Buscar

Inclusão e exclusão social

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
SUMÁRIO 
1 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL ............................................................ 3 
1.1 Isolamento social .................................................................................. 8 
2 FORMAS DE EXCLUSÃO SOCIAL .......................................................... 10 
3 POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL ........................................................... 15 
4 A DESIGUALDADE SOCIAL CONTEMPORÂNEA .................................. 20 
5 DESIGUALDADE SOCIAL ........................................................................ 28 
6 SUBJETIVIDADE E EXCLUSÃO .............................................................. 29 
7 A SUBJETIVIDADE E A CONSTITUIÇÃO DO MUNDO PSICOLÓGICO . 31 
8 ENFRENTAMENTO DA EXCLUSÃO ....................................................... 36 
9 INCLUSÃO SOCIAL ................................................................................. 39 
10 A INCLUSÃO ENTENDIDA PELA EXCLUSÃO ..................................... 41 
11 POLÍTICAS DE INCLUSÃO ................................................................... 44 
12 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR/EDUCACIONAL PARA 
A EDUCAÇÃO INCLUSIVA ....................................................................................... 47 
12.1 Atuação do psicólogo escolar no contexto da educação inclusiva .. 49 
12.2 Papel do psicólogo no processo de inclusão da pessoa com 
deficiência 50 
13 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 55 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 
Os fenómenos de exclusão social têm merecido grande atenção dos 
investigadores, sendo que alguns (e.g. Hunter, 2000; Kowarick, 2003; Lesbaupin, 
2000; Proença, 2005; Sen, 2000) consideram a exclusão social um conceito recente, 
introduzido por René Lenoir em 1974, que abrange grande variedade de problemas 
socioeconómicos. Les baupin (2000, p. 30‑1) acrescenta que o termo deriva da teoria 
da marginalidade dos anos 1960, cujo fenómeno compreendia a mão‑de‑obra 
marginalizada na América Latina. O autor diz que a exclusão está presente em todos 
os países, independentemente do seu nível de desenvolvimento, tendo em comum a 
questão social. 
O afastamento da sociedade contemporânea das propostas políticas de bem‑
estar proporciona situações de vulnerabilidade social que fragilizam a sociedade. Este 
tipo de vulnerabilidade provoca a exclusão social (Castells, 1998; Lopes, 2006; 
Proença, 2005). Kowarick (2003, p. 69) defende que o combate às situações de 
vulnerabilidade é uma função essencial do estado, sendo os programas de 
intervenções intitulados de inclusão social. 
O estudo da exclusão e inclusão social pressupõe o conhecimento prévio do 
conceito, sendo esta a razão pela qual se apresenta uma síntese das definições e 
fatores nos tópicos abaixo: 
Compilação de definições de exclusão e inclusão social 
Exclusão social 
 É um processo através do qual certos indivíduos são empurrados para a 
margem da sociedade e impedidos de nela participarem plenamente em 
virtude da sua pobreza ou da falta de competências básicas e de 
oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, ou ainda em resultado 
de discriminação. COM, 2003, p. 9 
 Exclusão social é uma violação das exigências da justiça social 
manifestada através de conflitos de oportunidades e associados com a 
incapacidade de participar efetivamente na política. É um fenómeno 
distinto da pobreza e da desigualdade económica. Barry, 1998, p. 1 
 Exclusão social pode ser definida como múltiplas privações resultantes 
da falta de oportunidades pessoais, sociais, políticas ou financeiras. A 
 
4 
 
noção de exclusão social visa a participação social inadequada, a falta 
de integração social e a falta de energia. Hunter, 2000, p. 2‑3 
 No século XIV, a palavra esteve associada à ideia de não ser admitido, 
repeli‑ do ou de ser mandado embora. Posteriormente, seu significado 
passa a designar alguém que se encontra desprovido de direitos. 
Kowarick, 2003, p. 74 
 Marginalização de indivíduos ou grupos sociais em relação àqueles que 
produzem, consomem, convivem e são competentes. Proença, 2005, p. 
21 
 A exclusão social de um grupo, ou dos indivíduos que pertencem a esse 
grupo é, antes de tudo, uma negação de respeito, reconhecimento e 
direitos. Silver, 2005, p. 138 
 Exclusão social não é um conceito, é uma nova questão social. Esta 
situação está sendo produzida pela conjunção das transformações no 
processo produtivo, com as políticas neoliberais e com a globalização. 
Lesbaupin, 2000, p. 36 
 É um processo dinâmico, multidimensional, por meio do qual se nega 
aos indivíduos por motivos de raça, etnia, género e outras características 
que os definem o acesso a oportunidades e serviços de qualidade que 
lhes permitam viver produtivamente fora da pobreza. Mazza, 2005, p. 
183 
 Costuma ser relacionada a um plano de causalidade complexo e 
multidimensional, diferenciando‑se da concepção de pobreza. Lopes, 
2006, p. 13. 
 Exclusão social significa grupos socialmente excluídos. Portanto, são 
aqueles que estão em situação de pobreza, desemprego e carências 
múltiplas associadas e que são privados de seus direitos como cidadãos, 
ou cujos laços sociais estão danificados ou quebrados. Sheppard, 2006, 
p. 10 
Inclusão social 
 Processo que garante que as pessoas em risco de pobreza e exclusão 
social acedam às oportunidades e aos recursos necessários para 
participarem plenamente nas esferas económica, social e cultural e 
 
5 
 
beneficiem de um nível de vida e bem-estar considerado normal na 
sociedade em que vivem. COM, 2003, p. 9 
 São as políticas sociais contemporâneas que priorizam, 
equivocadamente, atingir os excluídos que estão no limite das privações 
através de programas focalizados que sustentam rótulos de “inclusão 
social”. Lopes, 2006, p. 22 
 Processo que visa promover a inclusão dos segmentos em 
vulnerabilidade social, destacando a cidade, a escola, o emprego e a 
proteção social. Kowarick, 2003, p. 75 
 Refere‑se à solidariedade social que é um processo diferente da exclusão 
social, pois reflete companheirismo. Barry, 1998, p. 17 
 A inclusão social de grupos não é meramente simbólica, já que também 
contém implicações económicas. Silver, 2005, p. 138 
 É uma questão de abertura e de gestão: abertura, entendida como 
sensibilidade para identificar e recolher as manifestações de insatisfação 
e dissensos sociais, para reconhecer a “diversidade” social e cultural; 
gestão, entendida como crença no caráter quantificável, 
operacionalizável, de tais demandas e questionamentos, administráveis 
por meio de técnicas gerenciais e da alocação de recursos em projetos 
e programas (as políticas públicas). Laclau, 2006, p. 28 
 Processo pelo qual a exclusão social é amenizada. Caracteriza‑se pela 
busca da redução da desigualdade através de objetivos estabelecidos 
que contribuam para o aumento da renda e do emprego. Wixey et al., 
2005, p. 16 
 A inclusão social está relacionada com a procura de estabilidade social 
através da cidadania social, ou seja, todos os cidadãos têm os mesmos 
direitos na sociedade. A cidadania social preocupa‑se implementação 
do bem‑estar das pessoas como cidadãos. Sheppard, 2006, p. 22. 
Fatores de exclusão e inclusão social 
Exclusão Social: 
 Caracteriza‑se por um conjunto de fenómenos que se configuram no 
campo alargado das relações sociais contemporâneas: o desemprego 
 
6 
 
estrutural, a precarização do trabalho, a desqualificação social, a 
desagregação indenitária, a desumanização do outro, a anulação da 
alteridade, a população de rua, a fome, a violência, a falta de acesso a 
bens e serviços, à segurança, à justiça e à cidadania, entre outras. 
Lopes, 2006, p. 13 
 Pobreza, fome, desigualdadeeducacional, violação da justiça social e 
solidariedade social. Barry, 1998, p. 11 
 Inacessibilidade ao mercado de trabalho a incapacidade de gerar uma 
renda familiar de subsistência, a desvalorização ou falta de reconheci‑ 
mento do trabalho diário do indivíduo, a discriminação e a ausência de 
proteções legais básicas do trabalho. Esses efeitos incluem a segregação 
física em comunidades marginais, o estigma social associado à baixa 
qualidade dos empregos, condições de trabalho inseguras e o abandono 
prematuro da escola. Mazza, 2005, p. 183 
 Desemprego, pobreza, grupos associados a carências múltiplas que são 
privados de seus direitos como cidadãos. Lesbaupin, 2000, p. 10 
 Pobreza, desemprego e carências múltiplas associadas e privação de 
direitos. Sheppard, 2006, p.10 
Inclusão social: 
 Programas institucionais de encontro a exclusão social. Lopes, 2006, p. 
22 
 Justiça social e solidariedade social. Barry, 1998, p. 17 
 Segurança, proteção, segurança social, direitos democráticos e 
oportunidades comuns de participação política. Sen, 2000, p. 36 e 40 
 A melhoria de capital humano por meio da educação, do treinamento e 
de empregos de melhor qualidade pode contribuir significativamente 
para o aumento da inclusão social. Mazza, 2005, p. 183. 
 (Re) inserção no mercado de trabalho, solidariedade social. Lesbaupin, 
2000, p. 7 e 9 
 Valorização das pessoas e grupos independentes de religião, etnia, 
género ou diferença de idade; estruturas que possibilite possibilidades 
de escolhas; envolvimento nas decisões que afetam a si em qualquer 
escala; disponibilidade de oportunidades e recursos necessários para 
 
