM, 2009, p. 121-125). 
3 O grupo mais radical reunia-se no mosteiro de São Tiago, em latim Jacobus, por isso o nome. Senta-
vam-se mais à esquerda e por isso há uma relação de esquerda e política mais radical. HOBSBAWM, E. 
J. A Revolução Francesa. In: _____. A era das revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
4 Sobre esse movimento, ver: POGREBINSCHI, T. Emancipação política, direito de resistência e direi-
tos humanos em Robespierre e Marx. Dados, Rio de Janeiro, v. 46, n. 1. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582003000100004>. Acesso em: 24 out. 2017.
5 Grupo de pequenos artesãos, comerciantes, entre outros de origem simples, que apoiaram os jaco-
binos mais radicais. Não conquistaram grande liderança, nem ao menos participaram ativamente do 
poder. Mas, junto a esse grupo, os jacobinos ganharam apoio da massa, em especial, no primeiro ano 
de poder. HOBSBWAM, E. A era das revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2009, p.125-127.
Política e sociedade após a Revolução Francesa1
História Contemporânea14Essas situações causaram o enfraquecimento dos jacobinos e sua substituição pelos gi-
rondinos (alta burguesia), grupo mais conservador, que revogou diversas medidas toma-
das anteriormente, visto que desejavam o programa econômico mais liberal de 1789-1791, 
mas que não fosse nem um governo radical, nem a possibilidade de um retorno do Antigo 
Regime. Ainda em 1796, o jornalista Graco Babeuf, um sobrevivente desse período, começou 
a propagar suas ideias, defendendo a igualdade entre todos6 ao trazer consigo alguns segui-
dores. Ele promoveu a Conjuração dos Iguais, uma insurreição para tomar o poder e para 
que jocobinos e socialistas vivessem em comunidades de iguais, mas acabou executado pelo 
Diretório, o regime político adotado pelos girondinos.
Justamente isso fez com que os girondinos precisassem do exército (criado no período 
jacobino), a fim de conter as revoltas causadas pelas novas medidas, por cerca de cinco 
anos. O exército, por sua vez, fortaleceu-se cada vez mais, em especial um nome: Napoleão 
Bonaparte. Segundo Hobsbawm, isso se deu da seguinte forma:
De um levée en masse de cidadãos revolucionários, ele logo se transformou em 
uma força de combatentes profissionais, pois não houve recrutamento entre 1793 
e 1798, e os que não tinham gosto ou talento para o militarismo desertaram em 
massa. Portanto, ele reteve as características da Revolução e adquiriu as caracte-
rísticas do interesse estabelecido, a típica mistura bonapartista. (HOBSBAWM, 
2009, p. 127, grifos do original)
A alta burguesia, cansada da instabilidade francesa após a revolução, deu apoio ao ge-
neral Napoleão Bonaparte para que ele tomasse o poder junto a um exército treinado e que 
acreditava estar resolvendo os impasses franceses. O exército instituiu o Consulado, prática 
política dividida entre três cônsules, embora Bonaparte fosse o mais atuante. Ele logo criou o 
Banco da França, buscando reconciliar os interesses da burguesia – e de investimentos – com 
os das massas, beneficiados pelo Código Civil Napoleônico, cuja premissa era igualdade en-
tre todos os cidadãos, embora preservasse a propriedade privada (acabando com qualquer 
resquício feudal), rebaixasse as mulheres a uma segunda categoria e permitisse novamente 
a escravidão nas colônias. Não obstante, assinou em 1801 uma concordata com a Igreja cató-
lica, em que ela poderia novamente ter poder dentro da França, prática questionada desde 
a Revolução Francesa.
Portanto, é nesse período que o projeto liberal burguês ganhou espaço mais signi-
ficativo até então. Sobre o liberalismo, embora seja um conceito complexo7, podemos 
entender que
[...] surgiu no século XVIII a partir do Iluminismo, teve seu auge no século XIX 
e pode ser dividido em liberalismo econômico e liberalismo político. Vigorou 
principalmente na Europa ocidental e na América Latina até o período do entre 
6 Grupo de pequenos artesãos, comerciantes, entre outros de origem simples, que apoiaram os jaco-
binos mais radicais. Não conquistaram grande liderança, nem ao menos participaram ativamente do 
poder. Mas, junto a eles, os jacobinos ganharam apoio da massa, em especial no primeiro ano de poder 
(HOBSBWAM, 2009, p. 125-127).
7 Para mais detalhes e perspectivas historiográficas do conceito, ver: SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicio-
nário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009, p. 258-262.
Política e sociedade após a Revolução Francesa
História Contemporânea
1
15
guerras, quando sofreu severa crise com os regimes fascistas, ressurgindo no 
último quartel do século XX, revitalizado na teoria político-econômica do neoli-
beralismo. A base social do pensamento liberal era a burguesia, que, ascenden-
do economicamente durante a Idade Moderna, almejava tomar o poder político. 
Economicamente, o liberalismo é uma teoria capitalista, que defende a livre-ini-
ciativa e a ausência de interferências do Estado no mercado. O liberalismo políti-
co, por sua vez, emergiu como uma nova forma de organizar o poder, contrária 
ao Absolutismo (SILVA; SILVA, 2009, p. 258)
Nessas condições, a burguesia passou a influenciar a organização político-econômica 
depois da Revolução Francesa, que, após o fim da monarquia constitucionalista (em 1848), 
ocasionou ao país o fortalecimento do Estado em um caráter mais liberal. Além disso, 
criou a Associação das Indústrias Nacionais, que tinha por objetivo a união entre cientis-
tas, intelectuais, industriais e indivíduos que defendiam uma postura econômica moderna 
(HOBSBAWM, 2009, p. 145-148). Em 1804, quando Bonaparte foi eleito imperador em um 
plebiscito, com 60% dos votos, ele já assumiu dispondo de um exército maior cujas pilhagens 
trouxeram riquezas à França e também alteraram o mapa geográfico-político. Bonaparte co-
mandou invasões ao antigo Império Germânico, à Holanda, a Portugal, à Espanha, à Bélgica 
e a diversos países do Leste. É interessante observarmos que essa prática de ganho de terri-
tório formando uma nação (no sentido apenas territorial) é algo que impulsionou diversas 
potências ao longo do século XIX e influenciou ideias e perspectivas mais nacionalistas e 
imperialistas (HOBSBAWM, 2009, p.145-148).
Napoleão Bonaparte acabou perdendo duas batalhas importantes entre 1812 e 1813. 
Isso o fez abdicar do trono, mas, mesmo exilado, retornou e permaneceu no governo por 
mais 100 dias. Ele centralizou os interesses franceses, fez com que o país se industrializasse, 
mas também teve atitudes autoritárias, visto que proibiu sindicatos e organizações traba-
lhistas e, segundo Hunt (2007, p. 261), “Bonaparte substituiu eleições por plebiscitos, proi-
biu os clubes e expandiu o serviço militar. Manteve o princípio da soberania popular, mas 
fez de si mesmo o único agente político real, removendo assim a perigosa imprevisibilidade 
da mobilização popular organizada”.
