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Teoria Macroeconômica II Professor: Leandro Gomes. Efeito Keynes e Pigou Na literatura pré-keynesiana, a rigidez de preços e salários era a principal, senão a única, causa de desemprego involuntário. A flexibilidade do salário nominal equilibraria o mercado de trabalho e promoveria o pleno emprego da força de trabalho. Efeito Keynes e Pigou Keynes questiona essa visão com o princípio da demanda efetiva. A partir da publicação, por John Hicks, em 1937, do artigo “Mister Keynes and the Classics”, contudo, essa visão retorna, em outro formato, ao debate macroeconômico. A presença de desemprego involuntário por períodos mais expressivos poderia ser causada apenas pela rigidez dos salários nominais. Dois efeitos explicam a retomada do ponto de pleno emprego: os Efeitos Keynes e Pigou. Relembrando o IS-LM O modelo consiste em dois mercados: o mercado monetário e o mercado de bens. Quando os dois mercados estão em equilíbrio, a economia está em equilíbrio. As Curvas LM e IS A curva LM expressa os pontos de equilíbrio do mercado monetário, ou seja, os pontos em que a demanda por moeda iguala a oferta real de moeda. A curva IS expressa os pontos de equilíbrio do mercado de bens (e serviços). Quando Y = DA, temos que I = S. Ou em outras palavras, temos o equilíbrio do mercado de bens. Efeito Keynes O Efeito Keynes consiste em uma sequência de alterações que fariam, na ausência de rigidez de salários nominais, a economia retornar ao produto de pleno potencial. Isto é, com salários flexíveis, o produto efetivo converge para o produto potencial. Efeito Keynes Como a economia está abaixo do pleno emprego, os salários nominais caem, o nível de preços cai, elevando a oferta real de moeda (e deslocando a LM). A elevação da oferta real de moeda reduz a taxa nominal de juros e a taxa real, o que eleva o investimento, a demanda agregada e o produto. Quando o produto regressar ao ponto de pleno emprego o EK cessa, ou seja, a queda dos salários monetários é interrompida. Portanto, é possível estabelecer uma relação negativa entre P e DA. Efeito Keynes - Questionamentos (i) Salários Nominais => Preços (Efeito Kalecki) Kalecki aponta que é possível que a redução dos salários monetários seja vista como um enfraquecimento dos trabalhadores no conflito distributivo e, portanto, não seja repassada aos preços. Isso aumentaria a participação dos lucros no produto. Como kalecki supõe que a propensão a consumir dos assalariados é maior do que a propensão dos capitalistas, a mudança distributiva reduz a propensão média a consumir e o multiplicador da economia. Efeito Keynes - Questionamentos (i) Salários Nominais => Preços (Efeito Kalecki) Caso os preços caiam menos que o salário monetário, os efeitos Keynes e Kalecki ocorrem simultaneamente e o resultado é indeterminado. Efeito Keynes - Questionamentos (ii) Queda do preço => expansão da oferta real de moeda A depender do funcionamento da Política Monetária (PM), a oferta nominal de moeda não é fixa, e sim a taxa de juros é exógena. Nesse caso, a queda do nível de preços não afetará a oferta real de moeda. Nesse caso, a curva DA não será negativamente inclinada e o seu formato vai depender do impacto da queda dos salários sobre a taxa real de juros. Efeito Keynes - Questionamentos (iii) Expansão da oferta real de moeda => Taxa de Juros A Armadilha da Liquidez ocorre quando a taxa de juros está tão baixa que há consenso no mercado que ela subirá no futuro. Nesse caso, a demanda por moeda tende a ser infinitamente elástica à taxa de juros vigente. Portanto, mesmo que a Autoridade Monetária não fixe a taxa de juros e sim a oferta de moeda, o terceiro passo do Efeito Keynes pode não ocorrer. Efeito Keynes - Questionamentos (iv) Taxa Nominal de Juros => Taxa de Juros Real 1 + r = (1+i) (1+π) Para taxas baixas podemos trabalhar com a aproximação: r = i – π. Também podemos trabalhar com a taxa real esperada (ou taxa ex-ante): re = i − πe Efeito Keynes - Questionamentos Para a tomada de decisão do investimento, o empresário projeta a rentabilidade e compara o custo do capital esperado. Já para os agentes endividados, o importante é a taxa real ex-post, pois é essa que define o custo efetivo do financiamento. Se ocorre uma queda do nível de preços, isto é, uma deflação, é possível que a taxa de juros real suba mesmo