7 
 
que todos possam participar plenamente na sociedade. Wixey et al., 
2005, p. 17 
A concepção de exclusão e inclusão social evolui conforme a época e situação 
caracterizando‑se por uma definição aberta e flexível (Lopes, 2006; Wixey et al., 
2005). Há uma convergência conceitual de exclusão social relacionada com a 
abordagem holística da internacionalização da economia neoliberal que ultrapassa o 
controle do indivíduo, além do caráter multidimensional que se manifesta com as 
privações de direitos e uma distinção conceitual de pobreza (Lopes, 2006; Barry, 
1998; Hunter, 2000; Kowarick, 2003; Lesbaupin, 2000; Mazza, 2005; Proença, 2005; 
Sen, 2000; Silver, 2005). 
Observa‑se, na síntese apresentada nos tópicos, que há uma convergência 
entre as definições apresentadas pelos diferentes autores. Existe maior profusão de 
trabalhos sobre a exclusão social relativamente à inclusão social, fato que sugere que 
a exclusão social é um forte fator de preocupação da sociedade contemporânea e que, 
infelizmente, as políticas de inclusão não têm sido suficientes para fazer face aos 
imperativos sociais. 
No âmbito da inclusão social destaca‑se a abordagem da solidariedade social 
com o envolvimento de todos os segmentos da sociedade. Entretanto, todas as ações 
de inclusão social requerem uma gestão económica, mais concretamente, uma 
política social. 
Nesse contexto, alguns autores (Glennerster, 2000; Laclau, 2006; Lopes, 2006; 
Kowarick, 2003; Silver, 2005) responsabilizam o estado pela implementação de 
programas de inclusão social. Exclusão social designa um processo de afastamento 
e privação de determinados indivíduos ou de grupos sociais em diversos âmbitos da 
estrutura da sociedade. 
Trata-se de uma condição inerente ao capitalismo contemporâneo, ou seja, 
esse problema social foi impulsionado pela estrutura desse sistema econômico e 
político. Assim, as pessoas que possuem essa condição social sofrem diversos 
preconceitos. 
Elas são marginalizadas pela sociedade e impedidas de exercer livremente 
seus direitos de cidadãos. Podemos salientar as condições financeiras, religião, 
cultura, sexualidade, escolhas de vida, dentre outros. Os excluídos sociais, 
geralmente são minorias étnicas, culturais e religiosas. Como exemplos, temos os 
 
8 
 
negros, índios, idosos, pobres, homossexuais, toxicodependentes, desempregados, 
pessoas portadoras de deficiência, dentre outros. Observe que essas pessoas ou 
grupos sociais sofrem muitos preconceitos. Isso afeta diretamente aspectos da vida, 
e, em muitos casos, gera outro problema chamado de “isolamento social”. 
1.1 Isolamento social 
 
Fonte: universiaenem.com.br 
O isolamento social acontece quando um indivíduo ou grupo é excluído da 
esfera de convívio social de seus pares. O isolamento social ocorre quando um grupo 
ou um indivíduo, seja de forma involuntária ou voluntária, afasta-se, evita o contato ou 
a interação, ou é privado pelos demais de ter contato ou de manter relações com esse 
grupo, sendo excluído do ambiente comum. As motivações para esse fenômeno são 
diversas e devem ser vistas caso a caso, mas existem fatores que podem ser 
determinantes e que, geralmente, são plenamente visíveis. 
O fenômeno pode ter relação com a situação econômica dos indivíduos, onde 
acabam por serem privados de pertencer plenamente à esfera socioeconômica da 
qual pertencem, com doenças estigmatizadas como a AIDS, com a velhice, com o 
simples fato de ser diferente, ou inúmeros outros fatores que, seja por um ou outro 
motivo, tornam-se suficientes para que um indivíduo seja socialmente isolado ou se 
isole do contato comum. 
 
9 
 
O isolamento social advindo da exclusão social, que a camada mais pobre da 
sociedade acaba por sofrer, está refletido na negação de serviços básicos do governo 
que são característicos de bairros periféricos mais pobres, onde benefícios como 
asfalto, coleta de lixo, ou mesmo água encanada, são necessidades básicas que não 
são supridas. 
 É possível perceber o isolamento literal ao olharmos para o mapa da maioria 
de nossas cidades e notarmos que essa população é empurrada para a “periferia da 
cidade”, ou a parte mais afastada do “centro”, ou da parte mais bem provida de 
serviços das cidades. 
As pessoas idosas que são socialmente isoladas, geralmente necessitam de 
maiores cuidados em uma época da vida mais delicada e acabam por serem vistas 
como um fardo pesado demais para ser carregado por sua família, sendo excluídas 
do convívio diário por serem consideradas incapazes ou pela natureza mais lenta de 
suas ações. O isolamento social desses idosos acaba sendo integral quando são 
recolhidos em asilos, uma vez que por mais que estejam em companhia constante, 
ela nunca lhes é familiar. 
Doenças estigmatizadas, que são vistas como altamente contagiosas por 
exemplo, acabam por vitimar o portador não apenas biologicamente, mas também 
socialmente. 
Embora o estigma tenha diminuído em função de campanhas de 
conscientização para a população, os portadores dessas enfermidades ainda são 
socialmente isolados ou são negados de terem contato mais próximo com outros 
indivíduos que, por preconceito ou falta de informação, acreditam que todo e qualquer 
contato pode resultar em contágio. 
O isolamento social, por ser altamente complexo e ter motivações tão variáveis, 
ainda é amplamente estudado pelas ciências sociais. Algumas de suas 
consequências podem ser trágicas, podendo variar de traumas psicológicos à 
depressão ou à completa retração social do indivíduo vitimado. 
Quanto ao isolamento relacionado à exclusão social, os problemas são 
diversos, mas explícitos em nosso dia a dia nas dificuldades e nos problemas vividos 
pela camada mais pobre de nossa sociedade. Entretanto, a responsabilidade pela 
 
10 
 
solução desses problemas está dividida entre o governo e os indivíduos no exercício 
de sua cidadania.1 
2 FORMAS DE EXCLUSÃO SOCIAL 
A exclusão social se apresenta de diversas formas, dentre as quais, 
podemos destacar: 
Exclusão cultural e étnica: 
Ela é direcionada às minorias étnicas e culturais. Ex: as comunidades 
indígenas. Vivemos uma época em que a consciência de que o mundo passa por 
transformações profundas é cada dia mais forte. Esta realidadeprovoca em muitas 
pessoas e grupos sentimentos, sensações e desejos contraditórios, ao mesmo tempo 
que causa insegurança e medo, potenciadores de apatia e conformismo, como 
também estimulam a novidade e a esperança, mobilizadores das melhores energias 
criativas para a construção de um mundo diferente, mais humano e solidário. 
Eliminar a invisibilidade social que atinge a população excluída e criar políticas 
públicas que beneficiem e incluam os diferentes grupos étnicos brasileiros são 
algumas das bandeiras levantadas pelos movimentos que lutam pela inclusão étnica 
no Brasil. 
A preocupação com as desigualdades existentes no País é antiga. A diferente 
exclusão étnica sofrida pelos negros e índios brasileiros tem sido tema de congressos, 
simpósios, fóruns nas Universidades e nos movimentos dos excluídos da sociedade. 
A inclusão da população marginalizada depende de vontade política do 
governo, das empresas e da sociedade. O primeiro desafio é liquidar com a hipocrisia 
da igualdade racial no brasil. Só depois que admitirmos que os índios e negros 
estudam menos, ganham salários menores e sofrem preconceito é que poderemos 
pensar em trabalhar a inclusão étnica nesta sociedade. 
As políticas públicas existentes não são capazes de alterar o padrão de 
desigualdade racial. O pré-requisito para a criação de políticas que realmente 
 
1 Texto extraído do link: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/isolamento-
social.htm 
 
 
11 
 
beneficiem a população excluída depende de corações sensibilizados e indignados 
com a situação atual. 
Helena de Biase, coordenadora de projetos do departamento de Educação da 
FUNAI, destacou que os brasileiros tratam o índio de forma romantizada e rotulada. 
"Para muitos existem dois tipos de índio. O índio puro que vive na floresta, não usa 
roupa e se alimenta do que caça e que merece ajuda humanitária. 
Já o índio impuro - que mora na cidade e usa roupas de branco - é preguiçoso, 
vagabundo e interesseiro", denunciou. "Os índios são considerados um estágio 
primitivo da humanidade. As pessoas acham que quando eles começam a evoluir e a 
lutar pelos seus direitos, deixam de ser índios". 
A exclusão dos povos indígenas está na sua invisibilidade e nestes rótulos 
errôneos, "Está mais do que na hora do índio ser visto como um cidadão especial, 
com cultura própria. Esteja trabalhando na cidade ou caçando na mata, o índio nunca 
deixa de ser índio". 
 Ainda que as políticas de inclusão devem garantir os direitos dos índios e 
preservar sua relação com os recursos naturais e de sustentabilidade de suas terras, 
"as iniciativas devem ser elaboradas respeitando as diferenças culturais e de 
formação social que apresentam". 
Ter um dia para comemorar significa que a sociedade tem consciência da 
marginalização, da exclusão a que os índios foram e são submetidos. Ter um dia para 
comemorar significa que a sociedade tem consciência da marginalização, da exclusão 
a que os índios foram e são submetidos. 
Exclusão econômica: 
Determina a exclusão de pessoas que possuam rendas inferiores. Ex: os 
pobres. Sendo a pobreza e a exclusão social, situações multidimensionais e passíveis 
de mudança em função de diversidades regionais, de fatores culturais, das condições 
da economia e do momento histórico, fica difícil defini-las coerentemente para todos 
os casos. No entanto, será apresentada uma breve definição de ambas. 
Uma família é considerada pobre quando a soma de seus rendimentos é 
insuficiente para suas necessidades básicas alimentação, saúde, educação, moradia 
e transporte, entre outras necessidades fundamentais (Rezende e Tafner, 2005). No 
Brasil, tal questão é associada ao valor do salário mínimo, ou seja, são consideradas 
 
