Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 GUSTAVO URZÊDA VITÓRIA Nefrologia Resumo para ambulatório - Introdução a Nefrologia: Anatomia: 2 rins localizados na região lombar retroperitoneal. 9 a 13 cm cada, com uma média de 11 cm. Geralmente o esquerdo é um pouco maior. Dividido em córtex (mais ou menos 1 milhão de néfrons) e medula. Funções: Filtração, controle hídrico e de eletrólitos, controle ácido-básico, endócrino (EPO, renina). Provas de função renal: Inulina é a substância ideal, porém é difícil de usar substituto: Creatinina. o Substância endógena e estável, mas que pode subestimar a Taxa de Filtração Glomerular (TFG). o Fórmulas: Cockcroft-Gault, MDRD, CKD-EPI (a melhor). Ureia, EAS, hemograma e eletrólitos são exames básicos de investigação. USG: avaliação do tamanho renal, relação córtex-medula e funcionamento. - Doença Renal Crônica (DRC): Definição: Anormalidades da estrutura e/ou da função dos rins presentes por mais de 3 meses com implicações para a saúde, avaliadas a partir de marcadores de lesão renal, como albuminúria e distúrbios eletrolíticos, ou através de exames de imagem (hidronefrose, estenose de artéria renal, rins policísticos, sinais de doenças infiltrativas, etc.). Classificação: 2 GUSTAVO URZÊDA VITÓRIA Fatores de risco: Idade, raça ou etnia (não caucasiano), genética, baixo peso ao nascer, HAS, DM, DCV, albuminúria, obesidade/SM, dislipidemia, hiperuricemia, tabagismo, baixo nível socioeconômico e exposição a agentes nefrotóxicos (AINEs, contrastes iodados). o Grifados: são modificáveis. Complicações: Anemia: o Deficiência de EPO. o Avaliar causas secundárias, como deficiência de ferro. o Consequências: piora da disfunção cardíaca, acelera a diminuição da função renal e diminui a cognição e a concentração. o Tratamento: medicamentos estimuladores de EPO, reposição de ferro (caso precise), transfusão sanguínea (sempre que Hb < 7,0 e em situações específicas, como sangramentos tentar evitar ao máximo em candidatos a transplante renal). Distúrbios Mineral Ósseo (DMO): o Hiperfosfatemia é uma complicação comum da DRC relaciona- se com o desenvolvimento de hiperparatireoidismo secundário aumenta PTH. o Hipocalcemia pela deficiência de vitamina D ativa reabsorção óssea pelo aumento do PTH ossos mais frágeis. Hipercalemia: o Geralmente no oligúrico ou que tem problema adicional, como dieta rica em potássio ou hipoaldosteronismo (uso de iECA, BRA, antagonista de aldosterona). Acidose metabólica: o Prevalência aumenta progressivamente com a piora da função renal. o Geralmente detectada quando TFG < 40 ml/min/1,73m². o Bicarbonato < 22 reposição. 3 GUSTAVO URZÊDA VITÓRIA Sobrecarga volêmica: o DRC leve a moderada: menos capaz de responder à rápida ingestão de sódio propenso a sobrecarga de fluidos. o Aumenta sódio: aumenta proteinúria acelera a degradação renal. o HA causa ou consequência da DRC. Alvo na DRC: < 140/90. Alvo na DRC + DM ou albuminúria: < 130/80 iECA ou BRA. Complicações urêmicas: o Disfunção plaquetária sangramentos. o Disfunção neutrofílica/linfocitária imunodepressão. o Neurológicas pode levar ao coma. o TGI gastroparesia urêmica, sangramentos. o CV derrame pericárdico, pericardite, HAS. o Pleuro-pulmonares. o Dermatológicas prurido urêmico, xerose. Tratamento: Substituição renal: o Diálise peritoneal. o Hemodiálise (para complicações não hormonais hipercalemia, acidose metabólica, sobrecarga volêmica e complicações urêmicas). o Transplante renal. - Injúria Renal Aguda (IRA): Implicações: Rápido declínio da TFG. Impossibilidade do rim de exercer suas funções. Aumento das taxas de morbimortalidade. Aumento das escórias nitrogenadas. Prejuízo da manutenção hemostasia hidroeletrolítica e ácido-básica. Diagnóstico: Baseado na creatinina sérica e no débito urinário (alteração em pelo um). 