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Governo FederalGoverno Federal Dilma Vana Rousseff Dilma Vana Rousseff PresidentePresidente Ministério da EducaçãoMinistério da Educação Aluísio Mercadant Aluísio Mercadantee MinistroMinistro CAPESCAPES Jorge Almeida GuimarãesJorge Almeida Guimarães PresidentePresidente Diretor de Educação a DistânciaDiretor de Educação a Distância João Carlos Teatini de Souza ClímacoJoão Carlos Teatini de Souza Clímaco Governo do EstadoGoverno do Estado Ricardo Vieira CoutinhoRicardo Vieira Coutinho GovernadorGovernador UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA Antonio Guedes Ra Antonio Guedes Rangel Junior ngel Junior ReitorReitor José EthanJosé Ethan Vice-Reitor Vice-Reitor Pró-Reitor de GraduaçãoPró-Reitor de Graduação Eli Brandão da SilvaEli Brandão da Silva Pró-Reitoria de Ensino Médio, Técnico e Pró-Reitoria de Ensino Médio, Técnico e Educação à DistânciaEducação à Distância Secretaria de Educação a Distância – SEADSecretaria de Educação a Distância – SEAD Eliane de Moura SilvaEliane de Moura Silva Assessora de EAD Assessora de EAD Coord. da Universidade Aberta do Brasil - UAB/UEPBCoord. da Universidade Aberta do Brasil - UAB/UEPB Cecília QueirozCecília Queiroz Editora da UniversidadeEditora da Universidade Estadual da ParaíbaEstadual da Paraíba Diretor Diretor Cidoval Morais de SousaCidoval Morais de Sousa Coordenação de EditoraçãoCoordenação de Editoração Arão de Azevedo SouzaArão de Azevedo Souza Conselho EditorialConselho Editorial Célia Marques Teles - UFBACélia Marques Teles - UFBA Dilma Maria Brito MDilma Maria Brito Melo Trelo Trovão - UEPBovão - UEPB Djane de Fátima Oliveira - UEPBDjane de Fátima Oliveira - UEPB Gesinaldo Ataíde Cândido - UFCGGesinaldo Ataíde Cândido - UFCG Joviana Quintes Avanci - FIOCRUZJoviana Quintes Avanci - FIOCRUZ Rosilda Alves Bezerra - UEPBRosilda Alves Bezerra - UEPB Waleska Silveira Lira - UEPBWaleska Silveira Lira - UEPB Universidade Estadual da ParaíbaUniversidade Estadual da Paraíba Antonio Guedes Rangel Junior Antonio Guedes Rangel Junior ReitorReitor José EthanJosé Ethan Vice-Reitor Vice-Reitor Pró-Reitor de GraduaçãoPró-Reitor de Graduação Eli Brandão da SilvaEli Brandão da Silva Pró-Reitoria de Ensino Médio, Técnico e Educação à Pró-Reitoria de Ensino Médio, Técnico e Educação à DistânciaDistância Secretaria de Educação a Distância – SEADSecretaria de Educação a Distância – SEAD Eliane de Moura SilvaEliane de Moura Silva Cecília QueirozCecília Queiroz Assessora de EAD Assessora de EAD Coordenador de Coordenador de TecnologiaTecnologia Ítalo Brito VilarimÍtalo Brito Vilarim Projeto GrácoProjeto Gráco Arão de Azevêdo Souza Arão de Azevêdo Souza Revisora de Linguagem em EADRevisora de Linguagem em EAD Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG) Revisão LinguísticaRevisão Linguística Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB) DiagramaçãoDiagramação Arão de Azevêdo Souza Arão de Azevêdo Souza Gabriel GranjaGabriel Granja FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPBFICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAEDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA Rua Baraúnas, 351 - Bodocongó - Bairro Universitário - Rua Baraúnas, 351 - Bodocongó - Bairro Universitário - Campina Grande-PB - CEP 58429-500Campina Grande-PB - CEP 58429-500 Fone/FaxFone/Fax: (83) : (83) 3315-3381 - 3315-3381 - http://eduepb.uepb.eduhttp://eduepb.uepb.edu.br - .br - email: eduepb@uepb.edu.bremail: eduepb@uepb.edu.br 401.9 401.9 M827p M827p Morais, Morais, Francineide.Francineide. Psicolinguística - Licenciatura em letras – Português./ Francineide Morais./Psicolinguística - Licenciatura em letras – Português./ Francineide Morais./ Pró-ReitPró-Reitoria de Ensino Médio, oria de Ensino Médio, Técnico e Educação a Técnico e Educação a Distância.- Campina Grande:Distância.- Campina Grande: EDUEPB, 2013.EDUEPB, 2013. 119 p.: il.: Color.119 p.: il.: Color. 1. Psicolinguística. 2. Signo. 3. Psicologia cognitiva de Piaget. 4. Princípios1. Psicolinguística. 2. Signo. 3. Psicologia cognitiva de Piaget. 4. Princípios psicológicos. I. Título. II. EDUEPB/Coordenadoria Institucional de Programaspsicológicos. I. Título. II. EDUEPB/Coordenadoria Institucional de Programas Especiais.Especiais. 21. ed.CDD21. ed.CDD PsicolinguísticaPsicolinguística Francineide MoraisFrancineide Morais Campina Grande-PBCampina Grande-PB 20132013 Sumário I Unidade O processo simbólico: do signo ao símbolo........................................7 II Unidade O simbolismo linguístico e a formação de conceitos e estruturas. Visão da Psicologia Cognitiva: Piaget.................................................23 III Unidade O simbolismo linguístico e a formação de conceitos e estruturas. Visão da Psicologia Cognitiva: Vygotsky............................................41 IV Unidade O simbolismo linguístico e a formação de conceitos e estruturas. Visão da Linguística Cognitiva: Gerativismo-Chomsky........................63 V Unidade Aquisição da leitura: processo psicolinguístico...................................79 VI Unidade Aquisição da escrita: processo psicolinguístico.................................95 Psicolinguística I SEAD/UEPB 7 I UNIDADE O processo simbólico: do signo ao símbolo 8 SEAD/UEPB I Psicolinguística Apresentação Desde o nosso nascimento, utilizamos a linguagem para nos comunicarmos: o choro, sons desarticulados, o riso, os balbucios, até empregarmos uma linguagem mais definida, constituída de um sistema de signos. Essa linguagem vai se enriquecendo à medida que descobrimos o mundo ao nos- so derredor e apreendemos os signos – linguísticos e não- -linguísticos - que o compõem e que vão se concretizando paulatinamente na nossa vida. Refletir sobre o sistema simbólico que circunscreve a vida humana, a aquisição da linguagem e o desenvolvimento co- municativo e cognitivo, por meio da língua falada e escrita, é, portanto, interesse da Psicolinguística, componente curri- cular que passaremos a estudar. P ara tanto, serão apresentadas algumas ações didáticas para a nossa construção do conhecimento nessa área en- cantadora – o desenvolvimento humano através da lingua- gem. Para iniciarmos, convidamos você a embarcar numa viagem de descobrimentos da simbologia da vida social hu- mana, mas, para que seu desenvolvimento seja satisfatório, você precisa: • Seguir as orientações aqui apresentadas; • Realizar as atividades sugeridas; • Desenvolver sua autoavaliação; • Dirimir dúvidas para não prejudicar a sua compreen- são. Psicolinguística I SEAD/UEPB 9 Seguindo essas orientações, você verá que a nossa via- gem será prazerosa, você descobrirá suas potencialidades e, certamente, entenderá melhor a importância da linguagem para a construção comunicativa e social humana. Então, pronto? Vamos a nossa primeira aula? Discutiremos sobre os signos em nossa vida e os sentidos construídos a partir deles. Estudaremos conceitos, através de textos teóricos e atividades propostas, além de indica- ções textuais para o aprofundamento do conhecimento, tais como livros, sites, filmes, entre outros. Objetivos Ao final desta unidade, esperamos que você: • compreenda o processo simbólico construído pelas comunida- des sócio-linguísticas e sua influência na aquisição da lingua- gem. 10 SEAD/UEPB I Psicolinguística Para começo de conversa... ... vamos situar um pouco a Psicolinguística A Psicolinguística, como ciência da linguagem, estuda os processos psicológicos implicados na aquisição e no uso da l inguagem. Por ser uma área de estudo ainda nova, cujo início é datado do final dos anos 50 do século passado, seu campo epistemológico estava por se construir. No entanto, os estudiosos da língua buscaram emba- samento em duas áreas já constituídas que explicavam a linguagem humana: a Psicologia e a Linguística Isso porque, de um lado, os psicólogos buscavam entender o fun-cionamento da linguagem para compreender a mente humana e, de outro, os linguistas discutiam a relação pensamento-linguagem. Por ser o processo cognitivo humano muito complexo para o enten- dimento da ciência, muitas áreas do conhecimento procuram respostas para a aquisição da linguagem e do desenvolvimento humano, o que leva a Psicolinguística sofrer influências diversas. Na década de 60 passada, ela foi influenciada pela teoria gerativis- ta de Chomsky, que, opondo-se ao behaviorismo de Skinner, defendia o caráter genético, portanto, universais da l inguagem. Nos anos 70, a Psicolinguística amplia sua visão para além da aquisição da linguagem, procurando entender até mesmo a gênese da linguagem, o sujeito de investigação agora passa também a ser o recém-nascido. Em assim sendo, ela passa a recorrer a áreas outras: Etologia, Epistemologia Genética, Psicanálise, só para citar algumas. Já nos anos 1980, a referida área passa pelo chamado cognitivis- mo construtivista, recebendo as contribuições das teorias de Piaget e Vygotsky: o primeiro defende a aquisição como resultado da interação entre ambiente e o organismo, através de assimilações e acomoda- ções, responsáveis pelo desenvolvimento da inteligência, enquanto o segundo compreende a aquisição como resultado da interação social, em que são considerados fatores sociais, comunicativos e culturais. A partir dos anos 90, ampliam-se estudos tanto na perspectiva cog- nitivista quanto na sociointeracionista, enfatizando ainda mais esse en- contro da Psicologia com a Linguística para se explicar o fenômeno da aquisição da linguagem, as experiências do indivíduo ao falar, ao escrever, ao ouvir, ao ler. Apesar de essa área do conhecimento possibilitar focos diversos de estudo, tais como: a produção de enunciados, a interpretação de enun- ciados, a memorização, o plurilinguismo, as patologias da linguagem, e a aquisição da linguagem, é esse último recorte que selecionamos para o nosso estudo. Psicolinguística I SEAD/UEPB 11 Então... prontos para conhecer um pouco esse mundo mágico da linguagem infantil, do mundo