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TEORIA DA IMAGEM Mariana Bezerra Moraes de Araújo Revisão técnica: Deivison Campos Bacharel em Filosofia Mestre em Sociologia da Educação Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147 T314 Teoria da imagem / Rafaela Queiroz Ferreira Cordeiro... [et al.] ; [revisão técnica: Deivison Campos]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018. 240 p. : il. ; 22,5 cm ISBN 978-85-9502-320-8 1. Jornalismo. I. Cordeiro, Rafaela Queiroz Ferreira. CDU 070 Imagem e tecnologia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Apresentar o desenvolvimento da imagem: da pré-história ao digital. � Descrever as mudanças na percepção de imagem acarretadas pela tecnologia. � Enumerar exemplos de estudos semióticos a partir da imagem e da tecnologia. Introdução Os desenvolvimentos tecnológicos acarretaram mudanças em diversos ramos da vida humana. Os campos social, econômico e cultural sofre- ram transformações ao longo dos anos que estão relacionadas com o crescimento humano e com o advento de novas tecnologias. Com as imagens, não foi diferente. Você certamente já percebeu que a relação humana com a imagem também vai se transformando. Atualmente, a tecnologia faz parte do cotidiano e as imagens também, ambas ocupando um papel importante na sua vida, não é? A tecnologia causou diversos impactos na relação humana com as imagens, quebrando barreiras físicas e espaciais na produção e na recepção delas. Neste capítulo, você vai aprender sobre o desenvolvimento da ima- gem. Assim, vai ver como ela era nos tempos pré-históricos e entender o que mudou até chegar à era digital. Também vai compreender como a tecnologia interferiu nas percepções e nas possibilidades de estudos da imagem. O desenvolvimento da imagem: da pré-história ao digital Entender a relação da imagem com a tecnologia também passa por compreender o seu desenvolvimento ao longo da história. Conforme Alves, Costa e Silva (2007), a imagem é o mais antigo registro da história humana. Ela surgiu como uma necessidade do homem de se comunicar e da sua descoberta de “[...] ser capaz de analisar, refletir, interpretar e interferir na sua própria rea- lidade” (ALVES; COSTA; SILVA, 2007). Na pré-história, o homem utilizava as pinturas nas cavernas como forma de expressão. Esses são os primeiros registros de imagens de que se tem conhecimento, e eles surgiram milênios antes da palavra catalogada (SANTAELLA; NÖTH, 1998). Nesse contexto, as pinturas podem ser consideradas precursoras da escrita, já que funcionavam como uma forma de descrição/representação. Como exemplos, você pode considerar os petrogramas, que são desenhados ou pintados, e os petróglifos, que são talhados ou gravados, sendo estes os primeiros sinais de imagem. Desde essa época, a imagem evoluiu, acompanhando as transformações do comportamento humano e do desenvolvimento tecnológico (ALVES; COSTA; SILVA, 2007). Esse desenvolvimento, como você sabe, possibilitou uma re- volução na percepção que se tinha da imagem e da sua relação com o espaço e o tempo. A imagem, fisicamente, não está mais presa no espaço. Assim, de qualquer parte do mundo você pode visualizar uma imagem, e isso pode ser feito de forma rápida. O desenvolvimento da imagem como interesse de estudo aconteceu a partir do século XX. Até então, a imagem era vista como algo complementar aos estudos da semiótica, que tinham sua ênfase principal na palavra. A partir daí, a imagem por si só vira um elemento estruturante em todas as áreas da comuni- cação, sendo entendida como criadora de significado (ALMEIDA, 2011). Nesse contexto, é importante você considerar a importância dos desenvolvimentos tecnológicos. A contemporaneidade é marcada pelo uso das imagens, que transcorre em todos os campos do conhecimento humano (ALVES; COSTA; SILVA, 2007). O homem é por si um consumidor de imagens. Elas ditam sua vida diária: você tanto consome como produz imagens, não é? Ou seja, elas são algo intrínseco à sua rotina. A criação de imagens transformou-se ao longo do tempo, o que pode ser relacionado com a evolução humana, a trajetória e o desenvolvimento tecnológico. No contexto