Ao seu modo, ele dirigiu uma economia liberal burguesa, agradando àqueles que eram 
mais poderosos, mas retirando do povo os direitos que estavam nascendo. Após a segun-
da expulsão de Bonaparte, Luís XVIII assumiu o poder, marcando o retorno dos Bourbons 
como monarquia constitucional, o que será questionado nas décadas seguintes até o fim 
desse regime político, em 1848. Entre 1814 e 1815, o Congresso de Viena fez uma revisão 
nas alterações geográficas causadas por Bonaparte. Entretanto, se os dez anos de Revolução 
Francesa e mais o período de Bonaparte não promoveram a liberdade e a igualdade para 
todos, também não apagou essas experiências políticas. Para Lynn Hunt
Democracia, terror, socialismo e autoritarismo foram, todos, possibilitados pela 
expansão do espaço político e da participação organizada das classes populares. 
O terror era impensável sem a experiência prévia da democracia; foi o lado dis-
ciplinador da comunidade democrática, invocado embora de emergência e justi-
ficado pelas necessidades de virtude e defesa da nação. O governo usou o Terror 
Política e sociedade após a Revolução Francesa1
História Contemporânea16
para obter o controle do movimento popular, mas sem o movimento popular 
não teria havido demanda pelo terror. (HUNT, 2007, p. 260)
A historiadora está se referindo à postura marxista sobre os resultados da Revolução; 
tal postura entendia que era necessário o terror (sinônimo de erradicação de processos ou de 
grupos que se colocavam contra) para se chegar à democracia ou ao socialismo. Para Hunt 
(2007), pensar a Revolução Francesa até Bonaparte é entender que novas práticas sociais e 
políticas estavam objetivando construir a ideia de democracia, um termo ainda “jovem” no 
período. Se não conseguiram, apenas uma análise minuciosa do cotidiano da época poderia 
explicar. Portanto, a Revolução Francesa trouxe para o mundo uma nova cultura política e 
incentivou muitos países a buscarem as próprias revoluções políticas e sociais.
1.2 Nação e nacionalismos
Entre os séculos XIX e XX, os conceitos de nação e de nacionalismo so-
freram inovações e transformações. Tanto a Revolução Francesa quanto a 
independência dos EstadosUnidos alteraram diversas concepções políticas. 
As primeiras ideias nacionalistas vieram de grupos pequenos, porém orga-
nizados e influenciados pelos ideais de Giuzeppe Mazzini, depois de 1830. 
Para Eric Hobsbawm, esse é “o marco da desintegração do movimento revolucionário euro-
peu em segmentos nacionais” (HOBSBAWM, 2009, p. 151). O historiador inglês ressalta que 
pequenos proprietários foram apoiadores em toda a Europa desse movimento, visto que 
seus interesses não eram corroborados pela alta burguesia, que era liberal.
As revoluções de 1848 (tema da próxima seção) impulsionaram ainda mais a busca pela 
definição de nação, como também lançaram uma reflexão sobre o cotidiano dos habitantes. 
Se propagandas em massa, literatura e a cultura em geral foram utilizadas para disseminar 
ideias, de alguma forma também chegavam às massas, as quais começariam a questionar 
alguns princípios vinculados. Para Benedict Anderson (2008), o nacionalismo surge na me-
dida em que se imagina a nação, além das três expectativas existentes anteriormente nesses 
contextos, quais sejam:
A primeira delas é a ideia de que uma determinada língua escrita oferecia um 
acesso privilegiado à verdade ontológica, justamente por ser uma parte indisso-
ciável dessa verdade. Foi essa ideia que gerou as grandes irmandades transcon-
tinentais da cristandade, do Ummah islâmico e de outros. A segunda é a crença 
de que a sociedade se organizava naturalmente em torno e abaixo de centros 
elevados – monarcas à parte dos outros seres humanos, que governavam por 
uma espécie de graça cosmológica (divina). [...] A terceira é uma concepção da 
temporalidade em que a cosmologia e a história se confundem, e as origens do 
mundo e do homem são essencialmente as mesmas. Juntas, essas ideias enraiza-
vam profundamente a vida humana na própria natureza das coisas, conferindo 
um certo sentido às fatalidades diárias da existência e oferecendo a redenção de 
maneiras variadas. (ANDERSON, 2008, p. 69)
Vídeo
Política e sociedade após a Revolução Francesa
História Contemporânea
1
17
Observamos que, em especial, as duas últimas estão relacionadas a um tipo de fé, pers-
pectiva que se modificou já no período Moderno na Europa e mais ainda no Contemporâneo, 
ou seja, nem tudo é natural ou de acordo com a vontade de Deus ou dos deuses. O sociólogo 
Anderson (2008) reitera: tais crenças são lugares demarcados no imaginário, respeitados 
como senso comum. 
As transformações ocorridas a partir da Revolução Francesa não permitiriam que ou-
tros países ou impérios permanecessem como estavam. Se nação, no sentido mais básico, 
significava até então unidade política, segundo Hobsbawm passa a ser vista como um prin-
cípio de nacionalidade, que se tornou um dos principais objetos de disputa dentro da nova 
cultura política do século XIX (HOBSBAWM,1991, p. 126).
Na próxima seção, trazemos outra revolução importante: a dos trabalhadores. Não em 
relação a seus termos de trabalho ou de modos de produção, mas analisando as consequên-
cias de suas lutas no século XIX e buscando compreender como esses movimentos colabora-
ram com outros maiores que se seguiram.
1.3 Operariado e a primavera dos povos
Para governar é preciso ter
Mantos ou condecorações em brasões
Nós tecemos para vós, grandes da terra,
E nós, pobres operários, sem lençol onde nos enterrar
Somos nós os operários
Nós estamos todos nus
Mas nosso reino irá chegar
Quando o vosso reino terminar
Então, nós teceremos a mortalha do velho mundo
Porque já se percebe a revolta que troa
Somos nós os operários
Não estaremos nus
A canção exposta anteriormente e ressaltada por Hobsbawm em sua obra (2009, p. 319) 
mostra o desejo dos tecelões de Lyon de se organizar ou resistir de alguma forma nas déca-
das de 1830 e 1840. O paradoxo está entre as condecorações recebidas por aqueles que repre-
sentavam o Estado, ao tempo em que outros (aqueles que produziam para que os primeiros 
vivessem com conforto) não tinham como dar um enterro digno aos seus entes. Além disso, 
no trecho “quando o vosso reino terminar” fica evidente a intenção que havia de mudar 
esse contexto. Nesse cenário, Karl Marx lançou suas ideias junto a Friedrich Engels, no livro 
Manifesto Comunista, em 1848.
Vídeo
Política e sociedade após a Revolução Francesa1
História Contemporânea18
Figura 1 – Karl Marx (1818-1883).
Fonte: John Jabez Edwin Mayall/Wikimidia Commons.
