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Ética Global - Apostila 3 - Ética e o meio ambiente

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ÉTICA GLOBAL 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Leonardo Nunes Camargo 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
As mudanças tecnocientíficas influenciaram e modificaram nossa forma 
de ver e perceber o mundo após o século XX. Uma das consequências dessa 
revolução tecnológica teve impacto negativo sobre o meio ambiente. Sem 
dúvida, o ser humano é responsável pelo aceleramento das mudanças 
climáticas, à medida que apenas interesses econômicos são colocados em 
prática quando se pensa na natureza. Precisamos de uma ética do meio 
ambiente para superar essa visão de domínio e poder, para que possamos 
garantir nossa sobrevivência e a dos demais seres vivos. 
O objetivo desta aula é o de discutir a relação entre a ética e o meio 
ambiente. Para isso, precisamos superar nossas visões antropocêntricas, isto 
é, aquelas que só pensam no bem-estar do ser humano e não levam em 
consideração a vida de outros seres vivos. Nesse sentido, parece ser urgente 
pensar uma ética que altere a relação do homem com o meio ambiente. 
Precisamos criar meios sustentáveis que considerem a existência de toda e 
qualquer forma de vida, a fim de podermos deixar algo digno para as próximas 
gerações. 
TEMA 1 – POR QUE PRECISAMOS DE UMA ÉTICA PARA O MEIO 
AMBIENTE? 
A fim de entendermos a crise ambiental que enfrentamos, é necessário 
refletir a respeito de possíveis influências advindas de outros períodos e 
analisar alguns conceitos e aspectos que modificaram nossa percepção sobre 
a natureza ao longo dos últimos séculos. Um dos modelos de pensamento 
decorrente da modernidade, o cartesiano mecanicista, foi responsável por uma 
série de avanços científicos e tecnológicos que modificaram nossa existência a 
partir do século XVII. Desde esse período, houve diversas transformações, 
tanto temporalmente como espacialmente no planeta, todas apoiadas na ideia 
de progresso. 
No entanto, juntamente com a utópica ideia de emancipação da 
humanidade por meio da tecnologia e da ciência, a vida passou a ser 
considerada um ente que pode ser quantificado, mecanizado, medido, 
mensurado, calculado, objetificado e coisificado. Impreterivelmente, a natureza 
 
 
3 
também passou a ser vista como um ente à disposição para ser manipulado e 
explorado. 
A partir da década de 1970, houve um aumento significativo de 
mercadorias da indústria de consumo que também afetou diretamente a vida 
das pessoas. A forma como o planeta passou a consumir, principalmente nas 
últimas décadas, alterou a relação homem-natureza. Esta última, 
consequentemente, tornou-se ainda mais vulnerável e ameaçada, pois como 
veremos a seguir o que importa hoje é apenas o lucro. Quanto mais a natureza 
é vista e entendida como uma fonte de riquezas que devemos explorar, mais 
precisamos pensar em uma ética ambiental. Assim, tornou-se tarefa da filosofia 
considerar o meio ambiente em suas reflexões. 
Para que consigamos recuperar o valor em si da natureza como um ser 
de direitos, precisamos, primeiramente, superar tanto nossa visão mecanicista 
cartesiana como nossa concepção antropocêntrica. Nesta aula, atribuiremos a 
essas duas correntes a responsabilidade pela intensificação da crise ambiental 
que vivemos. Caso essa crise não seja atenuada e nossos hábitos alterados, 
as futuras gerações também sofrerão com os impactos. 
Fazendo um exercício histórico de como a natureza era vista e 
percebida desde o início da civilização, perceberemos que, para os primeiros 
seres humanos que habitavam a Terra, a natureza era concebida como algo 
infinitamente grande. Os recursos naturais disponíveis não tinham limites e o 
homem, mesmo com sua capacidade de criar ferramentas, não poderia jamais 
alterar a ordem natural das coisas. A ação humana sobre a natureza era 
insignificante perante sua grandeza. Portanto, nesse cenário, não havia 
necessidade de se pensar uma ética para o meio ambiente. 
Porém, com o desenvolvimento tecnológico e científico adquirido após o 
século XVII, a ação que o homem passou a exercer sobre a natureza deixou de 
ser neutra e começou a afetar diretamente a vida de todos os seres vivos. A fim 
de suprir suas necessidades, o ser humano passou a extrair da natureza não 
só recursos que garantissem sua sobrevivência, como os alimentos, mas 
começou a utilizá-los para suprir demandas das indústrias: extrair carvão para 
movimentar as primeiras máquinas e utilizar combustíveis fósseis. É nesse 
contexto de mudanças na esfera ambiental que a vida passou a ser ameaçada 
e percebeu-se a necessidade da ética. 
 