atual, as imagens são uma ferra- menta poderosa de comunicação e cultura (ALVES; COSTA; SILVA, 2007). Imagem e tecnologia138 Outro ponto importante para você entender a imagem é compreender o seu signifi- cado. Platão é um dos primeiros estudiosos que tentou definir o que era imagem. Ele caracteriza a imagem como sombras, reflexos nas águas, superfícies nos corpos opacos e outras representações desse tipo. Mas é importante você entender que ele se refere à imagem no espelho e tudo que usa esse mesmo tipo de representação (JOLY, 2007). Para Joly (2007), a palavra imagem é tão utilizada que parece ser difícil apresentar uma definição simples. A autora afirma que o termo pode ser usado para designar um filme, um desenho, um grafite, uma pintura, a imagem de uma marca, uma imagem mental, ou seja, ela possui diversos significados. Mas, mesmo assim, as pessoas são capazes de compreendê-la e sabem que ela sempre remete a algo. Esse algo, mesmo que não possa ser visto no momento, toma para si alguns traços do visual, do visível. Além disso, a imagem passa pela necessidade do sujeito, seja quem a produz ou quem a recebe. Já Santaella e Nöth (1998) dividem o mundo das imagens em dois domínios: o visual e o imaterial. O domínio das representações visuais está relacionado com “[...] objetos materiais, signos que representam o nosso meio ambiente visual [...]” (SANTAELLA; NÖTH, 1998, p. 15), ou seja, representações como fotografias, vídeos, pinturas, gravuras, entre outras. Já o signo imaterial está relacionado com as imagens na mente, com o campo da imaginação, esquemas, fantasiais, visões; em outras palavras, está no domínio das representações mentais. Ambos os domínios estão interligados, unidos pelos conceitos unificadores de signo e representação. Santaella e Nöth (1998) abordam três momentos marcantes no desenvolvi- mento da imagem, que denominam de paradigmas da imagem: pré-fotográfico, fotográfico e pós-fotográfico. O primeiro paradigma está relacionado com todas as imagens produzidas à mão, em outras palavras, imagens desenvolvidas de forma artesanal. Entram nessa classe as imagens em pedra, pinturas, escul- turas, gravuras e desenhos. O período fotográfico é o que tem relação com imagens produzidas por meio de “[...] conexão dinâmica e captação física de fragmentos do mundo visível, isto é, imagens que dependem de uma máquina de registro” (SANTAELLA; NÖTH, 1998, p. 157). Entram nessa categoria desde a fotografia, cuja invenção revolucionou o mundo da imagem, até o vídeo, entrando em contexto o cinema, a televisão, o vídeo e a holografia (SANTAELLA; NÖTH, 1998). No terceiro paradigma, enquadram-se as imagens sintéticas e infográ- ficas, que são imagens calculadas por meio de computação. Nesse caso, as imagens deixam de ser ópticas, captadas por meio de luz emitida num objeto pré-existente, seja ele químico (fotografia) ou eletrônico (cinema), e passam 139Imagem e tecnologia a ser transformadas em pixels, visualizados numa tela de vídeo. Santaella e Nöth (1998) também afirmam que esse modelo é reducionista, que limita a imagem a apenas três paradigmas e é incapaz de avaliar diferenças específicas de toda evolução da imagem. Contudo, pontuam que essa divisão é necessária para compreender melhor traços gerais do desenvolvimento do processo de como a imagem é produzida. Em outras palavras, é importante para entender as transformações que ocorreram relativas aos recursos, às técnicas e aos instrumentos de captação de imagens (SANTAELLA; NÖTH, 1998). A invenção da fotografia ocorreu no âmbito da Revolução Industrial, que proporcionou um grande desenvolvimento científico e a transformação nos domínios social, econô- mico e cultural. Entre as invenções dessa época, a fotografiatem papel de destaque. Com o tempo, ela desenvolveu-se e deixou para trás seu caráter artesanal. A partir da década de 1960, seu grande consumo e aceitação permitiram o seu desenvolvimento comercial e industrial. Seu uso permite que a expressão cultural seja documentada, o que até então era feito por meio de registros escritos, verbais e pictóricos (KOSSOY, 2001). O desenvolvimento da imagem também pode levar em consideração