4 GUSTAVO URZÊDA VITÓRIA Classificação: Pré-renal: o Perfusão prejudicada e parênquima renal preservado. o Hipovolemia (vômitos, diarreia), diminuição do DC, vasodilatação severa (choque), hiperviscosidade (aumento de proteínas séricas). Intrínseca: o Lesão de estruturas renais. o Necrose tubular aguda, doença de vasos de grande calibre (vasculites), doenças da microcirculação renal/glomérulos (glomerulonefrite), doenças túbulointersticiais (inflamação intersticial). o Renal: Isquêmica: hipoperfusão prolongada lesão isquêmica (diminuição da filtração glomerular, obstrução tubular, extravasamento retrógrado do filtrado glomerular). Fases de manutenção (estresse oxidativo) e recuperação (regeneração tubular, poliúria; 7-14 dias; cuidado com desidratação, sódio, potássio e magnésio). Nefrotóxica: Endógena: aumento de cálcio. Exógena: contraste iodado, ATB aminoglicosídicos, peçonhas, etc. Pós-renal: o Obstrução do colo vesical (HPB, tumor pélvico, CA de colo, CA de bexiga). o Obstrução ureteral intrínseca ou extrínseca (cálculos, coágulos, tumores, massas retroperitoneais). Fatores de risco: 5 GUSTAVO URZÊDA VITÓRIA Idade (extremos de idade), DM, DRC prévia, diminuição do volume circulante efetivo, agentes nefrotóxicos (exposição repetitiva). Tratamento: Avaliar fatores de risco e prevenir IRA. Retirar ou diminuir a dose de agentes nefrotóxicos. Monitorar função renal. Manejo da volemia (hidratação X restrição hídrica X diureticoterapia). Manejo de distúrbios hidroeletrolíticos. Terapia renal substitutiva (indicações para hemodiálise são as mesmas de DRC). - Litíase Renal: Precipitação de sais na urina: Combinação de elementos químicos na urina produzindo sais insolúveis cristais. Cálculo renal: crescimento e agregação de cristais. Hiperexcreção de soluto, alterações de pH e deficiência da cristalização são algumas das condições que favorecem a supersaturação da urina. Fatores protetores: Citrato: afinidade relativamente alta pelo cálcio, mas não precipita com ele forma compostos solúveis. Além de possuir a capacidade de inibir a cristalização. Caráter ácido da urina: fosfato de cálcio fica mais solúvel. Tipos de cálculos: Cálcio: o Mais comum. o Oxalato isolado ou associado ao fosfato de cálcio. Ácido úrico: o Tem solubilidade limitada em soluções aquosa e tende a precipitar em concentrações próximas a 1g/L. o Complicação comum da gota. Estruvita: o Sal complexo constituído de amônio, magnésio e fosfato. o Desenvolve na presença de ITU por bactérias produtoras de urease Proteus mirabilis e Klebsiella sp. o Podem assumir grandes dimensões. Patogênese: Excreção exagerada de sais precipitáveis (hipercalciúria). Hiperuricosúria. Hiperoxalúria. 6 GUSTAVO URZÊDA VITÓRIA Cistinúria. Relação com pH urinário: Ácido: favorece ácido úrico. Alcalino: precipitação de sais de cálcio e fosfato. Alcalinização da urina depois de processada: favorece estruvita. Manifestações clínicas: Cólica renal: início abrupto e se intensifica com o tempo até uma dor grave e excruciante no flanco que se resolve com a remoção ou passagem do cálculo. Pode irradiar para abdome, virilha, testículo ou grandes lábios. Hematúria macro ou microscópica. Avaliação clínica: Probabilidade de formar um segundo cálculo é de mais ou menos 25 a 40% em 5 anos e 50% aos 10 anos. Recorrentes merecem avaliação metabólica completa. Manejo clínico: Ingesta de fluidos: 2 a 2,5 L/dia. Ingestão de sódio: 2g/dia. Evitar excessos na ingestão de proteínas animal. Cálcio: dieta adequada diminui os riscos. Cuidado com suplementos de cálcio, vitamina D e aminoácidos. Manejo da crise: TC e manejo da dor (AINES ou opiódes). o < 5mm: elimina sozinho. o > 10mm: avaliação do urologista. o Entre 5 e 10mm: senão tiver fatores de risco (sepse por ITU, alteração da função renal e insucesso no manejo da dor) terapia expulsiva. Alfabloqueador (tansulosina) ou nifedipino. Terapia cirúrgica: Litotripsia extracorporal (LECO). Nefrolitotripsia percutânea. Ureterorrenoscopia. - Glomerulopatias: Tipos: Primária: começou no rim. Secundária: sistêmica com manifestações renais. 