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psicolinguistica-2013pdf

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Dilma Vana Rousseff Dilma Vana Rousseff 
PresidentePresidente
Ministério da EducaçãoMinistério da Educação
 Aluísio Mercadant Aluísio Mercadantee
MinistroMinistro
CAPESCAPES
Jorge Almeida GuimarãesJorge Almeida Guimarães
PresidentePresidente
Diretor de Educação a DistânciaDiretor de Educação a Distância
João Carlos Teatini de Souza ClímacoJoão Carlos Teatini de Souza Clímaco
Governo do EstadoGoverno do Estado
Ricardo Vieira CoutinhoRicardo Vieira Coutinho
GovernadorGovernador
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA 
 Antonio Guedes Ra Antonio Guedes Rangel Junior ngel Junior 
ReitorReitor
José EthanJosé Ethan
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Pró-Reitor de GraduaçãoPró-Reitor de Graduação
Eli Brandão da SilvaEli Brandão da Silva
Pró-Reitoria de Ensino Médio, Técnico e Pró-Reitoria de Ensino Médio, Técnico e Educação à DistânciaEducação à Distância
Secretaria de Educação a Distância – SEADSecretaria de Educação a Distância – SEAD
Eliane de Moura SilvaEliane de Moura Silva
 Assessora de EAD Assessora de EAD
Coord. da Universidade Aberta do Brasil - UAB/UEPBCoord. da Universidade Aberta do Brasil - UAB/UEPB
Cecília QueirozCecília Queiroz
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Estadual da ParaíbaEstadual da Paraíba
Diretor Diretor 
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Coordenação de EditoraçãoCoordenação de Editoração
Arão de Azevedo SouzaArão de Azevedo Souza
Conselho EditorialConselho Editorial
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Dilma Maria Brito MDilma Maria Brito Melo Trelo Trovão - UEPBovão - UEPB
Djane de Fátima Oliveira - UEPBDjane de Fátima Oliveira - UEPB
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Joviana Quintes Avanci - FIOCRUZJoviana Quintes Avanci - FIOCRUZ
Rosilda Alves Bezerra - UEPBRosilda Alves Bezerra - UEPB
Waleska Silveira Lira - UEPBWaleska Silveira Lira - UEPB
Universidade Estadual da ParaíbaUniversidade Estadual da Paraíba
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 Vice-Reitor Vice-Reitor
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Secretaria de Educação a Distância – SEADSecretaria de Educação a Distância – SEAD
Eliane de Moura SilvaEliane de Moura Silva
Cecília QueirozCecília Queiroz
 Assessora de EAD Assessora de EAD
Coordenador de Coordenador de TecnologiaTecnologia
Ítalo Brito VilarimÍtalo Brito Vilarim
Projeto GrácoProjeto Gráco
 Arão de Azevêdo Souza Arão de Azevêdo Souza
Revisora de Linguagem em EADRevisora de Linguagem em EAD
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Revisão LinguísticaRevisão Linguística
Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
DiagramaçãoDiagramação
 Arão de Azevêdo Souza Arão de Azevêdo Souza
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Rua Baraúnas, 351 - Bodocongó - Bairro Universitário - Rua Baraúnas, 351 - Bodocongó - Bairro Universitário - Campina Grande-PB - CEP 58429-500Campina Grande-PB - CEP 58429-500
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  401.9  401.9
M827p M827p Morais, Morais, Francineide.Francineide.
Psicolinguística - Licenciatura em letras – Português./ Francineide Morais./Psicolinguística - Licenciatura em letras – Português./ Francineide Morais./
Pró-ReitPró-Reitoria de Ensino Médio, oria de Ensino Médio, Técnico e Educação a Técnico e Educação a Distância.- Campina Grande:Distância.- Campina Grande:
EDUEPB, 2013.EDUEPB, 2013.
119 p.: il.: Color.119 p.: il.: Color.
1. Psicolinguística. 2. Signo. 3. Psicologia cognitiva de Piaget. 4. Princípios1. Psicolinguística. 2. Signo. 3. Psicologia cognitiva de Piaget. 4. Princípios
psicológicos. I. Título. II. EDUEPB/Coordenadoria Institucional de Programaspsicológicos. I. Título. II. EDUEPB/Coordenadoria Institucional de Programas
Especiais.Especiais.
21. ed.CDD21. ed.CDD
PsicolinguísticaPsicolinguística
Francineide MoraisFrancineide Morais
Campina Grande-PBCampina Grande-PB
20132013
Sumário
I Unidade
O processo simbólico: do signo ao símbolo........................................7
II Unidade
O simbolismo linguístico e a formação de conceitos e estruturas.
 Visão da Psicologia Cognitiva: Piaget.................................................23
III Unidade
O simbolismo linguístico e a formação de conceitos e estruturas.
 Visão da Psicologia Cognitiva: Vygotsky............................................41
IV Unidade
O simbolismo linguístico e a formação de conceitos e estruturas.
 Visão da Linguística Cognitiva: Gerativismo-Chomsky........................63
 V Unidade
 Aquisição da leitura: processo psicolinguístico...................................79
 VI Unidade
 Aquisição da escrita: processo psicolinguístico.................................95
Psicolinguística I SEAD/UEPB 7
I UNIDADE
O processo simbólico:
do signo ao símbolo
8 SEAD/UEPB I Psicolinguística
 Apresentação
Desde o nosso nascimento, utilizamos a linguagem para
nos comunicarmos: o choro, sons desarticulados, o riso, os
balbucios, até empregarmos uma linguagem mais definida,
constituída de um sistema de signos. Essa linguagem vai se
enriquecendo à medida que descobrimos o mundo ao nos-
so derredor e apreendemos os signos – linguísticos e não-
-linguísticos - que o compõem e que vão se concretizando
paulatinamente na nossa vida.
Refletir sobre o sistema simbólico que circunscreve a vida
humana, a aquisição da linguagem e o desenvolvimento co-
municativo e cognitivo, por meio da língua falada e escrita,
é, portanto, interesse da Psicolinguística, componente curri-
cular que passaremos a estudar.
P ara tanto, serão apresentadas algumas ações didáticas
para a nossa construção do conhecimento nessa área en-
cantadora – o desenvolvimento humano através da lingua-
gem. Para iniciarmos, convidamos você a embarcar numa
viagem de descobrimentos da simbologia da vida social hu-
mana, mas, para que seu desenvolvimento seja satisfatório,
você precisa:
• Seguir as orientações aqui apresentadas;
• Realizar as atividades sugeridas;
• Desenvolver sua autoavaliação;
• Dirimir dúvidas para não prejudicar a sua compreen-
são.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 9
Seguindo essas orientações, você verá que a nossa via-
gem será prazerosa, você descobrirá suas potencialidades e,
certamente, entenderá melhor a importância da linguagem
para a construção comunicativa e social humana.
Então, pronto? Vamos a nossa primeira aula?
Discutiremos sobre os signos em nossa vida e os sentidos
construídos a partir deles. Estudaremos conceitos, através
de textos teóricos e atividades propostas, além de indica-
ções textuais para o aprofundamento do conhecimento, tais
como livros, sites, filmes, entre outros.
Objetivos
 Ao final desta unidade, esperamos que você:
• compreenda o processo simbólico construído pelas comunida-
des sócio-linguísticas e sua influência na aquisição da lingua-
gem.
10 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Para começo de conversa...
... vamos situar um pouco a
Psicolinguística
 A Psicolinguística, como ciência da linguagem, estuda os processos
psicológicos implicados na aquisição e no uso da l inguagem.
Por ser uma área de estudo ainda nova, cujo início é datado do
final dos anos 50 do século passado, seu campo epistemológico estava
por se construir. No entanto, os estudiosos da língua buscaram emba-
samento em duas áreas já constituídas que explicavam a linguagem
humana: a Psicologia e a Linguística
Isso porque, de um lado, os psicólogos buscavam entender o fun-cionamento da linguagem para compreender a mente humana e, de
outro, os linguistas discutiam a relação pensamento-linguagem.
Por ser o processo cognitivo humano muito complexo para o enten-
dimento da ciência, muitas áreas do conhecimento procuram respostas
para a aquisição da linguagem e do desenvolvimento humano, o que
leva a Psicolinguística sofrer influências diversas.
Na década de 60 passada, ela foi influenciada pela teoria gerativis-
ta de Chomsky, que, opondo-se ao behaviorismo de Skinner, defendia
o caráter genético, portanto, universais da l inguagem.
Nos anos 70, a Psicolinguística amplia sua visão para além da
aquisição da linguagem, procurando entender até mesmo a gênese
da linguagem, o sujeito de investigação agora passa também a ser o
recém-nascido. Em assim sendo, ela passa a recorrer a áreas outras:
Etologia, Epistemologia Genética, Psicanálise, só para citar algumas.
Já nos anos 1980, a referida área passa pelo chamado cognitivis-
mo construtivista, recebendo as contribuições das teorias de Piaget e
 Vygotsky: o primeiro defende a aquisição como resultado da interação
entre ambiente e o organismo, através de assimilações e acomoda-
ções, responsáveis pelo desenvolvimento da inteligência, enquanto o
segundo compreende a aquisição como resultado da interação social,
em que são considerados fatores sociais, comunicativos e culturais.
 A partir dos anos 90, ampliam-se estudos tanto na perspectiva cog-
nitivista quanto na sociointeracionista, enfatizando ainda mais esse en-
contro da Psicologia com a Linguística para se explicar o fenômeno
da aquisição da linguagem, as experiências do indivíduo ao falar, ao
escrever, ao ouvir, ao ler.
 Apesar de essa área do conhecimento possibilitar focos diversos de
estudo, tais como: a produção de enunciados, a interpretação de enun-
ciados, a memorização, o plurilinguismo, as patologias da linguagem, e
a aquisição da linguagem, é esse último recorte que selecionamos para
o nosso estudo.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 11
Então... prontos para conhecer um pouco esse
mundo mágico da linguagem infantil, do mundo
simbólico, das construções conceituais, da fala e
da escrita... enfim da linguagem e da aprendizagem
da criança!
Preparando a nossa viagem...
 Antes de partirmos, vamos dar uma espiadinha na ilustração ao lado? Cite
alguns elementos que você vê.
