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UMA REFLEXÃO ACERCA DO MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA

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1
 
UMA REFLEXÃO ACERCA DO MANIFESTO DOS PIONEIROS 
 DA EDUCAÇÃO NOVA 
 
Suzane da Rocha Vieira 
suzanne@vetorial.net 
 
 
 O presente texto pretende refletir a respeito do Manifesto dos Pioneiros da 
Educação Nova de 1932, contextualizando o período histórico em que o mesmo 
foi produzido, assim como apontando algumas das repercussões sociais e 
políticas provocadas pelo documento. 
 A escolha de discorrer a respeito do Manifesto dos Pioneiros ocorreu pelo 
reconhecimento da importância desse documento na compreensão, discussão e 
análise da História da Educação do Brasil. E, compartilhando das palavras de 
Xavier, entende-se que: 
 
O Manifesto pode ser visto como lugar de memória da educação 
republicana na medida em que opera a legitimação do grupo que o 
assinou e promove, em nível do discurso, a validação do projeto 
educacional que defende, apresentando-o como o mais adequado para 
a reconstrução do país segundo o ideal republicano. (2002, p. 3) 
 
O lançamento do Manifesto foi em março do ano de 1932, sendo resultado 
da IV Conferência Nacional de Educação1 no ano de 1931, com o tema geral "As 
grandes diretrizes da educação popular”. O Manifesto representou um marco na 
renovação educacional do Brasil, os pioneiros assumiram a missão de conduzir o 
Brasil à Modernidade pela via da Educação. 
O documento revela um importante momento da história política, social, 
cultural e educacional do Brasil. O Manifesto ressalta o movimento renovador 
 
1 Desde a década de 20 estavam sendo organizadas Conferências Nacionais de Educação, 
promovidas pela Associação Brasileira de Educação. 
 
 2
iniciado na década de 20. As transformações que agitavam o país eram fruto das 
contradições vividas pela sociedade brasileira onde tínhamos um país de 
analfabetos e estávamos iniciando um período de industrialização que exigia uma 
qualificação dos trabalhadores. Além disso, a presença de imigrantes bem 
instruídos gerou questionamentos a respeito dos sistema de educação e ensino 
brasileiro. 
Conforme lembra Lemme, “as poucas escolas públicas existentes nas 
cidades eram freqüentadas pelos filhos das famílias de classe média”(1984, p. 
258). Assim, as transformações econômicas, políticas e sociais que vinham 
ocorrendo no país desde o final do século XIX provocaram um movimento de 
modernização da educação. 
O Manifesto dos Pioneiros da Educação pode ser considerado um dos 
documentos mais importantes nesse processo de modernização da educação 
brasileira na medida em que define diretrizes de uma nova política educacional de 
ensino. 
O Manifesto contou com a assinatura dos seguintes intelectuais da época: 
Fernando de Azevedo, Afranio Peixoto, A. de Sampaio Doria, Anisio Spinola 
Teixeira, M. Bergstrom Lourenço Filho, Roquette Pinto, J. G. Frota Pessoa, Julio 
de Mesquita Filho, Raul Briquet, Mario Casassanta, C. Delgado de Carvalho, A. 
Ferreira de Almeida Jr., J. P. Fontenelle, Roldão Lopes de Barros, Noemy M. da 
Silveira, Hermes Lima, Attilio Vivacqua, Francisco Venancio Filho, Paulo 
Maranhão, Cecilia Meirelles, Edgar Sussekind de Mendonça, Armanda Alvaro 
Alberto, Garcia de Rezende, Nobrega da Cunha, Paschoal Lemme e Raul Gomes. 
Embora apresente 26 assinaturas, o Manifesto não foi resultado de uma 
construção coletiva, Fernando de Azevedo assumiu a autoria do documento que 
afirma ter feito em cinco dias2. Porém, Xavier chama atenção que existem indícios 
de que Azevedo utilizou na redação do Manifesto algumas idéias e sugestões de 
outros signatários conforme evidencia a passagem que segue: 
 
