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1 CESUFOZ - Direito Civil III - Obrigações Profª Angelica Tatiana Tonin Aula 09 – Obrigações Divisíveis e Indivisíveis Conceito – são compostas pela multiplicidade de sujeitos, ocorrendo um desdobramento de pessoas no pólo ativo ou passivo, ou mesmo em ambos, passando a existir tantas obrigações distintas quantas as pessoas dos devedores ou dos credores. A prestação é distribuída rateadamente, segundo a regra concursu partes fiunt (as partes se satisfazem pelo concurso, pela divisão), com exceção da indivisibilidade e da solidariedade. 1. Obrigação Divisível – a obrigação é divisível quando tem por objeto uma coisa ou um fato suscetível de divisão. 2. Obrigação Indivisível – art. 258 do CC – a obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa não suscetível de divisão, por sua natureza ou modo como foi considerado pelas partes contratantes. 1.1 Responsabilidade na obrigação Divisível - Existindo a multiplicidade de sujeitos, tanto no pólo ativo quanto no passivo, cada credor só pode exigir a sua quota e cada devedor só responde pela parte respectiva (art. 257 do CC). - As partes se satisfazem pelo concurso, pela divisão, com exceção da indivisibilidade e da solidariedade, nas quais, embora concorram com várias pessoas, cada credor tem direito de reclamar a prestação por inteiro e cada devedor responde também pelo todo. Pluralidade de devedores: Ex.: Havendo três pessoas devem a um credor, um objeto divisível, no caso R$ 150,00, cada devedor esta obrigado ao pagamento da sua quota parte, ou seja, R$ 50,00 cada um. Pluralidade de credores: Ex.: existindo uma obrigação divisível, com pluralidade de credores e um único devedor, este pagará a cada credor uma parcela do débito, equivalente à sua quota, igual para todos. Assim, a uma dívida comum de R$100,00 com dois credores, deverá o devedor pagar R$50,00 para cada. 2 - Nas obrigações onde não há pluralidade de sujeitos é irrelevante avaliar se o objeto é divisível e indivisível. 1.2 Modo Originário e Derivado: as obrigações divisíveis tem multiplicidade de sujeitos, desde a sua concepção (originário) ou de modo derivado (cessão ou herança). 1.3 Conseqüências: a) cada um dos credores só tem direito de exigir sua fração no crédito (art. 257 do CC); b) de igual forma, o devedor só esta obrigado a pagar sua quota no débito (art. 257 do CC); c) se o devedor solver integralmente a dívida a um só dos credores, não se desobrigará com relação as demais credores; d) o credor que recusar o recebimento de sua quota, por pretender solução integral, pode ser constituído em mora; e) e insolvência de um dos co-devedores não aumentará a quota dos demais; f) a suspensão da prescrição, especial a um dos devedores, não aproveita aos demais (art. 201 do CC); g) a interrupção da prescrição por um dos credores não beneficia os outros, de igual forma a prescrição interrompida contra um dos co-devedores não prejudica os demais (art. 204 do CC). 1.4 Divergência sobre a divisibilidade: diverge a doutrina se a divisibilidade ou indivisibilidade repousa na divisibilidade ou indivisibilidade da própria prestação ou na coisa, objeto da relação obrigacional. - Para os que afirmam que a divisibilidade e indivisibilidade é referente a prestação, ou seja, que a prestação é que determina se a obrigação e divisível ou não, e não a coisa ou fato, entendem: “que é licito afirmar que a obrigação é divisível, quando é possível ao devedor executa-la por partes; indivisível, no caso contrario”. - Todavia o entendimento majoritário, e também disciplinado no Código Civil, é o de que a divisibilidade e indivisibilidade da obrigação decorre de seu objeto. (art. 258 do CC). Assim, é divisível a obrigação de entregar 10.000 toneladas de soja, 500 sacas de café, pagar R$ 5.000,00 e indivisível a obrigação de entregar um animal, um automóvel, um quadro, pois não pode ser fracionado. 3 Coisa divisível – (art. 87 do CC) – pode ser fracionado sem alteração de sua substancia. Coisa indivisível – (art. 88 do CC) – o fracionamento do objeto retira sua essência. Ex.: Divisível – uma saca de arroz entre dois indivíduo. Indivisível – um relógio, se dividido, não marcará as horas. 