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Disciplina: Estrutura Portuária e Transporte Marítimo Internacional Aula 6: Geopolítica do transporte marítimo internacional Apresentação Nesta aula, estudaremos o transporte marítimo e sua influência no comércio exterior, mostrando a sua importância e responsabilidade no transporte de cargas em todo o mundo. Veremos como este transporte conecta as nações e os requisitos básicos para a navegação mercante mundial. Para isso, viajaremos juntos, identificando as principais rotas de navegação marítima internacionais, decorrentes dos grandes fluxos mundiais de commodities e de produtos industrializados. Nesta viagem, percorreremos os locais geoestratégicos para os quais há forte convergência da navegação marítima mundial. Esses locais são também conhecidos como pontos críticos da navegação. Ao final, você será capaz de compreender a utilização do transporte marítimo no mundo, as rotas de navegação e os requisitos que norteiam as operações mercantes. Objetivos Descrever a importância do transporte marítimo para o comércio internacional. Identificar as principais rotas de navegação marítima internacionais e os pontos críticos para a navegação. Antecedentes históricos Os primeiros registros do transporte marítimo internacional datam de 3.000 a.C., com os Egípcios navegando em seus barcos, para transportar trigo e papiros produzidos no rio Nilo até a Fenícia. Na volta, traziam um produto extremamente importante para uma região desértica — os famosos cedros do Líbano. Como bons alunos, os Fenícios acabaram suplantando os seus mestres, estabelecendo durante dois mil anos uma extensa rede comercial de navegação, ocupando grande parte do Mar Mediterrâneo. No auge da Civilização Helênica, a Grécia ultrapassou os Fenícios no controle do comércio marítimo, dominando a extensa área do Mar Egeu até a Ásia Menor. O Império Romano iniciou a sua escalada em 64 a.C., que podemos resumir em duas frases conhecidas: – Todos os caminhos levam a Roma — Os domínios comerciais romanos se espalhavam para todas as direções a partir do Mar Mediterrâneo. E, na verdade, as estradas não levavam a Roma e sim saíam de Roma em todas as direções. – Navegar é preciso — Para dar suporte à sua expansão comercial marítima, os romanos precisaram dragar canais de acesso a portos no Mar Vermelho, construir faróis na Normandia (França), tendo fundado o entreposto comercial de Londinium, local hoje conhecido como a cidade de Londres A partir do século XI, floresceu a hegemonia comercial das Cidades-Estado italianas, com destaque para as repúblicas de Gênova e Veneza, que legaram à Humanidade dois grandes navegadores, respectivamente: Marco Polo (século XIII), que, após chegar navegando à corte Kublai Khan, controlou o comércio das especiarias entre o Extremo Oriente e a Europa durante 20 anos. Cristóvão Colombo (século XV), que deu início à era dos descobrimentos, navegando ao redor do continente africano e inclusive descobrindo novas terras, que vieram a ser conhecidas como América. O comércio marítimo mundial pertencia à Península Ibérica, com Portugal e Espanha dividindo o controle comercial sobre todo o continente americano, grande parte da África e vários entrepostos comerciais espalhados pela Ásia — Portugal, em Goa (Índia), Macau (China) e Timor (Indonésia); Espanha, no arquipélago das Filipinas. Com a Revolução Industrial e o advento da máquina a vapor, os navios de ferro substituíram as antigas caravelas de madeira, aumentando consideravelmente a segurança da navegação, a capacidade de carga e a velocidade. Durante a segunda metade do século XVIII, todo o século XIX e início do século XX, os ingleses assumiram o controle sobre a navegação marítima mundial, para atender as necessidades das colônias comerciais britânicas espalhadas por todo o planeta, formando o que ficou conhecido como o Império onde o sol nunca se põe. Após a Segunda Guerra Mundial começou a era das indústrias multinacionais, inicialmente com capital norte-americano, e subsequentemente, europeu e japonês. Essas empresas recebiam suprimentos importados de suas matrizes e exportavam os produtos fabricados em solo estrangeiro, contribuindo para a globalização da economia e a amplificação dos fluxos marítimos. Fluxo da navegação marítima mundial Atualmente, a economia mundial está entrelaçada. Todos os dias há operações de compra e venda de commodities, insumos e componentes, e produtos industrializados entre todos os países do planeta. Tendo em vista que cerca de 75% de todas as trocas comerciais mundiais são transportadas via marítima, é correto afirmar que os fluxos marítimos internacionais estão diretamente relacionados com os movimentos da economia mundial. COMMODITIES Commodities são os bens primários, de baixo valor agregado, negociados em grandes