Desde a pré-revolução industrial na Inglaterra dos séculos XVII e XVIII, o mundo 
ocidental já sentia as primeiras mudanças em relação aos novos princípios capitalis-
tas, os quais se tornariam a perspectiva econômica mais comum. O trabalho árduo das 
fábricas, o relógio que controlava e determinava o valor de seu trabalho, as tradições 
esquecidas e abandonadas pela perda de propriedades ou pelo êxodo rural também são 
sintomas desse período. Nesse sentido, o modo de produção capitalista industrial trou-
xe inúmeras desvantagens ao operariado, desde problemas de saúde decorrentes das 
condições insalubres das indústrias e das casas, que mais pareciam cortiços pelo excesso 
de pessoas e pela falta de qualquer conforto. Sobre esse período ainda, o historiador 
Edgar Salvadori de Decca faz a seguinte afirmação:
[...] a reunião dos trabalhadores na fábrica não se deveu a nenhum avanço das 
técnicas de produção. Pelo contrário, o que estava em jogo era justamente um 
alargamento do controle e do poder por parte do capitalista sobre o conjunto de 
trabalhadores que ainda detinham os conhecimentos técnicos e impunham a di-
nâmica do processo produtivo. Na fábrica, a hierarquia, a disciplina, a vigilância 
e outras formas de controle tornaram-se tangíveis a tal ponto que os trabalhado-
res acabaram por se submeter a um regime de trabalho ditado pelas normas dos 
mestres e contramestres, o que representou, em última instância, o domínio do 
capitalista sobre o processo de trabalho. (DECCA, 1996, p. 22-24)
Percebemos que, além de conviver com toda exploração e falta de condições salubres, 
operários foram transformados em marionetes, perdendo sua autonomia. Uma prática que 
tornou o trabalho de muitos desses homens e mulheres automático, sem vida, apenas uma 
obrigação. Hannah Arendt sugere que isso é proposital e faz parte do último estágio de uma 
classe de operários, em que estes apenas se “deixavam levar” e “é perfeitamente concebível 
que a era moderna [...] venha a terminar na passividade mais mortal e estéril que a história 
jamais conheceu” (ARENDT, 1983, p. 336), o que entendemos como uma alienação almejada.
http:// 
Política e sociedade após a Revolução Francesa
História Contemporânea
1
19
Entretanto, salientamos algumas perspectivas sobre a ideia de classe, de acordo com o 
historiador Edward Palmer Thompson:
Por classe, entendo um fenômeno histórico, que unifica uma série de aconteci-
mentos díspares e aparentemente desconectados, tanto da matéria-prima da ex-
periência como na consciência. Ressalto que é um fenômeno histórico [...] a noção 
de classe traz consigo a noção de relação histórica. Como qualquer outra relação, 
é algo fluido que escapa à análise ao tentarmos imobilizá-la num dado momento 
e dissecar sua estrutura. (THOMPSON, 1987, p. 9, grifo do original)
O que o historiador explica é o cuidado em não reduzir o operariado a uma classe com-
preensível apenas em princípios capitalistas industriais (os quais também são contextuais). 
A formação de uma classe ocorre nas relações humanas, por meio de experiências herdadas 
ou partilhadas e acabam por articular suas perspectivas identitárias entre si. E é nesse sen-
tido que Thompson retoma a ideia sobre o operariado, não como uma classe que surgiu em 
função do mundo fabril, mas que se uniu também em função dele:
[...] os trabalhadores ingleses, em sua maioria, vieram a sentir uma identidade 
de interesses entre si, e contra seus dirigentes e empregadores. Essa classe diri-
gente estava, ela própria, muito dividida, e de fato só conseguiu maior coesão 
nesses mesmos anos porquecertos antagonismos se dissolveram (ou se tornaram 
relativamente insignificantes) frente a uma classe operária insurgente. Portanto, 
a presença operária foi, em 1832, o fator mais significativo da vida política britâ-
nica. (THOMPSON, 1987, p. 12)
Entretanto, se a Reforma e a Contrarreforma provocaram resistências tanto por meio 
da cultura popular quanto por revoltas, o operariado do século XIX também não deixou 
de resistir. Na visão do proletariado, a criminalidade também foi uma arma de revolta, e a 
destruição de máquinas pode ser vista como uma reação, mesmo que descontextualizada de 
um movimento organizado. Muitas dessas ações difundiram o julgamento de que operários 
e operárias eram vagabundos, preguiçosos, criminosos etc.
Com o surgimento de sindicatos e organizações de trabalhadores a partir de 1830, 
a França começou a ver os operários como grupos. Como ressaltamos, o Manifesto 
Comunista foi, sem dúvida, um livro que reuniu ideias a respeito da luta de classes que 
incentivou muitos a lutarem. Entretanto, embora tenha sido lançado ainda em 1848, 
não era conhecido dos líderes operários desde o início, assim como nem todos tiveram 
acesso à obra de imediato. Sobre a situação social de muitos operários desse período, 
Hobsbawm faz algumas considerações:
A bebida não era o único sinal desta desmoralização. O infanticídio, a prostitui-
ção, o suicídio e a demência têm sido relacionados com este cataclismo econô-
mico e social, graças em grande parte ao trabalho pioneiro na época daquilo que 
hoje em dia seria chamado de medicina social. O mesmo se deu em relação ao 
aumento da criminalidade e da violência crescente e frequentemente despropo-
sitada que era uma espécie de ação pessoal cega contra as forças que ameaçavam 
engolir os elementos passivos [...] Eram tentativas de escapar do destino de ser 
Política e sociedade após a Revolução Francesa1
História Contemporânea20
um trabalhador pobre ou, na melhor das hipóteses, de aceitar ou de esquecer a 
pobreza e a humilhação. (HOBSBAWM, 2009, p. 325)
Situações sociais muitas vezes “causadas” pela falta de opção, de proteção social e po-
lítica, visto que, naquele período, raros eram os direitos trabalhistas e sociais reconhecidos. 
Hobsbawm (2010) chama a nossa atenção ao fato de que diversos crimes ou preconceitos 
relacionados às camadas sociais mais simples muitas vezes tinham origem nas diferenças 
sociais acirradas. Epidemias de cólera, por exemplo, só foram uma preocupação das autori-
dades quando começaram a atingir as camadas sociais mais abastadas. 
Esse panorama social comum em muitos centros industriais é uma forma de resistência 
ao Estado e ao sistema capitalista em partes, pois inicia com revoltas individuais – que são 
os crimes já mencionados, além de destruição de máquinas das fábricas – partindo para 
revoltas em grupos, como as greves e os sindicatos. Estes últimos começaram a funcionar a 
partir dos anos de 1840 como espaços de solidariedade e de consciência de classe. Um dos 
movimentos, que não podem ser reduzidos a apenas “destruições de máquinas”, foi o ludis-
mo, cuja perspectiva é apontada por Thompson a seguir:
Só quebraram as armações dos que tinham reduzido o valor dos salários dos 
empregados; os que não tinham abaixado o valor, ficaram com suas armações 
intactas; num estabelecimento, na noite passada, quebraram quatro entre seis ar-
mações; as outras duas, que pertenciam a mestres que não tinham abaixado seus 
salários, não mexeram nelas. (MERCURY apud THOMPSON, 1998, p. 126-133)
Nesse caso, compreendemos que as ações dos ludistas tinham por objetivo reivindicar 
direitos trabalhistas e não aceitar a exploração direta e cotidiana que vinham sofrendo, as-
sim como o não cumprimento de um pagamento pré-combinado.
