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60UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior 1. A GLOBALIZAÇÃO A mundialização do capital é a expressão que melhor se adequa para prover sen- tido ao termo globalização. Chesnais (1996) sublinha que a globalização se traduz na capacidade estratégica de grande grupo oligopolista cuja produção manufatureira ou de serviços são destinados ao enfoque global. A palavra global surge em meados da década de 1980 nas renomadas escolas de administração de empresas conhecidas como “busi- ness management schools”. O termo globalização foi amplamente difundido no âmbito da administração das empresas com a mensagem de que os obstáculos seriam subjugados para obter lucros e isso aconteceria por meio do processo de liberalização e desregulamen- tação e, sobretudo, com o desenvolvimento e utilização da recém descoberta tecnologia por satélites de comunicação. Além disso, Frieden (2008) destaca que são muitos os que julgam a globalização como um processo inevitável e irreversível e que após décadas de integração econômica mundial muitas economias, agentes econômicos e formuladores de política econômica consideraram o capitalismo global e sua perpetuidade o estado natural. Entretanto, o autor reitera que a globalização sofreu reveses no passado com a ruptura causada pelas Primei- ras e Segundas Guerras Mundiais e, portanto, continua a ser uma escolha e não um fato a ser adotado pelos governos dos países que de forma consciente e deliberada decidem por reduzir as barreiras de comércio internacional e dos investimentos bem como adotar novas abordagens para a movimentação do capital e as finanças. Posto isso, as finanças 61UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior internacionais, o comércio exterior e as relações monetárias internacionais são cada vez mais dependentes de ações conjuntas dos governos, ou seja, as políticas internas são pensadas agora de forma global. Sendo assim, Giddens (2006), divide a definição do termo globalização em duas principais visões caracterizadas pelos: (a) céticos e; (b) radicais. Dessa forma para os céti- cos toda essa ideia de globalização não passa de folclore, ou seja, quaisquer que sejam os benefícios, preocupações ou desafios a economia mundial não difere muito da que existia anteriormente, sendo assim o mundo continua inalterado. Além disso, os céticos afirmam que o comércio externo é explicado por uma participação não significativa nos rendimentos do país. Sendo que as incipientes trocas econômicas que acontecem são realizadas entre as regiões, implicando, portanto, na inexistência de um sistema de comércio internacional. Ademais, a globalização para os céticos é uma ideia difundida pelos defensores da liberalização do comércio com o objetivo de destruir a segurança social bem como diminuir os gastos públicos. Doravante, para os radicais a globalização é uma situação clara e con- creta cujos efeitos estão em todas as partes. Posto isso, o mercado para esses indivíduos está mais avançado que em décadas anteriores e não distingue fronteiras. Além do que, as nações nesse âmbito perderam parte da sua soberania e os políticos exercem influência reduzida sobre os acontecimentos. Contudo, parece que nem os céticos e nem os radicais compreenderam a globalização, haja vista, que se trata de um fenômeno representado com características: políticas, tecnológicas, culturais, econômica e, sobretudo, tem se intensifi- cado com o progresso nos meios de comunicação (GIDDENS, 2006). 1.1 Empresa no mundo globalizado A Mundialização da Economia ou mais precisamente a “mundialização do capi- tal” segundo Chesnais (1996), deve ser doravante compreendida como algo mais, ou até mesmo outra coisa, do que uma simples fase a mais no processo de internacionalização do capital iniciado há mais de um século, processo do qual as Multinacionais Globais4 da indústria e dos serviços são a evidência mais clara, as quais a liberalização conferiu organizar como desejavam o trabalho de suas filiais bem como as suas relações de terceiri- zação. A utilização da expressão “mundialização do capital” apresenta uma filiação teórica, aquela dos trabalhos franceses dos anos 1970, sobre a internacionalização do capital. Além 4 Empresa multinacional é uma estrutura empresarial básica do capitalismo dominante nos países industrializados cuja estratégia envolve o acesso ao mercado internacional a partir de uma base nacional sob a direção de uma coordenação centralizada. Conhecidas também como empresas internacionais ou transnacionais, as multinacionais surgem da concentração de capital e da internacionalização da produção capitalista, a exemplo dessa prática está o Fordismo (SANDRONI, 1999). 62UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior disso, reflete também as prioridades metodológicas que foram totalmente ocultadas pela adaptação teórica ao neoclassicismo atribuído à escola de Williamson. A mais importante dessas prioridades diz respeito ao postulado central de referência clássica nas obras de Smith, Ricardo, Marx, relativo à anterioridade e a predominância do investimento e da produção em relação à troca. Partir da produção torna possível buscar e entender uma das bases da internacionalização porque obriga a dedicar uma atenção muito particular ao que acontece “nos bastidores” das oficinas, dos escritórios, mas também dos laboratórios de pesquisa industrial, isto é, a maneira como o trabalho está organizada sobre a base de tecnologias em prol de uma maximização da produtividade (CHESNAIS, 1996). Sendo assim são apresentadas as três modalidades de internacionalização e o ciclo diferenciado do capital proposto em Chesnais (1996) qual destaca a relevante contribuição de Carlos-Albert Michalet sob as diferentes formas de internacionalização de tal forma que permitia pensar nas suas três dimensões, as quais são: 1. Intercâmbio comercial 2. Investimento produtivo no exterior 3. Fluxos de capital financeiro Dito isso, essas três modalidades de internacionalização devem ser estudadas ao nível de três ciclos da movimentação do capital conforme defendido pela corrente marxis- ta, o capital mercantil, capital produtor de valor e de mais-valia e o capital monetário ou capital-dinheiro. Essa forma de abordar de Michalet (1984) é utilizada para definir os períodos do movimento da internacionalização. Além disso, é a partir do movimento do capital produtivo que acontecem as relações entre as três modalidades basilares da inter- nacionalização e é com essa dinâmica que se cria valor e riqueza. Além disso, a produção, circulação ou comercialização estão intrinsecamente re- lacionadas e consequentemente a produção com o comércio internacional. Por sua vez, Chesnais (1996), sublinha que a internacionalização é dominada mais pelo investimento in- ternacional do que pelo comércio exterior condicionando as estruturas que predominam na produção e nas trocas de bens e serviços, destacando o fluxo intracorporativo. Posto isso, o investimento internacional é recepcionado pela globalização das instituições financeiras que provêm os meios de facilitação para as fusões e aquisições transnacionais. 63UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior 1.2 Internacionalização de empresas As constantes mudanças econômicas influenciam os ambientes de negócios reve- lando a necessidade de adaptação das empresas a esse contexto para que possam produzir uma resposta rápida e efetiva às exigências do mercado. Diante do exposto, as empresas buscam se paramentar de ferramentas de captura, tratamento e análise dos dados como o Big Data, Machine Learning e a Ciência de Dados para prover informações que auxiliem na tomada de decisão suprindo uma gestão mais assertiva e que sustente o empreendimento por meio de vantagens competitivas. Além disso, surge a internacionalização com o acesso pelas empresas nas cadeias de produção mundial, livre circulação de capitais e informa- ções bem como os fluxosde investimentos imobiliários. Para Welch e Luostarinen (1988), a internacionalização é o processo cuja finalidade consiste em aumentar a participação nas operações internacionais. Sendo que, as principais teorias de internacionalização segundo Costa e Lorga (2003) são: a. Teoria do Comércio Internacional b. Teoria do Ciclo de Vida do Produto (Vernon, 1966) c. Teorias relacionadas ao comportamento e a gestão empresarial d. Teorias com base nas imperfeições dos mercados, organização industrial e abordagens dinâmicas acerca da internacionalização. Ademais, vamos explorar os aspectos da Teoria relacionada à gestão empresarial por meio da abordagem da Escola de Uppsala cujo processo de internacionalização das empresas pode ser explicado pelo Modelo Uppsala proposto por Johanson e Wiedershei- m-Paul (1975) e Johanson e Vahlne (1977). Sendo o processo de aprendizagem pelo qual as empresas investem os seus recursos de forma gradual enquanto adquirem conhecimen- to sobre um determinado mercado internacional. Essa ideia de gradualismo foi observada para as empresas suecas por meio de estudos empíricos sobre as suas trajetórias no mer- cado internacional e descobriram que estas apresentavam algumas características comuns denominadas de cadeia de estabelecimento e a distância psicológica. A cadeia de estabelecimento se baseia na ideia do desenvolvimento de determi- nada empresa no contexto internacional qual investe recursos de forma sequencial. No entanto, o montante de recursos investidos no mercado-alvo é dependente do seu nível de conhecimento da empresa sobre este. Posto isto, quanto maior for o conhecimento sobre o mercado o qual está se investindo maior será a tendência em aumentar esses investimentos. 64UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior Por sua vez, a distância psicológica é definida como as diferenças percebidas entre valores, práticas de gestão e o grau de educação entre os dois países. A distância psíquica se revela importante no processo de internacionalização devido a restrição que impõe previamente aos investimentos iniciais da empresa em países de culturas opostas, ou seja, o processo tende a ser iniciado em países com culturas semelhantes. Ao adotar essa medida e transferir as operações para países de cultura próxima a empresa absorve conhecimentos sobre o mercado-alvo e sobre como internacionalizar suas atividades. Pos- to isso, o primeiro conhecimento se refere aos aspectos do mercado-alvo, sendo, portanto, de característica intransferível para outros países e o segundo tipo de conhecimento é utilizado para adentrar novos mercados internacionais porque se refere ao conhecimento adquirido no processo de internacionalização. Sendo assim, de acordo com o pressuposto de conhecimento adquirido gradual- mente pela empresa introduzida por Johanson e Vahlne (1977), em que o processo de internacionalização acontece de forma incremental devido às incertezas e informações imperfeitas recebidas do novo mercado, estes apresentam dois conceitos para explicar o modelo, a saber: (a) conhecimento, referente ao mercado-alvo e (b) comprometimento, re- presentado pela soma de recursos investidos no mercado internacional e a possibilidade de utilizar esses recursos em outros mercados sem prejuízo de desvalorização. Assim sendo, o modelo de Uppsala é fundamentado por meio de três pressupostos: I. O maior desafio no processo de internacionalização ocorre por meio da falta de informação II. O conhecimento para a o processo de internacionalização é obtido devido a operacionalização das empresas no mercado-alvo III. Os investimentos acontecem gradualmente no processo de internacionalização Por sua vez, conhecimento e comprometimento são compreendidos como estados do modelo. Para Johanson e Vahlne (1977), essas duas características do modelo se refe- rem às decisões de investimentos dos recursos no mercado-alvo, sendo que o pressuposto é de que as empresas investem em operações que já foram testadas e, portanto, são conhecidas neutralizando e/ou reduzindo o nível de incerteza relativo a essa atividade. Por fim, o segundo aspecto está relacionado aos negócios atuais da empresa no mercado alvo que se caracteriza como o principal recurso na absorção de conhecimento. O modelo de Uppsala de internacionalização pode ser observado por meio da Figura 1. 65UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior FIGURA 1. MODELO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE UPPSALA Fonte: Adaptado de Johanson e Vahlne (1977) O conhecimento de mercado e o comprometimento com o mercado assumem o efeito para ambas as decisões de comprometimento e as atividades atuais. Dessa forma, quanto mais uma empresa investe em determinado mercado-alvo internacional mais ab- sorve conhecimento sobre esse mercado, sendo que, quanto maior for o nível de conheci- mento adquirido maior a propensão a investir e por fim quanto maior a propensão a investir maior a possibilidade de o investimento ser executado, caracterizado pela postura cíclica da estratégia conforme observado na Figura 1. Além disso, surgiu das Teorias de Internacionalização o Paradigma Eclético de Dunning, Dunning (1988), que buscou associar a abordagem econômica com as explica- ções de outras variáveis inerentes ao processo. Posto isso, o resultado foi a consolidação das teorias que englobam a localização, competição monopolista, internacionalização e custos de transação desenvolvendo o Ownership Localization Internalization (OLI) (Quadro 1). QUADRO 1. OLI Padrões Descrição Ownership Vantagem de propriedade cuja finalidade consiste na análise da or- ganização relacionado ao posicionamento estratégico da empresa no mercado exterior. Nesse aspecto os ativos intangíveis são a principal vantagem tais como: capital intelectual, tecnologia, informações, mar- cas e patentes, processos produtivos e gerenciais entre outros. Localization Vantagem de localização que pode ser desenvolvida pela organização considerando as características de cada país ou região em que a em- presa instalou suas operações. Os principais aspectos abordados são custos com a mão de obra, tributação, estrutura local entre outros. Internalization Consiste na capacidade de internalização da empresa sob as vanta- gens referentes a propriedade adquirida no mercado-alvo. Dito isso, quando os custos de transação se revelam superiores aos de incorpo- ração a empresa opta a internalizar as suas operações nesse mercado. Fonte: Adaptado de Dunning (1988). 66UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior Essa teoria não considera o comportamento do exportador sendo que o Paradigma eclético da produção internacional é fundamental para o desenvolvimento dos custos de transação e de informações e que determinadas características do país de destino como o tamanho do mercado, riscos políticos e perspectivas de crescimento condicionam a forma com essas empresas adentram nos mercados-alvo. Diante do exposto, em situações em que a extensão do mercado é restringida ou que há inerentes riscos políticos as organiza- ções tendem a optar pela exportação ou licenciamento não demonstrando interesses em realizar os investimentos físicos no país. 1.3 Multinacionais Uma empresa é considerada multinacional nos Estados Unidos quando esta detém o controle acionário de dez por cento de uma determinada empresa estrangeira. Analogamente, quando uma empresa estrangeira detém o controle acionário de dez por cento de empresas dos Estados Unidos configura uma Multinacional com sede no exterior e, portanto, a empresa em território norte-americano é considerada uma subsidiária. Além disso, a empresa que controla, segundo Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) é conhecida por matriz multinacional e as empresas controladas são as matrizes afiliadas. Sendo assim, quando uma empresa dos Estados Unidos adquire mais do que dez por cento de uma empresa estrangeira ou quando investe em instalações da empresa no exterioresse investimento é considerado saída de Investimento Estrangeiro Direto (IED) norte-ameri- cano. Analogamente, os investimentos realizados por companhias estrangeiras nas filiais norte-americanas são considerados entrada de IED (Figura 2). FIGURA 2. FLUXO DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO† POR PAÍS. Fonte: Adaptado de BCB (2021). Nota: †Valores em milhões de dólares dos Estados Unidos (US$). 67UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior Doravante, nossa intenção é entender porque uma empresa objetiva se tornar uma matriz multinacional. Ou porque uma empresa optaria por operar uma afiliada no exterior? Para Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), a resposta é clara, depende das atividades pro- dutivas desempenhadas pela empresa afiliada no exterior. Por sua vez, essas atividades podem ser destinadas para: (a) a empresa afiliada que repete o processo produtivo da matriz multinacional ou quando; (b) a cadeia de produção é rompida e parte do processo produtivo é transferida para a matriz afiliada. Dessa forma, as empresas controladoras optam pela opção (a) quando desejam que seus bens e serviços produzidos fiquem próximos aos seus consumidores e é usualmente estabelecida entre em países desenvolvidos. Analogamente, as matrizes multinacionais optam pela opção (b) quando desejam quebrar ou fragmentar o seu processo produtivo entre produção que requer habilidade intensiva e mão de obra intensiva, ou seja, a parte tecnológica que requer especialização da mão de obra fica retida quem países cuja mão obra seja capacitada e de forma análoga a parte da produção que requer mão de obra intensiva é direcionada para países cujo fator seja abundante. Uma exemplificação dessa divisão do processo produtivo pode ser observada para o caso brasileiro da “tropicalização” dos automóveis da General Motors do Brasil (GMB) na década de 1970. Segundo Queiroz e Carvalho (2005), os automóveis eram projetados pela Subsidiária Opel na Alemanha e montados no Brasil e, por sua vez, receberam autorização para efetuar adaptações à realidade geográfica e climática do país. O resultado foi à cria- ção de automóveis derivados das concepções originais os quais atendiam a demanda do brasileiro possibilitando inclusive que o Brasil fosse envolvido diretamente nas formulações dos projetos, ou seja, o lançamento foi invertido antes era concebido na Europa e só então lançado no Brasil, com o desenvolvimento sendo realizados no Brasil os lançamentos pas- saram a ocorrer primeiro em território nacional e na Europa posteriormente. Ademais, são destaque as empresas multinacionais brasileiras que atuam em diversos países como as: Alpargatas, Banco do Brasil, Bradesco, Embraer, Gerdau, Itaú, JBS, Marcopolo, Natura, Odebrecht, Oi, Perdigão, Petrobras, Sadia, Vale, Votorantim e Weg cujos setores são responsáveis pela geração de renda e emprego no Brasil. 68UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior 4. ANÁLISES PRÁTICAS DOS IMPACTOS DAS NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS Os conflitos armados deflagrados entre 1914-1939 e a Grande Depressão de 1929 deixaram o mundo em ruínas e desconfiança. Dito isso, o mundo pós-guerra foi marcado por esforços de reconstrução, troca da hegemonia política e econômica entre o Reino Unido (UK) e os Estados Unidos (EUA) e pelo início da liberalização do comércio internacional. Uma das primeiras conquistas desses esforços foi a criação do GATT que já estudamos e posteriormente da Organização Mundial do Comércio (OMC). Sendo assim, Mesquita (2013), destaca que entre as décadas de 1940 e 1960 foram realizadas cinco Rodadas de Negociações cujo objetivo consistia na redução tarifária as quais ficaram conhecidas como: (I) Genebra; (II) Annency; (III) Torquay; (IV), (V) Genebra e Dillon. Essas negociações utilizavam listas de produtos com os pedidos e ofertas de cada nação. Posto isso, e diante da expectativa de que houvesse reciprocidade por ambas as partes as negociações favoreciam os principais fornecedores. Entretanto, esse dispositivo privilegiava a negociação entre as grandes economias, porque os países menores sem dispor de moedas de barganha não possuíam abertura comercial nas negociações para os seus bens, em contrapartida não necessitavam fazer concessões. Diante do exposto, houve outras Rodadas de negociações cujo objetivo consistia na redução tarifária ou enfrentamento das barreiras não tarifárias para então reduzir a distância entre um comércio de livre comércio internacional. Dito isso, no Quadro 2 é possível verificar a organização das principais Rodadas de Negociações realizadas no contexto pós-guerra. 69UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior QUADRO 2. RODADAS DE NEGOCIAÇÕES Rodadas de Negociação Período Objetivos Rodada Kennedy 1964- 1967 ▪ O método tradicional de listas foi abandonado favorecendo uma redução linear das tarifas para produtos industriais. ▪ Objetivo não alcançado em setores considerados sensíveis como têxteis, calçadista, químico e siderúrgico. ▪ Destaque para a aprovação do Código Antidumping Rodada Tóquio 1973- 1979 ▪ Introdução da fórmula suíça cujo objetivo consistia na re- dução tarifária. Além disso, foi elaborada a partir de uma modelo matemático que estabelecia um teto máximo para a inclusão de novas tarifas e efetuava cortes de forma pro- porcional nas primeiras tarifas incluídas que fossem mais elevadas. ▪ Resultado final: Redução média de até 33% das tarifas dos países industrializados. ▪ Primeiras tentativas para combater as barreiras não tarifá- rias. Com destaque para acordos sobre subsídios, medi- das compensatórias, barreiras técnicas, licenciamento de importações, valoração aduaneira, compras do Governo e acordos antidumpings. ▪ A principal frustração é de que houve esforços para excluir determinados setores das negociações. Rodada Uruguai 1986 ▪ Um dos objetivos consistia no estabelecimento de regras sobre propriedade intelectual e comércio de serviços. ▪ Frustrações em acordos nos setores têxteis e agrícolas. ▪ Acordo de Blair House – Base para os resultados das ne- gociações agrícolas (1992). ▪ Projeto Dunkel. ▪ Criação da OMC (1994). Fonte: Adaptado de Mesquita (2013). Uma breve inspeção no Quadro 2 permite verificar algumas mudanças que foram realizadas no comércio internacional ao longo das décadas do pós-guerra. Além disso, Mes- quita (2013), reitera que os resultados colhidos nos oito anos de negociações da Rodada Uruguai apresentaram amplitude, profundidade e de certa forma revolução sob os aspectos antes não tratados ou negligenciados nas negociações. Até então predominava, o sistema do GATT, mas este não possuía respaldo jurídico e apresentava fragilidade para as partes que não eram considerados membros devido ao Protocolo de Aplicação Provisória qual limitava as negociações ao comércio de produtos excluindo setores e cujo mecanismo de controvérsia era dependente do consentimento do reclamante. Dessa forma, o acordo de 1994 que consolidou a Organização Mundial do Comércio (OMC) modificou consistente- mente o sistema de comércio multilateral mundial. 70UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior SAIBA MAIS A Marcopolo, principal fabricante brasileira de carrocerias de ônibus, figura entre uma das maiores multinacionais do mundo. Uma de suas principais características é a adap- tatividade com relação às necessidades do cliente como foi o caso dos ônibus para Machu Picchu ou destinados a peregrinos que vão a Meca, a capital sagrada do Islamis- mo. Além disso, emprega a estratégia de negócios conhecida como joint venture para investir em novos mercados mundiais oferecendo o conhecimento dos processos e em contrapartida recebe a adesão regional por meio de empresas locais. Fonte: BELLINI, P. Marcopolo: Sua viagem começa aqui. 1. Ed. Editora: Elsevier, 2012. REFLITA O fato é que cada exemplo bem sucedido de desenvolvimento econômico desse século passado, todos os casos de uma nação pobre que trabalhouseu caminho até um mais ou menos decente, ou pelo menos melhor padrão de vida, foi feito através da globalização, isto é, através da produção para o mercado mundial, em vez de tentar a auto-suficiência. Paul Krugman 71UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) estudante, nesta unidade aprendemos sobre as principais características, conceitos e definições que abrangem o comércio internacional. Começamos com o proces- so de globalização, definimos o termo e os fundamentos que deram início a esse processo no mundo por meio da liberalização e desregulamentação e, sobretudo, pelos esforços de liberalização dos termos de comércio exterior. Debatemos o ponto de vista a partir da perspectiva dos céticos e radicais, os primei- ros não acreditam que haja transações comerciais internacionais e as que são aceitas são decorrentes de negociações realizadas dentro dos blocos econômicos. De forma análoga, os radicais aceitam o comércio exterior e reafirmam a sua existência em todas as partes. Ademais, explicamos a inserção das empresas no contexto econômico globaliza- do dado a mundialização da economia e do capital enfatizando a posição das empresas multinacionais. Explicamos os três ciclos de Michalet além de adentrar sobre as teorias de internacionalização, nesse âmbito, estudamos o Modelo de Uppsala postulado pela Escola de Uppsala além de apresentar o Paradigma Eclético de Dunning e a consolidação das teorias que englobam a localização, competição monopolista, internacionalização e custos de transação culminando na OLI. Finalmente, analisamos as práticas dos impactos das negociações internacionais por meio das Rodadas de Negociações como a Rodada Kennedy, Rodada Tóquio e Roda- da Uruguai cujos esforços após oito intensivos anos resultaram na criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1994 qual entrou em funcionamento em 1995 e teve suas bases fundadas pelo Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio – GATT. 72UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior LEITURA COMPLEMENTAR RATTNER, H. Globalização: em direção a um mundo só? Estudos Avançados, v.9, n.25, 1995. DOI: 10.1590/S0103-40141995000300005. RAMALHO, N. A. Processos de globalização e problemas emergentes: impli- cações para o Serviço Social contemporâneo. Serviço Social & Sociedade, n.110, 2012. DOI: 10.1590/S0101-66282012000200007 73UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Teorias da Globalização Autor: IANNI, O. Editora: Civilização Brasileira Sinopse: Segundo o relatório anual (1993) da UNCTAD (Conferên- cia das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), um terço da capacidade produtiva mundial no setor privado está sob controle direto ou indireto (através de subsidiárias ou associações locais) de TNCs - corporações transnacionais. Trinta e sete mil delas, com 206 mil subordinadas em todos os continentes, foram responsáveis por investimentos totalizando 2 trilhões de dólares no ano de 1992. Seus ativos no exterior geraram transações co- merciais no montante de 5,5 trilhões de dólares. As 100 maiores TNCs têm sede em nações desenvolvidas, sendo a metade de suas subsidiárias localizadas no chamado Terceiro Mundo. Cabe a Octavio Ianni analisar o tema, investigar seu curso atual e con- jecturar objetivamente sobre seus possíveis desdobramentos. Resultam deste enfoque o título e a própria natureza deste ‘Teorias da globalização FILME/VÍDEO Título: O Mundo Segundo a Monsanto Ano: 2008 Sinopse: O documentário “O Mundo segundo a Monsanto”, exi- bido nesta terça-feira pela TV franco-alemã Arte, traça a história da principal fabricante de organismos geneticamente modificados (OGM), cujos grãos de soja, milho e algodão se proliferam pelo mundo, apesar dos alertas de ambientalistas. 74UNIDADE IV Globalização e o Comércio Exterior WEB O documentário conta como as grandes empresas multinacionais que conhecemos hoje se formaram, qual a força política delas e mostra para onde devemos caminhar. Afinal, essa “cultura” de extrair as matérias-primas da natureza, utilizá-las e, em seguida, descar- tá-las poderá acelerar o fim do homo sapiens. Link: https://www.youtube.com/watch?v=Zx0f_8FKMrY
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