Provavelmente você selecionou elementos naturais e articiais. Agora pense:
eles são importantes para a nossa vida cotidiana? Por quê?
Por exemplo, as placas de sinalização tanto quanto as montanhas
são elementos para os personagens se orientarem, não acha? A esses
elementos damos o nome de SIGNOS.
 Vamos dar uma paradinha aqui para entendermos melhor o que é
SIGNO?
Para Vygotsky (1999):
signo é uma marca externa,
que auxilia o homem em ta-
refas que exigem memória ou
atenção. Eles são elementos
interpretáveis como representa-
ção da realidade, por meio de
objetos, eventos, situações, me-
diados pela linguagem.
Para Bakhtin (2002):
signo é um elemento de natu-
reza ideológica por natureza.
“Tudo que é ideológico possui
um significado e remete a algo
situado fora de si mesmo. Sem
signos não existe ideologia”
(p, 31).
Para Saussure (2006):
o signo linguístico é, uma en-
tidade psíquica de duas faces
combinadas: o significante (for-
ma) – imagem acústica, e o sig-
nificado (conteúdo) – conceito,
ideia.
Em Edward Lopes (2000), en-
contramos a concepção de
que signos são “suportes exte-
riores e materiais da comuni-
cação entre as pessoas e, por
outro lado, são o meio pelo
qual se exprime a relação en-
tre o homem e o mundo que
o cerca” (p. 16).
Fig. 1 Do livro Conte uma
história. Seleção de Célia
Ruiz Ibáñez e Ilustração de
Pilar Campos Fdz-Fígares.
2.ed., São Paulo: Girassol,
2007. Tradução: Mô Cunha.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
12 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Ora, vamos pensar um pouco:
• se o signo é forma e conteúdo;
• se o signo é representação da realidade interpretável pela lin-
guagem;
• se o signo é ideológico,
• se o signo é suporte para a relação entre homem e mundo,
• se o signo é cultural e historicamente situado,
significa dizer que nenhum signo tem valor absoluto fora da intera-
ção social, seu valor é constituído essencialmente no contexto, seja ele
o contexto do próprio signo ou o contexto dos interlocutores que o em-
pregam como elemento de implementação, reflexão e transformação
do ideológico, analisado segundo limites de espaço e tempo. Logo é
simbólico, pois depende dos sentidos construídos nas sociedades.
Bem, agora estamos falando de dois conceitos: signo e símbolo,
mas qual é a diferença entre eles?
Podemos dizer que enquanto o signo identifica ou indica algo, o
símbolo representa algo, uma ideia, um objeto para representar um
outro objeto ou uma outra ideia; De um modo geral, um signo é cons-
cientemente apreendido e usado, enquanto um Símbolo é total ou par-
cialmente inconsciente, vai sendo apreendido no decorrer da vivência
social, cultural e histórica.
 Vejamos os exemplos abaixo:
Marca de um produto - Símbolo denotando o conteúdo, é
uma representação apreendida inconscientemente.
Sinal de trânsito - signo usado para sugerir ou induzir uma
dada reação em quem o percebe, logo uma ação cons-
ciente.
Letras – signo linguístico usado para representar os sons
da língua usada por determinada comunidade linguísti-
ca, apreendido conscientemente.
Sol - Símbolo cuja representação é apreendida incons-
cientemente por uma comunidade linguística conotando
luz, calor, brilho, iluminação, alegria.
Fica claro, portanto, que independentemente de ser linguagem ver-
bal ou não verbal, a linguagem é um signo mediador  por excelência
Psicolinguística I SEAD/UEPB 13
entre os homens (VYGOTSKY, 1934/2003), pois ela carrega em si os
conceitos generalizados e elaborados pela cultura humana, logo muito
simbólica.
 Vejamos esse exemplo:
SIGNO = Significante (imagem acústica)
+ Significado (ideia)
SÍMBOLO = uso em interações sociais
EX: Ao Leão se renda!  O enunciado pode re-
meter ao próprio animal; à determinada pessoa, co-
nhecida por leão; ao imposto de renda etc. Tudo isso
sem deixar de manter, de certa forma, uma relação
semântica com a referência original – fera.
 A partir do exemplo acima, percebemos que, dependo do contexto
em que se emprega o enunciado  Ao Leão se renda!, a relação signi-
ficante/significado recebe sentido específico, construídos histórico-cul-
turalmente – o que caracteriza o simbolismo linguístico. Então, vamos
entender melhor o sentido de Símbolo?
SÍMBOLO – 1. Aquilo que, por princípio de analogia, representa ou
substitui alguma coisa. Ex: balança é o símbolo da justiça. (Dicionário
 Aurélio)
SÍMBOLO – 2. designa um elemento representativo que está (rea-
lidade visível) em lugar de algo (realidade invisível) que tanto pode
ser um objeto como um conceito ou ideia, determinada quantidade
ou qualidade. O “símbolo” é um elemento essencial no processo de
comunicação, encontrando-se difundido pelo cotidiano e pelas mais
variadas vertentes do saber humano. Embora existam símbolos que são
reconhecidos internacionalmente, outros só são compreendidos dentro
de um determinado grupo ou contexto (religioso, cultural, etc.). (http://
pt.wikipedia.org. Em12.07.10)
SÍMBOLO – 3. são representações mentais que substituem os objetos
do mundo real... objetos, eventos, situações. (VYGOTSKY, in OLIVEI-
RA,1993, p. 35).
 Atividade I
Para você ampliar o seu conhecimento sobre o signo e o símbolo linguístico,
realize as seguintes ações:
a) Leia o tópico 1.9, intitulado de O Simbolismo linguístico , presente em Edward
Lopes, em Fundamentos da Linguística Contemporânea, p. 41 – 46, ou pelo
endereço eletrônico http:// books.google.com.br/books?isbn=8531601746
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
14 SEAD/UEPB I Psicolinguística
b) A partir do esquema sobre o simbolismo linguístico, apresentado por esse
autor, analise se a explicação ali explicitada se refere a signo ou símbolo.
Porquê?
c) Acredito que esse é um assunto que renderá boa discussão no fórum. Registre
sua compreensão no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) – Moodle - e
participe das reexões elaboradas pelos colegas.
Procure sempre tirar suas dúvidas sobre o conteúdo estudado com
o mediador pedagógico a distância através do endereço:
<http://ead.uepb.edu.br>.
Continuando a nossa conversa...
O símbolo, portanto, é sempre mediado pela linguagem, construí-
do, retomado, representado nas interações humanas desde a mais ten-
ra idade, logo responsável pelo process de aquisição e desenvolvimen-
to da linguagem. Basta observarmos nas situações cotidianas eventos
do tipo:
Situações interativas1 como essas contribuem para que a criança
associe sons a objetos, pessoas, ações etc, determinando-os, fato que
influencia diretamente nas construções de ideias, conceitos, valores,
costumes, enfim tudo que faz parte do mundo social da criança – é
assim que ela, naturalmente, vai se apropriando da língua/linguagem
e se desenvolvendo biocognitivoafetivosocial. Esse desenvolvimento
1  Todas as imagens foram retiradas de
http://www.google.com.br/imagem
Psicolinguística I SEAD/UEPB 15
progressivo contribui para que a criança interaja nas mais diversas si-
tuações, compreendendo e se fazendo compreender não só pelos sím-
bolos linguísticos quanto pelos não linguísticos - os gestos. Vejamos as
situações acima: na primeira, a criança expressa os sons “gugu, dada”
e tenta reproduzir a expressão fisionômica do adulto; na segunda, a
criança já emprega uma estrutura complexa “qué o biquedo!” acompa-
nhada de um sentimento interpretável pela sua fisionomia.
 As situações descritas acima nos levam a entender que as aquisições
intelectuais sofisticadas, como a linguagem, requerem representação e
abstração da realidade, por isso a criança, desde cedo, começa a per-
ceber o valor simbólico dos objetos. Por exemplo, ver-se na fotografia,
no espelho, mas já não confunde a foto, que é uma representação,
com a própria pessoa; diverte-se, deixando-se levar pelo mundo de
fantasias, imitando situações da vida real; interage com as tecnologias
até chegar o momento de interagir por meio da escrita convencional.
 A imitação, a fantasia, a fala, a leitura e a escrita são etapas de um
jogo simbólico de uma realidade evocada pelas representações de um
objeto ausente ou de simulação funcional. Tudo isso alicerça na crian-
ça o desenvolvimento do raciocínio lógico, responsável pela distinção
entre o real do imaginário e o real vivido; enfim, o jogo simbólico é o
grande ativador das capacidades sócio-cognitivas, as quais possibili-
tam a construção do pensamento consciente, de conceitos, de signi-
ficados e sentidos, enfim permitem a evolução intelectual da criança.
.
Observa-se muitas vezes, no jogo, a existência de
símbolos dos quais a significação não é compre-
endida pelo próprio sujeito... Todo símbolo é, ao
mesmo tempo, consciente sob um ângulo e incons-
ciente sob outro, dado que todo pensamento, mes-
mo o mais racional é também, ao mesmo tempo,
consciente e inconsciente. (Piaget, 1978, p. 220).
16 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Para você compreender
melhor... Um pouquinho da
teoria de base....
Esse é um fragmento do texto O cotidiano na educação infantil, de
Patrícia Corsino, que esclarece a relação intrínseca entre linguagem e
as experiências vivenciadas pela comunidade social, o que determina
a concepção de símbolo. Leia com atenção e procure relacionar com
as explicações expostas anteriormente.
(...)
Para Bakhtin (1992), a linguagem supõe uma situação de
troca social. São sujeitos em interação que produzem enun-
ciados concretos que, por sua vez, são determinados pelas
condições reais de enunciação – a situação social mais ime-
diata, incluindo os gestos, a entoação, vontades, afetos, ditos
e não-ditos – e também o horizonte social definido – o con-
texto social mais amplo responsável pela criação ideológica
de um grupo social, numa determinada época. O enunciado
é de natureza constitutivamente social, histórica e, por isso,
liga-se a enunciações anteriores e a enunciações posteriores
produzindo e fazendo circular discursos (Brait, 2005, p. 68).
