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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 2 2 LÍNGUA PORTUGUESA E ENSINO .............................................. 3 2.1 Concepções de linguagem .......................................................... 8 2.2 Texto e gênero ............................................................................ 9 3 HETEROGENEIDADE DA LINGUAGEM ..................................... 13 4 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA ........................................................ 16 5 DESENVOLVIMENTO DA LEITURA ............................................ 23 5.1 Estratégias de leitura ................................................................. 25 5.2 Estratégias cognitivas de leitura ................................................ 27 5.3 Estratégias metacognitivas de leitura ........................................ 27 6 AS ESTRATÉGIAS DA COMPREENSÃO NA LEITURA .............. 28 7 PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LEITURA E ESCRITA ............. 29 10 O ENSINO DA PRODUÇÃO DE TEXTOS ................................... 37 11 PRODUÇÃO TEXTUAL EM LÍNGUA MATERNA ......................... 39 12 GÊNEROS TEXTUAIS E SEQUÊNCIAS TEXTUAIS OU TIPOLÓGICAS ................................................................................................. 46 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 49 2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 LÍNGUA PORTUGUESA E ENSINO Fonte: sumarequalifica.com.br Sabe-se que a Língua Portuguesa é um sistema de diferentes formas e significados, a sua função é desenvolver a comunicação, compreensão e variedade das expressões linguísticas expressas em diferentes contextos. Assim, por meio desse sistema de símbolos, podemos interagir, argumentar, defender, ocultar, descobrir, pensar, ou seja, expressar ideias e sentimentos. Este simbolismo deve ser praticado nas escolas de forma significativa e difundida, com o objetivo de fazer do aluno um cidadão completo que reflete, cria, inventa, (re) age, explora e interage com o mundo ao seu redor. Nesse sentido, tornar-se um usuário proficiente de uma língua materna significa utilizá-la de forma oral ou escrita para garantir uma efetiva interação e participação social humana, pois através dela temos acesso à informação, apresentamos opiniões, ouvimos o ponto de vista de outros, construímos e compartilhamos conhecimentos e experiências. Desse modo, buscamos as considerações de Travaglia para ressaltarmos que: [...] o ensino de Língua Portuguesa se justifica prioritariamente pelo objetivo de desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), isto é, a capacidade do usuário de empregar adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação. (TRAVAGLIA, 2009) 4 As declarações feitas pelos falantes, escritores, ouvintes e/ou leitores são de origem do meio de comunicação; ou seja, basicamente textos. Portanto, deve ser propicio o contato e o trabalho do aluno com textos utilizados em situações de interação comunicativa, as mais variadas possíveis. A escola deve prover meios para um bom aprendizado de leitura e escrita de gêneros existentes na sociedade, de modo que facilite e incentive os alunos para ler e escrever, uma vez que é através da leitura e da escrita que os alunos mantem uma participação dentro da sociedade, respeitando e valorizando as diferenças sociais e linguísticas. Diante dessa realidade, a escola precisa incorporar uma postura de respeito e valorização às diferentes identidades que se manifestam na linguagem. Com o passar do tempo, a compreensão, a valorização, a aceitação e o uso das variáveis se tornou comum, e os professores tomaram consciência que é imprescindível considerar a diversidade linguística. É importante lembrar, que a língua padrão, mesmo com inúmeras diversidades, não deixa de ser importante, e é exigida em muitas situações de uso. A própria consciência de que existe uma norma padrão, já gera o entendimento de que também existe uma variedade linguística usada em algumas situações de interação, não sendo, contudo, a única correta. Desta forma, é comum que no cotidiano escolar aconteça questionamentos sobre como agir diante de um desvio desregrado do aluno, ou seja, de uma produção que esteja em desacordo com a regra padrão estabelecida pelas gramáticas normativas. Quando isso acontece, é necessário identificar este “desvio”, para posteriormente conscientizar o educando sobre os diversos estilos e às múltiplas formas de linguagem. Essa conscientização exige uma certa sensibilidade e equilíbrio do professor para que saiba conduzir este momento delicado. Na sala de aula, é importante que os professores realizem diferentes ações didáticas com espaço para usar múltiplas linguagens, para ter reflexão sobre como reagir a uma regra não padronizada utilizada pelos alunos. Quando o docente se encontrar em uma dessas situações de variação linguística, poderá se valer de dois componentes como auxílio: a identificação e a conscientização da diferença. 5 Já a conscientização não pode interromper uma linha de raciocínio, e pode ser adiada nos casos em que o professor entender que ela causará prejuízo ao processo. Importância maior deve ser dada as características culturais e psicológicas dos alunos, que poderão, caso queiram, justificar suas escolhas linguísticas. Portanto, podemos concluir que se as ações educativas dos professores forem bem elaboradas, haverá maior possibilidade que os alunos reconheçam e valorizem a sua língua, bem como também, um controle de estilo, adequando ao contexto e às necessidades de comunicação, isto significa tornar-se linguisticamente competente. Uma atitude contrária dos professores pode causar insegurança, vergonha, medo, baixa autoestima, desinteresse e até repulsa nos alunos, que é a parte mais importante do processo de aprendizagem. O maior objetivo do ensino de língua, é construir a educação linguística dos alunos, de forma contínua e ininterrupta. Ainda é importante lembrar, que o processo de aprendizagem não de se limitar apenas ao espaço escolar, para que o aprendiz aprenda também sobre os elementos que contribuem para a formação na vida em sociedade. Nesse aspecto, Antunes (2009, p. 40) afirma que: Saber falar e escutar em contextos formais, estar inserido no mundo da comunicação escrita e da comunicação virtual, saber apreciar os valores literários e todas as expressões da cultura, ter consciência das imensas possibilidades de criação e de participação social promovidas pelo uso da linguagem constituem o amplo espectro do que poderiam ser os objetivos do ensino de língua. (ANTUNES, 2009) Através dos Parâmetros Curriculares Nacionais, é possível perceber que desde a década de80, já existe uma intensa necessidade e discussão sobre formas de melhorar a qualidade da educação no Brasil. No que tange o estudo de línguas na escola, com base em dados reais a partir da vivência em salas de aula de Língua Portuguesa, é possível perceber um ensino no qual a gramática é prioridade, uma vez que se o conteúdo não for este, não há que se falar em aula de português. Sendo assim, observa-se a tendência de um ensino que prioriza uma transmissão