2.1 Espécies de Indivisibilidade: - Indivisibilidade Absoluta: decorre da natureza do objeto da prestação. O objeto não pode ser fracionado sem prejuízo de sua substancia ou de seu valor. Ex: obrigação de entregar um documento, um veículo, um animal, uma escultura, etc. - indivisibilidade relativa ou imprópria - pode ocorrer de duas formas: 1. Indivisibilidade decorrente da lei, portanto, pode atingir bens originariamente divisíveis. O Estado em atenção ao interesse público ou social impede a divisão da coisa. Ex.: limitação para fração do lote urbano; 2. Indivisibilidade Subjetiva - decorrente da vontade das partes (expresso em testamento ou contrato). Neste caso a prestação é perfeitamente fracionável, sem prejuízo de sua substancia ou de seu valor, mas as partes, de comum acordo, afastam a possibilidade de cumprimento parcial. 2.2 A indivisibilidade em Relação às Várias Modalidades de Obrigações. A divisibilidade ou indivisibilidade das várias modalidades de obrigações depende da natureza do objeto (da prestação) por tratar-se de questão de fato. a) Obrigação de dar coisa certa – será divisível ou indivisível, de acordo com a natureza do objeto. Ex.: divisível - entrega de 100 pares de sapato a 02 credores (50 cada). Indivisível – Ex.: entrega de um quadro. b) Obrigação de dar coisa fungível - neste caso as obrigações são sempre divisíveis. Ex.: dinheiro, cereais, flores, etc.... Equipara-se a obrigação, onde o devedor tem que entregar uma quantidade certa de objetos da mesma espécie, igual à de credores ou devedores, ou submúltiplos desse 4 número. Ex.: obrigação de entregar 10 semoventes a 02 (duas) ou mais pessoas (em numero equivalente ao da obrigação). c) Obrigação de Restituir - em regra são indivisíveis, salvo expressa disposição em contrário. Ex.: o depositário que tem o direito de devolver o mesmo objeto ao depositante (locação, comodato). d) Obrigações de Fazer – poder divisível ou indivisível. Será divisível se as prestações forem determinadas por quantidade ou duração de trabalho. Ex.: escultor contratado para esculpir 10 estátuas; pintor contratado para pintar 20 telas para ser entregue a dois credores. - Podemos ter obrigações indivisíveis na origem mas que possam ser realizadas de forma divisível. Ex.: 02 devedores constroem cada um uma parte do muro. Indivisível – quando o objeto da obrigação é uma unidade, um trabalho completo, dotado de individualidade própria. Ex.: pintura de uma tela, feitio de um móvel. e) Obrigações Simultâneas (dar e fazer) – nestes casos, geralmente são indivisíveis. Ex.: entregar material de construção e fazer uma obra. f) Obrigações de fazer que envolvam promessa, a indivisibilidade ou não será aferida em função do direito a que a declaração se refere. Ex.: numa obrigação assumida por dois vendedores (devedores da ob. de fazer) consistente em emitir declaração de vontade, como a outorga da escritura definitiva para transferência do domínio, será divisível na medida que cada um deles puder utilmente transferir seu direito à metade do prédio. Será indivisível se os promitentes se tiverem obrigado a constituir uma servidão sobre o prédio, visto o cumprimento isolado de um deles não ter nenhum interesse útil para o promissário. g) Obrigações negativas (não fazer) – em geral são indivisíveis. 5 Ex.: obrigação de não edificação em determinado local (um ato). A não abstenção gera o inadimplemento. Divisíveis – quando o devedor se obriga a não praticar mais de um ato independente. O descumprimento de um gera o inadimplemento com relação à somente este ato.Ex.: não vender e não alugar o imóvel; não plantar e não colher. h) Obrigações Alternativas e Obrigações de Dar Coisa Incerta – são indivisíveis, pois até a escolha não se sabe exatamente qual a prestação devida de fato. O caráter indivisível ou divisível fica suspenso. Todavia, após a concentração, ou seja, a escolha de determinado objeto, a obrigação passa a ser de coisa certa e de acordo com o objeto escolhido (natureza) a obrigação será divisível ou indivisível. 3. EFEITOS DA DIVISIBILIDADE E INDIVISIBILIDADE DA PRESTAÇÃO 3.1 – OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS (art. 257 do CC) – esta obrigação será dividida conforme o número de devedores e credores. Onde, cada devedor só é responsável (deve) pela sua quota-parte. Cada credor tem direito (receberá) somente sua parte. Ex.: um devedor se obriga a entregar 100kg de arroz para dois credores, cada credor tem direito a receber 50kg. Em Geral: a prestação é distribuída (repartida) entre as partes, ou seja, tanto benefício e o ônus (ob. divisíveis). Credor – possui direito de sua quota parte. Devedor – responde por sua quota parte. Exceções: Indivisibilidade e solidariedade 3.2 – OBRIGAÇÕES INDIVISÍVEIS - a responsabilidade depende da pluralidade estar no pólo passivo ou ativo. 