simbólico, das construções conceituais, da fala e da escrita... enfim da linguagem e da aprendizagem da criança! Preparando a nossa viagem... Antes de partirmos, vamos dar uma espiadinha na ilustração ao lado? Cite alguns elementos que você vê. Provavelmente você selecionou elementos naturais e articiais. Agora pense: eles são importantes para a nossa vida cotidiana? Por quê? Por exemplo, as placas de sinalização tanto quanto as montanhas são elementos para os personagens se orientarem, não acha? A esses elementos damos o nome de SIGNOS. Vamos dar uma paradinha aqui para entendermos melhor o que é SIGNO? Para Vygotsky (1999): signo é uma marca externa, que auxilia o homem em ta- refas que exigem memória ou atenção. Eles são elementos interpretáveis como representa- ção da realidade, por meio de objetos, eventos, situações, me- diados pela linguagem. Para Bakhtin (2002): signo é um elemento de natu- reza ideológica por natureza. “Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Sem signos não existe ideologia” (p, 31). Para Saussure (2006): o signo linguístico é, uma en- tidade psíquica de duas faces combinadas: o significante (for- ma) – imagem acústica, e o sig- nificado (conteúdo) – conceito, ideia. Em Edward Lopes (2000), en- contramos a concepção de que signos são “suportes exte- riores e materiais da comuni- cação entre as pessoas e, por outro lado, são o meio pelo qual se exprime a relação en- tre o homem e o mundo que o cerca” (p. 16). Fig. 1 Do livro Conte uma história. Seleção de Célia Ruiz Ibáñez e Ilustração de Pilar Campos Fdz-Fígares. 2.ed., São Paulo: Girassol, 2007. Tradução: Mô Cunha. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! 12 SEAD/UEPB I Psicolinguística Ora, vamos pensar um pouco: • se o signo é forma e conteúdo; • se o signo é representação da realidade interpretável pela lin- guagem; • se o signo é ideológico, • se o signo é suporte para a relação entre homem e mundo, • se o signo é cultural e historicamente situado, significa dizer que nenhum signo tem valor absoluto fora da intera- ção social, seu valor é constituído essencialmente no contexto, seja ele o contexto do próprio signo ou o contexto dos interlocutores que o em- pregam como elemento de implementação, reflexão e transformação do ideológico, analisado segundo limites de espaço e tempo. Logo é simbólico, pois depende dos sentidos construídos nas sociedades. Bem, agora estamos falando de dois conceitos: signo e símbolo, mas qual é a diferença entre eles? Podemos dizer que enquanto o signo identifica ou indica algo, o símbolo representa algo, uma ideia, um objeto para representar um outro objeto ou uma outra ideia; De um modo geral, um signo é cons- cientemente apreendido e usado, enquanto um Símbolo é total ou par- cialmente inconsciente, vai sendo apreendido no decorrer da vivência social, cultural e histórica. Vejamos os exemplos abaixo: Marca de um produto - Símbolo denotando o conteúdo, é uma representação apreendida inconscientemente. Sinal de trânsito - signo usado para sugerir ou induzir uma dada reação em quem o percebe, logo uma ação cons- ciente. Letras – signo linguístico usado para representar os sons da língua usada por determinada comunidade linguísti- ca, apreendido conscientemente. Sol - Símbolo cuja representação é apreendida incons- cientemente por uma comunidade linguística conotando luz, calor, brilho, iluminação, alegria. Fica claro, portanto, que independentemente de ser linguagem ver- bal ou não verbal, a linguagem é um signo mediador por excelência Psicolinguística I SEAD/UEPB 13 entre os homens (VYGOTSKY, 1934/2003), pois ela carrega em si os conceitos generalizados e elaborados pela cultura humana, logo muito simbólica. Vejamos esse exemplo: SIGNO = Significante (imagem acústica) + Significado (ideia) SÍMBOLO = uso em interações sociais EX: Ao Leão se renda! O enunciado pode re- meter ao próprio animal; à determinada pessoa, co- nhecida por leão; ao imposto de renda etc. Tudo isso sem deixar de manter, de certa forma, uma relação semântica com a referência original – fera. A partir do exemplo acima, percebemos que, dependo do contexto em que se emprega o enunciado Ao Leão se renda!, a relação signi- ficante/significado recebe sentido específico, construídos histórico-cul- turalmente – o que caracteriza o simbolismo linguístico. Então, vamos entender melhor o sentido de Símbolo? SÍMBOLO – 1. Aquilo que, por princípio de analogia, representa ou substitui alguma coisa. Ex: balança é o símbolo da justiça. (Dicionário Aurélio) SÍMBOLO – 2. designa um elemento representativo que está (rea- lidade visível) em lugar de algo (realidade invisível) que tanto pode ser um objeto como um conceito ou ideia, determinada quantidade ou qualidade. O “símbolo” é um elemento essencial no processo de comunicação, encontrando-se difundido pelo cotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber humano. Embora existam símbolos que são reconhecidos internacionalmente, outros só são compreendidos dentro de um determinado grupo ou contexto (religioso, cultural, etc.). (http:// pt.wikipedia.org. Em12.07.10) SÍMBOLO – 3. são representações mentais que substituem os objetos do mundo real... objetos, eventos, situações. (VYGOTSKY, in OLIVEI- RA,1993, p. 35). Atividade I Para você ampliar o seu conhecimento sobre o signo e o símbolo linguístico, realize as seguintes ações: a) Leia o tópico 1.9, intitulado de O Simbolismo linguístico , presente em Edward Lopes, em Fundamentos da Linguística Contemporânea, p. 41 – 46, ou pelo endereço eletrônico http:// books.google.com.br/books?isbn=8531601746 dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! 14 SEAD/UEPB I Psicolinguística b) A partir do esquema sobre o simbolismo linguístico, apresentado por esse autor, analise se a explicação ali explicitada se refere a signo ou símbolo. Porquê? c) Acredito que esse é um assunto que renderá boa discussão no fórum. Registre sua compreensão no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) – Moodle - e participe das reexões elaboradas pelos colegas. Procure sempre tirar suas dúvidas sobre o conteúdo estudado com o mediador pedagógico a distância através do endereço: <http://ead.uepb.edu.br>. Continuando a nossa conversa... O símbolo, portanto, é sempre mediado pela linguagem, construí- do, retomado, representado nas interações humanas desde a mais ten- ra idade, logo responsável pelo process de aquisição e desenvolvimen- to da linguagem. Basta observarmos nas situações cotidianas eventos do tipo: Situações interativas1 como essas contribuem para que a criança associe sons a objetos, pessoas, ações etc, determinando-os, fato que influencia diretamente nas construções de ideias, conceitos, valores, costumes, enfim tudo que faz parte do mundo social da criança – é assim que ela, naturalmente, vai se apropriando da língua/linguagem e se desenvolvendo biocognitivoafetivosocial. Esse desenvolvimento 1 Todas as imagens foram retiradas de http://www.google.com.br/imagem Psicolinguística I SEAD/UEPB 15 progressivo contribui para que a criança interaja nas mais diversas si- tuações, compreendendo e se fazendo compreender não só pelos sím- bolos linguísticos quanto pelos não linguísticos - os gestos. Vejamos as situações acima: na primeira, a criança expressa os sons “gugu, dada” e tenta reproduzir a expressão fisionômica do adulto; na segunda, a criança já emprega uma estrutura complexa “qué o biquedo!” acompa- nhada de um sentimento interpretável pela sua fisionomia. As situações descritas acima nos levam a entender que as aquisições intelectuais sofisticadas, como a linguagem, requerem representação e abstração da realidade, por isso a criança, desde cedo, começa a per- ceber o valor simbólico dos objetos. Por exemplo, ver-se na fotografia, no espelho, mas já não confunde a foto, que é uma representação, com a própria pessoa; diverte-se, deixando-se levar pelo mundo de fantasias, imitando situações da vida real; interage com as tecnologias até chegar o momento de interagir por meio da escrita convencional. A imitação, a fantasia, a fala, a leitura e a escrita são etapas de um jogo simbólico de uma realidade evocada pelas representações de um objeto ausente ou de simulação funcional. Tudo isso alicerça na crian- ça o desenvolvimento do raciocínio lógico, responsável pela distinção entre o real do imaginário e o real vivido; enfim, o jogo simbólico é o grande ativador das capacidades sócio-cognitivas, as quais possibili- tam a construção do pensamento consciente, de conceitos, de signi- ficados e sentidos, enfim permitem a evolução intelectual da criança. . Observa-se muitas vezes, no jogo, a existência de símbolos dos quais a significação não é compre- endida pelo próprio sujeito... Todo símbolo é, ao mesmo tempo, consciente sob um ângulo e incons- ciente sob outro, dado que todo pensamento, mes- mo o mais racional é também, ao mesmo tempo, consciente e inconsciente. (Piaget, 1978, p. 220). 