 Vygotsky (1991, 1993) considera a linguagem como o siste-
ma simbólico básico de todos os grupos humanos, responsável
pela mediação entre o sujeito e o mundo, que exerce um papel
fundamental na comunicação entre as pessoas, no pensamento
e no estabelecimento de significados compartilhados que per-
mitem interpretações dos objetos, eventos e situações. A expe-
riência com as formas culturalmente organizadas, ou seja, com
os signos fornecidos pela cultura, permite ao sujeito constituir
seu sistema de signos, que funciona como um código ou filtro,
por meio do qual decifra o mundo. Entretanto, a cultura não é
compreendida como algo pronto, estático, ao qual cada sujeito
humano se submete, mas como um palco de negociações, no
qual os membros da cultura constantemente estão recriando e
reinterpretando significados. A vida social é dinâmica e cada
sujeito é ativo nela. Mundo cultural e mundo subjetivo intera-
gem e reorganizam-se mutuamente no curso desse processo.
(...)
Observando as crianças pequenas, antes da aquisição da fala, ve-
mos o quanto o corpo, as expressões e todo gestual entram em cena
na comunicação que estabelecem com o outro.
Querendo apro-
fundar o assunto,
consulte o texto de
Cristiane Januario
Gonçalves e Débo-
ra Andrade Anto-
nio, AS MÚLTIPLAS
LINGUAGENS
NO COTIDIANO
DAS CRIANÇAS.
Disponível em:
www.periodicos.
ufsc.br/index.php/
zeroseis/article/
view/853/760.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 17
Observando uma brincadeira entre um adulto e um bebê, por
exemplo, podemos notar a satisfação da criança através do seu riso e
também do movimento vigoroso de suas pernas. É através de choros,
sorriso, olhares, movimentos de pegar, de apontar, entre outros, que os
pequenos manifestam seus
desejos e vontades, satisfações e incômodos, cabendo ao adulto
interpretar os gestos mímicos, dando sentido a eles.
Os gestos expressivos das crianças, porém, não se dirigem ape-
nas ao adulto, mas às outras crianças também. Desde bem pequenas
elas se comunicam entre si, se olham, se aproximam, tentam pegar um
objeto que está com a outra etc. Estabelecem entre elas uma comu-
nicação sem palavras que, dificilmente, nós adultos, estamos atentos
para perceber e valorizar. O convívio com crianças de diferentes idades
propicia, sobremaneira, as trocas e amplia as possibilidades desta co-
municação. Perguntamos, então, como tem sido pensada a ação dos
educadores da Educação Infantil de modo a: observar os movimentos
expressivos que as crianças manifestam; responder às suas solicitações
e favorecer suas manifestações mímico-gestuais e a troca que estabe-
lecem com os outros?
 Vygotsky (1991,1993) discute as inter-relações entre linguagem e
gesto, trazendo as primeiras manifestações da criança na busca de ex-
pressão de desejos, de sentimentos e de comunicação com o outro,
as brincadeiras de faz-de-conta e também a escrita. A movimentação
da criança pequena na busca de comunicação é intensa – ela aponta,
se dirige até o objeto, chora quando não o alcança, segura e puxa as
pessoas quando quer alguma coisa – o gesto é a forma como se dirige
ao outro. As brincadeiras, por sua vez, são acompanhadas de gestos
e nelas, os objetos perdem sua força determinadora (Vygotsky, 1991,
p.110), pois a criança age sobre eles diferentemente daquilo que ela
vê, ressignificando-os através de seus gestos, que ganham função de
signo. Pelo gesto, transforma os objetos, indicando os novos significa-
dos. As atividades simbólicas da criança são repletas de gestos indica-
tivos de significado, cumprindo uma função de fala através dos gestos
representados (CORSINO, 2006, p. 30,33-34).
18 SEAD/UEPB I Psicolinguística
 Agora que você começa a entender o processo de aquisição da linguagem
pela criança, realize a atividade abaixo:
 Atividade II
Para a realização desta atividade siga as orientações abaixo:
1. Procure, emseu meio social, observar crianças em faixa etária de 06 meses
a 3 anos;
2. Escolha uma situação de interação que envolva a fala infantil – podendo ser
do tipo: criança/criança; criança/adulto; ou criança/objeto.
3. Descreve a fala da criança;
4.Agora procure compreender o jogo simbólico realizado pela criança e registre
suas observações no fórum para troca de experiências com seus colegas.
5. Depois, escolha um outro exemplo interessante, apresentado por um colega,
e teça comentários sobre o jogo simbólico envolvido no processo de aquisição
da linguagem.
Procure sempre tirar suas dúvidas sobre o conteúdo estudado com
o mediador pedagógico a distância através do endereço:
<http://ead.uepb.edu.br>.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
Psicolinguística I SEAD/UEPB 19
Resumo
 Antes de iniciarmos propriamente o nosso trabalho sobre a aqui-
sição da linguagem, foi necessário retomar conhecimentos que, com
certeza, você já dominava: o estudo do signo linguístico e sua rela-
ção com a simbologia da língua. Apenas apontamos a relação entre
esses conceitos e as práticas sociais a fim de encaminhá-lo(a) para a
compreensão de teorias propriamente voltadas para a compreensão da
aquisição, assunto do próximo capítulo.
 Autoavaliação
Objetivando explicitar o conhecimento construído nessa unidade, solicitamos
que você reita sobre a seguinte questão:
O que você considerou mais signicativo nesta unidade? Você considera que a
retomada da temática simbolismo linguístico foi importante para você começar
entender o processo de aquisição de linguagem da criança? De que modo?
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
20 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Leituras recomendadas
WOJSLAW, Eliane. Reexões sobre diferentes abordagens do conceito de
signo linguístico. Uniletras, Ponta Grossa, v. 32, n. 1, p. 91-105, jan./
jun. 2010. Disponível em: www.revistas2.uepg.br/index.php/uniletras/
article/download/.../1934. Acesso em 22.10.2011.
Eliane Wojslaw reflete sobre diferentes conceitos de signo linguístico
a partir das teorias do signo de Saussure, de 1916, de Peirce, do final
do século XIX e de Bakhtin, do final da década de 20. Ela apresenta um
breve histórico dos estudos da linguagem até a proposição da ciência
linguística, em 1916, por Saussure, e a mudança do foco dos estudos
para os fatos linguísticos.Sendo assim, o entendimento do conceito de
signo linguístico é ampliado, já que sai de uma perspectiva estrutural
para a de uso social, o que torna a leitura interessante para o alu-
no de Letras, visto ser o signo linguístico conceito fundamental para o
aprofundamento dos estudos da linguagem e seus diversos campos de
estudo.
LOPES, Edward. Fundamentos de Linguística Contemporânea. São Paulo:
Cultrix, 1999.
Este é, sem favor, o mais completo e sistemático manual da Linguís-
tica já publicado no Brasil. Nele, seu autor, que é docente dessa dis-
ciplina em diversas Faculdades do Estado de São Paulo, pôs o melhor
de sua experiência pedagógica e do seu conhecimento da mais cate-
gorizada bibliografia de Linguística, Semiologia, Comunicação e áreas
correlatas, para oferecer ao estudante um texto introdutório, a um só
tempo minucioso, claro e conciso, acerca da ciência do signo verbal.
 Ao longo das seis partes do volume, cada uma delas dividida em nú-
meros subtítulos que orientam a leitura e facilitam a pronta localização
de qualquer tópico específico, estuda o Prof. Edward Lopes as bases, os
métodos e os conceitos básicos da Linguística moderna. Começa por
definir-lhe primeiramente o campo disciplinar e por examinar em por-
menor a contribuição capital de Ferdinand Saussure para, em seguida,
demorar-se no estudo da Fonética e da Fonologia, da Morfologia, das
modalidades da Gramática e da Semântica. Alguns tópicos presentes
no livro: Definição de Campo, A Contribuição de Ferdinand Saussure,
Fonética e Fonologia, Morfologia, Modalidades de Gramática, Semân-
tica.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 21
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. Orgazizado por
Charles Bally e Albert Sechehaye, com a colaboração de Albert
Riedlinger. 27. ed., São Paulo: Editora Cultrix, 2006.
Também disponível em: http://pt.scribd.com/doc/40193539/Cur-
so-de-Linguistic-A-Geral-Saussure-ferdinand. Acesso em 22.10.2011.
Este livro, lançado em 1916, postumamente pelos alunos de Saus-
sure, traduz com maestria. as ideias geniais de Ferdinand Saussure
sobre a ciência da língua/linguagem, dando surgimento ao estrutu-
ralismo linguístico, estudado o signo linguístico a partir de uma rela-
ção dicotômica, esclarecendo temas e conceitos conforme os pares:
língua x fala; significante x significado; sincronia x diacronia; sintagma
x paradigma. Sendo assim, seria interessante um olhar especial sobre
o capítulo Semiologia, assunto crucial para o entendimento do signo
linguístico como uma entidade do conjunto que forma a linguagem é
fundamental. Ainda sobre a semiologia cabe ilustrar a diferença exis-
tente entre ela e a linguística.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e losoa da linguagem. 9a. ed. Tradução
de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1999.
CORSINO, Patrícia. O cotidiano na educação infantil.  TV ESCOLA/
SALTO PARA O FUTURO. Boletim 23, Nov. 2006. Diponível em: www.
tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/175810Cotidiano.pdf. Acesso em
30.07.2011
LOPES, Edward. Fundamentos de Linguística Contemporânea. São Paulo:
Cultrix, 1999.
PIAGET, J.  A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar,
1945/1978.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. Orgazizado por
Charles Bally e Albert Sechehaye, com a colaboração de Albert
Riedlinger. 27. ed., São Paulo: Editora Cultrix, 2006.