Quando o Manifesto Comunista foi escrito por Engels e Marx, o objetivo central era ex-
por os estatutos da Liga Comunista, embora isso não seja citado no documento. Isso ocorre 
porque a intenção de escrever tal panfleto era criar uma ideia de classe, revelar a opressão 
sentida pelos operários que, embora já se rebelassem de diferentes formas, ainda não se 
reconheciam como uma organização comum com uma pauta de reivindicações. Marx, em 
sua escrita no Manifesto Comunista, estabelece uma relação entre proletariado e a intenção do 
capitalismo. De acordo com Hobsbawm,
A visão que tinha o Manifesto do desenvolvimento histórico da “sociedade bur-
guesa”, inclusive a classe operária por ele gerada, não levava necessariamente 
à conclusão de que o proletariado derrubaria o capitalismo e, com isso, abriria 
caminho para o desenvolvimento do comunismo, porque a visão e a conclusão 
não provinham da mesma análise. O objetivo do comunismo, adotado antes que 
Marx se tornasse “marxista”, não procedia de uma análise da natureza e do de-
senvolvimento do capitalismo, mas de uma discussão filosófica, na realidade 
escatológica, sobre a natureza e o destino do homem. A ideia – fundamental para 
Política e sociedade após a Revolução Francesa
História Contemporânea
1
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Marx a partir de então – de que o proletariado era uma classe que não poderia 
se libertar sem libertar a sociedade como um todo surgiu como “uma dedução 
filosófica e não como um produto da observação”. (HOBSBAWM, 2011, p. 111)
O historiador, ao mencionar dedução filosófica, objetiva afirmar que o operariado e a 
sociedade (de cada contexto) nunca viveram até então um processo de ruptura e de liberda-
de, portanto, a práxis nesse caso não pode ser compreendida em sua teoria. Nesse período, 
o comunismo era uma filosofia, visto que, para Karl Marx, o destino da humanidade seria o 
fim da luta de classes, uma possibilidade caso o capitalismo fosse dominado pelo operaria-
do. Entretanto, como reitera o próprio Hobsbawm, o manifesto foi um grande divulgador 
do comunismo no século XX, mas não seria ouvido ou lido se grupos não se organizassem 
e difundissem os primeiros ideais ou, nas palavras do historiador, “as covas precisam ser 
abertas por ação humana” (HOBSBAWM, 2011, p. 114). 
Portanto, a ideia de que o proletariado desenvolveria uma consciência revolucionária 
sobre o capitalismo era uma das possibilidades, visto que nem sempre estavam em oposi-
ção. Hobsbawm (2009) cita diversas realidades europeias do início do século, pioradas com 
as más colheitas de 1817, 1832 e 1847, ou seja, camponeses sem propriedade ou com terras 
inférteis que já eram muito pobres, somavam-se aos trabalhadores urbanos e suas péssimas 
condições de existência.
É nesse contexto que surgem as revoluções da Primavera dos Povos. Inúmeras e rá-
pidas, espalharam-se por toda a Europa, em especial, nos grandes centros. Trabalhadores 
estavam cansados, não somente pela falta de direitos trabalhistas, mas por conta da ausência 
de um Estado mais responsável pelo povo, visto que na Europa, até então, a maior parte dos 
Estados era monárquica, inclusive a França (com os Bourbons). Alguns casos ainda eram 
piores, como os da Alemanha e da Itália, pois naquela época ainda não eram países, restando 
aos seus trabalhadores acordos locais. Direitos civis, educacionais, políticos e de saúde esti-
veram na pauta de diversos grupos que estavam cansados de tantas condições ruins de vi-
vência e de trabalho, como também o êxodo contínuo e os ideais franceses disseminados aos 
quatro cantos – Liberdade, Igualdade e Fraternidade –, porém, que poucos conheceram.Todas 
as barricadas, entre 1848 a 1849, foram logo derrubadas (Figura 2). Poucos não foram presos 
ou mortos. Muitos, inclusive, foram deportados à Argélia. Mas se logo foram massacrados, 
por que essas barricadas foram tão importantes para a história dos movimentos dos traba-
lhadores? De acordo com Hobsbawm, embora fossem movimentos de trabalhadores pobres, 
“a experiência da classe trabalhadora injetou nele [no proletariado], pelo menos, na França, 
novos elementos institucionais fundamentados na prática dos sindicatos e da ação coopera-
tiva” (HOBSBAWM, 1982, p. 51). Com exceção da derrubada da monarquiana França, todas 
as outras se mantiveram, porém, podemos afirmar que, ao longo das décadas seguintes, no-
vos acordos entre sindicatos e donos dos meios de produção foram alcançados. Uma árdua 
trajetória que até o século XXI continua, visto que sempre será uma disputa entre grupos 
diferentes e, às vezes, opostos.
Política e sociedade após a Revolução Francesa1
História Contemporânea22
O Manifesto Comunista, de 1848, foi a maneira que Karl Marx e Friedrich 
Engels encontraram para que suas ideias chegassem ao mundo do opera-
riado no século XIX. Marx almejava que uma leitura de fácil compreensão 
fosse entendida por vários e, principalmente, que sua condição quando 
Figura 2 – VERNET, Horace. [Barricadas nas ruas de Paris durante a revolução de junho de 1848], 
color.: óleo sobre tela, 36 × 46 cm. Museu Histórico Alemão, Berlim.
A França de 1789, amedrontada, faminta e baseada nos regimes absolutista e feudal, 
não é a França de 1850, com seus primeiros movimentos de trabalhadores, derrubando 
novamente a monarquia. Entretanto, não estamos falando apenas da França, pois vários 
foram os países e nações no mundo que começaram a trilhar novos rumos políticos e a 
debater comunismo, república, democracia, parlamento ou monarquia constitucional. 
Além disso, também são muitas as práticas culturais e sociais que demonstram o por-
quê de tomarmos um caminho e não outro. A Revolução Francesa ou a industrial da 
Inglaterra moveram e movem o mundo. Lynn Hunt (2007) garante que a França pode 
ser odiada, amada ou temida, mas jamais – em termos políticos – causou ou causará 
indiferença nesse mundo contemporâneo.
 Ampliando seus conhecimentos
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vista como classe poderia mudar seu modo de vida. Desejamos uma boa 
leitura de parte desse texto.
Parte 1 - Burgueses e proletariado
A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes centros urbanos; 
aumentou prodigiosamente a população das cidades em relação à dos 
campos e, com isso, arrancou uma grande parte da população do embru-
tecimento da vida rural. Do mesmo modo que subordinou o campo à 
cidade, os países bárbaros ou semibárbaros aos países civilizados, subor-
dinou os povos camponeses aos povos burgueses, o Oriente ao Ocidente. 
A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, 
da propriedade e da população. Aglomerou as populações, centralizou os 
meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos. A con-
sequência necessária dessas transformações foi a centralização política. 
Províncias independentes, apenas ligadas por débeis laços federativos, 
possuindo interesses, leis, governos e tarifas aduaneiras diferentes, foram 
reunidas em uma só nação, com um só governo, uma só lei, um só inte-
resse nacional de classe, uma só barreira alfandegária.
[...] Assistimos hoje a um processo semelhante. As relações burguesas de 
produção e de troca, o regime burguês de propriedade, a sociedade bur-
guesa moderna, que fez surgir gigantescos meios de produção e de troca, 
assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar as forças internas que 
pôs em movimento com suas palavras mágicas. Há dezenas de anos, a 
história da indústria e do comércio não é senão a história da revolta das 
forças produtivas modernas contra as atuais relações de produção e de 
propriedade que condicionam a existência da burguesa e seu domínio. 
Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, 
ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesia. Cada crise 
destrói regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, 
mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desen-
volvidas. Uma epidemia, que em qualquer outra época teria parecido 
um paradoxo, desaba sobre a sociedade - a epidemia da superprodução. 
Subitamente, a sociedade vê-se, reconduzida a um estado de barbaria 
momentânea, dir-se-ia que a fome ou uma guerra de extermínio corta-
ram-lhe todos os meios de subsistência; a indústria e o comércio parecem 
aniquilados. E por quê? Porque a sociedade possui demasiada civiliza-
ção, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado 
comércio. [...]
Política e sociedade após a Revolução Francesa1
História Contemporânea24
 Atividades
1. Caracterize o panorama social e político logo após a Revolução Francesa e explique 
o porquê da ascensão de Napoleão Bonaparte junto à burguesia.
2. A historiadora Lynn Hunt e a filósofa Hannah Arendt têm pesquisas sobre o caráter 
da Revolução Francesa – mais em especial sobre o porquê de ela ter sido direcionada 
de acordo com os interesses burgueses. De acordo com o exposto no texto, comente 
sobre as consequências disso.
3. Relacione as condições sociais de trabalhadores com a Primavera dos Povos e as 
lutas do movimento operário.
4. No Manifesto Comunista, Karl Marx expõe suas principais críticas em relação ao cres-
cimento industrial. Elabore um texto com suas principais críticas, relacionando-as 
com esse contexto.
 Resolução 
1. A burguesia, servos, operários e camponeses que promoveram a Revolução France-
sa não encontraram pontos comuns de formação política após a tomada do poder. 
Em um primeiro momento, uma Monarquia Constitucional pareceu suficiente, po-
rém, em 1791, com a fuga do rei, implantou-se outro regimento político. Napoleão 
Bonaparte ganhou confiança da burguesia pelas conquistas, militarização e enrique-
cimento do exército. Este, diversas vezes foi chamado pelo diretório para reprimir 
revoltas e rebeliões. Desse modo, embora fosse um antigo aliado jacobino, Bonaparte 
se faz notar e com o apoio da burguesia chegou ao poder.
2. Para Lynn Hunt e a Hannah Arendt, o mundo político após a Revolução France-
sa passou a ser disputado por grupos sociais diferentes, cujas preocupações eram 
os seus próprios anseios. Entretanto, esses mesmos grupos deveriam ter focado em 
construir uma política que protegesse a liberdade de todos e, após isso, poderiam 
disputar o poder de modo democrático. Ao mesmo tempo, os grupos mais oprimi-
dos preocuparam-se, em um primeiro momento, com sua segurança – condição ofer-
tada pela burguesia – e, depois, acabaram suscetíveis aos interesses da burguesia. 
O que ocorreu foi que a burguesia, grupo mais forte, acabou legitimando um poder 
que mais favorecia aos seus interesses, enquanto as outras camadas não tinham no 
Estado suas defesas sociais e políticas.
Política e sociedade após a Revolução Francesa
História Contemporânea
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3. O movimento dos trabalhadores foi um levante ocorrido em diversos países da Eu-
ropa no ano de 1848, de forma rápida e abrupta. Do mesmo modo acabou, visto que 
era conduzido por trabalhadores pobres, por isso, com pouca visibilidade e fraco 
politicamente. Entretanto, o Manifesto Comunista, as condições vividas por trabalha-
dores e a falta de direitos, especialmente em países monarquistas, fez com que levan-
tassem bandeiras e passassem a exigir uma representação tanto de si, por meio de 
sindicatos e organizações, quanto daqueles que deveriam protegê-los.
4. Marx relaciona a ideia de que o crescimento é alarmante, ao mesmo tempo em que 
não há um controle sobre a produção, gerando crises que muitas vezes recaem sobre 
os trabalhadores. É também uma crítica ao liberalismo burguês do período, cujo es-
tado dava a liberdade de mercado, porém, não protegia ou dava segurança ao povo.
História Contemporânea 27
2
 A cidade, a indústria e a 
classe trabalhadora
Nossa intenção neste capítulo é pensar algumas das mudanças políticas, sociais e 
culturais do século XIX. Em um primeiro momento, traçamos ideias sobre a política 
e o ideal do mundo burguês, o qual se aproveitou das novas formações políticas na 
Europa para forjá-las de acordo com seus interesses. Porém, consideramos que, se a 
Revolução Francesa, com seu período conturbado, e a própria Declaração dos Direitos 
do Homem e do Cidadão instigaram os interesses burgueses, os trabalhadores também 
veriamnesses acontecimentos uma possibilidade de cidadania, de alcançar a segu-
rança social e igualdade política.
Em seguida, buscamos compreender como a burguesia, com base nas ideias de 
Nação ou de Estado-nação, recentes em terras absolutistas, serviu-se dos princípios de 
democracia e de patriotismo para legitimar seu capitalismo e chegar à ideia de impe-
rialismo. Este originou o que chamamos de globalização, alterando quase todas as cul-
turas. Como objetivo final, buscamos compreender de que forma as novas formações 
políticas e culturais alteraram a literatura e a ciência de modo geral.
Lorena Zomer
A cidade, a indústria e a classe trabalhadora2
História Contemporânea28
2.1 A ideia de progresso, o liberalismo e o mundo 
burguês
Após a Revolução Francesa, o regime monárquico já não era sufi-
ciente para os interesses burgueses, em especial, se considerarmos a sua 
política econômica. Dessa forma, o Estado deveria representar a vontade 
do povo, em uma postura democrática por meio de suas leis. Desde 1789, 
a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão já deixava isso evidente, 
mesmo que preservasse o direito à propriedade privada e que outros não pudessem 
tê-la. Aliás, esse aspecto é uma das defesas do liberalismo primário: “a ideologia do 
capitalismo comercial e manufatureiro em expansão e um ataque às regulações políticas 
produzidas pelas corporações de ofício e pelo Estado mercantilista” (MORAES, 2001, p. 
10). De outro modo,
O liberalismo pode ser entendido como uma ideologia que concede espaços à 
iniciativa e à autonomia individuais. Nessa filosofia, as ações dos indivíduos, 
desde que respaldadas por normas legais (e nesse caso o Direito é fundamen-
tal para a instituição de uma sociedade liberal), podem manter uma autono-
mia relativa ante o Estado. Este, por sua vez, deve exercer algumas funções 
específicas, limitadas, mas essenciais à ação livre dos cidadãos proprietários. 