 
4 
O projeto baconiano (considera-se que ele não foi criado por Bacon), 
amparado na máxima “saber é poder”, de acordo com Hans Jonas, carrega 
consigo um “descontrole sobre si mesmo”, ou seja, há uma ameaça 
apocalíptica em seu interior, pois seu desejo utópico de melhorar o mundo e 
adquirir sempre mais conhecimento não protege a natureza e leva ao risco de 
extinção da vida. O poder técnico, ao tornar-se autônomo, transformou-se em 
ameaça e risco à civilização. Portanto, uma das principais causas da crise 
ambiental são os avanços tecnológicos sem controle e rigor ético. Obviamente, 
não se trata de excluir os avanços tecnológicos, e sim de limitá-los e refletir 
sobre alguns procedimentos eticamente. (Jonas, 2006, p. 236) 
Por meio desses elementos, apontamos a ideia de progresso, os 
avanços tecnológicos e científicos, o desejo de dominação e controle do 
homem. Faz-se necessário enxergar a crise ambiental como um problema 
ético. No entanto, para despertar a dimensão ética no ser humano em relação 
à natureza, este precisa, primeiramente, compreender que faz parte do meio 
ambiente e reconhecer que é um ser da natureza, capaz de provocar 
mudanças positivas e negativas, no sentido de que, por um lado, pode salvar 
espécies e, por outro, provocar o esgotamento de recursos naturais e a 
degradação de ecossistemas inteiros. Sob uma perspectiva natural, o homem é 
um ser assim como qualquer outra espécie, que mantém uma inter-relação e 
uma interdependência com os recursos naturais. Essas duas características 
são essenciais para a manutenção e a preservação da vida. 
TEMA 2 – PRESSUPOSTOS CONCEITUAIS DE UMA ÉTICA DO MEIO 
AMBIENTE 
Neste tema, queremos analisar dois tipos de ética voltados ao meio 
ambiente: a superficial e a profunda. 
Uma ética ambiental superficial tem como principal ideia que devemos 
preservar o meio ambiente em favor dos interesses humanos, ou seja, é um 
tipo de ética totalmente antropocêntrica. Nesse tipo de ética, a natureza não é 
o elemento principal a ser considerado, ela é entendida apenas do ponto de 
vista instrumental, deve apenas fornecer suprimentos aos interesses do 
homem. Não existe preocupação quanto aos impactos que uma produção pode 
causar. Há o emprego de certas técnicas a fim de minimizar as consequências 
 