 VYGOTSKY, L. S.  A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
22 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Psicolinguística I SEAD/UEPB 23
II UNIDADE
O simbolismo linguístico e a
formação de conceitos e estruturas
 Visão da Psicologia Cognitiva: Piaget
24 SEAD/UEPB I Psicolinguística
 Apresentação
Estudar o desenvolvimento cognitivo humano se torna
desafiador, haja vista várias perspectivas teóricas investiga-
rem o desenvolvimento linguístico da criança, tais quais a:
Linguística, Psicologia, Antropologia, Neurociência, entre
outras. Apesar das contribuições de cada uma, o olhar es-
pecífico sobre o objeto limita as explicações teóricas. Sendo
assim, optamos pela articulação de duas áreas do conheci-
mento – a Psicologia e a Linguística para estudarmos, nesta
iniciaremos unidade, o processo de aquisição de lingua-
gem, focalizando o simbolismo linguístico e a construção
de conceitos. Discorreremos sobre o papel da linguagem
no desenvolvimento cognitivo, sob as perspectivas teóricas
interacionistas, conforme Piaget (2007,1967) e Vygotsky
(2007,1998); além do enfoque linguístico, segundo o ina-
tismo de Chomsky (1983, 1998). Esse recorte teórico nos
possibilita interrelacionar os aspectos pensamento/lingua-
gem/desenvolvimento e, consequentemente, compreender a
capacidade da criança pensar, simbolizar e construir signifi-
cado na vida.
Embora façamos retomadas dos conhecimentos linguís-
ticos estudados no decorrer do curso de Letras, precisamos
conhecer aspectos psicológicos e, por isso, convidamos
você a viajar pelo mundo interior da criança, observando
as elucidações teóricas sobre os processos mentais correla-
cionados ao emprego da linguagem. Para facilitar o enten-
dimento da exposição didática, estudaremos o simbolismo
linguístico e a construção de conceitos em unidades sepa-
radas, quais sejam: pontos de vista psicológicos: Unidade
II – Piaget; Unidade III – Vygotsky; ponto de vista linguístico:
Unidade IV – Chomsky.
Para fortalecer o seu entendimento, fique atento(a) às
ações didáticas apresentadas, inclusive as indicações tex-
tuais para o aprofundamento do conhecimento, tais como
livros, sites, filmes, entre outros.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 25
Objetivos
 Ao final desta unidade, esperamos que você:
• compreenda a perspectiva teóricapiagetiana, considerando a
relação pensamento e linguagem, sob o enfoque construtivista
do conhecimento, em especial o relativo à aquisição de lingua-
gem.
• entenda o simbolismo linguístico e a construção de conceitos e
de estruturas linguísticas associados ao desenvolvimento inte-
lectual da criança;
• apreenda os conceitos básicos da teoria piagetiana para expli-
car a aquisição de linguagem, tais como:
 assimilação, equilibração e acomodação;
 estágios de desenvolvimento.
Então, pronto(a)?
 Vamos continuar a nossa viagem?
26 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Pegando o bonde ....
 Antes de iniciarmos as nossas explicações teóricas, sugerimos que você
observe bem a sequência composta pelas imagens1 abaixo:
 Agora relacionando à realidade de uma criança, responda:
a) Primeiro, descreva como você entende cada situação interativa;
b) Segundo, levante suposição sobre o que contribui para que a criança
interaja diferentemente em cada situação;
c) Terceiro, explique o emprego da linguagem pela criança em cada situação.
Bem, tenho certeza que você percebeu a diversidade de fatores que
explica o emprego da linguagem pela criança e alguns podem explicar
uma situação, mas não necessariamente outra.
 Você agora deve estar se perguntando: por que isso acontece?
Porque as situações ilustradas retratam a criança em várias fases do
seu desenvolvimento infantil, o que implica desenvolvimento biológico,
cognitivo, social, afetivo etc.
E a linguagem, qual a sua relação com tudo isso? A apropriação
da linguagem pela criança é explicada por diferentes enfoques teóricos,
dentre os quais selecionamos dois aportes que associam o uso da lin-
guagem à: significação, sentido, compreensão, interação; ou seja, que
correlacionam linguagem e mente, daí optarmos por um viés psicológico
- a Psicologia Cognitiva – e um linguístico - a Linguística Cognitiva.
 Antes, porém, de enveredarmos pela perspectiva cognitiva, propria-
mente dita, achamos que vale a pena deixar uma anotação sobre o
posicionamento científico que por muito tempo serviu de paradigma
para explicar os fenômenos linguísticos da aquisição da linguagem: o
behaviorismo, defendido por Skinner (1957) e seus antecessores.
Querendo aprofundar o assunto, consulte o endereço:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Burrhus_Frederic_Skinner
1 Com exceção das imagens 2ª e 3ª, que
foram retiradas de http://images.search.
conduit.com.imagens, todas as outras des-
sa unidade foram retiradas de http://www.
google.com.br/imagens.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
Psicolinguística I SEAD/UEPB 27
O Behaviorismo
Baseado nos pressupostos da Psicologia Comportamental, essa
corrente teórica desconsidera o fator mente, compreende a aquisição
tão somente a fatores externos, já
que concebe a criança um ser totalmente passivo, cujo aprendizado é
condicionado pelo estímulo-resposta-reforço e memorização. A apren-
dizagem da linguagem, portanto, não era compreendida pelo viés do
simbolismo linguístico, mas pela internalização de um conjunto de re-
gras, via imitação da fala dos adultos pelas crianças, sendo o erro mo-
tivo de reforço até a criança aprender a maneira correta de se comu-
nicar. Nessa perspectiva, o adulto ocupa um papel crucial no processo
de construção comunicativa da criança, de modo a torná-la um falante
competente da língua.
Os comportamentalistas enfatizam o papel da
pessoa que cuida das crianças em modelar as for-
mas adultas corretas e em, seletivamente, reforçar
(punir e recompensar) as produções imitativas da
criança. Através desse processo, a criança, por fim,
torna-se um comunicador maduro (KAUFMAN,
1996, p. 68).
O behaviorismo, portanto, defende a aquisição da aquisição da
linguagem tanto a falada quanto a de significados, como um processo
gradual: a criança inicia com a pronúncia de simples sons sem sentido
aparente; depois, passa a pronúncia de sílabas; por fim, às palavras e
a frases. Como tudo acontece devido ao condicionamento do adulto,
os pais assumem papel fundamental – são os reforçadores -, pois
desde a fase do balbucio, há duas preocupações básicas: primeiro,
estimular a emissão dos sons (para eles, palavras), depois, exigir cada
vez mais a pronúncia correta das palavras e de estruturas linguísti-
cas. Controlando, dessa forma, o comportamento verbal da criança,
o repertório verbal vai se ampliando até a aquisição propriamente
dita da língua. Essa corrente, portanto, centrada no ambiente em que
se encontra a criança, preocupa-se em esclarecer o   comportamento
humano através da observação, auferindo a aprendizagem por meio
da medição, testagem e controle; desconsiderando, assim, a análise
de aspectos da conduta humana como raciocínio, desejos, fantasias,
sentimentos, entre outros. Enfim, para o behaviorismo, o comporta-
mento humano é o resultado das generalizações que a criança faz ao
associar uma coisa a outra - primeiro pelas semelhanças, depois pela
experiência, reforço e/ou punição, até conseguir diferenciá-las pelas
especificidades.
Exemplo: na aquisição da linguagem, a criança tem nas palavras a
base para as generalizações; a mãe quando aponta para um cachorro
e diz para o(a) filho(a) “au au”, ela está estimulando a criança associar
o animal à palavra; depois, a criança generaliza: todos os animais de
28 SEAD/UEPB I Psicolinguística
quatro patas é chamado de “au au”; continuando a ser estimulada,
a criança vai percebendo especificidades e começa a diferenciar: em
determinado momento, distingue gato do cachorro, passa a nomear
de “miau” o gato e “au au” para os demais animais, até formar um re-
pertório coerente para o conjunto de animais de quatro patas; e assim
por diante.
 A Psicolinguística
 Após essa explicação, agora iniciaremos nosso estudo sobre a aqui-
sição de linguagem, pelo viés da Psicolinguística, centrado nos aspectos
cognitivo e social da criança, e, para isso, focaremos nossa atenção
em dois grandes expoentes da psicologia interacionista construtivista:
Piaget (2007,1967) e Vygotsky (2003, 1999). Ambos, os pesquisado-
res, põem em relevo a construção do pensamento consciente para o de-
senvolvimento infantil e, logicamente, o linguístico. Assim, em busca de
entender como a criança se apropria da linguagem, esses estudiosos
focam seus olhares sobre a capacidade do ser humano simbolizar, ela-
borar conceitos e estruturas linguísticas bem formadas, e, para tanto,
concentram-se na relação pensamento e linguagem.
SIMBOLIZAR
Definição da palavra pensamento:
(Dicionário Aurélio, 2001; p.
525).
- Ato ou efeito de pensar;
- faculdade de pensar logicamente;
- poder de formular conceitos;
- o produto do pensamento, ideia;
- Mente;
- Recordação, lembrança;
- Modo de pensar, opinião;
- Frase que encerra um conceito
moral.


 
Definição da palavra linguagem:
http://michaelis.uol.com.br/
moderno/portugue...
- Faculdade de expressão
audível e articulada do homem,
produzida pela ação da língua
e dos órgãos vocais adjacentes;
fala.
- Conjunto de sinais falados
(glótica), escritos (gráfica) ou
gesticulados (mímica), de que
se serve o homem para exprimir
suas ideias e sentimentos.
- Qualquer meio que sirva para
exprimir sensações ou ideias.
- Agregado de palavras e
métodos de os combinar usados
por uma nação, povo ou raça;
idioma, língua, dialeto.
FORMAR CONCEITOS
Psicolinguística I SEAD/UEPB 29
O ato de pensar é constitutivo de linguagem, e pensar com logici-
dade, com consciência implica cognição – ato de perceber e compre-
ender o mundo bem como saber representar as coisas do mundo quan-
do estas estão ausentes no momento da ação. Essa ação representativa
requer necessariamente simbolizações, uma das quais a linguagem fa-
lada e escrita. Tudo isso leva à construção de conceitos, de significa-
do, de sentido, de estruturação linguística; enfim, leva à construção do
pensamento consciente.
Piaget e Vygotsky tomam a relação pensamento e linguagem fator
determinante para o desenvolvimento cognitivo e social da criança, no
entanto esses autores constroem seus pontos de vista de formacontrá-
ria: Piaget compreende o desenvolvimento responsável pela aprendiza-
gem, enquanto Vygotsky defende ser a aprendizagem fator determinan-
te para o desenvolvimento.