7 GUSTAVO URZÊDA VITÓRIA Doenças glomerulares: Síndrome Nefrótica: o Proteinúria > 3,5g/dia + Hipoalbuminemia + Edema (por aumento da pressão hidrostática ou por diminuição da pressão oncótica) + Dislipidemia (fígado aumenta a produção proteica para compensar). o Padrões histopatológicos: Doença de lesões mínimas; Glomeruloesclerose segmentar e local (GESF); Glomerulopatia membranosa; Glomerulonefrite proliferativa mesangial; Glomerulonefrite membranoproliferativa. Síndrome Nefrítica: o Hematúria dismórfica (cilindros hemáticos) + Graus variáveis de proteinúria + Hipertensão + Edema + Aumento das escórias nitrogenadas. o Pode ser associada a S. Nefrótica. o Causas: LES, microangiopatias trombóticas, infecções virais, vasculites. Glomerulonefrite rapidamente progressiva: o Declínio acelerado da função renal formação de crescentes células inflamatórias se acumulam na capsula de Bowman e comprimem o tufo. o Tipos: 1: Doença do anticorpo anti-MBG. 2: formação de imunocomplexos. 3: GN pauci-imune (ANCA). Anormalidades urinárias assintomáticas: o Hematúria micróscopica + Proteinúria não nefrótica. o Descartar nefrolitíase, ITU e neoplasia. o Função renal costuma estar preservada. o Causas: Nefropatia por IgA, Síndrome de Alport (alterações auditivas e oculares associadas), Doença da membrana basal fina (exclusivamente renal). - Equilíbrio ácido-base: Valores da gasometria arterial normal: pH 7,35 – 7,45 pO2 70 – 100 mmHg pCO2 35 – 45 mmHg HCO3 22 – 26 mEq/L BE -3 a +3 SatO2 95 – 98% Passos para avaliar a gasometria arterial: 8 GUSTAVO URZÊDA VITÓRIA 1. Avaliar pH: saber se é alcalose ou acidose. 2. Avaliar pCO2 e HCO3: saber se é metabólica ou respiratória. Etiologias: Acidose metabólica: o Aumento na geração de ácidos fixos: infecções, cetoacidose diabética, choque. o Perda de base: diarreia. o Diminuição da excreção de ácidos fixos: IR. Alcalose metabólica: o Perda de ácidos fixos: vômitos. o Hipopotassemia: uso de diuréticos espoliadores de potássio, hiperaldosteronismo primário, estenose de artéria renal. Acidose respiratória: o Aguda: BE normal. DPOC, asma brônquica. o Crônica: BE alterado. Aumento na produção de EPO: policitemia (aumento de Hb). Alcalose respiratória: o Hiperventilação: respirador mal regulado, ansiedade excessiva, alterações no SNC. - Infecções do Trato Urinário (ITU): Definição: Colonização bacteriana da urina e infecção das várias estruturas que formam o aparelho urinário. Epidemiologia: Incidência 20-30 vezes maiores em mulheres (uretra mais curta e mais próxima do ânus). Com os anos a incidência em homens aumenta (HPB, sondagem vesical, etc.). Terminologia: ITU: localização e multiplicação, no trato urinário, de bactérias obtidas na cultura da urina, com contagem maior que 100.000 UFC/mL de urina. Bacteriúria assintomática: 2 amostras de urina distintas com mais de 100.00 UFC/mL + ausência de sintomas. ITU de repetição: mais de 2 infecções em 6 meses ou mais de 3 em um ano. Cistite: ITU baixa (bexiga). Pielonefrite: ITU alta (até os rins). 9 GUSTAVO URZÊDA VITÓRIA Complicada: falência do tratamento ou evolução com complicações (litíase, abscesso renal, etc.). Patogênese: Colonização com infecção ascendente, disseminação hematogênica ou via linfática. Fatores do hospedeiro: atividade sexual, uso inadequado de ATB, disfunção sexual, fatores genéticos, etc. Apresentação clínica: Cistite: disúria, polaciúria, urgência miccional, dor suprapúbica. Em mulheres, descartar uretrite aguda e infecções por herpes ou fúngicas. Pielonefrite: febre (>38ºC), calafrios, dor em flanco, náuseas/vômitos, pode ter os sintomas de cistite. Diagnóstico: EAS e urocultura. Agentes etiológicos: Não complicadas: E. coli, S. saprophyticus; menos comum: Proteus