Prévia do material em texto
Conceitos Fundamentais sobre Ética e Cidadania Ética e Cidadania Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANA LUCIA GUIMARÃES AUTORIA Ana Lucia Guimarães Olá! Sou doutora em Ciências Humanas e tenho mais de 20 anos de atuação como professora na Educação Superior. Além disso, tenho 12 anos de militância como dirigente sindical da causa dos professores, o que me agrega conhecimentos e experiências para ser autora desta disciplina. Portanto, atuar e defender a causa da educação laica, democrática e de qualidade é mais do que um princípio em minha formação e trajetória profissional, é um compromisso de ofício. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Fundamentos de Ética e Cidadania ..................................................... 10 Conceitos, Objetivos e Princípios da Ética e da Moral ......................................... 10 Conceito de Cidadania .............................................................................. 18 Ética Social e Política ................................................................................26 A Ética e a Moral na Contemporaneidade ........................................ 32 7 UNIDADE 01 Ética e Cidadania 8 INTRODUÇÃO Você sabia que estudar ética e cidadania tem uma importância significativa nos tempos atuais? Isto porque os indivíduos estão cada vez mais confusos em relação à construção de suas atitudes e pensamentos quanto às rápidas e volumosas transformações de nossa sociedade. Trata- se de entender como e de que forma devemos interagir com os diferentes sujeitos sociais e seus diferentes pertencimentos culturais e políticos. Enquanto a ética imprime uma ideia de valores e normas sociais construídos historicamente de acordo com as diferentes demandas sociais dos grupos que integram a sociedade, a ideia de cidadania nos remete ao pertencimento a uma localidade e ao compartilhamento de valores e normas sociais dela. Portanto, tanto a questão da cidadania quanto a ideia da ética fornecem mapas referenciais para nossas ações e interações, com o objetivo de identificar a qual conceito de moral estamos submetidos. Entendeu? Vamos explorar mais este debate ao longo desta unidade. Ética e Cidadania 9 OBJETIVOS Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Diferenciar os conceitos de ética e moral. 2. Identificar o conceito de cidadania. 3. Demonstrar o conceito de ética social e sua relação com a ética política. 4. Ponderar a relação entre ética e moral em tempos contemporâneos. Então, preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Ética e Cidadania 10 Fundamentos de Ética e Cidadania OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você deverá dominar os conceitos de ética e moral, sabendo diferenciá-los e identificar sua importância para a vida em sociedade. Na atualidade, quando os indivíduos não sabem identificar situações de caráter moral, podem emitir julgamentos e agir de forma a serem julgados negativamente pela ordem social constituída. Vamos lá?. Conceitos, Objetivos e Princípios da Ética e da Moral Iniciamos nossos estudos sobre ética e moral procurando entender a definição desses conceitos e a diferença entre eles. Para Cortella (2009), a ética é o princípio orientador de nossa conduta em sociedade, ela nos permite distinguir e definir nossas ações e pensamentos em relação a diferentes experiências no mundo social. A ética está em nosso dia a dia. Em qualquer situação ou acontecimento, vemos várias inferências dos moralistas a solicitar necessidade de afirmação ética. Realmente, há um desgaste em falar de ética em tempos atuais, mas ainda é muito necessário entender o conceito e valorizar sua aplicação. Pode-se ousar dizer que é impossível avançar no conceito de ética sem abordar o conceito de valores. O que são valores, então? Desde que nascemos, somos ensinados sobre o que é certo e errado, a partir daí, vamos direcionando nosso olhar, bem como disseminamos valores impostos pela sociedade. Se considerarmos que o valor moral é uma necessidade para a sobrevivência em sociedade, estaremos começando a entender mais sobre ética, moral e vida social, no sentido relacional — ou seja, de interação de uns com os outros. Ética e Cidadania 11 Figura 1 - Ética e vida coletiva Fonte: Pixabay Por isso, Cortella (2009) afirma que a ética é compreendida no bojo dos estudos da filosofia e tem relação com a construção da moralidade, pois, a partir dessa relação, nasce a ideia de um “exercício de condutas”. Isso significa para o autor que, a partir da concepção ética, espera-se de um indivíduo que ele aja de uma forma previsível em uma determinada situação, pois entende-se que incorporou as regras morais para compor seu comportamento social. Com essa definição pode-se inferir que a ética é a vida pensada, isto é, uma proposta de ação a partir do que a moral estabelece. Nesse sentido, precisamos compreender que a ética está no centro da construção de relações sociais harmônicas e benéficas para a preservação do todo social, isso porque ela aponta a ideia de uma ação que leva em conta o outro e que se fundamenta na forte presença dos valores morais. DEFINIÇÃO: Ética: define-se como um modo de agir a partir de uma norma moral incorporada, refere-se à uma orientação de vida que deve, supostamente, levar em consideração a preservação positiva da vida em sociedade. Ética e Cidadania 12 Ainda explorando o conceito de ética como parte da Filosofia, a qual fundamentalmente implica em entendimento do comportamento moral, vejamos de forma ágil como os clássicos filósofos consideravam esse conceito. Nos estudos de Chauí (2010), encontramos que, para os sofistas, a ética era relativista, pois, em suas concepções, não havia normas universais de definição para a vida social. Sócrates, tanto quanto Kant, buscava o entendimento da ética a partir da compreensão da alma humana, pois acreditava que nela residiriam fundamentos da moral. Já nos ideais de Platão, vemos a separação entre corpo e alma, para ele, o corpo sujeito a paixões poderia desviar-se do bem, por isso, o Homem só conseguiria desenvolver a ética para o bem comum na Pólis. Ainda em Chauí (2010), vemos que, para os estoicos, a ética constituía uma ideia de autocontrole que levava a uma aceitação da realidade, uma clara noção de destino traçado sob a égide de uma razãouniversal, o que levava à imperturbabilidade da alma. Em contrapartida, os epicuristas ao falarem de ética e imperturbabilidade da alma mostravam que esta era uma finalidade dela. Entretanto, os epicuristas adotavam quatro princípios para o entendimento da ética: o primeiro era que o homem não devia temer aos deuses; o segundo indicava que o homem não devia temer a morte; o terceiro apontava que a felicidade era possível de ser alcançada; e, por fim, o quarto princípio dizia que qualquer dor pode ser suportada. Com essas ideias, esses filósofos pretendiam afirmar que a ética, enquanto bem fundamental, é a defesa do prazer, não o prazer sexual, mas o prazer relacionado ao sentimento de amizade. Em Aristóteles veremos, mais adiante, que a ética está relacionada à busca pela felicidade, que deve ser encontrada no bem comum e na ação do homem na Pólis. Ética e Cidadania 13 Figura 2 - Reflexão sobre ética Fonte: Freepik Falamos muito sobre o conceito de ética, e não podemos deixar de nos aprofundar sobre o conceito de moral. Portanto, o que é a moral? Podemos inferir que a moral é um conjunto de regras, normas de uma sociedade ou localidade, tornando-se relevante pela proporção do desrespeito das pessoas às leis. A moral funciona como um conjunto de condutas que devem direcionar as diferentes formas de agir dos indivíduos. DEFINIÇÃO: Moral: o conjunto de condutas e normas que os indivíduos costumam aceitar como válidas. Essas regras são adquiridas na educação, por meio da cultura e das tradições dos diferentes grupos sociais. Cada grupo tem suas regras e concepções morais. Para Chauí Kant (1921), que foi quem mais discutiu a ética formal, a moral do comportamento reside na vontade e nos motivos do agente considerado. Ética e Cidadania 14 IMPORTANTE: É importante entender que aquilo que não é moral, pode ser: IMORAL: com conotação de tudo aquilo a que se opõe a moral, por exemplo, o questionamento da atuação dos políticos no Brasil. AMORAL: um homem que se comporta de forma independente dos juízos sobre o bem e o mal, ele não considera qualquer parâmetro de moral para sua conduta. Figura 3 - Perspectivas da ética Ética e Cidadania 15 Fonte: Pixabay Figura 4 - Regras morais para o erro ou acerto social Fonte: Freepik EXPLICANDO MELHOR: A ética e a moral andam de mãos dadas, mas são essencialmente conceitos diferentes. É preciso saber que a ética é importante porque revela o respeito aos outros e à dignidade humana. Todos nós temos ética, só temos que desenvolver e acreditar no bem. A ética orienta-nos e ajuda-nos para que tenhamos uma vida boa. Observe o quadro abaixo sobre as diferenças entre esses conceitos: Quadro 1 - Ética e moral: apontamentos diferenciais ÉTICA MORAL Princípio teórico-reflexivo Regras de condutas específicas Ética é temporal Moral é temporária Ética é universal Moral é cultural Fonte: Elaborado pela autora (2021). Ética e Cidadania 16 Assim, a ética pode ser entendida como um parâmetro, a lei do que seja ato moral, o controle de aplicação da moral. Dessa forma, são os códigos de ética que devem ser exercidos para os diferentes conjuntos de grupos dentro do sistema social mais abrangente. Já a moral, por sua vez, de acordo com Kant em Chauí (2010), “é tudo aquilo que precisa ser feito, independentemente das vantagens ou prejuízos que possa trazer”. Se praticarmos um ato moral, podemos até sofrer consequências negativas, já que o que é moral para uns pode ser amoral ou imoral para outros. Quadro 2 - Diferenças entre ética e moral ÉTICA MORAL Lida com o CERTO e o ERRADO. Lida com o CERTO e o ERRADO. Modo social de agir: implica no consenso e na adesão da sociedade. Modo pessoal de agir: é adquirida e formada ao longo da vida por experiências. Normas e regras sociais: é guiada pela cultura da sociedade. Normas e regras pessoais: é guiada pela consciência. Coletivo: se constrói a partir do consenso de várias morais. Individual: é o que fundamentada a ética. Fonte: Elaborada pela autora (2021). SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso ao vídeo “Moral e ética: conceitos e diferenças”, o qual traz uma boa discussão sobre a diferença entre ética e moral. Disponível aqui. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=dzX88EsmHr0 17 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu um pouco mais? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que ética e moral são conceitos complementares, porém, diferentes em sua essência. Procuramos marcar que ética é a reflexão e a teoria da internalização dos valores morais, que são específicos para cada grupo ou sociedade. Cada grupo social possui suas normas e orientações de conduta. Ao escolhermos orientar nossa ação pensando na preservação positiva da interação social e no bem do outro, estamos atuando de forma ética. Nem sempre, durante a história, a ideia de ética foi pensada como o conceito que hoje devemos adotar. A ética nos faz discernir entre certo e errado, mas com foco na organização e preservação do social e da manutenção do bem-estar alheio. Ética e Cidadania 18 Conceito de Cidadania Pensar em um conceito de cidadania nos remete a um sentimento de pertencimento a um Estado, uma nação ou um Estado-nação. Devemos entender que esse conceito vem a ser um grande ponto de referência para extrairmos a compreensão de direitos, obrigações e deveres de cada indivíduo mediante o todo social que, a partir de uma representação política, pode direcionar ou não os interesses de um grupo de indivíduos em um sistema político. Esses indivíduos podem, ou não, constituírem-se como cidadãos. O que é ser cidadão? O que podemos entender sobre cidadania? Para Carvalho (2002), o conceito de cidadania foi relacionado a um costume de desdobrar esta em direitos civis, políticos e sociais. Nesse olhar, segundo o autor, o cidadão pleno seria aquele que tivesse os três direitos, mas ainda teríamos os cidadãos incompletos, cujos direitos se resumiriam em alguns poucos; já aqueles que não tivessem direitos seriam considerados não cidadãos. Para ele, ao se resumir o conceito de cidadania a posse e gozo de direitos civis, políticos e sociais, também é preciso compreender o que significa cada um desses direitos. Nesse sentido, de acordo com o autor, vemos que: • Direito civil – aquele que garante o ir e vir, bem como o agrupamento em movimentos, como sindicatos, a realização de greve etc.; possuir seus próprios bens (propriedade privada); livre organização religiosa ou mesmo ideológica. • Direito político – realiza-se no ato de votar e ser votado, na participação da vida política do país. O indivíduo pode ser candidato à representação e também pode escolher quem quer que o represente. • Direito social – refere-se a ações governamentais e da sociedade civil organizada em prover serviços ao cidadão, como saúde, educação e políticas sociais. Ética e Cidadania 19 Figura 5 – Cidadania e relação com os direitos e deveres Fonte: Elaborada pela autora. (2021). Marshall (2002), ao desenvolver a discussão sobre o conceito de cidadania, mostra que essa foi construída na Inglaterra antes da Revolução Industrial, em contexto de necessidade de afirmação de direitos, uma vez que o reconhecimento de direitos aos nobres, e posteriormente aos burgueses e até à classe trabalhadora, mostrou-se uma tarefa primordial à organização das relações de produção, que se consolidariam mais tarde na sociedade moderna. Para o autor, a evolução da cidadania só se concretiza com a conquista de direitos ao longo da história. A cidadania é pensada por ele considerando aspectos civis, políticos e sociais. Então, se buscarmos a origem histórica do conceito, com- preenderemos que sua origem como palavra vem do latim “civitas”,que significa cidade. Essa palavra, “cidadania”, era comumente utilizada no contexto da Roma Antiga para identificar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa poderia usufruir. Com esse histórico de debates e conceitos, vemos que a ideia de cidadania não é algo estável, definido ou adquirido sem um entendimento de ação. Com isso, destaca-se que não é a conquista de um direito que significa que ele vá de fato ser efetivado. A cidadania é um exercício de saber e agir que é preciso ser incluído e desejar participar da construção de novas relações e consciências de efetivação de direitos. Ética e Cidadania 20 VOCÊ SABIA? É muito comum acharmos que a ideia de cidadania pode ser resolvida apenas com a efetivação de direitos para cada indivíduo ou grupo social? Pois é, seria necessário destacar que a cidadania envolve uma compreensão dos deveres de cada um para com a sua cidade, estado ou localidade onde habita. Ter deveres é assumir que há uma relação de troca recíproca entre receber, obter ou conquistar direitos e praticar a realização de deveres. Exercitar o cumprimento de um papel social que possui tarefas para continuamente fortalecer e ressignificar a vida social. Figura 6 – Direitos e deveres do cidadão brasileiro DIREITOS CIVIS DIREITOSSOCIAIS DIREITOS POLÍTICOS DEVERES Direito à vida Educação Garantia de voto direto e secreto, com igual valor para todos. Participar das eleições, escolhendo e votando nos seus candidatos. Direito à liberdade de expressão Saúde Direito a ser candidato a um cargo nas eleições. Estar atento ao cumprimento das leis do país. Liberdade de ir e vir. Alimentação __________ Pagar os impostos devidos. Igualdade entre homens e mulheres Trabalho __________ Participar da escolha das políticas públicas. Proteção da intimidade e da vida privada Moradia __________ Respeitar os direitos dos outros cidadãos. Liberdade para exercer sua profissão. Transporte __________ Proteger o patrimônio público. Direito à propriedade Lazer __________ Proteger o meio ambiente. Fonte: Elaborada pela autora. com base em Lenzi ([s. d.]). Ética e Cidadania 21 Figura 7 – Cidade e cidadania Fonte: Freepik IMPORTANTE: Com toda a discussão apresentada, é possível lembrar de uma obra de Dimenstein (1994), O cidadão de papel, que aborda o fato de que, no Brasil, a cidadania está no papel, mas não existe de verdade. Isso é perceptível, uma vez que o autor destaca a violência social e a juventude dos anos 1990, a ausência de projetos de educação, informação e a pobreza. De lá para cá, muitas situações se atualizaram, mas, de todo modo, essa obra nos faz refletir o quanto ainda temos por conquistar com atitudes verdadeiramente de participação e reclamação de nossos direitos. Vale a pena conhecer mais esse debate. Ética e Cidadania 22 Figura 8 – Obra O cidadão de papel Fonte: Reprodução de Oliveira (2014). DEFINIÇÃO: Cidadania: refere-se a um conjunto de ações com caráter de reivindicação que se volta para o interesse coletivo. É em seu exercício que se aprimoram práticas de convivência melhores e tratam a qualidade de vida dos habitantes da cidade. É um conceito diretamente ligado a uma ideia de aprendizagem social, que busca a culminância do atendimento de direitos e a compreensão de compromisso e deveres a cumprir. SAIBA MAIS: Saber que as possibilidades de debate para a compreensão do conceito de cidadania e como podemos alcançá-lo é um privilégio, vamos ler mais um pouco? Então, clique aqui. Ética e Cidadania https://www.cafecomsociologia.com/o-que-e-cidadania/ 23 É muito importante entender também a relação entre o conceito de cidadania e a educação, pois, com o processo educativo, desenvolvem- se valores e consciência da preocupação com o outro, além da questão da responsabilidade para com a vida social. Nesse sentido, no Brasil e na América Latina, a partir das décadas de 1980 e 1990, a discussão sobre cidadania, direitos humanos e democracia ganha muito destaque, sobretudo nos exercícios da educação formal e informal. Dessa forma, foram criados documentos formais para orientar a educação para a formação da cidadania. Exemplos claros dessas iniciativas encontram-se nos documentos listados a seguir: • Constituição de 1988. • Lei de Diretrizes e Bases (LDB) - 1996. • Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - 1990. • Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) - 1996. • Propostas de Políticas Educacionais. É notável que existem sentimentos e valores educacionais que podem ser desenvolvidos e aprendidos na família ou na escola, na educação formal ou informal, e que podem colaborar para o despertar da cidadania. São eles: cooperação, perdão, respeito, sinceridade, diálogo, solidariedade, combate à violência e bondade. A princípio podem parecer valores presentes em nossa humanidade, mas de fato o são, e, quando bem trabalhados, podem otimizar responsabilidades e aptidões para o fortalecimento de relações sociais pautadas na garantia recíproca de efetivação de direitos e deveres. SAIBA MAIS: Veja como a LDB nº 9394/96 direciona suas diretrizes para uma educação voltada à formação de um sujeito cidadão acessando-a aqui. Em seguida, assista ao vídeo sobre educação e formação do cidadão clicando aqui. Ética e Cidadania https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70320/65.pdf https://www.youtube.com/watch?v=P8FW5KKZnWI 24 Sacristan (2000) infere que a distância entre os direitos no papel e a efetiva cidadania só é possível quando os envolvidos tomam para si a atitude de fomentar ideias práticas. Almeida e Soares (2010) apontam que a ligação entre vida individual e comunitária só ocorre quando há um reconhecimento mútuo da relevância recíproca entre os dois. Este, para os autores, é o verdadeiro sentido da cidadania, sem exclusões sociais. Sobre a relação cidadania e educação, Freire (2011) orienta que o homem deve ser o sujeito da sua ação, criando e transformando o mundo. Em