 
5 
que os impactos de um tipo de produção podem provocar, desde que não 
diminua os lucros e a produção. 
Neste tipo de ética, a preocupação não reside em preservar o valor da 
natureza. O meio ambiente não passa de um produto, uma mercadoria à 
disposição do homem para o seu consumo. Os que defendem esse tipo de 
ética não consideram uma mudança na forma de produção e exploração da 
natureza. Não se prevê, portanto, uma mudança de postura e de atitude. 
A outra forma de se pensar a ética ambiental é a do tipo profunda. 
Esse tipo de ética reconhece que a natureza tem valores intrínsecos. 
Todos os seres vivos, humanos ou não, possuem um valor absoluto em si. 
Podemos encontrar na literatura vários tipos de ética que tem como foco 
de preocupação a vida de todos os seres vivos. Uma dessas formas de ética 
ambiental profunda que destacamos é o biocentrismo, corrente de pensamento 
segundo o qual todas as formas de vida têm valor em si mesmas e tudo o que 
faz parte da vida e se envolve com elas também possui. Nessa perspectiva, a 
própria morte também tem um valor,pois faz parte do processo natural da vida. 
Nesse sentido, a corrente do biocentrismo afirma que devemos proteger a 
natureza porque ela possui valores em si e não porque é bom, desejável e 
conveniente para o homem. Segundo Kässmayer (2008, p. 140), “dado à 
naturalidade um valor em si, a natureza é passível de valoração própria, 
independente de interesses econômicos, estéticos ou científicos”. 
Destacamos a seguir quatro premissas básicas nas quais o biocentrismo 
se fundamenta. 
• Todos os seres vivos, humanos ou não, pertencem à mesma 
comunidade terrestre, isto é, partilham do mesmo princípio: a vida. 
• Todos os organismos vivos vivem de forma integrada e são 
interdependentes, de forma que, para que cada ser vivo sobreviva na 
natureza, além da sua capacidade física e dos nutrientes disponíveis no 
meio ambiente, é essencial a capacidade de relacionar-se com outras 
espécies. 
• Todos os organismos vivos são seres que têm um fim em si mesmos. 
• Não existe uma espécie superior em relação às outras, pois todas 
pertencem a uma comunidade e possuem valor e importância para a 
natureza. 
 
 
6 
Assim como a revolução copernicana retirou o homem do centro do 
universo, o biocentrismo procura reafirmar a ideia que o homem é apenas um 
ser vivo que faz parte da natureza, é apenas uma parte que a integra. A fim de 
combater o antropocentrismo, precisamos de uma ética ambiental que seja 
capaz de resgatar a sacralidade da natureza, devolvendo sua dignidade 
retraída pela modernidade e colocando o homem como um ser que participa do 
meio ambiente. Para que o ser humano viva em um ambiente saudável e com 
uma boa qualidade de vida, é preciso criar um ambiente harmonioso e 
equilibrado, e a preservação do meio ambiente é um dos caminhos para 
alcançar esse objetivo. 
Para se chegar a um equilíbrio no meio ambiente, é necessário entender 
que a natureza tem certas tensões e contradições. Feito isso, poderemos 
contemplar a vida como um sistema inter-relacionado e interconectado. Para 
ampliar nossa discussão sobre como entender o meio ambiente como um 
sistema inter-relacionado, precisamos analisar o conceito de ecologia, pois “a 
ética como sensibilidade não é apenas uma disciplina, ela é o coração de todas 
as disciplinas; em ecologia e na vida fica evidente que a visão de 
interdependência (teia) é crucial. É preciso despertar para ver.” (Pelizzoli, 2013, 
p. 32, grifo do original). 
O termo ecologia foi utilizado pela primeira vez por Ernst Haeckel1, em 
1866. De acordo com Leonardo Boff: 
Ecologia é relação, inter-ação e dialogação de todas as coisas 
existentes (viventes ou não) entre si e com tudo o que existe, real ou 
potencial. A ecologia não tem a ver apenas com a natureza (ecologia 
natural), mas principalmente com a sociedade e a cultura (ecologia 
humana, social etc.). Numa visão ecológica, tudo o que existe 
coexiste. Tudo o que coexiste preexiste. E tudo o que coexiste e 
preexiste subsiste através de uma teia infinita de relações 
omnicompreensivas. Nada existe fora da relação. (Boff, 1993, p. 15, 
grifo nosso). 
A partir disso, vemos que a ecologia é a interdependência e a interação 
que todos os seres vivos têm com o ambiente natural. Assim, a 
interdependência torna-se um elemento indispensável para uma ética 
ambiental na qual todos os seres vivos devem ser levados em conta. O termo 
ecologia relaciona-se com éthos, palavra de origem grega que significa habitar 
 
1 Ernest Haeckel foi um biólogo, médico e zoólogo alemão. Nasceu em 1834, na cidade de 
Potsdam, e morreu em 1919. Foi um teórico do darwinismo, elaborou novas noções acerca da 
evolução e da descendência humana e é um dos grandes expoentes do cientificismo 
positivista. Publicou diversas obras, entre elas. Os enigmas do universo (1876). 
 