3.2.1 – Pluralidade de Devedores (art. 259 do CC) – havendo pluralidade de devedores (02 ou mais), frente à indivisibilidade da obrigação, pode credor exigir o cumprimento de cada um dos devedores, da parte ou da integralidade da dívida, ou interpelar todos os devedores, exigindo validamente o cumprimento. 6 - Cada um está obrigado a dívida toda, porque o objeto não pode ser dividido, sem perder sua essência (substância). Ex.: dois devedores tem obrigação de entregar um animal para um credor. Sub-rogação: (art. 259, parágrafo único do CC) – se o devedor paga a dívida, sub- rogasse no direito do credor em relação aos outros coobrigados, dispondo do direito de ação regressiva para cobrar quota parte de cada um. 3.2.2 Efeitos da Indivisibilidade: - cada devedor é obrigado pela dívida toda. Ex.: um herdeiro de 1/3 de um imóvel com servidão de passagem, não pode prestar somente 1/3 da divisão, onde recai a indivisibilidade e a solidariedade dos herdeiros. - perdas e danos (art. 263 do CC) – se a obrigação se resolver em perdas e danos a solidariedade e obrigatoriedade desaparece, pois a relação de obrigação divisível é de fato. - Sub-rogação (art. 259, parágrafo único do CC) – o que paga sub-rogasse no direito do credor em relação aos outros. Extingue-se o crédito com relação ao credor, não do devedor, pois este assume o lugar do credor satisfeito, para exigir dos outros à parte que lhe cabe. (hipótese de sub-rogação legal, disposto no art. 346, III do CC) - O obrigado que paga a dívida indivisível, não fica limitado a gozar de um direito de regresso conta os demais coobrigados. Equipara-se a um terceiro em relação à parte da prestação que excede a sua quota e que competia aos outros, pelo qual era também obrigado, por deve-la como qualquer outro por inteiro. - Numa demanda por obrigação indivisível, o devedor não pode exigir que o credor acione conjuntamente todos os co-devedores (escolha do credor), ocorre que o devedor que venha a solver sozinho o débito, sub-roga-se no direito creditório, podendo reaver dos consortes as quotas respectivas. - O devedor sub-rogado não pode exigir nada além da soma que tiver desembolsado para desobrigar os outros devedores, deduzindo a quota que lhe compete (art. 350 do CC). - Em pagamento parcial de dívida por um dos devedores, mediante acordo com o credor, não nega o direito do solvens de voltar-se contra os demais coobrigados, pela quantia que pagou, se superior a sua quota. 7 3.2.3 - Pluralidade de Credores – nas obrigações indivisíveis cada credor tem direito de reclamar a prestação por inteiro. 3.2.4 Responsabilidade (art. 260 do CC) – os devedores se desobrigarão pagando a todos os credores conjuntamente (art. 260, I do CC) ou a um credor, dando este caução de ratificação dos outros credores (art. 260, II do CC). - Nas obrigações indivisíveis o devedor pode ser compelido a cumprir a prestação por inteiro, pois o objeto da prestação é indivisível sob pena de alteração na sua substancia, perecimento ou perda do valor econômico. Ex.:Obrigação de entregar um cavalo. Pagamento – deve ser feito a todos os credores. (art. 260, I do CC), não obstante, pode nos termos do art. 260, II do CC, pagar a somente um dos credores, desde que autorizado pelos demais credores ou na falta de autorização, o credor dê caução de ratificação dos demais credores. Não havendo esta garantia, o devedor deve notifica-los para constituí-los em mora e depositar a coisa em juízo. Desoneração – somente restará desonerado da prestação se for entregue a todos os credores, ou àquele a quem lhe der caução da ratificação de outros titulares. O pagamento feito a um dos credores com caução de ratificação dos demais, possui uma garantia idônea à satisfação futura do direito de cada credor. Pagamento a um dos credores – (art. 261 do CC) se somente um dos credores receber o objeto (ex.: cavalo), cada um dos demais poderá exigir desse credor a parte que lhe caiba do total. - O credor que recebe a dívida toda, recebe além de sua quota-parte, caracterizando um enriquecimento sem causa, salvo se existir estipulação em contrário. Ex.: se recebeu uma prestação por inteiro, deve aos demais credores a quota parte correspondente. Demais Credores – ainda possuem o direito de exigir do devedor (que pagou a um dos credores sem autorização dos demais) a execução da obrigação por inteiro, pois o pagamento não pode ser fracionado. Art. 291 do CPC – disciplina que independente do credor ter participado da ação, terá direito a sua quota-parte, deduzindo as despesas em relação ao seu crédito. 