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Disciplina: Físico-química aplicada à farmácia Aula 4: Termodinâmica – Parte II Apresentação Nesta aula, veremos como a entalpia varia com a temperatura, pois, para as mudanças de estado isobárica, nas quais a temperatura é constante, o sistema muda o valor de sua entalpia por meio da variação de sua temperatura. O reconhecimento da existência de duas classes de processos, os espontâneos e os não espontâneos nos fará deduzir a Segunda Lei da Termodinâmica e, consequentemente, a Desigualdade de Clausius, que é válida para qualquer processo reversível ou não, que evolua sobre qualquer caminho fechado na remoção de vínculos internos. Por �m, veremos que, quando um sistema se aproxima da temperatura do zero absoluto (zero Kelvin), todos os processos cessam, e a entropia tem um valor mínimo, o que está descrito na Terceira Lei da termodinâmica. Essa lei fornece um ponto de referência para a determinação do valor da entropia. Objetivo De�nir a variação da entalpia com a temperatura; Explicar a dedução da Desigualdade de Clausius; Descrever a Segunda e a Terceira lei da Termodinâmica. Variação da entalpia de reação com a temperatura Antes de mais nada, precisamos lembrar que, em muitos casos, devemos conhecer a Variação de Entalpia fora da temperatura padrão de 25ºC, como, por exemplo, para o cálculo de reações metabólicas que ocorrem no corpo humano a 36,5º. Para isso podemos começar analisando o �uxo ilustrado a seguir, que representa um processo cíclico: Fonte: Projeto rumo ao ITA. É possível observar que, por ser um ciclo, a soma dos calores trocados é zero. Logo: 𝑄 + ∆𝐻 + 𝑄 − ∆𝐻 = 0 ∴ ∆𝐻 =∆𝐻 − 𝑄 − 𝑄 Da calorimetria sabemos que: 1 2 2 1 2 1 2 1 Quando o processo ocorre à pressão constante: Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online javascript:void(0); Com isso: 𝑄 = 𝑛 . .(𝑇 − 𝑇 ) 𝑄 = 𝑛 . .(𝑇 − 𝑇 ) ∴ ∆𝐻 =∆𝐻 + (𝑇 − 𝑇 ) (𝑛 . − 𝑛 . ) Sendo ∆(𝑛. )= 𝑛 . − 𝑛 . Obtemos a Lei de Kirchhoff: ∆𝐻 = ∆𝐻 + ∆𝑛. . 𝑇 − 𝑇 O grá�co da entalpia dos produtos e dos reagentes, em função da temperatura, pode ser visto a seguir: 1 𝑅𝐸𝐴𝐺𝐸𝑁𝑇𝐸𝑆 C̄̄̄ 𝑝, 𝑅𝐸𝐴𝐺𝐸𝑁𝑇𝐸𝑆 2 1 2 𝑃𝑅𝑂𝐷𝑈𝑇𝑂𝑆 C̄̄̄ 𝑝, 𝑃𝑅𝑂𝐷𝑈𝑇𝑂𝑆 1 2 2 1 2 1 𝑃𝑅𝑂𝐷𝑈𝑇𝑂𝑆 C̄̄̄ 𝑝, 𝑃𝑅𝑂𝐷𝑈𝑇𝑂𝑆 𝑅𝐸𝐴𝐺𝐸𝑁𝑇𝐸𝑆 C̄̄̄ 𝑝, 𝑅𝐸𝐴𝐺𝐸𝑁𝑇𝐸𝑆 C̄̄̄ 𝑝 𝑃𝑅𝑂𝐷𝑈𝑇𝑂𝑆 C̄̄̄ 𝑝, 𝑃𝑅𝑂𝐷𝑈𝑇𝑂𝑆 𝑅𝐸𝐴𝐺𝐸𝑁𝑇𝐸𝑆 C̄̄̄ 𝑝, 𝑅𝐸𝐴𝐺𝐸𝑁𝑇𝐸𝑆 2 1 C̄̄̄ 𝑝 2 1 Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Fonte: Projeto rumo ao ITA. A análise desses grá�cos nos mostra que, tanto a entalpia quanto a capacidade calorí�ca variam diretamente com a temperatura, tanto nos produtos quanto nos reagentes. Na demonstração anterior da Lei de Kirchhof, consideramos que a capacidade calorí�ca molar é constante com a temperatura, o que pode não ser correto. Caso a variação da capacidade calorí�ca molar varie com a temperatura, teríamos: ∆𝐻 = ∆𝐻 +∫ ) ∆ (𝑛. ) 𝑑𝑇2 1 𝑇1 𝑇2 C̄̄̄ 𝑝 javascript:void(0); Desigualdade de Clausius Antes de falarmos sobre a Segunda Lei da Termodinâmica devemos mostrar a desigualdade de Clausius para introduzirmos o conceito de entropia. A �gura a seguir representa um sistema que está executando um ciclo, trocando quantidades de calor Q1 e Q2 com dois