seu olhar, a escola deve funcionar como um espaço que tende a oferecer ao indivíduo exercício da cidadania e possibilidade de redefinição da realidade. Figura 9 – Escola e cidadania Fonte: Freepik Ética e Cidadania 25 RESUMINDO: E então, como foi a experiência de aprendizagem com o conceito de cidadania? Vamos resumir um pouquinho sobre o que vimos para que você realmente possa fixar mais o estudo deste capítulo. Você deve ter aprendido que é muito importante compreender que cidadania é um conceito que articula nossos direitos e deveres, bem como que o exercício dela torna a coletividade ativa e integrada para uma harmonia social. A cidadania destaca a liberdade e a convivência comunitária muito mais do que qualquer questão de relações de poder ou governo constituído. Ser cidadão é participar de forma ativa da realidade social em que se está inserido, protagonizando a busca de qualidade de vida para seus membros pela via da efetivação de direitos. No entanto, não devemos esquecer de que também possuímos deveres com a nossa comunidade. Por fim, vimos o importante papel que a educação ocupa na formação do cidadão. Por meio da educação formal e a informal, é possível transmitir os valores da formação à cidadania, oferecendo liberdade e autonomia para os indivíduos atuarem na sociedade de forma digna. Ética e Cidadania 26 Ética Social e Política Iniciamos nossos estudos sobre a ética e a política considerando o pensamento de Arendt (2003), que nos mostra que política é ação e, portanto, nenhuma questão política pode, segundo ela, estar submetida a subjetividade. Na visão dessa autora, o entendimento da ideia de práxis é a mola mestra para a compreensão de seu conceito de ética, que muito está relacionado com o que já vimos aqui. Para ela, ética envolve-se com o cuidado com o mundo, com o espaço das relações humanas e também com o local que permite avida e a singularidade humanas. Arendt (2003) preocupa-se não com a subjetividade do homem, mas sim com os homens em pluralidade. Assim, percebemos que o conceito de ética social está direcionado para este olhar. Arendt (2003) nos aponta que as atividades humanas são o resultado da produção desenvolvida no mundo da vida ativa, é no mundo (na práxis) que o homem transita e desenvolve atividades que ele condiciona sua existência. O cuidado com o mundo é, por conseguinte, o cuidado com a singularidade humana, para a autora. Permanecendo nesse raciocínio, colabora para nosso conhe- cimento sobre a questão política, pois ela define que a política não deve se submeter às questões morais. Ela se contrapõe ao pensamento de Maquiavel, ao afirmar que a política não deve ser guiada para atingir meios e fins. Como sabemos, Maquiavel, clássico da política, aponta que os fins justificam os meios. Já Arendt (2003) acredita que se a praticidade é o agir, então a forma instrumentalizada que o autor traz de calcular formas para atingir objetivos em política acabam por se configurarem em pré-ação e teoria para controlar a ação. Segundo ela, a política não deve seguir qualquer natureza ou espírito, mas sim ter o compromisso com o “espírito correto”, algo que se define em si mesmo, sem qualquer teleologia ou previsibilidade. A ação política informa a distinção articular de cada homem. Ainda seguindo seu pensamento, a ética é a pluralidade humana constitutiva do mundo, o que faz a ideia de uma ética social ser mais forte e presente para que as relações humanas se processem de forma operativa. Visto dessa forma, Arendt (2003) mostra que a ética varia de acordo com o espaço político. O agir é livre de qualquer determinação. Ética e Cidadania 27 A discussão que trouxemos até aqui serve para evidenciar que a experiência coletiva das pessoas e sua respectiva construção cultural têm em si mesmas um valor significativo para a compreensão do conceito de ética social. Isso pois, ao abordarmos tal conceito, estamos, na verdade, no campo de pensar, o que pode ou não ser aceitável socialmente, isso se deve ao próprio princípio que o conceito traz consigo: a ideia de que os membros de uma comunidade precisam de cuidados de forma homogênea. DEFINIÇÃO: Ética social: conjunto de regras e diretrizes que balizam escolhas e comportamentos de uma sociedade que resolveu adotar aqueles padrões de conduta. Ela funciona como um roteiro, um código de conduta. Não há necessidade de dizer o que se deve ou não seguir, apenas fundamentalmente seguir. A ética social apresenta princípios que precisamos conhecer: a dignidade da pessoa, o direito de propriedade, a primazia do trabalho, a primazia do bem comum, a solidariedade e subsidiariedade. Sá (2010) desenvolve a ideia de que existem hábitos dignos de louvor, isto é, existe uma conduta virtuosa padrão que serve de referência quando pensamos no respeito a todos os seres humanos. O autor busca em Aristóteles a lógica da virtude. Para ele, se um homem adota uma conduta virtuosa em um local onde não há a prática comum dessa conduta, então este seria um homem virtuoso. Em Aristóteles (1997), vemos também uma iniciativa em considerar que o verdadeiro sentido da ética é voltar-se para a comunidade na amplitude desta e no exercício da cidadania, objetivando a formação e organização da consciência política humana. Para ele, “o homem é um animal político”. Ética e Cidadania 28 Figura 10 – Obra de Aristóteles Fonte: Reprodução de Livraria da Travessa. Dessa forma, é possível traçar imediatamente uma relação entre a ética social e a política. A política é o campo da busca do bem comum, conforme Aristóteles demarca em seus estudos. Nesse sentido vale a ideia de que ética e política devem caminhar lado a lado, uma vez que ambos os conceitos apresentam um viés corporativo, aquele que conduz ao bem-estar da comunidade, do coletivo, do social. Dissecando sobre a palavra política, observamos que ela é originária do grego pólis (politikós) e seu significado diz respeito ao urbano, ao civil, ao que é da cidade (da pólis). Weffort (1987) mostra que os clássicos da política podem nos guiar muito mais sobre o conceito de política que consideramos fundamental para sustentar a relação ética e a política, já iniciada anteriormente. Segundo o autor, para Thomas Hobbes a humanidade vivia em estado Ética e Cidadania 29 de anarquia e, ao criar a sociedade, por meio do pacto social, criou conjuntamente a chamada sociedade política. Segundo ele, os homens, mediante seu estado de guerra, abriram mão de suas decisões e escolhas mais individuais para constituírem o estado soberano, que não permitiria a volta ao estado de natureza. Tal movimento fez com que a representação política desses homens fosse delegada ao soberano, que deveria garantir o grupo ao exercer seu poder em favor do bem comum. O autor também revela que, em John Locke, vemos que o estado de natureza não teria significado de caos, mas ordem e razão. Segundo ele, o Estado surgiu para assegurar a lei natural, bem como para manter a harmonia entre os homens. Locke não destaca que houve uma cessão dos direitos naturais ao Estado, pelo contrário, acredita que a soberania é um valor e que deve ser exercido pela maioria, assim como o respeito aos direitos à vida, à liberdade, à propriedade. Weffort (1987) apresenta, ainda, a teoria de Jean Jacques Rousseau, que parte do princípio de que houve um estado de natureza que não se constituía no caos de Hobbes e nem no mundo ordeiro e racional, como assegurava John Locke. Os homens viviam em caráter de desigualdades, mas eram livres e felizes. A sociedade política surge, então, como um mal necessário para manter a ordem e evitar o retorno das desigualdades. Assim, na criação do Estado a partir do contrato social, o indivíduo cedeu parte de seus direitos naturais para a criação de uma entidade detentora de uma vontade geral, portanto, a soberania do Estado é a incorporação da vontade geral de todos. NOTA: Os clássicos da política, John Locke, Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau integram os teóricos que discutem a criação do Estado a partir de um pacto social fomentado pelos homens. Para saber mais sobre tais teorias, leia: WEFFORT, Francisco. Os clássicos da política. São Paulo: Editora Ática, 1989. Ética e Cidadania 30 Figura 11 – Clássicos da política Fonte: Sabedoria Política. A questão é que todos esses pensadores falam de política como um lugar de representação de todos, e essa possibilidade de ação está diretamente vinculada à concepção de ética social. Isso porque quando se analisa a criação do contrato social, a organização da sociedade política e a soberania da vontade geral, deve-se considerar o princípio de comando político com referência da orientação ética, do governar para o outro. Semelhante a como pensamos, a questão da ética social nas empresas na atualidade, vemos que na sociedade empresarial existem comportamentos de valorização e dimensionamento da preservação ambiental. Ideias e projetos ecológicos que, inclusive, fundem-se com perspectivas de responsabilidade social, muitos líderes corporativos precisam, por normas éticas, doar uma porcentagem dos lucros anuais para instituições de caridade. Essa pode ser uma ação que está diretamente vinculada com a real necessidade de ajuste para condutas que são aceitas, valorizadas e instituídas socialmente. Temos muitos padrões que fortalecem a ética social e que se incluem nos valores familiares, nas crenças religiosas, na moralidade e na integridade. Ética e Cidadania 31 Figura 12 – Problemas para a ética social Fonte: Elaborada pela autora (2021). Os desafios para a ética social, aliada a representação política, são desafios do mundo atual. Com base neles, é preciso rever práticas e condutas de gestão de comunidades, recursos e da própriaconcepção de coletividade e bem comum. SAIBA MAIS: Para saber mais, assista ao vídeo: “Aristóteles: Ética e política” clicando aqui. RESUMINDO: Entendeu um pouco da relação entre ética social e política? Neste capítulo, procuramos demonstrar como os conceitos de ética social e política devem estar associados para a prática do bem comum. Pois reforçamos que a ética consiste em uma regra usada para focar na construção do relacionamento com os outros. O sentido e o conceito de ética social foram desenvolvidos como verdadeiros códigos de conduta que são aceitos e praticado pelos membros de um grupo social. Falamos dos clássicos da política, Hobbes, Locke, Rousseau, com o intuito de mostrar que, em meio ao caos social, os homens criam a ordem, delegam sua concepção de representação ao estado, acreditando que este pode gerir suas vontades comuns. Cada uma com sua teoria, mas no bojo conceitual, o principal é entender que a política deveria conduzir a sociedade pela lente da ética, já que em sua originalidade conceitual, elas podem voltar-se para o bem comum. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=eRPhNiqbsgk 32 A Ética e a Moral na Contemporaneidade Chegamos até uma reflexão que será muito importante para o olhar sobre diferentes situações nos tempos atuais que vivemos. Devemos abordar a relação ética e moral na sociedade contemporânea para que possamos entender mais sobre diferentes posicionamentos em diferentes culturas e grupos sociais. Vimos no tópico anterior que existem desafios impostos à nossa análise da ética social, vinculada à política, mas, a partir de agora, precisamos pensar na generalidade da concepção de ética e moral já aprendidas para o entendimento de tais desafios. Vamos iniciar escolhendo um dos grandes desafios da humanidade, cuja dimensão nos entristece: a fome mundial. A fome é uma questão social. Mas observe que podemos eleger a relação que os países de primeiro mundo têm em relação ao trato da questão. Você poderá entender melhor acionando os conceitos de ética e moral para pensar sobre as reportagens a seguir. PRIMEIRA REPORTAGEM Fome extrema atinge mais de 113 milhões no mundo África é o continente mais afetado Influenciado por conflitos armados Mais de 113 milhões de pessoas em 53 países sofreram “insegurança alimentar aguda” em 2018, afirma um relatório global da ONU sobre a crise alimentar divulgado nesta terça-feira (02/04). O relatório apresentado pela União Europeia (UE), Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), entre outras organizações, destaca que o problema afeta principalmente o continente africano. Os países que atravessaram as mais graves crises alimentares são: Iêmen, República Democrática do Congo, Afeganistão, Etiópia, Síria, Sudão, Sudão do Sul e o norte da Nigéria. Dominique Burgeon, chefe de emergências da FAO, afirmou que os países Ética e Cidadania 33 africanos são atingidos de forma “desproporcional” pela fome aguda, com quase 72 milhões de pessoas afetadas. Segundo o documento, nos últimos três anos, cerca de 50 países vivem dificuldades cada vez maiores para alimentar a suas populações. A principal causa da insegurança alimentar em todo o mundo foram as guerras. Cerca de 74 milhões de pessoas, ou seja, dois terços da população que enfrenta a fome aguda, estavam em 21 países ou territórios localizados em zonas de conflito, assim como já havia ocorrido em 2017. “Nesses países, até 80% das populações afetadas dependem da agricultura”, afirmou Burgeon. “Estas pessoas precisam receber assistência humanitária de emergência para poder se alimentar e condições para impulsionar a agricultura.” Em 2018, o número total de pessoas que sofreram fome aguda apresentou leve redução em comparação a 2017 (124 milhões). Isso pode ter ocorrido em razão de alguns países estarem menos expostos a riscos climáticos violentos, como secas, inundações ou chuvas. “Este recuo no valor absoluto é um epifenômeno”, minimizou Burgeon. A redução ocorreu “devido à ausência do fenômeno climático ‘El Nino’, que afetou muito as culturas na África Austral e no Sudeste Asiático em 2017”. “Por causa dos violentos ciclones e tempestades em Moçambique e no Malawi este ano, já sabemos que esses países estarão no relatório do ano que vem”, observou. José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO, avalia que, apesar da ligeira queda em 2018 no número de pessoas com insegurança alimentar aguda, a forma mais extrema de fome, “o número ainda é alto demais”. Ele diz que é preciso investimentos de grande porte no desenvolvimento, ajuda humanitária e na construção da paz “para construir a resiliência das populações afetadas e pessoas vulneráveis”, acrescentando que “para salvar vidas, também temos que salvar os meios de subsistência”. O diretor-executivo do PAM, David Beasley, observou que para erradicar a fome é necessário atacar suas causas fundamentais. “Conflitos, instabilidade, impacto dos choques climáticos. Rapazes e moças precisam ser bem nutridos e educados, as mulheres precisam ser verdadeiramente fortalecidas, a infraestrutura rural deve ser fortalecida para conseguirmos esse objetivo de fome zero”, destacou. Ética e Cidadania 34 O relatório pede o fortalecimento da cooperação entre a prevenção, preparação e reação no atendimento às necessidades humanitárias urgentes e às causas profundas, que incluem as mudanças climáticas, choques econômicos, conflitos e deslocamentos. Fonte: WELLE, D. Fome extrema atinge mais de 113 milhões no mundo. Poder 360. 2019. Disponível aqui. Acesso em: 10 ago. 2021. SEGUNDA REPORTAGEM Saiba quem é a brasileira que doou R$ 88 milhões a Notre- Dame Viúva de banqueiro, ela tem sala em sua homenagem no Louvre Uma brasileira está entre os bilionários que doaram grandes somas para a reconstrução da Catedral de Notre-Dame, de Paris, atingida por um grande incêndio na segunda-feira (15). Lily Safra, 81 anos, viúva do banqueiro Edmond Safra, enviou para a campanha de reconstrução um cheque de 20 milhões de euros - cerca de R$ 88 milhões. Segundo o Glamurama, ela tem fortuna estimada em 1,3 bilhão de dólares (R$ 5,1 bilhões). A bilionária atualmente se divide entre casas que tem na Europa - vive entre Mônaco, Londres, Nova York e a própria Paris. Ela já recebeu uma Légion d’Honneur, uma medalha de honra dada para pessoas que contribuíram com a França. Uma sala no Museu do Louvre, a Galeria Edmond et Lily Safre, é batizada em homenagem a ela e ao falecido marido. O ambiente é todo decorado com mobiliário do século 18 doado pelo casal. Um livro da jornalista canadense Isabel Vincent chama a bilionária de “Lily Dourada”, nome da biografia. A escritora, que era na ocasião repórter do New York Post, passou cerca de um ano no Brasil entrevistando pessoas sobre o casal. A publicação traz detalhes sobre o suicídio do segundo marido de Lily, o empresário Alfredo Monteverde. No almoço antes da morte, Lily e o marido discutiram detalhes do divórcio. Quando ela saiu, ele tirou a própria vida. O pai de Lily era um inglês do ramo de ferrovias que chegou ao Brasil no início do século XX. Ela nasceu em Canoas, no Rio Grande do Sul. Seu primeiro marido, o argentino Mario Cohen, era um milionário fabricante de meias de náilon. O casal viveu no Brasil, Argentina e Uruguai e teve três filhos - o mais novo, Claudio, morreu em 1986 em um acidente de carro. A relação com Monteverde veio depois - ela se divorciou para ir morar no Rio Ética e Cidadania https://www.poder360.com.br/internacional/fome-extrema-atinge-mais-de-113-milhoes-no-mundo/ 35 com a nova paixão, que era empresário e foi fundador da rede Ponto Frio. Monteverde tirou a própria vida em 1969. Eles tiveram dois filhos. Depois, Lily se mudou para o ReinoUnido, onde morou por 10 anos. Ela chegou a casar em 1972 com um inglês, mas o casamento foi posteriormente anulado. Então conheceu Safra, na época o brasileiro mais rico do mundo. Os dois se aproximaram durante uma disputa em um leilão, segundo a revista Joyce Pascowitch. Edmond, já quarentão, ganhou e comprou a escultura, mas presenteou Lily com a obra. Libanês naturalizado brasileiro, era um homem muito discreto. Viveram muitos anos em Nova York, em uma cobertura repleta de pinturas e esculturas - arte era uma paixão de ambos. O casamento durou 23 anos, até que em 1999 Safra morreu. Em Mônaco, onde passavam temporadas, Edmond Safra foi vítima de um incêndio. Seu corpo foi achado na banheira de uma suíte, próximo ao de sua enfermeira. O julgamento sobre o caso considerou culpado pelo incêndio um de seus enfermeiros, Ted Mahrer, que teria ateado fogo a uma lixeira para salvar o patrão, como herói, depois. Trancado no banheiro por seis horas, o empresário morreu asfixiado pela fumaça. Safra lutou nos últimos anos de vida contra o Mal de Parkinson e tinha acompanhamento especializado em casa. Em 1998, ao revelar que sofria a doença, ele fez doação de 50 milhões de dólares a uma instituição de pesquisa sobre o tema. Desde a morte do marido, Lily passou a se desfazer de parte dos bens e se envolver mais com ações filantrópicas, com a Fundação Edmond J. Safra. Em 2004, ela doou 10 milhões de dólares à Universidade Harvard e o mesmo valor para uma entidade criada pelo ator Michael J. Fox para pesquisar a origem do Mal de Parkinson. Em 2005, colocou à venda 800 peças de sua coleção particular de arte pela casa de leilão Sotheby’s. “Minha vida e meus interesses mudaram, e já não tenho tempo nem escala nas casas para apreciar a coleção como fazíamos antes. Tive então que tomar uma decisão difícil: é hora de transferir aos outros o prazer de possuir estes tesouros”. Arrecadação. A campanha para reformar Notre-Dame arrecadou até agora quase 1 bilhão de euros. Entre os doadores famosos está François-Henri Pinault, marido da atriz Salma Hayek, do grupo Kering, que afirmou que vai contribuir com 100 milhões de euros. O grupo LVMH, da bilionária família Arnault, também doou € 200 milhões (R$860 milhões). A empresa francesa de cosméticos, L’Oréal, dará 200 milhões de euros, um valor agregado aos 200 milhões doados pelo grupo LVMH e aos 100 milhões prometidos respectivamente pela família Pinault e pela petrolífera Total. Ética e Cidadania 36 O presidente francês Emmanuel Macron disse que a França iria contar com ajuda de “talentos” para reconstruir a torre mais alta da construção, que ficou destruída. Ela afirmou que em 5 anos o local estará totalmente renovado e “ainda mais bonito” [...] Fonte: SAIBA quem é a brasileira que doou R$ 88 milhões a Notre-Dame. Correio 24 horas. 