o surgimento das novas tecnologias e da internet, que terminaram por modificar a relação das pessoas com a imagem. Nesse sentido, permitiram a criação e a distribuição de imagens em larga escala. Várias ferramentas de suporte à imagem têm sido desenvolvidas. Elas incluem desde celulares com câmeras embutidas, que permitem captação e partilha rápida, a ferramentas de apoio à educação, que permitem o uso de imagens em sala de aula. Outro exemplo é a utilização de ferramentas que possibilitam uma visita a exposições a partir da sala de casa. Ou seja, a imagem tomou conta da vida das pessoas de uma forma que é quase impossível imaginar como seria o cotidiano sem elas. Mudanças na percepção das imagens acarretadas pela tecnologia O advento das novas tecnologias provocou um impacto em várias áreas da vida, seja ela cultural, social ou econômica. Nesse contexto, pode-se afirmar que com a imagem não foi diferente. O digital chegou para transformar o que Imagem e tecnologia140 se entendia por imagem até então, quebrando algumas barreiras físicas que marcavam o processo de criação e reprodução da imagem. Conforme Bruno, “[...] o advento de processos e tecnologias de digitalização e modelização nu- mérica anuncia a emergência de novos regimes estéticos, cognitivos, escópicos, subjetivos, maquínicos” (FATORELLI; BRUNO, 2006, p. 7). O advento das imagens digitais marca um novo limiar no contexto da imagem. Esse novo limiar, por sua vez, não pode ser entendido como um momento de ruptura, mas sim como um processo de transformação do status da imagem. Assim, essa transformação vai interferir em como as pessoas veem, pensam, sentem e criam imagens (FATORELLI; BRUNO, 2006). Vivemos uma era da informação, marcada por uma cultura da generalização das dimensões visuais, estas criadas em tempo real. Nesse contexto, você sabe que as novas tecnologias modificaram a relação das pessoas com as imagens. A revolução tecnológica permitiu que se quebrassem barreiras físicas e tem- porais com as imagens: vê-se elas saírem do campo analógico e manual para o digital. Esse processo está sempre em transformação, graças às invenções tecnológicas que vão se renovando diariamente. Essas mudanças permitem que você tenha experiências até então inéditas com as imagens, não é? Você pode considerar o exemplo da fotografia. Durante a era analógica, se tinha uma relação diferente com essa forma de imagem. A relação físico-motora, por exemplo, era diversa da que se tem hoje. Ela se caracterizava por uma maior dificuldade na movimentação das primeiras câmeras criadas, que limitavam as pessoas a um determinado espaço e a certas quantidades de fotografias. Também havia a materialidade do suporte, e as revelações das fotografias são um bom exemplo de como a tecnologia interferiu nos processos de produção de imagem. Atualmente, poucas são as fotografias reveladas, e a maior parte das fotos fica em suporte digital (FATORELLI, 2006). Conforme Lima (2012), uma das atividades humanas é a construção da arte. Esta muitas vezes aparece por meio de imagens, reproduzida pela pintura, pela escultura, pela fotografia, pelos vídeos, entre outros meios materiais. Nesse contexto, o ser humano atua como um agente das mudanças nas percepções das imagens. Na contemporaneidade, a tecnologia vem imprimindo suas marcas gradativamente nas imagens. Desde os tempos primitivos até a atualidade, a ciência e a tecnologia evoluíram de tal forma que exercem influência em todos os ramos da vida humana, ficando difícil imaginar uma sociedade contem- porânea sem elas. Momentos como a descoberta do fogo, a domesticação de animais, a construção de cidades e indústrias, o aproveitamento dos recursos energéticos e as viagens até o espaço são apenas alguns exemplos de como o ser humano tem evoluído em termos científicos e tecnológicos. Hoje em 141Imagem e tecnologia dia, com a rapidez com que a ciência e a tecnologia avançam, fica até difícil acompanhar as mudanças. Todos os dias aparecem novidades e melhorias em diversas áreas, não é? (LIMA, 2012). Quando estuda a evolução da produção da imagem, é importante que você considere que o homem possui a necessidade de