de conteúdo, centralizado em regras que são impostas. Contudo, para que seja uma educação linguística completa, voltada para uma linha de 6 reflexão, é necessário dar a devida importância à produção dos sentidos que se dispõe em textos. Desta forma, a gramática surgiria de uma forma natural, diante da necessidade de entender melhor uma determinada leitura, ou até mesmo para reconstruir uma estrutura textual, aprendendo sobre normas de uso formal que são adequadas em determinadas situações. Em seus ensinamentos, Batista diz que “A língua que se ensina na escola é diferente e distante do português que se usa no dia a dia.” (BATISTA, 1997) Esta afirmação feita pelo autor em seu livro intitulado “Aula de Português- Discurso e Saberes escolares” reflete a realidade que vivemos nas aulas de Língua Materna que tomam a gramática como objeto que constitui a figura do ensino da disciplina. Torna-se necessário assim, uma reestruturação do ensino da língua materna, de modo que assegure a inserção do aluno ao mundo da leitura e da escrita, formando um cidadão mais consciente, crítico e participativo na sociedade. Ademais, o papel da escola é elaborar ações e projetos voltados para essa formação. No âmbito mais específico do ensino de línguas, o professor poderia promover a formação do cidadão estimulando o senso crítico do aluno por meio de múltiplas atividades de análise e de reflexão; instigando a curiosidade, a procura, a pesquisa, a vontade da descoberta, o que implica a não conformação com o que já está estabelecido, desestimulando, portanto, o simplismo e o dogmatismo com que as questões linguísticas têm sido tratadas. (ANTUNES, 2009) As orientações curriculares de Língua Portuguesa propõem atividades de natureza reflexiva, imprimindo, dessa maneira, maior qualidade ao uso da linguagem através de situações epilinguísticas e metalinguísticas, conforme necessidade de uso, compartilhada sobre textos reais. As atividades epilinguísticas estão vinculadas àquelas que incentivam a reflexão sobre a língua, sem que estejam, necessariamente dependentes de outras regras e nomenclaturas. Esse tipo de atividade requer a intuição do educando de modo que perceba os diversos sentidos que as palavras demonstram em diferentes contextos. 7 As atividades supracitadas são bastante eficazes, uma vez que levam os alunos a produzirem sentidos, tanto na fala quanto na escrita. Por outro lado, as atividades metalinguísticas estão vinculadas a uma espécie de descrição, através da categorização e sistematização dos elementos linguísticos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) mostram que a dificuldade de aprendizagem dos alunos se justifica pelo uso de métodos que não são eficientes no processo de alfabetização, em decorrência, ocorre dificuldade para os discentes exercerem o uso da linguagem de forma ampla, dinâmica e consciente. Essa é uma situação que se agrava, quando acontece por exemplo, de os professores não levarem em consideração os conhecimentos que os alunos já possuem, para que possam trabalhar sob às bases já existentes. Dessas situações, entende-se que é tarefa da escola discutir os valores sociais atribuídos a cada variante linguística, uma vez que alguns usos cometidos na língua podem acarretar discriminação e preconceito. É necessário sempre conscientizar o aluno de que sua produção linguística é passível de avaliação social. O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença. Para isso, e também para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma ‘certa’ de falar- a que se parece com a escrita- e o de que a escrita é o espelho da fala e, sendo assim, seria preciso ‘consertar’ a fala do aluno para evitar que ele escreva errado [...]. (BRASIL, 1997) Além de tudo, os educadores devem entender de que não se trata de ter uma "fala correta" e a ensinar, mas sim de falas que se adequem aos contextos interacionais. A questão não é falar certo ou errado, mas saber qual forma de fala utilizar, considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes situações comunicativas. (BRASIL, 1997) Dessa forma, os alunos irão compreender que a questão não é avaliar de forma preconceituosa as variações linguísticas, mas adequar a linguagem ao contexto de interação, como aquelas que ocorrem em casa, na escola, ou no trabalho. 8 Ao demonstrar esta habilidade de ajustar as modalidades de manifestação da linguagem aos contextos de usos, os discentes estão desenvolvendo sua competência linguística. 2.1 Concepções de linguagem Para uma eficiente condução do ensino de Língua Materna é necessário observar como o professor entende e interpreta a língua e a linguagem, uma vez que a maneira que compreender cada uma, irá influenciar em sua postura, suas ideias e a sua própria metodologia de trabalho. Nos ensinamentos de TRAVAGLIA, são concebidas três possibilidades diferentes de conceber a linguagem: a) Linguagem como expressão do pensamento; b) linguagem como instrumento de comunicação, como meio objetivo para a comunicação; c) linguagem como forma ou processo de interação. (TRAVAGLIA, 2009) Na primeira concepção - Linguagem como expressão do pensamento - a expressão, formada no interior da mente, “é exteriorizada através da enunciação que é um ato individual, não sendo afetado nem pelo outro nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação acontece.”. (TRAVAGIA, 1997, p. 21). Nesse modo de pensamento, a exteriorização acontece por meio de uma linguagem organizada, formada por normas gramaticais. Na segunda concepção – a Linguagem é tida como instrumento de comunicação – uma espécie de código, ou seja, é um conjunto de tópicos organizados e estruturados a partir de regras, com a finalidade de transmitir mensagens aos interlocutores. Portanto, é preciso o domínio desse código linguístico e também o uso desse código pelas pessoas, para que seja realmente atingida a finalidade que se propõe. Na terceira concepção – a linguagem vem como um processo de interação, ou seja, o uso que o homem faz da linguagem de interação humana, se efetiva como interação comunicativa. Sendo assim, os interlocutores executam ações de linguagem, como por exemplo ouvir, falar, compreender e 9 serem compreendidos nas interações das quais participam, sem que estejam amarrados apenas no sistema linguístico. [...] a verdadeira substância da linguagem não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada pela enunciação ou pelas enunciações. A interação verbal constitui, assim, a realidade fundamental da linguagem. (BAKHTIN, 1986) Portanto, essa relação de diálogo exercida no meio social que caracteriza a linguagem só acontece se os participantes desse processo de interação se encontrarem em uma situação de igualdade. Essa terceira concepção, bem como várias outras obras, nos mostra que, ao interpretar / compreender e elaborar qualquer texto, o aluno deverá obter um conhecimento prévio acerca do mundo, do contextode produção, e também de outros fatores que sejam necessários para o texto. Dessa forma, a partir desta terceira concepção de linguagem, devemos perceber como é possível modificar situações no ensino das línguas, sendo então compreendida como um processo de interação, levando em consideração as diferentes situações comunicativas. Esta concepção está registrada nas orientações contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais, e é a base das ações didáticas do professor de Português. Quando o professor assume uma expansão interacional da linguagem, deve-se então passar a exercer atividades pedagógicas como a leitura e a escrita de modo privilegiado, com a finalidade de promover a interação entre os sujeitos participantes. Ademais, é necessário priorizar a diversidade de gêneros textuais e a diversidade de linguagens, uma vez que as interações comunicativas e os gêneros são de extrema importância no âmbito educacional. 