reservatórios, que se encontram nas temperaturas T1 e T2, e está realizando (ou recebendo) um trabalho W. Pela Primeira Lei temos que: 𝑄 + 𝑄 = 𝑊1 2 Agora, passaremos a analisar a próxima �gura, em que são introduzidas duas máquinas de Carnot operando (como motor ou refrigerador) entre um reservatório auxiliar de temperatura T0 e cada um dos outros dois reservatórios, realizando (ou recebendo) trabalhos W1 e W2 e recebendo (ou fornecendo) quantidades de calor Q1,0 e Q2,0 do (ou ao) reservatório auxiliar. As duas máquinas são ajustadas de forma que, em cada ciclo, liberem (ou absorvam) exatamente a quantidade de calor fornecida (ou recebida) ao (ou do) sistema pelos dois reservatórios de temperaturas T e T , de forma que, ao �nal de cada ciclo, terão retornado à sua situação inicial. Observe que T e T são as temperaturas das fontes e que se o sistema ganha ou perde Q1, a máquina de Carnot correspondente perde ou ganha -Q . O mesmo acontecendo para a outra, com Q . No �m de cada ciclo, temos que: 1 2 1 2 1 2 No sistema 𝑄 + 𝑄 = 𝑊1 2 Nas máquinas 𝑄 + (- 𝑄 ) = 𝑊 e 𝑄 +(−𝑄 ) = 𝑊1,0 1 1 2,0 2 2 Somando as 3 equações, temos: 𝑄 + 𝑄 = 𝑊 + 𝑊 + 𝑊1,0 2,0 1 2 Atenção Se 𝑄 + 𝑄 for uma quantidade positiva, teremos obtido um processo cujo único resultado terá sido a extração de calor de um reservatório (fonte quente de temperatura constante T0) e sua transformação em uma quantidade equivalente de trabalho. Isso contraria o enunciado de Kelvin da Primeira Lei. 1,0 2,0 Logo, é possível concluir que: 𝑄 + 𝑄 é menor ou igual a zero. Sabemos que para as máquinas de Carnot: 𝑄 = T . (𝑄 / T ) e 𝑄 = T . (𝑄 / T ) Substituindo (𝑄 / T ) + (𝑄 / T ) é menor ou igual a zero. No caso de n reservatórios trocando calor com o sistema, teríamos: No limite em que n tende a in�nito e trocam-se 𝑑𝑄 com cada reservatório: 1,0 2,0 1,0 0 1 1 2,0 0 2 2 1 1 2 2 ≤ 0∑ni = 1 Qi Ti ∮ ≤ 0dQ T Essa é a desigualdade de Clausius. A partir da compreensão da desigualdade de Clausius conheceremos os seguintes conceitos: Clique nos botões para ver as informações. Para que o ciclo seja reversível, ou seja, possa ser percorrido em sentido inverso, em cada ponto, o reservatório que troca 𝑑𝑄 tem de estar na mesma temperatura do sistema. Assim, na Desigualdade de Clausius, 𝑇 passa a ser a temperatura do sistema. Revertendo-se o percurso, em cada ponto 𝑑𝑄 tem-se o mesmo valor de antes, mas com sinal contrário. Onde o sistema recebia calor, agora fornece e vice-versa. Dessa forma, a integral apenas troca de sinal. Como ambas não podem ser menores que zero, conclui-se que no caso de um ciclo reversível: Assim, é possível a�rmar que: a soma, por todos os processos isotérmicos de um ciclo de Carnot, da razão entre o calor trocado no processo e a temperatura do processo é nula. Ciclo reversível ∮ = 0 dQ T Clausius imaginou que um ciclo reversível pudesse ser dividido em duas partes: Uma trajetória reversível 𝑅 entre dois estados de equilíbrio 𝑖 e 𝑓, seguida por outra trajetória reversível 𝑅 levando o sistema do estado f de volta ao estado i. Esse ciclo pode ser representado como: Consequentemente Pela propriedade da integral de: Temos que: Analisando essa última igualdade, podemos concluir que: A integral entre 𝒊 e 𝒇 por uma trajetória reversível só depende dos estados inicial 𝒊 e �nal 𝒇. Divisão do ciclo reversível 1 2 = + = 0∮ R dq T ∫ i f R1 dq T ∫ f i R2 dq T = − = 0∫ i f R1 dq T ∫ f i R2 dq T − g(x)dx = g(x)dx :∫ i f ∫ f i = ∫ i f R1 dq T ∫ i f R2 dq T Consequentemente, podemos de�nir uma função de estado S, chamada de Entropia, tal que: A entropia de um sistema é uma função de estado cuja variação entre o estado inicial e o estado �nal é igual a por qualquer processo reversível. Dessa forma, é possível enunciar o seguinte princípio: “A entropia do universo é constante para processos reversíveis e sempre aumenta para processos irreversíveis.” Esse princípio pode ser representado da seguinte forma: ∆𝑆 ≥ 0 Entropia − = Sf Si ∫i f R dq T ∫ f i dq T 𝑢𝑛𝑖𝑣𝑒𝑟𝑠𝑜 Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Agora que já estudamos a desigualdade de Clausius e o conceito de entropia, podemos seguir adiante com a Segunda Lei da Termodinâmica. Vamos lá! Segunda Lei da Termodinâmica A Segunda Lei da Termodinâmica ou Segundo Princípio da Termodinâmica expressa que: A quantidade de entropia de qualquer sistema isolado termodinamicamente tende a incrementar-se com o tempo, até alcançar um valor máximo. Essa lei está relacionada ao conceito de entropia ecompleta a Primeira Lei da Termodinâmica, que se fundamenta no princípio da conservação de energia, fornecendo um sentido para o qual determinado processo é espontâneo. Exemplo Para exempli�car, vamos imaginar que dois gases diferentes tenham sido colocados em um mesmo recipiente que está isolado do resto do universo por paredes adiabáticas. Realizando os cálculos para a mistura gasosa, é possível observar que a entropia da mistura dos gases é maior do que a entropia quando os dois estão separados em partes diferentes do recipiente. Portanto, a Segunda Lei da Termodinâmica nos permite prever que os gases irão se misturar. A mistura dos gases é um processo irreversível e, depois de misturados, eles não se separam espontaneamente. Outro exemplo é a quebra de um copo de vidro, o que é um processo irreversível, já que os pedaços de vidro não se colam espontaneamente para formar o copo novamente. A seguir, conheceremos outro conceito importante: a entropia máxima. Entropia máxima Como todos os processos naturais são irreversíveis, a Segunda Lei da Termodinâmica sugere que o universo tende a um estado no qual a sua entropia é a máxima possível. Segundo Clausius, a Entropia é uma medida física da desordem (desorganização) de um sistema, sendo representada pela letra S. Veja alguns processos onde há aumento de entropia: a) Quando há um aumento no número de moléculas gasosas presentes em um sistema, aumenta-se a entropia, porque o grau de desordem irá aumentar. É possível veri�car isso na �gura abaixo que mostra o estado sólido extremamente organizado, o estado líquido com uma ordem de curto alcance e o estado gasoso completamente desordenado. Fonte: Adaptado de Manual da química. b) Outro exemplo, poderia ser: 2 Al O (s) → 4 Al(s) + 3 O (g) onde há a formação de um gás a partir de um sólido Ou 2 NO (g) → 2 NO(g) +1O2(g) onde o número de mols de gás presentes nos reagentes é maior do que no produto. 