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Vygotsky I SST Barbosa, Orlando Coelho Vygotsky I / Orlando Coelho Barbosa Ano: 2021 nº de p.: 11 Copyright © 2021. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Vygotsky I 3 Apresentação Caros estudantes, Vygotsky aponta que, além da maturação, o contato social e cultural são a base para o desenvolvimento integral do ser humano. Pois, para ele, a linguagem e o pensamento tem origem social. Nessa unidade, observaremos as implicações e aplicações do interacionismo no ambiente escolar, o desenvolvimento das funções superiores e a mediação por meio de instrumentos e símbolos e da linguagem. Bons estudos! 4 1 Vytgotsky, as funções psicológicas superiores e a mediação Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 1896, na cidade de Orsha, antiga União Soviética e morrem em 1934, em Moscou. Apesar da morte precoce, sua produção intelectual foi muito intensa nas mais diversas áreas, como Artes, Pedagogia, Crítica de Artes e Psicologia. Sobre a obra de Vygotsky, alguns de seus principais conceitos são: a compreensão das funções superiores do homem não pode ser alcançada pela psicologia animal, pois os animais não têm vida social e cultural; as funções superiores do homem não podem ser vistas apenas como resultado da maturação de um organismo que já possui, em potencial, tais capacidades; a linguagem e o pensamento humano têm origem social; a cultura faz parte do desenvolvimento humano e deve ser integrada ao estudo e à explicação das funções superiores; a consciência e o comportamento são aspectos integrados de uma unidade, não podendo ser isolados pela Psicologia. Formas de mediação Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: a imagem mostra processo de interação entre di- ferentes indivíduos, indicando que o ser humano vai completan- do suas relações formativas por meio de diferentes aspectos. 5 Funções superiores: dizem respeito à atenção, à memória, à imaginação, ao pensamento e à linguagem, como por exemplo, pensar num objeto que está ausente; próprias e únicas dos humanos, as funções psicológicas superiores se diferenciam de ações reflexas ou biológicas. Vygotsky afirma que, como humanos, nascemos imersos na cultura, porém, é por meio das interações e mediações com outros humanos, e com a natureza que o desenvolvimento destas funções superiores, ocorrem. Sobre as funções psicológicas superiores, Oliveira (2002, p. 25) coloca as seguintes informações: Um exemplo interessante ilustra a diferença entre processos elementares e processos superiores: é possível ensinar um animal a acender a luz num quarto escuro. Mas o animal não seria capaz de, voluntariamente, deixar de realizar o gesto aprendido porque vê uma pessoa dormindo no quarto. Esse comportamento de tomada de decisão a partir de uma informação nova é um comporta- mento superior, tipicamente humano. O mais importante: desse tipo de comportamento é o seu caráter voluntário, intencional. No que se refere ao desenvolvimento humano, Vygotsky pontua que o desenvolvimento das funções psicológicas superiores não se dá somente pela maturação do sistema nervoso, como propõe Piaget. Vygotsky aponta o conceito de filogênese que, considera além da maturação, o contato social e cultural para o desenvolvimento integral do ser humano. Para mais informações, acesse o link para ler o artigo “Breve estudo sobre Lev Vygotsky e o sociointeracionismo” em: https:// educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/15/8/breve-estudo-sobre- lev-vygotsky-e-o-sociointeracionismo Saiba mais https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/15/8/breve-estudo-sobre-lev-vygotsky-e-o-sociointeracionismo https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/15/8/breve-estudo-sobre-lev-vygotsky-e-o-sociointeracionismo https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/15/8/breve-estudo-sobre-lev-vygotsky-e-o-sociointeracionismo 6 2 A mediação – os instrumentos e os signos A mediação é um processo observado em toda obra de Vygotsky. Uma representação deste processo pode ser apresentada da seguinte forma: S = Estímulo R = Resposta X = Mediação (entre). O Estímulo (S) é a ação, a Resposta (R) é o acontecimento diante da ação. Quando a resposta não foi causada pelo estímulo, mas, por exemplo, por uma lembrança ruim do estímulo, tem-se a Mediação (x), um elemento intermediário entre estímulo e resposta. Para Vygotsky as relações humanas são fundamentalmente mediadas. Vygotsky teve como fonte de sua teoria o materialismo histórico e dialético