2 Em carta enviada a Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo diz ter escrito o Manifesto em cinco 
dias, apesar de ter levado um mês pensando no assunto. Atc 31.12.27, doc n º 6 – Carta de 
Fernando de Azevedo a Anísio Teixeira (São Paulo, 14/3/1932). Arquivo Anísio Teixeira, Série 
Correspondência, CPDOC/FGV. 
 3
 
julgamos provável que a autoria de Fernando de Azevedo tenha 
comportado uma possível incorporação de idéias e sugestões de outros 
signatários, especialmente de Anísio Teixeira, o que não invalida a 
autonomia de seu autor em aceitar e selecionar as referidas sugestões. 
(2002, p. 23) 
 
A produção do Manifesto na IV Conferência Nacional de Educação (CNE) 
foi resultado de uma solicitação do governo, o qual teve ativa participação durante 
a Conferência. 
 A IV Conferência Nacional de Educação conforme dito anteriormente foi 
organizada pela Associação Brasileira de Educação - ABE, fundada no Rio de 
Janeiro, em 1924. A ABE foi criada como uma organização nacional, seus 
fundadores pretendiam que em cada Estado Brasileiro fossem criados núcleos 
iguais à do Distrito Federal. 
 
A Associação Brasileira de Educação (ABE), onde se congregaram os 
educadores brasileiros mais eminentes e atuantes, desde sua fundação, 
em 1924, assumiu a liderança de todos esses movimentos de renovação 
da educação e do ensino no País, apoiando-se e promovendo a 
realização de palestras, debates, cursos e conferências, convocando 
para isso autoridades e especialistas, nacionais e estrangeiros. 
(LEMME, 1984, p. 261) 
 
A ABE foi consolidar-se enquanto entidade nacional a partir de 1927, 
quando promoveu a I Conferência Nacional de Educação. Conforme aponta 
Carvalho, 
 
 a ação local desses núcleos deveria ser integrada por Conferências 
Nacionais realizadas anualmente, de forma que o debate e a troca de 
informações pudessem constituir a Associação como órgão legitimo de 
opinião das classes cultas em matéria educacional. (2003, p. 39) 
 
 A IV Conferência Nacional de Educação foi presidida por Fernando de 
Magalhães e teve a ativa participação do Ministro da Educação e Saúde Pública, 
 4
Francisco Campos, o qual convocou pessoalmente as delegações estaduais para 
participarem da IV CNE tendo em vista sua importância. Esses fatos apontam para 
uma estreita relação entre o Estado e a ABE, conforme argumenta Xavier, 
 
a análise documental relativa à IV Conferência Nacional de Educação 
demonstra que, em 1931, as fronteiras entre a ABE e o Governo Federal 
eram de difícil demarcação. Observando a distribuição dos personagens 
que ocupavam cargos na ABE e em órgãos governamentais temos um 
primeiro indicador da proximidade existente entre a ABE e o governo 
Vargas . Assim, é que, enquanto Francisco Campos ocupava o cargo de 
Ministro da Educação e Saúde e Belissário Penna ocupava o cargo de 
Presidente da ABE ocorre, em 1931, a eleição do primeiro como sócio-
mantenedor da referida associação de educadores e, por seu turno, o 
presidente da mesma acumula, durante alguns meses, o cargo de 
ministro interino em substituição a Francisco Campos. (2002, p.18) 
 
Assim, verificava-se o status político alcançado pela ABE. A sessão 
inaugural da IV Conferência Nacional de Educação contou com a participação do 
Ministro Francisco Campos e do Presidente Getúlio Vargas. Ambos afirmavam a 
cooperação existente entre o governo e a Conferência no esforço de construção e 
organização do terreno educacional. 
 Entretanto, o governo não conseguiu o apoio necessário para legitimar sua 
política educacional, tendo em vista que as ações3 governamentais realizadas no 
campo educacional desde o início da Era Vargas causaram um certo conflito entre 
os leigos e católicos. 
 Desse modo, durante a IV Conferência Nacional de Educação destaca-se a 
atuação de Nóbrega da Cunha que foi o principal articulador da produção do 
Manifesto, mas que durante a conferência criou um impasse com relação à 
possibilidade da IV CNE definir as linhas fundamentais da política educacional do 
governo. Segundo Xavier, 
 