16 SEAD/UEPB I Psicolinguística Para você compreender melhor... Um pouquinho da teoria de base.... Esse é um fragmento do texto O cotidiano na educação infantil, de Patrícia Corsino, que esclarece a relação intrínseca entre linguagem e as experiências vivenciadas pela comunidade social, o que determina a concepção de símbolo. Leia com atenção e procure relacionar com as explicações expostas anteriormente. (...) Para Bakhtin (1992), a linguagem supõe uma situação de troca social. São sujeitos em interação que produzem enun- ciados concretos que, por sua vez, são determinados pelas condições reais de enunciação – a situação social mais ime- diata, incluindo os gestos, a entoação, vontades, afetos, ditos e não-ditos – e também o horizonte social definido – o con- texto social mais amplo responsável pela criação ideológica de um grupo social, numa determinada época. O enunciado é de natureza constitutivamente social, histórica e, por isso, liga-se a enunciações anteriores e a enunciações posteriores produzindo e fazendo circular discursos (Brait, 2005, p. 68). Vygotsky (1991, 1993) considera a linguagem como o siste- ma simbólico básico de todos os grupos humanos, responsável pela mediação entre o sujeito e o mundo, que exerce um papel fundamental na comunicação entre as pessoas, no pensamento e no estabelecimento de significados compartilhados que per- mitem interpretações dos objetos, eventos e situações. A expe- riência com as formas culturalmente organizadas, ou seja, com os signos fornecidos pela cultura, permite ao sujeito constituir seu sistema de signos, que funciona como um código ou filtro, por meio do qual decifra o mundo. Entretanto, a cultura não é compreendida como algo pronto, estático, ao qual cada sujeito humano se submete, mas como um palco de negociações, no qual os membros da cultura constantemente estão recriando e reinterpretando significados. A vida social é dinâmica e cada sujeito é ativo nela. Mundo cultural e mundo subjetivo intera- gem e reorganizam-se mutuamente no curso desse processo. (...) Observando as crianças pequenas, antes da aquisição da fala, ve- mos o quanto o corpo, as expressões e todo gestual entram em cena na comunicação que estabelecem com o outro. Querendo apro- fundar o assunto, consulte o texto de Cristiane Januario Gonçalves e Débo- ra Andrade Anto- nio, AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS NO COTIDIANO DAS CRIANÇAS. Disponível em: www.periodicos. ufsc.br/index.php/ zeroseis/article/ view/853/760. Psicolinguística I SEAD/UEPB 17 Observando uma brincadeira entre um adulto e um bebê, por exemplo, podemos notar a satisfação da criança através do seu riso e também do movimento vigoroso de suas pernas. É através de choros, sorriso, olhares, movimentos de pegar, de apontar, entre outros, que os pequenos manifestam seus desejos e vontades, satisfações e incômodos, cabendo ao adulto interpretar os gestos mímicos, dando sentido a eles. Os gestos expressivos das crianças, porém, não se dirigem ape- nas ao adulto, mas às outras crianças também. Desde bem pequenas elas se comunicam entre si, se olham, se aproximam, tentam pegar um objeto que está com a outra etc. Estabelecem entre elas uma comu- nicação sem palavras que, dificilmente, nós adultos, estamos atentos para perceber e valorizar. O convívio com crianças de diferentes idades propicia, sobremaneira, as trocas e amplia as possibilidades desta co- municação. Perguntamos, então, como tem sido pensada a ação dos educadores da Educação Infantil de modo a: observar os movimentos expressivos que as crianças manifestam; responder às suas solicitações e favorecer suas manifestações mímico-gestuais e a troca que estabe- lecem com os outros? Vygotsky (1991,1993) discute as inter-relações entre linguagem e gesto, trazendo as primeiras manifestações da criança na busca de ex- pressão de desejos, de sentimentos e de comunicação com o outro, as brincadeiras de faz-de-conta e também a escrita. A movimentação da criança pequena na busca de comunicação é intensa – ela aponta, se dirige até o objeto, chora quando não o alcança, segura e puxa as pessoas quando quer alguma coisa – o gesto é a forma como se dirige ao outro. As brincadeiras, por sua vez, são acompanhadas de gestos e nelas, os objetos perdem sua força determinadora (Vygotsky, 1991, p.110), pois a criança age sobre eles diferentemente daquilo que ela vê, ressignificando-os através de seus gestos, que ganham função de signo. Pelo gesto, transforma os objetos, indicando os novos significa- dos. As atividades simbólicas da criança são repletas de gestos indica- tivos de significado, cumprindo uma função de fala através dos gestos representados (CORSINO, 2006, p. 30,33-34). 18 SEAD/UEPB I Psicolinguística Agora que você começa a entender o processo de aquisição da linguagem pela criança, realize a atividade abaixo: Atividade II Para a realização desta atividade siga as orientações abaixo: 1. Procure, emseu meio social, observar crianças em faixa etária de 06 meses a 3 anos; 2. Escolha uma situação de interação que envolva a fala infantil – podendo ser do tipo: criança/criança; criança/adulto; ou criança/objeto. 3. Descreve a fala da criança; 4.Agora procure compreender o jogo simbólico realizado pela criança e registre suas observações no fórum para troca de experiências com seus colegas. 5. Depois, escolha um outro exemplo interessante, apresentado por um colega, e teça comentários sobre o jogo simbólico envolvido no processo de aquisição da linguagem. Procure sempre tirar suas dúvidas sobre o conteúdo estudado com o mediador pedagógico a distância através do endereço: <http://ead.uepb.edu.br>. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! Psicolinguística I SEAD/UEPB 19 Resumo Antes de iniciarmos propriamente o nosso trabalho sobre a aqui- sição da linguagem, foi necessário retomar conhecimentos que, com certeza, você já dominava: o estudo do signo linguístico e sua rela- ção com a simbologia da língua. Apenas apontamos a relação entre esses conceitos e as práticas sociais a fim de encaminhá-lo(a) para a compreensão de teorias propriamente voltadas para a compreensão da aquisição, assunto do próximo capítulo. Autoavaliação Objetivando explicitar o conhecimento construído nessa unidade, solicitamos que você reita sobre a seguinte questão: O que você considerou mais signicativo nesta unidade? Você considera que a retomada da temática simbolismo linguístico foi importante para você começar entender o processo de aquisição de linguagem da criança? De que modo? dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! 20 SEAD/UEPB I Psicolinguística Leituras recomendadas WOJSLAW, Eliane. Reexões sobre diferentes abordagens do conceito de signo linguístico. Uniletras, Ponta Grossa, v. 32, n. 1, p. 91-105, jan./ jun. 2010. Disponível em: www.revistas2.uepg.br/index.php/uniletras/ article/download/.../1934. Acesso em 22.10.2011. Eliane Wojslaw reflete sobre diferentes conceitos de signo linguístico a partir das teorias do signo de Saussure, de 1916, de Peirce, do final do século XIX e de Bakhtin, do final da década de 20. Ela apresenta um breve histórico dos estudos da linguagem até a proposição da ciência linguística, em 1916, por Saussure, e a mudança do foco dos estudos para os fatos linguísticos.Sendo assim, o entendimento do conceito de signo linguístico é ampliado, já que sai de uma perspectiva estrutural para a de uso social, o que torna a leitura interessante para o alu- no de Letras, visto ser o signo linguístico conceito fundamental para o aprofundamento dos estudos da linguagem e seus diversos campos de estudo. LOPES, Edward. Fundamentos de Linguística Contemporânea. São Paulo: Cultrix, 1999. Este é, sem favor, o mais completo e sistemático manual da Linguís- tica já publicado no Brasil. Nele, seu autor, que é docente dessa dis- ciplina em diversas Faculdades do Estado de São Paulo, pôs o melhor de sua experiência pedagógica e do seu conhecimento da mais cate- gorizada bibliografia de Linguística, Semiologia, Comunicação e áreas correlatas, para oferecer ao estudante um texto introdutório, a um só tempo minucioso, claro e conciso, acerca da ciência do signo verbal. Ao longo das seis partes do volume, cada uma delas dividida em nú- meros subtítulos que orientam a leitura e facilitam a pronta localização de qualquer tópico específico, estuda o Prof. Edward Lopes as bases, os métodos e os conceitos básicos da Linguística moderna. Começa por definir-lhe primeiramente o campo disciplinar e por examinar em por- menor a contribuição capital de Ferdinand Saussure para, em seguida, demorar-se no estudo da Fonética e da Fonologia, da Morfologia, das modalidades da Gramática e da Semântica. Alguns tópicos presentes no livro: Definição de Campo, A Contribuição de Ferdinand Saussure, Fonética e Fonologia, Morfologia, Modalidades de Gramática, Semân- tica. Psicolinguística I SEAD/UEPB 21 SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. Orgazizado por Charles Bally e Albert Sechehaye, com a colaboração de Albert Riedlinger. 27. ed., São Paulo: Editora Cultrix, 2006. Também disponível em: http://pt.scribd.com/doc/40193539/Cur- so-de-Linguistic-A-Geral-Saussure-ferdinand. Acesso em 22.10.2011. Este livro, lançado em 1916, postumamente pelos alunos de Saus- sure, traduz com maestria. as ideias geniais de Ferdinand Saussure sobre a ciência da língua/linguagem, dando surgimento ao estrutu- ralismo linguístico, estudado o signo linguístico a partir de uma rela- ção dicotômica, esclarecendo temas e conceitos conforme os pares: língua x fala; significante x significado; sincronia x diacronia; sintagma x paradigma. Sendo assim, seria interessante um olhar especial sobre o capítulo Semiologia, assunto crucial para o entendimento do signo linguístico como uma entidade do conjunto que forma a linguagem é fundamental. Ainda sobre a semiologia cabe ilustrar a diferença exis- tente entre ela e a linguística. Referências BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e losoa da linguagem. 9a. ed. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1999. CORSINO, Patrícia. O cotidiano na educação infantil. TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO. Boletim 23, Nov. 2006. Diponível em: www. tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/175810Cotidiano.pdf. Acesso em 30.07.2011 LOPES, Edward. Fundamentos de Linguística Contemporânea. São Paulo: Cultrix, 1999. PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1945/1978. SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. Orgazizado por Charles Bally e Albert Sechehaye, com a colaboração de Albert Riedlinger. 27. ed., São Paulo: Editora Cultrix, 2006. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 22 SEAD/UEPB I Psicolinguística Psicolinguística I SEAD/UEPB 23 II UNIDADE O simbolismo linguístico e a formação de conceitos e estruturas Visão da Psicologia Cognitiva: Piaget 24 SEAD/UEPB I Psicolinguística Apresentação Estudar o desenvolvimento cognitivo humano se torna desafiador, haja vista várias perspectivas teóricas investiga- rem o desenvolvimento linguístico da criança, tais quais a: Linguística, Psicologia, Antropologia, Neurociência, entre outras. Apesar das contribuições de cada uma, o olhar es- pecífico sobre o objeto limita as explicações teóricas. Sendo assim, optamos pela articulação de duas áreas do conheci- mento – a Psicologia e a Linguística para estudarmos, nesta iniciaremos unidade, o processo de aquisição de lingua- gem, focalizando o simbolismo linguístico e a construção de conceitos. Discorreremos sobre o papel da linguagem no desenvolvimento cognitivo, sob as perspectivas teóricas interacionistas, conforme Piaget (2007,1967) e Vygotsky (2007,1998); além do enfoque linguístico, segundo o ina- tismo de Chomsky (1983, 1998). Esse recorte teórico nos possibilita interrelacionar os aspectos pensamento/lingua- gem/desenvolvimento e, consequentemente, compreender a capacidade da criança pensar, simbolizar e construir signifi- cado na vida. Embora façamos retomadas dos conhecimentos linguís- ticos estudados no decorrer do curso de Letras, precisamos conhecer aspectos psicológicos e, por isso, convidamos você a viajar pelo mundo interior da criança, observando as elucidações teóricas sobre os processos mentais correla- cionados ao emprego da linguagem. Para facilitar o enten- dimento da exposição didática, estudaremos o simbolismo linguístico e a construção de conceitos em unidades sepa- radas, quais sejam: pontos de vista psicológicos: Unidade II – Piaget; Unidade III – Vygotsky; ponto de vista linguístico: Unidade IV – Chomsky. Para fortalecer o seu entendimento, fique atento(a) às ações didáticas apresentadas, inclusive as indicações tex- tuais para o aprofundamento do conhecimento, tais como livros, sites, filmes, entre outros. Psicolinguística I SEAD/UEPB 25 Objetivos Ao final desta unidade, esperamos que você: • compreenda a perspectiva teóricapiagetiana, considerando a relação pensamento e linguagem, sob o enfoque construtivista do conhecimento, em especial o relativo à aquisição de lingua- gem. • entenda o simbolismo linguístico e a construção de conceitos e de estruturas linguísticas associados ao desenvolvimento inte- lectual da criança; • apreenda os conceitos básicos da teoria piagetiana para expli- car a aquisição de linguagem, tais como: assimilação, equilibração e acomodação; estágios de desenvolvimento. Então, pronto(a)? Vamos continuar a nossa viagem? 26 SEAD/UEPB I Psicolinguística Pegando o bonde .... Antes de iniciarmos as nossas explicações teóricas, sugerimos que você observe bem a sequência composta pelas imagens1 abaixo: Agora relacionando à realidade de uma criança, responda: a) Primeiro, descreva como você entende cada situação interativa; b) Segundo, levante suposição sobre o que contribui para que a criança interaja diferentemente em cada situação; c) Terceiro, explique o emprego da linguagem pela criança em cada situação. Bem, tenho certeza que você percebeu a diversidade de fatores que explica o emprego da linguagem pela criança e alguns podem explicar uma situação, mas não necessariamente outra. Você agora deve estar se perguntando: por que isso acontece? Porque as situações ilustradas retratam a criança em várias fases do seu desenvolvimento infantil, o que implica desenvolvimento biológico, cognitivo, social, afetivo etc. E a linguagem, qual a sua relação com tudo isso? A apropriação da linguagem pela criança é explicada por diferentes enfoques teóricos, dentre os quais selecionamos dois aportes que associam o uso da lin- guagem à: significação, sentido, compreensão, interação; ou seja, que correlacionam linguagem e mente, daí optarmos por um viés psicológico - a Psicologia Cognitiva – e um linguístico - a Linguística Cognitiva. Antes, porém, de enveredarmos pela perspectiva cognitiva, propria- mente dita, achamos que vale a pena deixar uma anotação sobre o posicionamento científico que por muito tempo serviu de paradigma para explicar os fenômenos linguísticos da aquisição da linguagem: o behaviorismo, defendido por Skinner (1957) e seus antecessores. Querendo aprofundar o assunto, consulte o endereço: http://pt.wikipedia.org/wiki/Burrhus_Frederic_Skinner 1 Com exceção das imagens 2ª e 3ª, que foram retiradas de http://images.search. conduit.com.imagens, todas as outras des- sa unidade foram retiradas de http://www. google.com.br/imagens. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! Psicolinguística I SEAD/UEPB 27 O Behaviorismo Baseado nos pressupostos da Psicologia Comportamental, essa corrente teórica desconsidera o fator mente, compreende a aquisição tão somente a fatores externos, já que concebe a criança um ser totalmente passivo, cujo aprendizado é condicionado pelo estímulo-resposta-reforço e memorização. A apren- dizagem da linguagem, portanto, não era compreendida pelo viés do simbolismo linguístico, mas pela internalização de um conjunto de re- gras, via imitação da fala dos adultos pelas crianças, sendo o erro mo- tivo de reforço até a criança aprender a maneira correta de se comu- nicar. Nessa perspectiva, o adulto ocupa um papel crucial no processo de construção comunicativa da criança, de modo a torná-la um falante competente da língua. Os comportamentalistas enfatizam o papel da pessoa que cuida das crianças em modelar as for- mas adultas corretas e em, seletivamente, reforçar (punir e recompensar) as produções imitativas da criança. Através desse processo, a criança, por fim, torna-se um comunicador maduro (KAUFMAN, 1996, p. 68). O behaviorismo, portanto, defende a aquisição da aquisição da linguagem tanto a falada quanto a de significados, como um processo gradual: a criança inicia com a pronúncia de simples sons sem sentido aparente; depois, passa a pronúncia de sílabas; por fim, às palavras e a frases. Como tudo acontece devido ao condicionamento do adulto, os pais assumem papel fundamental – são os reforçadores -, pois desde a fase do balbucio, há duas preocupações básicas: primeiro, estimular a emissão dos sons (para eles, palavras), depois, exigir cada vez mais a pronúncia correta das palavras e de estruturas linguísti- cas. Controlando, dessa forma, o comportamento verbal da criança, o repertório verbal vai se ampliando até a aquisição propriamente dita da língua. Essa corrente, portanto, centrada no ambiente em que se encontra a criança, preocupa-se em esclarecer o comportamento humano através da observação, auferindo a aprendizagem por meio da medição, testagem e controle; desconsiderando, assim, a análise de aspectos da conduta humana como raciocínio, desejos, fantasias, sentimentos, entre outros. Enfim, para o behaviorismo, o comporta- mento humano é o resultado das generalizações que a criança faz ao associar uma coisa a outra - primeiro pelas semelhanças, depois pela experiência, reforço e/ou punição, até conseguir diferenciá-las pelas especificidades. Exemplo: na aquisição da linguagem, a criança tem nas palavras a base para as generalizações; a mãe quando aponta para um cachorro e diz para o(a) filho(a) “au au”, ela está estimulando a criança associar o animal à palavra; depois, a criança generaliza: todos os animais de 28 SEAD/UEPB I Psicolinguística quatro patas é chamado de “au au”; continuando a ser estimulada, a criança vai percebendo especificidades e começa a diferenciar: em determinado momento, distingue gato do cachorro, passa a nomear de “miau” o gato e “au au” para os demais animais, até formar um re- pertório coerente para o conjunto de animais de quatro patas; e assim por diante. A Psicolinguística Após essa explicação, agora iniciaremos nosso estudo sobre a aqui- sição de linguagem, pelo viés da Psicolinguística, centrado nos aspectos cognitivo e social da criança, e, para isso, focaremos nossa atenção em dois grandes expoentes da psicologia interacionista construtivista: Piaget (2007,1967) e Vygotsky (2003, 1999). Ambos, os pesquisado- res, põem em relevo a construção do pensamento consciente para o de- senvolvimento infantil e, logicamente, o linguístico. Assim, em busca de entender como a criança se apropria da linguagem, esses estudiosos focam seus olhares sobre a capacidade do ser humano simbolizar, ela- borar conceitos e estruturas linguísticas bem formadas, e, para tanto, concentram-se na relação pensamento e linguagem. SIMBOLIZAR Definição da palavra pensamento: (Dicionário Aurélio, 2001; p. 525). - Ato ou efeito de pensar; - faculdade de pensar logicamente; - poder de formular conceitos; - o produto do pensamento, ideia; - Mente; - Recordação, lembrança; - Modo de pensar, opinião; - Frase que encerra um conceito moral. Definição da palavra linguagem: http://michaelis.uol.com.br/ moderno/portugue... - Faculdade de expressão audível e articulada do homem, produzida pela ação da língua e dos órgãos vocais adjacentes; fala. - Conjunto de sinais falados (glótica), escritos (gráfica) ou gesticulados (mímica), de que se serve o homem para exprimir suas ideias e sentimentos. - Qualquer meio que sirva para exprimir sensações ou ideias. - Agregado de palavras e métodos de os combinar usados por uma nação, povo ou raça; idioma, língua, dialeto. FORMAR CONCEITOS Psicolinguística I SEAD/UEPB 29 O ato de pensar é constitutivo de linguagem, e pensar com logici- dade, com consciência implica cognição – ato de perceber e compre- ender o mundo bem como saber representar as coisas do mundo quan- do estas estão ausentes no momento da ação. Essa ação representativa requer necessariamente simbolizações, uma das quais a linguagem fa- lada e escrita. Tudo isso leva à construção de conceitos, de significa- do, de sentido, de estruturação linguística; enfim, leva à construção do pensamento consciente. Piaget e Vygotsky tomam a relação pensamento e linguagem fator determinante para o desenvolvimento cognitivo e social da criança, no entanto esses autores constroem seus pontos de vista de formacontrá- ria: Piaget compreende o desenvolvimento