12 
 
pobres aquelas famílias cuja renda mensal é inferior a meio salário mínimo por 
pessoa. 
Segundo dados do Rezende e Tafner (2005), com base nos critérios descritos 
anteriormente, em 2002 no Brasil cerca de 49 milhões de pessoas e 10 milhões de 
domicílios podiam ser considerados pobres, o que equivale a 29% da população total 
e 22% dos domicílios do país. 
A exclusão social pode ser interpretada de uma forma mais abrangente, 
compreendendo fatores como: raça, gênero, idade, condição socioeconômica entre 
outros. No entanto, são excluídos socialmente todos aqueles que não tem condições 
econômicas de participação, seja na vida social como um todo, seja em algum de seus 
aspectos. (Rezende e Tafner, 2005). 
No Brasil, o salário mínimo é o parâmetro mais utilizado nas regras de 
formatação da maior parte dos programas sociais de transferência de renda do 
governo, por isso foi adotado por diversos estudiosos para medir a pobreza e exclusão 
social. 
Nossa tendência será de modo algum ignorando a importância das outras 
dimensões e percepções optar por um recorte econômico da exclusão social. Nos 
países periféricos com welfare State precário, a incapacidade de renda própria para 
satisfazer às necessidades básicas deve ser o centro da definição de exclusão. 
Mas o que são necessidades básicas? É a pobreza um conceito relativo? 
Alguns elementos que afetam a percepção social e, portanto, as subjetividades do 
conceito podem induzir a um crescimento do coeficiente de inconformismo diante da 
pobreza. Neles se enquadram, por exemplo, o padrão referencial de consumo da 
mídia de massa, projetando sobre a renda inferior ícones direcionados à classe média. 
Sen (1984) chama a atenção para a limitação e a ambiguidade do critério 
fisiológico. Pessoas podem subsistir com uma dieta mínima, mas apresentar baixa 
expectativa de vida e raquitismo. Moradia, saneamento, educação e eventualmente 
bens que algumas sociedades podem considerar supérfluos (teatros, restaurantes e 
viagens) podem estar incluídos entre aqueles que determinada comunidade considera 
mínimos para uma vida socialmente aceitável. 
Desai (1995) diz que o inevitável grau de arbitrariedade na demarcação entre 
pobres e não-pobres. Só será efetiva a definição de pobreza que a sociedade aceitar 
incorporar ou comprar. 
 
13 
 
Há várias implicações institucionais na definição de linha de pobreza; entre elas 
os critérios para ajuda (ou subsídios) do estado. 
 A sociedade acaba por se definir, levando também em consideração a 
propensão dos não-pobres em transferir renda para os pobres. Por exemplo: a 
sociedade está disposta a possibilitar que todas as crianças tomem leite, mas não que 
todos os adultos possuam uma tv. Nesse caso, o leite seria parte do conteúdo da linha 
de pobreza, a tv não. 
A outra questão correlata é a medida geral da pobreza. O simples número de 
pobres na população total não leva em conta o grau em que as rendas dos pobres se 
distanciam da linha de pobreza, nem a distribuição de renda entre os pobres. 
Uma profunda modificação no paradigma do trabalho está em curso na 
sociedade atual, com o avanço da nova lógica das cadeias produtivas do capitalismo 
global. Quantidade e qualidade dos empregos passam a ser uma variável decorrente 
da nova lógica. 
Para entender essa radical mudança de paradigma, é preciso analisar o 
processo que desencadeou a nova lógica do capitalismo global deste final de século. 
Exclusão etária: 
Designa a exclusão por idades. Ex: crianças e idosos. 
Exclusão sexual: 
Este tipo de exclusão é determinado pelas diferentes orientações sexuais. Ex: 
a exclusão dos transexuais. 
O rótulo acaba se sobrepondo ao movimento que parece empurrar as pessoas 
trans para fora da sociedade, para fora de suas melhores e mais justas relações 
sociais, privando-as dos direitos que dão sentido a essas relações. 
O preconceito, somado às agressões físicas e emocionais, deixa marcas 
profundas na vida dos transgênicos refletindo na expectativa de vida deste grupo que 
não supera os 35 anos de idade. A exclusão social está presente por toda a vida da 
pessoa trans.,dentro das próprias famílias, nos estabelecimentos educacionais, no 
mercado de trabalho. 
Desse modo, observa-se que os sujeitos que se identificam como pessoas 
trans, em sua grande maioria, são expulsos de casa, ficam impossibilitados de 
frequentar os estabelecimentos de ensino, não conseguem emprego, são excluídos 
de todos os campos sociais, enfim, um conjunto de instituições sociais é posto em 
 
14 
 
ação toda vez que alguém afirma: “Não me reconheço nesse corpo, não me identifico 
com o gênero imposto! ” (BENTO, 2008). 
Exclusão de gênero: 
É relativa ao gênero masculino e feminino. Ex: a exclusão das mulheres. 
A relação de gênero formada por homens e mulheres é norteada pelas 
diferenças biológicas, geralmente transformadas em desigualdades que tornam o ser 
mulher vulnerável à exclusão social. A exclusão que atinge a mulher se dá pelas vias 
do trabalho, da classe, da cultura, da etnia, da idade, da raça, e torna-se difícil atribuí-
la a um aspecto específico desse fenômeno, em vista de ela combina vários dos 
elementos da exclusão social. 
Exclusão da mulher na esfera de trabalho: mulher tem estado na condição de 
inferior, que tem sido reproduzida pela maioria dos formadores de opinião e dos que 
ocupam as esferas de poder na sociedade. 
Muitos filósofos e escritores veem a mulher de forma preconceituosa como 
mais vulnerável à piedade, é mais afeita à inveja, à injúria, tem menos pudor, é menos 
digna de confiança, é mais encabulada, destinada ao casamento e à maternidade, 
pouco dotada intelectualmente, indiscreta e moralmente fraca. Sua única força é o 
encanto e a virtude é aparente e convencional. 
O fim de uma forma de exclusão da mulher no mundo do trabalho se dá a partir 
do século XIX através da luta feminista. Até mesmo a sua iniciação no trabalho 
remunerado, que se deveu a uma necessidade do capital de ampliar o seu consumo, 
ocorreu de forma desigual. 
Assim, a atuação da mulher no mercado de trabalho se dá, em condições 
visivelmente desiguais e excludentes. O preconceito de inferioridade designado ao 
sexo feminino, durante séculos através da religião, das leis, da escola e da família, 
onde, cotidianamente, a própria mulher reproduz a superioridade masculina através 
da educação familiar ou informal é apropriado, inclusive, pelo capital e reproduzido 
nas relações de trabalho pelo mesmo sistema capitalista, que convoca a mulher para 
o mercado de trabalho remunerado. 
O desemprego provocado pela chamada onda tecnológica tem levado a mulher 
a assumir cada vez mais a chefia da família. As diferenças convertidas em 
desigualdades retiram a mulher do exercício de atividades de maior prestígio e melhor 
remuneração. 
 
15 
 
A violência através da exclusão feminina: É a partir de detalhes como os 
brinquedos infantis, que a criança é preparada para o espaço reservado ao feminino, 
o da submissão. Dessa forma, vão sendo atribuídas personalidades garantindo a 
assimetria entre os gêneros. Justificando desigualdades e exclusões e geram polos 
de opressores e oprimidos, que se manifestam nas relações no espaço privado 
através da violência, que atinge de forma particular a mulher. No Brasil, a violência 
exercida contra a mulher tem se constituído em preocupação de pesquisadores, 
juntamente com a luta pelo direito à cidadania. Estende-se sob vários ângulos, a 
exemplo da violência doméstica, o assédio sexual, o estupro, exploração sexual de 
crianças e adolescentes, e turismo sexual. 
Exclusão patológica: 
Exclusão relativa às doenças. Ex: os portadores de HIV. Devida aos fatores de 
natureza psicológica e mental. 
Ex: doenças psiquiátricas 
Comportamentos autodestrutivos: relacionados com toxicodependência, 
alcoolismo, prostituição, delinquência, etc. 
Um mesmo grupo pode comportar vários tipos de exclusão, por exemplo o “ 
sem-abrigo”, pela privação múltipla à qual está sujeito pode adoptar comportamentos 
autodestrutivos. 
Exclusão comportamental: 
Ela direciona a exclusão sobre os comportamentos destrutivos. Ex: dos 
indivíduos toxicodependentes. 
A exclusão política: 
Está associada à falta de acesso a informação ou ao acesso precário a meios 
que ajudem na formação de opinião sobre assuntos políticos. A participação popular 
é parte integral do processo político e, diante disso, aqueles que não conhecem ou 
não possuem meios de intervir nesse cenário acabam sendo excluídos do processo 
político. 
3 POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL 
 Pobreza pressupõe a compreensão de que a mesma é historicamente 
determinada, e também que, as medidas tomadas para seu enfrentamento, são 
 
16 
 
formuladas e realizadas a partir da concepção que se tem, em determinado período 
histórico, acerca desta categoria. 
Para Lavinas (2003), a pobreza está vinculada ao surgimento das grandes 
cidades, tanto na Europa como na América. Para ela pobreza significava, naquele 
período, carências e privações que poderiam colocar em risco a “própria condição 
humana”. Entre as décadas 50 e 70 do século XX, o fenômeno da pobreza no Brasil 
era associado à noção de marginalidade, onde Fassin faz uma distinção entre as 
correntes culturalista e estruturalista. 
A culturalista estaria voltada para os traços psicossociais dos indivíduos, o que 
gerou a "cultura da pobreza”, o que acarretou em uma divisão dos pobres que 
mereciam ajuda e os que não mereciam, pois a este grupo a pobreza era associada 
única e exclusivamente ao seu comportamento. A mais aceita e difundida no Brasil foi 
a concepção estruturalista, que caracterizava a pobreza “como realidade estrutural 
ligada às contradições do sistema capitalista” (FASSIN, 1996, apud PEREIRA, 2011). 
Na década de 1990, como parte de um processo alavancado ainda nos anos 
1980, a noção de marginalidade foi deixada de lado pela maioria dos autores em favor 
da expressão exclusão social. A noção de exclusão social ganhou relevo nas 
reportagens, nas Organizações Não Governamentais (ONGs) com ação voltada para 
esta questão, nos partidos políticos e governos. 
Inicialmente tivemos uma abordagem eminentemente influenciada pelos 
pesquisadores franceses, tratam a questão como um fenômeno novo em seu 
significado e relacionado à ruptura de laços sociais e fator de uma crise nos 
fundamentos da sociedade, já presente ou em vias de acontecer. Os autores 
franceses enfatizam as desvinculações com o trabalho, multiplicadas pelo crescente 
desemprego que marca a contemporaneidade. Como expoente desta vertente 
podemos citar Castel (1998). 
Escorel (1999) diz que a desvinculação dos indivíduos excluídos não se traduz 
no não pertencimento a grupos sociais e na não participação nas dimensões sociais 
da vida humana. A condição de exclusão é definida “como a daquele que está ‘sem 
lugar no mundo’, totalmente desvinculado ou com vínculos tão frágeis e efêmeros que 
não constituem uma unidade social de pertencimento” (p.18). 
Segundo Lavinas (2003), considerar o fenômeno da exclusão implica 
considerar, também, aspectos subjetivos que mobilizam sentimento de rejeição, perda 
 