 
3 Meses antes da realização da IV CNE, o governo havia realizado a reforma do ensino superior, 
secundário e comercial; incluído no curso primário oensino religioso; e criado o Conselho Nacional 
de Educação. 
 5
a atuação de Nóbrega da Cunha funcionou como uma estratégia que 
visava garantir ao grupo de educadores afinados com a renovação 
educacional o monopólio da interlocução com o Governo, deslocando 
para aquele grupo em separado, a incumbência de dar resposta à 
solicitação que havia sido dirigida a todos os educadores reunidos na IV 
Conferência Nacional de Educação. (2002, p. 21) 
 
 Portanto, Nóbrega da Cunha encaminha à assembléia da IV CNE um 
requerimento solicitando a redação de um manifesto que servisse de base para o 
governo. O Presidente da Conferência Fernando Magalhães passa essa 
incumbência para Fernando Azevedo, “que deveria aceitá-la em nome do 
Governo, da imprensa e do povo” (Xavier, 2002, p. 21). 
 Nóbrega da Cunha ainda conseguiu que o Manifesto fosse divulgado dentro 
do prazo de dois meses, não esperando a V Conferência. Assim, a ABE serviu de 
suporte institucional para o lançamento do documento. Entretanto, cabe salientar 
que o Manifesto representa o posicionamento de um dos grupos pertencentes à 
Associação Nacional de Educação em oposição ao grupo católico que até então 
matinha o controle da Associação4. A publicação do documento definiu as 
posições e intenções de seus signatários no processo de modernização do país, 
sendo visto como uma bandeira revolucionária. 
 
Alguns Elementos Históricos 
 
 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova ocorre em um momento de 
redefinição do Estado provocado pela Revolução de 30, que dá inicio a segunda 
república com o Governo Vargas. 
 Desde a Proclamação da República, no ano de 1889, o Brasil não havia 
constituído uma política educacional eficaz. O regime federativo que veio com a 
 
4 No interior da ABE havia uma luta pela sua hegemonia, o ponto culminante desse conflito foi 
durante a IV CNE, pois até então a Associação era liderada pelo grupo conservador onde 
predominavam os católicos, mas com a divulgação do Manifesto o outro grupo o dos renovadores 
com um perfil liberal, ganhou destaque e inclusive a V CNE foi coordenada por eles. O Manifesto 
pode ser considerado os divisor de águas entre os liberais e os católicos que se posicionaram 
desfavoráveis ao documento fazendo duras criticas a ele. 
 6
República deu uma grande autonomia aos Estados, o que permitiu que estes 
tivessem um processo de institucionalização da escola primária muito particular, 
cada um com um ritmo em função das desigualdades de condições econômicas e 
culturais de cada região. Desse modo, 
 
o ritmo e a extensão do processo de escolarização instaurado foram 
marcados por uma concepção restrita de cidadania e pela exigüidade 
dos recursos materiais e humanos disponíveis para instituir a escola nos 
moldes então julgados necessários à formação do cidadão republicano. 
(Carvalho,2003, p. 143) 
 