Então, vamos ver como isso acontece? Comecemos por Piaget....
Piaget: função simbólica
e formação de conceitos e
estrutura
 Vamos compreender as reflexões
teóricas de Piaget a partir da obser-
vação da situação ao lado: as crian-
ças constroem um castelo de areia
na praia, mas como elas conseguem
simbolizar?
Piaget explica que a capacidade de simbolizar está diretamente as-
sociada à capacidade de representar, que, por sua vez, é decorrente
do desenvolvimento da inteligência, e este último mantém uma relação
intrínseca com o desenvolvimento biológico - crescimento orgânico e
a maturidade dos órgãos: fonador, cerebrais etc. Isto quer dizer que a
criança se desenvolve cognitivamente, de modo gradual e hieráquico,
por estágios subsequentes que favorecerão a construção do pensamen-
to consciente. Assim, a criança começa com o estágio mais elementar,
sensorial, comunicando por meio de gestos, imagens mentais, imita-
ção, até chegar ao auge do desenvolvimento da inteligência, correspon-
dendo ao nível do pensamento hipotético-dedutivo, em que ela já atua
com resolução de problemas por combinação mental de ações e/ou
palavras. Portanto, o desenvolvimento da função simbólica - por meio da
qual um significante (ou um sinal) pode representar um objeto significa-
do, permitindo representação, que, por sua vez, por meio da experiên-
cia é armazenada e recuperada – são os chamados esquemas.
Esquemas
– são estruturas
mentais com que
os indivíduos
intelectualmente se
adaptam e organi-
zam o ambiente.
30 SEAD/UEPB I Psicolinguística
 Agora, voltando ao nosso exemplo:
Nessa situação, as crianças já apresentam conhecimento neces-
sário do seu meio para construir abstrações e representá-las. Quando
elas constroem um “castelo na areia”, já conseguem processar esque-
mas cognitivos de tal forma que mantém uma relação simbólica co-
erente entre o mundo real e um mundo ficcional. Caso elas tivessem
menos maturidade orgânica e mental seu comportamento seria outro;
por exemplo, uma criança com 18 meses pegaria na pazinha e poderia
jogar a terra sem muita coordenação motora e sem nenhuma repre-
sentação, seria apenas uma ação funcional, sem relação lógica com
o pensamento; a sua capacidade de simbolizar ainda está por iniciar.
Então, o esquema simbólico se processa assim:
Desenvolvimento cognitivo + desenvolvimento
orgânico-mental-sensorial

Desenvolvimento da capacidade de representar

Desenvolvimento da capacidade de simbolizar
Continuando...
Para Piaget, a linguagem é entendida como um sistema simbólico
de representações, logo a sua aquisição e desenvolvimento decorre da
capacidade de a criança adotar símbolos, esta última sendo depende
do desenvolvimento da inteligência da criança, com a união dos fa-
tores: conquista cognitivista e a inteligência sensória e motora. Sendo
assim, a aquisição depende da interação Sujeito e  Ambiente.
 Vejamos:
Para Piaget, o sujeito constrói estruturas com base na experiência
com o mundo físico, ao interagir e ao reagir biologicamente a ele, no
momento dessa interação com o meio, com o espaço, com o tempo
etc. Nesse desenvolvimento intelectual, a criança vive um contínuo pro-
cesso construção e reconstrução das sequências de ações mentais que
possibilitam apreender o ambiente físico e social. Isso quer dizer que
a aprendizagem acontece do individual para o coletivo, dependendo
do processo de maturação biológica do sujeito; nesse processo, ele
passa por três etapas: assimilação, acomodação e equilibração, esta úl-
tima relacionada a três fatores clássicos: ao que é inato, hereditário;
Para aprofundar o assunto, veja o tex-
to A Construção do Real na Criança: a
função dos jogos e das brincadeiras, de
ZAIA, Lia Leme. em Diponível Volume I
nº 1 – Jan/Jun, 2008 74. http://www.
marilia.unesp.br/scheme.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 31
às influências do ambiente físico, à experiência externa; aos efeitos de
influências sociais.
 Assimilação –  o processo cognitivo que consiste em encaixar um
novo objeto num esquema mental ou sensório-metor já existente.
 Acomodação – é o aspecto da atividade cognitiva que envolve a mo-
dificação dos esquemas para corresponderem aos objetos da realida-
de.
Equilibração – é um processo cognitivo que determina o trânsito as-
similação  acomodação; i.e., é um processo de resolução de um
conflito.
Observemos as ilustrações abaixo:
 A ilustração acima representa o processo de aquisição da lingua-
gem, resultado do desenvolvimento da inteligência da criança, faculta-
do este pela interação entre ambiente e organismo; decorrendo daí a
fala articulada e o pensamento consciente. Por isso que Piaget ressalta o
aparecimento da função simbólica da criança por volta dos dois anos
de idade através de uma ação preponderantemente individual; quer
dizer: a criança utiliza um objeto querendo significar outro objeto, um
ser – a palavra “au, au”, por exemplo, é usada para qualquer animal
com quatro patas que lembre o cachorro – nessa situação, a criança
realiza uma transposição simbólica de caráter individual e provisório.
Quando ela reconhece que o ser “cachorro” é representado pela lin-
guagem “au, au” e o “gato” por “miau” etc, ela utiliza um signo; quer
dizer: a criança assimila uma construção fixada social e coletivamente.
 A função simbólica, portanto, é constituída de dois períodos: o pré-
-simbólico e o simbólico propriamente dito.
a) Período pré-simbólico – do nascimento aos 2 anos de idade - a fun-
ção simbólica é criada pela própria criança, por meio do mecanismo
da “imitação”, uma representação em ato material (concreto) e não em
pensamento (abstrato). É um estágio pelo qual a criança passa, cuja
inteligência trabalha através de percepções (símbolos) e das ações (mo-
tor), é uma inteligência eminentemente prática. A linguagem começa
com balbucio até a aquisição de fonema, sílabas, pequenas palavras
32 SEAD/UEPB I Psicolinguística
não necessariamente bem formadas e a significação é genérica – lin-
guisticamente, é um período de construção mais fonética.
Exemplos: a generalização de determinadas ações ou seres, no mo-
mento da assimilação: ‘au,au” para animais; “gagau” para comida,
“mama” para pessoas.
b) Período simbólico - dos 2 (dois) anos aos 4 (quatro)2 anos, aproxi-
madamente – a função simbólica permite o surgimento da linguagem,
do desenho, da imitação, da dramatização etc. Aqui a criança já cria
imagens mentais, tanto do objeto quanto da ação ausentes. É um perí-
odo de fantasias, do faz de conta, do jogo simbólico. A imitação agora
já tem representações mais conscientes, o pensamento já começa a
elaborar o mundo virtual no mundo real, a inteligência abstrata co-
meça a ser construída. A linguagem já está mais formada, a criança
emprega a nominalização dos seres animados e inanimados: desen-
volvimento de palavras não-complexas, sintaxe, segue determinadas
regras regulares da linguagem, principalmente os verbos e emprega
conceitos com significação e sentido adequados – linguisticamente, é
um período de construção, além da fonética, morfológica, sintática e
principalmente semântica.
Exemplos: as representações dos signos: as brincadeiras (casinha,
escolinha), a personficação de personagens de filmes, historinhas, são
apenas algumas dessas representações simbólicas; essa fase vai cada
vez mais se aperfeiçoando até o grau máximo de complexidade sim-
bólica, quando as crianças se apropriam da língua, desenvolvendo as
habilidades de leitura e escrita.
 A transição da função pré-simbólica (pré-
-linguagem) para simbólica (linguagem) exige
num conjunto de atividades sensório-motoras,
cognitivas e desenvolvimento da inteligência
para construir sentidos.
 As coisas do mundo são primeiramente objeto da
percepção, para serem, depois, imagens, sinais,
símbolos, palavras, frases, linguagem. É nesse jogo
que a criança faz a passagem da imagem sensível
à imagem mentale em que investe grande parte
da sua energia. Ela comunica-se ainda em grande
média em esquemas de ação de representação fi-
gurativa e não propriamente em esquemas opera-
tórios (PIAGET, 1974, p. 241).
Portanto, nesse processo de desenvolvimento cognitivo, a criança
vai passando por estágios  - universais gerais e invariáveis – que são
capacidades necessárias para fomentar mudanças fundamentais para
2  Apesar de Piaget determinar esses limites
na faixa etária infantil, elas podem sofrer
diferenciações.
Para aprofundar esse conteúdo, leia o
texto O desenvolvimento cognitivo no
processo de aquisição de linguagem, de
Fernanda Dias. Revista Letrônica v. 3,
n. 2, p. 107-119, dez./2010. Disponível
em revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/
index.php/letronica/article/... Acesso
em 18.02.2013.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 33
o desenvolvimento e aprendizagem infantil. São os estágios: sensório-
-motor, pré-operatório, operações concretas e operações formais.
a) o sensório–motor – vai do nascimento até os 02 (dois anos) – é
um período anterior à linguagem, chamado de pré-verbal ou pré-
-linguístico, no qual o bebê desenvolve a percepção de si mesmo
e dos objetos a sua volta. Nessa fase, o bebê desenvolve formas
de inteligência, exteriorizadas por meio dos reflexos inatos: sucção,
movimentos dos membros, dos olhos etc; por meio dos sentidos:
visão, audição, tato, olfato, paladar. Esses reflexos dão origem a
esquemas conceituais: modos de pensar e de agir, internalizados
e responsáveis pela transformação, construção e organização de
atividades no e sobre o meio – o que implica desenvolvimento cog-
nitivo e da inteligência.
Exemplo: Os movimentos das mãos passam a ter coordenação com
os movimentos dos olhos: olha para o que ouve, tenta alcançar objetos
e agarra-os, leva-os à boca e chupa-os.
b) Pré-operatório - vai dos 2 (dois) aos 6-7 (seis-sete) anos – nesse
período, surge a capacidade de dominar a linguagem oral e de
representar o mundo por meio de símbolos (imagens ou palavras) e
desejos. A criança começa a desenvolver a sua inteligência prática
e manipulativa, passando pela inteligência intuitiva, até chegar a
inteligência representacional, função simbólica propriamente dita,
momento em que a criança começa a usar substitutos simbólicos
que podem corresponder a objetos, gestos e palavras.