se comunicar. Desde a pré-história, as imagens eram utilizadas como uma forma de expressão e comunicação humana. Acredita-se que as pinturas das cavernas eram usadas com o propósito de comunicar. Mesmo sendo encontradas em regiões dife- rentes, elas tinham algumas características comuns e retratavam o cotidiano daqueles povos. Ao longo do tempo, o homem foi evoluindo em suas formas de comunicação, inclusive com o surgimento da palavra. A imagem, por sua vez, vai acompanhando o desenvolvimento humano e passa a ser feita com diversos tipos de materiais e suportes, mas sempre com o mesmo objetivo: representar, comunicar e informar. Atualmente, é notada uma ruptura nas formas de produção da imagem com os modos antigos. Antes, a representa- ção da imagem era ligada a formas como pintura, escultura e desenho, por exemplo. Mas a modernidade traz novas técnicas de produção de imagem. Ferramentas químicas e tecnológicas possibilitam a captura de imagens reais de forma mais rápida, como é o caso da fotografia e do vídeo. Eles permitiram maior crescimento do uso da imagem, que é utilizada para diversos fins. Mas mesmo esses suportes de imagem continuam evoluindo desde a sua invenção. Agora, se desenrola a era da fotografia e dos vídeos digitais, que permitem que qualquer pessoa com um celular consiga captar imagens (LIMA, 2012). Em 1995, Negroponte afirmava que as relações sociais são cada vez mais geridas por meio de aparatos tecnológicos. Seja no trabalho, no lazer ou na relação com o outro, a tecnologia está presente em todos os momentos (NEGROPONTE, 1995 apud LIMA, 2012). Se há mais de 20 anos ela já ocupava um papel de destaque, nos dias atuais, a relação das pessoas com os aparatos tecnológicos só aumenta. Como você deve imaginar, isso tem pontos tanto positivos, como é o caso da facilidade com que se executam as tarefas diárias, como negativos, como a dependência criada. Assim, as imagens são cada vez mais produzidas com recursos de equipamentos eletrônicos, e isso não se restringe apenas à fotografia e ao vídeo, mas avançou para áreas que tinham como característica a produção manual, como é o caso do desenho e das ilustrações. A partir do uso de computadores e softwares, é possível para qualquer pessoa criar imagens (LIMA, 2012). Em outras palavras, o surgimento de novas ferramentas tecno- lógicas muda a relação do homem com a imagem. Computadores, softwares de imagens, tablets, canetas eletrônicas, celulares e, inclusive, a internet são exemplos de ferramentas que transformaram a criação e a recepção de imagens. Imagem e tecnologia142 Santaella (2001 apud LIMA, 2012) aborda a questão da evolução das imagens analisando que, na era pré-fotográfica, a relação com a imagem era marcada pelo registo do visível e do invisível (a imagem era um espelho da realidade) e pela sua contemplação pelo receptor. Na fotográfica, a relação com a imagem é feita por meio do registro apenas do visível, e a imagem é um documento. Nesse documento, as pessoas, como receptoras, se observam, reconhecem e identificam por meio das imagens. A era pós-fotográfica é marcada pela visualização do modelável e uma imagem matriz. Assim, o receptor termina por interagir com as imagens, existem maiores imersão e navegação no mundo imagético (SANTAELLA, 2001 apud LIMA, 2012). Na atualidade, as imagens são cada vez mais utilizadascomo uma forma de represen- tação da informação e para gerir conhecimento em diversas áreas. Nesse sentido, você pode considerar que o meio digital trouxe mudanças na relação que você desenvolve com as imagens. É o caso da internet, na qual a utilização das imagens é imprescindível para blogs, canais no YouTube, webmuseus, lojas on-line, entre vários outros suportes digitais (LIMA, 2012). Também há o exemplo das redes e mídias socias, como o Facebook e o Instagram – este último com ênfase apenas na partilha de fotografias e vídeos. Assim, é cada vez mais fácil perceber a importância que as pessoas dão para o tipo de imagem que vão colocar nas suas redes sociais, considerando se elas vão ter maior aceitação dos seus seguidores. Como você sabe, o objetivo muitas vezes é ser popular e utilizar imagens que