responsável pela aprendiza- gem, enquanto Vygotsky defende ser a aprendizagem fator determinan- te para o desenvolvimento. Então, vamos ver como isso acontece? Comecemos por Piaget.... Piaget: função simbólica e formação de conceitos e estrutura Vamos compreender as reflexões teóricas de Piaget a partir da obser- vação da situação ao lado: as crian- ças constroem um castelo de areia na praia, mas como elas conseguem simbolizar? Piaget explica que a capacidade de simbolizar está diretamente as- sociada à capacidade de representar, que, por sua vez, é decorrente do desenvolvimento da inteligência, e este último mantém uma relação intrínseca com o desenvolvimento biológico - crescimento orgânico e a maturidade dos órgãos: fonador, cerebrais etc. Isto quer dizer que a criança se desenvolve cognitivamente, de modo gradual e hieráquico, por estágios subsequentes que favorecerão a construção do pensamen- to consciente. Assim, a criança começa com o estágio mais elementar, sensorial, comunicando por meio de gestos, imagens mentais, imita- ção, até chegar ao auge do desenvolvimento da inteligência, correspon- dendo ao nível do pensamento hipotético-dedutivo, em que ela já atua com resolução de problemas por combinação mental de ações e/ou palavras. Portanto, o desenvolvimento da função simbólica - por meio da qual um significante (ou um sinal) pode representar um objeto significa- do, permitindo representação, que, por sua vez, por meio da experiên- cia é armazenada e recuperada – são os chamados esquemas. Esquemas – são estruturas mentais com que os indivíduos intelectualmente se adaptam e organi- zam o ambiente. 30 SEAD/UEPB I Psicolinguística Agora, voltando ao nosso exemplo: Nessa situação, as crianças já apresentam conhecimento neces- sário do seu meio para construir abstrações e representá-las. Quando elas constroem um “castelo na areia”, já conseguem processar esque- mas cognitivos de tal forma que mantém uma relação simbólica co- erente entre o mundo real e um mundo ficcional. Caso elas tivessem menos maturidade orgânica e mental seu comportamento seria outro; por exemplo, uma criança com 18 meses pegaria na pazinha e poderia jogar a terra sem muita coordenação motora e sem nenhuma repre- sentação, seria apenas uma ação funcional, sem relação lógica com o pensamento; a sua capacidade de simbolizar ainda está por iniciar. Então, o esquema simbólico se processa assim: Desenvolvimento cognitivo + desenvolvimento orgânico-mental-sensorial Desenvolvimento da capacidade de representar Desenvolvimento da capacidade de simbolizar Continuando... Para Piaget, a linguagem é entendida como um sistema simbólico de representações, logo a sua aquisição e desenvolvimento decorre da capacidade de a criança adotar símbolos, esta última sendo depende do desenvolvimento da inteligência da criança, com a união dos fa- tores: conquista cognitivista e a inteligência sensória e motora. Sendo assim, a aquisição depende da interação Sujeito e Ambiente. Vejamos: Para Piaget, o sujeito constrói estruturas com base na experiência com o mundo físico, ao interagir e ao reagir biologicamente a ele, no momento dessa interação com o meio, com o espaço, com o tempo etc. Nesse desenvolvimento intelectual, a criança vive um contínuo pro- cesso construção e reconstrução das sequências de ações mentais que possibilitam apreender o ambiente físico e social. Isso quer dizer que a aprendizagem acontece do individual para o coletivo, dependendo do processo de maturação biológica do sujeito; nesse processo, ele passa por três etapas: assimilação, acomodação e equilibração, esta úl- tima relacionada a três fatores clássicos: ao que é inato, hereditário; Para aprofundar o assunto, veja o tex- to A Construção do Real na Criança: a função dos jogos e das brincadeiras, de ZAIA, Lia Leme. em Diponível Volume I nº 1 – Jan/Jun, 2008 74. http://www. marilia.unesp.br/scheme. Psicolinguística I SEAD/UEPB 31 às influências do ambiente físico, à experiência externa; aos efeitos de influências sociais. Assimilação – o processo cognitivo que consiste em encaixar um novo objeto num esquema mental ou sensório-metor já existente. Acomodação – é o aspecto da atividade cognitiva que envolve a mo- dificação dos esquemas para corresponderem aos objetos da realida- de. Equilibração – é um processo cognitivo que determina o trânsito as- similação acomodação; i.e., é um processo de resolução de um conflito. Observemos as ilustrações abaixo: A ilustração acima representa o processo de aquisição da lingua- gem, resultado do desenvolvimento da inteligência da criança, faculta- do este pela interação entre ambiente e organismo; decorrendo daí a fala articulada e o pensamento consciente. Por isso que Piaget ressalta o aparecimento da função simbólica da criança por volta dos dois anos de idade através de uma ação preponderantemente individual; quer dizer: a criança utiliza um objeto querendo significar outro objeto, um ser – a palavra “au, au”, por exemplo, é usada para qualquer animal com quatro patas que lembre o cachorro – nessa situação, a criança realiza uma transposição simbólica de caráter individual e provisório. Quando ela reconhece que o ser “cachorro” é representado pela lin- guagem “au, au” e o “gato” por “miau” etc, ela utiliza um signo; quer dizer: a criança assimila uma construção fixada social e coletivamente. A função simbólica, portanto, é constituída de dois períodos: o pré- -simbólico e o simbólico propriamente dito. a) Período pré-simbólico – do nascimento aos 2 anos de idade - a fun- ção simbólica é criada pela própria criança, por meio do mecanismo da “imitação”, uma representação em ato material (concreto) e não em pensamento (abstrato). É um estágio pelo qual a criança passa, cuja inteligência trabalha através de percepções (símbolos) e das ações (mo- tor), é uma inteligência eminentemente prática. A linguagem começa com balbucio até a aquisição de fonema, sílabas, pequenas palavras 32 SEAD/UEPB I Psicolinguística não necessariamente bem formadas e a significação é genérica – lin- guisticamente, é um período de construção mais fonética. Exemplos: a generalização de determinadas ações ou seres, no mo- mento da assimilação: ‘au,au” para animais; “gagau” para comida, “mama” para pessoas. b) Período simbólico - dos 2 (dois) anos aos 4 (quatro)2 anos, aproxi- madamente – a função simbólica permite o surgimento da linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização etc. Aqui a criança já cria imagens mentais, tanto do objeto quanto da ação ausentes. É um perí- odo de fantasias, do faz de conta, do jogo simbólico. A imitação agora já tem representações mais conscientes, o pensamento já começa a elaborar o mundo virtual no mundo real, a inteligência abstrata co- meça a ser construída. A linguagem já está mais formada, a criança emprega a nominalização dos seres animados e inanimados: desen- volvimento de palavras não-complexas, sintaxe, segue determinadas regras regulares da linguagem, principalmente os verbos e emprega conceitos com significação e sentido adequados – linguisticamente, é um período de construção, além da fonética, morfológica, sintática e principalmente semântica. Exemplos: as representações dos signos: as brincadeiras (casinha, escolinha), a personficação de personagens de filmes, historinhas, são apenas algumas dessas representações simbólicas; essa fase vai cada vez mais se aperfeiçoando até o grau máximo de complexidade sim- bólica, quando as crianças se apropriam da língua, desenvolvendo as habilidades de leitura e escrita. A transição da função pré-simbólica (pré- -linguagem) para simbólica (linguagem) exige num conjunto de atividades sensório-motoras, cognitivas e desenvolvimento da inteligência para construir sentidos. As coisas do mundo são primeiramente objeto da percepção, para serem, depois, imagens, sinais, símbolos, palavras, frases, linguagem. É nesse jogo que a criança faz a passagem da imagem sensível à imagem mentale em que investe grande parte da sua energia. Ela comunica-se ainda em grande média em esquemas de ação de representação fi- gurativa e não propriamente em esquemas opera- tórios (PIAGET, 1974, p. 241). Portanto, nesse processo de desenvolvimento cognitivo, a criança vai passando por estágios - universais gerais e invariáveis – que são capacidades necessárias para fomentar mudanças fundamentais para 2 Apesar de Piaget determinar esses limites na faixa etária infantil, elas podem sofrer diferenciações. Para aprofundar esse conteúdo, leia o texto O desenvolvimento cognitivo no processo de aquisição de linguagem, de Fernanda Dias. Revista Letrônica v. 3, n. 2, p. 107-119, dez./2010. Disponível em revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/ index.php/letronica/article/... Acesso em 18.02.2013. Psicolinguística I SEAD/UEPB 33 o desenvolvimento e aprendizagem infantil. São os estágios: sensório- -motor, pré-operatório, operações concretas e operações formais. a) o sensório–motor – vai do nascimento até os 02 (dois anos) – é um período anterior à linguagem, chamado de pré-verbal ou pré- -linguístico, no qual o bebê desenvolve a percepção de si mesmo e dos objetos a sua volta. Nessa fase, o bebê desenvolve formas de inteligência, exteriorizadas por meio dos reflexos inatos: sucção, movimentos dos membros, dos olhos etc; por meio dos sentidos: visão, audição, tato, olfato, paladar. Esses reflexos dão origem a esquemas conceituais: modos de pensar e de agir, internalizados e responsáveis pela transformação, construção e organização de atividades no e sobre o meio – o que implica desenvolvimento cog- nitivo e da inteligência. Exemplo: Os movimentos das mãos passam a ter coordenação com os movimentos dos olhos: olha para o que ouve, tenta alcançar objetos e agarra-os, leva-os à boca e chupa-os. b) Pré-operatório - vai dos 2 (dois) aos 6-7 (seis-sete) anos – nesse período, surge a capacidade de dominar a linguagem oral e de representar o mundo por meio de símbolos (imagens ou palavras) e desejos. A criança começa a desenvolver a sua inteligência prática e manipulativa, passando pela inteligência intuitiva, até chegar a inteligência representacional, função simbólica propriamente dita, momento em que a criança começa a usar substitutos simbólicos que podem corresponder a objetos, gestos e palavras. Exemplo: aos dois anos, a criança já especifica a figura ao nome dos parênteses mais próximos: pais, avós, irmãos; além de amiguinhos, objetos, lugares. Também elabora construções linguísticas que vão do nome a estruturas simples: “ága”, “qué ága”, “nenê qué ága” (a criança ainda não usa o pronome pessoal – eu). A partir daí, a criança só tende a se apropriar da língua e usá-la coerentemente nas várias situações. Apesar de já simbolizar, nesse estágio, a criança apresenta uma peculiaridade muito importante: uso egocêntrico e social da linguagem. No egocentrismo, o pensamento não dirigido a um interlocutor, mas a si mesmo; de modo geral, aos 4-5 anos. A criança ignora o ponto de vista do outro porque não tem intenção de se comunicar, por isso não espera por respostas e sequer se preocupa se alguém a escu- ta. A característica maior do discurso egocêntrico é a inconsciência: a criança pensa em voz alta, mantendo uma conversa simultânea entre ela e com aquilo que está fazendo, sem dar conta do mundo ao redor. Também é a fase dos “quês” e “por quês”; “O que é isso?” “Por que a menina tá chorando?” 