Desse modo, há estreita relação entre o liberalismo político e o liberalismo 
econômico, na medida em que o Estado se estrutura para garantir os contra-
tos. (SILVA; SILVA, 2009, p. 260)
Considerando essas ideias, no período bonapartista, a burguesia teve liberdade para 
instituir seus meios de produção, sem grandes interferências. Com Luís XVIII, os três pode-
res foram instituídos e o voto passou a ser censitário. Nesse caso, tanto a primeira quanto 
a segunda medida facilitaram os interesses da alta burguesia, para que adequasse as leis e 
votasse apenas no que desejasse. Outra medida desejada pela burguesia era a liberdade de 
mercado, sem a interferência do Estado. Porém, é preciso lembrar que, ao mesmo tempo em 
que esse era o objetivo da burguesia, a própria Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
sugeria a igualdade entre as diferentes camadas sociais. Tal ideia não era desconhecida ou 
foi esquecida. Hobsbawm afirma que as revoluções alteraram o panorama social, político e 
econômico novamente da Europa:
A política de massa e a revolução de massa, com base no modelo de 1789, mais 
uma vez tornaram-se possíveis, e a dependência exclusiva das irmandades secre-
tas. Os Bourbons foram derrubados em Paris por uma típica combinação de crise 
do que se considerava a política da monarquia Restaurada e da intranquilidade 
popular devida à depressão econômica [...] O segundo resultado foi que, com o 
progresso do capitalismo, o “povo” e os “trabalhadores” – isto é os homens que 
construíram as barricadas – podiam ser cada vez mais identificados com o novo 
proletariado industrial. (HOBSBAWM, 2009a, p. 194-195)
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A cidade, a indústria e a classe trabalhadora
História Contemporânea
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A instabilidade do período parecia deixar evidente que os interesses burgueses ainda 
não estavam totalmente estruturados, porém, a partir de 1830, com a nova configuração 
política e as organizações operárias, a burguesia ganharia ainda mais espaço. Em 1830, as 
barricadas também lutavam pelo liberalismo, pois acreditavam que ao diminuir o poder do 
Estado também seriam beneficiadas (HOBSBAWM, 2009a, p. 195-215).
A burguesia não teve o triunfo total na política, pois, como afirmamos, a mesma 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que legitimou a propriedade privada e acabou 
com o feudalismo, segregando as diferenças sociais, fez com que trabalhadores, aos poucos, 
buscassem organizar um movimento operário. Desse movimento, diversos partidos, teorias 
e influências foram mobilizados, como o socialismo utópico, marxismo, entre outros. Mas a 
burguesia conseguiu manter-se no poder majoritariamente. Além disso, como veremos no 
último tópico, ela esteve diretamente ligada à ciência e às artes produzidas naquele tempo. 
Isso fez com que todo o conhecimento fosse produzido de acordo com o que se compreendia 
por progresso, que poderia ser entendido de forma breve como o que eleva a moral de uma 
sociedade, sustentando seus interesses econômicos e políticos. Se uma nação ou Estado-
nação almejasse prosperar, deveria investir na ciência (fonte de conhecimento), de acordo 
com os interesses burgueses (capitalista).
A separação entre trabalho, lazer e convívio era comum também aos burgueses em rela-
ção aos seus interesses, pois ao mesmo tempo em que existiam tantos lugares e coisas a se fazer, 
também incentivava-se a intimidade, o individualismo. Em um contexto no qual o indivíduo 
podia escolher aonde ir e o que fazer, também era necessário proteger-se de olhares ao redor. 
Seu espaço era privado, ou seja, não era mais comunal, em grupo. O máximo de reuniões era 
o que ocorria nos salões de festas e concertos. Em casa, reservava-se apenas à família, o lu-
gar de descanso. O historiador Phillipe Arriès (1997) afirma que três condições devem ser 
consideradas a fim de entender o que ocorreu entre a vida pública e comunal do medieval à 
vida privada contemporânea. As três são peculiares ao período Moderno: o fato de o Estado 
ser pensado e criado com base na divisão geral em três grupos sociais, cujos dois primeiros 
(sociedade cortesã, classes populares) não geraram um novo estado privado; a disseminação 
de escolas e da leitura, que aumentou o número de letrados e daqueles que liam para si; e as 
novas religiões decorrentes da Reforma, que estimulavam meditação e consciência sobre si.
Esses três elementos colaboraram para sociedades mais introspectivas, ao tempo em que 
mudanças urbanas e rurais causavam novas formas de sociabilidade. Essas mudanças em re-
lação ao comportamento e à moral não aconteceriam se os Estados europeus não estivessem 
procurando se construir como nação. A respeito desse assunto, estudaremos na próxima seção.
2.2 Construção de nações e a democracia
A nação é o lugar no qual encontramos elementos comuns, que formam 
um território geográfico demarcado e que também são justificados por ele-
mentos culturais, naturais e de laços com base em tradições. Conforme defi-
nem Kalina Silva e Maciel Silva:
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A cidade, a indústria e a classe trabalhadora2
História Contemporânea30
[...] a ideia de nação predominante no Ocidente até hoje é aquela eminentemente 
política. Construído para a realidade europeia, o conceito político de nação tam-
bém foi empregado para aqueles territórios que se constituíram da colonização 
europeia, como a América. Nesse caso, as ideias de nação e Estado estão tão in-
terligadas que deram origem a um outro conceito, o de Estado-nação. O Estado- 
-nação é uma realidade política, o cenário em que a existência social se desenrola 
(SILVA; SILVA, 2009, p. 309)
Quando são reunidas essas características e compreendidas em um território, organiza-
das em um sistema jurídico, temos um Estado-nação. Para tanto, as línguas faladas, a cultura 
e o modo de viver da população legitimam e impulsionam homens e mulheres a definirem 
o que querem de sua nação.No caso europeu do século XIX, desde o Congresso de Viena, 
no qual os Estados europeus se encontraram para definir os traços geográficos após a queda 
de Napoleão Bonaparte (HOBSBAWM, 2009a, p. 171-175),o continente não tinha vivido 
muitas formações de novas nações, diferentemente de uma perspectiva nacionalista, na qual 
emergiram os primeiros partidos de trabalhadores em meados desse século, na França. Eric 
Hobsbawm (2009c) explica que entre 1870-1914 surgiram os primeiros grupos políticos de 
direita, que definiram o termo nacionalista em outras perspectivas em relação aos anos de 
1830, que poderiam ser entendidas da seguinte forma:
A base dos “nacionalismos” de todos os tipos era igual: era a presteza com que 
as pessoas se identificavam emocionalmente com “sua” nação e podiam ser mo-
bilizadas, como tchecos, alemães, italianos ou quaisquer outras, presteza que po-
dia ser explorada politicamente. A democratização da política e especialmente a 
das eleições oferecia amplas oportunidades para mobilizar as pessoas. Quando os 
Estados faziam isso, chamavam de “patriotismo”. (HOBSBAWM, 2009c, p. 228)
Nesse sentido, o sentimento de pertencimento, de experiências que indivíduos pode-
riam ter em uma nação demarcada territorialmente levava a uma ideia de nacionalismo. 
E as possibilidades democráticas conquistadas ao longo do século XIX, especialmente após 
as revoluções de 1848, permitiram que alguns grupos sociais (considerando que em muitos 
países o voto era censitário) pudessem escolher, questionar ou ao menos servir aos interes-
ses de outro grupo. Ainda, segundo Hobsbawm (2009a), os preceitos pelos quais as ideias de 
nacionalismo passaram, a fim de formar o conceito de nação e de nacionalismo, foram pen-
sados com base em quatro interpretações ao longo do século XIX: o nacionalismo e o patrio-
tismo como símbolos da direita; a autodeterminação de um Estado como nação econômica e 
politicamente viável só poderia ocorrer se fosse reconhecida por outros; tal reconhecimento 
não poderia ser feito por um Estado-nação considerado inferior a esse; e a língua seria um 
dos elementos centrais para se pensar o nacionalismo e, consequentemente, a nação.