8 3.3.1 REMISSÃO (art. 262 do CC) – na hipótese de um dos credores remir a divida (perdoar o devedor), não ocorrerá à extinção da obrigação com relação aos demais credores. - Mas a parte correspondente ao credor que remiu, deve ser oportunamente descontada, pois os credores não poderão exigir o objeto da prestação se não pagarem aos devedores a vantagem obtida por eles, relativo a quota-parte do credor que remiu. Ex.: o objeto da obrigação é a entrega de um quadro a 03 credores, um deles remite a dívida, os outros dois credores, exigem o pagamento, o qual somente será realizado mediante a entrega pelo devedor, do quadro devido. Neste caso se o quadro vale R$1.500,00, o valor da quota do credor remitente é R$500,00, podendo os outros dois credores exigir a entrega da prestação, somente se pagarem ao devedor o correspondente a quota remida (vedação do locupletamento sem causa ou indevido). Impossibilidade da dedução in natura – como é impossível na obrigação indivisível, a dedução in natura da remissão dada por um dos credores, deduz-se pelo equivalente a fração do crédito remitente. Desnecessidade de deduzir a quota remida – quando os credores não obtiverem vantagem efetiva com a remissão dada pelo outro credor, não há que se falar em desconto, pois não obtiveram lucro. Ex.: João deve uma servidão de vista para José e Maria, co-proprietários de um imóvel, Maria faz remissão da dívida, José pode exigir a prestação, sem precisar descontar nada da parte remida, pois não teve qualquer proveito com a remissão. O resultado não se alterou, pois João continuará a dever servidão de vista para José. Ex.: João deve uma servidão de passagem a José e este vindo a falecer, deixa 03 herdeiros,a remissão dada por um dos herdeiros, não lhe desautoriza do direito dos demais, os quais podem exigir a obrigação de forma integral sem nada deduzir. Determinado o parágrafo único do art. 262 do CC que o mesmo critério observa-se nos casos de transação, novação, compensaçãoe confusão, ou seja, não ocorre a extinção da obrigação com relação aos demais credores. 9 Transação – a divida e extinta através de uma composição entre as partes (concessões mutuas). Novação – extingue-se a obrigação anterior, através da criação de uma nova obrigação (substituição da divida por outra). Compensação – extingue-se a obrigação, em virtude das partes serem ao mesmo tempo credores e devedores reciprocamente. Confusão – extingue-se a obrigação, por reunirem-se na mesma pessoa a qualidade de devedor e credor (ex.: herdeiro que deve ao pai). 3.3.2 PERDA DA INDIVISIBILIDADE (art. 263 do CC) – a indivisibilidade da prestação decorre da natureza do objeto, portanto, pode ser cessada sua indivisibilidade cessando a causa que lhe dá a essência. Substituída por coisa suscetível de divisão, em conseqüência da inexecução se transformar em perdas e danos, novação ou escolha entre coisa divisível e indivisível. Perdas e danos – a obrigação que se resolve em perdas e danos, passa a ser representada por importâncias em dinheiro, que são divisíveis. Agindo com culpa, o devedor, no lugar do objeto, entrega o equivalente em dinheiro mais perdas e danos (art. 234 do CC). Culpa de todos os devedores (art. 263, §1º do CC) – tornado-se impossível à obrigação por culpa de todos os devedores, respondem estes por partes iguais (pro rata) Culpa de um devedor (art. 263, §1º do CC) – tornando-se impossível à obrigação por culpa de um dos devedores, somente a este compete o pagamento das perdas e danos, todavia, ficam os demais devedores obrigados ao pagamento de sua quota parte. Bibliografias Consultadas: Silvio Rodrigues. Direito Civil: parte Geral das Obrigações, Vol. 2. Maria H. Diniz. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral das Obrigações. Vol. 2 Carlos Roberto Gonçalves. Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral das Obrigações. Vol.II
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