34 SEAD/UEPB I Psicolinguística Exemplo: Numa situação em que a criança está brincando com lápis colorido; procura um vermelho: “cadê o ápis?”, depois pega um azul e resolve o problema. No uso social, a criança, no início, estabelece uma comunicação com o outro quase sempre em situações imperativas: manda, grita, ameaça e pergunta etc; ela faz isso conscientemente, a fim de fazer com que o outro faça as suas vontades, resolva os seus conflitos. Retomando o exemplo anterior, teríamos: Exemplo: a criança procura o lápis vermelho e apresenta a seguin- te reação: “cadê o ápis?”; Pocura! A mãe tenta o azul, ela responde: “esse não ... é o mermelho!! Esse não é mermelho”. Depois que resolve esse problema, pode até voltar a uma outra situação de egocentrismo: “o mermelho, não... é esse vede...” Como fica claro, a criança vai oscilando entre uma situação ego- cêntrica e social, até chegar a um outro fase em que a linguagem sai da concretização, passando à abstração, constituída essencialmente da função simbólica. Vale salientar que o discurso egocêntrico é, para Pia- get, é reflexo do pensamento interior da criança; ou seja, ao empregar um discurso, seja egocêntrico ou social, a criança apresenta uma estru- tura cognitiva (pensamento) que é exteriorizada conforme a sua lógica, conforme a sua compreensão. Isso quer dizer que a organização do pensamento interior permite a elaboração de determinadas estruturas linguísticas – fonéticas, morfológicas, sintáticas e semânticas - as quais são externadas segundo a maturação orgânica da criança. Pensamento interior (Processo de interiorização) Pensamento egocêntrico Pensamento Social Linguagem (discurso) egocêntrica Linguagem (discurso) social Resumindo... A perspectiva de Piaget é de base construtivista, a criança não rece- be, não é condicionada, pelo contrário, há uma evolução biofisiológica e cognitiva que possibilita o desenvolvimento da inteligência: inteligên- cia pré-verbal (no estágio sensório-motor) e a inteligência verbal (no estágio pré-operatório) – a linguagem simbolizada, com função social. A linguagem nasce da interiorização dos esquemas sensórios-motores produzidos pela experimentação ativa e contínua de novas estruturas, Psicolinguística I SEAD/UEPB 35 essas últimas possibilitadas por meio da interação criança e o meio (objeto). Portanto Piaget entende que a linguagem é decorrente do de- senvolvimento humano, e ela acontece por etapas porque o desenvol- vimento também evolui de forma paulatina. Agora que você já está entendo como Piaget entende a aqusição da linguagem, pense melhor e realize a atividade abaixo. Atividade I Observe a situação ao lado; ela retrata uma criança, no estágio pré-operatório, brincando com um formas geométricas, as quais devem ser colocadas num espaço vazado no recipiente. Agora responda: a) Qual a importância dessa atividade para o desenvolvimento infantil e, consequentemente, para a aquisição de linguagem? b) Imagine a criança jogando com esse brinquedinho, como seria o desenvolvimento cognitivo infantil? Para responder a essa questão, descreva como acontecem as etapas de assimilação, acomodação e equilibração, na criança, ao manusear as peças do brinquedo. (lembre- se de que ela pode tentar mais de uma vez para acertar). c) Dê exemplo de possível elaboração linguística que a criança poderia construir, ao desenvolver essa atividade. d) Essa é uma atividade que pode ser explorada de diferentes formas, por isso é interessante a sua postagem no fórum. e) Escolha uma resposta de um colega, leia e analise; depois interaja, deixe um comentário para ele. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! 36 SEAD/UEPB I Psicolinguística Continuando... c) Estágio das operações concretas - dos 7 (sete) aos 11-12 (onze- -doze) anos – nessa fase a criança amplia seu campo social, sai do grupo familiar para o de amigos (da escola, do clube etc); a noção de reversibilidade das ações possibilita o pensamento crítico, a criança passa a elaborar processos mentais lógicos, permitindo-lhe discriminar os objetos por semelhança e diferença; construir conceitos de tem- po, espaço, linguagem matemática – compreender regras de jogos; e, como nessa fase o egocentrismo vai diminuindo, a criança também aceita pensamentos e sentimentos diferentes dos seus. Vejamos o exemplo ao lado: Aqui os personagens reproduzem uma situação comunicativa, cujo jogo simbólico é realizado me- diante a linguagem da in- ternet, exigindo inquieta- ções mentais, mas as trocas com o grupo de amigos permitem a compreensão e a construçãode novos es- quemas. Atividade II Observe atentamente a gura ao lado e explique como a situação ilustrada representa o estágio das operações concretas. Colabore com as reexões sobre o assunto estudado postando sua compreensão no fórum. d) Estágio das operações formais – por volta dos 12 (doze) anos – Em termos cognitivos, essa fase sinaliza a entrada na idade adulta. A criança/adolescente passa a construir pensamento lógico e dedutivo, o que implica operações mentais com padrão de maturidade intelectual, tais como: relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses, dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! Psicolinguística I SEAD/UEPB 37 utilizando, para tanto, a linguagem plenamente simbolizada, com fins comunicativos. Vejamos a tirinha acima, o personagem Mônica, pode aqui repre- sentar uma criança no estágio das operações concretas: ela usa da abstração, elabora pensamento lógico, ao compreender que se chove a terra fica molhada; diferenciando ainda o estado seco do molha- do, pensamento esse refletido no emprego da estrutura bem formada morfossintática e semanticamente: “Hoje não preciso regar minha flor- zinha”. Atividade III Assista ao vídeo sobre Testes de aquisição da linguagem e respectivos comentários, presente no endereço http://www.youtube.com/ watch?v=TgRkWWdr1Rk. a) Depois de observar bem as orientações e comentários apresentados, destaque trechos que você achou interessante, elabore reexões sobre a aquisição de linguagem. b) Este é um material muito interessante para construir reexões sobre o simbolismo, formação de conceitos e estruturas. Portanto, poste sua avaliação no fórum e procure interagir com os colegas, comentando as ponderações postadas. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! 3838 SEAD/UEPB I PsicolinguísticaSEAD/UEPB I Psicolinguística ResumoResumo Esta unidade procurou apresentar o processo de aquisição de lin-Esta unidade procurou apresentar o processo de aquisição de lin- guagem subordinado ao desenvolvimento intelectual da criança. Porguagem subordinado ao desenvolvimento intelectual da criança. Por meio do construtivismo piagetiano, entendemos que o aparecimentomeio do construtivismo piagetiano, entendemos que o aparecimento do simbolismo, a construção de do simbolismo, a construção de conceitos e estruturas linguísticas pro-conceitos e estruturas linguísticas pro- cedem da interiorização dos esquemas sensórios-motores construídoscedem da interiorização dos esquemas sensórios-motores construídos mediante as experiências vivenciadas pela criança. Esse desenvolvi-mediante as experiências vivenciadas pela criança. Esse desenvolvi- mento acontece em etapas contínuas e subsequentes, acompanhadasmento acontece em etapas contínuas e subsequentes, acompanhadas pelo processo de assimilação, equilibração e adaptação, decorrentespelo processo de assimilação, equilibração e adaptação, decorrentes da interação entre a criança e o meio. Concluímos, assim, que a apren-da interação entre a criança e o meio. Concluímos, assim, que a apren- dizagem é um produto do desenvolvimento cognitivo, ou seja:dizagem é um produto do desenvolvimento cognitivo, ou seja: •• O pensamento antecede o surgimento da O pensamento antecede o surgimento da linguagem;linguagem; •• A linguagem é produto d A linguagem é produto do desenvolvimento meno desenvolvimento mental;tal; •• A formaçã A formação de o de conceitos pconceitos precede à recede à formação dformação de palave palavras, vistoras, visto um significado achar-se sempre preso a uma um significado achar-se sempre preso a uma palavra;palavra; •• A linguagem A linguagem é a é a externalizaçãexternalização do o do pensamento em sua pensamento em sua formaforma verbal.verbal. Autoavaliação Autoavaliação Os pressupostos do construtivismo piagetiano são de grande contribuiçãoOs pressupostos do construtivismo piagetiano são de grande contribuição para a educação infantil, tanto que o Referencial curricular para educaçãopara a