17 
 
de identidade, falência dos laços comunitários e sociais, resultando numa retração 
das redes de sociabilidade, com quebra dos mecanismos de solidariedade e 
reciprocidade. A tônica da exclusão é dada pelo empobrecimento das relações sociais 
e redes de solidariedade. Assim, a noção de exclusão também remete ao fracasso 
Alguns autores, como Sawaia entendem a exclusão como consequência da 
forma de funcionamento da organização social. Para Sawaia a exclusão faz parte de 
um processo contraditório, e ela não possui uma única forma e nem é uma falha do 
sistema, mas sim significa um produto do funcionamento do sistema. (SAWAIA, 2001, 
apud PEREIRA, 2011). 
A noção de exclusão não está relacionada à ruptura de laços sociais. Nessa 
abordagem a ideia de exclusão como forma subordinada de integração também está 
presente em autores que criticam a emergência da "exclusãosocial" como conceito. 
Demo (1998) mostra que, se os excluídos ameaçam a ordem social, eles não 
são, de fato, excluídos, pois fazem parte do sistema. Na mesma linha, Martins (1997) 
sustenta a tese de que não existe exclusão, mas, contradição, pois “no interior do que 
parece forte e dominante” cria-se “o nicho de ação eficaz dos frágeis” e as reações 
fazem parte do sistema econômico e de poder, mesmo que os negue. 
Por fim, algumas formulações sobre exclusão social a apontam como ausência 
de cidadania e que pode atuar como complemento das várias formulações elaboradas 
sobre o tema. Podemos dizer que essa abordagem tem seus fundamentos em 
Marshall (1967) que constrói a ideia de que os direitos devem assegurar ao indivíduo 
um mínimo de participação na vida social bem como nas benesses2, materiais ou não, 
criadas pela sociedade, incluindo os aspectos civis, políticos e sociais. 
A pobreza, ainda é a velha pobreza, mesmo com novas roupagens. Assim, para 
que possamos alcançar uma real apreensão da categoria pobreza, torna-se 
necessário desvelar e apreender a lógica e o funcionamento do sistema de controle 
sócio metabólico que a produz e reproduz. 
A sociedade do capital tem como célula central a mercadoria e é orientada por 
sua lei geral de acumulação. O que importa nesta sociedade é acumular cada vez 
mais e mais. O trabalho é, categoria central do ser social, das práxis humana e das 
 
2 Benesses: significa um benefício ou ganho, normalmente recebido sem muito trabalho ou 
esforço. 
 
18 
 
relações sociais, aparece esvaziado de toda sua essência e potencialidade 
emancipatória ficando subordinado ao imperativo do capital. 
Marxiana diz que é desvelada a essência da mercadoria, Marx ultrapassa a 
pseudoconcreticidade3, onde as relações sociais dos homens se tornam relações 
sociais entre “coisas”, e que igualdade é representada pela igualdade no valor de troca 
das mercadorias. Na sociabilidade burguesa o valor de uso (conteúdo material da 
riqueza) e o atendimento às necessidades básicas inerente a qualquer período 
histórico, são subordinados ao valor de troca que se constitui juntamente com a 
sociedade do capital. 
A mercadoria (fruto do trabalho) não é produzida de acordo com os 
carecimentos humanos, mas sim pela necessidade do mercado, pela necessidade da 
acumulação capitalista. (MARX, 1982). 
Fenômeno da pobreza está diretamente associado à lógica das relações 
sociais burguesas, ou seja, à contradição entre a forma de produção da riqueza e do 
valor e sua consequente apropriação privada por uma pequena parcela da sociedade. 
 Exclusão social remete a inclusão social e ambos estão intrinsecamente 
vinculados à categoria pobreza, pode-se falar também que esses dois termos por si 
só são vazios de historicidade, todavia estão repletos de determinações políticas, pois 
encobrem o real debate acerca da pobreza, pois se isto fosse feito, estar-se-ia 
colocando em xeque a própria forma de sociabilidade burguesa. 
Exclusão/inclusão vai ao encontro do processo de naturalização da pobreza, 
passando a ideia de que é possível apenas amenizar seu impacto. As políticas 
públicas contemporâneas seguem essa tendência, busca-se (ré)incluir o indivíduo à 
sociedade, pois quem deve ser alvo de ações por parte das políticas deve ser o 
indivíduo e não a totalidade (esferas econômica, social, cultural e política), ou seja, o 
sistema de (ré) produção das relações sociais reforçando e reproduzindo, desta 
maneira, a pobreza, que não é circunstancial, mas sim fruto de um modo de produção 
cruel e desumano, pois como já foi dito, se isto fosse feito estar-se-ia colocando em 
questão a própria manutenção da sociedade burguesa. 
Os conceitos de pobreza e exclusão social são distintos, remetendo-nos para 
formas de analisar a sociedade diferentes, se bem que aparentadas entre si. Para 
 
3 Pseudoconcreticidade: O mundo da pseudoconcreticidade diz respeito a existência autônoma 
dos produtos do homem e a redução destes ao nível das práxis utilitárias. 
 
 
19 
 
quem se preocupa com o problema social da pobreza, esta é uma questão importante, 
dado que diferentes noções do que é ser pobre (ou excluído) podem implicar o recorte 
de diferentes conjuntos de indivíduos na realidade, como vários autores referem (no 
que à pobreza diz respeito) (Glewwe e Gaag, 1989; Townsend, 1993: 86). 
 A designação dos indivíduos como pobres ou excluídos não é inocente dado 
que tem importantes efeitos ao nível da identidade social e da reprodução das 
desigualdades. As formas de definição destes dois conceitos são inúmeras, refletindo 
coisas tão distintas como a mudança social, as diferentes tradições de investigação, 
os objetivos políticos e as simples opiniões pessoais, dado que são construções 
sociais (Paugam, 1995: 24). 
Os aspectos mais relevantes que condicionam essas definições são, três: 
 É necessário frisar que pobreza e exclusão social, é uma problemática que é 
alvo de consideráveis preocupações políticas e institucionais (para complicar, é 
preciso não esquecer que a ideia de pobreza é anterior e exterior à própria ciência), 
sendo de uso comum. 
Por outro lado, a própria evolução histórica das sociedades leva a mudanças 
sociais na sua estruturação e funcionamento, designadamente nos processos e 
fenómenos que habitualmente se designam por pobreza. 
 A própria génese do conceito de exclusão social é exemplo da criação de um 
novo conceito para, entre outras coisas, responder à emergência de fenómenos e 
processos inéditos na modernidade. A mesma coisa poderá ser dita relativamente à 
variação da pobreza entre espaços sociais e culturais distintos. Isto significa que a 
mesma palavra pode significar coisas diversas em função de tempos e espaços 
diferentes. 
No caso da pobreza, o núcleo central é a ideia de escassez de recursos, 
escassez, em primeiro lugar, de recursos monetários (é, aliás, a partir desta ideia que 
se desenvolvem os primeiros trabalhos que se reivindicam “científicos” sobre a 
pobreza), mas é necessário não esquecer que é também escassez de vários tipos de 
recursos. Neste sentido, a analogia de Bourdieu em relação ao capital económico, 
encontrando quatro tipos de recursos, parece-nos ser particularmente fecunda quando 
aplicada à questão das desigualdades e, em particular, à questão da pobreza. 
A noção de exclusão social surgiu, por vezes em complemento e por vezes em 
confronto com a noção de pobreza, para explicar a emergência de processos e 
 
20 
 
fenómenos inéditos na modernidade, designadamente em relação com as novas 
formas de pobreza que colocavam em causa a coesão social (Paugam, 1996 e Silva, 
1998), em particular a relação dos indivíduos com o trabalho e com os laços sociais. 
O que a distingue e singulariza é o enfoque na exclusão dos indivíduos dos 
modos de vida dominantes de uma dada sociedade. 
Essa exclusão é multidimensional, mas o seu cerne é a exclusão do mercado 
de trabalho (Paugam, 1996: 7/19), (desemprego e desemprego de longa duração) ou 
a relegação para o mercado de trabalho secundário, designadamente para formas de 
precariedade ou para estatutos difusos entre emprego e desemprego. 
Enfocar a questão da exclusão social como exclusão de direitos de cidadania 
ou que se enfatize a dimensão de individualização social. No entanto, a questão 
essencial se joga ao nível do trabalho e do emprego na sua dupla dimensão de 
proporcionador de recursos financeiros para a sobrevivência física e social dos 
indivíduos. Além disso, os recursos em causa são também recursos indenitários, 
fundamentais para definir a posição na sociedade e a identidade social. 
4 A DESIGUALDADE SOCIAL CONTEMPORÂNEA 
A história da humanidade e desigualdades sociais andaram juntas, desde a 
antiguidade, 400 a.C até 476 d.C. no Império Romano do Ocidente os indivíduos se 
diferenciavampela sua condição social. 
Havia os patrícios que eram considerados superiores, e com direitos e os 
plebeus que eram considerados inferiores sem direitos. Os cidadãos tinham privilégios 
de participar da política e das questões públicas, porém os escravos, e as pessoas 
endividadas não gozavam dos mesmos privilégios. 
A ideia de propriedade privada nasceu através de um processo longo, não se 
formou de repente no espírito humano. Sua origem está vinculada ao fato, de um 
primeiro homem tendo cercado um terreno, proclamou, “isto é, meu! ”, e encontrou 
pessoas bastante simples para acreditar e aceitar, na Idade Média os nobres e os 
senhores feudais proprietários de terras dispunham de servos que lhes prestavam 
obediência e serviço, uma série de obrigações e deveres, numa sociedade teocrática 
onde se vivia a ideia que as desigualdades sociais eram fruto da vontade divina. 
 