2019. Disponível aqui. Acesso em 10 ago. 2021. Vejamos possíveis análises para a questão da fome. Sob a ética do bem comum, quando comparamos as duas reportagens, logo nos vêm uma ideia de que a bilionária que doou milhões para a reconstrução da Catedral de Notre-Dame, na França, não está apresentando uma preocupação ética em relação aos números da fome africana, apresentada na segunda reportagem. Esse tipo de reflexão, na verdade, é importantíssimo para nossa compreensão sobre ética e moral. Pois vemos que, devido à bilionária ter tanto dinheiro e pensar na reconstrução de um patrimônio histórico da humanidade, a Catedral de Notre-Dame, poderíamos compreender que para sua moral (a moral que a formou e a cultura que pertence) há um sentido de nobreza em tal atitude. No entanto, podemos conceber como imoral a atitude dela em relação a não se disponibilizar para doar qualquer dinheiro para o combate à fome na África. Esta é só uma forma de debatermos questões contemporâneas com o olhar da ética e da moral. Semelhante a essa reflexão, vemos também a situação da violência que invade as escolas no mundo inteiro. Há diversos casos de jovens e adultos que cometeram atentados sem qualquer melindre, fazendo alunos e alunas inocentes vítimas fatais de suas ações, de forma que nos colocamos perplexos, sem palavras, transtornados e tristes diante dessas notícias. Ética e Cidadania https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/saiba-quem-e-a-brasileira-que-doou-r-88-milhoes-a-notre-dame/ 37 Figura 13 - Bullying Fonte: Pixabay Tal fenômeno suscita nossas reflexões sobre a moralidade do contexto em que ocorre, sobre nossas próprias crenças éticas e sobre se é possível explicar tais atitudes assassinas por uma suposta situação de violência que o assassino tenha sofrido na infância ou uma situação de bullying, por exemplo. Isso serviria para explicar que as escolas precisam estar atentas na formação de seus alunos, fortalecendo valores morais de bem comum, de promoção pessoal de cada aluno. Ética e Cidadania 38 IMPORTANTE: O importante em todas essas ideias e reflexões é compreender a relatividade das situações, além da profundidade e contextualização dos conceitos de ética e moral. Com isso, não estamos aqui a defender assassinos, indivíduos negligentes com a questão social, estamos mostrando que matar não é ético, mas a qual moral pertence àquele que o pratica. Dessa forma, consideramos que, na atualidade, com as situações desafiadoras trazidas pela era da globalização, a crise das representações políticas, a recessão econômica, a individualização, a tendência ao xenofobismo, o avanço das tecnologias digitais e os estudos das possibilidades de mutações genéticas, vemos a grande importância da educação para a formação da moralidade nos indivíduos. Bencostta (2007) afirma que as instituições educacionais são fundamentais para a aprendizagem de conhecimentos específicos na formação de indivíduos autônomos capazes de interagir com as diferentes situações que podem vivenciar no mundo contemporâneo. Vázquez (2003) nos lembra bem que a função social da moral deve ser a de regulamentação das relações entre os homens para contribuir na manutenção e garantia da sociedade. Além disso, a ética é uma prática diretamente relacionada à ação humana. Bencostta (2017) fala do trabalho de Svitras (2017), que reforça que a atividade em sala deve ser capaz de desenvolver habilidades e competências que colaborem e definam soluções para dilemas sociais. É na escola que se pode criar um ambiente ideal para prática e aprendizagem da ética e a formação do caráter; é possível falar de respeito, justiça, solidariedade e moral. Ética e Cidadania 39 O autor relaciona propostas de trabalho para que isso aconteça na escola: • Trabalhar conceitualmente – definir o conceito de ética e promover o debate criativo. Aceitar e mediar as opiniões das turmas. • Construir uma atividade relacional – fornecer desafios para que os alunos e alunas convivam com a diferença. • Incentivar a tomada de decisões – Levar alunos e alunas a pensar nas situações concretas e como seria decidir pelo certo ou errado naquela situação. Como exemplo, desde contar uma mentira para sair mais cedo da escola a até mesmo pensar a corrupção na política. • Jogar com situações limítrofes – apresentar situações em que o aluno é levado a pensar como se um familiar ou amigo estivesse em situação de risco, por exemplo. • Criação de regras com a turma – essa situação leva a debates quanto ao que os alunos querem para suas rotinas em termos de normas de conduta e o que realmente fazem, uma reflexão de pensamento e ação. Figura 14 - Discussão sobre ética na sala de aula Fonte: Freepik. Ética e Cidadania 40 SAIBA MAIS: Para você se aprofundar ainda mais neste tema, leia o artigo Moral e ética no mundo contemporâneo, de Yves de La Taille. Disponível aqui. RESUMINDO: Neste tópico, fomos capazes de revisar nossos conceitos de ética e moral, você percebeu? Pensando sobresituações do contexto contemporâneo, vimos que a ética está sempre ligada à nossa formação moral. Ética e moral são conceitos que devem ser trabalhados na educação formal, na escola. Não se pode prescindir de considerar que na crise de valores, os indivíduos deixem de agir desconsiderando a moral e a ética vigentes. Ética e Cidadania https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/125319/122350/237788 41 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Claudia C. MariaM.; SOARES, Keila K. Cristina C. Dambinski. Pedagogo Escolar: as funções supervisora e orientadora. Curitiba: Ibpex, 2010. ARANHA, Maria M. Lúcia. de Arruda.; & MARTINS, Maria M. Helena . P.. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2009. ARENDT, HannahH. A condição humana. Editora Forense. Rio de Janeiro, 2003. ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Brasília: UnB, 1997. BENCOSTTA, M. L. (org.) Culturas escolares, saberes e práticas educativas: itinerários históricos. São Paulo: Cortez, 2007. CARVALHO, José J. Murilo M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 11.ª ed. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2010. CORTELLA, M. S. Qual é a tua obra? Inquietações, propositivas sobre gestão, liderança e ética. Petrópolis: Vozes, 2009. DIMENSTEIN, G. O cidadão de papel: a infância, a adolescência e os direitos humanos no Brasil. São Paulo: Ática, 1994. FREIRE. Paulo. Educação e mudança. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011. LENZI, T. Quais os direitos e deveres do cidadão? Toda Política. ([s. d.]). Disponível em: https://www.todapolitica.com/direitos-deveres- cidadao/. Acesso em: 10 ago. 2021. LIVRARIA DA TRAVESSA. A Política. Aristóteles. Disopnível em: https://www.travessa.com.br/a-politica-2-ed-2009/artigo/7aa2381e- 5e88-46b4-8fab-316e9a3b657a. Acesso em: 10 ago. 2021. Ética e Cidadania http://marcosmucheroni.pro.br/blog/wp-content/uploads/2017/07/EticaMoral-300x205.jpg http://marcosmucheroni.pro.br/blog/wp-content/uploads/2017/07/EticaMoral-300x205.jpg https://www.travessa.com.br/a-politica-2-ed-2009/artigo/7aa2381e-5e88-46b4-8fab-316e9a3b657a https://www.travessa.com.br/a-politica-2-ed-2009/artigo/7aa2381e-5e88-46b4-8fab-316e9a3b657a 42 MARSHALL, T. H. Cidadania e Classe Social [Ed. atual trad. e rev. Por EaD/CEE/MCT], 2. ed. Brasília: Senado Federal, Centro de Estudos Estratégicos, Ministério da Ciência e Tecnologia, 2002. OLIVEIRA, B. Resenha: o cidadão de papel – Gilberto Dimenstein. 2014. Blog do Ben Oliveira. Disponível em: http://www.benoliveira. com/2014/06/resenha-o-cidadao-de-papel-gilberto-dimenstein.html. Acesso em: 10 ago. 2021. SÁ, A. L. de. Ética profissional. 9.. ed. São Paulo: Atlas, 2010. SABEDORIA POLÍTICA. Hobbes, Locke e Rousseau. Disponível em: http://files.sabedoriapolitica.com.br/system_preview_detail_200002470- 0c2160e149-public/Hobbes%20Locke%20Rousseau.jpg. Acesso em: 10 ago. 2021. SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000. SAIBA quem é a brasileira que doou R$ 88 milhões a Notre-Dame. Correio 24 horas. 2019. Disponível em: https://www.correio24horas.com. br/noticia/nid/saiba-quem-e-a-brasileira-que-doou-r-88-milhoes-a- notre-dame/aqui. Acesso em: 25 abr. 2019. SÁNCHEZ VÁZQUEZ, A. Ética. Tradução de João Dell’Anna. 24. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. WEFFORT, F. Os clássicos da política. São Paulo: Editora Ática, 1989. WELLE, D. Fome extrema atinge mais de 113 milhões no mundo. Poder 360. 2019. Disponível em: https://www.poder360.com.br/ internacional/fome-extrema-atinge-mais-de-113-milhoes-no-mundo/ aqui. Acesso em: 10 ago. 2021 Ética e Cidadania http://www.benoliveira.com/2014/06/resenha-o-cidadao-de-papel-gilberto-dimenstein.html http://www.benoliveira.com/2014/06/resenha-o-cidadao-de-papel-gilberto-dimenstein.html http://files.sabedoriapolitica.com.br/system_preview_detail_200002470-0c2160e149-public/Hobbes%20Locke%20Rousseau.jpg http://files.sabedoriapolitica.com.br/system_preview_detail_200002470-0c2160e149-public/Hobbes%20Locke%20Rousseau.jpg https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/saiba-quem-e-a-brasileira-que-doou-r-88-milhoes-a-notre-dame/ https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/saiba-quem-e-a-brasileira-que-doou-r-88-milhoes-a-notre-dame/ https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/saiba-quem-e-a-brasileira-que-doou-r-88-milhoes-a-notre-dame/ http://files.sabedoriapolitica.com.br/system_preview_detail_200002470-0c2160e149-public/Hobbes%20Locke%20Rousseau.jpg http://files.sabedoriapolitica.com.br/system_preview_detail_200002470-0c2160e149-public/Hobbes%20Locke%20Rousseau.jpg Ética Profissional Ética e Cidadania Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANA LUCIA GUIMARÃES AUTORIA Ana Lucia Guimarães Olá! Sou doutora em Ciências Humanas e tenho mais de 20 anos de atuação como professora na Educação Superior. Além disso, tenho 12 anos de militância como dirigente sindical da causa dos professores, o que me agrega conhecimentos e experiências para ser autora desta disciplina. Portanto, atuar e defender a causa da educação laica, democrática e de qualidade é mais do que um princípio em minha formação e trajetória profissional, é um compromisso de ofício. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Ética no Mundo do Trabalho .................................................................. 10 A Ética e a Sociedade Globalizada..................................................................................... 10 Problemas Éticos nas Profissões .......................................................... 17 Código de Ética das Profissões: Conceitos e Finalidades ..........22 Ética em Profissões não Regulamentadas .......................................27 7 UNIDADE 02 Ética e Cidadania 8 INTRODUÇÃO Você sabia que pensar sobre ética em tempos atuais nos leva a ter de compreender cada vez mais as transformações sociais, econômicas e políticas em nossas vidas? No cenário de agudas mudanças trazidas pela globalização, vemos uma acentuada necessidade de atuar com ética para que a sociedade e as relações humanas possam acontecer de forma íntegra. Temos, ainda, a reflexão sobre nossa conduta e atuação no mundo profissional. Portanto, precisamos saber como o conceito de ética colabora para definir determinados olhares e ações em diferentes profissões. O mundo do trabalho mudou, as situações que se apresentam são inovadoras, mas, e quanto aos códigos de conduta no ambiente de trabalho? Será que eles possuem sua validade?Vamos lá! Este é um convite para aprimorarmos mais esses temas. Ética e Cidadania 9 OBJETIVOS Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Distinguir e compreender como o conceito de ética tem sido utilizado na sociedade contemporânea. 2. Interpretar como problemas éticos podem se apresentar nas profissões em cenários atuais. 3. Explicar a importância do código de ética para as diferentes profissões. 4. Demonstrar como se desenvolvem princípios éticos em profissões não regulamentadas. Então, preparado para imergir nos estudos sobre ética e trabalho? Vamos juntos ao conhecimento! Ética e Cidadania 10 Ética no Mundo do Trabalho OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você deverá distinguir e compreender como o conceito de ética tem sido utilizado na sociedade contemporânea. Sobretudo, ser capaz de avaliar diferentes situações que ocorrem no dia a dia de nossas rotinas de trabalho e que suscitam frequentemente uma ação fundada no conceito de ética, que aprendemos na unidade passada. .Vamos lá! A Ética e a Sociedade Globalizada Bauman (1999) nos apresenta a ideia de que a globalização é um processo do qual não conseguimos fugir, ela está em toda parte, seja financeira ou culturalmente, invadindo nossas vidas e intensificando as trocas comerciais, culturais, sociais e políticas. Todo esse movimento, para o autor, gera mudanças nos costumes, tradições e valores. Ele aponta que a globalização tem o mérito de aproximar e distanciar culturas e mundos diferentes. Essa dinâmica, em seu olhar, pode gerar exclusões e/ou segregações de indivíduos e grupos. Segundo ele, não há fixidez para os centros de produção de significado e valor, pois estes são extraterritoriais e emancipados de restrições locais. É a condição humana que dá sentido a esses valores. Complementando essa visão, vemos em Forrester (1997) que a evolução tecnológica e a globalização trazem, além da crise de emprego, uma profunda redefinição da humanidade civilizada, revelando um mundo em que uma minoria de indivíduos passa a ter valor na vida social e produtiva. Os desempregados são os excluídos, e o capitalista não se preocupa com mais nada além do lucro, o que agrava a questão dos problemas sociais. Iniciamos nossos estudos sobre ética e moral procurando entender a definição desses conceitos e a diferença entre eles. Ética e Cidadania 11 Figura 1 - Globalização Fonte: Freepik. Essa introdução marca bem o cenário da globalização que vivenciamos nos dias atuais. A globalização como processo dinâmico não se manifesta igualmente em todos os lugares, observe as características deste fenômeno: • Homogeneização de centros urbanos e hibridização cultural - tendência a considerar países e comunidades como uma aldeia global. Tendência a padronizar gostos e preferências culturais. Por isso, a globalização é também conhecida como mundialização. Diferentes movimentos de aculturação e transculturação, gerando hibridização, apontando novas culturas que surgem pelo profundo e intenso contato que os países iniciam e investem. • Amplitude de corporações para regiões fora de seus núcleos geopolíticos - as trocas comerciais se intensificam e, por conta disso, as corporações passam a ter sedes, matrizes e pontos de negócios em várias localidades em nível mundial. Ética e Cidadania 12 • “Boom” da tecnologia nas comunicações e na eletrônica - a chegada da internet torna mais fácil comunicar-se, além de facilitar a geração de informações e dados sobre diferentes campos da vida e da Ciência. O advento das redes sociais. • Redefinição geopolítica do mundo em blocos comerciais - o mundo passa a ser considerado a partir das alianças comerciais e financeiras que os países conseguem formar. Figura 2 - Hibridização cultural Fonte: Pixabay. Ética e Cidadania 13 DEFINIÇÃO: Hibridização cultural: processo de troca entre culturas em contato, que gera uma cultura “nova” em um grupo, diferente dos valores, hábitos e tradições que antes definiam as culturas que entraram em contato. Como se uma cultura em contato com a outra gerasse influência para mudanças. Forte presença de aculturação e transculturação. Podemos nos perguntar que tipos de problemas éticos surgem com todas essas transformações. Logo, identificaremos uma sucessão deles. Enfim, a ética no contexto de globalização nunca esteve tão suscitada, isso pois, com as redefinições socioculturais, misturas de valores e trocas de rotinas culturais, é comum que os indivíduos se confundam. Porém, é preciso atentar que a ética continua a informar sobre o bem comum, sobre a preservação do outro e da sociedade em que se situa. Na verdade, é muito mais que isso, trata-se de considerar a saúde mundial. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso ao vídeo: “Contraponto | Ética e Globalização”, o qual traz uma boa discussão sobre a transformação das culturas. Disponível aqui. Pensar sobre a globalização pela ótica moral é pensar e situar- se no bojo da velocidade de informações e intensidade das trocas comunicacionais, pois nada escapa das inferências e postagens trazidas pela facilidade da internet em nosso dia a dia. O neoliberalismo e a liberdade de mercado, do ponto de vista econômico da globalização, nos leva a uma realidade em que poucos usufruem da riqueza geral do planeta e muitos vivem em condições de necessidades extremas. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=1E2Tx48J5vQ 14 Dessas primeiras situações, indagamos que seria ético pensar cada vez mais em amplitude de lucros para uma minoria e precarização e exclusão social para a grande maioria diante de um cenário neoliberal da economia global. Quanto às redes sociais, as criações e divulgações de notícias tornam-se verdades absolutas para quem as lê e que, muitas vezes, não tem acesso à educação crítica que permita escrutinar, investigar e debater aquela informação, em busca da verdade. Figura 3 - Redes sociais e questões éticas Fonte: Pixabay. Santos (2003) afirma que a globalização mostra a face de um mundo mágico, em que todos podem ter tudo na palma da mão. Existem diferenças locais profundas que não se encaixam em homogeneização geopolítica de forma alguma. Há um incentivo ao consumo exagerado, o que leva as pessoas a passarem umas por cima das outras para adquirir coisas e valores que, muitas vezes, não estão ao seu alcance financeiro, por exemplo. Essa reflexão do autor nos leva a entender que o conceito de ética balança e fragiliza-se diante de tantas solicitações fantasiosas. Ética e Cidadania 15 O autor avança em seus estudos e ainda procura demonstrar que há um desemprego estrutural, profissões extinguem-se, e a questão da ocupação profissional é crônica e aguda, uma vez que os indivíduos batem cabeça para inserirem-se e reinserirem-se no mercado de trabalho em transformação. DEFINIÇÃO: Desemprego estrutural: aquele que é dado pelas transformações na estrutura econômica mundial ou local. As novas tecnologias inovam na criação de empregos. No caso da globalização, vemos que muitas profissões acabam e outras são criadas, mas há um distanciamento entre a criação de novos postos de trabalho e a preparação de recursos humanos para ocupá-los. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso ao vídeo: “Aprendi Mais Essa... Desemprego Estrutural”, o qual traz uma boa discussão sobre a questão moral e ética no mundo globalizado. Disponível aqui. O vídeo é uma boa referência de aprendizagem, sendo assim, conforme o vídeo, ficam muitas reflexões sobre a questão moral, a ética que deve prevalecer em nosso mundo globalizado. O que precisamos entender é que a ética a ser trabalhada hoje é a ética do consenso, da boa vontade, da gentileza e da solidariedade. O sentimento deindividualismo trazido por esse cenário colabora para um pensamento de que “cada um deve ser por si e Deus por todos”. Assim, os indivíduos isentam-se da responsabilidade de cuidar do outro. A solução para os problemas de ordem moral que emanam da globalização está no diálogo e no reforço de que ainda podemos sustentar um mundo de respeito e cuidado uns com os outros. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=sm45WbQ1ZXI 16 O próprio respeito ao ecossistema planetário é uma discussão ética muito longa, pois exige das empresas e dos indivíduos um olhar de sustentabilidade e responsabilidade social com o planeta, isto é, não deveria ser possível avançar economicamente sem impor limites à degradação da natureza. Um caso recente, no Brasil, que nos evidencia essa realidade foi o que ocorreu em 2019 em Brumadinho, MG. SAIBA MAIS: Em seguida, assista ao vídeo: “Profissão Repórter - Brumadinho”, o qual traz uma boa discussão sobre o respeito ao ecossistema planetário. Disponível aqui. Concluindo, a globalização é o resultado das relações humanas e precisa, então, haver uma tomada de consciência para a busca de soluções mais próprias, diferenciais, para os problemas recorrentes e emergentes que se desenvolvem diante das mudanças e propostas da mundialização. Se não tomarmos consciência da necessidade do bem comum, a humanidade terá de pagar um preço pelas ações irracionais e fora do terreno ético que vem propagando. RESUMINDO: Nos estudos apresentados neste tópico, tratamos de apresentar o cenário da globalização, seus conceitos e suas perspectivas diante do conceito de ética. Falamos sobre avanço econômico e sustentabilidade humana, procuramos debater que a ética é um princípio fundamental para um mundo em que a revolução tecnológica e a redefinição das mudanças no mundo do trabalho são um fato e velozes. E você, como enxerga essa relação ética e a globalização? Ética e Cidadania https://globoplay.globo.com/v/7565666/ 17 Problemas Éticos nas Profissões OBJETIVO: Pensar em um problema ético nos remete a um problema de desvio de conduta. Nesse sentido, iniciamos o debate ressaltando que a ética, presente na nossa vida e na sociedade, como um todo, é de vital importância também no mundo do trabalho. Por isso, os valores éticos devem ser ensinados, processados e praticados para a preservação da sociedade. . Como campo de Filosofia, a ética interpõe-se na relação entre os indivíduos. O que pretendemos ensinar é que todo e qualquer profissional deve estar atento para manter sua integridade ética em qualquer ambiente de trabalho, porque certamente irá se encontrar com indivíduos que não comungam da boa ética. Com isso, a chamada “boa ética” nos informa que, no mundo do trabalho, é preciso ser honestamente íntegro e um fiel seguidor das regras de conduta expressas nas leis, códigos e documentos normativos de sua profissão e de seu ambiente de trabalho. Faleiros (2006), teórico do Serviço Social, ao refletir sobre inclusão social e cidadania, conceitos-chave para nosso olhar sobre ética profissional, orienta que ambos se tratam de processos complexos, históricos, diversificados, de mobilidade, de redução da desigualdade, da polarização, da assimetria, de formas desiguais de implicação dos sujeitos e de afirmação da identidade, da segurança, do trabalho, da efetivação dos direitos, da criação de oportunidades, da formação de conhecimentos, competências e habilidades, do fortalecimento dos laços sociais, do respeito, da vida digna e da justiça. Ou seja, conceitos que pesam a presença de uma ida coletiva respeitosa. Também Silveira (2005) atribui as transformações sociais ao resultado da interação de pessoas, sujeitos da sua própria história que desejam essa transformação. Por isso elas mesmas devem desejar mudanças de atitudes e comportamentos para atingir esse fim. No ambiente de trabalho, em nossa consideração, é um princípio a tomada de consciência para práticas e atitudes éticas. Ética e Cidadania 18 Figura 4 - Pensando ética nas profissões Fonte: Freepik. Se formos criar um tipo ideal de profissional virtuoso para destacar a ideia de virtude aristotélica, esse profissional seria o exemplar, aquele que busca atingir suas metas com zelo em sua moral, conforme nos mostra Cortina (2005). O autor chama a atenção para o fato de que, em contexto de trabalho, é mesmo necessário exigir que a competência se dê não só em relação às atividades materiais a serem desenvolvidas, mas também em relação às aptidões envolvidas nelas. Isso, segundo ele, pode levar a uma concorrência desenfreada, mas que precisamos ter em destaque o profissional virtuoso, que alcança as finalidades internas projetadas. Para tanto, é necessário que, apesar da concorrência desenfreada, sejam preservados os valores morais presentes no pluralismo social, em detrimento de valores e códigos particulares. Ética e Cidadania 19 SAIBA MAIS: Para saber que a ética faz parte das ações cotidianas, vamos ler mais pouco? Acesse o texto: A concepção de felicidade na Ética aristotélica. Disponível aqui: A ética das profissões precisa guardar em si, enquanto manual e roteiro de orientação às diferentes profissões, os valores universais, como igualdade, justiça, solidariedade, colaboração, honestidade, respeito, entre outros. Práticas profissionais diversas precisam considerar todos os ângulos dos envolvidos na profissão dentro e fora de seu ambiente de trabalho, bem como as perspectivas e aprendizagens da moral social. DEFINIÇÃO: Ética na profissão: agir em seu ambiente de trabalho de acordo com os valores morais universais, bem como considerando o código de conduta específico dele. A conduta profissional virtuosa é aquela em que se observa o cumprimento de projetos e metas profissionais com observância da moral social e da profissão em questão.. Vamos passar agora a examinar alguns problemas éticos no mundo do trabalho. Morgan (1996) sinaliza, em seus estudos, que empregados podem trazer para o ambiente de trabalho visões particulares de seus projetos de ascensão de carreira, mas que, por buscar um alvo futuro de progresso na carreira, as aspirações individuais do empregado podem alinhar-se com as aspirações coletivas do ambiente em que trabalha. Sá (2001) afirma que a utilidade individual de quem exerce uma profissão é superada pelas características sociais e morais desta. Como ideias suas, ele lista os fatores que reforçam essa visão: a profissão provê destaque e realização aos indivíduos; o homem eleva seu nível moral a partir do exercício profissional; na profissão, o homem torna-se útil à sua comunidade. Ética e Cidadania https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-concepcao-felicidade-na-Etica-aristotelica.htm 20 Finalizando este debate, por ora, vemos, em Lisboa e colaboradores (1997), os quatro elementos necessários à conduta ética nas profissões e que, portanto, devem constar nos manuais normativos das empresas: competência, sigilo, integridade e objetividade. Figura 5 - Ética e profissões: dilemas Fonte: Pixabay. Podemos vislumbrar alguns problemas éticos nas profissões: 1. Se eu trabalho com transporte público, devo considerar o semáforo e suas orientações. Entretanto, na prática vemos esses veículos avançarem o sinal. 2. Um funcionário vê uma situação prejudicial à Empresa, mas o colega envolvido o corrompe em troca do seu silêncio. 3. O profissional que fica olhando o relógio e enrolando para passar seu horário de trabalho, sem produzir. 4. O médico que fica falando no celular e deixa o paciente aguardando na sala de espera. 5. O professor que libera alunos antes do horário de término da aula e bate o ponto no horário correto. 6. O vendedor que vende “gato por lebre” e engana o cliente com produto de má qualidade. Ética e Cidadania 21 Esses são apenas alguns exemplos básicos de condutas antiéticas em diferentes meios de trabalhoe profissões. Figura 6 - Condutas profissionais Fonte: Freepik. ACESSE: Para saber que é necessário um comprometimento no ambiente profissional, vamos ler mais pouco? Acesse o texto: “Comprometimento e ética profissional: Um estudo de suas relações junto aos contabilistas”. Disponível aqui. RESUMINDO: Neste capítulo, vimos como é importante associar as condutas pessoal e profissional para manter nosso emprego e aspirações de projeção profissional. Vimos que não é possível acreditar que, em um ambiente profissional, nossos gostos e desejos devem imperar. A moral coletiva deve ser preservada. Assim, destacamos o quanto é importante preservar valores de solidariedade e companheirismo nas práticas profissionais. O profissional da atualidade é constantemente exposto a situações em que precisa reforçar sua conduta ética. Você percebeu o quanto a ética no ambiente de trabalho pode abrir ou fechar portas? Ética e Cidadania http://www.scielo.br/pdf/rcf/v18n44/a06v1844.pdf 22 Código de Ética das Profissões: Conceitos e Finalidades OBJETIVO: Para pensar sobre o valor da conduta ética nas profissões, trataremos agora da normatividade que está presente no universo profissional, a discussão e a apresentação do código de ética. . Um campo da Filosofia que aborda diretamente o conjunto de normas éticas na sociedade é a Deontologia. DEFINIÇÃO: Deontologia: surge das palavras gregas “déon, déontos” que significam “dever” e “lógos”, que se traduzem por discurso ou tratado. Sendo assim, a Deontologia seria o tratado do dever ou o conjunto de deveres, princípios e normas adotadas por um determinado grupo profissional. (Fonte: Portal Educação. Disponível aqui). A importância do código de ética para os profissionais e para as empresas localiza-se no fato de que há um princípio universal que devemos usar: bom senso para tomar decisões sem ignorar o bem-estar do outro. Nesse sentido, as empresas, na atualidade, organizam seus códigos de conduta a partir de seu pensamento de visão e missão a serem desenvolvidos em suas atividades. Piaget (1996) destaca que a importância das regras é algo vital, pois as regras funcionam como se fossem intangíveis, imutáveis, a moral que impõe a coerção. Levam a um respeito único. No entanto, se dependerem de costumes, precisam da cooperação de todos para se efetivarem. Ética e Cidadania https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/enfermagem/definicao-de-etica/33305 23 Freire (1996) afirma que o respeito ao outro, a coerência, a convivência com a diferença, o evitar a antipatia e o mal-estar ao outro devem ocupar um lugar especial na ação dos indivíduos em qualquer espaço. Para o autor, quem promove intrigas, desavenças e atritos não está no terreno da ética. Assim, vemos em Chauí (1999) que a existência da conduta ética pressupõe a agência consciente do indivíduo, pois só ele tem a capacidade de discernir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, o permitido e proibido, a virtude e o vício. Com essas primeiras reflexões, imaginamos o porquê de as empresas adotarem códigos de ética. Vejamos alguns motivos: • Dar um parâmetro de segurança para a condução das relações. • Homogeneizar o tratamento de encaminhar as diferentes questões profissionais. • Incentivar a integração de seus funcionários. • Criar um ambiente de trabalho harmonioso que incremente mais a produção. • Desenvolver nos funcionários a sensação de que convivem em bem-estar e precisam oferecer esse mesmo bem-estar aos clientes e fornecedores. • Consolidar práticas de comprometimento profissional. • Investir em lealdade e fidelidade do cliente. • Agregar valor à empresa e garantir a existência sustentável dela. DEFINIÇÃO: Código de ética: define-se como um instrumento de síntese normativa da filosofia da empresa, de como ela pensa e constrói sua visão e seus valores. Funciona como um verdadeiro roteiro normativo para orientar as ações dos funcionários e as ações corporativas em relação ao mundo exterior na representação da empresa. Ética e Cidadania 24 Chanlat (1999) apresenta a real necessidade de se pensar a questão ética no interior das empresas, ele cita o conceito de ética das responsabilidades de Weber para dizer que esta leva os indivíduos a refletirem sobre as consequências de sua ação em relação aos outros. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar nesse tema? Recomendamos o acesso ao Vídeo: “A importância de se ter e praticar um Código de Conduta Ética na empresa”. Disponível aqui. Heemann (1993) avalia que, ao pensar nas atitudes envolvendo o que é certo e o que é errado, os padrões de discernimento dos indivíduos, sejam privados ou sociais, consideram três grupos: o teleológico, voltado para consequências; o deontológico, em que o padrão da decisão moral se volta para o bem produzido e sua dimensão coletiva; o relativista, envolvendo a recusa de princípios relativistas por conta de estar vivenciando um mundo instável. Figura 7 - Código de ética e diretrizes profissionais Fonte: Freepik. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=JKlqqRmg73U 25 Com isso, faz-se primordial dizer que os códigos de ética das diferentes profissões, bem como das organizações, direcionem profissionais para atuações morais e que elevem o padrão de existência de seus campos de atuação. Um código de ética profissional guarda em si normas éticas, que devem servir de baliza para profissionais no exercício de seu trabalho. Ele é elaborado pelos conselhos, os quais podem fiscalizar o exercício da profissão. Veja a seguir quais são os deveres éticos dos representantes: • No âmbito de suas obrigações profissionais, na realização dos interesses que lhe forem confiados, deve agir com a mesma diligência que qualquer comerciante ativo e probo costuma empregar na direção de seus próprios negócios. • Zelar pela existência e finalidade do Conselho Federal e Conselho Regional a cuja jurisdição pertença, cumprindo e cooperando para fazer cumprir suas recomendações. • •Prestar suas contas na forma legal, com exatidão, clareza, dissipando as dúvidas que surgirem, sem obstáculos ou dilações. • Informar e advertir o representado dos riscos, incertezas e demais circunstâncias desfavoráveis de negócios que lhe forem confiados, sobretudo em atenção às momentâneas variações de mercado locais. • Envidar esforços para que suas relações com o representado sejam contratadas por escrito, com todos os requisitos legais bem definidos. • Conduzir-se sempre com lealdade nas suas relações com os colegas (PORTAL EDUCAÇÃO, s. d.). É de fundamental importância que se esclareça que o não cumprimento de uma regra, seja ela do código de ética de uma empresa na qual se trabalha, ou da profissão que se exerce, implica em punições e sanções que podem ir do desligamento do funcionário até a cassação de sua licença para atuar em determinada profissão. Em alguns casos, se estende a uma grande celeuma jurídica. Ética e Cidadania 26 Figura 8 - Julgamento de infração ao Código de Ética Fonte: Freepik. Compreender que a garantia do cumprimento da lei é verdadeira em questões em que uma das partes se sente lesada é uma necessidade. Quando o contratante percebe, ou percebeu, que o trabalhador não cumpriu sua função especificamente com o que está dito na regulamentação ou, ainda, quando o contratado, aquele que solicitou os serviços, rompe com o cumprimento de algum dos direitos do profissional previstos em lei. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar nesse tema? Recomendamos a leitura da Reportagem sobre Emissão de Atestado médico falso. Disponível aqui. RESUMINDO: Neste capítulo, você aprendeu mais sobre códigos de ética nas profissões e empresas. Como destaque, fizemos um relevo mostrando a capacidade de ajuste que o funcionário deve ter para trabalhar de acordo com a questão normativa de conduta que cada empresa demanda. Além disso, mostramos osprincípios dos códigos das profissões. É muito importante conhecer o código de ética da profissão que você escolheu seguir, a fim de evitar consequências desagradáveis no não cumprimento das normas. Ética e Cidadania https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=25633:2015-07-28-15-18-07&catid=46 27 Ética em Profissões não Regulamentadas OBJETIVO: Agora que aprendemos sobre código de ética e seus desdobramentos, é preciso compreender que existem profissões que não possuem regulamentação por conselhos e órgãos oficiais do Governo, mas elas existem e é importante saber como se dá a ética nesses casos. Sobre essa situação de regulamentação e não regulamentação, podemos entender que todas as profissões possuem direitos e obrigações tanto para patrões quanto para empregados. Quando uma profissão é regulamentada, pode ser que exista uma legislação específica própria, que nomeamos a seguir: • Carteira profissional. • Cédula profissional e piso salarial. • Piso de honorário. • Jornada de trabalho. • Exames médicos. • Órgãos reguladores. • Licença. Figura 9 - Ética nas profissões Fonte: Freepik. Ética e Cidadania 28 IMPORTANTE: É fundamental destacar que o fato de não ser regulamentada não significa que não existe preocupação com a qualidade da formação e com o reconhecimento da atividade profissional. O que de fato garante a inserção e a continuidade de um profissional no mercado não é somente a sua regulamentação ou não, mas sobretudo sua competência para atuar na profissão que escolheu. Figura 10 - Debate da regulamentação Fonte: Pixabay. Por que algumas profissões são regulamentadas e outras não? Na verdade, a explicação para essa situação volta-se para o fato de que o Estado sempre regulamenta uma profissão quando considera que seu exercício indiscriminado pode colocar em risco a sociedade. Por isso, existem os conselhos profissionais, autarquias federais de direito público, para fiscalizar o exercício profissional. Quando uma profissão ainda não é regulamentada, não há uma observância normativa direta sob seu exercício, no entanto, em relação à questão ética, os profissionais devem se pautar na moral vigente como um todo. As profissões em si constroem suas rotinas e atribuições enquanto se organizam de forma corporativa e acadêmica. No próprio aparato legal da sociedade, podemos encontrar a capacidade de poder julgar e condenar pelo olhar de um mal exercício de um serviço ou profissão em relação ao mundo social. Ética e Cidadania 29 SAIBA MAIS: Quer se aprofundar nesse tema? Recomendamos a leitura da “Reportagem sobre a regulamentação de profissões”. Disponível aqui. Figura 11 - Diferentes profissões Fonte: Freepik. Pesquisando o artigo 5º, inciso XIII da Constituição Federal de 1988, vemos que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, exceto as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Observamos, ainda, que a legislação abre a possibilidade de, no interesse da sociedade, criar restrições em situações especiais por meio de uma regulamentação. Portanto, anteriormente ao fato de se regulamentar qualquer profissão, deve ser considerado se o exercício profissional da área pode causar danos sociais ou expor vidas humanas, conforme já abordamos aqui. Ética e Cidadania https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2011&ac=161946 30 Figura 13 - Mundo de profissões Fonte: Freepik. A questão da regulamentação das profissões é também muito complexa no Brasil. Afinal, existem muito mais do que 300 profissões no mundo do trabalho. Sem falar nas novas que surgem de tempos em tempos. Podemos nos referir ao campo de tecnologia e também da internet. Hoje já se fala, por exemplo, em regulamentar a profissão de Youtuber. Ou seja, terão que estabelecer seu código de ética também. Uma discussão grande sobre o risco que esse profissional pode trazer à sociedade é a disseminação e produção de informações e verdades absolutas falsificadas da realidade. Ética e Cidadania 31 SAIBA MAIS: Para saber que existem profissões que ainda não são regulamentadas e poder entender como ocorrem esses procedimentos, vamos assistir ao vídeo: “Regulamentação do Youtuber”, Disponível aqui. RESUMINDO: Neste capítulo, aprendemos a diferença entre uma profissão regulamentada e uma não regulamentada. Entendemos, ainda, que não é porque a profissão não é regulamentada que deixa de ser importante ou passa a ser menos valorizada. Avançamos sobre a inserção profissional sem regulamentação e concluímos que o que mantém o indivíduo com sua profissão no mundo do trabalho e reconhecido é muito mais sua competência e referência ética, que pode não estar em um código, mas está em sua moral de origem e sua preocupação com o bem do outro. E você, percebeu como é um sujeito ético no mundo das profissões? Ética e Cidadania http://g1.globo.com/globo-news/estudio-i/videos/v/entenda-como-e-o-projeto-de-lei-que-quer-regulamentar-a-profissao-de-youtuber/7145021/ 32 REFERÊNCIAS BAUMAN, Z. Globalização: As consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. CASTEL, R. As Metamorfoses do Trabalho. In: FIORI, J. L. et al. Globalização: o fato e o mito. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1998. CHANLAT, J. Ciências sociais e management: reconciliando o econômico e o social. São Paulo: Atlas, 1999. CORTINA, A. Cidadãos do mundo. Petrópolis; RJ: Vozes, 2005. FALEIROS, V. de P. Palestra proferida na ICSW32. Brasília, 2006. FORRESTER, V. O Horror Econômico. São Paulo: Ed. Unesp, 1997. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. HEEMANN, A. Natureza e ética. Curitiba: Editora da UFPR, 1993. LISBOA, L. P. et al. Ética Geral e Profissional e Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1997. MORGAN, G. Imagens da organização. Tradução de Cecília Wiltaker Bergamini, Roberto Coda. São Paulo: Atlas, 1996. PIAGET, J. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994. PORTAL EDUCAÇÃO. Código de ética da profissão. [s. d.] Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/ codigo-de-etica-da-profissao/62000. Acesso em: 28 jul. 2019. SÁ, A. L. de. Ética profissional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001. SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. SILVEIRA, M. C.; REIS, C. L. Expo Brasil Desenvolvimento Local. Ultra-Set Editora, 2005. Ética e Cidadania https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/enfermagem/definicao-de-etica/33305 https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/enfermagem/definicao-de-etica/33305 Ética nas Relações Interpessoais e na Educação Ética e Cidadania Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANA LUCIA GUIMARÃES AUTORIA Ana Lucia Guimarães Olá! Sou doutora em Ciências Humanas e tenho mais de 20 anos de atuação como professora na Educação Superior. Além disso, tenho 12 anos de militância como dirigente sindical da causa dos professores, o que me agrega conhecimentos e experiências para ser autora desta disciplina. Portanto, atuar e defender a causa da educação laica, democrática e de qualidade é mais do que um princípio em minha formação e trajetória profissional, é um compromisso de ofício. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDOMELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Ética nas Relações Humanas ................................................................. 10 Diversidade Cultural, Étnica, Religiosa e de Gênero ............................................ 10 Ética e Cidadania na Sociedade Tecnológica ................................ 21 Intolerância, Racismo e Xenofobia ...................................................... 25 Ensino da Ética nas Instituições ............................................................ 31 7 UNIDADE 03 Ética e Cidadania 8 INTRODUÇÃO Iniciamos mais uma etapa para pensar a questão da ética nas relações humanas. Em nosso debate e aprendizagem, temos muitos temas para abordar, desde a diversidade cultural até a xenofobia. Falamos tanto em considerar o bem comum, em construir uma cidadania de liberdade e respeito ao outro e, agora, chegamos ao momento de saber se estamos entendendo sobre como estão e como devemos considerar as relações humanas do ponto de vista moral. Será que ser de uma religião ou cultura diferente nos faz tratar nossos vizinhos, parentes e amigos de forma hostil ou segregadora? Vamos estudar e conhecer mais estas realidades e apostar no conceito de ética que nos trouxe até aqui. Vamos adiante! Ética e Cidadania 9 OBJETIVOS Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1.Explicar os estudos sobre diversidade cultural, étnica, religiosa e de gênero. 2.Interpretar as questões éticas e a relação com os princípios de cidadania na sociedade tecnológica. 3.Identificar questões vinculadas ao debate sobre intolerância, racismo e xenofobia. 4.Demonstrar a importância do ensino da ética nas instituições. Então, preparado para aprofundar os estudos da ética nas relações humanas? Seguimos juntos na aventura do conhecimento! Ética e Cidadania 10 Ética nas Relações Humanas OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você deverá estar dominando a possibilidade de explicar os estudos sobre diversidade cultural, étnica, religiosa e de gênero, além de perceber que é possível conviver com a diferença de forma respeitosa e harmônica. Você conceberá a ética como um conceito- chave para as relações humanas. Vamos lá, temos muito a aprender!. Diversidade Cultural, Étnica, Religiosa e de Gênero Nada mais oportuno do que entender cultura e diversidade cultural após termos debatido muito as demandas do conceito de ética. Assim, vamos iniciar tecendo a definição de cultura. Lembrando logo de início que cada um tem a sua, e a vida segue rica e bem fecunda porque somos diferentes, mas podemos comunicar nossas diferenças e construir novas possibilidades de viver. Geertz (1989), ao abordar os estudos sobre cultura, refere que a atividade do antropólogo é interpretar, cada cultura pode ser entendida como um texto. Cada texto é uma interpretação. Para ele, a cultura constitui-se como formas de ações significativas, simbólicas. A cultura parece estar oculta na mente dos homens e se expressa em suas ações. Ele afirma que é possível enxergar a cultura de um povo porque ela está expressa em suas relações sociais. O autor mostra que a cultura se revela a partir de uma descrição densa, pois são as ações produzidas, percebidas e interpretadas que a definem. Geertz (1989) está, então, atrás da teia de significados de cada sociedade. Ele não defende a ideia de ter que “se tornar um nativo” para conhecer a fundo uma cultura, mas sim estar familiarizado com o grupo que se pretende compreender. Ética e Cidadania 11 Figura 1 - Cultura como teia de significados Fonte: Freepik. É importante o destaque trazido pelo antropólogo sobre a cultura ser compreendida pela teia de significados, isso porque, se as relações se traçam com interligações de valores e símbolos e tradições, tudo o que dá sentido dinâmico à cultura vemos com olhos de necessidade de compreensão do que vem a ser a diversidade cultural. O autor mostra que o ponto de vista do nativo é sempre uma construção cultural que se dá após a pesquisa. Cada cultura define o que é “ser humano”. O antropólogo só tem acesso a isso a partir desses símbolos. Para Geertz (1989), as situações universais são sempre descritas de forma singular, seu enfoque privilegia as situações particulares. Dessa forma, a cultura é única para cada grupo e singular em cada indivíduo. No mundo, existem milhares de trações culturais, símbolos, pensamentos, manifestações e identidades culturais, tal diversidade enriquece nosso mundo social. Para Cuche (2012), o conceito de identidade ganha destaque com o nascimento do multiculturalismo, o qual nos mostra a face de que os imigrantes e as diversas minorias buscam o direito da diferença, o direito de ter uma identidade própria digna de respeito. Em contrapartida, os grupos maioritários colocam em debate tal pretensão, temendo, entre a expansão de múltiplas identidades que competiriam para enfraquecer e fragmentar a identidade nacional, a própria sustentação do Estado. Ética e Cidadania 12 DEFINIÇÃO: Cultura: Conjunto de pensamentos, sentimentos, atitudes, trações, símbolos, hábitos e valores que pertencem a um grupo. Dão sentido à sua identidade cultural, sua marca como grupo. Diversidade cultural: É o reconhecimento de diferentes culturas para diferentes grupos sociais. Figura 2 - Diversidade cultural Fonte: Pixabay. Para Bergamaschi (2008), a diversidade cultural e a presença de inúmeros povos indígenas, com suas tradições e línguas marcam nossa diversidade étnica e cultural. Alves e Barros (2009) definem que a diversidade cultural está relacionada aos aspectos distintivos de uma cultura para outra, uma riqueza dada pela capacidade dos humanos de criar e transformar o legado que receberam. As identidades culturais aparecem a partir das manifestações culturais. O debate sobre a questão da diversidade cultural, que abre para todo um feixe de outros debates importantíssimos, nos faz pensar que, com a educação, podemos formar indivíduos que entendam que ser Ética e Cidadania 13 diferente é poder trazer algo novo na troca cultural. A fundamentação do respeito da ética está no bojo dessa compreensão. Em meio aos pensamentos sobre a diversidade, podemos pensar também a diversidade étnica, religiosa e de gênero. Quanto à diversidade étnica, temos muito a comemorar desde que superamos a explicação da existência de diferentes culturas pelo conceito de raça, para o conceito de etnia, uma vez que se concluiu que falar em raça é apontar diferenças puramente biológicas, físicas, sem considerar as questões de fundo cultural para a compreensão dos diferentes povos. Com o conceito de etnia, vemos um alargar dessa possibilidade de entendimento do outro. Gomes (2004) mostra que o uso de etnia se ampliou para referências a povos diferentes, como judeus, índios, negros, entre outros, enfatizando seus processos históricos e culturais. No Brasil, o termo relações étnico-raciais é muito utilizado para debater as questões de relações raciais e étnicas, que estão muito além da cor da pele e das origens culturais. Há um misto desses olhares naalocação e na interpretação dos lugares sociais que os indivíduos ocupam na sociedade. Portanto, falar de raça ou de etnia em nossa cultura vai trazer um apanhado de significações de quem fala, como fala e por que fala, o chamado “lugar de fala”. É também com essas construções que nascem conceitos e alocações culturais denominadas racismo, preconceito e discriminação. Estes podem ser de raça ou etnia, mas tendem a ser explicados pela questão racial. Enquanto o preconceito é definido como uma percepção sobre as coisas, muitas vezes herdada por conta da socialização recebida, a discriminação é a própria prática do preconceito. Assim, o racismo trata- se de uma construção ideológica de que existem raças diferentes e que estão submetidas a uma hierarquia de classificação como inferiores e superiores. Nesse caso, essa teoria sempre acaba por delegar aos negros Ética e Cidadania 14 os mais baixos graus de status social na sociedade. O racismo é uma teoria perversa, que separa e agride os indivíduos que pertencem ao grupo discriminado. Figura 3 - Racismo e preconceito Fonte: Pixabay. A diversidade étnico-racial deve ser pensada por toda a comunidade escolar, pelos gestores educacionais, que são importantes na formação dos indivíduos. Compreender que negros e brancos têm sua importância e valor cultural é colaborar para o entendimento da diversidade cultural e étnica. É importante saber que a cultura afrobrasileira compõe nossa trajetória de formação de nação. Não é possível falar de diversidade étnica sem considerar que o Brasil, após a abolição da escravatura, atravessou grandes lutas pelo reconhecimento dessa cultura que inclui as lutas sociais, a miscigenação, a discriminação, o sincretismo. Ética e Cidadania 15 SAIBA MAIS: Para saber que a diversidade tem sua importância para a cultura e como podemos compreendê-la, vamos ler mais um pouco? Acesse o texto: Diversidade étnico-racial, inclusão e equidade na educação brasileira: desafios, políticas e práticas. Disponível aqui. Vemos no Brasil, de forma muito clara, a existência de um preconceito racial contra negros e mulatos. A igualdade de oportunidades é divulgada e tolerada. Com isso, temos legislação contra o Racismo, que é a Lei n° 7.176, de 5 de janeiro de 1998, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Entretanto, ainda assim, as ligações íntimas com pessoas de cor não são vistas com bons olhos. Os mulatos passam por menor discriminação que os negros, mas também são discriminados e sofrem preconceito. Constantemente presenciamos discussões que envolvem o preconceito racial e a discriminação étnica dos indivíduos, com falas, como “você é negro”, “você é indígena”, “por isso não conseguiram obter êxito em nada…”. Por aí vai. A discriminação e o preconceito ocorrem também em relação às questões religiosas, normalmente há uma perseguição e preconceito com as religiões de matrizes africanas. Incrível que normalmente entendemos que a religião deve trazer coisas boas aos indivíduos, pois nelas eles depositam sua fé espiritual e dedicam-se professando. No entanto, por ignorância, ou mesmo maldade, muitos indivíduos constroem guerras, matam e perseguem religiões diferentes das suas. O etnocentrismo predomina nesses casos e faz com que a religião de uma pessoa seja considerada a melhor ou a que tem mais pureza etc. Ética e Cidadania https://seer.ufrgs.br/rbpae/article/view/19971/11602 16 ACESSE: A reportagem da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa aborda sobre a diversidade religiosa. Disponível aqui. A superação deste fenômeno de pejoração negativa das dife- rentes religiões só acontece quando os indivíduos estão disponíveis para conhecer a diversidade religiosa. Conhecer é importante para melhor conviver. Isso não significa converter-se. Quando estudamos um pouco, vemos que o catolicismo tradicional também teve influência africana no culto de santos de origem africana, como São Benedito, Santo Elesbão, Santa Efigênia e Santo Antônio de Noto (Santo Antônio do Categeró ou Santo Antônio Etíope); no culto de santos, também há aqueles que podem ser associados aos orixás africanos, como São Cosme e Damião. O próprio São Jorge (Ogum no Rio de Janeiro), Santa Bárbara (Iansã), além daqueles oriundos da criação de santos populares, como a Escrava Anastácia. Figura 4 - Diversidade religiosa Ética e Cidadania https://extra.globo.com/noticias/religiao-e-fe/comissao-de-combate-a-intolerancia-religiosa/diversidade-religiosa-2621952.html https://extra.globo.com/noticias/religiao-e-fe/comissao-de-combate-a-intolerancia-religiosa/diversidade-religiosa-2621952.html 17 Fonte: Freepik. É comum ver que igrejas pentecostais do Brasil, que são contra as religiões de origem africana, na realidade têm várias influências destas, como se nota em práticas, como o batismo do Espírito Santo e crenças como a de incorporação de entidades espirituais (vistas como maléficas). O Catolicismo nega a existência de orixás e guias, já as igrejas pentecostais os denominam como demônios. A ideia de sincretismo religioso, a transculturação das religiões, como ocorre na umbanda, por exemplo, tem origem nos fatores histórico- culturais da história do Brasil. Por isso, é preciso compreender que a diversidade religiosa existe e precisa ser respeitada. No cenário relativo à compreensão das relações de gênero e sua diversidade, também não encontramos eco no respeito, pois, na atualidade, vemos que a conceituação que acrescenta nessa polêmica é a de que orientação sexual e identidade de gênero são diferentes e precisam ser compreendidas. Ética e Cidadania 18 DEFINIÇÃO: Orientação sexual refere-se à atração e à afetividade que um indivíduo sente por outro. Diversidade de gênero refere-se ao gênero com o qual o indivíduo se identifica que pode ter, ou não, relação com o seu sexo biológico. Quadro 1 - Orientações sexuais e suas definições ORIENTAÇÕES SEXUAIS DEFINIÇÕES HETEROSSEXUAL Indivíduo que sente atração pelo sexo oposto. HOMOSSEXUAL Indivíduo que sente atração pelo mesmo sexo. BISSEXUAL Indivíduo que sente atração pelos dois sexos. ASSEXUAL Indivíduo que não sente desejo sexual. PANSEXUAL Indivíduo que aprecia todos os gêneros sexuais. Fonte: Elaborada pela autora com base em Stoodi (2020). Gonçalves (1999) fala, em seus estudos, a respeito de como a sociedade Paresí, do grupo indígena denominado Aruak, localizado no Estado de Mato Grosso, constrói simbólica e culturalmente o dimorfismo sexual, tendo como foco de análise sua mitologia e seu complexo ritual. Ele demonstra como a categoria diferença é algo construído, tal qual nos indica a ideia de gênero sobre os indivíduos na vida social. Em outros termos, analisa-se a diferença e a construção de gênero como fenômeno englobado por um pensamento geral sobre o que significa a diferença no mundo. Assim, segundo o autor, a diferença de gênero informa, ao mesmo tempo que produz e é produzida por essa ideia da diferença, que não é universal, mas sim construída culturalmente. Dessa forma, são as posições culturais construídas por homens e mulheres, a partir do olhar que eles têm do compromisso com suas escolhas pautadas na orientação sexual Ética e Cidadania 19 e na diversidade de gênero, que dão sentido às suas histórias e aos seus lugares nessa discussão. É importante entender como os indivíduos têm se referenciado a partir desse olhar. Quadro 2 - Diversidade de gênero e suas definições DIVERSIDADE DE GÊNERO DEFINIÇÕES CISGÊNERO Indivíduo que se identifica com seu sexo biológico. Masculino é homem. Feminino é mulher. TRANSGÊNERO Indivíduo que tem uma identidade diferente do seu sexo biológico. Transexuais ― um homem que se enxerga como mulher ou uma mulher que se enxerga como homem. Transgênero — deve assumir definitivamente o corpo com o qual se identifica e, em muitos casos, pode desejaratravessar procedimentos de redesignação sexual ou terapias hormonais. NÃO BINÁRIO Indivíduo que oscila entre masculino e feminino. Por exemplo, uma mulher que se identifica com o gênero masculino, mas não realiza procedimentos de readequação física (apenas assume um comportamento condizente com seu gênero). Fonte: Elaborada pela autora com base em Stoodi (2020). SAIBA MAIS: Esses conhecimentos são importantes, pois levam as discussões de práticas de preconceito e discriminação, fundamentados em ideologias homofóbicas e de violências de gênero. Vamos ler um pouco mais? Acesse o Texto: Educação, relações de gênero e diversidade sexual. Disponível aqui. Em seguida, assista aos vídeos: “IFSCTV | Diversidade de gêneros”, disponível aqui e “Gênero e Diversidade”, disponível aqui. Ética e Cidadania http://www.scielo.br/pdf/es/v29n103/09.pdf https://www.youtube.com/watch?v=bd1Af5GHwUU https://www.youtube.com/watch?v=dTyDB8EeXyw 20 RESUMINDO: Neste capítulo, trabalhamos com o conhecimento e o debate das diversidades cultural, étnica, religiosa e de gênero. Marcamos bem a questão da diferença entre discriminação, preconceito e racismo. Vimos que existem várias religiões, e que a pesquisa delas, o conhecimento e a forma de olhar fazem com que possamos conviver com elas, ainda que diferentes, de forma respeitosa. Da mesma forma, apresentamos as conceituações inerentes à discussão sobre diversidade de gênero. Com esses saberes, esperamos que você possa ter aprendido que ser diverso é rico, e que o respeito em seu contexto próprio é fundamental. Ética e Cidadania 21 Ética e Cidadania na Sociedade Tecnológica OBJETIVO: Iniciaremos agora toda uma reflexão e conceituação sobre a relação ética e a sociedade tecnológica que estamos vivendo. Morin (2000) nos apresenta às demandas da educação e da sociedade do conhecimento em tempos atuais, mostrando que esta impõe aos indivíduos uma escola que lhes faça sentido, que lhes seja capaz de resgatar a formação do ser completo. Em sua visão, a escola de hoje deve oferecer aos indivíduos além do ensino básico com cálculos, língua escrita e falada, precisa trazer também as interfaces com as ferramentas e inovações tecnológicas trazidas pela era da comunicação e da informação. . É importante marcar que o conhecimento e a informação estão no centro do mundo atual. O perfil de indivíduo que se exige, mediante estas demandas, é de quem consegue ser flexível, polivalente, empreendedor e altamente adaptável. Alguém que é criativo, inovador e está sempre sendo desafiado por questões profissionais e pessoais. Um mundo em que se fala o tempo todo a respeito de busca de soluções viáveis. Os próprios modelos educacionais voltam-se para essa perspectiva. Isso significa que o aluno a ser formado tem que ser preparado para enfrentar este aparato de necessidades impostas pela sociedade do conhecimento e da informação. Figura 5 - Sociedade do conhecimento Fonte: Freepik. Ética e Cidadania 22 Nessa sociedade digital, educar um indivíduo para desenvolver sua cidadania plena também envolve construir valores de respeito, responsabilidade e participação colaborativa com a comunidade. SAIBA MAIS: Assistimos a uma era em que a tecnologia está no bojo de todas as coisas que realizamos no mundo social, conforme o vídeo: Educação na Sociedade do Conhecimento. Disponível aqui. Levy (1999) traz à cena os conceitos de cibercultura e ciberespaço para mostrar a amplitude de nossas trocas de conhecimento e aprendizagem na era digital. Nesse sentido, o autor ainda produz, associado ao pensamento de Kerckhove (1995), o conceito de inteligência coletiva, constituindo-se em inteligências conectadas, isto é, o uso colaborativo das várias inteligências mediante processos de comunicação e tecnologias em rede. Este novo desenho pedagógico de formação dos indivíduos propõe uma revisão da forma tradicional de ensinar e aprender, a construção de saberes e as trocas comunicacionais ganham uma dimensão mais personalizada. DEFINIÇÃO: Cibercultura: Cultura que emerge com o advento das trocas comunicacionais advindas do computador. Conhecimentos, valores, informações e saberes que se constroem a partir do mundo virtual. Ciberespaço é virtual, as redes de conexão. O que precisamos entender é como funcionam, nesse caso, os princípios da ética e da cidadania em um contexto de valorização da comunicação virtual. Com o exposto acima, focamos em mostrar que a ética passa a ser uma questão central no contexto das trocas e construções virtuais tanto no âmbito da vida pública como na vida privada. Nesse sentido, ser ético é pensar no que fazemos, na medida de nossas ações, considerando quem somos e com quem nos relacionamos, além da ênfase na reflexão sobre o outro e o planeta em que habitamos. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=vqkUWJINT_k 23 Figura 6 - Ética e tecnologia Fonte: Freepik. Para Dewey (1979), é a partir da reflexão que emerge a dúvida, a perplexidade, o ato de pensar. Ela também envolve o ato de pesquisar, para resolver a dúvida e esclarecer a tal perplexidade. Dessa forma, o autor nos aponta o caminho para nossas questões éticas contemporâneas. Além dele, também Castoriadis (1979) diz que a reflexão deve sinalizar o conhecimento para investigar, explicitar e questionar os conteúdos sociais e culturais. SAIBA MAIS: Saber que das possibilidades de debate para a compreensão do conceito de ética e cidadania e como podemos alcançá-lo é um privilégio. Vamos ler mais um pouco? Assista ao vídeo: Renato Janine Ribeiro debate ética, política e os desafios da Educação. Disponível aqui. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=UbZXkj93Zrs 24 Olivé (2000), em seus estudos, colabora com nossa reflexão sobre deveres morais do cientista e do tecnólogo em nossos tempos. Para ele, cientistas devem ter a consciência da responsabilidade e das consequências do trabalho que realizam. Essa responsabilidade inclui informar a sociedade com precisão sobre seus experimentos e resultados. Também, os tecnólogos devem avaliar com cautela e seriedade as tecnologias produzidas e suas amplitudes. Avaliar não só a eficiência, mas, sobretudo, os impactos nos meios social e natural. O autor ainda ressalta que os cidadãos, a grosso modo, também têm responsabilidade na avaliação das tecnologias e em sua aceitação e propagação. Assim, eles devem buscar informações adequadas sobre a natureza da ciência e da tecnologia que estão propagando, bem como de seu uso e consequências. SAIBA MAIS: Esses conhecimentos são importantes, pois levam as discussões sobre a ética e a tecnologia na atualidade. Vamos ler um pouco mais? Acesse a reportagem: O dilema ético dos bebês geneticamente modificados. Disponível aqui. Em seguida, assista ao vídeo: A Engenharia Genética Mudará Tudo Para Sempre. Disponível aqui. Com tantas discussões no terreno da ética, é preciso focar que ser cidadão é estar situado na ordem social de forma participativa, mas considerando que, apesar da evolução tecnológica, é preciso pontuar nossas ações locais e globais, presenciais e virtuais, de forma eticamente responsável. RESUMINDO: Neste tópico, vimos como é importante associar ética e cidadania na atualidade, com a tecnologia para as trocas de conhecimento e aprendizagem de acordo com a cibercultura no ciberespaço. Vimos que é necessário ter responsabilidade na divulgação dos conteúdos nos ambientes virtuais. Assim, destacamos o quanto é importante fazer avaliação das tecnologias para buscar informações adequadas, pois, neste universo, existem assuntos de vários tipos. Você percebeu o quanto a ética na internet é importante? Ética e Cidadania https://tecnoblog.net/209799/bebes-geneticamente-modificados-dilema-etico/ https://youtu.be/jAhjPd4uNFY 25 Intolerância, Racismo e Xenofobia OBJETIVO: É muito comum, diante do que vimos até aqui, presenciarmos na sociedade globalizadae tecnológica sentimentos de exclusão social, violência e intolerância. No ano de 2001, realizou-se a Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa, na cidade de Durban, África do Sul. Essa conferência foi um culminar das demandas mundiais para o enfrentamento de um cenário sociopolítico extremamente grave em nível mundial: o combate ao racismo e à intolerância. Trata-se de compreender que indivíduos, povos e nações estavam cada vez mais praticando e incentivando realidades de exclusão e segregação social, que, em muitos casos, levam ao extermínio. Mesmo diante de outros instrumentos legais e históricos para esse fim, foi necessário organizar a Conferência de 2001. Listamos aqui alguns dos instrumentos que foram implementados sob a égide das Organizações das Nações Unidas, com intuito de promover a igualdade e combater a intolerância: • Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948). • Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (1966). • Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966). • Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979). • Convenção sobre os Direitos da Criança (1989). Apesar do aparato legal acima referido, os dados mundiais seguiram apontando que seres humanos ainda são vítimas de ideologias e tratamento racista e segregacionista, principalmente com o surgimento de novas tecnologias e o advento da globalização, que trouxeram próprios Ética e Cidadania 26 de seus campos. Por isso, a urgência de novas medidas e esforços focados em nível nacional e internacional. Figura 7 - Intolerância racial Fonte: Freepik. Para avançarmos, consideramos que é preciso definir o que vem a ser racismo, xenofobia e intolerância, objetos de nossa discussão. DEFINIÇÃO: Racismo: Significa preconceito e discriminação de indivíduos e grupos fundamentados em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Xenofobia: Sentimento de desconfiança, antipatia, receio de pessoas que não são familiares ao meio de quem julga, ou ainda daqueles que não são do país de quem julga. Intolerância: Capacidade mental de não desejar reconhecer e respeitar diferentes valores, sentimentos, opiniões de grupos e pessoas que não pertencem a quem avalia. Ética e Cidadania 27 Para seu melhor entendimento, vamos pensar a seguinte situação: em uma sala de aula de uma escola particular, com alunos brasileiros, encontramos um aluno muçulmano, que se veste tal qual sua cultura, um aluno com autismo e apenas duas crianças negras. Todos os dias, as crianças negras são isoladas das brancas, mas a convivência se dá de forma regular. Ao observar essa situação, uma professora de Sociologia começou a incentivar a integração desses alunos, crianças de 12 a 14 anos. Então, em conversa com uma do grupo de crianças brancas, ela falou que não gostaria de sentar-se com seus colegas negros para fazer trabalho de grupo porque seus pais disseram que os negros são menos competentes que os brancos. A professora teve que fazer toda uma explicação sobre a história dos negros no Brasil e as teorias racistas para seus alunos, pois estava diante de um caso de racismo. Mas não parou por aí, a professora ainda observou o tratamento de exclusão que aquela turma dava ao aluno muçulmano. Não satisfeita com aquela situação, chamou um grupo de alunos que praticavam a segregação do aluno muçulmano para uma conversa. Então, descobriu falas sobre a ideia de que os estrangeiros que vem do Oriente Médio podem ser homens-bomba e, ainda, que “vem tirar onda aqui no nosso país”, fala de uma criança durante a conversa com a professora. Nesse caso, a referida professora estava diante de xenofobia, intolerância. Assim, ela tratou de construir as suas próximas aulas baseadas em vídeos e textos que pudessem ensinar sobre a cultura oriental, a respeito de convivência e respeito. Por fim, não precisamos dizer que o aluno autista era ali um invisível, nenhum aluno preocupava-se com sua presença, fato este que levou a mesma professora a organizar atividades em que ele pudesse ser incluído nas relações sociais daqueles alunos. Além disso, a professora escreveu um projeto e propôs à escola a realização de oficinas e reuniões que incluíssem as temáticas apresentadas, com os pais. Ética e Cidadania 28 Figura 8 - Ética na sala de aula Fonte: Pixabay. Diante de tal conceituação, podemos avaliar o peso negativo dessas atitudes e práticas em nossa sociedade. Daí a necessidade de sabermos que importantes decisões saíram da Conferência de Durban, que, em linhas gerais, foram: • Problemas enfrentados pelas vítimas de tais flagelos (com destaque para as mulheres, pessoas de origem africana e asiática, povos indígenas, migrantes, refugiados e minorias nacionais) e medidas específicas para aliviar o seu sofrimento. • Problema da discriminação múltipla. • Importância da educação e sensibilização pública no combate ao racismo. • Problemas particulares colocados pela globalização. • Aspectos positivos e negativos das novas tecnologias. • Importância da coleta de dados, da pesquisa e do desenvolvimento de indicadores no domínio da discriminação. Ética e Cidadania 29 • Previsão de medidas destinadas para garantir a igualdade nas áreas do emprego, da saúde e do ambiente. • Importância de garantir o acesso das vítimas às vias de recurso eficazes e de assegurar a sua reparação pelos danos sofridos. • Papel dos partidos políticos e da sociedade civil, nomeadamente ONG e juventude, na luta contra o racismo (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2007). Ainda temos muito a saber sobre os conceitos de racismo e xenofobia que são processados de forma estrutural, fundamentando guerras santas e étnicas, como ocorre no Oriente Médio na atualidade. Tal situação de desumanidade tem tirado a vida de muitas famílias, mulheres, homens, jovens e crianças. SAIBA MAIS: Esses conhecimentos são importantes, pois levam às discussões sobre a ética na sala de aula. Vamos ler um pouco mais? Acesse o texto: Combates à xenofobia, ao racismo e à intolerância. Disponível aqui. Em seguida, leia a reportagem: A história por trás da foto do menino sírio que chocou o mundo. Disponível aqui. Figura 9 - O menininho sírio Fonte: BBC (2015). Ética e Cidadania https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/1-Paulo-Daniel-Farah.pdf https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150903_aylan_historia_canada_fd 30 Santos (2016), ao descrever motivos pelos quais se pratica a xenofobia, mostra que o migrante é visto como “de fora” em um território que é dominado por alguém que acredita “ser seu”, o que leva a imputar ao migrante a aceitação de suas práticas e sua submissão a seu modo de vida. Caso isso não venha a ocorrer, ou seja, quando o migrante se percebe e busca estabelecer-se como um ser de direitos, o qual estando presente naquela comunidade sente o desejo de participar das decisões da vida política, social etc., o dominante começa a se sentir incomodado e busca nas práticas racistas e xenofóbicas uma forma de coação e reação a esse migrante. Fanon (2008), sobre o entendimento do racismo, colabora com a ideia de que uma sociedade tende a ser racista como um todo, pois, em seu olhar, não existem “meios racismos”. Pode ter, também, uma parte da sociedade mais racista que a outra. De fato, ainda existem muitas pessoas que pensam que o migrante que chega em outra terra —isso vale para o Brasil também —, consiste em uma ameaça para o trabalhador no mundo do trabalho local, o que pode reforçar a xenofobia reproduzida pela população. De qualquer forma, é preciso que, por meio da educação e da formação de valores morais e éticos, os indivíduos possam receber o antídoto para este mal do século XXI: a segregação de pessoas, que se redefine como uma realidadede afastamento, isolamento. RESUMINDO: Neste tópico, vimos como é importante ter cuidado para não praticar a intolerância, a racismo e a xenofobia. Vimos um exemplo de situação real que acontece na sala de aula. Assim, destacamos que esses conceitos ocorrem de forma estrutural. Você percebeu o quanto é importante se apropriar dos valores morais e éticos para uma boa convivência? Ética e Cidadania 31 Ensino da Ética nas Instituições OBJETIVO: Para que alcancemos a proposta que já abordamos, uma formação educacional em nível local e global, que alcance a tolerância das diferenças culturais, das perspectivas de fluxo migratório, da liberdade de se exercer como ser humano portador de direitos em qualquer região do planeta, é importante consolidar matrizes curriculares que incluam conceitos e ensinamentos sobre ética, sobretudo abordagens práticas de vida que possibilitem a reflexão com base na moral e na ética. Como mostramos na Unidade 1, Chauí (2004) destaca a importância de ensinar ética por conta da convivência em espaços grupais. Para Carvalho (1999), nas organizações, ensinar e aprender sobre ética fundamenta a regulação e garante qualidade nas relações humanas, servindo também como indicativo do desenvolvimento organizacional. Olhando mais de perto a inserção da ética nos currículos da educação superior, vemos que nos anos 1970, no Brasil, ela passa a fazer parte do currículo de Administração e Negócios, um momento em que se inicia uma ampla iniciativa social e educacional para discussão de responsabilidade social, trocas internacionais e desafios éticos regionais do ponto de vista de estratégias econômicas. SAIBA MAIS: Esses conhecimentos são importantes, pois levam às discussões sobre o ensino da ética nas instituições. Vamos ler um pouco mais? Acesse o Texto: Ética, Instituições e Desenvolvimento. Disponível aqui. Acesso em: 29 jul. 2020. Ética e Cidadania http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2011/CdVjornada/JORNADA_EIXO_2011/QUESTAO_AMBIENTAL_DESENVOLVIMENTO_E_POLITICAS_PUBLICAS/ETICA_INSTITUICOES_E_DESENVOLVIMENTO.pdf 32 Capra (2002) destaca que as instituições universitárias precisam reformular currículos que contemplem a formação ética pois, segundo ele, elas têm o papel de formar os novos profissionais. Já Sequeiros (2000) prima pelo ensino da ética da solidariedade na educação como um todo, pois acredita que a criança desde cedo deve conhecer a consciência ética. No entanto, Vallaeys (2003) infere que os valores dominantes das universidades atuais são o individualismo, a posse, a competência e a dominação. A partir da década de 1990 e com a massificação da educação superior, uma grande amplitude de oportunidades de cursos e disciplinas com ênfase mercadológica, muitas instituições viram a possibilidade de agregar à sua missão, por meio da propaganda, os valores de formação ética e responsabilidade social, conforme nos mostra Calderon (2005). Figura 10 - Ética e instituições Fonte: Freepik. Em uma sociedade capitalista selvagem, em que muitos comportamentos não prezam pelas relações éticas, é muito comum ouvirmos várias reclamações de falta de ética na política e na sociedade como um todo. Nesse caso, a inclusão da ética nos currículos, sobretudo Ética e Cidadania 33 universitários, torna-se uma urgência acadêmica, para que continue a se constituir como um elemento fundamental nas relações humanas. Cuvillier (1947) marcou os seguintes pontos a serem observados na formação ética dos profissionais: a. Por meio da profissão, o indivíduo se realiza plenamente, provando sua capacidade, habilidade, sabedoria, inteligência e formando sua personalidade para vencer obstáculos. b. O nível moral dos homens é elevado pelo seu exercício profissional. c. Na profissão, os homens mostram sua utilidade à comunidade. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o vídeo: Mario Sergio Cortella - Educação, Convivência e Ética. Disponível aqui. RESUMINDO: Neste tópico, aprendemos muito sobre diversidade cultural, racismo, intolerância e xenofobia. Vimos que esses conceitos precisam ser absorvidos e entendidos para que as relações entre os seres humanos sejam mais respeitosas, solidárias e colaborativas. A sociedade tecnológica e global traz desafios de enfrentamento moral e ético, mas, por meio da educação, podemos fortalecer nossa capacidade de cuidar e zelar pela boa convivência social, dessa forma, sustentaremos um mundo viável para as gerações presentes e futuras. É preciso ter um ensino de ética do que precisa ser recusado, mas também do que precisa ser reforçado para a preservação social. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=8YUduNMVVG4 34 REFERÊNCIAS ALVES, A. M. M.; BARROS, J. M. P. de M. Identidade e diversidade Cultural: Paradoxos e articulações para uma Política pública. In: REUNIÓN DE ANTROPOLOGIA DEL MERCOSUR, 8. [S. l.]. Anais, 2009. BARROS, J. M. P. de M. (org.). Diversidade Cultural: da proteção à promoção. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008. BERGAMASCHI, M. A. (org.). Povos Indígenas & Educação. Porto Alegre: Mediação, 2008. BBC. A história por trás da foto do menino sírio que chocou o mundo. 2015. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/ noticias/2015/09/150903_aylan_historia_canada_fd. Acesso em: 16 ago. 2021. CAPRA, F. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix, 2002. CARLDERÓN, A. I. Responsabilidade social: desafios à gestão universitária. In: Estudos: Revista da associação brasileira de mantenedores do ensino superior: responsabilidade social das instituições de ensino superior. N. 34, Ano 23, Brasília: Associação dos mantenedores de ensino superior, 2005. CARVALHO, M. do C. Gestão de projetos sociais. São Paulo: AAPCS, 1999. CASTORIADIS, C. Feito e a ser feito: as encruzilhadas do labirinto V. Tradução de Lílian do Valle. Rio de Janeiro: DPeA, 1999. CHAUÍ. M. Ética e universidade. 2004. Universidade e sociedade. Sindicato nacional dos docentes das instituições de ensino superior. 8. ed. Brasília: Rumo, CD-ROOM: V. 1, edições 1 a 24, 2004. CUCHE, D. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: Edusc, 2012. Ética e Cidadania https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150903_aylan_historia_canada_fd https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150903_aylan_historia_canada_fd 35 CUVILLIER. A. Manuel de Philosofhie. 9. Ed. Paris: Armand Colin, 1947. DEWEY, J. Como pensamos: como se relaciona o pensamento reflexivo com o processo educativo: uma reexposição. 4. ed. Tradução e notas de Haydée Camargo Campos. São Paulo: Nacional, 1979. FANON, F. Pele negra máscaras brancas. Salvador: Editora da UFBA. 2008. Tradução de Renato da Silveira e Prefácio de Lewis R. Gordon. GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Ed. Guanabara Kogan S.A., 1989. GOMES, N. L. Diversidade étnico-racial e a Educação brasileira. In: GONÇALVES, Marco Antônio. Produção e Significado da Diferença: Gênero, Dimorfismo Sexual e Sexualidade entre os Paresi. Rio de Janeiro, 1999. KERCKHOVE, D. A pele da cultura: uma investigação sobre a nova realidade eletrônica. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1997. LÉVY, P. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999. MINISTÉRIO PÚBLICO. Racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância conexa. Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa. Conferência Europeia contra o Racismo. 2007: http://gddc. ministeriopublico.pt/sites/default/files/documentos/pdf/racismo.pdf. Acesso em: 29 jul. 2020. MORIN, E. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2000. OLIVÉ, L. El Bien, El Mal y La Razón: Facetas de La Ciencia y de La Tecnologia. México: Paidós, 2000. SANTOS, B. de S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Revista Crítica de Ciências Sociais, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, 78. out. 2007: 3-46.Disponível em: http://rccs.revues.org/753. Acesso em 28 jul. 2020. SEQUEIROS, L. Educar para a solidariedade: projeto didático para uma nova cultura de relações entre os povos. Porto Alegre: Artmed, 2000. Ética e Cidadania http://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/documentos/pdf/racismo.pdf http://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/documentos/pdf/racismo.pdf 36 SIEMENS, G. Connectivism: a learning theory for the digital age. Elearnspace, Dec.12, 2004. Disponível em: http://goo.gl/DeQwRN. Acesso em 29 jul.2020. STOODI. Diversidade de gênero: o que é e como fazer uma redação. 2020. Disponível em: https://www.stoodi.com.br/blog/2019/04/10/ diversidade-de-genero-o-que-e/. Acesso em: 16 ago. 2021. VALLAEYS, F. Orientaciones para la enseñanza de la etica, el capital social y el desarrollo en las universidades latinoamericanas. 2003. Pontifícia Universidade Católica Del Peru. Disponível em: https:// www.researchgate.net/publication/337165012_Orientaciones_para_ la_ensenanza_de_la_etica_el_capital_social_y_el_desarrollo_en_las_ universidades_latinoamericanas. Acesso em: 28 jul. 2020. Ética e Cidadania https://www.stoodi.com.br/blog/2019/04/10/diversidade-de-genero-o-que-e/ https://www.stoodi.com.br/blog/2019/04/10/diversidade-de-genero-o-que-e/ https://www.researchgate.net/publication/337165012_Orientaciones_para_la_ensenanza_de_la_etica_el_capital_social_y_el_desarrollo_en_las_universidades_latinoamericanas https://www.researchgate.net/publication/337165012_Orientaciones_para_la_ensenanza_de_la_etica_el_capital_social_y_el_desarrollo_en_las_universidades_latinoamericanas https://www.researchgate.net/publication/337165012_Orientaciones_para_la_ensenanza_de_la_etica_el_capital_social_y_el_desarrollo_en_las_universidades_latinoamericanas https://www.researchgate.net/publication/337165012_Orientaciones_para_la_ensenanza_de_la_etica_el_capital_social_y_el_desarrollo_en_las_universidades_latinoamericanas Ética, Redes Sociais e Direitos Humanos Ética e Cidadania Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANA LUCIA GUIMARÃES AUTORIA Ana Lucia Guimarães Olá! Sou doutora em Ciências Humanas e tenho mais de 20 anos de atuação como professora na Educação Superior. Além disso, tenho 12 anos de militância como dirigente sindical da causa dos professores, o que me agrega conhecimentos e experiências para ser autora desta disciplina. Portanto, atuar e defender a causa da educação laica, democrática e de qualidade é mais do que um princípio em minha formação e trajetória profissional, é um compromisso de ofício. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Direitos Humanos ........................................................................................ 10 Conceituação e Princípios Dos Direitos Humanos ................................................. 10 Ação Comunitária e Participação Democrática ............................. 14 Ética, Direitos Humanos e Violência .................................................................................. 18 Cenário Atual e Tendências da Ética e da Cidadania ........................................... 21 Ética e Política ................................................................................................................23 Ética na Saúde ................................................................................................................24 Ética nas Redes Sociais ............................................................................26 Educação, Ética e Cidadania Hoje ........................................................ 31 7 UNIDADE 04 Ética e Cidadania 8 INTRODUÇÃO Nesta unidade de ensino de nossa disciplina, aprenderemos sobre Direitos Humanos. Veremos o que são os direitos humanos, como o direito à vida, à educação, ao trabalho, à liberdade de opinião etc. Veremos que é possível construir nossa cidadania zelando pelos nossos direitos e de nossos vizinhos. Veremos, ainda, a responsabilidade de governos de garantirem esses direitos. Entenderemos que só é possível participar das decisões políticas de um país a partir do exercício da cidadania plena, ancorada na ética, se temos condições democráticas para essa participação. Enfim, faremos uma reflexão sobre ausência de direitos e perpetuação da violência para entendermos o que está acontecendo hoje com as práticas de ética e cidadania. Você também está curioso para debater esses temas? Vamos lá! Ética e Cidadania 9 OBJETIVOS Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é dar suporte a você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Explicar o conceito e os princípios dos Direitos Humanos. 2. Relacionar ação comunitária com participação democrática. 3. Ponderar questões e situações ligadas a ética, direitos humanos e violência. 4. Identificar o cenário atual e as tendências da ética e cidadania. Então, preparado para conhecer os Direitos Humanos e sua relação com os conceitos de ética e cidadania? Seguimos juntos na aprendizagem desses importantes temas! Ética e Cidadania 10 Direitos Humanos OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você deverá ter todo conhecimento sobre Direitos Humanos, princípios e relações com ações comunitárias de participação democrática. Deverá compreender que só é possível atuar de forma cidadã e ética se existem garantias de efetivação dos direitos que possuímos. Vamos lá! A aprendizagem e o debate nos esperam! Conceituação e Princípios Dos Direitos Humanos O conhecimento dos Direitos Humanos acende uma chama de luta social, coletiva e ao mesmo tempo individual. É importante destacar que os Direitos Humanos envolvem a proteção de nossa cidadania em nível mundial. Por isso, não podemos colaborar para que discriminações, intolerância e opressão aconteçam com qualquer indivíduo. Mas o que são Direitos Humanos? Inicialmente, convém destacar que são a base de uma relação respeitosa entre iguais e diferentes no mundo social. Nossa Constituição de 1988, por exemplo, a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, definida e divulgada pela ONU — Organização das Nações Unidas, já preconizava no art. 1º que: “[...] todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. DEFINIÇÃO: Direitos Humanos: são aqueles constituídos pelos direitos naturais, garantidos a todos os cidadãos e que devem ser estendidos a todos osindivíduos, sem distinção de gênero, classe social, posição política, etnia, religião ou nacionalidade. Ética e Cidadania 11 Figura 1 - Dia Internacional dos Direitos Humanos — 10 de dezembro Fonte: Freepik. Segundo Franzoi (2003), é no contexto pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que houve a publicação, em 10 de dezembro de 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela ONU. O autor remonta que tal documento se fez necessário para que pudéssemos lembrar, combater e exterminar todo e qualquer ato de atrocidade, violência, semelhantes aos que aconteceram durante o conflito. Esse documento é o resultado das lutas por direitos historicamente constituídos e traz a perspectiva de igualdade e liberdade entre homens e mulheres. Mas é preciso compreender o significado desses direitos, no sentido de valorizar sua existência e aplicabilidade. Nesse sentido, para Piovesan (2005), a efetivação dos Direitos Humanos refere-se a uma aspiração e necessidade universal de reconhecermos a nós mesmos como seres humanos, únicos, que não são julgados pelas suas diferenças para acessar espaços e culturas. Tal movimento dá respeito à valorização da dignidade da pessoa humana. Ética e Cidadania 12 SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura do texto Ética e Direitos Humanos. Disponível aqui. De maneira geral, devemos destacar que os três princípios fundamentais dos Direitos Humanos são: • Inviolabilidade da pessoa - não sacrificar um indivíduo com o motivo de que será para o benefício de outro. • Autonomia da pessoa - assegura a liberdade de ação para qualquer indivíduo desde que este não prejudique outros. • Dignidade da pessoa - os indivíduos devem ser julgados e tratados conforme seus atos, unicamente. Depreende-se que os Direitos Humanos são os direitos e a liberdade de todos os seres humanos. Assim, ressaltamos algumas características desses direitos, sendo: • Universalidade – todo e qualquer ser humano é sujeito ativo desses direitos, independente de credo, raça, sexo, cor, nacionalidade e convicções. • Inviolabilidade – esses direitos não podem ser descumpridos por nenhuma pessoa ou autoridade. • Indisponibilidade – esses direitos não podem ser renunciados. Não cabe ao particular dispor dos direitos conforme a própria vontade, devem ser sempre seguidos. • Imprescritibilidade – eles não sofrem alterações com o decurso do tempo, pois têm caráter eterno. • Complementaridade – os direitos humanos devem ser interpretados em conjunto, não havendo hierarquia entre eles. Ética e Cidadania http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832003000100015 13 SAIBA MAIS: Esses conhecimentos são importantes, pois trazem reflexões sobre os direitos humanos. Recomendamos assistir ao vídeo: Direitos Humanos - Teoria Geral: Conceito e Premissas Filosóficas. Disponível aqui. Em seguida, indicamos a leitura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível aqui. RESUMINDO: Neste capítulo vimos o conceito de Direitos Humanos, bem como seus princípios fundamentais. Conhecemos a Declaração Universal dos Direitos Humanos realizada pela ONU e vimos algumas características desses direitos. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=A7eTybbqFCc https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf 14 Ação Comunitária e Participação Democrática OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você será capaz saber o que é comun idade e quais são os canais de participação pelos quais ela pode atuar na sociedade. Veremos também sobre ética, direitos humanos e violência e qual é o cenário atual e as tendências da ética e da cidadania, tanto na política como na saúde. O ser humano imagina-se incluído em dois grupos societais: um deles mostra-se como alguém que sente a necessidade de ser conduzido, aceita e espera confortavelmente aquilo que o Estado oferece, como políticas públicas, ou decisões políticas, sociais e econômicas. O outro grupo busca constantemente a chama acesa do questionamento, da participação, da vontade de transformar e de estar construindo as decisões acima referidas. Dessa forma, consideramos significativo destacar o conceito de comunidade para pensarmos seu papel no âmbito democrático. DEFINIÇÃO: Comunidade: sociologicamente é um grupo de indivíduos que além de possuírem a residência em comum do ponto de vista geográfico, compartilham cultura e tomam parte de uma história compartilhada, têm objetivos e metas comuns, partem das demandas comuns.. Ética e Cidadania 15 Figura 2 - Comunidade Fonte: Freepik. Paul (1987) aponta que uma comunidade, para alcançar um excelente grau de participação em um projeto comunitário, por exemplo, deve se voltar aos seguintes objetivos: • Empoderamento — alto nível de consciência coletiva e de força política. O autor mostra que precisa de uma forte iniciativa com ações e organização que possam influenciar processos de mudanças. • Capacity building — compartilhamento de tarefas relacionadas à administração do projeto de transformação. Também diz respeito a monitoramento e construção da sustentação do projeto. • Eficácia — quando o projeto caminha junto com as demandas da comunidade. Corresponde e atende essas demandas. • Eficiência — a procura de consenso com interação e cooperação para avanços e não atrasos. Cumprindo metas e prazos. Intensa participação comunitária. • Compartilhamento de custos — compartilhamento de gastos do projeto a ser desenvolvido, com a finalidade de baratear o projeto. Quando falamos em ”democracia participativa”, estamos lidando com a situação de uma participação popular na tomada de decisões, sobretudo políticas. Esse conceito evoca a ideia de proporcionar a oportunidade de participação às pessoas, criando canais de debate que incentivem o pensar sobre questões políticas diretamente ligadas ao exercício de sua cidadania. Ética e Cidadania 16 Uma proposta de entendimento e clareza sobre a ideia de ação da comunidade em uma perspectiva democrática volta-se para a situação do conceito de gestão democrática presente nas escolas. Nascimento (2012) afirma que o trabalho em equipe voltado à qualidade de ensino é a grande base para uma gestão democrática e participativa nas escolas. Paro (2002) considera fundamental que a gestão escolar tenha a consciência de que precisa estar sujeita a mecanismos de controle e fiscalização pela própria comunidade na qual se insere. Fortalecendo essas ideias, Gadotti (1995) nos lembra que descentralização e autonomia devem andar lado a lado. A luta pela conquista da autonomia na escola é reflexo da luta na própria sociedade. Assim, tal qual apresentamos aqui, é necessário que o entendimento da condução democrática esteja presente, favorecendo o estado de participação da comunidade. Na escola, bem como no Estado, uma gestão participativa e democrática deve envolver participação propriamente dita, descentralização e transparência. Sobre o cenário dessa concepção se realizar na escola, Freire (1995) mostra que a participação política das classes populares deve ocorrer por meio de seus representantes, seja na tomada de decisões, seja na definição de um projeto de ação. Figura 3 - Gestão democrática Fonte: Freepik. Ética e Cidadania 17 É notável que tanto na escola quanto na sociedade são necessários canais democráticos que possibilitem a participação dos indivíduos no processo de tomada de decisões. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura do Texto: A gestão participativa na escola pública: tendências e perspectivas. Disponível aqui. Para que a participação da comunidade aconteça de forma efetiva, é preciso também que ela conheça os canais que existem para sua atuação, que são: • Conselhos municipais – formulam, acompanham e avaliam as políticas públicas. Neles, qualquercidadão pode participar, apresentar projetos e dar sua opinião. • Audiências públicas – são obrigatórias para a discussão da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e podem ser requisitadas para o debate de problemas que afetem a cidade. • Ouvidoria Pública Municipal – Atende reclamações de problemas relacionados à Prefeitura. • Ação popular – permite que o cidadão proponha uma ação contra ato que lese o patrimônio público. • Iniciativa popular – com o aval de 5% dos eleitores do município, qualquer cidadão pode apresentar um projeto de lei na Câmara Municipal. • Representações – ao Ministério Público, possibilita a abertura de procedimentos de investigação de supostos atos irregulares praticados contra o interesse público. Caso seja ao Tribunal de Contas, o cidadão pode denunciar irregularidades ou ilegalidades na administração pública. Ética e Cidadania http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/SU3onzBiYiLUhza_2013-6-28-15-24-32.pdf 18 Dessa forma, vemos que cada grupo representado nos diálogos recebe a oportunidade de apresentar suas ideias e prováveis soluções para os entraves. Isso supera, com certeza, o fato de ter uma visão unilateral, em que somente uma classe, ou grupo, toma decisões e avaliam ações, pois todos os níveis envolvidos podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida no coletivo. Ética, Direitos Humanos e Violência A temática dos direitos humanos apresenta relevância na constituição da lógica jurídica do século XXI. Nesse sentido, mostra-se com traços do passado e uma perspectiva de futuro. Sobre os direitos humanos, vemos a necessidade de uma ampla análise histórico-filosófica, além de um grande conhecimento jurídico. A questão da violência está na ordem do dia. Como podemos nos posicionar do ponto de vista ético em relação às diferentes situações que saltam aos nossos olhos diariamente. Temos assistido a muitas cenas de desrespeito aos direitos humanos. Muitas atitudes de violência e precarização da ordem social. Figura 4 - A questão da violência Fonte: Freepik. Ética e Cidadania 19 Schilling (2007) destaca que a violência em nossa sociedade está presente desde a fala das pessoas no dia a dia, até mesmo na mídia e nos discursos políticos. Para a autora, existem diversos tipos de violência, desde a que acontece na família até a que configura a criminalidade. Violência física, psicológica, social e emocional. Nesse sentido, viver em um estado democrático de direito como o nosso é experimentar práticas de respeito às diferenças e direitos humanos. Tudo isso é muito significativo e completo na letra fria do papel, pois, na prática, assistimos a violência contra a mulher, violência contra o idoso, violência contra a orientação sexual, crimes de ódio, corrupção, violência policial, entre outras. DEFINIÇÃO: Estado democrático de direito é aquele em que os governantes seguem o que está previsto nas leis, isto é, deve ser respeitado e cumprido o que é definido pela lei. Figura 5 - Estado democrático de direito Fonte: Pixabay. Ética e Cidadania 20 Como entendemos a violência em relação aos Direitos Humanos? Vemos, por exemplo, que a educação é direito de todos e dever do Estado, tendo por princípios a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; a liberdade de aprender, de ensinar, pesquisar e ampliar o pensamento, a arte e o saber; o pluralismo de ideias e de vertentes pedagógicas; a coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; a valorização dos profissionais do ensino; a gestão democrática do ensino público e a garantia do padrão de qualidade. Nesse caso, a infração ao respeito dos direitos humanos está diretamente vinculada à impunidade. No Brasil, existe a Emenda Constitucional 45 de 2004, que federaliza crimes contra os Direitos Humanos. Assim, quando ocorre a violação a um direito humano, esta é logo transferida para o sistema de justiça nacional. Mas o ideal seria criar políticas públicas que se voltassem ao combate direto à violência. Como o Estado apresenta dificuldades nesse projeto, assistimos, na maioria das vezes, aos pobres sendo mais vitimados pela violência, pois, no fundo, há uma inércia para estabelecer punições, bem como a conivência com ações de violência física e simbólica. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura do texto: Cidadania e violência: um desafio para os direitos humanos. Disponível aqui. No que tange ao campo da ética, vemos que ela e a violência caminham para lados diferentes. Já que violência remete a tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser, esmagando-o, torturando-o, desorganizando-o. Nesse sentido, podemos afirmar que a sociedade aponta que uma atitude violenta em nada colabora para uma vida justa e solidária. Dessa forma, afirmamos que violência se opõe à ética porque não considera o respeito e o compromisso de manter a integridade física e moral dos indivíduos. Ética e Cidadania http://www.esedh.pr.gov.br/arquivos/File/Cidadania.pdf 21 SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura da reportagem: Pelo menos três mulheres são assassinadas, vítimas de feminicídio, todos os dias no Brasil. Disponível aqui. Cenário Atual e Tendências da Ética e da Cidadania A realidade social não está pré-concebida, e os indivíduos podem atuar sobre os processos coletivos. Assim, é possível que os homens criem e recriem novas propostas de convivência que esbarram em amplas discussões acerca dos conceitos de ética e cidadania. Sobretudo, as questões que envolvem os estudos de robótica, as investigações científicas sobre células-tronco, a própria possibilidade de instituição do poder de certos grupos e pessoas poderem deter o porte de arma. Assim, para Singer (2002), uma pessoa vive dentro de uma esfera do ético quando se preocupa com a justificativa de sua ação, já que só o fato da pessoa querer justificar, podendo estar certa ou errada, demonstra que há uma pauta ética. Valls (2000) mostra que a moral está diretamente ligada às ações práticas dos seres humanos. Ele chama a atenção para o fenômeno da massificação e do autoritarismo dos meios de comunicação e das políticas, pois, segundo ele, os homens, mesmo cientes de seu papel fundamental como executores da moral, conseguem agir eticamente. Ele traz o questionamento de que até que ponto é possível o homem escolher entre o bem e o mal. Ética e Cidadania https://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2019/05/16/pelo-menos-tres-mulheres-sao-assassinadasvitimas-de-feminicidio-todos-os-dias-no-brasil.ghtml 22 Figura 6 - Ética na atualidade Fonte: Pixabay. Em tempos atuais, a educação ocupa um lugar importante para a formação do cidadão participativo e solidário, consciente de seus deveres e direitos e sem falar em propostas de educação com direitos humanos. Dessa forma, pode-se construir a base para uma amplitude maior do que vem a ser uma educação democrática, apontando o caminho para a democracia como o regime da soberania popular, com pleno respeito aos direitos humanos. No que se refere ao mundo do trabalho, por exemplo, Solomon (2006) destaca que o estudo da ética se faz primordial pelas infrações que aparecem em jornais no mundo dos negócios. Tal proposta deveria ocorrer a partir da compreensão profunda das experiências práticas. Bauman (2011) também colabora com as reflexões entre a “Era da Ética”, típica da modernidade, e a “Era da Moral”, peculiar da pós- modernidade. Ele apresenta a ideia de “ser junto com o outro”. A ética e a moral da pós-modernidade, para ele, relacionam-se com a responsabilidade moral incondicional que cada pessoa pode desenvolver por meio de suas atitudes ao “estar junto com o outro” na vida pregressa. Ética e Cidadania23 Segundo o autor, diferentes sujeitos devem ser capazes de decisões próprias sem serem coagidos por um sistema normativo. Eles constroem o senso de responsabilidade que os auxilia para lidar com situações que exigem consenso, instituindo a questão ética. A moral, no olhar de Bauman (2011), consiste em categoria contingente e incontível. Para ele, a relação com o desconhecido traz a possibilidade de reconhecimento de uma humanidade. Vejamos algumas situações em que a ética e a cidadania aparecem, e os sujeitos devem usar esse senso de racionalidade. Ética e Política Um problema que tem incomodado muito a realidade social brasileira está relacionado com a questão da corrupção na política. Será que aqueles que são eleitos democraticamente, com o voto direto, com a perspectiva de representar a vontade geral e que governam voltados para seus interesses pessoais estão agindo de forma ética? Há uma falta de ética no exercício da política no meio social? Como fica a questão da cidadania relacionada à questão ética em tempos atuais? “O Analfabeto Político. O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio, depende das decisões políticas. O analfabeto...” (Bertolt Brecht) Para Bittar (2010), a questão ética presente no mundo das atividades políticas pode ser traduzida como a saúde político-institucional se traduz na saúde social, deve-se aceitar que a estrutura da éthos de uma sociedade fica, em grande parte, na dependência de ocorrências e atitudes políticas. Farah (2000) adverte que um agente público (o eleitor, mas sobretudo os eleitos) recebe esse impacto de corrupção do corruptor, torna-se um forte elo de captação de recursos pessoais para suas vaidades e fantasias próprias e de sua família, deixando de lado sua função pública. Ética e Cidadania 24 Morin (2001) destaca que o ensino da ética é um dos saberes necessários à educação. Para ele, a reflexão no campo da ação do homem, em nível das decisões da ação moral dos indivíduos, deve ganhar espaço em diferentes níveis da educação. A corrupção pode ser compreendida como um fenômeno social, ela consiste em um reflexo da cultura formada sem princípios éticos e valores morais. Trata-se de um fenômeno ético cultural. No Brasil, vemos que a raiz da corrupção é histórica e cultural. Ética na Saúde O comportamento ético em atividades de saúde deve considerar um enfoque de responsabilidade social e também a expansão dos direitos da cidadania, pois sem cidadania, não há saúde. A ética da responsabilidade e a bioética envolvem o cuidado do outro, portanto, compete ter consciência em desenvolver essa postura. Dessa forma, vemos que a ética deve reconhecer o valor de todos os seres vivos e encarar os humanos como um dos pontos que formam a base da vida. Clotet (2003) aponta que a bioética é uma ética aplicada que está preocupada com o uso adequado das novas tecnologias na área das ciências médicas e das soluções pertinentes aos dilemas morais que sejam apresentados. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura do texto: Princípios da bioética e o cuidado na enfermagem. Disponível aqui. Ética e Cidadania http://cifmp.ufpel.edu.br/anais/1/cdrom/mesas/mesa4/02.pdf 25 Figura 7 - Bioética Fonte: Pixabay. RESUMINDO: Neste capítulo, vimos como os direitos humanos são importantes, bem como seus princípios para a sua participação democrática na sociedade e que essas ações estão presentes em todos os âmbitos. Vimos que a questão da violência ocorre nas relações e em diferentes situações de desrespeito ao ser humano, por isso, é necessário ter amparo legal às vítimas. Assim, destacamos o quanto é possível que os homens se apropriem da ética e da cidadania para ter uma boa convivência na sociedade, pois, neste universo, a moral está relacionada com a racionalidade. Você percebeu o quanto a legislação dos direitos humanos é importante? Ética e Cidadania 26 Ética nas Redes Sociais OBJETIVO: As redes sociais também têm se mostrado como um importante canal de informação e trocas comunicacionais. Ao mesmo tempo que informam, também desinformam. Relacionando com a questão ética, temos a grande dor de cabeça do momento, as chamadas fake news. Estas provocam desequilíbrio, afetações emocionais e transtornos, principalmente naqueles que são os alvos dessas notícias falsas. As fake news reforçam preconceitos, ódio contra indivíduos ou grupos sociais. Imaginem o impacto que a sociedade teve sobre a falsa notícia da existência de um “Kit Gay” imposto nas escolas. Essa ideia partiu de um projeto verdadeiro que fazia parte de um dos programas do Governo Federal, mas foi manipulada e disseminada totalmente desvirtuada, com a perspectiva de dizer que haveria uma suposta ideologia de gênero e sexualidade firmada para as escolas. A questão ética aparece fortemente no fato de que antes de compartilhar essas notícias que causam impacto, bem como todas as outras que compartilhamos ou postamos, é sempre preciso checar a veracidade da informação. Schudson (2017) afirma que a notícia falsa pode interferir no cotidiano do cidadão e das redações jornalísticas. Segundo ele, no jornalismo, por exemplo, é preciso ter responsabilidade com a questão da reprodução de notícias falsas, exageradas ou até mesmo corrompidas. Kunczik (2001) aplica o termo disfunção quando ocorre as notícias servirem de ameaça à estabilidade social. Pois, conforme Wolf (1987), a circulação de notícias falsas destrói a cidadania de forma severa. Ainda, em seu olhar, os meios de comunicação têm a função de trazer a possibilidade de alertar o cidadão e apresentar instrumentos para definição de ações diárias. Ética e Cidadania 27 Como detectar notícias falsas, segundo Kieky e Robertson (2017): • Considere a fonte — veja se tem credibilidade. • Considere o autor — faça uma breve pesquisa sobre ele. • Confirme a data. • Fontes de apoio — encontre bases de informações; as fontes que se relacionam ou tratam do assunto — é preciso identificá-las. • Considere todos os lados — ser contra uma ideologia não quer dizer que a notícia é falsa. • Verifique se é piada — há sites que fazem piadinhas com determinados temas. • Leia mais — é preciso ler sobre o assunto. Quando você pesquisa e lê mais sobre um assunto, percebe se a informação a ser compartilhada tem ou não veracidade. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura do texto: O impacto das fake news e o fomento dos discursos de ódio na sociedade em rede: a contribuição da liberdade de expressão na consolidação democrática. Disponível aqui. Ética e Cidadania http://coral.ufsm.br/congressodireito/anais/2017/1-12.pdf 28 Figura 8 - Fake news Fonte: Freepik. Enfim, a discussão sobre ética e cidadania, levando em consideração o que estamos vivendo em uma sociedade que precisa da convivência harmônica, é preciso haver compatibilidade entre o ideal da sociedade almejada e o estilo de vida construída, sem isso, não é possível pensar em uma sociedade ética como realidade. Na atualidade, o sujeito que possui a cidadania é aquele detentor de direitos, mas também de deveres. Deve ter ciência de sua participação na sociedade e que precisa contribuir coletivamente. A cidadania deve perpassar interesse e participação, precisa haver interesse pelo bem comum. Ética e Cidadania 29 Uma outra perspectiva tem a ver com a sociedade de risco que estamos vivendo. Isso significa que, pensando sobre o crescimento da civilização tecnológica, vemos um número muito grande de difusão e proliferação dos riscos, que afetam as sociedades em conjunto, revelando a crise da sociedade industrial. Para Giddens (1991), a sociedademoderna organiza-se levando em conta o distanciamento tempo–espaço, diferentemente das sociedades pré-modernas, nas quais as relações entre os indivíduos estavam construídas nas referências locais. Nesse caso, a explicação para situações e fenômenos que ali se processavam, eram situadas na lógica do conhecimento e interação cotidianos que, por sua vez, promoviam a organização social com base nas redes de confiança, depositada nos laços de parentesco e alianças. Caso qualquer coisa perturbasse o equilíbrio daquela ordem social, o grupo encontraria resolução para aquele problema, valorizando a confiança localizada. Já nas sociedades atuais, conforme deriva do pensamento de Giddens, estas constroem seu esquema de funcionamento e racionalização social fundamentadas em uma relação de confiança dos indivíduos em sistemas abstratos, fichas simbólicas, que podem ser entendidos como o progresso do conhecimento técnico e científico. Portanto, vivemos riscos de acreditar nos sistemas simbólicos, no virtual e, a partir dessas crenças, também construímos nossas posições éticas e cidadãs. Ética e Cidadania 30 Figura 9 - Sociedade e crenças nos sistemas simbólicos Fonte: Freepik. RESUMINDO: Neste tópico, vimos como os direitos humanos são importantes e estão relacionados, também, com as redes sociais. Com o avanço da tecnologia, surgiram informações que não são verdadeiras e podem atingir as pessoas. Vimos que a sociedade moderna, apesar do distanciamento tempo–espaço, o crescimento da tecnologia pode trazer riscos. Assim, destacamos o quanto é importante desenvolver uma convivência harmônica, para viver em uma sociedade ética como realidade. Você percebeu o quanto é importante o sujeito ser o detentor de direitos? Ética e Cidadania 31 Educação, Ética e Cidadania Hoje OBJETIVO: Compreender a criação de novos desenhos de sujeito pensante e participativo, em uma sociedade em que as tecnologias da informação e das comunicações são cada vez mais reais e oferecem um mapa cognitivo das relações e saberes sociais que indicam o progresso da humanidade é fundamental para se estabelecer um diálogo entre indivíduo, cultura e educação. No texto que segue, temos algumas reflexões importantes sobre ensinar a pensar para a vida. Tal reflexão traz em si a própria valorização da educação para o bem coletivo. Para refletir: Ensinar a pensar Immanuel Kant Espera-se que o professor desenvolva no seu aluno, em primeiro lugar, o homem de entendimento, depois, o homem de razão, e, finalmente, o homem de instrução. Este procedimento tem esta vantagem: mesmo que, como acontece habitualmente, o aluno nunca alcance a fase final, terá mesmo assim beneficiado da sua aprendizagem. Terá adquirido experiência e ter-se-á tornado mais inteligente, se não para a escola, pelo menos para a vida. Se invertermos este método, o aluno imita uma espécie de razão, ainda antes de o seu entendimento se ter desenvolvido. Terá uma ciência emprestada que usa não como algo que, por assim dizer, cresceu nele, mas como algo que lhe foi dependurado. A aptidão intelectual é tão infrutífera como sempre foi. Mas ao mesmo tempo foi corrompida num grau muitíssimo maior pela ilusão de sabedoria. É por esta razão que não é infrequente deparar- se-nos homens de instrução (estritamente falando, pessoas que têm estudos) que mostram pouco entendimento. É por esta razão, também, que as academias enviam para Ética e Cidadania 32 o mundo mais pessoas com as suas cabeças cheias de inanidades do que qualquer outra instituição pública. [...]Em suma, o entendimento não deve aprender pensamentos, mas a pensar. Deve ser conduzido, se assim nós quisermos exprimir, mas não levado em ombros, de maneira a que no futuro seja capaz de caminhar por si, e sem tropeçar. A natureza peculiar da própria filosofia exige um método de ensino assim. Mas visto que a filosofia é, estritamente falando, uma ocupação apenas para aqueles que já atingiram a maturidade, não é de espantar que se levantem dificuldades quando se tenta adaptá-la às capacidades menos exercitadas dos jovens. O jovem que completou a sua instrução escolar habituou-se a aprender. Agora pensa que vai aprender filosofia. Mas isso é impossível, pois agora deve aprender a filosofar. [...] Para que pudesse aprender filosofia teria de começar por já haver uma filosofia. Teria de ser possível apresentar um livro e dizer: «Veja-se, aqui há sabedoria, aqui há conhecimento em que podemos confiar. Se aprenderem a entendê-lo e a compreendê- lo, se fizerem dele as vossas fundações e se construírem com base nele daqui para a frente, serão filósofos». Até me mostrarem tal livro de filosofia, um livro a que eu possa apelar, [...] permito-me fazer o seguinte comentário: estaríamos a trair a confiança que o público nos dispensa se, em vez de alargar a capacidade de entendimento dos jovens entregues ao nosso cuidado e em vez de os educar de modo a que no futuro consigam adquirir uma perspectiva própria mais amadurecida, se em vez disso os enganássemos com uma filosofia alegadamente já acabada e cogitada por outras pessoas em seu benefício. Tal pretensão criaria a ilusão de ciência. Essa ilusão só em certos lugares e entre certas pessoas é aceite como moeda legítima. Contudo, em todos os outros lugares é rejeitada como moeda falsa. O método de instrução próprio da filosofia é zetético, como o disseram alguns filósofos da antiguidade (de zhtein). Por outras palavras, o método da filosofia é o método da investigação. Só quando a razão já adquiriu mais prática, e apenas em algumas áreas, é que este método se torna dogmático, isto é, decisivo. Por exemplo, o autor sobre o qual baseamos a nossa instrução não deve ser considerado o paradigma do juízo. Ao invés, deve ser encarado como uma ocasião para cada um de nós formar um juízo sobre ele, e até mesmo, na verdade, Ética e Cidadania 33 contra ele. O que o aluno realmente procura é proficiência no método de refletir e fazer inferências por si. E só essa proficiência lhe pode ser útil. Quanto ao conhecimento positivo que ele poderá talvez vir a adquirir ao mesmo tempo — isso terá de ser considerado uma consequência acidental. Para que a colheita de tal conhecimento seja abundante, basta que o aluno semeie em si as fecundas raízes deste método. Immanuel Kant (Tradução de Desidério Murcho). Figura 10 - Educação, ética e sociedade Fonte: Pixabay. SAIBA MAIS: Estes conhecimentos são importantes, pois trazem reflexões sobre educação, ética e cidadania na atualidade. Para aprofundamento, recomendamos assistir aos vídeos a seguir: A Fraude – o caso Bahrings (com Ewan Mc Gregor) Ameaça virtual (Com Tim Robbins e Ryan Philiphe) Com o dinheiro dos outros (Com Danny de Vito e Gregory Peck) Erin Brockovich (Julia Roberts e Albert Finney) Minority Report: a nova lei (Com Tom Cruise) O Náufrago (Com Tom Hanks e Helen Hunt) Ética e Cidadania 34 RESUMINDO: Neste capítulo, vimos que existem situações e questões na atualidade que precisam estar pautadas pelo olhar da ética e da cidadania, afinal, ser cidadão é colaborar para a garantia de que o respeito e a preservação das relações sejam fundamentais. Vimos, ainda, que tanto na política quanto na saúde e nas trocas via redes sociais, é preciso ter compromisso com a moralidade das participações e atuações. Por fim, destacamos o papel que a educação tem na formação de indivíduos pensantes e responsáveis por suas ações no seio da sociedade. Ética e Cidadania 35 REFERÊNCIAS BAUMAN, Z. A vida em fragmentos: sobre a ética pós-moderna. Tradução de Alexandre Werneck. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011. CLOTET, J. Bioética: uma aproximação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003 FARAH, E. Ética do Advogado: I e II Seminários de Ética Profissional da OAB/SP. São Paulo: LTR, 2000. FRANZOI, J. G. A. Dos direitos humanos: breve abordagemsobre seu conceito, sua história, e sua proteção segundo a constituição brasileira de 1988 e a nível internacional. Revista Jurídica CESUMAR, Maringá, v. 3, n. 1, p. 373-390, 2003. FREIRE, P. A Educação na Cidade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995. p. 144. GADOTTI, M. A Autonomia como Estratégia da Qualidade de Ensino e a Nova Organização do Trabalho na Escola. Petrópolis: Vozes, 1995. GIDDENS, A. As Consequências da Modernidade. São Paulo. Ed. Unesp, 1991. KUNCZIK, M. Conceitos de Jornalismo: norte e sul-Manual de Comunicação. Edusp, 2001. NASCIMENTO, R. de L. A Escola Participativa dentro de uma Gestão Democrática pela qualidade de ensino. [S. l.: s. n.], 2012. PARO, V. H. Administração Escolar: Introdução Crítica. São Paulo: Cortez, 2002. PAUL, S. Community Participation in Development Projects - The World Bank Experience. World Bank Discussion Paper, Washington, n. 6, 1987. Ética e Cidadania 36 PIOVESAN, F. Ações afirmativas na perspectiva dos Direitos Humanos. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 35, n. 124, p. 43-55, jan./ abr. 2005. SCHILLING, F. Indisciplina, violência e o desfio dos direitos humanos nas escolas. In: MEC. Programa Ética e Cidadania. Brasília-DF: MEC, 2007. SINGER, P. Ética prática. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2002. SOLOMON, R. C. Ética e excelência: cooperação e integridade nos negócios. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. VALLS, A. L. M. O que é ética. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 2000. WALFORD, D.; MERBOTE, R. Anúncio do Programa do Semestre de Inverno de 1765-1766. Coletânea Theoretical Philosophy, 1755-1770. Cambridge University Press, 1992, pp. 2:306-7. WOLF, M.; FIGUEIREDO, M. J. V. Teorias da comunicação. Presença, 1987. Ética e Cidadania