Exemplo: aos dois anos, a criança já especifica a figura ao nome
dos parênteses mais próximos: pais, avós, irmãos; além de amiguinhos,
objetos, lugares. Também elabora construções linguísticas que vão do
nome a estruturas simples: “ága”, “qué ága”, “nenê qué ága” (a criança
ainda não usa o pronome pessoal – eu). A partir daí, a criança só tende
a se apropriar da língua e usá-la coerentemente nas várias situações.
 Apesar de já simbolizar, nesse estágio, a criança apresenta uma
peculiaridade muito importante: uso egocêntrico e social da linguagem.
No egocentrismo, o pensamento não dirigido a um interlocutor,
mas a si mesmo; de modo geral, aos 4-5 anos. A criança ignora o
ponto de vista do outro porque não tem intenção de se comunicar, por
isso não espera por respostas e sequer se preocupa se alguém a escu-
ta. A característica maior do discurso egocêntrico é a inconsciência: a
criança pensa em voz alta, mantendo uma conversa simultânea entre
ela e com aquilo que está fazendo, sem dar conta do mundo ao redor.
Também é a fase dos “quês” e “por quês”; “O que é isso?” “Por que a
menina tá chorando?”
34 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Exemplo: Numa situação em que a criança está brincando com lápis
colorido; procura um vermelho: “cadê o ápis?”, depois pega um azul
e resolve o problema.
No uso social, a criança, no início, estabelece uma comunicação
com o outro quase sempre em situações imperativas: manda, grita,
ameaça e pergunta etc; ela faz isso conscientemente, a fim de fazer
com que o outro faça as suas vontades, resolva os seus conflitos.
Retomando o exemplo anterior, teríamos:
Exemplo: a criança procura o lápis vermelho e apresenta a seguin-
te reação: “cadê o ápis?”; Pocura! A mãe tenta o azul, ela responde:
“esse não ... é o mermelho!! Esse não é mermelho”. Depois que resolve
esse problema, pode até voltar a uma outra situação de egocentrismo:
“o mermelho, não... é esse vede...”
Como fica claro, a criança vai oscilando entre uma situação ego-
cêntrica e social, até chegar a um outro fase em que a linguagem sai
da concretização, passando à abstração, constituída essencialmente da
função simbólica. Vale salientar que o discurso egocêntrico é, para Pia-
get, é reflexo do pensamento interior da criança; ou seja, ao empregar
um discurso, seja egocêntrico ou social, a criança apresenta uma estru-
tura cognitiva (pensamento) que é exteriorizada conforme a sua lógica,
conforme a sua compreensão. Isso quer dizer que a organização do
pensamento interior permite a elaboração de determinadas estruturas
linguísticas – fonéticas, morfológicas, sintáticas e semânticas - as quais
são externadas segundo a maturação orgânica da criança.
Pensamento interior (Processo de interiorização)

Pensamento egocêntrico  Pensamento Social

Linguagem (discurso) egocêntrica  Linguagem
(discurso) social
Resumindo...
 A perspectiva de Piaget é de base construtivista, a criança não rece-
be, não é condicionada, pelo contrário, há uma evolução biofisiológica
e cognitiva que possibilita o desenvolvimento da inteligência: inteligên-
cia pré-verbal (no estágio sensório-motor) e a inteligência verbal (no
estágio pré-operatório) – a linguagem simbolizada, com função social.
 A linguagem nasce da interiorização dos esquemas sensórios-motores
produzidos pela experimentação ativa e contínua de novas estruturas,
Psicolinguística I SEAD/UEPB 35
essas últimas possibilitadas por meio da interação criança e o meio
(objeto). Portanto Piaget entende que a linguagem é decorrente do de-
senvolvimento humano, e ela acontece por etapas porque o desenvol-
vimento também evolui de forma paulatina.
 Agora que você já está entendo como Piaget entende a aqusição da
linguagem, pense melhor e realize a atividade abaixo.
 Atividade I
Observe a situação ao lado; ela retrata uma criança, no estágio pré-operatório,
brincando com um formas geométricas, as quais devem ser colocadas num
espaço vazado no recipiente. Agora responda:
a) Qual a importância dessa atividade para o desenvolvimento infantil e,
consequentemente, para a aquisição de linguagem?
b) Imagine a criança jogando com esse brinquedinho, como seria o
desenvolvimento cognitivo infantil? Para responder a essa questão,
descreva como acontecem as etapas de assimilação, acomodação e
equilibração, na criança, ao manusear as peças do brinquedo. (lembre-
se de que ela pode tentar mais de uma vez para acertar).
c) Dê exemplo de possível elaboração linguística que a criança poderia
construir, ao desenvolver essa atividade.
d) Essa é uma atividade que pode ser explorada de diferentes formas, por
isso é interessante a sua postagem no fórum.
e) Escolha uma resposta de um colega, leia e analise; depois interaja, deixe
um comentário para ele.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
36 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Continuando...
c) Estágio das operações concretas - dos 7 (sete) aos 11-12 (onze-
-doze) anos – nessa fase a criança amplia seu campo social, sai do
grupo familiar para o de amigos (da escola, do clube etc); a noção de
reversibilidade das ações possibilita o pensamento crítico, a criança
passa a elaborar processos mentais lógicos, permitindo-lhe discriminar
os objetos por semelhança e diferença; construir conceitos de tem-
po, espaço, linguagem matemática – compreender regras de jogos;
e, como nessa fase o egocentrismo vai diminuindo, a criança também
aceita pensamentos e sentimentos diferentes dos seus.
 Vejamos o exemplo ao
lado: Aqui os personagens
reproduzem uma situação
comunicativa, cujo jogo
simbólico é realizado me-
diante a linguagem da in-
ternet, exigindo inquieta-
ções mentais, mas as trocas
com o grupo de amigos
permitem a compreensão e
a construçãode novos es-
quemas.
 Atividade II
Observe atentamente a gura ao lado
e explique como a situação ilustrada
representa o estágio das operações
concretas. Colabore com as reexões
sobre o assunto estudado postando sua
compreensão no fórum.
d) Estágio das operações formais – por volta dos 12 (doze) anos –
Em termos cognitivos, essa fase sinaliza a entrada na idade adulta. A
criança/adolescente passa a construir pensamento lógico e dedutivo, o
que implica operações mentais com padrão de maturidade intelectual,
tais como: relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses,
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
Psicolinguística I SEAD/UEPB 37
utilizando, para tanto, a linguagem plenamente simbolizada, com fins
comunicativos.
 Vejamos a tirinha acima, o personagem Mônica, pode aqui repre-
sentar uma criança no estágio das operações concretas: ela usa da
abstração, elabora pensamento lógico, ao compreender que se chove
a terra fica molhada; diferenciando ainda o estado seco do molha-
do, pensamento esse refletido no emprego da estrutura bem formada
morfossintática e semanticamente: “Hoje não preciso regar minha flor-
 zinha”.
 Atividade III
 Assista ao vídeo sobre Testes de aquisição da linguagem e respectivos
comentários, presente no endereço http://www.youtube.com/
 watch?v=TgRkWWdr1Rk.
a) Depois de observar bem as orientações e comentários apresentados,
destaque trechos que você achou interessante, elabore reexões sobre
a aquisição de linguagem.
b) Este é um material muito interessante para construir reexões sobre o
simbolismo, formação de conceitos e estruturas. Portanto, poste sua
avaliação no fórum e procure interagir com os colegas, comentando as
ponderações postadas.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
3838 SEAD/UEPB I PsicolinguísticaSEAD/UEPB I Psicolinguística
ResumoResumo
Esta unidade procurou apresentar o processo de aquisição de lin-Esta unidade procurou apresentar o processo de aquisição de lin-
guagem subordinado ao desenvolvimento intelectual da criança. Porguagem subordinado ao desenvolvimento intelectual da criança. Por
meio do construtivismo piagetiano, entendemos que o aparecimentomeio do construtivismo piagetiano, entendemos que o aparecimento
do simbolismo, a construção de do simbolismo, a construção de conceitos e estruturas linguísticas pro-conceitos e estruturas linguísticas pro-
cedem da interiorização dos esquemas sensórios-motores construídoscedem da interiorização dos esquemas sensórios-motores construídos
mediante as experiências vivenciadas pela criança. Esse desenvolvi-mediante as experiências vivenciadas pela criança. Esse desenvolvi-
mento acontece em etapas contínuas e subsequentes, acompanhadasmento acontece em etapas contínuas e subsequentes, acompanhadas
pelo processo de assimilação, equilibração e adaptação, decorrentespelo processo de assimilação, equilibração e adaptação, decorrentes
da interação entre a criança e o meio. Concluímos, assim, que a apren-da interação entre a criança e o meio. Concluímos, assim, que a apren-
dizagem é um produto do desenvolvimento cognitivo, ou seja:dizagem é um produto do desenvolvimento cognitivo, ou seja:
•• O pensamento antecede o surgimento da O pensamento antecede o surgimento da linguagem;linguagem;
••  A linguagem é produto d A linguagem é produto do desenvolvimento meno desenvolvimento mental;tal;
••  A formaçã A formação de o de conceitos pconceitos precede à recede à formação dformação de palave palavras, vistoras, visto
um significado achar-se sempre preso a uma um significado achar-se sempre preso a uma palavra;palavra;
••  A linguagem  A linguagem é a é a externalizaçãexternalização do o do pensamento em sua pensamento em sua formaforma
verbal.verbal.