 
7 
ou morada e remete a um equilíbrio da vida no ambiente. Pelizzoli utiliza o 
termo homeostase para referir-se ao equilíbrio e à harmonia que se deve ter 
com o meio ambiente. Segundo o autor, “homeostase é um termo biológico 
para falar de sistemas naturais, ecossistemas, em dinâmica de equilíbrio. 
Homeostase é estar em harmonia (cosmos) dentro de um sistema, dentro de 
um habitat.” (Pelizzoli, 2013, p. 33, grifos do original). Portanto, a ética 
ambiental deve ser holística e interconectada. 
TEMA 3 – O QUE É ECOLOGIA PROFUNDA? 
O discurso sobre sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente se 
tornou comum atualmente, principalmente em ambientes empresariais que 
passaram a utilizar esses mecanismos a fim de prospectar mais clientes e dar 
legitimidade aos negócios, que nem sempre são sustentáveis. No entanto, a 
preocupação dessas empresas não consiste em primeiramente mudar os 
modelos paradigmáticos existentes que degradam a natureza, trata-se apenas 
de um discurso vazio que deve atender a lógica do mercado. 
Desse modo, podemos dizer que uma das críticas que teóricos da 
ecologia profunda explicitam é a noção de progresso ilimitado e o 
desenvolvimento político e econômico por meio da ciência e da tecnologia 
(indústria). A ecologia profunda como novo paradigma emergente da sociedade 
propõe que a vida seja entendida com base em uma visão integradora, 
portanto, holística. Essa nova visão de mundo acredita na possibilidade de 
religação do homem e da natureza. Capra propõe que o mundo deve ser visto 
numa perspectiva sistêmica. 
A concepção sistêmica vê o mundo em termos de relações e de 
integração. Os sistemas são totalidades integradas, cujas 
propriedades não podem ser reduzidas às de unidades menores. Em 
vez de se concentrar nos elementos ou substâncias básicas, a 
abordagem sistêmica enfatiza princípios básicos de organização. Os 
exemplos de sistemas são abundantes na natureza. Todo e qualquer 
organismo – desde a menor bactéria até os seres humanos, 
passando pela imensa variedade de plantas e animais – é uma 
totalidade integrada e, portanto, um sistema vivo. (Capra, 2007, p. 
260) 
 Os seres humanos nesse novo ambiente precisam ser entendidos como 
seres vivos que fazem parte de uma grande comunidade ou rede. Tanto que 
até os problemas ambientais que enfrentamos também não podem ser vistos 
de maneira isolada, e sim integrados em sua totalidade. 
 