2.2 Texto e gênero O ensino de Língua Portuguesa na escola tem a função principal de formar cidadãos capazes de lerem e escreverem um conteúdo que tenha sentido. Para tanto, é preciso compreender que formar leitores competentes e escritores proficientes em Língua Materna requer um olhar atento, cuidadoso e interativo 10 com o texto. Dessa maneira, fica claro e óbvio que falamos, lemos ou escrevemos sempre a partir de textos. Vale salientar que no processo de ensino e aprendizagem de Língua Materna na perspectiva tradicional utilizavam-se frases soltas, o que tornava o aprendizado artificial, fragmentado e descontextualizado. A chegada e a compreensão da textualidade (vista como condição em que as línguas têm de somente ocorrerem sob a forma de textos) ampliaram a compreensão da linguagem e a consciência de que a mesma só se efetiva nas interações sociais. Nessa perspectiva, observamos que o texto passa então a ser considerado como objeto de ensino e como centro das ações didáticas realizadas pelos professores. (GERALDI, 2012) Algumas distorções do fenômeno linguístico, sobretudo aquelas acontecidas dentro das salas de aula, impediram que essa evidência (fala e escrita através de textos) fosse percebida. Por essas distorções chegou-se a crer que textos são apenas aqueles escritos, ou aqueles literários, ou aqueles mais extensos (uma palavra só nunca poderia constituir um texto!). Consequentemente, a frase ocupou o lugar do objeto de análise da língua na escola. Pensava-se a língua a partir de frases; exercitava-se a língua a partir de frases. (ANTUNES, 2009) Para que o processo de ensino e aprendizagem seja realizado com sucesso, o PCN recomenda que abandonemos as regras estabelecidas e passemos a utilizar o texto (oral e escrito) como objeto de ensino, uma vez que pela variedade dos textos, os alunos irão entender como estruturar a linguagem. É imprescindível deixarmos de lado aquele ensino metalinguístico e descontextualizado, fora da realidade do aluno, que compromete o desenvolvimento da competência discursiva desses educandos. Nesse sentido, o referido documento na área de Língua Portuguesa destaca que “cabe à escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e interpretá-los. ” (BRASIL, 1997). Além disso, orienta que se utilizarmos o texto como elemento básico de ensino onde estão registradas as manifestações da língua, estará apostando no desenvolvimento da competência discursiva dos alunos, sempre direcionada para um propósito comunicativo. Além da compreensão de que o ensino de língua deve pautar-se em textos, é necessário, ainda, entender que os textos estão configurados numa 11 diversidade de gêneros que precisam ser ingredientes da prática pedagógica nos diversos níveis de escolarização. Nesse sentido, Bakhtin (2011, p. 62) apresenta a definição de gênero como “tipos relativamente estáveis de enunciados”, levando-nos a compreender que o falante seleciona o gênero discursivo adequado à determinada esfera social. Além disso, toda a discussão inicial em torno dos gêneros tem como foco as noções desenvolvidas por este autor. Dessa forma, para classificar os gêneros, faz-se necessário observar sua organização em relação aos seguintes aspectos: 1. Conteúdo temático; 2. Estilo (recursos linguísticos utilizados pelo falante para se adequar à situação discursiva) e; 3. A construção composicional (forma, estrutura do discurso). Enquanto Marcuschi (2008), que é um linguista do texto, por isso adota a expressão gênero textual, que se referem aos textos materializados em situações comunicativas recorrentes. Nesse sentido, o autor enfatiza que: [...] são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas [...] São entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em situações diversas [...] (MARCUSCHI, 2008) Segundo este autor, os gêneros textuais, em sua multiplicidade, apresentam especificidades e propósitos bem diferentes, que procuram suprir as necessidades comunicativas do sujeito. O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana [...]. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominaram gêneros do discurso. (BAKTHIN, 2003) O autor chama atenção para a riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso que se adapta às mais diversas necessidades e situações cotidianas, relacionando-se diretamente ao seu tema e ainda à composição de seus participantes. Ressalta ainda a importância e a necessidade de atentar para a diferença entre gêneros discursivos primários, referentes àquelas situações 12 interacionais cotidianas, espontâneas, informais e não elaboradas que se configuram como uma comunicação imediata, como por exemplos a carta, o bilhete, o diálogo e os secundários (complexos); destes últimos fazendo parte os romances, dramas, pesquisas científicas, etc. Marcuschi chama-os de gêneros textuais, pois se refere aos “textos materializados em situações comunicativas recorrentes.”. Esta designação de gênero textual é a de que a comunicação se torna impossível se não utilizar textos realizados em algum gênero. (MARCUSCHI, 2008) Deve-se olhar os gêneros textuais com certa importância, e as escolas tem o dever de promover encontros que gerem a prática de seus conhecimentos. Vale tomar os gêneros como referência para o estudo da língua e, consequentemente, para o desenvolvimento de competências em fala, em escuta, em leitura e em escrita dos fatos verbais com que interagimos socialmente. (ANTUNES, 2009) Reconhecer o gênero como referência para os trabalhos de classe seria apontar um caminho, delineando a seção final para as obras gramaticais, orais e escritas. Ademais, a gramática deve ser tida como aliada, de acordo com a necessidade de cada categoria. É preciso que tenhamos olhos para ver outras coisas nos textos além de sua correção gramatical. A escola não pode centrar-se apenas no estudo da gramática e deixar para descrições sumárias e superficiais a complexidade das questões textuais. (ANTUNES, 2009) Assim, é preciso tomar o ensino de Língua Portuguesa a partir de textos concretos, reais, funcionais, que permitam a interação do sujeito com a prática social. Neste sentido, Marcuschi diz que o estudo dos gêneros textuais "é uma fértil área interdisciplinar, com atenção especial para o funcionamento da língua e para as atividades culturais e sociais". (MARCUSCHI, 2008) Ao colocar a linguagem em uso, interagimos por meio de uma atividadecoletiva que nos permite comunicar e, por meio dela, sermos capazes de apresentar as características e peculiaridades de uma época, de um grupo e de uma região, revelando identidade e cultura. 