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ABORDAGENS SOCIOPSICOLÓGICAS DA 
VIOLÊNCIA E DO CRIME
EXCLUSÃO SOCIAL E VIOLÊNCIA
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1 - Reconhecer o que é exclusão social;
2 - Verificar como a exclusão social está articulada ao fenômeno da violência e do crime;
3 - Relacionar o que é a criminalização da pobreza e com o processo de exclusão social.
1 Exclusão social
A noção de exclusão social surge em 1974, com o então Secretário de Ação Social francês René Lenoir, ao expor
suas ideias no livro Os excluídos: um em cada dez franceses.
Nesta obra, o político expõe sua preocupação com uma parcela da população integrante da massa pobre e que
necessitava de ajuda governamental.
Até então, a exclusão era pensada como um , ideário que encontramos até os dias atuais, efenômeno subjetivo
não como um fenômeno social, vinculado às questões de trabalho, sociais ou econômicas.
Neste sentido, o mérito deste autor foi suscitar a reflexão sobre a exclusão enquanto fato social e político,
vinculado ao funcionamento próprio da sociedade. Ele destaca como causas da exclusão “(...) o rápido e
desordenado processo de urbanização, inadaptação e uniformização do sistema escolar, desenraizamento
causado pela mobilidade profissional; desigualdade de renda e de acesso aos serviços” (Wanderley, 2001: p. 16).
Desta forma, o conceito de exclusão social pode ser entendido como um processo sócio-histórico situado na
interseção do indivíduo e da sociedade, visto que se concretiza na ordem do social, mas é sentido na ordem do
indivíduo como necessidade e sofrimento psíquico.
Fique ligado
Entender a exclusão social como fenômeno subjetivo traz a ideia de que o indivíduo
permanece nesta condição por sua própria “culpa”, ou seja, a sua condição de pobreza não
seria relativa a um contexto político, econômico e social desigual, mas devido a alguma questão
individual.
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2 O surgimento das ciências humanas e sociais
Para se entender a inovação desta discussão importante voltarmos ao século XIX, com o surgimento das ciências
humanas e sociais. Tanto a Sociologia como a Psicologia constitui-se enquanto ciência em um cenário onde o
paradigma científico baseia-se nas ciências naturais (biológicas).
Este paradigma faz com que estas disciplinas tenham referenciais tanto filosóficos quanto biológicos.
Desse referencial teórico e filosófico começa-se a compreender os fenômenos humanos e sociais a partir da
biologia, sendo inclusive aplicada a Teoria da Evolução de Darwin, para o entendimento da pobreza e da
desigualdade social.
A aplicação da teoria darwinista à sociedade suscita a criação do darwinismo social, teoria que explicaria as
desigualdades sociais a partir da desadaptação de determinados setores, onde as populações mais adaptadas (ou
evoluídas) teriam futuro e as outras estariam fadadas ao fracasso. Disto decorre a biologização das diferenças
sociais, que não estariam localizadas nas relações sociais, no contexto ou na política, mas na biologia dos
indivíduos.
3 As desigualdades sociais e a exclusão social
Nesta luta pela existência, surge também no século XIX, a teoria sobre as raças, onde a raça branca estaria em
uma hierarquia superior e as outras seriam inferiores.
Resumindo: As ciências humanas e sociais surgem em um quadro de dominação das ciências naturais e onde a
Biologia serve de base para todos os tipos de fenômenos, desde aquele relativo aos organismos naturais até aos
relativos ao funcionamento social. Disto decorre a explicação biológica também para os fatos sociais e, diante
desta perspectiva, as desigualdades sociais e a exclusão social não são compreendidas como algo devido ao
funcionamento social, mas devido a questões individuais.
4 Grupo de “inadaptados” sociais
Atualmente, observamos que idosos, portadores de necessidades especiais, minorias étnicas, desempregados,
entre outros, são todos grupos onde falta a acessibilidade aos bens sociais, culturais, políticos, materiais ou
simbólicos, configurando um grupo de “inadaptados” sociais ou rejeitados devido às impossibilidades que a “sua
condição” gera.
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Entretanto, cabe ressaltar que essa “condição pessoal” passa muito mais por uma construção social do que por
uma condição pessoal de incapacidade. Até porque destitui tais grupos de sua condição de cidadão perante a lei,
o que deveria estar assegurado a todos, independentemente de suas diferenças.
5 Políticas assistencialistas
Compete esclarecer que as pessoas constroem a representação de si a partir de seu relacionamento com as
outras pessoas e diante das expectativas que elas possuem dele.
No caso deste sistema excludente surge a representação negativa e fatalista de sua condição e de si mesmo.
Este processo de culpabilização do indivíduo pela sua condição, também considerado de estigmatização da
pobreza, ou a naturalização do fenômeno da exclusão, gera o pensamento fatalista de que “isso é assim e não há
nada para fazer” e faz direitos serem transformados em ajudas e favores, alimentando políticas assistencialistas.
6 Os excluídos
Cabe destacar que a exclusão estaria apoiada em um sistema simbólico de preconceitos sobre a adequação ou
não à condição de cidadania.
Neste sentido, podemos entender que os excluídos são todos aqueles rejeitados de nossos mercados materiais ou
simbólicos, de nossos valores.
Segundo Sawaia (2001), “A exclusão é um processo complexo e multifacetado, uma configuração, uma
configuração de dimensões materiais, políticas, relacionais e subjetivas” (p. 9).