vão conseguir mais “curtidas”. Outra mídia social que é baseada apenas no uso de imagens é o Pinterest, utilizado para compartilhamento de fotografias que funcionam como inspirações para as pessoas. Portanto, compreende-se que a imagem desempenha a função de “[...] registrar o imaginário, de significar e dar sentido no mundo [...]” (LIMA, 2012, p.25). Esses são alguns exemplos de como o digital transformou as relações das pessoas com o campo imagético. Esse campo agora está marcado pela interação com as imagens. Nessa interação, muitas vezes você está no papel de produtor e outras na função de receptor, não é? O que você deve ter em mente é que, em qualquer uma dessas atribuições, você carrega as imagens de significado. Estudos semióticos a partir da imagem e da tecnologia Como você viu até agora, o advento das novas tecnologias de comunicação e informação está transformando a vida humana nas suas mais diversas áreas. 143Imagem e tecnologia Além de modificar as formas de lazer e entretenimento, as novas tecnologias transformam as relações das pessoas com outras esferas de suas vidas. É o caso do trabalho, no qual o aparecimento da robótica e de diversas tecnologias facilita a execução de tarefas. Você também pode considerar como exemplos o consumo por meio do gerenciamento eletrônico e a comunicação e a educação a distância. No caso da imagem, a tecnologia abriu novas oportunidades de estudos no âmbito da semiótica da imagem. Você sabe o que é semiótica? Essa é a ciência que estuda “[...] o processo de articulação entre os diversos tipos de linguagens e os modos pelo qual o homem significa aquilo que o rodeia” (LIMA, 2012, p. 47). Conforme Santaella (2013 apud LIMA, 2012), a semiótica é a ciência que estuda os signos e, para isso, tem de desenvolver instrumentos que possibilitem a sua análise. Então, é possível considerar que os signos estão em toda a parte, desde a língua aos sons e às imagens. Como ser humano, você vê, ouve e sente; e tudo isso remete a uma noção do que é real e de como interagir com essa realidade e com outros seres, com os quais você possui necessidade de se comunicar. Para essa comunicação ser possível, você faz uso de diversas linguagens sígnicas, não é? Essas linguagens têm sido objeto de estudo da semiótica (LIMA, 2012). Nesse contexto, as novas tecnologias contribuíram na transformação da forma como a comunicação ocorre. Atualmente, é comum que uma mídia possua diversos tipos de linguagens. Houve um processo de hibridização, no qual pintura, escultura, fotografia, vídeo, desenho, entre outros formatos, terminam por se confraternizar, não ficando limitados a um único suporte. Assim, existe uma mistura do visual com o sonoro, da palavra com o movimento, ou de todas as linguagens num único movimento. No âmbito do visual, a produção e a recepção de imagens, por meio dos atos de fotografar, filmar, desenhar e editar, por exemplo, sofreram diversas modificações. Essas modificações estão relacionadas com o diálogo entre as tecnologias visuais digitais, os desenvolvimentos de plataformas de redes sociais, vídeos, sites, aplicativos e partilhas de imagens, entre outras ferra- mentas que aumentam o diálogo e a relação com as imagens. Essas mudanças também têm possibilitado novas práticas e formas de visualidade por meio de diversos campos, sejam eles on-line ou off-line. As novas práticas relacionadas às imagens têm sido incorporadas na sociedade e no cotidiano, acarretando implicações em diversos níveis sociais, políticos, culturais, estéticos. Isso tudo Imagem e tecnologia144 para além do seu impacto na redefinição do visual e no seu posicionamento na sociedade contemporânea (MARTINS; PINTO-COELHO, 2017). Webmuseus As novas práticas e formas de lidar com a imagem também possibilitam novas vertentes de estudos no campo da semiótica da imagem. Um dos campos de possibilidades é a relação das pessoas com os museus, por exemplo. Se antigamente a visita aos museus só era possível fisicamente, agora existem os webmuseus, que chegaram para modificar a relação das pessoas com as obras de artes, possibilitando o acesso a elas por meio de computadores. O ciberespaço foi que