mirabillis, Klebsiella sp., Pseudomonas aeroginosa. Complicadas: E. coli, Citrobacter spp., P. aeroginosa, S. aureus, enterococos. Tratamento: Cistite aguda não complicada: o Regimes de curta duração. o ATB: sulfametoxazol-trimetoprim, nitrofurantoína, fosfomicina primeira linha. Amoxacilina c/ ou s/ clavulanato, quinolonas (cipro, norflo, levo e ofloxacino) podem ser usados. Cistite recorrente: o Modificações comportamentais; profilaxia com nitrofurantoína em dose baixa por 6 meses a 2 anos. Pielonefrite aguda: o Quinolonas é primeira escolha por ter boa eficácia e diminuir o tempo de internação hospitalar. Sulfametoxazol-trimetoprim, cefalosporinas de 2ª e 3ª gerações e de amplo espectro (ampicilina, gentamicina, ampicilina-sulbactam, piperacilina- tazobactam) podem ser usados. o Duração de 14 a 21 dias. o Hospitalização: incapacidade de se manter hidratado por via oral, incapacidade de ingerir medicamentos, falha na adesão, situação social incerta, doença grave. o Repetir urocultura se sintomas persistirem ou recorrerem. OBS: Se os sintomas persistirem além do 3º dia de tratamento falha terapêutica. 10 GUSTAVO URZÊDA VITÓRIA - Distúrbios do Sódio: Sódio: Cátion mais abundante do corpo. Hiponatremia: É um distúrbios da água aumento excessivo. Sódio sérico < 135. Hipovolêmica: o Diminuição da VEC hipovolemia. o Sódio urinário: < 20 indica perda extrarrenal e > 20 indica perda renal. o Causas: perdas no TGI, uso de diuréticos, síndromes perdedoras de sal, deficiência de mineralocorticoides. o Desidratado. Normovolêmica: o VEC normal mais comum. o Aumento do ADH ou uso de soluções hipotônicas, SIADH (secreção inapropriada de ADH (aumentada)), medicamentos, pós- operatório, deficiência de corticóides, hipotireoidismo descompensado. Hipervolêmica: o Expansão da VEC hipervolemia aumenta a diluição dos solutos. o Diminuição da excreção de água livre tratar com diurético. o Edematoso. Tratamento: o Correção da natremia lentamente, para evitar a síndrome desmielinizante osmótica. o Importante descobrir e tratar a causa. Investigação: o Confirmar hiponatremia, descartar hiperglicemia, procurar sinais e sintomas neurológicos, determinar o estado volêmico, rever infusões e medicamentos. Hipernatremia: Acontece em quem não pode beber água: idosos, náufragos, crianças com diarreia crônica, etc. Sódio sérico > 145. Perda de água livre e/ou incapacidade de ingerir líquidos e/ou sobrecarga de sódio. o Pode ser aguda ou crônica. 11 GUSTAVO URZÊDA VITÓRIA o Perda de água pode ser renal (poliúria; por diurético de alça, poliúria osmótica, diabetes insípidus ou hiperaldosteronismo) ou extrarrenal (sudorese, diarreia, queimaduras). Tratamento: o Água livre EV ou VO. o Correção da hipernatremia. o Diagnosticar e tratar a causa. - Distúrbios do Potássio: Potássio: Cátion mais importante do espaço intracelular. Hipocalemia: Causas: baixa ingesta (anorexia), diarreia, vômitos (perde ácido clorídrico reabsorve mais íons H+ nos rins e excreta mais K+), diuréticos tiazídicos e de alça, hiperaldosteronismo primário ou secundário, tubulopatias. Redistribuição: extra para intracelular alcalose, hipertireoidismo, excesso de catecolaminas, beta agonistas (broncodilatadores, etc.). Clínica: fraqueza muscular e cãibras; alterações eletrocardiográficas (onda T negativa e aparecimento da onda U). Tratamento: reposição VO ou EV, diuréticos poupadores de potássio,descobrir e tratar a causa. Hipercalemia: Causas: alterações da função renal (IRA, DRC), deficiência de aldosterona, medicamentos. Redistribuição: intra para extracelular acidose, hemólise, rabdomiólise, quimioterápicos, beta-bloqueadores, deficiência de insulina. Tratamento: o Espoliar potássio: diurético ou resina (diminui a absorção). o Redistribuir potássio: insulina ou beta agonista leva para o intracelular e é temporário. o Se nada funcionar: hemodiálise.
Compartilhar