13 3 HETEROGENEIDADE DA LINGUAGEM Fonte: verbumconteudo.com.br Cada ser humano se diferencia do outro em relação à cor da pele, à cor e à textura dos cabelos, à cor dos olhos, ao tipo físico etc., uma vez que cada um possuí uma trajetória, uma história particular que diferencia sua existência, além de interagirem em contextos e momentos diferenciados, pois se moram em lugares diversos e fazem parte de culturas variadas, não seria diferente em relação às escolhas linguísticas que realizam. Para que exista a comunicação, é necessário fazer o uso da língua. Todas as atividades que nos rodeiam estão repletas de linguagem, por exemplo através de uma música, uma placa, uma televisão, entre outros. Podemos então dizer que a linguagem é vinculada a língua que o ser humano utiliza, e é universal. O conjunto de normas que a regulamentam, possibilita uma maior clareza e compreensão entre os seus interlocutores, pois a língua é empregada conforme a necessidade, preservando o que há de necessário para o processo de interação. Para o linguista Ferdinand Saussure “a língua é um sistema supra individual utilizado como meio de comunicação entre os membros de uma comunidade”. (SAUSSURE, 1995) Todavia, com os avanços dos estudos da Sociolinguística, a língua passou a ser compreendida como uma manifestação social, sendo então diversificada de acordo com a região, cultura, e outros fatos. Ademais, uma vez 14 que o homem é um ser social que interage por meio da linguagem, ele já nasce com a capacidade de se comunicar e interagir, isso faz com que ele seja diferente dos outros seres. Logo, linguagem e interação podem se confundir, visto que proporciona ao indivíduo o autoconhecimento, que em decorrência, o faz estar e agir em um universo plural. Vale salientar que as relações, a interação, a comunicação entre os indivíduos só é possível por meio da linguagem (seja ela formal, informal, verbal, não verbal e/ou mista), permitindo ainda a apresentação e manifestação da cultura, bem como possibilita seu conhecimento e valorização. Por ser a língua uma atividade social, elaborada de acordo com a vontade e necessidade dos falantes, deve ser vista como atividade múltipla, variada, afastando a concepção de produto “cristalizado” e imutável. [...] A língua, na concepção dos sociolinguistas, é intrinsecamente heterogênea, múltipla, variável, instável e está sempre em desconstrução e em reconstrução. Ao contrário de um produto pronto e acabado, de um monumento histórico feito de pedra e cimento, a língua é um processo, um fazer-se permanente e nunca concluído. A língua é uma atividade social, um trabalho coletivo, empreendido por seus falantes, cada vez que eles se põem a interagir por meio da fala ou da escrita. (BAGNO 2007) Levando em consideração que o Brasil se trata de um país vasto e com variadas manifestações torna-se claro o motivo das também variadas manifestações da linguagem, uma vez que a diversidade dos grupos sociais é ampla. Alguns aspectos ajudam na identificação dos fenômenos de variação, sendo essa heterogeneidade é firmada através do uso da língua feito por um cidadão erudito e por um cidadão iletrado; um morador da região norte e outro da região sul; pessoas de alta renda, e por pessoas de renda média ou baixa, além das variações de idades, uma vez que crianças, adolescentes, adultos e idosos não se manifestam da mesma maneira linguisticamente. A heterogeneidade linguística também pode ser observada através do comportamento linguístico de cada usuário da língua, pois de acordo com o tipo de interação que o falante apresentar, poderá produzir um discurso mais monitorado ou menos monitorado, dependendo da complexidade da situação comunicativa. Em qualquer língua, de qualquer época desde que em uso, ocorreram mudanças, em todos os estratos, em todos os níveis, o que significa 15 dizer que, naturalmente, qualquer língua manifesta-se num conjunto de diferentes falares, que atendem às exigências dos diversos contextos de uso dessa língua. Pensar numa língua uniforme, falada em todo canto e em toda hora do mesmo jeito, é um mito que tem trazido consequências desastrosas para a autoestima das pessoas (principalmente daquelas de meio rurais ou de classes sociais menos favorecidas) e que tem confundido, há séculos, os professores de Língua... Por essa heterogeneidade de falares é que a língua se torna complexa, pois, por eles, se instaura o movimento dialético da língua: da língua que está sendo, que continua igual, e da língua que vai ficando diferente [...] (ANTUNES, 2009) Dentro das salas de aula, as manifestações orais e escritas da língua têm ganhado um grande destaque. No entanto, na atualidade, tem sido comum uma compreensão baseada na dicotomia da fala e da escrita. O papel da escola se traduz na transmissão da norma com maior prestígio sócio cultural, ou seja, a norma culta padrão, capaz de tornar os alunos capacitados para novas situações que possam surgir. Contudo, não pode ser vista como única. O responsável por fazer circular o ensino das variadas línguas é o próprio professor, justamente porque o sistema educacional, sempre agarrado à uma tradição histórica, acaba por alimentar o mito de que apenas uma língua é a correta. No entanto, o modelo "certo" já não tem grande consideração atualmente. Essa afirmação pode ser observada em artigos, livros e outras escritas atuais. [...] o objetivo principal do trabalho de análise e reflexão sobre a língua é imprimir maior qualidade ao uso da linguagem, as situações didáticas devem [...] centrar-se na atividade epilinguística, na reflexão sobre a língua em situações de produção e interpretação, como caminho para tomar consciência e aprimorar o controle sobre a própria produção linguística. E, a partir daí, introduzir progressivamente os elementos para uma análise de natureza metalinguística. O lugar natural, na sala de aula, para esse tipo de prática parece ser a reflexão compartilhada sobre textos reais. (BRASIL, 1997) O documento orienta ainda que “o ensino gramatical desarticulado dos usos não se justifica e o trabalho com a gramática não deve se pautar no mito de que existe uma forma correta de falar”. (BRASIL, 1997) Nesse sentido, é muito importante que o aluno se sinta livre e motivado para falar em sala de aula, independente da variedade utilizada, pois ele é parte essencial e insubstituível da interação. Havendo interação ao falar, agir, e ouvir, os alunos terão maior oportunidade de reestruturar seu repertório linguístico 16 ampliá-lo. Portanto, o professor deve manter um olhar atento, com atitudes que mantenham a consciência do aluno sobre as variáveis linguísticas. Uma das principais tarefas do professor de língua é conscientizar seu aluno de que a língua é como um grande guarda-roupa, onde é possível encontrar todo tipo de vestimenta. Ninguém vai só de maiô fazer compras num shopping-center, nem vai entrar na praia, num dia de sol quente, usando terno de lã, chapéu de feltro e luvas [...]. (BAGNO, 1999) É importante lembrar, que todas as variedades são valiosas, não existem variedades boas ou más, feias ou bonitas. Cada uma delas têm sua gramática, seus padrões, seguem suas regras, e, acima de tudo, cumprem sua função comunicativa. 