21 
 
Os pobres deveriam viver em função de cuidar dos bens de seus senhores. 
Deus era testemunha de seu esforço e dedicação. Dizia ser que a pobreza era pela 
ausência da graça de Deus, era-se pobre porque Deus o fez assim. Sabe-se que, as 
desigualdades sociais estiveram sempre presente desde os primórdios da história 
humana, seja em versões laicas ou religiosas visando legitimar a ordem estabelecida 
pelas elites exploradoras, pouco se fala de suas origens. 
Cultivava-se a ideia de que, o pobre tinha como função vital trabalhar e servir 
seu patrão, e podia ganhar somente o básico para sua sobrevivência. Entendia-se que 
se ele melhorasse suas condições não, mas se sujeitaria ao trabalho para a elite. 
A existência da pobreza era defendida pelas classes elitizadas, compreendia-
se que para o rico continuar rico, era necessário o pobre estar em sua condição 
miserável trabalhando para ele. Entende-se que as desigualdades sociais sempre 
existiram, mas no século XVIII os filósofos iluministas conceberam a pobreza como 
resultante da ação humana e não como vontade divina. 
Percebe-se na sociedade humana duas formas de desigualdades, uma natural 
é estabelecida pela natureza que são as diversificações biológicas e as características 
subjetivas do Ser, e a outra que é chamada de desigualdade moral ou política, que é 
este sistema articulado e construído pelo homem, que se refere as camadas sócias. 
Fundada sobre uma estrutura de camadas sociais, o capitalismo reforçou a 
desigualdade das sociedades, mediante inúmeras formas de hierarquização, de 
maneira que o lugar do indivíduo era definido pela posição econômica que ele ocupa 
na estrutura social, esta posição influenciava o seu estilo de vida e suas escolhas 
pessoais. 
Com a revolução industrial e solidificação do capitalismo, surge um sistema 
econômico com uma grande influência no agravo da desigualdade social e pobreza. 
Consolida-se uma dinâmica onde a produção é regida por um mercado que visa lucro 
e acumulação de capital. Neste sistema, o dinheiro passou a ter grande força sobre o 
homem, ou seja, ter dinheiro é igual a ter poder em busca de seu bem próprio. 
A economia política clássica interpreta o capitalismo como uma ordem natural 
definida pela eterna vontade humana de trocar, comprar e vender. 
Enfim, acumular mais e mais riqueza. Este sistema, portanto, nasceria 
naturalmente, bastando remover os obstáculos e barreiras. A crítica marxista da 
 
22 
 
economia chega a conclusões diferentes, o capitalismo não é uma ordem natural, mas 
essencialmente social histórica, construída a partir das lutas de classes. 
O nascimento do capitalismo é um evento histórico, onde forças sociais 
específicas apropriam-se do poder político e do excedente econômico, que antes era 
dominado por instituições religiosas ou pela nobreza. Se nas sociedades medievais 
era honra, sobrenome que contava na nascente sociedade capitalista industrial o 
prestígio estava no dinheiro e quem tinha dinheiro tinha poder. 
E quem tinha poder era a burguesia, através de um mercado que regia um 
modo de produção coercitivo, onde todos são obrigados a seguir sua lógica. 
A camada social operaria seguia com longas jornadas de trabalho e baixos 
salários, sofria a violência deste sistema dominado por uma burguesia que enriquecia 
cada vez mais e se apropriava do estado, assim alimentava sua tendência opressora 
sobre os trabalhadores, se consolidava um abismo entre as camadas sociais. 
Camada social é um conceito que varia nas diversas correntes teóricas 
sociológicas, que falam do assunto. De maneira geral, refere-se a grupos sociais, que 
ocupam uma mesma posição na esfera de produção, mesmo nível econômico e certa 
similaridade na maneira de viver e trabalhar. Mas no final do século XX algumas 
vertentes teóricas julgaram este termo ultrapassado. No entanto, mesmo com tantas 
mudanças visíveis, a economia não mudou a tal ponto para abolir a divisão em 
camadas sociais. 
No controle a burguesia usava de seu poder para confiscar terras, promover 
saques. A antiga classe camponesa passa a integrar as cidades, se convertendo 
forçadamente em mão de obra de fábricas. Com a lógica deste novo mercado 
financeiro o trabalho do artesão, que geralmente era em pequenas oficinas, 
basicamente 
Microempresas familiares, logo cai em falência, surge grandes fábricas com 
baixos salários para seus operários que, cada vez mais numerosos, passam a integrar 
os subúrbios das metrópoles. 
Burguesia e proletariado são camadas sociais historicamente antagônicas e 
revolucionárias uma não existe sem a outra, ambas são produtos e produtoras da 
história. No final do século XVIII e durante o XIX surge na Europa Ocidental 
especialmente na industrial Inglaterra uma legião de mendigos, que eram 
trabalhadores desempregados. Eles passam a integrar a paisagem urbana das 
 
23 
 
metrópoles industriais. Epidemias, criminalidade e prostituição se tornam comuns: 
eram sintomas deste pauperismo. O Estado logo toma iniciativa e dá autorização para 
pessoas velhas e inválidas mendigar, e cria punições severas para o restante 
considerados saudáveis. 
A desigualdade social em suas diversas formas está presente em todo mundo, 
mas se faz mais evidente em países não desenvolvidos. Em 2003 o Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística (IBGE) lançou um estudo que chamou a atenção de todos 
pelo forte título: O Século da Desigualdade no Brasil. Este estudo constata que o 
crescimento econômico e desigualdade de renda andaram juntos durante todo o 
século XX. 
Alguns estudos remontam a desigualdade social Brasileira, como uma herança 
colonial, onde os pilares desta desigualdade se assentavam na influência ibérica, nos 
patrões donos de títulos e de latifúndios e na escravidão. É evidente que estas 
variáveis contribuíram fortemente, mas tem-se percebido a desigualdade como 
decorrência do efetivo processo de modernização que houve no país no início do 
século XIX. Junto com o crescimento econômico cresceu também a miséria e as 
dificuldades, fato típico do capitalismo. 
Na história deste país percebe-se um longo processo de extrema desigualdade 
que desenvolve um sistema econômico tipicamente excludente e uma sociedade 
extremamente desigual, em que a industrialização impulsionou um êxodo rural 
promovendo uma urbanização desordenada. 
As desigualdades de gênero e de raça são estruturantes, nas desigualdades 
sociais Brasileiras, fato este extremamente difundindo em especial pelos movimentos 
negros, feministas e outros grupos que lutaram contra os preconceitos, e denunciaram 
as piores condições de vida em diversos aspectos para estes grupos oprimidos. 
Mesmo havendo diversas alterações do sistema econômico e político, 
desigualdades sociais e pobreza são fatores recorrentes na história Brasileira, apesar 
de muitas mudanças. Não se via melhorias expressivas nas condições sociais, o país 
convivia com um contingente de pobreza, entendendo-a não só como insuficiência de 
renda mais como falta ou carênciade acesso a bens e serviços sociais, como moradia, 
saneamento e transporte urbano. 
É evidente que revoluções burguesas como a da Inglaterra, Estados Unidos e 
França, se encarregaram de ampliar direitos civis e políticos, mas também se criou 
 
24 
 
uma nova hierarquia baseada na riqueza. A burguesia, uma vez estabelecida no 
poder, tratou-se de esquecer seus antigos lemas (liberdade, fraternidade e igualdade) 
e colocou em prática um regime de opressão aos subordinados e privilégio às elites. 
Mas ao contrário do que anunciava os marxistas o capitalismo não morreu ao longo 
do tempo. Os operários conquistaram importantes direitos e melhores condições de 
trabalho. Houve uma redução no índice de desigualdade econômica, mas é evidente 
que a lógica iminente do capitalismo, produtora de desigualdade e pobreza ainda 
permanece ativa. 
No Brasil na década de 1970, o ´milagre econômico´ dos militares entrava em 
esgotamento dando início a uma crise. Todo este quadro promove no país uma 
articulação de vários segmentos, e resulta na abertura do caminho para a 
redemocratização. Surge um viés social democrata. Com a constituição federal de 
1988, o Brasil avança positivamente em relação a estratégias de enfrentamento da 
pobreza. Institui-se a seguridade social como política pública, mas estas estratégias 
ficam de certa forma ameaçada na década de 1990. As ideias neoliberais se instalam 
no país, mas posteriormente o Brasil passa a demonstrar importantes sinais de 
transição do neoliberalismo para o modelo social-desenvolvimentista onde estratégias 
de redução das desigualdades voltam a ganhar força. 
Na atualidade o governo brasileiro tem promovido programas de distribuição de 
renda em tentativas de reduzir as desigualdades econômicas e sociais. O coeficiente 
GINE (medida de desigualdade utilizada para calcular as desigualdades 
socioeconômicas) consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde a completa 
igualdade de renda, e 1 corresponde a completa desigualdade. Na atualidade este 
coeficiente, indica que além da pobreza a desigualdade social também reduziu no 
país. Houve melhora no índice de todas as regiões, e para toda a população 
independente de sexo ou cor. 
Apesar de ter havido melhorias nestes quadros de pobreza e desigualdade, não 
se pode esquecer que são frutos de um longo processo histórico, percebe-se que 
estas intervenções do Estado só amenizam o problema, mas passam longe de 
erradicá-lo. Parece haver na sociedade muitos obstáculos separando as elites dos 
destituídos sob uma falsa aparência de naturalização e esta situação promove 
diversos sentimentos, percepções e ideias sobre si mesmo e o mundo. 
 