Para compreendermos o processo político que levou a Revolução de 30, 
resumidamente irá se apontar alguns dos seus aspectos históricos. O Governo 
Republicano proclamado em 1889, teve a frente na sua transição o Marechal 
Floriano Peixoto. O período que segue, que vai de 1894 a 1930 foi marcado pelo 
governo de presidentes civis, ligados ao setor agrário. 
Em São Paulo e em Minas Gerais, as oligarquias estavam bem organizadas 
em torno de dois partidos políticos: o PRP (Partido Republicano Paulista) e o PRM 
(Partido Republicano Mineiro). Estes dois partidos controlavam as eleições, 
mantendo-se no poder de maneira alternada e contavam com o apoio da elite 
agrária do país. Como São Paulo era o maior produtor de café e Minas o maior 
produtor de leite. Daí a denominação "República do Café com Leite". 
A política “café com leite” era de cartas marcadas. A eleição dos 
representantes do povo e dos governantes era precedida de intensas consultas e 
negociações que selavam as alianças. O esquema era dominado pelos 
governadores de Minas Gerais e de São Paulo e, como no império, garantiu por 
quase quarenta anos a estabilidade e o imobilismo político. Saídos das elites 
mineiras e paulistas, os presidentes acabavam favorecendo sempre o setor 
agrícola, principalmente do café (paulista) e do leite (mineiro). A política do café-
com-leite sofreu duras críticas de empresários ligados à indústria, que estava em 
expansão neste período. 
 7
Se por um lado à política do café-com-leite privilegiou e favoreceu o 
crescimento da agricultura e da pecuária5, por outro, acabou provocando um 
abandono das outras regiões do país. As regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste 
ganharam pouca atenção destes políticos e tiveram seus problemas sociais 
agravados. Na década de 20, as greves operárias, as revoltas dos tenentes e as 
denúncias programados pela Semana de Arte Moderna de 1922 diziam com todas 
as letras que o país precisava mudar. 
Em 1930 ocorreriam eleições para presidência e, de acordo com a política 
do café-com-leite, era a vez de assumir um político mineiro do PRM. Porém, o 
Partido Republicano Paulista do presidente Washington Luís indicou um político 
paulista, Julio Prestes, a sucessão, rompendo com o café-com-leite. Descontente, 
o PRM junta-se com políticos da Paraíba e do Rio Grande do Sul formando a 
Aliança Liberal. A Aliança Liberal, uma frente de oposição, apresenta o gaúcho 
Getúlio Vargas candidato a presidência, tendo o paraibano João Pessoa como 
vice. 
 Entretanto, Júlio Prestes sai vencedor nas eleições de abril de 1930, 
deixando descontentes os políticos da Aliança Liberal, que alegam fraudes 
eleitorais. Em julho, João Pessoa é assassinado no Recife, por questões pessoais. 
A Aliança Liberal se une aos militares e inicia uma revolução (Revolução de 1930). 
A revolta explode no Rio Grande do Sul, Paraíba e Minas Gerais. Mas logo se 
alastra pelo país. O Presidente Washington Luis é deposto. O candidato eleito 
Júlio Prestes se refugia na Embaixada Inglesa. 
Assim, em novembro de 1930, Getúlio Vargas toma posse como chefe do 
governo provisório. A Revolução de 30 abre a participação política a setores da 
sociedade como a classe média, a burguesia industrial e, principalmente, a 
setores das oligarquias rurais que estavam fora do poder. Desse modo, terminou o 
monopólio do poder nacional pelos cafeicultores paulistas e iniciou a época do 
populismo. O Sudeste perdeu a hegemonia e o Brasil deu os primeiros passos 
rumo a um modelo de desenvolvimento industrial e urbano. 
Portanto, conforme aponta Ghiraldelli Junior, 
 
5 Principalmente na região sudeste houve um avanço no setor agrário. 
 8
 
a Revolução de 30 promoveu um rearranjo na sociedade política 
possibilitando o assento de setores sociais marginalizados do poder, 
durante a Primeira República, em diversos níveis da máquina 
governamental. De fato, a República Velha se caracterizou por uma 
paulatina modernização do país às custas da reorganização capitalista 
da cafeicultura. Industria, crescimento urbano, melhoria de transporte, 
proletarização etc. apareceram subjugados à política do café-com-leite, 
pela qual os fazendeiros de São Paulo se alternavam com os mineiros 
no comando do país, dirigindo os intelectuais da importação do café 
como se fossem os exclusivos interesses da nação. O regime instaurado 
em 1930, aos poucos, modificou e, em certo sentido, inverteu essa 
situação. (1994, p. 40) 
 