4 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA Fonte: jornaldejales.com.br Esta seção pretende definir, distinguir e caracterizar as expressões utilizadas pela sociolinguística, bem como definir o objeto de seu estudo. Também fornece definições relevantes para demonstrar a importância de concluir pesquisas que envolvam as variáveis linguísticas no contexto da sala de aula. A sociolinguística trata-se de umadas subáreas da Linguística que estuda a língua em uso no seio das comunidades de fala, voltando à atenção 17 para um tipo de investigação que correlaciona aspectos linguísticos e sociais. (MOLICA, 2012) Seguindo este entendimento, Bortoni Ricardo afirma que: A escola sociolinguística se ocupa principalmente das diversidades nos repertórios linguísticos das diferentes comunidades, conferindo às funções sociais que a linguagem desempenha a mesma relevância que até então se atribuía tão somente aos aspectos formais da língua. (BORTONI, 2005) A identificação dos grupos sociais acontece por meio dos usos linguísticos, uma vez que sem a existência das comunidades não existe interação. Entende-se por Sociolinguistas todos aqueles que concebem a língua como um veículo de comunicação, de informação e de expressão entre os indivíduos da espécie humana. (TARALLO, 1986, p. 7). A linguística somente se consolidou como ciência após os estudos de Fernando de Saussure, na França, quando definiu a língua como principal objeto de estudo em relação à fala. Por isso, sua pesquisa não foi tida como absoluta, deixando algumas lacunas a serem preenchidas, uma vez que a fala se trata de um fator individual. Martins elenca três grandes contribuições da Sociolinguística para o ensino de língua: I. Definição apurada de conceitos básicos para o tratamento adequado dos fenômenos variáveis; II. Reconhecimento da pluralidade de normas brasileiras, complexo tecido de variedades em convivência; e III. Estabelecimento de diversas semelhanças entre o que se convencionou chamar “norma culta” e “norma popular”. (MARTINS, 2014) Os estudos da sociolinguística certamente contribuem para a melhoria da qualidade do ensino da Língua Portuguesa, visto que o presente fato considera a língua do usuário em constante frequência de uso. Para dirimir as dúvidas que possam surgir neste estudo, é necessário apresentar os conceitos de variação, variável, variante e variedade, amplamente utilizados pela sociolinguística e de grande importância para este trabalho. 18 A variação pode ser compreendida como o processo abstrato pelo qual todas as línguas se modificam. Em relação ao termo variável, ele é dividido em dependente e independente. A variável dependente diz respeito ao fenômeno de variação em si, já a variável independente está relacionada ao grupo de fatores internos à língua, como por exemplo: fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos, discursivos e lexicais, ou externos a ela como geografia, canal de comunicação, sexo, escolarização, classe social, grau de formalidade e tensão discursiva. As variantes dizem respeito às formas linguísticas que se modificam e se transformam. As variantes de uma comunidade encontram-se em relação de concorrência: padrão vs. não padrão, conservadoras vs. inovadoras; de prestígio vs. estigmatizadas. (TARALLO, 1986) De modo geral, a mesma variante apontada como padrão, é também a conservadora, e a que tem um certo prestígio sociolinguístico na comunidade. Já as variantes inovadoras, não são sempre padronizadas, e geralmente, estigmatizadas pelos membros do grupo social. Bagno nos apresenta o caminho da criação da norma padrão (modelo de língua, de uma elaboração artificial, baseada em algumas variedades regionais de prestígio). Nos estudos da linguagem, os iniciadores foram os filósofos que se dedicaram ao estabelecimento e fixação de regras gramaticais, uma vez que para eles, a variação era considerada um “defeito” da língua. (BAGNO, 2007) Imediatamente após os estados europeus se tornarem estados constitucionalmente centralizados, surgiu a necessidade de estabelecer uma linguagem de comunicação entre o poder (rei) e os cidadãos. Desta forma, foi escolhida uma língua dentre as variedades para ser denominada como a “língua oficial”, tendo sido escolhida aquela variável linguística do centro do poder, da zona geográfica mais rica e influente. Uma vez que toda seleção implica exclusão, outras variedades são consideradas "defeituosas" e "imperfeitas". No plano da gramática, diante dos fenômenos da variação, os gramáticos e literatos optaram sempre pela variante que mais se assemelhasse, na forma ou na função, às descrições da gramática latina. A formação de regras normativas clássicas portuguesas representa, assim, a seleção de certas variantes e a exclusão de todas as outras alternativas. Como resultado, formou-se um grande distanciamento entre as formas 19 padronizadas e o uso efetivo da linguagem, que fazem parte do nosso cotidiano, embora saibamos que mesmo aqueles com alto nível de escolaridade, também acabam não usando a língua formal como exclusiva. No estudo da linguagem (considerada a expressão do pensamento), para que o ensino da língua materna seja verdadeiro e eficaz, é necessário reconhecer e integrar as variações da língua. Desta forma, não será privilegiado o ensino fixo, que elege a chamada norma padrão como o único método correto, eficaz e necessário para a realização do ensino da Língua Portuguesa na escola. Essa variável é importante e contribui para o ensino de línguas, porém, por si só, não é suficiente para explicar as diversas manifestações da linguagem em contextos interativos. Em seu artigo intitulado “Norma culta e variedades linguísticas” Camacho afirma que “toda língua varia, isto é, não existe comunidade linguística alguma em que todos falem do mesmo modo”. (CAMACHO, 2004) O autor afirma ainda que “[...] um dos princípios mais evidentes desenvolvidos pela Linguística é que a organização estrutural de uma língua (os sons, a gramática, o léxico) não está rigorosamente associada com homogeneidade, pelo contrário, a variação é uma característica inerente das línguas naturais.”. (CAMACHO, 2004) Seguindo ne mesma ideia, Bortoni Ricardo nos lembra que as variações no uso da língua serão vistas não somente em salas de aula, mas também em qualquer domínio social. (BORTONI RICARDO, 2004) Já Camacho, nos mostra que “a variação pode ser motivada por diferenças de origem geográfica (variedades geográficas ou diatópicas), de origem sociocultural (variedades socioculturais ou diastráticas) ou diferenças de origem estilísticas ou diafásica) ”. (CAMACHO, 2004) Bagno (2007, p. 46-47) afirma que a variação sociolinguística possui mais alguns adjetivos, como: [...] variação diamésica (a que se verifica na comparação entre a língua falada e a língua escrita) e a variação diacrônica (a que se verifica na comparação entre diferentes etapas da história de uma língua). (BAGNO, 2007) Os diferentes níveis da língua apontados pelo autor supracitado, são especificadas como: 20 1. Variação fonético-fonológica: Relacionada às diversas possibilidades de pronúncia de uma determinada letra no português brasileiro. 