Tais perspectivas têm diversos pontos complexos que demonstram o modo como o sé-
culo XIX originou, por meio de escolhas também democráticas e nacionalistas, países impe-
rialistas europeus do fim do século XIX. Primeiramente, a partir do momento em que um 
grupo escolhe os elementos que compõem as características sociais, políticas e culturais que 
definem uma nação, automaticamente exclui outros povos ou minorias. Isso ocorre com 
A cidade, a indústria e a classe trabalhadora
História Contemporânea
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31
indivíduos já presentes nessa nação, imigrantes ou com vizinhos – os quais muitas vezes 
disputam o território próximo.
Com base nessas considerações, Hobsbawm (2010) aponta que o Oeste da Europa, em 
especial Inglaterra e França, foi forjado por meio da liderança de seus grupos nacionalistas 
(muitas vezes de extrema direita), que definiram quais eram os elementos do princípio 
de nacionalidade, isto é, o direito de cada grupo formar uma nação de acordo com sua 
liberdade e suas características. Nesse caso, retomamos a citação de Hobsbawm a partir da 
ideia de patriotismo, pois essa se tornou objeto central de grupos que objetivavam definir 
o que era ser patriota, ao tempo em que excluíam os demais. Nesse sentido:
Originalmente, a essência do nacionalismo de direita, que emergia em Estados-
-nação já estabelecidos, era a reivindicação do monopólio do patriotismo para 
a extrema direita política, e por meio dela a estigmatização de todos os demais 
como traidores. O fenômeno era novo; durante a maior parte do século XIX, o 
nacionalismo fora identificado como movimentos liberais e radicais, bem como 
com a tradição da Revolução Francesa. (HOBSBAWM, 2009c, p. 228-229)
A escolha democrática só aconteceu devido à ideia de cidadania – princípio presente 
em diversas lutas sociais após a Revolução Francesa – por ganhar respaldo em um pacto so-
cial em relação ao bem-estar, ou seja, como algo que diz respeito a um grupo e suas diferen-
ças em relação a outros, e como tornou-se inferior perante a eles. Portanto, após à formação 
da ideia de nação, cujo argumento central era o que havia em comum entre grupos, como 
justificar o domínio desejado em relação a novas nações julgadas como diferentes? Apenas 
pela estigmatização esses grupos encontraram bases suficientes.
Se no fim do século XIX alguns Estados-nações já estavam formados, como Inglaterra e 
França (mesmo com problemas locais, como Alsácia e Lorena), outros ainda buscavam terri-
tórios, como o Império Austro-Húngaro, Rússia, e as mais recentes, Itália e Alemanha. É nes-
se contexto que a anexação de territórios tornou-se sinônimo de poder e, consequentemente, 
de disputa com base em questões étnicas, raciais e linguísticas. Da Revolução Francesa veio 
a ideia de nação, cujas novas organizações no século XIX geraram o que entendemos por 
Estado-nação (mundo capitalista). Este, por sua vez, ocasionou o nacionalismo, ao instituir 
práticas mais democráticas. Por meio de interesses tanto territoriais quanto capitalistas, os 
países citados utilizaram preceitos nacionalistas para conquistar outros, causando atritos 
diretos ou indiretos que culminaram nas principais causas da Primeira Guerra Mundial 
(1914-1918). O que salientamos é a ideia de que, para incentivar as disputas por territórios na 
corrida imperialista, o patriotismo e a supremacia linguística e, futuramente, racial e étnica 
também foram os pontos mais argumentados e incentivados.
Portanto, ao partir da ideia de que a democracia é a ativa participação do povo, 
e a premissa de que o eleito pelo povo é a representação máxima de uma nação ou 
Estado-nação, podemos apontar que as manipulações e sentidos dados à democracia em 
um país justificam guerras e exploração de outros povos. Sobre isso, a filósofa Hannah 
Arendt tem o seguinte entendimento:
A cidade, a indústria e a classe trabalhadora2
História Contemporânea32
O imperialismo surgiu quando a classe detentora da produção capitalista rejei-
tou as fronteiras nacionais como barreira à expansão econômica. A burguesia se 
interessou na política por necessidade econômica: como não desejava abandonar 
o sistema capitalista, cuja lei básica é o constante crescimento econômico, a bur-
guesia tinha de impor essa lei aos governos, para que a expansão se tornasse o 
objetivo final da política externa. (ARENDT, 2013, p. 156)
Arendt (2013) afirma, portanto, que o imperialismo – que alterou o panorama geopo-
lítico do mundo a partir da segunda metade do século XIX – é resultado de interesses ca-
pitalistas. Para isso, a burguesia precisou aumentar seu poder no Estado que, por sua vez, 
era (e ainda é) a instituição representante da vontade democrática da maioria dos países 
organizados e formados no mundo contemporâneo. Nesse caso, a economia sustentava os 
interesses imperialistas de grupos nacionalistas, e o resultado disso é o que entendemos 
por imperialismo e mundo globalizado e alicerçado no capitalismo burguês. Porém, países 
imperialistas, como a Inglaterra, jamais estenderam sua organização estatal às colônias, mas 
apenas a ideia de nação – visto que não poderiam dar aos colonizados a mesma cidadania, 
para que não fossem responsáveis ou questionados por seus conceitos.
Embora a força militar e a política imperialista europeia fossem muitas vezes superiores 
às pertencentes aos colonizados, por exemplo, eles também viam nascer em suas realidades 
um sentimento nacionalista quando oprimidos. Desse contexto, vieram as resistências e as 
lutas por independência no século XX. Entretanto, o mundo político não se formou apenas 
com base em interesses burgueses, assim como a cultura e as tradições deles não foram ho-
mogêneas e predominantes. A respeito desse assunto, estudaremos na próxima seção.
2.3 Trabalhadores, arte e ciência
Após o surgimento das ferrovias, as cidades tornaram-se o maior sím-
bolo de progresso no século XIX. Mesmo que sejam números modestos para 
o século XXI, até aquele período não era relatado tanto progresso na Europa, 
nos Estados Unidos e empaíses como a Argentina e a Austrália. O frisson 
era o mundo urbano e tudo que ele alterava, trazia e oportunizava. Existiam 
cidades de 200 mil habitantes, mas muitas daquelas que se ajustavam ao redor delas chega-
vam a ter 1 milhão de habitantes, como em Londres e Paris. Entretanto, Hobsbawm (2009b) 
reitera que não se tratava exatamente de uma cidade industrial, mas comercial, administra-
tiva e de acesso aos transportes. Um entreposto que poderia ter tudo, ao mesmo tempo em 
que ainda se mantinha próximo – e muito – do campo (casos de trabalhadores que, quando 
em greve, cuidavam de suas pequenas plantações de batatas). 