Nesse sentido, a partir de 30 Vargas redefiniu o quadro político e deu 
espaço para as manifestações dos setores sociais. No campo educacional, o 
governo Vargas esforçou-se em controlar as duas linhas6 de pensamento 
educacional que emergiram nos anos 20. As vanguardas da educação no Brasil 
vinham desde o final da década de 20 reunindo-se nas Conferências Nacionais de 
Educação, organizadas pela ABE. Assim, no ano de 1931 foi realizada a IV 
Conferência Nacional de Educação onde o governo se fez presentenas figuras do 
próprio Presidente Vargas e do Ministro da Educação e Saúde Francisco Campos. 
 Assim, a partir dessa Conferência se constrói o Manifesto dos Pioneiros da 
Educação Nova dedicado ao governo e a nação, no qual são apontados os 
caminhos que a educação deve tomar para o país chegar à modernidade. 
 
Aspectos do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova 
 
O Manifesto dos Pioneiros veio legitimar um grupo de intelectuais da 
educação que visavam salvar o país do seu atraso e levá-lo a modernização por 
meio da educação, sendo eles os agentes ou heróis dessa mudança. 
 
6 De um lado estava o grupo dos conservadores, reacionários e católicos e de outro lado 
encontravam-se os liberais. 
 9
O lançamento do manifesto causou um certo impacto na sociedade e ao 
lançar idéias novas estimulou o debate educacional que fundamentou algumas 
correntes de pensamento e anulou outras correntes. 
O texto do Manifesto foi produzido em um clima de insatisfação da 
intelectualidade brasileira que buscava apontar soluções para os impasses 
nacionais. O documento traz uma reflexão a respeito do período histórico vivido e 
segundo aponta Xavier, 
 
o enquadramento da memória operada no Manifesto se dá pela 
ordenação do tempo histórico estabelecendo uma hierarquia temporal na 
qual o passado é avaliado com base na idéia de ausência, o presente é 
interpretado como um hiato, uma transição – porque um momento de 
crise que evidencia a necessidade de intervenção das elites intelectuais 
– e, finalmente, o futuro, projetado com base no programa de renovação 
educacional, aponta para a construção do Brasil moderno. (2002, p. 39) 
 
 Assim a idéia que está presente em todo o texto é o contraste entre o 
passado (velho) e o futuro (novo). Como fica claro na seguinte passagem do 
Manifesto: “a educação nova não pode deixar de ser uma reação categórica, 
intencional e sistemática contra a velha estrutura do serviço educacional, artificial 
e verbalista, montada para uma concepção vencida”(1932). 
 O documento faz uma crítica às reformas educacionais anteriores que 
sempre são dissociadas das reformas econômicas, além de serem propostas 
fragmentárias e desarticuladas com a realidade. Os pioneiros apontam que o 
aparelho escolar brasileiro está em estado de inorganização, pela total falta de 
planos e iniciativas que solucionassem os problemas da educação. 
Um dos pontos de maior discussão apresentados no Manifesto diz respeito 
a laicidade do ensino. Esse aspecto representava um elemento fundamental, na 
medida em que colocava em prática os princípios democráticos de liberdade de 
pensamento e credo. E neutralizava a atuação da igreja católica que exercia 
influência no campo educacional. 
O Estado é visto com um fundamental papel no projeto do Manifesto, ele 
seria a instância superior capaz de dar a educação um caráter social, obrigatório 
 10
público. Assim, a educação sendo pública seria estendida a todos os indivíduos, 
ou seja, se implantaria a universalização da educação. E o Estado passaria a ter 
uma responsabilidade com a educação nacional. O Manifesto discute que 
 
a obrigatoriedade que, por falta de escolas, ainda não passou do papel, 
nem em relação ao primário, e se deve estender progressivamente até a 
idade conciliável com o trabalho produtor, isto é, até aos 18, é mais 
necessária ainda “na sociedade moderna em que industrialismo e o 
desejo de exploração humana sacrificam e violentam a criança e o 
jovem”, cuja educação é freqüentemente impedida ou mutilada pela 
ignorância dos pais ou responsáveis e pelas contingências econômicas 
(1932). 
 