 Autoavaliação Autoavaliação
Os pressupostos do construtivismo piagetiano são de grande contribuiçãoOs pressupostos do construtivismo piagetiano são de grande contribuição
para a educação infantil, tanto que o Referencial curricular para educaçãopara a educação infantil, tanto que o Referencial curricular para educação
infantil – RCNEI – documento fundamental para se compreender a educaçãoinfantil – RCNEI – documento fundamental para se compreender a educação
da criança na fase inicial, apresenta em muitos pontos orientações educativasda criança na fase inicial, apresenta em muitos pontos orientações educativas
baseadas em Piaget; além disso, é uma teoria com ns aplicativos no cotidianobaseadas em Piaget; além disso, é uma teoria com ns aplicativos no cotidiano
escolar. Para conrmar a importância dessa teoria e possibilitar sua própriaescolar. Para conrmar a importância dessa teoria e possibilitar sua própria
aprendizagem desta unidade, solicitamos a seguinte aprendizagem desta unidade, solicitamos a seguinte atividade:atividade:
a) a) retire pelo retire pelo menos duas menos duas passagens do passagens do RCNEI, que RCNEI, que estejam correlacionadas aosestejam correlacionadas aos
pressupostos piagetianos e explique em que ponto elas se orientam porpressupostos piagetianos e explique em que ponto elas se orientam por
Piaget.Piaget.
b) b) apresente uma apresente uma atividade escolar atividade escolar referente à referente à educação infantil educação infantil relativarelativa
à aquisição de linguagem e mostre a correlação com o construtivismoà aquisição de linguagem e mostre a correlação com o construtivismo
piagetiano.piagetiano.
dica.dica. utilize o blocoutilize o bloco
de anotações parade anotações para
responder as atividades!responder as atividades!
O RCNEI é um documento em três volu-O RCNEI é um documento em três volu-
mes e está disponível em portal.mec.mes e está disponível em portal.mec.
gov.br/seb/arquivos/pdf/gov.br/seb/arquivos/pdf/
Psicolinguística Psicolinguística I I SEAD/UEPBSEAD/UEPB 3939
c) Essa é uma atividade bastante signicativa, que pode cooperar com ac) Essa é uma atividade bastante signicativa, que pode cooperar com a
construção do conhecimento por meio da trocas. Sendo assim, dê suaconstrução do conhecimento por meio da trocas. Sendo assim, dê sua
contribuição, postando sua atividade no fórum de contribuição, postando sua atividade no fórum de discussão.discussão.
Leituras recomendasLeituras recomendas
PIAGETPIAGET, J, Jean.ean.  A Formação do Símbolo na Criança. Imitação, Jogo e sonho. A Formação do Símbolo na Criança. Imitação, Jogo e sonho.
Imagem e representação.Imagem e representação. Imitação Rio de Janeiro: Livros Téc. e Cient. Imitação Rio de Janeiro: Livros Téc. e Cient.
Editora, 1990.Editora, 1990.
Um livro de Um livro de central significação na obra psicológica de Jean Piaget:central significação na obra psicológica de Jean Piaget:
aqui, como em aqui, como em nenhum outro lugarnenhum outro lugar, a comunicação infantil , a comunicação infantil é estudadaé estudada
em paridade com as suas grandes realidades espontâneas; os dadosem paridade com as suas grandes realidades espontâneas; os dados
da afirmação da personalidade infantil se liberam de todas as peias eda afirmação da personalidade infantil se liberam de todas as peias e
caminham livremente em busca de satisfação e sentido. A imaginaçãocaminham livremente em busca de satisfação e sentido. A imaginação
é o reino próprio da infância - seu universo está povoado de umaé o reino próprio da infância - seu universo está povoado de uma
liberdade que o adulto rotula para poder compreendê-lo, mas que,liberdade que o adulto rotula para poder compreendê-lo, mas que,
na verdade, tem um sentido biológico de equilíbrio vital. A gênese dona verdade, tem um sentido biológico de equilíbrio vital. A gênese do
universo infantil está muito próxima ao mistério das coisas vivas - masuniverso infantil está muito próxima ao mistério das coisas vivas - mas
o seu mecanismo, tal como o estuda e o analisa Piaget, é uma daso seu mecanismo, tal como o estuda e o analisa Piaget, é uma das
fontes mais profundas e mais convincentes das qualidades e defeitosfontes mais profundas e mais convincentes das qualidadese defeitos
que, mais tarde, explodem no mundo dos que, mais tarde, explodem no mundo dos adultos. Piaget não se satisfazadultos. Piaget não se satisfaz
com as explicações cumulativas ou mecânicas, tão-somente: o podercom as explicações cumulativas ou mecânicas, tão-somente: o poder
de simbolizar, que é das faculdades mais notáveis do homem, na crian-de simbolizar, que é das faculdades mais notáveis do homem, na crian-
ça tem função transitória. Sua formação é o ça tem função transitória. Sua formação é o objetivo deste livro que, àobjetivo deste livro que, à
medida que desdobra as suas medida que desdobra as suas intuições e constatações, amplia-se paraintuições e constatações, amplia-se para
uma dimensão de obra única e uma dimensão de obra única e insubstituível.insubstituível.
SEBER, Maria da Glória .SEBER, Maria da Glória . Piaget: O Diálogo com a Criança e oPiaget: O Diálogo com a Criança e o
Desenvolvimento do RaciocínioDesenvolvimento do Raciocínio – 1. ed., São – 1. ed., São Paulo: Scipione, 1997.Paulo: Scipione, 1997.
Coleção PensamentColeção Pensamento e o e Ação no Ação no Magistério.Magistério.
 As pesquisas  As pesquisas e e reflexões de reflexões de Piaget revolucionaram Piaget revolucionaram o o que que se se sabiasabia
sobre educação, notadamente nas áreas da psicologia evolutiva e dosobre educação, notadamente nas áreas da psicologia evolutiva e do
processo de aquisição de conhecimento. A processo de aquisição de conhecimento. A autora explica as idéias pia-autora explica as idéias pia-
gentianas do ponto de vista de alguém que as utilizou gentianas do ponto de vista de alguém que as utilizou na prática. Nãona prática. Não
se trata de um resumo se trata de um resumo de sua obra. O que conta de sua obra. O que conta aqui é a experiência:aqui é a experiência:
como os alunos evoluem, aprendem, reagem ou se relacionam com ocomo os alunos evoluem, aprendem, reagem ou se relacionam com o
professor, considerando o dia-a-dia da escola brasileira. Você vai verprofessor, considerando o dia-a-dia da escola brasileira. Você vai ver
neste livro: Quem foi Jean Piaget A explicação biológica da aquisiçãoneste livro: Quem foi Jean Piaget A explicação biológica da aquisição
do conhecimento Como entender o Raciocínio da do conhecimento Como entender o Raciocínio da Criança As contribui-Criança As contribui-
ções mútuas entre a Criança e o ções mútuas entre a Criança e o seu mundo Os fatores que interferemseu mundo Os fatores que interferem
no Desenvolvimento intelectual Desenvolvimento das estruturas cogni-no Desenvolvimento intelectual Desenvolvimento das estruturas cogni-
tivas e tivas e aprendizageaprendizagemm
4040 SEAD/UEPB I PsicolinguísticaSEAD/UEPB I Psicolinguística
Para aprofundar o conhecimento sobre a Teoria de Piaget, acesse, são bastantePara aprofundar o conhecimento sobre a Teoria de Piaget, acesse, são bastante
elucidativos:elucidativos:
http://www.youtube.com/watch?v=8UYz8cTBfgg http://www.youtube.com/watch?v=8UYz8cTBfgg  – parte 1 de 4 – de- – parte 1 de 4 – de-
finição de termos – desenvolvimento da inteligência e genética do co-finição de termos – desenvolvimento da inteligência e genética do co-
nhecimento.nhecimento.
http://www.youtube.com/watch?v=TxtcBXOz8ZUhttp://www.youtube.com/watch?v=TxtcBXOz8ZU - parte 2 de 4 – fase - parte 2 de 4 – fase
sensório-motor – inteligência prática - açãosensório-motor – inteligência prática - ação
http://www.youtube.com/watch?v=h3EzpmEK6yUhttp://www.youtube.com/watch?v=h3EzpmEK6yU – parte 3 de 4 – es- – parte 3 de 4 – es-
tágio pré-operatória – não organização lógica do pensamento, semtágio pré-operatória – não organização lógica do pensamento, sem
reversibilidadreversibilidade e operatório – pensamento lógico – e e operatório – pensamento lógico – concreto e formal.concreto e formal.
http://www.youtube.com/watch?v=13qkS1TITbIhttp://www.youtube.com/watch?v=13qkS1TITbI - parte 4 de 4 – Piaget - parte 4 de 4 – Piaget
e a pedagogia; reflexão sobre Piaget hoje; e indicação de leitura.e a pedagogia; reflexão sobre Piaget hoje; e indicação de leitura.
ReferênciasReferências
BRASIL/Ministério da Educação e do BRASIL/Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria deDesporto. Secretaria de
Educação Educação FundamentFundamental.al. Referencial curricular nacional para a EducaçãoReferencial curricular nacional para a Educação
Infantil.Infantil. Brasília: MEC/ SEF, 1998. Brasília: MEC/ SEF, 1998.
OLIVEIRA MK.OLIVEIRA MK.  Vygotsky e o processo  Vygotsky e o processo de formação de conceitos.de formação de conceitos. In: In:
LA TAILLE Y. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas emLA TAILLE Y. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em
discussão. São Paulo: Summus, 1992.discussão. São Paulo: Summus, 1992.
PIAGET, J.PIAGET, J.  A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho,
imagem e representação.imagem e representação. Rio de Janeiro: São  Rio de Janeiro: São Paulo: 1990, PPaulo: 1990, Psicologia esicologia e
pedagogia.pedagogia.
____.____. O pensamento e a linguagem na criança.O pensamento e a linguagem na criança. São Paulo: Martins Fontes, São Paulo: Martins Fontes,
1999.1999.
SEBER, Maria da Glória .SEBER, Maria da Glória . Piaget: O Diálogo com a Criança e o Piaget: O Diálogo com a Criança e o
Desenvolvimento do RaciocínioDesenvolvimento do Raciocínio – 1.  – 1. ed., São Paulo: Scipione, 1997.ed., São Paulo: Scipione, 1997.