O mundo da arte era destinado para poucas camadas sociais, visto que era preciso ter 
tempo e dinheiro para que se pudesse usufruir do que era oferecido. Portanto, esses dois 
aspectos eram muito caros aos trabalhadores, contudo, isso não quer dizer que o mundo da 
arte não entrava na vida dos operários. De acordo com Hobsbawm:
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A cidade, a indústria e a classe trabalhadora
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As composições que entravam na consciência popular eram as árias de Verdi 
interpretadas pelos organistas populares italianos ou aqueles pequenos excer-
tos de Wagner que podiam ser adaptados à música para casamentos, mas não 
as próprias óperas. Mas isso em si já implicava uma revolução cultural. Com 
o triunfo da cidade e da indústria, uma divisão cada vez maior se interpunha 
entre, de um lado, os setores “modernos” das massas, quer dizer, os urbaniza-
dos, os instruídos, aqueles que aceitavam o conteúdo da cultura hegemônica – a 
sociedade burguesa – e, de outro lado, os setores “tradicionais” cada vez mais 
minados. (HOBSBAWM, 2009b, p. 451)
Hobsbawm (2009b) deixa evidente a influência de uma cultura mais burguesa às mas-
sas, porém, com adaptações, visto que esses grupos diferentes entre si precisavam manter 
distinções. Essas aumentavam se comparadas à vida daquelas comunidades com culturas 
tradicionais, que se mantinham mais resistentes à cultura da sociedade burguesa. O que 
parece ser a consideração mais pertinente sobre a citação, é a ideia de sustentar que as mu-
danças sociais são evidentes, isto é, em uma sociedade mais camponesa, feudal e com carac-
terísticas próprias da realidade absolutista, temos o cotidiano europeu das grandes cidades, 
repleto de práticas sociais e culturais muitos diferentes em cem anos. 
Um hábito cultural encontrado para um divórcio – prática não permitida no período 
Medieval pela Igreja católica e também até quase o fim do Moderno – era a venda das espo-
sas. O historiador britânico Edward Palmer Thompson explica:
A venda às vezes era precedida por um anúncio público, podia usar o si-
neiro da cidade para dar a notícia ou o marido podia andar pelo mercado 
com um cartaz com o aviso da venda [...] A corda era essencial para o 
ritual. A mulher era levada ao mercado, presa por uma corda e em geral, 
amarrada ao redor do pescoço, às vezes ao redor da cintura. No merca-
do alguém deveria fazer o leilão, o marido ou um funcionário do mer-
cado. Quando a venda acontecia, os recém-casados saíam sós ou os três 
juntos – a esposa, o vendedor e o comprador. Após a venda, os envolvi-
dos redigiam um contrato enquanto bebiam juntos. (THOMPSON, 1998, 
p. 316 e 320)
Era um ritual na maior parte das vezes combinado, com acordos entre o novo e o ex-
-casal. As camadas mais simples não eram casadas pelo clero, ao mesmo tempo em que o 
Estado também não exercia essa função. Dessa forma, o ritual demonstrava – desejando a 
mulher ou não – que o homem não deveria ser mais reconhecido como responsável pela mu-
lher. Esse foi um dos costumes identificados por Thompson (1998). Eric Hobsbawm também 
traz algumas práticas sobre esse período:
Na Inglaterra, a era na qual os music-halls multiplicaram-se nas cidades tam-
bém foi a era na qual sociedades corais e bandas de música operária, com um 
repertório de “clássicos” populares da alta cultura, pulularam nas comunidades 
A cidade, a indústria e a classe trabalhadora2
História Contemporânea34
industriais. Mas é característico que nessas décadas o curso da cultura corresse 
em uma só direção – da classe média para baixo, ao menos na Europa. Mesmo 
aquilo que se transformaria na mais característica forma da cultura proletária, 
os esportes de massa, em nosso período era determinado pelos jovens da classe 
média, que fundaram os clubes e organizavam as competições , por exemplo, na 
Association Football. Só no final da década de 1870 e início da de 1880 que esses 
esportes seriam adotados e praticados pela classe operária. (HOBSBAWM, 2009b, 
p. 451, grifo do original)
Comunidades operárias são lembradas pelo historiador como redutos que adaptam os 
clássicos da burguesia, porém, dando-lhes um tom seu. O que Hobsbawm (2009b, p. 451- 
-453) chama de cultura operária é, portanto, o resultado da influência sofrida por uma classe 
média/alta e da própria resistência da cultura mais tradicional desses grupos. A mesma 
situação teria acontecido com os operários da Boêmia que, com o passar do tempo, já canta-
vam músicas nada parecidas com as de seus pais. 
Podemos perceber que a arte e a cultura, que atingiam a maior parte da população 
operária, eram originadas das classes em geral superiores. Entretanto, a resistência também 
permanecia. A vivência e a experiência de cada dia foram alteradas pelo ritmo frenético das 
ruas recém-urbanizadas ou em processo de urbanização, com parques construídos, cafés, 
correios, bancos das praças nos quais se liam os jornais com críticas literárias e descobertas 
da ciência, e calçadas que tinham senhoras e senhores desfilando suas melhores roupas en-
quanto iam a um encontro furtivo. 
Trabalhadores, como floristas, datilógrafas, operários, secretárias, enfermeiros, e bur-
gueses(as) em charretes e logo em carros, todos faziam (ou fariam) parte desse novo cená-
rio. O caminho para o progresso era a estrada para a cidade. Lá, aos poucos, qualquer um 
poderia ler, estudar, adquirir novas relações e sentimentos. As camadas sociais eram bem 
divididas, porém, se cruzavam. A historiadora Michelle Perrot narra:
Os “ratinhos” da Ópera de Paris eram meninas colocadas por suas mães sob a 
tutela de “mães da Ópera”, que lhes arrumavam “protetores”. Sarah Bernhardt 
não queria tornar-se atriz, mas sua mãe a fez entrar para o Conservatório; este 
era uma garantia de qualificação e de reconhecimento. (PERROT, 2007, p. 125)
O exemplo de Perrot (2007) traz uma das profissões recém-descobertas ou conquis-
tadas por mulheres. Se o século XIX foi um período de grandes opressões políticas, tam-
bém foi de conquistas sociais e trabalhistas e, sobretudo, de gênero. Perrot (2007) ainda 
salienta o fato de que, somente na Constituição de 1852, atores e atrizes passaram a ser 
considerados cidadãos como os demais. Nesse campo, a maior parte vinha de camadas 
pobres e populares. A historiadora também recorda sobre as mulheres que vinham do 
campo e, ao não encontrarem emprego nas cidades, acabavam por se tornar costureiras. 
Esse emprego, embora bastante pejorativo e com preconceitos de gênero, permitiu que 
muitas delas tivessem seu próprio sustento, mesmo que trabalhassem em quartos quase 
sempre minúsculos e com más instalações.
A cidade, a indústria e a classe trabalhadora
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Ambos exemplos tratam de espaços (a cidade, o mundo urbano, a ópera) estimulados 
pelos hábitos e interesses econômicos dos burgueses. Essas trabalhadoras nem sempre vi-
viam de acordo com os padrões morais esperados, e conquistaram espaços até então proibi-
dos às mulheres. E, além de alterar o mundo cultural, seus empregos estavam relacionados 
à tecnologia (e ao capitalismo). O trabalho necessário e exaustivo das costureiras, por exem-
plo, estimulou o mercado das máquinas de costura, em especial, da Singer (PERROT, 2005, 
p. 121-123). 
Mas, não foi somente nas máquinas Singer ou nos passos apressados em direção às 
estações de trem ou aos metrôs – em Londres, inaugurados

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