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Papilomatose Verruga; Figueira; Verrucose; fibropapilomatose; epitelioma cartilaginoso DEFINIÇÃO Enfermidade infectocontagiosa, de caráter tumoral, geralmente benigna e autolimitante, que acomete grande variedade de animais, incluindo humanos, em todo o mundo. Em animais de interesse econômico, causa prejuízos consideráveis. ETIOLOGIA Causada por vírus da família Papillomaviridae, que apresenta vários gêneros, espécies e centenas de tipos virais que ocorrem na maioria dos mamíferos, incluindo humanos e em aves. São vírus não envelopados, com fita dupla de DNA circular e simetria icosaédrica. São vírus oncogênicos que infectam pele e mucosas de várias espécies animais, inclusive humanos. Induzem tumores benignos proliferativos que eventualmente se tornam malignos. Em humanos, está associado ao câncer de colo de uterino, segunda neoplasia mais comum em mulheres. Os papilomavírus têm três oncogenes (E5, E6, E7), que modulam o processo de transformação celular; duas proteínas regulatórias (E1 e E2) que modulam e replicação e a transcrição viral; e duas proteínas estruturais (L1 e L2) que compõem o capsídeo viral. Os papilomavírus causam tumores benignos (verruga, papilomas) no hospedeiro natural e, às vezes, em espécies relacionadas. Os papilomas localizam-se na pele e mucosa, com certa predileção de alguns papilomas induzidos por determinados tipos virais apresentam elevado risco de progressão maligna. A infecção geralmente origina microlesões que raramente ou nunca são observadas a olho nu. Os papilomavírus parecem coexistir com os hospedeiros por longo período. Muitos papilomavírus parecem ocorrer preferencialmente de forma latente, pois diversos tipos virais podem ser detectados em vários locais aleatoriamente na pele de humanos e animais. ✓ Resistencia viral Os vírus altamente resistentes que se mantém variáveis no ambiente por longos períodos. Os papilomavírus são resistentes à dessecação, resistindo até 7 dias em temperatura ambiente nas crostas descamadas, com vida média de aproximadamente 3 dias. São conservados por 90 dias a 4ºC e permanecem ativos por até 2 anos quando mantidos em glicerina 50%. Mantém-se estáveis a 56ºC por 1h e são inativados a 74ºC. São inativados em autoclave a 121ºC por 30 min. Etanol a 70% e formalina 10% inativam os papilomavírus. Solventes lipídicos e variações de pH não tem atividade sobre o vírus. ✓ Replicação viral O ciclo de replicação viral é diferente relacionado com o processo de diferenciação das células epiteliais. De modo similar a outras viroses, ao papilomavírus pode estabelecer infecção latente. O genoma viral pode ser encontrado em epitélio normal, local de latência viral, sem sinais clínicos da doença. Nos humanos neoplasias associadas a papilomavírus incluem carcinoma anogenital, câncer do trato respiratório, de pele e, provavelmente, de bexiga e do trato digestório. Em coelhos, causa câncer de pele, em bovinos, câncer de bexiga e de trato digestório superior, em cães, carcinoma oral. EPIDEMIOLOGIA ✓ Espécies suscetíveis Nas espécies domésticas, a papilomatose é de maior importância em bovinos, cães e equinos, podendo ocorrer também em ovinos e felinos. Em silvestres, os papilomavírus foram descritos em cervos, chipanzés, macacos, elefantes, gambás, hamsters, coelhos e aves. ✓ Fatores predisponentes Condições de imunossupressão ativam infecção latentes ou aumentam a suscetibilidade á reinfecção, resultando em recrudescimento das lesões. A imunodeficiência, resultando em dispor os animais a desenvolverem papilomas, de maneira similar ao observado em gatos previamente infectados com o vírus da imunodeficiência felina ou outras enfermidades com comprometimento do sistema imune. Animais mantidos em cativeiro são mais sujeitos a imunossupressão e consequente desenvolvimento de múltiplos papilomas. O contato físico parece também se constituir em pré-requisito para que determinados tipos virais causem doença em hospedeiro não preferencial, como observado em determinados tipos do papilomavírus ovinos. Animais de até 2 anos de idade são mais acometidos, embora todas as faixas etárias possam ser atingidas. A menor suscetibilidade de adultos justifica- se por imunidade naturalmente adquirida, por infecção inaparente quando jovens ou infecção aparente seguida por regressão dos papilomas. Animais confinados são mais suscetíveis aos surtos. Estado imune, má nutrição, infestação por carrapatos e desmame contribuem para a maior ocorrência das lesões. ✓ Portas de entrada Animais infectados representam as fontes de infecção para o rebanho. Pele com solução de continuidade e mucosas (oral, nasal, genital ...). ✓ Vias de transmissão Transmitido diretamente animal/ animal indiretamente por cercas, bebedouros, comedouros, cordas, moscas, carrapatos, máquinas de marcas e ordenhadeira. A infecção transplacentária foi sugerida pela ocorrência de papilomatose oral em um bezerro de 10 dias de idade, embora não seja comum. O contato físico entre epitélios, como ocorre durante a monta, pode iniciar as infecções. Processos irritantes repetidos aumentam a