 
8 
 De acordo com o pensamento da ecologia profunda, os seres vivos, 
incluindo os seres humanos, formam uma rede de fenômenos que vivem 
interligados e são interdependentes. Cada ser vivo tem um valor intrínseco em 
si e é parte de um fio de relações na teia da vida. Nesse sentido, podemos 
dizer que a ecologia profunda quebra o paradigma antropocêntrico, sugerindo 
uma nova concepção, a do biocentrismo. 
 Fugindo de uma concepção materialista e mecanicista, a ecologia 
profunda entende a natureza como um ser que possui recursos limitados, ou 
seja, contrariando o pensamento antigo, nossas reservas um dia acabarão. 
Desse modo, precisamos mudar nossas atitudes e pensar em modelos 
sustentáveis, pois a sobrevivência de qualquer parte depende do bem-estar do 
todo. 
 De acordo com Leonardo Boff, “somos um momento no imenso 
processo de interação universal”, ou seja, todos os seres vivos possuem laços 
que os unem desde as estruturas orgânicas mais simples até os seres vivos 
mais complexos. Quando o ser humano for capaz de se perceber como um 
elemento dentro de um grande sistema planetário e cósmico, seremos capazes 
de admirar e contemplar as maravilhas da natureza. (Boff, 1995, p. 29) 
 A partir disso, o autor brasileiro propõe uma religação do universo com o 
ser humano, uma mudança de paradigma que leve em consideração o todo, e 
não somente as partes. “Assim, cada célula constitui parte de um órgão de 
cada órgão, parte do corpo, assim cada ser vivo é parte de um ecossistema 
como este é parte do sistema global-Terra” (Boff, 1995, p. 39). 
 Assim como o nosso corpo, toda a existência humana necessita manter 
relações. Como disse Hans Jonas: somos seresque necessitamos manter 
relações, sejam elas sociais ou ambientais, a fim de manter nossa 
sobrevivência. Portanto, nossa posição deve ser ética na medida em que 
baseado nela possamos traçar novos “imperativos para que o homem possa 
realizar-se na sua humanidade. A ecologia e a ética encontram-se diante de 
um mesmo e gigantesco desafio: o que fazer para possibilitar a continuidade da 
vida no planeta?” (Campos, 2008, p. 39). 
TEMA 4 – ÉTICA AMBIENTAL E RESPONSABILIDADE 
É possível afirmar que a ética é a capacidade de assumirmos nossa 
responsabilidade infinita por tudo que vive, existe e existirá. Portanto, nos 
 
 
9 
tornamos éticos à medida que somos responsáveis pelo outro, pela vida do 
diferente e pela manutenção desta. 
Não podemos deixar de mencionar a obra de Hans Jonas, intitulada O 
princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica, 
publicada em 1979. De acordo com Jelson Oliveira, tal obra tem como desafio 
enfrentar um dos problemas contemporâneos que mais assolam a sociedade: a 
questão ambiental. De acordo com Hans Jonas, tanto a vida como a natureza 
se tornaram objeto da racionalidade instrumental tecnológica e científica nas 
mãos dos seres humanos. 
Se analisarmos a história do ser humano desde as primeiras 
civilizações, a natureza nunca havia sido causa de debate ético nos assuntos 
humanos. Hoje, mais do que nunca, é necessário refletir sobre o papel que o 
meio ambiente representa para a manutenção da vida como um todo, tanto 
para as gerações do presente como para as do futuro. 
Desde as civilizações da Grécia Antiga, a natureza era vista como um 
ser capaz de cuidar de si mesma, isto é, perante sua grandiosidade e força as 
ações humanas não provocavam nenhuma mudança significativa em sua 
condição. Por mais elaboradas e sofisticadas técnicas de manuseio que o 
homem realizava com a natureza, esta ainda permanecia soberana, intocável e 
inviolável. No entanto, essa visão sobre a natureza começa a mudar a partir do 
momento que os avanços tecnológicos e científicos alteram nossa maneira de 
se relacionar com o meio ambiente, ou seja, se antes para os povos antigos 
havia certo respeito e se creditava uma dignidade à natureza, a partir dos 
séculos XVI e XVII, a natureza passa a ser entendida, principalmente após a 
máxima de Francis Bacon “saber é poder”, como um objeto que devemos 
explorar e dominar. 
Com base disso, podemos dizer que a técnica moderna adquiriu um 
poder autônomo de modo que suas ações não encontram nenhum empecilho 
do ponto de vista ético. Portanto, não há impedimentos para a tecnologia ousar 
explorar a natureza. O que vemos, principalmente no final do século XX, é um 
aceleramento da destruição ambiental e uma diminuição significativa de 
recursos naturais provocados pela ausência de responsabilidade em relação à 
natureza. 
O Papa Francisco, em sua encíclica Laudato Si, destaca a urgência de 
mudança no comportamento ético para que a destruição da natureza não se 
 
