Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
(Extraído de PINTO JR., H.Q., BICALHO, R., ALMEIDA, E., IOOTTY, M., BOMTEMPO, J.V., Economia da Energia: fundamentos econômicos, evolução histórica e organização industrial, Editora Elsevier Campus, Rio de Janeiro, 2016) Modelo de Cournot e Cartel O oligopólio constitui a estrutura de mercado prevalecente na prática, sendo caracterizada, principalmente, pela interdependência entre as firmas existentes. Para a Economia Industrial, as estruturas de mercado representam um dos principais focos de análise. As estruturas de mercado oligopolista são de particular interesse, pois permitem uma análise mais precisa do comportamento estratégico das firmas presenetes numa determindada indústria. Uma das situações mais abordadas, de forma teórica e empírica, é o estudo da formação de cartel. A indústria de petróleo se presta como importante campo de aplicação de ensinamentos teóricos oriundos da análise de cartel. Diferentes tipos de abordagem podem ser encontrados na literatura de Economia Industrial (Kupfer e Hasenclever, 2002). Aqui destacamos, somente, o chamado modelo de Cournot. Em 1838 , Augustin Cournot apresentou o que viria a ser o primeiro modelo de oligopólio. O chamado modelo de Cournot retrata um duopólio no qual as firmas produzem uma mercadoria homogênea, conhecem a curva de demanda de mercado, e tomam, simultaneamente, suas decisões de quanto produzir, sendo que cada empresa assume como fixa a quantidade produzida pela outra. Para melhor compreender a essência do modelo de Cournot, considere a existência de duas empresas A e B, com custos marginais constantes c, que produzem produtos idênticos. Estas empresas determinam simultaneamente a quantidade a ser produzida ( , BAq q ), sendo que cada uma delas defronta-se com a curva de demanda ( ) (1)P Q W Q onde W >0. Deste modo, o preço a ser cobrado é aquele que iguala a demanda à oferta, constituída pela soma da produção das duas firmas, BAQ q q . Daí, o preço resultante do mercado seria ( )A BP W q q Para maximizar seus lucros, a firma A, digamos, iguala a sua receita marginal ao seu custo marginal. A receita total da firma A é dada por ( )A A A A B ART Pq Wq q q q , e, portanto, sua receita marginal é 2AA A B A RT RMg W q q q . Igualando a receita marginal ao custo marginal da firma A, obtém-se: 2 A BW q q c , o que pode ser expresso como: (2) 2 B A W q c q . Esta expressão denota assim que a quantidade que maximiza o lucro da firma A depende de quanto esta acredita que a firma B vá produzir. Admitindo que a firma B realiza o mesmo “raciocínio”, verifica-se que a estratégia de determinação de produção da firma B é expressa por uma expressão análoga a (1), sendo definida como: (3) 2 A B W q c q Assim, observa-se, pelas expressões (2) e (3), a interdependência entre as estratégias das duas empresas A e B; cada firma expressa sua estratégia de produção considerando como dada a estratégia da outra. Assim, as expressões (2) e (3) indicam a melhor estratégia de produção a ser adotada em funçao da firma rival. No equilíbrio de Cournot, cada empresa produz uma quantidade que maximiza seu lucro, considerando a quantidade produzida pela concorrente, de tal modo que nenhum dos dois duopolistas tenha incentivo a modificar seu nível de produção. Para encontrar esta solução de equilíbrio, basta resolver o sistema formado por (2) e (3), a partir do qual se encontra * * ( ) 3A B W c q q . Se estas são as quantidades de equilíbrio de cada firma, o preço de mercado seria * ( 2 ) 3 3 3 W c W c W c P W . A este nível de preço de mercado, o lucro de cada firma seria: 2 * * ( ) 9A B W c . Como comparar esta situação descrita pelo modelo de Cournot, em que duas firmas determinam simultaneamente a quantidade, com uma situação de cartel? Primeiramente, é preciso apresentar a definição de cartel; trata-se de uma situação na qual os agentes envolvidos decidem conjuntamente os níveis de preço e quantidade. Vale ressaltar que na prática um cartel quase sempre envolve apenas um subconjunto das firmas existentes, e não a totalidade das empresas em operação. Neste sentido, há de se considerar que mesmo um subconjunto de firmas pode constituir um cartel que seja bem sucedido (i.e, com preços acima dos níveis competitivos), desde que a quantidade produzida seja suficientemente grande e que a demanda de mercado seja suficientemente inelástica. Para finalmente comparar a situação de Cournot com o equilíbrio colusivo, deve-se considerar a situação na qual as duas firmas A e B resolvem deixar de competir por quantidade e passam a agir em conjunto para determinar a quantidade a ser produzida e o preço a ser cobrado. Neste caso, as firmas determinam a quantidade total produzida - BAQ q q - que maximiza o lucro total da indústria, e definem o preço a ser cobrado, em função da quantidade total produzida. Seguindo esta estratégia, e considerando a mesma curva de demanda expressa em (1) e o mesmo custo de produção, verifica-se o seguinte problema de maximização de lucro da indústria max ( , ) max ( ) max ( ) Q Q Q Q P P Q Q cQ W Q Q cQ Admitindo a diferenciabilidade (até a ordem 2) desta função lucro com relação ao argumento Q, a condição de primeira ordem a ser satisfeita para garantir a existência do equilíbrio colusivo é 0 Q . Assim, a quantidade total produzida que maximiza o lucro total da indústria é encontrada como: * 2 0 ( ) 2 W Q c Q W c Q Para esta quantidade, o preço de equilíbrio seria ( ) 2 W c P , e o lucro total da indústria seria 2( ) 4t W c . Se as duas firmas apresentam comportamento colusivo, elas dividiriam o mercado, produzindo cada uma * * ( ) 4A B W c q q , obtendo, cada uma, o seguinte lucro: 2 * * ( ) 8A B W c . Como esperado, observa-se que o lucro obtido por cada firma em cartel é superior ao lucro obtido no modelo de Cournot, o que indica que o comportamento colusivo apresenta vantagens em relação Cabe ressaltar, todavia, que a solução colusiva de produção (i.e * * ( ) 4A B W c q q ) pode não ser a melhor solução para uma firma individualmente. Observe que se, digamos, a firma A produz ( ) 4A W c q , afirma B pode não escolher produzir o mesmo. Pela expressão (3) – que indica a melhor estratégia em quantidade da firma B considerando a produção da firma A – a firma B poderia obter uma melhor estratégia como sendo 1 ( ) 3( - ) ( ) = = 2 2 4 8 A B A W q c W c W c q q W c Neste caso, a firma B, ao produzir mais do que o acordado, alcançaria lucros maiores. Assim, fica claro que há possibilidade de que não se respeite o acordo de cartel. Devem existir, portanto, fatores que garantam a manutenção dos acordos colusivos. Dois fatores são facilmente identificados: a capacidade de organização do cartel, incluindo aí a eficácia do sistema de monitoramento e a definição de penalidades, em caso de “traição”, estabelecidas entre as firmas integrantes; e a elasticidade da demanda, posto que diante de demandas muito elásticas, as firmas tendem a manter seus acordos. O contrário ocorre quando a demanda é inelástica, como é o caso do petróleo. Como se verá adiante, estas condições dificultam o funcionamento da OPEP em regime de cartel. Para maior discussão a respeito das condições que facilitam e dificultam a obtenção de acordos oligopolistas, ver Vives (1999) e Rocha (2002).
Compartilhar