lotes, tendo a sua cotação internacional (Bolsa de Chicago) controlada por operações conhecidas como Mercado Futuro, destacando-se minérios, petróleo e seus derivados, carne e frango congelados, soja, açúcar, etanol e outras safras agrícolas. PETRÓLEO Segundo a Agência Internacional de Energia, os maiores exportadores mundiais (até agora) foram Arábia Saudita, Rússia, Emirados Árabes, Kuwait, Nigéria, Iraque, Catar, Angola e Venezuela. Com os recursos do pré-sal, o Brasil deve se tornar sexto maior exportador de petróleo até 2035. Os maiores importadores foram China, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Índia, Coreia do Sul, França, Inglaterra e Itália. Reservas Provadas de Petróleo, segundo Regiões Geográficas (Bilhões de Barris) — 2017. Os principais �uxos internacionais de petróleo são: Do Oriente Médio para o Extremo Oriente, para a União Européia e para os Estados Unidos; Da Rússia para a União Europeia; Da África para os Estados Unidos. Importação e Exportação de Petróleo, segundo Regiões Geográficas (Mil Barris) — 2016. MINÉRIO DE FERRO Os maiores exportadores mundiais são Brasil, Austrália e Índia. Os maiores importadores são China, Japão e União Europeia. Os principais fluxos internacionais de minério de ferro são: Do Brasil para China, Japão e Estados Unidos; Da Índia e da Austrália para China, União Europeia e Estados Unidos. CARNE E FRANGO CONGELADOS Os maiores exportadores mundiais são Brasil, Estados Unidos e Austrália. Os maiores importadores são Rússia, Japão, União Europeia e Arábia Saudita. Os principais fluxos internacionais de carne e frango congelados são: Do Brasil para Rússia, Japão e Arábia Saudita; Dos Estados Unidos para União Européia e Japão; Da Austrália para Rússia e Arábia Saudita. SOJA Os maiores exportadores mundiais são Estados Unidos, Brasil e Argentina. Os maiores importadores são União Europeia, China e Japão. Os principais fluxos internacionais de soja são: Dos Estados Unidos para União Europeia e Extremo Oriente; Da América do Sul para União Europeia e Extremo Oriente. AÇÚCAR Os maiores exportadores mundiais são Brasil e Índia. Os maiores importadores são Rússia, China, Emirados Árabes e Arábia Saudita. Os principais fluxos internacionais de açúcar são: Do Brasil para Oriente Médio e Rússia; Da Índia para a China. PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS Por causa da globalização, atualmente, as trocas comerciais de produtos industrializados ocorrem por quase todo o planeta, com destaque para China e União Europeia como principais origens. Pontos críticos para a navegação As principais rotas de navegação convergem para locais geoestratégicos, também conhecidos como pontos críticos da navegação. Os principais pontos são: Canal do Panamá Canal artificial cortado no ponto mais estreito do istmo do Panamá, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico, com cerca de 82 quilômetros de tráfego marítimo. Foi construído aproveitando a existência de um lago na parte central do istmo, situado a 96 metros acima do nível do mar. Por essa razão, foi necessário construir três eclusas (Gatun; Gaillard e Miraflores) para vencer esse desnível. O tráfego anual pelo Canal do Panamá é aproximadamente de 14.000 navios (cerca de 38 por dia). Osmaiores navios capazes de atravessar o Canal do Panamá são conhecidos como navios panamax, com o comprimento máximo de 274 m, boca (largura máxima) de 32 m e calado máximo (imersão do navio) de 12m. Geralmente, possuem cerca de 65.000 DWT (deadweight — capacidade de carga). Os navios acima desses limites são obrigados a contornar toda a América do Sul, para cruzar o Estreito de Magalhães. A tarifa cobrada dos navios para a travessia do Canal é de 2,57 dólares por tonelada de carga, com a cobrança mínima de 45 mil dólares. Assista ao vídeo Como Funciona o Canal do Panamá <https://www.youtube.com/watch? v=DonwI6YjH_A> . Estreito de Magalhães Passagem navegável natural no extremo sul da América do Sul, com cerca de 600 quilômetros, situado entre o continente (Chile), a Terra do Fogo e o Cabo Horn ao sul (Argentina). É a maior passagem natural entre os oceanos Atlântico e Pacífico, por onde transitam cerca de 200 navios por dia. https://www.youtube.com/watch?v=DonwI6YjH_A Por causa do clima hostil e pelas fortes correntes marítimas, sempre que possível, antes de sair no Pacífico, os navios trafegam por canais secundários. Já os navios de maior porte, sobretudo os grandes petroleiros e mineraleiros, por razões de segurança, são obrigados a passar pelo Cabo Horn, ao sul da Terra do Fogo. Estreito de Gibraltar Acesso natural de 8,2 quilômetros entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, situado entre a Europa (Espanha) e a África (Marrocos). O rochedo de Gibraltar e a cidade a seus pés é território britânico. O tráfego anual por