 
10 
torne uma ameaça à sua própria existência, “os progressos científicos mais 
extraordinários, as invenções técnicas mais assombrosas, o desenvolvimento 
ecológico mais prodigioso, se não estiverem unidos a um progresso social e 
moral, voltam-se necessariamente contra o homem” (Papa Francisco, 2015, p. 
10). 
É notório que os progressos tecnológicos e científicos ainda são 
essenciais para o desenvolvimento do homem como espécie, mas o problema 
(ético e ambiental) surge quando acreditamos que a própria tecnologia pode 
enfrentar problemas sistêmicos e globalizantes, como a questão ambiental, e 
resolvê-los. No entanto, o que podemos notar é que as respostas tecnológicas 
são fracas e parciais em relação às soluções urgentes e complexas que a 
sociedade precisar dar em relação à degradação ambiental. Segundo o Papa 
Francisco, “deveria ser um olhar diferente, um pensamento, uma política, um 
programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham 
resistência ao avanço do paradigma tecnocrático” (Papa Francisco, 2015, p. 
71). 
Nesse sentido, é urgente aliarmos as propostas de Francisco com a 
responsabilidade, contudo, não aquela do tipo que se espera algo em troca, ou 
seja, baseada em uma reciprocidade, mas uma que coloque a vida acima de 
todos os interesses e desejos, uma ética da responsabilidade pautada no 
respeito e na prudência. Ora, se a vida por si só é teimosa, pois vive em 
constante luta contra a negação (a morte), questiona e procura sempre se 
afirmar; precisamos agora repensá-la, assim como Jonas propõe, num plano 
ontológico, ou seja, se partimos da premissa que o ser é melhor e mais 
desejável que o nada, então porque não preferir a vida (o ser) antes de negá-la 
– o não ser. A partir disso, se na perspectiva jonasiana, a vida é recolocada 
num âmbito metafísico; a natureza, no contexto contemporâneo, como ser vivo 
(gaia) que é também precisa recuperar sua dignidade e seu valor, como foi 
outrora na Antiguidade. 
TEMA 5 – CAPITALISMO E SUA INFLUÊNCIA NA CRISE AMBIENTAL 
Além do mau uso que fazemos da tecnologia, existe outro fator tão 
responsável pela crise ambiental que se alastrou pelo planeta: o capitalismo. 
Os interesses econômicos e o lucro são colocados acima de todos os 
problemas que vivemos. Desse modo, se quisermos analisar as influências do 
 
 
11 
capitalismo na crise ambiental, devemos, impreterivelmente, considerar a 
tecnologia como corresponsável. 
Na sociedade capitalista atual tornou-se praticamente impossível pensar 
e desenvolver certas atividades humanas sem o uso do capital, tornamo-nos 
dependentes do dinheiro. Resta saber se o dinheiro é uma necessidade que a 
espécie humana precisa para sobreviver e evoluir ou se trata de uma 
necessidade perigosa. 
Quando aliamos o capital e as demandas das indústrias com a natureza 
e a necessidade de matéria-prima, vemos uma discrepância de velocidade, isto 
é, enquanto que as indústrias crescem em ritmo acelerado e surpreendente 
(principalmente no final do século XX), a natureza se regenera em ciclos e 
demoram anos para se restabelecer. A partir disso, o que temos é uma 
exploração e destruição acelerada do meio ambiente. 
Umas das características que impulsionam o capitalismo é o consumo. 
Em vez de ele atender as necessidades básicas do ser humano, como 
alimentação, vestuário, medicamentos, segurança, o capitalismo vincula a ideia 
de que o ser humano é mais feliz quando está consumindo. Desse modo, o que 
podemos observar é que uma pequena parcela da população consome 
recursos naturais e bens produzidos muito além do que temos disponível em 
relação ao meio ambiente. 
Algumas cúpulas e conferências que aconteceram sobre o meio 
ambiente desde Estocolmo, em 1972, passando pela ECO 92, Agenda 21, 
entre outras têm como propósito promover formas alternativas que levem em 
consideração o consumo sustentável. Mas para isso é necessário o 
comprometimento e a responsabilidade de empresas e dos consumidores 
visando dar condições básicas que sustentem as próximas gerações. Em 
outras palavras, é necessário mudar os padrões de produção e consumo. 
Diante dessas breves considerações acerca do capital, podemos afirmar 
que ele se tornou perigoso para a saúde do planeta, pois a lucratividade 
almejada pelo sistema capitalista não leva em consideração a possibilidade de 
desenvolvimento sustentável. O capitalismo, à medida que pensa apenas no 
lucro, coloca em risco a vida de todo o planeta e ameaça não apenas a 
extinção da espécie humana, mas de todas as formas de vida. A cada 
momento que esperamos para agir a vida é mais ameaçada, se não mudarmos 
nossos hábitos e frearmos nossos impulsos tecnológicos que destroem e 
 