25 
 
As relações sociais são fatores de extrema importância na formação da 
subjetividade do indivíduo. O termo subjetividade se mostra muito presente na 
Psicologia, tem diversas definições e muitas vezes há variações destes conceitos até 
mesmo dentro de uma mesma corrente teórica, mas estas diversas conceituações 
têm pontos em comum, como certa ênfase na sua origem social. No entanto se pode 
dizer que há duas categorias conceituais: uma que tem tendência a evidenciar fatores 
intrapsicológicos e a outra, interpsicológicos. 
A subjetividade aparece no vocabulário das pessoas ora para humanizar uma 
situação ora para qualificar uma escolha, um ponto de vista, um sentimento amoroso 
ou uma ideologia, que muitas vezes são acompanhados do termo subjetivo. Ela surge 
constantemente, seja no senso comum ou nas leituras e conversas acadêmicas. 
Quando se fala de subjetividade quase que automaticamente se pensa em 
singularidade, em possibilidades de vivências produzidas por fatores individuais, 
coletivos e institucionais. Ela então não se situa somente no campo individual, mas 
também nos processos de produção social e material onde o indivíduo atua como 
produtor e produto de sua história 
Logicamente, este termo não pode ser encarado de maneira estática, devendo 
ser entendido de maneira dinâmica, construída através de experiências do indivíduo 
em seus trajetos pela vida, seja no aspecto coletivo ou no individual. Também não se 
pode encará-la como um recipiente onde são depositadas coisas. Deve-se vê-la na 
relação do indivíduo com o mundo e consigo mesmo, e esta relação é extremamente 
passível de influências, percebe-se que a subjetividade é formada tanto por fatores 
internos, como o desenvolvimento do indivíduo e suas funções psicológicas e também 
por fatores externos, como a cultura e o meio social. 
Em uma análise desse termo encontram-se referências a um processo pelo 
qual algo se torna pertencente e constitutivo do indivíduo, se transformando em algo 
singular, mas sempre se deve ir além do significado da palavra e considerar também 
as relações sociais. 
Com estes subsídios teóricos pode-se chegar a um consenso que subjetividade 
pode ser definida como um conjunto de produções individuais e coletivas que resulta 
em um modo de existir, em um estilo de existência, mas quando se define este termo 
dessa maneira, também se chega a uma pergunta, se ela é esta produção o que então 
a produz, se presencia a mídia e toda tecnologia que atualmente rodeiam o ser 
 
26 
 
humano na sua totalidade, se fazem como influenciadores da subjetividade de forma 
mais simplificada pode-se dizer que cada ser humano, cada grupo social, tem sua 
própria subjetividade, decorrente de sua posição na sociedade, seu status, sua 
religião, o ambiente em que vive e toda a sua totalidade. 
A partir daí percebe-se que o homem tem a subjetividade como fator integrante 
de seu processo de conhecimento do mundo. Ela é fator central e determinante em 
sua maneira de ver e perceber o mundo e relacionar-se com ele. Ela é produzida e 
materializada no cotidiano nas interações do indivíduo com sua família, suas relações 
afetivas, as instituições da qual fez ou faz parte ou todo e qualquer fator que é, ou já 
foi alvo de investimento libidinal do indivíduo. Estes fatores são verdadeiras máquinas 
que produzem a subjetividade. 
Sem dúvida a internet é uma das grandes representantes da subjetividade 
contemporânea. Em um ambiente virtual se produz costumes, valores, linguagens e 
novas formas de socialização, novas dimensões de comunicar-se, onde também se 
percebe uma supervalorização do corpo. Seja como imagem ou como objeto de 
prazer, o corpo se torna elemento de sustentação da identidade, mas é passível de 
modificação e de transformação que muitas vezes resulta em novas posições frente a 
sociedade. 
Cada vez mais há uma subjetividade padronizada, o regionalismo cede lugar a 
globalização, grandes redes de lojas e lanchonetes povoam todos os países. 
 Também há certa nivelação dos hábitos e modos de vida. O primeiro mundo 
exporta seus costumes e valores a todas as partes do globo. 
A aparência, vestuário, tatuagem, piercings, utilização de tipos de cabelos, se 
tornam procedimentos de criação de uma identificação e muitas vezes é suporte de 
formação de grupos. Vive-se mais indiferente às questões sociais, o corpo passa a 
ser agente político, o sentimento de pertencimento a comunidade é praticamente 
inexistente, os laços sociais são frágeis. 
A subjetividade ancora-se no capitalismo mundial integrado. O capitalismo 
consolidou sua hegemonia mundial e passou a ter forte influência nas relações 
humanas nas diversas culturas do mundo. Este sistema disseminou seus costumes e 
valores, construiu uma visão de mundo nas pessoas de todas as regiões do globo, 
influenciando o contato humano com a natureza e com as instituições, atuando 
diretamente nas famílias, seja na sua formação ou no seu cotidiano. 
 
27 
 
Nota-se um enfraquecimento da noção do "eu". Indivíduos fundamentam sua 
frágil identidade no consumismo, numa vida pautada na superficialidade onde se vive 
mais para demonstrar ser feliz do que para buscar a felicidade de fato. As redes 
sociais na internet são verdadeirasprateleiras onde cada um parece se vender, 
parece ter se tornado mais importante registrar o momento do que vivê-lo em si. O 
que vigora é a busca de uma satisfação individual, o princípio ético que serve de base 
para as relações entre os indivíduos está cada vez menos pautado na coletividade e 
mais numa individualidade egoísta. 
Mesmo com esta subjetividade ancorada neste sistema capitalista, 
sedimentada nestes mecanismos massificantes, pode-se perguntar se há 
possibilidade de produção dela que escape das modernizações dominantes. Sem 
dúvida este sistema exerce uma força imensa, mas não se pode dizer que nada 
escape às modernizações. Claro que em menor parte, mas existe a possibilidade de 
escapar da mídia e do aprisionamento do sistema. 
Por mais que se veja todo este espectro de subjetividade capitalista que 
percorre as estruturas sociais e a influência totalmente, percebe-se que o capitalismo 
exerce forte influência, mas não é o único fator influenciador, deve se perceber o 
sujeito como ponto de convergência entre existência coletiva e uma existência 
individual, sempre dando à devida atenção a imensa influência que o indivíduo tem do 
momento histórico e da cultura em que se vive. 
Levando em consideração a realidade da sociedade em que está, inserido 
sobre o problema crescente da violência urbana, o real parece ter se tornado perigoso, 
e o mundo virtual é usado como alternativa, mas tem seus riscos próprios. A sociedade 
tem no computador, na internet seu mais forte símbolo de funcionamento. Estuda-se 
pela internet, se trabalha, se comunica, se faz várias coisas. Pode se dizer que ela se 
tornou uma nova instituição de controle da sociedade. 
Esta é uma forma que o sujeito tem de atuar no mundo, são laços sociais 
intimamente ligados com a subjetividade onde se percebe uma nova relação do sujeito 
com sua existência. Atacar o sistema e a tecnologia seria como quebrar as máquinas 
na época da Revolução Industrial. Todo este ambiente que envolve a sociedade 
contemporânea é fruto de um longo processo histórico, que exige a busca de novos 
subsídios teóricos para entender esta dinâmica da subjetividade e como ela está 
ligada ao social. 
 
28 
 
Compreende-se que, estas desigualdades sociais não naturais são 
provenientes do sistema socioeconômico capitalista, que solidificou seu domínio 
mundial e influencia as relações humanas nas diversas culturas do mundo. Sistema 
que dissemina costumes e valores construiu uma visão de mundo nas pessoas de 
todas as regiões do globo, influenciando o contato humano com a natureza e com as 
instituições, atuando diretamente nas famílias, seja na sua formação ou no seu 
cotidiano. 
5 DESIGUALDADE SOCIAL 
A influência da desigualdade social sobre a saúde humana tem sido 
amplamente discutida nos estudos da saúde coletiva. Esse crescente interesse se 
deve, principalmente, pela constatação de que o crescimento da renda ocorrido em 
alguns países ricos não diminuiu as suas taxas de mortalidade e nem aumentou a 
esperança de vida ao nascer, quando comparados a outros. Nesse sentido, uma 
hipótese levantada é a de que é a desigualdade de renda entre os países e dentro 
deles que explica tais achados. 
No entanto, vale salientar que a desigualdade social é uma condição inerente 
ao próprio sistema capitalista, onde um pequeno grupo de pessoas detém os meios 
de produção e o capital financeiro, enquanto a grande maioria da população é 
possuidora apenas de sua força de trabalho. 
 Sendo então a desigualdade um fenômeno socioeconômico, em que medida 
essa diferença influenciaria a saúde humana? Parece razoável inferir que o efeito 
deletério sobre a saúde se daria apenas naquelas sociedades com algum grau de 
iniquidade social. Segundo Whitehead e Dahlgre, a iniquidade seria aquela 
desigualdade injusta, indesejável e evitável que se funda no caráter essencial da 
diferença. A iniquidade pressupõe exclusão que é um fenômeno social e cultural, um 
fenômeno de civilização. 
É exatamente na avaliação do efeito da desigualdade que reside a divergência 
entre os pesquisadores. Para alguns, as taxas de mortalidade e de saúde estão mais 
relacionadas com as condições materiais como pobreza absoluta - do que com a 
desigualdade de renda. Para outros, a saúde de um indivíduo é determinada não 
apenas pela renda individual, mas também pelo cotejamento desta com a média de 
 