2. Variação morfológica Palavras formadas a partir de sufixos diferentes, mas que expressam a mesma ideia. 3. Variação sintática: Ocorre quando elementos estão organizados de maneiras diferentes nas orações, mas preservam o mesmo sentido. 4. Variação semântica: Uma mesma palavra pode apresentar significados diferentes, dependendo da região do falante. 5. Variação lexical: Palavras diferentes apresentam o mesmo significado. 6. Variação estilístico-pragmática: Esta variação está relacionada às diferentes situações de interação social, quando o falante dispensa grau maior ou menor de formalidade ao seu discurso, em situações de interação diferenciadas. (BAGNO, 2007) As variedades linguísticas são designadas da seguinte maneira Dialeto – Está relacionado ao modo característico de uso da língua num determinado lugar, região. Socioleto – Designa a variedade própria de um grupo de falantes que compartilham as mesmas características socioculturais. Cronoleto – Refere-se à variedade própria de determinada faixa etária, de uma geração defalantes. Idioleto – Designa o modo de falar característico de um indivíduo, suas preferências vocabulares, seu modo próprio de pronunciar as palavras, de construir as sentenças [...]. ((BAGNO, 2007) Em relação às variações de linguagem, importantes parâmetros contribuintes estão relacionados à diversidade cultural, sugerindo respeitar a formação e a linguagem trazida pelos alunos, possibilitando que os alunos percebam fatores que fazem parte do processo de ensino e aprendizagem (professor e aluno) sobre a capacidade de se comunicar por meio essas expressões linguísticas. É decisivo propiciar um ambiente respeitoso, acolhedor, que inclua a possibilidade de o aluno trazer para a sala de aula seu próprio repertório linguístico e cultural. [...] Conhecer a si próprio, sua cultura, organizar seu conhecimento de forma que possa dar-se a conhecer, permitirá a integração entre o vivido e o aprendido. (BRASIL, 1997) A partir deste estudo, associado às vozes desses autores mostra-se que todas as variações obedecem às regras e não apenas a variedade culta do português. As pessoas precisam refletir acerca das línguas e dos dialetos. É 21 preciso construir a consciência (alunos e professores) que todas possuem o seu valor e são eficientes no que diz respeito ao cumprimento de sua função comunicativa e não deve ser alvo de preconceito linguístico, um equívoco presente, que se mantém em nossa sociedade. Nenhuma forma de expressão é deficiente, devendo ser vista como “diferente”, apenas, quando não impõem limitações ou entraves na transmissão de sentido. É o caso das variedades populares que possuem conteúdo de alto nível, da mesma forma que as variedades cultas. Necessário se faz que o educando saiba optar pela variante que precisa utilizar num momento de interação, levando em consideração o contexto dessa comunicação. (BRASIL, 1997). É essencial que se reconheça as variedades linguísticas para o ensino de Língua Portuguesa, pois em nosso dia a dia o trabalho dever ir além daquele modelo engessado, preso às regras de uma gramática imposta para uso. Ademais, os usos linguísticos revelam que a língua se manifesta de modos variados e isto passa a ser visto como marca da identidade de determinados grupos. A língua não pode ser vista tão simplistamente, como uma questão, apenas, de certo e errado, ou como um conjunto de palavras que pertencem a determinada classe e que se juntam para formar frases, à volta de um sujeito e de um predicado. A língua é muito mais que isso. É parte de nós mesmos, de nossa identidade cultural, histórica e social. É por meio dela que nos socializamos que interagimos, que desenvolvemos nosso sentimento de pertencimento a um grupo, a uma comunidade. (ANTUNES, 2007) Nós, brasileiros, somos todos falantes de português, independente da região, classe social, nível de escolaridade. Devemos dissipar o mito de que não conhecemos a nossa língua materna, de que o português é difícil, de que no nosso país não se fala um bom português. (BAGNO, 1999). A linguagem marca a identidade do falante que a utiliza, levando em consideração a circunstância em que o processo de comunicação ocorre. Dessa forma, o uso da língua pode mudar, sendo a partir dessa mudança quando percebemos a presença das variáveis linguísticas que são influenciadas segundo a idade, região, grau de instrução, profissão do falante e segundo a situação em que se encontra (num grau de monitoramento ou não). 22 As situações do cotidiano permitem uma comunicação mais confortável, com pouca ou quase nenhuma formalidade. Todavia, em determinadas situações comunicativas, é necessário estar atento e adequar a linguagem à situação e ao contexto, fazendo uso de uma linguagem formal. A gramática, compêndio que reúne as regras para a manutenção do idioma, é um instrumento importante que aponta caminhos, adequando sua necessidade de uso. [...] O termo gramática [...] seria equivalente às características de uma língua que nos sãos apresentadas em forma de regras e princípios que não se propõem a fornecer uma explicação, mas, antes, um modelo, que não conseguimos nunca abarcar e dominar integralmente. Pode-se dizer que essa concepção corresponde a um só tempo à gramática descritiva, que pretende depreender o sistema de uma língua, através do estabelecimento de unidades no interior de cada sistema e de suas relações opositivas; gerativa, que constitui um sistema formalizado de regras correspondentes à competência linguística; funcional, que consiste em um conjunto de estratégias que o falante emprega com a finalidade de produzir comunicação coerente; e ainda normativa, que focaliza a língua como um modelo ou padrão ideal de comportamento compulsório em qualquer situação de fala ou escrita. (VIEIRA, BRANDÃO, 2008) É sabido por todos que o papel da escola é oportunizar ao aluno o acesso à variável culta, que é um fator de ascensão social e relevante para aquisição / disseminação da cultura. Porém, o trabalho escolar não pode restringir-se a essa variável, devendo explorar as variações que a língua apresenta como um todo, baseada no princípio de que se a sociedade muda e se transforma, apresentando sujeitos diferentes quanto à classe social, idade, sexo, em relação ao espaço geográfico onde vivem, época e outros. Sobre o caráter heterogêneo da linguagem, Bagno nos diz que: A língua, na concepção dos sociolinguistas, é intrinsecamente heterogênea, múltipla, variável, instável e está sempre em desconstrução e em reconstrução. Ao contrário de um produto pronto e acabado, de um monumento histórico feito de pedra e cimento, a língua é um processo, um fazer-se permanente e nunca concluído. A língua é uma atividade social, um trabalho coletivo, empreendido por todos os seus falantes, cada vez que eles se põem a interagir por meio da fala ou da escrita. [...]. (BAGNO, 2007) Desse modo, entende-se a variação linguística como um fenômeno que acontece com a língua relacionada à sua capacidade e possibilidade de transformação de acordo com a necessidade e/ou realidade do falante. 