permitiu o aparecimento dos webmuseus. Esses espaços são ambientes virtuais e informacionais com exposições de obras de arte. Lima (2012), por exemplo, avalia como a tecnologia transforma a percepção das obras de arte, que saem do contexto físico para o virtual. Nesse caso, como a imagem vai ser percepcionada neste último campo, mesmo a qualidade das obras é diferente no virtual. Ou seja, a imagem sai de uma estrutura semiótica para outra (LIMA, 2012). Netflix e YouTube Outra relação que sofre influência das tecnologias digitais é a que as pessoas estabelecem com as séries e os filmes. Essa relação começou a se transformar com o aparecimento da televisão a cabo, possibilitando novas ferramentas para visualização desses formatos de vídeo com uma gama de diversos canais à escolha, além da possibilidade de gravação e pausa. Mas foram as plataformas com tecnologias de distribuição de vídeo por transmissão por meio da internet, como é o caso do Netflix e do YouTube, que transformaram de vez a relação das pessoas com esses suportes de imagem. “O Netflix e o YouTube são os principais expoentes na produção e distribuição de conteúdo voltado para o engajamento da audiência com aspectos viciantes, em um novo paradigma de distribuição da programação, por demandas individuais do espectador” (REZENDE; GOMIDE, 2017). Essas plataformas permitem o acesso a filmes e séries a qualquer momento e em qualquer lugar, durante o tempo que o consumidor achar necessário. Hoje em dia, é comum fazer “maratonas” de episódios num único dia. Esse novo comportamento em relação a séries e filmes é um objeto de estudo interessante, uma vez que essas plataformas chegaram e modificaram a relação dos espectadores com esse tipo de entretimento. 145Imagem e tecnologia Selfies A fotografia é um dos formatos de imagem mais antigos do mundo. Inclusive, estudos na área são divididos levando em consideração a sua invenção. É o caso dos estudos de autores como Santaella e Nöth (1997, p. 157), que falam, como você viu, dos períodos pré-fotográfico, fotográfico e pós-fotográfico. Desde as primeiras fotografias, esse formato evoluiu, saindo do mundo ana- lógico e chegando ao digital. Nesse contexto, a relação das pessoas com as imagens fotográficas também mudou. Aqui, você pode considerar o exemplo das selfies, que são autorretratos, uma forma comum de tirar fotografias na atualidade, sendo uma maneira de fazer um relato próprio (Figura 1). Estudos recentes sobre a prática têm sido desenvolvidos, tentando compreender essa forma de expressão humana. Afinal, uma selfie transmite significado, é uma forma de as pessoas comunicarem a sua subjetividade, escolhendo também o que querem mostrar para o outro. Figura 1. A selfie, ou seja, o autorretrato, é uma forma de tirar fotografias muito comum nos dias de hoje. Fonte: oneinchpunch/Shutterstock.com. Imagem e tecnologia146 A selfie representa como o digital mudou a relação das pessoas com as imagens.Se antes era necessária a presença de um fotógrafo para tirar uma foto, hoje em dia as pessoas são capazes de fazer isso sozinhas, graças aos novos recursos disponíveis. Outro ponto positivo é que, com câmeras cada vez menores e embutidas em celulares, não é necessário ter grandes conhecimentos de fotografia para tirar uma boa foto. Além disso, a selfie está relacionada com a subjetividade, ao modo como ela atua criando a imagem que se pretende formar perante o outro. Esses são apenas alguns exemplos de como a tecnologia modificou a re- lação das pessoas com as imagens e transformou o que antes se entendia por imagem. Agora, como você viu, novos formatos aparecem, sejam desenhos feitos a partir do computador ou a possibilidade de ver fotos a partir de um ecrã, sem a necessidade de fazer uma revelação. Além disso, há a rapidez com que se tem acesso a essas imagens. A tecnologia termina por facilitar a vida das pessoas em diversos sentidos, e não é diferente quando se contextualiza o desenvolvimento das imagens e a importância que elas adquiriram. Assim, a tecnologia termina por ampliar a possibilidade de novos formatos de imagens. Paralelamente a isso, no campo acadêmico, ela também aumenta as possibi- lidades de estudos na área da semiótica da imagem. 