2 3 2 2 javascript:void(0); Reagentes = 2 mols Produto = 3 mols c) O processo de dissolução, porque íons e moléculas em solução têm maior entropia. Exemplo: NaCl(s) + aq. → Na+(aq) + Cl-(aq) d) Quando uma molécula é decomposta há aumento de entropia. Exemplo: 2H O (l) → 2H O(l) + O (g). e)Quando há aumento de temperatura, a entropia também é maior. É importante entender que a Segunda Lei da Termodinâmica a�rma que nenhum processo natural ocorre a não ser que seja acompanhado por um aumento na entropia do universo, mas a Segunda Lei não diz que uma certa reação em que a entropia do sistema diminui não irá ocorrer. Ela só a�rma que essa reação não vai ocorrer espontaneamente. Todos os processos que ocorrem dentro dos organismos vivos são processos irreversíveis, o que implica que ocorra uma liberação de calor para o ambiente. A temperatura dos organismos não diminui com essa perda de calor, para que a temperatura deles se iguale à temperatura ambiente. É que sempre ocorre a entrada de energia nos corpos por meio dos alimentos, de tal forma que a temperatura dos organismos vivos não se altera. 2 2 2 2 Atividade 1. Considere o seguinte grá�co: De acordo com o grá�co acima, indique a opção que completa, respectivamente, as lacunas da frase a seguir: “A variação da entalpia, > ΔH, é ........; a reação é .......... porque se processa ............... calor.” a) positiva, exotérmica, liberando b) positiva, endotérmica, absorvendo c) negativa, endotérmica, absorvendo d) negativa, exotérmica, liberando e) negativa, exotérmica, absorvendo 2. (Brasil escola) Qual será o calor absorvido na reação a seguir quando a quantidade de carbono for igual a 36g? SnO (g) + 2 C(gra�te) → Sn(s) + 2 CO(g) > ΔH = 360kJ2 a) 360 kJ. b) 480 kJ c) 540 kJ d) 720 kJ e) 1080 kJ 3. (Brasil escola) Das alternativas abaixo, qual representa a mudança de estado físico que ocorre em consequência do aumento da entropia do sistema? a) CO (g) → CO (s)2 2 b) CO (l) → CO (g)2 2 c) CH OH(l) → CH OH(s)3 3 d) CH OH(g) → CH OH(l)3 3 e) H O(g) → H O(l)2 2 4. (Brasil escola) Assinale a alternativa que está INCORRETA no que concerne à entropia: a) A entropia de gases é geralmente maior do que a dos líquidos e a entropia de líquidos é geralmente maior do que a dos sólidos. b) A entropia normalmente aumenta quando um líquido puro ou sólido dissolve em um solvente. c) A entropia aumenta quando um gás dissolvido escapa de uma solução. d) A entropia do universo está aumentando continuamente. e) A entropia de um processo complexo é a soma das entalpias simples desse processo. Notas Referências ATKINS, P., PAULA, J., SMITH, D. Físico-química: fundamentos. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. LEVINE, Ira. Físico-química. Rio de Janeiro: LTC, 2012. Próxima aula Cálculo da entropia das reações; Espontaneidade dos processos a partir do cálculo da Energia Livre de Gibbs. Explore mais Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
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