quando a taxa nominal se reduz. Para a taxa ex-post, o encarecimento do custo do financiamento tende a transferir renda dos devedores para os credores. Acredita-se que os devedores tenham maior propensão a gastar, de modo que a elevação do custo do capital reduza a demanda efetiva. Essa mudança na curva IS vai afetar a DA e Y de acordo com o formato da curva LM. Efeito Keynes - Questionamentos a) Taxa de juros exógena Efeito Keynes - Questionamentos b) Oferta de moeda enxógena Mediante a deflação, a curva LM se desloca para a direita enquanto a curva IS se desloca para a esquerda. O resultado é inconclusivo, dependendo da intensidade de cada deslocamento. Efeito Keynes - Questionamentos (v) Dificuldade da relação entre taxa de juros investimento Uma parcela da teoria econômica questiona a relação inversa entre taxa de juros e investimento. Considera que através do processo de migração do capital, a taxa de juro real sirva de balizador para a rentabilidade da economia real. Portanto, apenas no curto prazo a queda da taxa de juros real afetaria o investimento, enquanto a migração do capital ainda não reduziu a rentabilidade dos investimentos produtivos. No longo prazo, o investimento tende a ser insensível (sensibilidade nula) à taxa de juros, o que pode ser ilustrado como uma curva IS vertical. Efeito Pigou A segunda forma de retorno ao pleno emprego é o Efeito Encaixes Reais ou Pigou-Patinkin ou Efeito Pigou. O EP entende que o desemprego promove uma queda dos salários nominais, que reduz o nível geral de preços e eleva a oferta real de moeda. O aumento da oferta real de moeda eleva a riqueza do setor privado, que por sua vez eleva o consumo, a DA e a renda, retomando o pleno emprego. Efeito Pigou Se somarmos o EP ao EK, isto é, o deslocamento da IS ao deslocamento da LM, temos: O EP fortalece a ideia dos autores neoclássicos que a flexibilidade de preços e salários é capaz de promover o retorno ao pleno emprego. Efeito Pigou - Questionamentos (i) Salários => Preços Se mediante a queda dos salários, os preços se mantiverem constantes, a oferta real de moeda não crescerá e o EP não irá acontecer. Na verdade, haverá uma redistribuição de renda contra os salários, modificando o multiplicador e a curva IS na direção oposta à necessária. Se o repasse da queda de custo for parcial, o resultado dependerá os Efeitos Pigou e Kalecki ocorrerão simultaneamente e o que ocorrer com mais intensidade irá determinar o deslocamento da curva IS. Efeito Pigou - Questionamentos (ii) Preços => oferta real de moeda Como discutido, se a Autoridade Monetária fixar a taxa de juros, a mudança no nível de preços promoverá um ajuste na oferta nominal de moeda para manter a taxa de juros vigente. Assim, não ocorre uma expansão da riqueza privada e, posteriormente, do consumo. A taxa de juros constante em um quadro de deflação implica em elevação dos juros reais e deslocamento para a esquerda da curva IS, tornando a DA positivamente inclinada. Efeito Pigou - Questionamentos (iii) Deflação e Juros Reais Mesmo que a taxa nominal cai, em um quadro de deflação, a taxa real pode subir. Nesse caso, o Efeito Riqueza vai na direção contrária ao efeito promovido pelos juros reais e a direção de deslocamento da IS é indefinida. Efeito Pigou - Questionamentos (iv) A Potência do Efeito Pigou Uma questão associada ao Efeito Pigou está na associado a sua potência. Estima-se que a propensão a consumir a partir da riqueza seja baixa, portanto, mesmo que nenhum dosproblemas abordados se materializasse, o efeito demoraria um período excessivamente longo (e inviável) para levar a economia de volta ao pleno emprego. Adicionalmente, o EP abrange apenas a Base Monetária (PMPP + RB) e não os Meios de Pagamentos (PMPP + DV), pois depende da expansão da riqueza privada e não da redistribuição dela (que afetaria as propensões a gastar, como já discutido). Conclusão Os economistas da Síntese Neoclássica defendiam que uma economia, na ausência de rigidez de preços e salários, no longo prazo, não teria seu produto limitado pela demanda efetiva. Os efeitos Keynes e Pigou garantiriam a convergência de longo prazo entre produto efetivo e potencial. Como demostrado, rejeitar a validade desses efeitos implica em aceitar a relevância para o curto e longo prazo do Princípio da Demanda Efetiva.
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