29 
 
renda da população em geral, isto é, quanto maior o fosso existente, menor os níveis 
de saúde. 
Quais seriam então as justificativas para a afirmação de que a desigualdade 
social poderia acarretar problemas à saúde humana? A explicação é psicossocial, ou 
seja, a partir da percepção que os indivíduos têm do seu lugar na hierarquia social. 
Os problemas psicossociais causados pela vivência dos indivíduos em sociedades 
desiguais vêm sendo apontada como uma das grandes responsáveis pelas altas taxas 
de homicídio, mortalidade e uma menor esperança de vida ao nascer. 
A despeito dessa divergência, a introdução da “variável” desigualdade social 
no elenco das explicativas das investigações epidemiológicas tem sido usada com 
bastante frequência. 
O grande desafio dos epidemiologistas, no entanto, é selecionar o melhor 
indicador para aferir essa desigualdade social. Para tanto, se faz necessário uma boa 
compreensão da sociedade em que os problemas de saúde ocorrem, o seu modo de 
produção, suas classes sociais e as relações sociais vigentes (capital social). 
Além disso, o conhecimento da natureza das desigualdades sociais e o impacto 
social de políticas, programas, projetos e ações sobre a saúde e seus determinantes 
orientam as prioridades para a gestão pública. Nesse sentido, a construção desses 
indicadores é fundamental para nortear esses gestores na distribuição dos escassos 
recursos destinados à saúde. 
Para a discussão desse tema foi realizada uma revisão sistemática da literatura 
sobre o efeito da desigualdade social na saúde dos indivíduos. A partir da constatação 
da controvérsia entre os estudos e das limitações na discussão sobre os efeitos 
psicossociais da desigualdade social, foram pesquisados livros vinculados ao campo 
da sociologia e psicologia que pudessem esclarecer essas questões. Diante dessa 
exposição inicial, o objetivo deste artigo é discutir as diferentes concepções que 
norteiam a seleção dos indicadores utilizados nos estudos Epidemiológicos e abordar 
os efeitos psicossociais no ser humano acarretados pela desigualdade social. 
6 SUBJETIVIDADE E EXCLUSÃO 
Em países nos quais uma parcela considerável das necessidades das pessoas 
é atendida por meio de trocas mercantis, as noções de pobreza e de exclusão 
 
30 
 
encontram-se naturalmente atreladas à incapacidade de um indivíduo ou de um 
núcleo familiar atingir um determinado patamar associado ao atendimento das 
necessidades sociais mínimas (VINHAIS e SOUZA, 2006). 
Critérios objetivos não são, contudo, os únicos fatores determinantes para 
categorizar os níveis de exclusão a que pessoas e grupos estão submetidos. Num 
contexto social caracterizado pela ausência de recursos necessários à existência, a 
experiência de ser e estar no mundo exige novas configurações, as quais impõem 
novos desafios e mudanças nas relações sociais, remetendo a uma ideia de 
movimento, de processualidade. 
Os elevados níveis de pobreza resultantes de condições históricas de 
colonização e dominação, bem como da falta de políticas públicas no Brasil, não 
asseguram direitos nem condições mínimas de igualdade para propiciar a inclusão 
dos grupos desfavorecidos (VALENTIM, 2005). Famílias de baixa renda são privadas 
de exercer sua cidadania e dignidade sem possuir condições favoráveis para a 
existência, prevalecendo a privação, a instabilidade e o esgarçamento dos laços 
afetivos e de solidariedade (GOMES e PEREIRA, 2005; MELO, 2006). 
Neste contexto, os vínculos afetivos ganham contornos mais fluidos(BAUMAN, 
2004). No mundo do hiperconsumo, grupos, famílias e indivíduos podem ser 
descartados ou reciclados (LIPOVETSKY, 2004); entretanto, não se pode confundir 
esta realidade com a nova cartografia de rumos possíveis, para a existência não 
perder seu corpo, sua consistência. 
 Para além da aceitação por um indivíduo de sua condição de excluído, 
prevalece o entendimento desta representação, de sua superação, de novas 
possibilidades de existência a partir de uma “tomada de consciência de uma nova 
configuração de si, um novo ‘em casa’, um novo mundo” (ROLNIK, 2001, p.17). Em 
outras palavras, o sentido da exclusão também depende de fatores subjetivos, isto é, 
as condições materiais podem ser cruciais para colocar uma pessoa em posição de 
exclusão, porém a superação desta situação não pode depender apenas da obtenção 
de recursos materiais, dado que o sistema impede esse fluxo livre de recursos, a 
despeito dos discursos ideológicos em contrário (cf. MOLNAR, 1972). 
Com o crescimento da complexidade relativa às redes de causalidades 
decorrentes das consequências dos atos humanos, o qual não se mostra 
acompanhado de uma expansão semelhante da capacidade moral (BAUMAN, 1998, 
 
31 
 
p. 70), o princípio de justiça – respeito pela liberdade e pela dignidade – incita a se 
questionar acerca de uma nova ética em relação à condição humana, e isso só pode 
ser feito em função de paradigmas que considerem o valor da experiência simbólica. 
A subjetividade pode ser entendida como produto das redes da história, sendo 
produzida “nos registros coletivos da sociedade e da cultura (...), forjando modos de 
existência (...) que modelam as maneiras de sentir e de pensar dos indivíduos” 
(TORRE e AMARANTE, 2001, p. 76). 
Há que se dissociar, portanto, os conceitos de indivíduo e de subjetividade: um 
aspecto trata da individuação do corpo, o outro comporta a multiplicidade dos 
agenciamentos da subjetivação, por meio dos quais a subjetividade é fabricada e 
modelada nos registros do social (GUATTARI, 1986). Para Dimenstein (2002, p. 16), 
subjetividade diz respeito a uma forma particular de se colocar no mundo, de ver e 
estar no mundo que não se reduz a uma dimensão individual. A subjetividade é um 
fato social construído a partir de processos de subjetivação, o qual é engendrado por 
determinantes sociais históricos, econômicos, políticos, ideológicos, de gênero, de 
religião, conscientes ou não. 
O modo pelo qual os mecanismos de subjetivação se (ré) configuram na lógica 
anteriormente descrita também pode ser justificado pela maneira como os processos 
de aceleração e mudanças hoje se insinuam. Com a experiência marcada pelas 
contradições do capitalismo pós-industrial (BAUMAN, 1998; LIPOVETSKY, 2004), o 
individualismo pode se traduzir em destino comum. 
 A existência da realidade dos novos tempos de mudanças significativas no 
âmbito da contemporaneidade é afirmada pela lógica que determina tais condições. 
Com a desarticulação das bases de vínculos sociais, os micros processos no âmbito 
das relações interpessoais, por consequência, são prejudicados de forma mais ampla 
em todos os excluídos sociais, dificultando as possibilidades de resgate daqueles que 
permanecem à margem do sistema. 
7 A SUBJETIVIDADE E A CONSTITUIÇÃO DO MUNDO PSICOLÓGICO 
Acredita-se que a subjetividade do homem o que determina seu modo de 
pensar, agir, trabalhar- não se trata de uma instância predeterminada, mas de uma 
 
32 
 
produção psíquica singular construída permanentemente na sua vida cotidiana e 
também possível de ser captada nessa mesma vida. 
A capacidade de registro simbólico, conquistada pelos humanos no decorrer de 
seu desenvolvimento como espécie, possibilitou que os homens, ao atuarem sobre o 
mundo na busca de satisfação de suas necessidades, fossem internalizando aspectos 
da realidade construindo elementos de vivência subjetiva. São imagens, significados, 
emoções, formas de expressão que se configuram psicologicamente e permitem ao 
sujeito se pôr no mundo, organizando sua conduta, seus pensamentos e sentimentos. 
Segundo Bock & Gonçalves (2005). 
Quando falamos de nossas emoções e afetos, de nossos pensamentos e 
projetos, de nossos valores e julgamentos, estamos falando de um mundo de 
símbolos, imagens e registros que se forma em nós e permite saber quem somos, ser 
reconhecidos e nos transformarmos. Estamos falando de um mundo singular e 
idiossincrático, estamos falando de um mundo de registros a partir de vivências. 
Ninguém duvidaria de que estamos falando do mundo psicológico. (p. 112). 
Esse mundo psicológico, na perspectiva sócio histórica, é constituído em uma 
relação, dialética, complexa e processual, com a realidade objetiva, material e social. 
A partir de Vygotsky (2001), trabalha-se com essa noção, entendendo que a atividade 
do indivíduo é, ao mesmo tempo, objetiva e subjetiva, em um processo que parte do 
social para o individual e que se realiza no espaço intersubjetivo. 
A Psicologia Sócio Histórica vai propor, então, a partir de Vygotsky, que se 
estudem os fenômenos psicológicos como resultado de um processo de constituição 
social do indivíduo, em que o plano intersubjetivo, das relações, é convertido, no 
processo de desenvolvimento, em um plano intrasubjetivo. Assim, a subjetividade é 
constituída através de mediações sociais. (Gonçalves, 2001, p.50). Para a Psicologia 
Sócio–Histórica " a expressão psíquica humana suplanta o arcabouço biológico do 
indivíduo e passa a constituir um campo que, na falta de uma definição mais rigorosa, 
chamamos de subjetividade." (Furtado, 2001, p. 75). 
Segundo González-Rey (2004), Vygotsky representa: 
Psique humana como um sistema complexo e integrado a partir de sua 
representação de ‘sistemas e sentidos’, definição que nos remete a uma nova ordem, 
a subjetividade. 
 