Dessa maneira, afirma a importância e a necessidade da obrigatoriedade 
do ensino e a sua gratuidade, que está imbricada na obrigatoriedade, pois o 
“Estado não pode tornar o ensino obrigatório sem torná-lo público” (Manifesto, 
1932). Além disso, há o entendimento que a gratuidade e obrigatoriedade fazem 
parte do principio igualitário7 da educação. 
Outro aspecto presente no Manifesto diz respeito a co-educação, na qual a 
escola seria unificada8, ou seja não haveria separação dos alunos por sexo, 
classe ou outra característica, salvo os alunos com problemas psicológicos. Com a 
co-educação todos os alunos estariam em pé de igualdade, sendo envolvidos no 
processo educacional. 
As idéias contidas no Manifesto foram influenciadas pelas idéias da Escola 
Nova de Dewey, ficando clara essa influência em vários trechos do documento, 
conforme no fragmento que segue: 
 
a educação nova que, certamente pragmática, se propõe ao fim de servir 
não aos interesses de classes, mas aos interesses do indivíduo, e que 
se funda sobre os princípios da escola com meio social, tem o seu ideal 
condicionado pela vida social atual, mas profundamente humano, de 
solidariedade, de serviço social e cooperação.(1932) 
 
7 O principio igualitário seria que todos o cidadãos tivessem acesso a educação. 
8 A escola unificada pressupõe multiplicidade. 
 11
 
A nova política educacional proposta no Manifesto tinha bases científicas. 
Os pioneiros enxergavam a ciência como a chave para o progresso da 
humanidade. Defendiam a defesa de mentalidade da população através da 
transformação das instituições de ensino com a introdução de critérios científicos. 
Assim, a “educação é encarada como um instrumento e a Ciência como um elo 
unificador. Desse binômio, extraía-se o perfil do educador, a estrutura da 
instituição escolar, a identidade do grupo pioneiro, enfim, a própria identidade da 
nação”. ( Xavier, 2002, p. 59) 
Dessa maneira, conforme argumenta Xavier, resumidamente a proposta 
dos pioneiros apresentada no Manifesto seria: 
 
um conjunto de medidas práticas pelas quais se pretendia fundar um 
novo sistema educacional – único, de base científica e sob a 
responsabilidade do Estado. O plano de reconstrução educacional previa 
ainda a laicização do ensino e a co-educação, introduzindo, dessa 
forma, valores realmente inéditos na estrutura educacional da época. 
(2002. p.48) 
 
 Nesse sentido, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova traz uma 
visão moderna de educação. A Educação Nova proposta pelos pioneiros vem 
pautada em princípios de ética nas relações sociais, com valores de autonomia, 
respeito à diversidade, igualdade, liberdade e solidariedade. De fato, sua proposta 
educacional causou grandes repercussões na sociedade, sendo lembradas ainda 
hoje. 
 O Manifesto dos Pioneiros além de ser divulgado em março de 1932 pela 
imprensa diária não especializada, foi publicado pela Companhia Editora Nacional, 
em junho do mesmo ano em São Paulo. A publicação foi precedida de uma 
introdução de Fernando de Azevedo e seguida de algumas apreciações críticas de 
vários comentaristas e de um esboço de um programa educacional extraído do 
Manifesto contendo dez itens. (LEMME, 1984) 
 