educação infantil, tanto que o Referencial curricular para educação infantil – RCNEI – documento fundamental para se compreender a educaçãoinfantil – RCNEI – documento fundamental para se compreender a educação da criança na fase inicial, apresenta em muitos pontos orientações educativasda criança na fase inicial, apresenta em muitos pontos orientações educativas baseadas em Piaget; além disso, é uma teoria com ns aplicativos no cotidianobaseadas em Piaget; além disso, é uma teoria com ns aplicativos no cotidiano escolar. Para conrmar a importância dessa teoria e possibilitar sua própriaescolar. Para conrmar a importância dessa teoria e possibilitar sua própria aprendizagem desta unidade, solicitamos a seguinte aprendizagem desta unidade, solicitamos a seguinte atividade:atividade: a) a) retire pelo retire pelo menos duas menos duas passagens do passagens do RCNEI, que RCNEI, que estejam correlacionadas aosestejam correlacionadas aos pressupostos piagetianos e explique em que ponto elas se orientam porpressupostos piagetianos e explique em que ponto elas se orientam por Piaget.Piaget. b) b) apresente uma apresente uma atividade escolar atividade escolar referente à referente à educação infantil educação infantil relativarelativa à aquisição de linguagem e mostre a correlação com o construtivismoà aquisição de linguagem e mostre a correlação com o construtivismo piagetiano.piagetiano. dica.dica. utilize o blocoutilize o bloco de anotações parade anotações para responder as atividades!responder as atividades! O RCNEI é um documento em três volu-O RCNEI é um documento em três volu- mes e está disponível em portal.mec.mes e está disponível em portal.mec. gov.br/seb/arquivos/pdf/gov.br/seb/arquivos/pdf/ Psicolinguística Psicolinguística I I SEAD/UEPBSEAD/UEPB 3939 c) Essa é uma atividade bastante signicativa, que pode cooperar com ac) Essa é uma atividade bastante signicativa, que pode cooperar com a construção do conhecimento por meio da trocas. Sendo assim, dê suaconstrução do conhecimento por meio da trocas. Sendo assim, dê sua contribuição, postando sua atividade no fórum de contribuição, postando sua atividade no fórum de discussão.discussão. Leituras recomendasLeituras recomendas PIAGETPIAGET, J, Jean.ean. A Formação do Símbolo na Criança. Imitação, Jogo e sonho. A Formação do Símbolo na Criança. Imitação, Jogo e sonho. Imagem e representação.Imagem e representação. Imitação Rio de Janeiro: Livros Téc. e Cient. Imitação Rio de Janeiro: Livros Téc. e Cient. Editora, 1990.Editora, 1990. Um livro de Um livro de central significação na obra psicológica de Jean Piaget:central significação na obra psicológica de Jean Piaget: aqui, como em aqui, como em nenhum outro lugarnenhum outro lugar, a comunicação infantil , a comunicação infantil é estudadaé estudada em paridade com as suas grandes realidades espontâneas; os dadosem paridade com as suas grandes realidades espontâneas; os dados da afirmação da personalidade infantil se liberam de todas as peias eda afirmação da personalidade infantil se liberam de todas as peias e caminham livremente em busca de satisfação e sentido. A imaginaçãocaminham livremente em busca de satisfação e sentido. A imaginação é o reino próprio da infância - seu universo está povoado de umaé o reino próprio da infância - seu universo está povoado de uma liberdade que o adulto rotula para poder compreendê-lo, mas que,liberdade que o adulto rotula para poder compreendê-lo, mas que, na verdade, tem um sentido biológico de equilíbrio vital. A gênese dona verdade, tem um sentido biológico de equilíbrio vital. A gênese do universo infantil está muito próxima ao mistério das coisas vivas - masuniverso infantil está muito próxima ao mistério das coisas vivas - mas o seu mecanismo, tal como o estuda e o analisa Piaget, é uma daso seu mecanismo, tal como o estuda e o analisa Piaget, é uma das fontes mais profundas e mais convincentes das qualidades e defeitosfontes mais profundas e mais convincentes das qualidadese defeitos que, mais tarde, explodem no mundo dos que, mais tarde, explodem no mundo dos adultos. Piaget não se satisfazadultos. Piaget não se satisfaz com as explicações cumulativas ou mecânicas, tão-somente: o podercom as explicações cumulativas ou mecânicas, tão-somente: o poder de simbolizar, que é das faculdades mais notáveis do homem, na crian-de simbolizar, que é das faculdades mais notáveis do homem, na crian- ça tem função transitória. Sua formação é o ça tem função transitória. Sua formação é o objetivo deste livro que, àobjetivo deste livro que, à medida que desdobra as suas medida que desdobra as suas intuições e constatações, amplia-se paraintuições e constatações, amplia-se para uma dimensão de obra única e uma dimensão de obra única e insubstituível.insubstituível. SEBER, Maria da Glória .SEBER, Maria da Glória . Piaget: O Diálogo com a Criança e oPiaget: O Diálogo com a Criança e o Desenvolvimento do RaciocínioDesenvolvimento do Raciocínio – 1. ed., São – 1. ed., São Paulo: Scipione, 1997.Paulo: Scipione, 1997. Coleção PensamentColeção Pensamento e o e Ação no Ação no Magistério.Magistério. As pesquisas As pesquisas e e reflexões de reflexões de Piaget revolucionaram Piaget revolucionaram o o que que se se sabiasabia sobre educação, notadamente nas áreas da psicologia evolutiva e dosobre educação, notadamente nas áreas da psicologia evolutiva e do processo de aquisição de conhecimento. A processo de aquisição de conhecimento. A autora explica as idéias pia-autora explica as idéias pia- gentianas do ponto de vista de alguém que as utilizou gentianas do ponto de vista de alguém que as utilizou na prática. Nãona prática. Não se trata de um resumo se trata de um resumo de sua obra. O que conta de sua obra. O que conta aqui é a experiência:aqui é a experiência: como os alunos evoluem, aprendem, reagem ou se relacionam com ocomo os alunos evoluem, aprendem, reagem ou se relacionam com o professor, considerando o dia-a-dia da escola brasileira. Você vai verprofessor, considerando o dia-a-dia da escola brasileira. Você vai ver neste livro: Quem foi Jean Piaget A explicação biológica da aquisiçãoneste livro: Quem foi Jean Piaget A explicação biológica da aquisição do conhecimento Como entender o Raciocínio da do conhecimento Como entender o Raciocínio da Criança As contribui-Criança As contribui- ções mútuas entre a Criança e o ções mútuas entre a Criança e o seu mundo Os fatores que interferemseu mundo Os fatores que interferem no Desenvolvimento intelectual Desenvolvimento das estruturas cogni-no Desenvolvimento intelectual Desenvolvimento das estruturas cogni- tivas e tivas e aprendizageaprendizagemm 4040 SEAD/UEPB I PsicolinguísticaSEAD/UEPB I Psicolinguística Para aprofundar o conhecimento sobre a Teoria de Piaget, acesse, são bastantePara aprofundar o conhecimento sobre a Teoria de Piaget, acesse, são bastante elucidativos:elucidativos: http://www.youtube.com/watch?v=8UYz8cTBfgg http://www.youtube.com/watch?v=8UYz8cTBfgg – parte 1 de 4 – de- – parte 1 de 4 – de- finição de termos – desenvolvimento da inteligência e genética do co-finição de termos – desenvolvimento da inteligência e genética do co- nhecimento.nhecimento. http://www.youtube.com/watch?v=TxtcBXOz8ZUhttp://www.youtube.com/watch?v=TxtcBXOz8ZU - parte 2 de 4 – fase - parte 2 de 4 – fase sensório-motor – inteligência prática - açãosensório-motor – inteligência prática - ação http://www.youtube.com/watch?v=h3EzpmEK6yUhttp://www.youtube.com/watch?v=h3EzpmEK6yU – parte 3 de 4 – es- – parte 3 de 4 – es- tágio pré-operatória – não organização lógica do pensamento, semtágio pré-operatória – não organização lógica do pensamento, sem reversibilidadreversibilidade e operatório – pensamento lógico – e e operatório – pensamento lógico – concreto e formal.concreto e formal. http://www.youtube.com/watch?v=13qkS1TITbIhttp://www.youtube.com/watch?v=13qkS1TITbI - parte 4 de 4 – Piaget - parte 4 de 4 – Piaget e a pedagogia; reflexão sobre Piaget hoje; e indicação de leitura.e a pedagogia; reflexão sobre Piaget hoje; e indicação de leitura. ReferênciasReferências BRASIL/Ministério da Educação e do BRASIL/Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria deDesporto. Secretaria de Educação Educação FundamentFundamental.al. Referencial curricular nacional para a EducaçãoReferencial curricular nacional para a Educação Infantil.Infantil. Brasília: MEC/ SEF, 1998. Brasília: MEC/ SEF, 1998. OLIVEIRA MK.OLIVEIRA MK. Vygotsky e o processo Vygotsky e o processo de formação de conceitos.de formação de conceitos. In: In: LA TAILLE Y. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas emLA TAILLE Y. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.discussão. São Paulo: Summus, 1992. PIAGET, J.PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação.imagem e representação. Rio de Janeiro: São Rio de Janeiro: São Paulo: 1990, PPaulo: 1990, Psicologia esicologia e pedagogia.pedagogia. ____.