33 
 
 Nessa nova ordem a definição de sentido não se produz por qualquer 
influência externa ao sistema psíquico, e sim como resultado de um processo que tem 
lugar em um nível psíquico, dentro do qual toda influência externa atua através das 
possibilidades geradoras de sentido da subjetividade em seu momento atual. Essa 
definição da psique, com efeito, conduz a uma visão diferente sobre a ação do social 
sobre a psique, visão que rompe com a dicotomia social/individualidade. (p. 50-51) 
A psicologia sócia histórica entende que a psique é uma produção singular do 
sujeito, que se constitui a partir das condições de vida social do indivíduo. Desta 
maneira, busca-se superar as concepções naturalizantes sobre o mundo psicológico, 
uma vez que não há subjetividade inerente e apriorística. 
 Não se adota a visão de fenômeno psicológico como algo interno ao homem 
que recebe influência do meio social e que muitas vezes se contrapõe a interesses 
naturais do humano. O mundo psicológico se organiza a partir das vivências dos 
sujeitos. Estas são o conjunto de atividades e relações que ao serem exercidas pelos 
sujeitos se organizam e se estruturam como conteúdos singulares. 
Subjetividade e objetividade se constituem uma à outra sem se confundirem. O 
mundo psicológico é um mundo em relação dialética com o mundo social. De acordo 
com Furtado (2001) para Psicologia Sócio–Histórica as peculiaridades do humano 
"devem ser buscadas na conformação sócio histórica da atividade vital, relacionada 
ao trabalho social, ao uso de ferramentas e ao aparecimento da linguagem." (p.77) 
A linguagem, assim como a atividade, também é um fator essencial no 
processo de constituição da consciência. É por meio dela que "gravamos" conteúdos 
na memória, o que nos permite designar objetos, mesmo quando eles estão ausentes, 
a linguagem inaugura o mundo interno das ideias, possibilitando o processo de 
abstração e generalização. (Furtado, 2001) 
Segundo Bock & Gonçalves (2005): 
De acordo com a concepção Sócio Histórica, a subjetividade é constituída em 
relação dialética com a objetividadee tem caráter histórico. Isso quer dizer que é na 
materialidade social que se encontra a gênese das experiências humanas que se 
convertem em aspectos psicológicos; quer dizer ainda que as experiências individuais 
e subjetivas são possíveis apenas a partir das relações sociais e do espaço da 
intersubjetividade, e que estes têm existência e determinação material e histórica; por 
 
34 
 
fim, quer dizer que a subjetividade não está predefinida em cada indivíduo nem se 
constitui de processos ou estruturas universais da humanidade . 
Ao contrário constitui-se nessas condições e que está sempre em processo, 
uma vez que decorre de situações concretas que incluem, necessariamente, as 
atividades objetivas e subjetivas do indivíduo. (p. 113-114). Quando se visa estudar a 
dimensão subjetiva da desigualdade social, se está fazendo referência aos aspectos 
da subjetividade que se constituem, para os sujeitos, quando a vivência social é de 
desigualdade de acesso aos bens materiais e culturais e quando as relações são 
hierarquizadas pelo poder ou possibilidades deste acesso. Um mundo tão desigual 
está possibilitando quais subjetividades? 
A dimensão subjetiva da desigualdade social: 
A noção de dimensão subjetiva permite trabalhar com os fenômenos sociais na 
mesma perspectiva apontada acima. 
Ou seja, é possível reconhecer nos fenômenos sociais a presença de sujeitos 
e subjetividades, constituídas dialeticamente na relação com a objetividade social. 
Quando falamos de subjetividade, estamos referindo-nos ao fato de que o 
processo de construção do mundo objetivo tem uma dimensão simbólica (...) uma 
configuração que nunca fica pronta do processo de transformação do mundo, no 
âmbito do sujeito. (...). No entanto, esses registros [simbólicos], além de estarem no 
campo da subjetividade do sujeito, também estão no campo coletivo, pois se objetivam 
como leis, valores, regras, significados, ideologias, teorias, ciência e discursos. Assim, 
toda a realidade social tem uma dimensão subjetiva. (Bock e Gonçalves, 2005, p 121). 
 Psicologia Social tem desenvolvido investigações e têm elaborado 
conceituações que caminham na direção de apontar aquilo que, na Psicologia Sócio 
Histórica, se reconhece como aspectos da dimensão subjetiva de fenômenos sociais. 
Nessa direção, Sawaia (2002), por meio da discussão da dialética exclusão-inclusão 
e do sofrimento ético-político contribui diretamente para a compreensão dos aspectos 
subjetivos da desigualdade social. 
Para Sawaia (2002), "a sociedade exclui para incluir" e este fato é decorrente 
da desigualdade social, uma vez que todos estão incluídos em algum "lugar", mesmo 
que seja inadequado do ponto de vista ético e econômico. 
De acordo com Sawaia (2002), para a psicologia, a concepção dialética 
exclusão/inclusão não está relacionada à adaptação, à normatização e à 
 
35 
 
culpabilização individual e sim a mecanismos psicológicos de coação. Por ser um 
processo dialético complexo, a exclusão "só existe em relação à inclusão como parte 
constitutiva dela." (p. 09). 
Ao se estudar a desigualdade social e a "exclusão" decorrente dela, é preciso 
levar em conta os aspectos afetivos daquele que é "excluído", pois segundo Sawaia 
(2002) é preciso: 
Superar a concepção de que a preocupação do pobre é unicamente a 
sobrevivência e que não tem justificativa trabalhar a emoção quando se passa fome. 
Epistemologicamente, significa colocar no centro das reflexões sobre exclusão, 
a ideia de humanidade e como temática o sujeito e a maneira como se relaciona com 
o social (família, trabalho, lazer e sociedade), de forma que ao falar de exclusão, fala-
se de desejo, temporalidade e de afetividade, ao mesmo tempo que de poder, de 
economia e de direitos sociais. (p. 98). 
Para Sawaia (2002), quando compreendemos que a exclusão implica em 
sofrimento, recuperamos o indivíduo que está perdido nas análises econômicas e 
políticas, pois, é ele quem sofre embora "esse sofrimento não tenha gênese nele, e 
sim em intersubjetividades delineadas socialmente", por isto a necessidade de se 
estudar a exclusão pelo viés da afetividade, e ao mesmo tempo, refletir sobre o 
cuidado que o Estado tem com seus cidadãos. (p. 99). 
Dessa forma, Sawaia indica, com sua reflexão, um caminho profícuo para que 
a Psicologia possa contribuir com a compreensão da desigualdade social. 
Também a discussão da articulação entre a subjetividade individual e a 
subjetividade social, desenvolvida por González-Rey (2004) traz elementos que 
permitem avançar nessa compreensão. Tomando-se as contribuições 
epistemológicas da Psicologia sócio histórica e, neste sentido, buscando construir a 
análise sem que se estabeleça uma dicotomia entre o sujeito /subjetividade e o mundo 
social, pode-se recorrer à noção de sentido desenvolvida por Gonzalez Rey (2004), 
que se apresenta como recurso para a compreensão da articulação indivíduo-
sociedade. 
A produção individual de sentido tem sua gênese no encontro singular de um 
sujeito com a experiência social concreta. Esse encontro se produz em várias 
dimensões: o sujeito vivencia e se representa em nível consciente vários elementos 
da experiência e associados a ela, sobre os quais nos pode falar, elementos que 
 
36 
 
podem ou não ser portadores de sentido. Por sua vez, o sujeito experimenta emoções 
que não consegue explicar e sobre as quais, às vezes, nem tem consciência. Ambos 
os níveis de expressão de sentido subjetivo de experiência integram em uma unidade 
indissolúvel a história do sujeito e o contexto social da experiência subjetivada, 
provocando formas diferentes de conduta, emoções e representações que 
acompanham a posição do sujeito diante da situação." (p.51) 
A categoria sentida nos possibilita pesquisar a experiência da desigualdade 
social, escapando do entendimento de que o que vamos receber no discurso seja uma 
resposta à situação ou um reflexo dela. Nesta pesquisa utilizamos o conceito de 
sentido subjetivo, tal como apresentado por Gonzalez-Rey (2004), considerando que 
é o conceito que nos permitirá a análise da dimensão subjetiva das vivências sociais 
da desigualdade, pois, o sentido subjetivo permite que consideremos os significados 
das experiências e as emoções que as acompanham. 
Nossa intenção é, a partir do acesso aos sentidos dos sujeitos, que só é 
possível, como coloca González Rey (2005), pelo esforço construtivo interpretativo do 
pesquisador, de um conjunto amplo de sujeitos, apresentar conceitos que sejam 
descritivos e compreensivos da experiência da desigualdade social. A desigualdade 
está tomada aqui, então, como um fenômeno social que caracteriza nossa vivência 
em sociedade e que possui uma dimensão, que aqui denominamos dimensão 
subjetiva e que se refere a um conjunto de experiências psicológicas do sujeito. 
O conjunto destas expressões de sentido nos permitirá indicar aspectos que 
compõem estas vivências: são significados, emoções, imagens, conceitos que se 
estruturam de modo a dar, à experiência, um significado pessoal e que no coletivo, 
compõe a dimensão subjetiva da desigualdade social. 
8 ENFRENTAMENTO DA EXCLUSÃO 
A superação da exclusão requer uma combinação de elementos que 
considerem a multidimensionalidade das privações, a presença de variáveis menos 
tangíveis e “a heterogeneidade que advém das interações e das combinações 
específicas entre os diversos vetores da destituição” (BRONZO, 2006, p. 1). 
Fleury (2005) constata que o enfrentamento da exclusão social só se dará em 
um novo formato de democracia, capaz de reconhecer os excluídos como cidadãos, 
 
37 
 
gerar espaços públicos de participação, controle social e acordos, além da 
implementação de políticas públicas de efetiva redistribuição de renda. Nas palavras 
de Ribeiro (2006, p. 63), “o clube da democracia continua aprisionado pela 
desigualdade social, que deriva de uma desigualdade econômica”. Tratar a inclusão

Outros materiais