Coleção Pensamento e Ação no Magistério.Coleção Pensamento e Ação no Magistério.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 41
III UNIDADE
O simbolismo linguístico e
a formação de conceitos e
estruturas
 Visão da Psicologia Cognitiva: Vygotsky 
42 SEAD/UEPB I Psicolinguística
 Apresentação
Nesta unidade continuaremos o estudo da aquisição de
linguagem sob a perspectiva da psicologia cognitiva, foca-
lizando, agora, um outro ícone do desenvolvimento huma-
no – VYGOTSKY. É preciso, antes, esclarecer que estudar
 Vygotsky em apenas uma unidade é impossível dada à am-
plitude e profundidade dos seus estudos, sendo assim nos
limitaremos em compreender o processo de aquisição da
linguagem por meio da relação pensamento, linguagem e
aprendizagem infantil.
 Vygotsky apresenta um estudo inovador ao trazer, entre
tantos outros conceitos, a noção de sujeito social, de in-
teração mediada pela linguagem, de construção simbólica
pelo processo histórico-cultural; ou seja, sem desconsiderar
o aparato biológico da espécie humana para o desenvol-
vimento da linguagem, esse autor põe em relevo as práti-
cas vivenciadas pela criança como fator crucial para o seu
desenvolvimento cognitivo. É nas interações que a criança
constrói representações sobre o mundo; por meio das me-
diações, principalmente com o emprego da linguagem, a
criança se apropria do conhecimento, passando, para tanto,
pelo processo de internalização, transformação e externali-
zação das ideias, fatos, conceitos etc. É esse processo que
denomina os estudos vygotskianos de sociointeracionista.
Então, vamos ver como Vygotsky compreende a capaci-
dade da criança pensar, simbolizar e construir significado na
vida?
Mas fique atento! Não se esqueça de acompanhar às
ações didáticas apresentadas, inclusive as indicações tex-
tuais para o aprofundamento do conhecimento, tais como
livros, sites, filmes, entre outros. Elas são muito importantes
para assimilarmos coerentemente os objetivos dessa unida-
de.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 43
Objetivos
 Ao final desta unidade, esperamos que você:
• compreenda a perspectiva teórica vygotskiana, considerando a
relação pensamento e linguagem, sob o enfoque sociointera-
cionista do conhecimento e, em especial, o relativo à aquisição
de linguagem.
• entenda o simbolismo linguístico e a construção de conceitos e
de estruturas linguísticas associados ao desenvolvimento inte-
lectual da criança;
• apreenda relações conceituais básicas da teoria vygotskiana
para explicar a aquisição de linguagem, tais como:
 mediação simbólica, processo de internalizaçãoe cons-
tituição do pensamento consciente;
 pensamento e linguagem;
 desenvolvimento e aprendizado
E aí, vamos continuar a nossa viagem?
44 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Situando a teoria
de Vygostky...
Para iniciar, vamos observar as duas ilustrações abaixo:
 Ambas as ilustrações são representações da vida social, na qual
pessoas desenvolvem práticas cotidianas que permitem o entendimento
coletivo, por meio de normas, costumes e valores, inerentes a cada so-
ciedade, no decorrer do seu processo histórico. Essas práticas são de-
senvolvidas com o emprego de instrumentos que variam, transformam-
-se ao longo do desenvolvimento do indivíduo, conforme o progresso
de cada povo: (Fig. 1) sociedade primitiva - paus, pedras, couro; (Fig.2)
 sociedade industrializada - carros, casas, edificações. São objetos so-
ciais cuja função e modos de utilização foram desenvolvidos para o
trabalho coletivo, para organização social, de forma que são instrumen-
tos físicos mediadores da relação entre o indivíduo e o mundo; “são
elementos externos ao indivíduo, voltados para fora dele; sua função
é provocar mudanças nos objetos, controlar processos da natureza”
(OLIVEIRA, 2010, p. 30).
Mas o instrumento físico, por si só, não responde pela compreen-
são, harmonização e organização social, para isso o homem, diferen-
temente do animal, emprega outro instrumento – o signo linguístico. Por
meio dele, o indivíduo é capaz de lembrar, comparar coisas, relatar,
escolher etc, o que leva Vygotsky a concebê-lo como instrumento psico-
lógicos, pois orientam “para o próprio sujeito, para dentro do indivíduo;
dirigem-se ao controle de ações psicológicas, seja do próprio indiví-
duo, seja de outras pessoas” (Idem, idem).
Enfim, relacionando as figuras acima, compreendemos que as
ações mentais dos sujeitos da sociedade industrializada são mais com-
plexas que os da primitiva, pois se são capazes de elaborar instru-
mentos concretos mais sofisticados é porque conseguiram apreender
o mundo objetivo e transformá-lo para suprir suas necessidades; e, na
Psicolinguística I SEAD/UEPB 45
medida em que são capazes de aprender novas formas de intervir no
mundo físico, transformando-o em instrumentos, eles também desen-
volvem capacidades psicológicas para compreenderem mais e mais
o seu meio, mas isso só é possível devido ao emprego da linguagem,
que possibilita construir representações do real através das relações
mentais: relacionar as coisas, planejar, ter intenções... Enfim, todo esse
processo é o que Vygotsky denomina de sócio-histórico, no qual a cultu-
ra é parte essencial para mediação e aquisição de novos conhecimentos.
Mas como isso acontece? Para o nosso entendimento, vamos nos
orientar pelos objetivos propostos para essa unidade.
Mediação simbólica, processo
de internalização e constituição
do pensamento consciente
Um dos aspectos fundamentais que sustentam a abordagem so-
ciointeracionista do conhecimento é a relação direta entre cultura e
desenvolvimento das funções psicológicas superiores - potencialidades
intelectuais humanas. Vygotsky (1999) enfatiza que a gênese desse pro-
cesso não é inata, ela é construída mediante interação com o outro e
com a cultura.
Para Vygotsky, o homem só adquire conhecimento de forma media-
da, ou pelas coisas do mundo físico, objetivo, real ou pelo sistema se-
miótico possibilitado pela linguagem. Em sendo assim, a linguagem as-
sume papel fundador da aprendizagem e do desenvolvimento humano,
pois é por meio dela que se processa a internalização do conhecimento,
resultante esta das interrelações sociais, o que leva, consequentemente,
à construção do pensamento consciente.
O processo de desenvolvimento do ser humano,
marcado por sua inserção em determinado grupo
cultural, se dá “de fora para dentro”. Isto é, pri-
meiramente o indivíduo realiza ações externas, que
serão interpretadas pelas pessoas a seu redor, de
acordo com os significados culturalmente estabele-
cidos. A partir dessa interpretação é que será pos-
sível para o indivíduo atribuir significados a suas
próprias ações e desenvolver processos psicológi-
cos internos que podem ser interpretados por ele
próprio a partir dos mecanismos estabelecidos pelo
grupo cultural e compreendidos por meio dos có-
digos compartilhados pelos membros desse grupo
(OLIVEIRA, 2010, p. 39).
46 SEAD/UEPB I Psicolinguística
 A mediação acontece de duas formas: por instrumentos – emprego
de artefatos para conhecer e transformar a natureza, e por símbolos so-
ciais/signos - instrumento psicológico, marca externa que será internali-
zada e recuperada em atividades futuras, são representações por meio
de palavras, imagens mentais, desenhos etc. A linguagem é, assim, o
instrumento de mediação por excelência, para resolução das dificulda-
des infantis quando as crianças se veem diante de casos complicados
e, por isso, incapacitadas de solucionar determinadas situações, sejam
estas presenciais ou ausentes. Portanto, o conceito de mediação abran-
ge duas faces complementares:
a) Representação mental – capacidade
de o homem operar mentalmente:
abstrair o objeto e/ou evento do
mundo real e substituí-lo por uma
imagem mental;
b) Origem social dos sistemas simbó-
licos – a cultura possibilita repre-
sentações mentais da realidade, por meio da internalização das
formas de comportamento construídas sócio-historicamente.
 A internalização é uma atividade mental advinda da abstração de
uma atividade externa realizada no decorrer do processo interacional.
O conceito de internalização envolve três outros, quais sejam:
a) Sujeito interacional – a construção de conhecimentos e do pen-
samento consciente é resultado das experiências vivenciadas com
outros sujeitos e consigo próprio, permitindo ao sujeito internali-
zar conhecimentos, papéis e funções sociais;
b) Relações interpessoais – processo que parte do plano social - re-
lações interpessoais - para o plano individual interno - r elações
intrapessoais.
c) Função mental/funções psicológicas superiores – refere-se aos
processos de pensamento, memória, percepção e atenção.
- O pensamento - tem origem na motivação, no interesse, na neces-
sidade, no impulso, no afeto e na emoção. A união do cognitivo com
o afetivo e a organização da consciência – no início, prática, depois
conceitual – resulta no pensamento consciente, que por sua vez, é mo-
dulado pelas práticas socioculturais, construídas histórica e linguistica-
mente, pois o pensamento se encontra determinado pela linguagem:
“a linguagem fornece os conceitos e as formas de organização do real
que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento”
(OLIVEIRA, 2010, p.43). Considerando a figura 41 ao lado, com-
1 As guras dessa unidade que não vierem
imediatamente acompanhadas da sua refe-
rência é porque foram retiradas do http://
 www.google.com.br/imagem.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 47
preendemos que o pensamento infantil ainda está sendo guiado pela
consciência prática, o bebê lembra de uma situação vivida no seu am-
biente familiar – um adulto chamando de neném, ela apenas emite a
palavra ne-ne motivada pela lembrança, o pensamento concreto pre-
valece sobre o abstrato.
- A memória – no desenvolvimento infantil é considerada como uma
função centralizadora, que orienta o desenvolvimento das outras fun-
ções. No início, está relacionada à motricidade da criança, é uma me-
mória não mediada pelo signo linguístico, mas com o desenvolvimento
sensório-motor e depois de passar por vários estágios do desenvolvi-
mento, a criança chega ao pensamento abstrato, nesse ponto a memó-
ria passa a ser mediada e passa a orientar o pensamento consciente.
 A criança recorre à memória como conteúdo de expressão e conhe-
cimento: para ela, “pensar” significa “lembrar”. Vygotsky (1998, p. 67)
enfatiza que “do ponto de vista do desenvolvimento psicológico, a me-
mória, mais do que o pensamento abstrato, é característica definitiva
dos primeiros estágios do desenvolvimento cognitivo”. Por isso, quando
a criança enuncia palavras, como no exemplo

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