23 Durante muito tempo o que se pôs em prática em relação ao ensino de Língua Portuguesa foi o trabalho pautado na gramática, acreditando como sendo o único ensino “válido”, “correto”, o ensino da norma padrão. O reconhecimento das variedades linguísticas é fundamental para o ensino da Língua Portuguesa, uma vez que em nosso cotidiano o trabalho com a Língua Materna vai muito além daquele preso a regras e modelos. O que há de real é a necessidade de interação e comunicação que os interlocutores possuem, cada um com sua intenção, fazendo diferentes usos dessa língua de acordo com a situação que se apresenta. A escola não ensina língua, mas usos da língua e formas não corriqueiras de comunicação escrita e oral. O núcleo do trabalho será com a língua no contexto da compreensão, produção e análise textual. (MARCUSCHI, 2008) 5 DESENVOLVIMENTO DA LEITURA Fonte: observatorio3setor.org.br A conceituação da palavra leitura é muito ampla, e varia de acordo com diversos autores. No entendimento de BORBA, leitura é: [...] um processo cognitivo, em que muitos fatores estão implicados formando um todo que possibilita que a leitura aconteça, e a ativação do conhecimento prévio nesse processo, incluindo valores, crenças e atitudes do leitor é [...] um componente fundamental para que o leitor consiga ler. (BORBA, 2007, apud LIMA, 2012, p. 86). 24 Outro autor que trata de leitura é Smith (1999, p. 107), para quem a leitura acontece quando fazemos perguntas ao texto escrito e, ao obter respostas para essas perguntas, compreendemos o texto. Para o autor, ler é o mesmo que fazer perguntas, previsões e adquirir respostas. Diz ainda o pesquisador que a leitura é um processo implícito, pois não temos consciência dele, mas apenas de suas consequências, ou seja, das decisõestomadas pelo cérebro. Além disso, a leitura não deve ser vista como um tipo específico de atividade, mas como algo que lida com aspectos muito mais amplos do pensamento e do comportamento humano, cuja habilidade não pode ser alcançada sem contar com a natureza da linguagem e as várias características do cérebro humano. Para Goodman, a leitura se trata de um processo seletivo, que envolve um uso parcial das pistas linguísticas disponíveis, selecionadas do input perceptual, de acordo com as expectativas do leitor, ou seja, é um jogo de adivinhação psicolinguístico, sendo a previsão uma estratégia essencial de leitura. Conforme o pesquisador, a leitura é “um processo no qual o pensamento e a linguagem estão involucrados em contínuas transações, quando o leitor busca obter sentido do texto impresso” (GOODMAN, 1976). Podemos dizer ainda, que a leitura se constitui em um processo único em todas as línguas, independente de diferenças ortográficas, nível de capacidade com o qual se usa no processo, da estrutura do texto e do propósito que tenha o leitor no momento de ler. O processo de leitura, para o autor, apresenta características essenciais: iniciam com um texto com alguma forma gráfica, produzido como linguagem e terminado com a construção de significado. Assim, para compreender o processo de leitura é preciso compreender como o leitor, o escritor e o texto contribuem para o processo, pois: [...] relativa capacidade de um leitor em particular é obviamente importante para o uso exitoso do processo. Mas também é importante o propósito do leitor, a cultura social, o conhecimento prévio, o controle linguístico, as atitudes e os esquemas conceptuais. Toda leitura é interpretação, e o que o leitor é capaz de compreender e de aprender através da leitura depende fortemente daquilo que o leitor conhece e acredita a priori, ou seja, antes da leitura. Diferentes pessoas lendo o mesmo texto apresentarão variações no que se refere à compreensão do mesmo, segundo a natureza de suas contribuições pessoais ao significado. Podem interpretar somente de acordo com a base que conhecem (GOODMAN, 1990, apud LIMA, 2012, p. 87). 25 Nessa direção, Poersch (2002) afirma que a leitura tem como objetivo a compreensão do texto, sendo este o mediador entre o escritor e o leitor. Para o autor, a leitura é: [...] um ato de comunicação que leva o leitor a construir intencionalmente na sua mente, através da percepção de sinais impressos (processamento bottom-up) e da ajuda de elementos não verbais (processamento topdown), uma substância de conteúdo similar ao que o escritor queria expressar através de uma mensagem verbal (POERSCH, 2002, apud LIMA, 2012, p. 88). Na perspectiva posta pelo professor, o significado é: [...] o significado é construído através dos dados do texto percebidos pelos olhos, que são transmitidos pelo nervo óptico até o cérebro. No cérebro, esses dados, juntamente com informações previamente armazenadas, começam a ser processados. Caso não haja informações no cérebro do leitor que possam ser ativadas durante a leitura, ele fará novas conexões que permitam depreender o significado que o escritor quis passar com o texto. Contudo, para isso, o leitor precisa ter um conhecimento prévio que permita que ele faça essas novas conexões (BORBA, 2007, apud LIMA, 2012, p. 88). Como se pode perceber, as concepções de leitura convergem para a mesma direção: ler é um processo cognitivo que envolve um escrito, um texto e um leitor. O sucesso desse processo está em o leitor conseguir reconstruir um significado mais próximo possível do significado que o escritor quis passar. É importante que o professor leve em conta o conhecimento prévio do aluno, seus interesses, o objetivo da leitura e a motivação, pois, caso contrário, o leitor pode não ativar as informações necessárias para que a compreensão aconteça, comprometendo a leitura. Pensando no sujeito que está na sua frente, na sua sala de aula, você poderá elaborar atividades de leitura que auxiliarão seus(suas) alunos(as) a desenvolverem esta habilidade fundamental para o convívio em sociedade. Para isso, você deve oferecer situações- problemas, nas quais obstáculos na leitura trazem à consciência, através de estratégias, a leitura (KATO, 1999, apud LIMA, 2012, p. 88). 5.1 Estratégias de leitura Para tratar e compreender das estratégias de leitura, abordamos uma breve reflexão de Kleiman, sendo: [...] não seriam as tentativas de ensino de leitura incoerentes com a natureza da atividade, uma vez que a leitura é um ato individual de 26 construção de significado num contexto que se configura mediante a interação entre autor e leitor, e que, portanto, será diferente, para cada leitor, dependendo de seus conhecimentos, interesses e objetivos do momento? (KLEIMAN, 1993, apud LIMA, 2012, p. 89). Para o autor supracitado, levando em consideração uma prática tradicional de leitura, que privilegia o professor, essas tentativas são incoerentes. Por outro lado, se considerarmos tais tentativas como ensino de estratégias de leitura, de desenvolvimento de habilidades linguísticas, essas tentativas são válidas. No entendimento de Goodman, uma estratégia pode ser um bom método para obter, avaliar e utilizar informação. Os leitores desenvolvem estratégias para trabalhar com o texto de forma a construir significado ou compreendê-lo, e isso acontece através da leitura, por meio das seguintes estratégias básicas: a) a escolha de índices mais importantes que o texto fornece, para que não ocorra sobrecarga do aparelho perceptivo; b) a predição, por meio do qual o leitor irá valer-se de todo o seu conhecimento prévio para ter uma noção que virá no texto e qual o seu significado; c) e a dedução a, segundo a qual os leitores acrescentam a informação disponível, recorrendo ao seu conhecimento conceptual e linguístico. A partir dessas estratégias básicas, os leitores controlam sua própria leitura de forma constante para assegurarem-se de que tenha sentido. (GOODMAN,1990) Podem-se classificar as estratégias de leitura em estratégias cognitivas, operações inconscientes do leitor, ou seja, ações que ele realiza para atingir algum objetivo de leitura sem estar ciente dele, e estratégias metacognitivas, operações realizadas com algum objetivo em mente, sobre o qual o leitor tem controle consciente. A leitura é, assim, um processo que envolve um conjunto de estratégias cognitivas e metacognitivas de abordagem do texto. Logo, o ensino estratégico de leitura consiste na elaboração de estratégias metacognitivas e no desenvolvimento de habilidades verbais subjacentes aos automatismos das estratégias cognitivas (KLEIMAN, 1993, apud LIMA, 2012, p. 89). 