1. Santaella e Nöth (1998) abordam o desenvolvimento da imagem a partir de três momentos marcantes que os autores denominam de paradigmas da imagem. Quais são esses paradigmas? a) Visual, imaterial e fotográfico. b) Pré-fotográfico, fotográfico e pós-fotográfico. c) Pré-fotográfico, fotográfico e digital. d) Fotográfico, digital e pós-moderno. e) Fotográfico, visual e digital. 2. Conforme Alves, Costa e Silva (2007), a imagem é o mais antigo registro da história humana. Com que funcionalidade a imagem surgiu na pré-história? a) A imagem surgiu como uma necessidade do homem de se comunicar e como uma descoberta da sua capacidade analítica, reflexiva, interpretativa e de interferência na própria realidade. 147Imagem e tecnologia b) A imagem surgiu como uma forma apenas artística e não tinha nenhum caráter comunicativo. c) A imagem na pré-história não tinha nenhuma função a não ser de rabiscos nas paredes. d) O homem primitivo fazia imagens como forma de expressão. Essas imagens surgiram depois que ele já conseguia se comunicar por meio de palavras. e) As imagens não possuem caráter expressivo, apenas de entretenimento. 3. Santaella e Nöth (1998) dividem o mundo das imagens em dois domínios. Assinale a seguir a alternativa que apresenta esses domínios. a) Visual e imaterial. b) Visual e fotográfico. c) Visual e áudio. d) Material e imaterial. e) Visual e material. 4. O advento das novas tecnologias modificou a relação das pessoas com as imagens, tanto no que se refere à produção como à recepção. Nesse contexto, permitiu a ampliação de novos estudos no campo da semiótica da imagem. Assinale, a seguir, a alternativa que lista corretamente formatos que influenciaram estudos relacionados à tecnologia. a) Webmuseus, linguística, artes plásticas. b) Redação de textos em revistas femininas, imagem em blogs de moda, selfies. c) Webmuseus, selfies, Netflix e YouTube. d) Peça teatral, capa de jornal, selfies. e) Reportagem televisiva, pintura, texto publicitário. 5. Segundo Lima (2012) e Santaella (2003), a semiótica: a) é a ciência que estuda os movimentos do corpo humano. b) são os estudos dedicados aos signos relacionados com as palavras. c) é o estudo que se dedica a descobrir a relação entre a imagem e a tecnologia. d) é a ciência que estuda os signos e os seus significados; estuda o processo de articulação entre os diversos tipos de linguagens, inclusive as imagens. Para estudar os signos, ela tem de desenvolver instrumentos de análise. e) é o estudo dos significados relacionados à linguística; nesse contexto, as imagens não têm importância. Imagem e tecnologia148 ALMEIDA, B. P. Reflexos de Vénus: pensar com o imaginário. In: MARTINS, M. L. et al. Imagem e pensamento. Coimbra: Grácio, 2011. p. 11-20. ALVES, M. C. A.; COSTA, I. F.; SILVA, M. J. A. Imagem e tecnologia. Graphica, Curitiba, 2007. FATORELLI, A. Entre o analógico e o digital. In: FATORELLI, A.; BRUNO, F. Limiares da ima- gem: tecnologia e estética na cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Mauad X, 2006. FATORELLI, A.; BRUNO, F. Introdução. In: FATORELLI, A.; BRUNO, F. Limiares da imagem: tecnologia e estética na cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Mauad X, 2006. JOLY, M. Introdução à análise da imagem. 11 ed. Campinas: Papirus, 2007. KOSSOY, B. Fotografia e história. 2. ed. Cotia: Ateliê, 2001. LIMA, F. R. B. Imagem e tecnologia: webmuseu de arte. 2012. Dissertação (Mestrado)- -Universidade Estadual Paulista, Marília, 2012. MARTINS, M. L.; PINTO-COELHO, Z. Fluxos e caminhos na cultura visual. Revista Lusófona de Estudos Culturais, Braga, v. 4, n. 1, p. 7-13, 2017. REZENDE, H. C.; GOMIDE, J. V. B. Maratonas de vídeo e a nova forma dominante de se consumir e produzir séries de televisão. Revista Lusófona de Estudos Culturais, Braga, v. 4, n. 1, p. 73-87, 2017. SANTAELLA, L. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano. Revista FAMECOS, Porto Alegre, v. 22, p. 23-32, dez. 2003. SANTAELLA, L.; NÖTH, W. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 1998. 149Imagem e tecnologia
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