Saiba mais
A exclusão estaria apoiada em um sistema simbólico de preconceitos sobre a adequação ou
não à condição de cidadania. Nesse sentido, podemos entender que os excluídos são todos
aqueles rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos valores.
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7 Desemprego
Pensando a exclusão em termos de falta de acessibilidade aos bens sociais básicos para a satisfação das
necessidades fundamentais para a vida, tem-se que, atualmente, a exclusão não pode ser considerada um
fenômeno marginal, visto que atinge cada vez mais camadas da população que não os “pobres tradicionais”.
Tanto que os excluídos do final do século XX são populações que não encontram lugar no mercado de trabalho,
quais sejam:
- desempregados de longa duração que vão sendo expulsos do mercado de trabalho;
- jovens que não conseguem acesso ao “primeiro emprego”;
- camadas da população aptas ao trabalho e adaptadas à sociedade, porém vítimas da conjuntura econômica e da
crise do desemprego.
8 Vínculo social
Apesar de toda reflexão, estudo e mudança paradigmática, o conceito de exclusão ainda continua complexo,
difuso e fluido, acarretando a sua polissemia. Entretanto, pode-se destacar que todos os sentidos se apresentam
de alguma forma como rompimentos, fraturas com relação ao vínculo social.
• Desqualificação
Processo relacionado a fracasso e sucesso da integração social, que passa essencialmente pelo emprego.
• Desinserção
Enfoca a dimensão simbólica da exclusão, os valores da sociedade definem os “fora de norma” como não
tendo valor ou utilidade social.
• Desafiliação
Fragilização ou ruptura do vínculo societal, acarretando vulnerabilidade, precarização, marginalização e
isolamento social.
9 Tipos de exclusão social
Bruto Costa (1998) tipifica a exclusão social em:
Econômica
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Relativa à privação de recursos básicos como precariedade no emprego, baixa escolaridade, más condições de
vida.
Social
Refere-se à privação relacional, como o isolamento dos “indesejáveis” (idosos, pessoas portadores de
necessidades especiais).
Cultural
Relacionada a fatores culturais ou a discriminação racial.
Patológica
Relacionada a casos de origem patológica, principalmente psicológica ou mental.
Comportamentos autodestrutivos
Relacionada a comportamentos vinculados a toxicodependência, alcoolismo e prostituição.
9.1 Diferença entre pobreza e exclusão
Diante desse quadro, torna-se importante destacar a diferença entre pobreza e exclusãopara depois abordarmos
a relação entre violência e exclusão e a criminalização da pobreza.
Pobreza
Pobreza pode ser considerada um estado de privação relacionada às necessidades básicas de sobrevivência, tais
como: emprego, saúde, alimentação, vestimenta, moradia, educação etc.
Exclusão
No que se refere à exclusão temos que pensá-la de forma dialética, pois a sua existência está condicionada a
existência do outro lado, ou seja, da inclusão social. Então, exclusão não é a mesma coisa que pobreza, mas
conceitos e fenômenos que se complementam.
Saiba mais
Se a pobreza se encontra concretizada de forma objetiva no cotidiano das pessoas pela falta às
condições básicas de subsistência, a exclusão está mais vinculada à dimensão simbólica do
sentir-se incluído ou excluído do grupo social e ao sofrimento dela decorrente.
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9.2 Articulação entre violência, pobreza e exclusão social
Podemos, portanto, pensar a questão da articulação entre violência, pobreza e exclusão social. Por
criminalização da pobreza entende-se o fenômeno de se vincular enquanto causa a pobreza e enquanto efeito a
violência, como se todos aqueles que fossem pobres fatalmente tornar-se-iam criminosos.
Tal pensamento está baseado na filosofia utilitarista de que o crime seria cometido devido à impossibilidade de
acesso aos bens materiais e também ao desejo de tê-los. Tal pensamento ainda é reforçado pelo fato estatístico
de que a maioria da população carcerária é relativa às camadas mais pobres da população.
Entretanto, as ciências sociais já tomaram outro caminho no que se refere ao debate evidenciando o preconceito
e a discriminação subjacente ao pensamento supracitado que permanece enraizado no ranço da ideologia
pautada o darwinismo social e na teoria das raças do século XIX.
Tal caminho inverte a reflexão apontando que é exatamente pela condição de falta de acesso aos bens materiais e
sociais que a população das camadas mais pobres seria mais afetada ou vitimizada pela violência, como
atualmente verificamos os quadros das comunidades mais carentes.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• A relação entre mídia e violência;
• A vinculação entre o sentimento de insegurança com a veiculação com programas midiáticos violentos;
• A articulação entre os programas violentos e os comportamentos agressivos.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Entendeu o que é exclusão social;
• Aprendeu as dimensões e os tipos de exclusão;
• Compreendeu como ocorre a articulação entre pobreza, exclusão e violência.
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	Olá!
	1 Exclusão social
	2 O surgimento das ciências humanas e sociais
	3 As desigualdades sociais e a exclusão social
	4 Grupo de “inadaptados” sociais
	5 Políticas assistencialistas
	6 Os excluídos
	7 Desemprego
	8 Vínculo social
	Desqualificação
	Desinserção
	Desafiliação
	9 Tipos de exclusão social
	9.1 Diferença entre pobreza e exclusão
	9.2 Articulação entre violência, pobreza e exclusão social
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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