 
 12
Considerações Finais 
 
 O Manifesto representa um grande momento na História da Educação do 
nosso país. É expressão de um grupo de intelectuais preocupados com a 
modernização do Brasil, alinhados no debate político, econômico e social do país 
e engajados na luta pela implantação da escola pública, laica e gratuita. Não se 
pode esquecer que o documento defende explicitamente a necessidade da 
Educação ser entendida como um problema prioritário e de responsabilidade do 
Estado. 
 Não podemos esquecer que a IV Conferência Nacional de Educação levou 
a ruptura entre católicos e liberais na tentativa de influenciar as diretrizes 
governamentais. As idéias defendidas no Manifesto pelo grupo liberal da 
Associação Brasileira de Educadores foram suficientes para gerar “raiva” dos 
católicos. Segundo eles, as idéias9 contidas no Manifesto retiravam a educação 
das mãos da família e destruía assim os princípios de liberdade do ensino, além 
de criar um AbsolutismoPedagógico. 
 Sendo o Manifesto um marco da história da educação suas idéias 
influenciaram a postura de muitos educadores e de alguns governantes. Alguns 
intelectuais da educação defendem a atualidade do manifesto e ressaltam que as 
idéias contidas no documento são ainda hoje lembradas nas discussões a respeito 
da escola pública obrigatória, da laicidade da educação e da responsabilidade do 
Estado com a educação nacional. 
 Entretanto, mesmo reconhecendo a importância do documento não é 
possível deixar de fazer algumas considerações mais críticas com relação ao 
conteúdo do Manifesto. 
A proposta educacional almejada pelos pioneiros estava pautada no 
pragmatismo da escola nova e trouxe a escola como espaço de mudança social, 
que busca formar um sujeito perfeito, moldado para ser o cidadão republicano. 
Assim, objetivando a construção de uma sociedade nova e progressista. 
 
9 As idéias da escola pública obrigatória, gratuita e laica eram combatidas pelos católicos. 
 13
Este progresso viria segundo os pioneiros na medida em que o campo 
político desse forma aos princípios solicitados pelo regime Republicano. O meio 
mais rápido de fazer isto, era pela defesa da escola pública e da pedagogia 
escolanovista. 
 
Porém, se analisarmos mais a fundo as idéias defendidas pelos pioneiros, 
perceberemos que as mudanças impostas pela República e a defesa de uma nova 
filosofia da educação estavam sendo pensadas pelas idéias liberais. Foi a partir da 
universalização das idéias liberais e sua aceitação no país, pelos Intelectuais-
Educadores, o que os leva à defesa de que a educação precisa ser mudada para 
atender às novas necessidades. 
 
Nesse horizonte, a defesa dos Pioneiros sobre o direito natural à 
educação como efetivação da igualdade (eqüidade social) entre os 
homens não nega, de um lado, a liberdade e o individualismo que marca 
a lógica liberal e, de outro, acredita estar superando, na universalização 
da educação, as diferenças de classe no desenvolvimento humano, 
embora não as negue como lógica natural da sociedade voltada para a 
indústria e para o mercado. Laicidade, gratuidade, obrigatoriedade de 
educação e a não diferença na aprendizagem entre os sexos são 
expressões já traduzidas pela filosofia clássica burguesa que tem, no 
direito natural e na liberdade, o seu eixo central. A filosofia dos “liberais” 
ficou expressa no Manifesto dos Pioneiros.(Mazzuco e Tullio, 2003, p.4) 
 
Portanto, não se pode fazer uma leitura ingênua do Manifesto, dando aos 
seus autores o papel de heróis da educação nacional. A defesa da educação feita 
pelos pioneiros visava à superação da organização social da época, por meio da 
incorporação dos valores liberais. Para isso, pregavam a eliminação do ensino 
religioso nas escolas para poderem reforçar, por intermédio do ideário liberal, a 
difusão da idéia de amor à pátria, a valorização do indivíduo como homem voltado 
para as coisas públicas e para o nacionalismo altruísta. Além disso, a eqüidade 
social defendida pelos pioneiros não tinha a intenção de superar a sociedade de 
classes, mas era ideologicamente, o resultado do esforço e da solidariedade de 
todos na organização da riqueza nacional. 
 
 
 
 14
Referências: 
 
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da Educação. 2ed. São Paulo: 
Moderna, 1996. 
 
AKKARI. A. J. Desigualdades educativas estruturais no Brasil: entre Estado, 
privatização e descentralização. In: Educação & Sociedade, ano XXII, nº 74, 
Abril/2001. 
 
AZEVEDO, Fernando et al. O manifesto dos pioneiros da educação nova. São 
Paulo: Nacional, 1932. 
 
CARVALHO, Marta Maria Chagas. A Escola e a República e outros Ensaios. 
Bragança Paulista: EDUSF, 2003. 
 
GUIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. 
 
LEMME, Paschoal. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e suas 
repercussões na realidade educacional brasileira. In: Revista Brasileira de 
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