de Marx (1818-1883) e Engels (1820-1895). Vygotsky incorporou alguns postulados do marxismo, como o modo de produção da vida material condiciona a vida social, política e espiritual do homem; o homem como um ser histórico, que se constrói por meio de suas relações com o mundo natural e social; o processo de trabalho (transformação da natureza) é o processo privilegiado nessas relações homem/ mundo; a sociedade humana é uma totalidade em constante transformação, é um sistema dinâmico e contraditório, que precisa ser compreendido como processo em mudança, em desenvolvimento; as transformações qualitativas ocorrem por meio da chamada “síntese dialética” em que, a partir de elementos presentes numa determinada situação, fenômenos novos emergem. Essa é exatamente a concepção de síntese utilizada por Vygotsky ao longo de toda sua obra (OLI- VEIRA, 2002, p. 30). Vygotsky considera que a mediação humana se dá por meio de instrumentos e por meio de signos. Sua fundamentação teórica e o seu relacionamento com o materialismo histórico e dialético estão ligados quando ele considera a ação do sujeito sobre a própria aprendizagem e o mundo, e a ação do mundo sobre o sujeito. Não se observa um sujeito passivo recebendo um conhecimento. Oliveira (2002) define instrumento como um objeto que se coloca entre o homem e o trabalho (compreendido como ação humana), enquanto o instrumento carrega consigo, em uma visão que se reporta ao materialismo dialético, à história social, e não só de utilização dele (funcional) – tendo, portanto, a função de mediar a relação do indivíduo como o mundo no qual está inserido. Os signos são mediadores externos – assim como os instrumentos –, são considerados “instrumentos psicológicos”, porém têm outras possibilidades. O signo carrega consigo (por meio da sua relação com a memória) a capacidade de se referir a outros elementos que não necessariamente estejam presentes. 7 Durante o processo evolutivo, ocorrem mudanças significativas em relação aos signos e suas representações ou mesmo a capacidade de utilizá-los e, dialeticamente, ocorrem processos de internalização que podem ser definidos como a capacidade de transformação de mediadores externos em internos. Para Oliveira (2002), este processo ocorre devido às mudanças qualitativas e quantitativas a que os signos são submetidos durante o processo evolutivo da humanidade. Aprendizagem por interação Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: imagem mostra duas crianças, um menino e uma menina, e uma mulher adulta, resolvendo um problema em equipe, por meio de um jogo de peças. Segundo Oliveira (2002), estamos libertos de uma relação direta com o objeto, no qual entram a imaginação, a capacidade de planejar ações futuras, e assim entram em jogo as funções psicológicas superiores e fica claro o que Vygotsky vai afirmar e se contrapor a Piaget, as funções psicológicas superiores e os signos internalizados têm entre si uma relação dialética, pois o homem se relaciona com instrumentos e signos, internaliza estas relações e, ao fazer isso, utiliza as capacidades humanas de imaginar, planejar, que estão diretamente relacionadas às funções psicológicas superiores. O homem vai se humanizando na relação com outros homens e com a sua ação sobre a natureza por meio do trabalho, dos instrumentos e dos signos. A interação entre os homens por meio da cultura, das relações sociais e do trabalho, dos signos internos e externos não são estáticas, assim “enquanto mediadores entre oindivíduo e o mundo real, esses sistemas de representação da realidade consistem numa espécie de ‘filtro’” (OLIVEIRA, 2002, p. 39), o homem, na sua capacidade 8 de representação, ao imaginar um objeto, ele está dialogando com o conceito construído histórica e socialmente daquele objeto. A ação dos signos sobre o desenvolvimento das funções psicológicas superiores demonstra que o homem, ao produzir cultura e ser por ela construído, ao produzir objetos, instrumentos, conceitos, modifica a si e à natureza, e é por ela modificado. Esse é o princípio dialético e não pode ser dissociado de todos os processos que envolvem o desenvolvimento humano, existe por parte do indivíduo uma internalização na forma de síntese de todo o processo vivido. Há uma grande negociação e interação entre o mundo subjetivo do indivíduo e o meio social quando se fala de cultura. Nesse processo de múltiplas interações, no qual o sujeito tem um papel ativo, a cultura é internalizada – mas não passivamente, e sim como uma síntese de todo o processo social e