Gibraltar é de cerca de cem mil navios, sem nenhum tipo de restrições quanto a dimensões ou calado. O estreito de Gibraltar possui uma significativa importância econômica e geopolítica. Do ponto de vista econômico, assim como outros canais e passagens do mundo, ele permite a redução de tempo e despesas durante as travessias de navios-cargueiros com destino à Europa, América ou Ásia. Do ponto de vista geopolítico, o estreito de Gibraltar representa uma rápida e curta comunicação entre a Europa e a África. Canal da Mancha Braço do Oceano Atlântico, separando a Grã-Bretanha do norte da França e ligando o Oceano Atlântico ao Mar do Norte. O canal tem 563 quilômetros de comprimento. Sua parte mais larga tem 240 km e o ponto mais estreito tem 33 km. A profundidade varia de 45 m a 120m. A circulação marítima no canal da Mancha é uma das mais intensas do mundo, com mais de 250 navios por dia, orientados por sinalização altamente restritiva, observando mão e contramão. Estreito de Bósforo Estreito natural que separa a Europa e a parte asiática de Istambul. Está situado entre o Mar Negro e o Mar de Mármara. Tem importância estratégica, pois é a única rota marítima para os cinco países banhados pelo Mar Negro. O volume de tráfego em Bósforo é de aproximadamente 55 mil navios por ano. Canal de Suez Hidrovia artificial ao nível do mar (sem eclusas) com 163 quilômetros, ligando o Mar Mediterrâneo ao Golfo Pérsico e ao Mar Vermelho, no tráfego entre o Mar Mediterrâneo e o Oriente Médio. Os navios têm limite de calado máximo de 58’, boca de 60 m e DWT de 150.000 toneladas, para poderem cruzar o canal. O Canal de Suez tem capacidade para receber 25 mil navios ao ano mas, tendo em vista a instabilidade política na região, só vem operando cerca de 14 mil por ano. Estreito de Ormuz Está situado na entrada do Golfo Pérsico, entre Omã, na Península Arábica e o Irã. Trata- se de uma via marítima estratégica, por onde transitam mais de 40% do petróleo e 20% de transporte marítimo mundiais. Tem 54 quilômetros de largura mínima e seu trecho mais largo não passa de 100 km. Bab el-Mandeb Estreito que liga o Mar Vermelho ao Oceano Indico, separando a Ásia (Iêmen) e a África (Djibuti), ao norte da Somália. Em sua parte mais estreita, tem cerca de 3 quilômetros de largura e 30 m de profundidade. É uma passagem muito importante para o tráfego marítimo internacional de petróleo. Estreito de Mallaca Uma das mais estratégicas passagens marítimas do mundo, dando a Cingapura uma localização privilegiada. Possui 800 quilômetros de comprimento; entre 50 e 320 km de largura (2,5 km no seu ponto mais estreito). Permite a passagem de navios com DWT de até 120 mil toneladas e calado máximo de 70’. Recebe todo o tráfego marítimo entre Europa, Oceano Índico e Ásia, mais de 50 mil navios ao ano (cerca de 600 por dia). Atividades 1. Você é Gerente de Logística em uma empresa de Comércio Exterior que comercializa produtos de diferentes naturezas em qualquer lugar do planeta. A área comercial da empresa comunicou que está adquirindo, na Tailândia, 50.000 toneladas de arroz a ser embarcado com destino ao Marrocos. Descreva a rota marítima que você indicaria como ideal para esse transporte. Gabarito Oceano Índico; Mar Vermelho; Canal de Suez; Mar Mediterrâneo; Estreito de Gibraltar; Oceano Atlântico. 2. Ponto estratégico para a navegação, situado entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, entre a Península Arábica e o Irã: a) Golfo de Aden. b) Canal de Suez. c) Estreito de Mallaca. d) Estreito de Ormuz. e) Bab el-Mandeb. 3. Quantidade de eclusas que os navios precisam obrigatoriamente passar para completar a travessia do Canal de Suez: a) 0. b) 1. c) 2. d) 3. e) 4. 4. Qual é o principal porto situado dentro do Estreito de Magalhães? a) Patagones. b) Chiloé. c) Gallegos. d) Ushuaia. e) Punta Arenas. Referências LUDOVICO, Nelson. Logística de Transportes internacionais. São Paulo: Saraiva, 2010. _________________. Logística Internacional — um enfoque em Comércio Exterior. São Paulo: Saraiva, 2007. PEREIRA, Newton Narciso. Transporte Marítimo e Internacional. Rio de Janeiro: SESES, 2015. Próximos Passos As Convenções Marítimas Internacionais — conceitos básicos, descrição e aplicação. Explore Mais Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Para saber mais sobre os principais canais de navegação do mundo acesse o link Logística Descomplicada <https://www.logisticadescomplicada.com/os-principais-canais-de- navegacao-do-mundo/> . Acesso em 25 mai. 2018. Punta Arenas. Disponível em: Marine Tra�c <https://www.marinetra�c.com/pt/ais/details/ports/2484> . Acesso em: 19 jul. 2018. https://www.logisticadescomplicada.com/os-principais-canais-de-navegacao-do-mundo/ https://www.marinetraffic.com/pt/ais/details/ports/2484
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