 
12 
aceleram os desequilíbrios do planeta, tanto que desastres ambientais são 
cada vez mais frequentes, corremos o risco de não deixar um planeta saudável 
para as próximas gerações. Nesse sentido,podemos afirmar que os problemas 
ambientais que enfrentamos talvez sejam os únicos que comprometem todas 
as nações, pois deles derivam a possibilidade de existência ou não da 
humanidade. 
NA PRÁTICA 
Para aprofundar os conhecimentos adquiridos nesta aula, sugerimos a 
leitura da obra: CAPRA, F. A teia da vida. Tradução de Newton Roberval 
Eichemberg. 16. ed. São Paulo: Cultrix, 2010. 
Depois de lido, elabore um artigo sobre a obra. Nele, procure discutir os 
principais pontos que sugerem uma mudança de paradigma. Lembre que em 
seu texto deve conter: a definição de ecologia profunda, quais os elementos 
que permitem pensar uma mudança de paradigma e procure mostrar a 
relevância do tema sobre o meio ambiente no cenário contemporâneo. 
FINALIZANDO 
 Ao longo desta aula, procuramos discutir e mostrar as relações entre a 
ética e o meio ambiente. Vimos que na contemporaneidade se faz necessário 
superarmos o antropocentrismo, ou seja, não podemos mais pensar a relação 
da natureza com o homem, levando em consideração apenas os interesses 
humanos. Precisamos mudar nossa visão de mundo, abandonar o paradigma 
mecanicista materialista e adotar uma concepção holística de mundo. Isso quer 
dizer que precisamos pensar nossos problemas, sejam eles sociais, 
econômicos, políticos, religiosos, ambientais etc., de maneira integrada e 
interdependente. Assim que implantarmos esse novo paradigma, poderemos 
criar ambientes sustentáveis que levem em consideração a vida de todos os 
seres vivos e que garantam sua sobrevivência nas próximas gerações. Os 
assuntos que discutimos ao longo dessa aula corroboram para quiçá promover 
um ambiente de respeito e saudável para com a natureza. 
 
 
 
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
BOFF, L. Ecologia, mundialização e espiritualidade. São Paulo: Ática, 1993. 
BOFF, L. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres. São Paulo: Ática, 1995. 
CAMPOS, P. C. O pressuposto da ética na preservação do meio ambiente. 
Breve história sobre origens e conceitos do movimento ambientalista. Revista 
Alceu, v. 8, n. 16, p. 19-51, jan./jun. 2008. Disponível em: 
<http://revistaalceu.com.puc-rio.br/media/alceu_n16_campos.pdf>. Acesso em: 
21 nov. 2019. 
CAPRA, F. A teia da vida. Tradução de Newton Roberval Eichemberg. 16. ed. 
São Paulo: Cultrix, 2010. 
_____. O ponto de mutação. 28 ed. São Paulo: Cultrix, 2007. 
FRANCISCO, Papa. Encíclica apostólica Laudato Si: sobre o cuidado da 
casa comum. São Paulo: Loyola/Paulus, 2015. 
HANS, J. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a 
civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto (PUC-Rio), 2006. 
KÄSSMAYER, K. Apontamentos sobre a ética ambiental como fundamento do 
direito ambiental. EOS: revista jurídica da faculdade de Direito. Faculdade Dom 
Bosco, Curitiba, v. 1, n. 4, p. 128-146, jul./dez. 2008. 
PELIZZOLI, M. L. Ética e meio ambiente: para uma sociedade sustentável. 
Petrópolis: Vozes, 2013.

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