psicológico (OLIVEIRA, 2002). Para mais informações, acesse o link para ver o vídeo “Instrumento e Signo (parte 1) em Vygotsky” em: https://www.youtube.com/ watch?v=9GpB7A5TmWA Saiba mais 3 Pensamento e linguagem Para Vygotsky, a linguagem tem duas funções, a de intercâmbio social com fim de comunicação com seus semelhantes, através do qual, o homem utiliza os sistemas de linguagem para expressar o que sente; e, a de pensamento generalizante diz respeito a como nosso pensamento classifica determinada palavra e nos remete a imagem de seu objeto. A partir dessa definição, temos, em um primeiro momento, a necessidade de intercâmbio social e posteriormente a linguagem necessita de uma sofisticação que só é possível por meio de um pensamento generalizado, o qual pode ser compartilhado por meio de signos comuns. https://www.youtube.com/watch?v=9GpB7A5TmWA https://www.youtube.com/watch?v=9GpB7A5TmWA 9 Pensamento generalizante: é a capacidade de nos comunicarmos com os outros de forma precisa por meio de signos compartilhados socialmente. Como humanos, vivemos uma experiência única e complexa, e traduzir isto de forma a nos comunicarmos é o grande desafio – ao mesmo tempo é o que caracteriza o pensamento generalizante. Sobre isso, leia o exemplo de Oliveira (2002, p. 44): A palavra cachorro, por exemplo, tem um significado preciso, compartilhado pelos usuários da língua portuguesa. Independentemente dos cachorros concretos que um indivíduo conheça, ou do medo de cachorro que alguém possa ter, a palavra cachorro denomina certo conjunto de elementos do mundo real. O conceito de cachorro pode ser traduzido por essa palavra e será adequadamente compreendido por outras pessoas, mesmo que a experiência concreta delas com cachorros sejam diferentes da do indivíduo que utilizou a palavra. Já quanto ao desenvolvimento da linguagem, ela é pré-intelectual, isto é, destinada principalmente à comunicação psicológica entre os grupos. Em uma analogia com o desenvolvimento humano, é possível identificar semelhanças nesta separação entre pensamento e linguagem (OLIVEIRA, 2002). Assim, entre os bebês predominam a inteligência pratica e a linguagem pré- verbal. São nos processos de socialização e de trocas que o desenvolvimento da linguagem se torna mais complexo e os signos e sistemas simbólicos complexos se desenvolvem. Para a autora, o trabalho é parte fundamental deste processo: ele é entendido como uma ação humana sobre a natureza, uma vez que, ao modificá-la por determinada ação, o homem também muda, em uma relação dialética. Existe, assim, a trajetória do pensamento desvinculado da linguagem e a trajetória da linguagem independente do pensamento. Num determinado momento do desenvolvimento filogenético, essas duas trajetórias se unem e o pensamento se torna verbal e a linguagem racional. A associação entre pensamento e linguagem é atribuída à necessidade de intercâmbio dos indivíduos durante o trabalho, atividade especificamente humana. (...). O surgimento do pensamento verbal e da linguagem como sistema de signos é um momento crucial no desenvolvimento da espécie humana, momento em que o biológico transforma-se no sócio-histórico. (OLIVEIRA, 2002, p. 42) 10 Os conceitos de filogênese e ontogênese permeiam a obra de Vygotsky, de Piaget e de outros pesquisadores que observam o desenvolvimento humano dentro de uma linha conhecida como abordagem genética. Porém, Vygotsky diferencia-se de seus contemporâneos pela ênfase que dá à Cultura no Processo de Desenvolvimento Humano e, neste sentido, desenvolve um conceito que considera fundamental no processo de aprendizagem: a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Para mais informações, acesse o link para ver o vídeo “Pensamento e Linguagem em Vygotsky - Descomplica Professor #37” em https://www.youtube.com/watch?v=9An5KgR-Ae8 Saiba mais Fechamento Ao observarmos a biografia de Vygotsky, notamos que numa vida curta, ele produziu muitos conceitos. Vygotsky afirma que, por nascermos imersos na cultura, é através das interações e mediações com o outro que ocorre o desenvolvimento das funções superiores de atenção, imaginação, pensamento, linguagem e memória. Vygotsky aponta que essas mediações ocorrem através de instrumentos, signos, pensamentos e linguagem. https://www.youtube.com/watch?v=9An5KgR-Ae8 11 Referências BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. de L. T. Psicologias: uma Introdução ao Estudo de Psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento - um processo sócio- histórico. São Paulo: Scipione, 1993.