atividade mitótica do epitélio e a possibilidade de lesões. A doença causa prejuízos econômicos pela desvalorização dos animais a seres comercializados, piorando a aparência e depreciando o couro dos animais afetados. Dependendo da intensidade e da localização das lesões, pode levar a alteração do estado geral e debilidade. A presença de verrugas no úbero pode dificultar ou impedir a ordenha e também representa uma porta de entrada para bactérias, levando á mastite, além de impedir a sucção de leite pelos bezerros. PATOGENIA O vírus penetra geralmente na pele com solução de continuidade, infecta os queratinócitos basais replicando seu genoma nas camadas diferenciadas espinhosa e granular, causando o crescimento excessivo, característico da formação da verruga. Os papilomavírus podem se encontrar latentes na pele dos animais e ser reativados por imunossupressão ou trauma. Com desenvolvimento de verrugas ou câncer. O genoma viral pode ser encontrado em epitélio normal sem sinais clínicos de doença, sendo o epitélio normal considerado o local de latência viral. Adicionalmente, o DNA viral foi detectado em linfócitos de animais infectados experimentalmente e também de animas- controle, sugerindo que o epitélio pode ser o único local de latência. O vírus latente caracteriza o estado de portador nos animais, podendo ser reativado por irritação física, imunossupressão e imunodepressão. CLÍNICAS Os papilomas podem ser classificados em escamosos, perpendiculares, mucosos e planos, de acordo com a superfície, a forma ou a região onde se desenvolvem. ✓ Escamosos ocorrem na pele ou em qualquer parte do corpo que apresente epitélio estratificado produzindo proliferação desse epitélio. São comuns em bovinos jovens e ocorrem principalmente na cabeça ao redor dos olhos, pescoço e região escapular, podendo se disseminar por outras partes do corpo. Tem tamanho variável e aparência seca, córnea e semelhante a uma couve-flor. Na maioria das vezes, redigem espontaneamente, embora possam persistir por 5 a 6 meses e, em casos crônicos, por 18 meses. ✓ Pedunculares são neoformações que se sobressaem da pele como prolongamentos de diferentes longitudes e que podem se apresentar sob a forma de “dígitos”. Independentemente do tamanho dos papilomas, apresentam uma extremidade livre,corpo e extremidade de inserção. São muito comuns em tetas e úbere. São de difícil tratamento e causam dor durante a ordenha, por conta da sensibilidade das tetas. As verrugas nas tetas se apresentam com diferentes formas conforme o tipo viral. São mais frequentes em animais mais velhos. ✓ Mucosos localizam - se em tecidos mucosos. Apresentam- se como nódulos encapsulados e circunscritos. Podem se localizar em esôfago e retículo (causando meteorismo crônico), na boca, na língua, no palato mole, no rúmen, na bexiga (hematúria crônica) e na região genital. As verrugas do trato alimentar raramente são detectadas clinicamente, observadas sobretudo em abatedouros. As verrugas genitais na vulva e no pênis tornam a monta impraticável, pois as lesões são grandes, friáveis e sangram facilmente. Em geral, tornam- se infectadas por bactérias oportunistas ou por larvas de moscas. Ocorrem na haste ou glande peniana de touros jovens, são únicas ou múltiplas, pedunculadas e costumam regredir espontaneamente. ✓ Planos promovem engrossamento da epiderme com grande queratinização nas camadas superficiais. São observados sob a forma de nodulações arredondadas com pouca saliência da superfície da pele e desprovidas de pelo. Este tipo de papiloma dificilmente responde ao tratamento com vacinas autócnes. De modo geral, os papilomas variam de tamanho e número, podendo haver a confluência com a formação de grandes massas. Em geral, afetam pescoço e cabeça (especialmente a região periocular) e, em menor proporção, em outras partes do corpo (membro torácicos, tetas e abdome). Podem localizar-se no esôfago levando a meteorismo crônico, na boca, língua, bexiga (onde podem causar hematúria), na região interdigital, parte dorsal ou plantar das patas e região genital. Os papilomas interdigitais levam a problemas de claudicação, perda de peso e diminuição da produção de leite em alguns rebanhos. A cor dos papilomas pode variar de branco-acinzentado a negro ou cinza. O crescimento dos animais jovens afetados pode ser retardado, mas geralmente o animal se mantém normal, exceto nas localizações específicas dos papilomas que comprometem o estado geral do animal. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da papilomatose é geralmente clínico, baseado no aspecto, na forma e na localização dos tumores, além de dados epidemiológicos relacionados com idade do animal afetado, ocorrência em outros animais, regressão ou persistência de lesões, procedimentos de manejo associados á disseminação dos papilomas, sazonalidade e evolução das lesões. CLÍNICO + EPIDEMIOLÓGICO A biopsia das lesões geralmente não é necessária, exceto nos papilomas oculares em cães, que não apresentam morfologia característica contrariamente ao oral canino. A biopsia pode ser recomendada também em papilomas cutâneos caninos localizados em áreas interdigitais, patas e, ocasionalmente , sublinguais, e em equinos com lesões muito grandes visando a diferenciar os papilomas dos sarcoides. TRATAMENTO O tratamento da papilomatose deve ser avaliado cuidadosamente em virtude do caráter autolimitante das lesões que, por vez, coincide a regressão tumoral imune com a utilização da terapia. Em cães, o tratamento geralmente não é recomendado, por conta da evolução autolimitante. Em casos crônicos, em situações de quantidade excessiva de papilomas orais ou por motivos estéticos, realiza-se o tratamento, especialmente cirúrgico ( excisão, criocirurgia e eletrocirurgia). A simples remoção, congelamento ou raspagem de 5 a 15 dos tumores pode induzir a regressão espontânea dos demais, provavelmente por reestimulação antigênica. Quimioterapia sistêmica utilizando substâncias como vincristina, ciclofosfamida, doxorrubicina em papilomatose persistente em cães apresenta resultados variáveis. Outros protocolos terapêuticos envolvem a utilização de imunomoduladores, como levamizol oral e a vacina autógena ( material do próprio animal ). Em bovinos, os papilomas podem ser removidos por cirurgia ou criocirurgia, da mesma maneira que em cães. Ao retirar uma pequena quantidade de papilomas, pode ser observada a regressão dos animais por estimlação antigênica. A retirada cirurgica normalmente é associada á utilização da vacina autóctone, sendo difícil avaliar os resultados em razão do caráter autolimitante da enfermidade, exceto nos casos de persistência em que se pode avaliar com mais segurança a eficácia terapêutica. Produtos químicos corrosivos, como ácido sulfúrico, nitrato de prata, bastão de soda e produtos homeopáticos, também têm sido usados para a cauterização das lesões. A cauterizaão é importante, pois permite a reabsorção do tecido rico em vírus, levndo á estimulação antigênica. Foi desenvolvido pela Embrapa – Gado de Leite um produto comercial com nome Papilomax, em forma de pasta, que atua inativando o vírus , secando as lesões e permitindo a regeneração tecidual. O produto deve ser aplicado nas lesões e apresentam uma eficácia de 90% para papilomas em geral e em mais de 50% para papilomas de tetas. Como limitação, apresenta a necessidade de aplicação tópica, aspecto que dificulta o tratamento em animais com papolomatose cutânea disseminada. Outro produto utilizado é a antinomalina, em verrugas pedunculadas, em verrugas sésseis da tetas de vacas e em verrugas de caprinos. As verrugas desapareceram em torno de 20 dias em 55% dos casos. A auto-hemoterapia sonsite na retirada de 10 ml de sangue venoso com anticoagulante e aplicação imediata IM profunda em protocolos de 3 a 4 doses, com intervalos de 7 a 10 dias. Também sem resultados conclusivos, considera- se que a aplicação do sangues do proprio animal induziria um estímulo imunológico inespecífico que pode levar á regressão e a queda dos papilomas. A estimulação inespecífica com utilização de levamizol na dose de 2,5 mg/kg nos dias 1,3,5,7,9,16 foi associada a 100% de regressão das lesões em bovinos. Injeções de bismuto, pomada de colchicina, solução de monossulfato de índigo, podofilina em parafina líquida, novarsenobenol, timolato de lítio e antimônio, procaína, amarrar verruga pedunculada com crina de cavalo ou fio de seda e taratmentos hormonais também são utilizados e apresentam resultados duvidosos. Em equinos, a retirada cirúrgica nem sempre é eficiente. Nesta espécie, utiliza-se também o diaceturato de 4,4 diazoaminodibenzamidina a 7% ( Ganaseg ) com resultados questionáveis. Ensaios experimentais utilizando vacina com papilomavírus bovino em sarcoides equino apresentaram regressão dos tumores em 50% dos animais vacinados e, em outro animal, o sarcoide estabilizou, não evoluindo posteriormente. Vários compostos cáuticos tópicos podem também ser utilizados, e sempre se deve levar em consideração que induzem resposta inflamatória na pele, além disso, vêm sendo utilizados como imunoestimulantes, sendo indicados em casos de papilomatose persistente. MEDIDAS GERAIS Consistem em não induzir animais infectados dentro do rebanho, evitar o contrato de animais com lesões com animais sadios, bem como evitar o uso de equipamentos comuns entre grupos de animais. São impotantes também, medidas como esterilização de agulhas, seringas e materiais cirúrgicos, utilização de materiais descartáveis , controle de moscas e carrapatos, além de adoção de manejo diferenciado de modo que os animais infectados sejam tratados por último. A indução de imunidade pela vacinação de maneira profilática depende obrigatoriamente da presença dos antígenos de capsídeo viral L1 e L2 , responsáveis pela indução de anticorpos soroneutralizantes. A vacinação é um método eficiente de proteção utilizarando em rebanhos bovinos endêmicos.As vacinas autogènicas são eficientes. A vacinação em cães aprsenta resultados variados. É recomendada nos casos de animais com muitos papilomas orais. A vacina é utilizada isoladamente ou associada a imunomoduladores. A vacinação geralmente não é eficiente em lesões persistentes.
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