____. O pensamento e a linguagem na criança.O pensamento e a linguagem na criança. São Paulo: Martins Fontes, São Paulo: Martins Fontes, 1999.1999. SEBER, Maria da Glória .SEBER, Maria da Glória . Piaget: O Diálogo com a Criança e o Piaget: O Diálogo com a Criança e o Desenvolvimento do RaciocínioDesenvolvimento do Raciocínio – 1. – 1. ed., São Paulo: Scipione, 1997.ed., São Paulo: Scipione, 1997. Coleção Pensamento e Ação no Magistério.Coleção Pensamento e Ação no Magistério. Psicolinguística I SEAD/UEPB 41 III UNIDADE O simbolismo linguístico e a formação de conceitos e estruturas Visão da Psicologia Cognitiva: Vygotsky 42 SEAD/UEPB I Psicolinguística Apresentação Nesta unidade continuaremos o estudo da aquisição de linguagem sob a perspectiva da psicologia cognitiva, foca- lizando, agora, um outro ícone do desenvolvimento huma- no – VYGOTSKY. É preciso, antes, esclarecer que estudar Vygotsky em apenas uma unidade é impossível dada à am- plitude e profundidade dos seus estudos, sendo assim nos limitaremos em compreender o processo de aquisição da linguagem por meio da relação pensamento, linguagem e aprendizagem infantil. Vygotsky apresenta um estudo inovador ao trazer, entre tantos outros conceitos, a noção de sujeito social, de in- teração mediada pela linguagem, de construção simbólica pelo processo histórico-cultural; ou seja, sem desconsiderar o aparato biológico da espécie humana para o desenvol- vimento da linguagem, esse autor põe em relevo as práti- cas vivenciadas pela criança como fator crucial para o seu desenvolvimento cognitivo. É nas interações que a criança constrói representações sobre o mundo; por meio das me- diações, principalmente com o emprego da linguagem, a criança se apropria do conhecimento, passando, para tanto, pelo processo de internalização, transformação e externali- zação das ideias, fatos, conceitos etc. É esse processo que denomina os estudos vygotskianos de sociointeracionista. Então, vamos ver como Vygotsky compreende a capaci- dade da criança pensar, simbolizar e construir significado na vida? Mas fique atento! Não se esqueça de acompanhar às ações didáticas apresentadas, inclusive as indicações tex- tuais para o aprofundamento do conhecimento, tais como livros, sites, filmes, entre outros. Elas são muito importantes para assimilarmos coerentemente os objetivos dessa unida- de. Psicolinguística I SEAD/UEPB 43 Objetivos Ao final desta unidade, esperamos que você: • compreenda a perspectiva teórica vygotskiana, considerando a relação pensamento e linguagem, sob o enfoque sociointera- cionista do conhecimento e, em especial, o relativo à aquisição de linguagem. • entenda o simbolismo linguístico e a construção de conceitos e de estruturas linguísticas associados ao desenvolvimento inte- lectual da criança; • apreenda relações conceituais básicas da teoria vygotskiana para explicar a aquisição de linguagem, tais como: mediação simbólica, processo de internalizaçãoe cons- tituição do pensamento consciente; pensamento e linguagem; desenvolvimento e aprendizado E aí, vamos continuar a nossa viagem? 44 SEAD/UEPB I Psicolinguística Situando a teoria de Vygostky... Para iniciar, vamos observar as duas ilustrações abaixo: Ambas as ilustrações são representações da vida social, na qual pessoas desenvolvem práticas cotidianas que permitem o entendimento coletivo, por meio de normas, costumes e valores, inerentes a cada so- ciedade, no decorrer do seu processo histórico. Essas práticas são de- senvolvidas com o emprego de instrumentos que variam, transformam- -se ao longo do desenvolvimento do indivíduo, conforme o progresso de cada povo: (Fig. 1) sociedade primitiva - paus, pedras, couro; (Fig.2) sociedade industrializada - carros, casas, edificações. São objetos so- ciais cuja função e modos de utilização foram desenvolvidos para o trabalho coletivo, para organização social, de forma que são instrumen- tos físicos mediadores da relação entre o indivíduo e o mundo; “são elementos externos ao indivíduo, voltados para fora dele; sua função é provocar mudanças nos objetos, controlar processos da natureza” (OLIVEIRA, 2010, p. 30). Mas o instrumento físico, por si só, não responde pela compreen- são, harmonização e organização social, para isso o homem, diferen- temente do animal, emprega outro instrumento – o signo linguístico. Por meio dele, o indivíduo é capaz de lembrar, comparar coisas, relatar, escolher etc, o que leva Vygotsky a concebê-lo como instrumento psico- lógicos, pois orientam “para o próprio sujeito, para dentro do indivíduo; dirigem-se ao controle de ações psicológicas, seja do próprio indiví- duo, seja de outras pessoas” (Idem, idem). Enfim, relacionando as figuras acima, compreendemos que as ações mentais dos sujeitos da sociedade industrializada são mais com- plexas que os da primitiva, pois se são capazes de elaborar instru- mentos concretos mais sofisticados é porque conseguiram apreender o mundo objetivo e transformá-lo para suprir suas necessidades; e, na Psicolinguística I SEAD/UEPB 45 medida em que são capazes de aprender novas formas de intervir no mundo físico, transformando-o em instrumentos, eles também desen- volvem capacidades psicológicas para compreenderem mais e mais o seu meio, mas isso só é possível devido ao emprego da linguagem, que possibilita construir representações do real através das relações mentais: relacionar as coisas, planejar, ter intenções... Enfim, todo esse processo é o que Vygotsky denomina de sócio-histórico, no qual a cultu- ra é parte essencial para mediação e aquisição de novos conhecimentos. Mas como isso acontece? Para o nosso entendimento, vamos nos orientar pelos objetivos propostos para essa unidade. Mediação simbólica, processo de internalização e constituição do pensamento consciente Um dos aspectos fundamentais que sustentam a abordagem so- ciointeracionista do conhecimento é a relação direta entre cultura e desenvolvimento das funções psicológicas superiores - potencialidades intelectuais humanas. Vygotsky (1999) enfatiza que a gênese desse pro- cesso não é inata, ela é construída mediante interação com o outro e com a cultura. Para Vygotsky, o homem só adquire conhecimento de forma media- da, ou pelas coisas do mundo físico, objetivo, real ou pelo sistema se- miótico possibilitado pela linguagem. Em sendo assim, a linguagem as- sume papel fundador da aprendizagem e do desenvolvimento humano, pois é por meio dela que se processa a internalização do conhecimento, resultante esta das interrelações sociais, o que leva, consequentemente, à construção do pensamento consciente. O processo de desenvolvimento do ser humano, marcado por sua inserção em determinado grupo cultural, se dá “de fora para dentro”. Isto é, pri- meiramente o indivíduo realiza ações externas, que serão interpretadas pelas pessoas a seu redor, de acordo com os significados culturalmente estabele- cidos. A partir dessa interpretação é que será pos- sível para o indivíduo atribuir significados a suas próprias ações e desenvolver processos psicológi- cos internos que podem ser interpretados por ele próprio a partir dos mecanismos estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos por meio dos có- digos compartilhados pelos membros desse grupo (OLIVEIRA, 2010, p. 39). 46 SEAD/UEPB I Psicolinguística A mediação acontece de duas formas: por instrumentos – emprego de artefatos para conhecer e transformar a natureza, e por símbolos so- ciais/signos - instrumento psicológico, marca externa que será internali- zada e recuperada em atividades futuras, são representações por meio de palavras, imagens mentais, desenhos etc. A linguagem é, assim, o instrumento de mediação por excelência, para resolução das dificulda- des infantis quando as crianças se veem diante de casos complicados e, por isso, incapacitadas de solucionar determinadas situações, sejam estas presenciais ou ausentes. Portanto, o conceito de mediação abran- ge duas faces complementares: a) Representação mental – capacidade de o homem operar mentalmente: abstrair o objeto e/ou evento do mundo real e substituí-lo por uma imagem mental; b) Origem social dos sistemas simbó- licos – a cultura possibilita repre- sentações mentais da realidade, por meio da internalização das formas de comportamento construídas sócio-historicamente. A internalização é uma atividade mental advinda da abstração de uma atividade externa realizada no decorrer do processo interacional. O conceito de internalização envolve três outros, quais sejam: a) Sujeito interacional – a construção de conhecimentos e do pen- samento consciente é resultado das experiências vivenciadas com outros sujeitos e consigo próprio, permitindo ao sujeito internali- zar conhecimentos, papéis e funções sociais; b) Relações interpessoais – processo que parte do plano social - re- lações interpessoais - para o plano individual interno - r elações intrapessoais. c) Função mental/funções psicológicas superiores – refere-se aos processos de pensamento, memória, percepção e atenção. - O pensamento - tem origem na motivação, no interesse, na neces- sidade, no impulso, no afeto e na emoção. A união do cognitivo com o afetivo e a organização da consciência – no início, prática, depois conceitual – resulta no pensamento consciente, que por sua vez, é mo- dulado pelas práticas socioculturais, construídas histórica e linguistica- mente, pois o pensamento se encontra determinado pela linguagem: “a linguagem fornece os conceitos e as formas de organização do real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento” (OLIVEIRA, 2010, p.43). Considerando a figura 41 ao lado, com- 1 As guras dessa unidade que não vierem imediatamente acompanhadas da sua refe- rência é porque foram retiradas do http:// www.google.com.br/imagem. Psicolinguística I SEAD/UEPB 47 preendemos que o pensamento infantil ainda está sendo guiado pela consciência prática, o bebê lembra de uma situação vivida no seu am- biente familiar – um adulto chamando de neném, ela apenas emite a palavra ne-ne motivada pela lembrança, o pensamento concreto pre- valece sobre o abstrato. - A memória – no desenvolvimento infantil é considerada como uma função centralizadora, que orienta o desenvolvimento das outras fun- ções. No início, está relacionada à motricidade da criança, é uma me- mória não mediada pelo signo linguístico, mas com o desenvolvimento sensório-motor e depois de passar por vários estágios do desenvolvi- mento, a criança chega ao pensamento abstrato, nesse ponto a memó- ria passa a ser mediada e passa a orientar o pensamento consciente. A criança recorre à memória como conteúdo de expressão e conhe- cimento: para ela, “pensar” significa “lembrar”. Vygotsky (1998, p. 67) enfatiza que “do ponto de vista do desenvolvimento psicológico, a me- mória, mais do que o pensamento abstrato, é característica definitiva dos primeiros estágios do desenvolvimento cognitivo”. Por isso, quando a criança enuncia palavras, como no exemplo
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