27 5.2 Estratégias cognitivas de leitura O processo por meio do qual acontecem as estratégias cognitivas de leitura não se compõe por conhecimento reflexivo, uma vez que se dá de maneira automática. Portanto, não há que se falar em “desautomatização” e reflexão por parte do leitor experiente de como é que ele realiza as operações cognitivas. Nesse tipo de processamento do texto, as operações se apoiam no conhecimento das regras gramaticais (regras sintáticas e semânticas de nossa gramática interna) e no conhecimento do vocabulário (que subjaz ao reconhecimento instantâneo do texto. (KLEIMAN, 1993) 5.3 Estratégias metacognitivas de leitura O tratamento das estratégias metacognitivas de leitura é realizado por meio de algum processo consciente por parte do leitor para atingir seus objetivos de leitura. Nas palavras de Brown, citado por Leffa, “a metacognição trata do problema do monitoramento da compreensão feito pelo próprio leitor durante o ato da leitura”, o que envolve a habilidade de monitorar a própria compreensão e a habilidade de tomar as medidas adequadas para chegar à ideia principal. - Definir o objetivo de uma determinada leitura;- Identificar os segmentos mais e menos importantes de um texto; -Distribuir a atenção de modo a se concentrar mais nos segmentos mais importantes; - Avaliar a qualidade da compreensão que está sendo obtida da leitura; - Determinar se os objetivos de uma determinada leitura estão sendo alcançados; - Tomar as medidas corretivas, quando falhas na compreensão são detectadas; - Corrigir o rumo da leitura nos momentos de distração, divagações ou interrupções. (BROWN, 1980, apud LEFFA, 1996, p. 46). O leitor lê porque tem um objetivo em mente, e compreende ou não o que lê. Os procedimentos descritos por Brown auxiliam o leitor por meio de uma atividade consciente de leitura. Caso ele não compreenda o que está lendo, recorre a um desses vários procedimentos na busca da compreensão. (KLEIMAN, 1993) 28 É importante ressaltar que a atividade cognitiva se diferencia da metacognitiva pelo tipo de conhecimento utilizado para executar a atividade: declarativo ou processual. As atividades cognitivas envolvem o conhecimento declarativo, juntamente com consciência da tarefa a ser feita, como, por exemplo, fazer o resumo de um texto. Já o conhecimento processual, envolve, além da consciência da tarefa a ser feita, a consciência da própria consciência, ou seja, uma avaliação e um controle do próprio conhecimento, envolvendo não só o produto, mas o controle do processo para chegar ao produto. Portanto, as atividades cognitivas são aquelas que envolvem inconsciência do processo, não do resultado. 6 AS ESTRATÉGIAS DA COMPREENSÃO NA LEITURA A compreensão de um texto, pode as vezes se tornar um tanto complexo, uma vez que seu processo possuí diversas fases, que dependem de informações de várias origens, armazenada na “memória em longo prazo”. Entre as diversas fases, podemos citar algumas mais importantes: - A identificação das palavras, feita através do recurso ao léxico da língua usada; - A análise sintática do discurso, que fornece a sua estrutura linguística, expressa sob a forma de frases, e exige o recurso aos conhecimentos de gramática da língua; - A análise semântica do discurso, que dá acesso ao conteúdo conceptual e proposicional do discurso (ou seja, aos conceitos, às ideias e às ligações entre eles) e requer o recurso à memória semântica e ao “conhecimento do mundo” (vulgarmente designado pelo termo “experiência”); - A análise pragmática do discurso, que permite determinar o tópico/tema do discurso e requer a intervenção de elementos relacionados com o contexto extralinguístico, as expetativas do receptor do discurso em relação a este e o conhecimento da estrutura típica de diferentes tipos de textos; - A análise funcional do discurso, que permite ao receptor determinar as finalidades com que este foi produzido e agir em conformidade. (KINTSCH, 1977, apud SÁ, 2018, p. 13). Apesar de as várias etapas serem descritas separadamente, para facilitar a explicação do modo como o processo se desenrola, elas se desenvolvem de forma interativa. As etapas das estratégias, segundo Sá, são divididas da seguinte forma: 29 1. A pré-leitura, implicando: - A ativação de conhecimentos prévios sobre o tema abordado no texto, - A elaboração de previsões sobre o texto, - A formulação de hipóteses sobre o texto, - A formulação de questões sobre o texto; 2. A leitura, pressupondo: - A leitura atenta do texto, - O ajustamento da velocidade de leitura, - Sublinhar elementos do texto, - Tirar notas sobre o texto, - A elaboração de inferências, - O recurso ao contexto para descobrir significados de palavras/expressões desconhecidas, - A paráfrase de excertos do texto, - Pensar em voz alta, - A leitura em voz alta de passagens que não se está a compreender, - O confronto entre as previsões feitas antes da leitura e a informação recolhida durante a leitura; 3. A pós-leitura, exigindo: - A realização de uma síntese do que foi compreendido, - A releitura do texto, que pode ser necessário fazer várias vezes, - A consulta de várias fontes de informação (nomeadamente o dicionário) e/ou a realização de pesquisa online, para tirar dúvidas, - A apreensão das ideias veiculadas pelo texto, - A identificação das ideias principais do texto, - A identificação do tipo/gênero textual. (SÁ, 2014) Essas estratégias e etapas que levam à construção de uma imagem mental da leitura também devem ser consideradas na abordagem didática. 7 PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LEITURA E ESCRITA Ler e escrever são processos complexos, então um precede o outro. Esses processos incluem prover comunicação ao indivíduo, bem como construir seu conhecimento do mundo no qual ele é inserido. É fundamental que o indivíduo desenvolva inicialmente a habilidade de leitura para poder desenvolver a escrita, ou seja, a leitura é essencial para a aquisição da palavra escrita. A criança, portanto, para realizar a leitura e a escrita, utilizará duas ações, presentes na aquisição dessas ferramentas: a decodificação e a decifração. A decodificação nada mais é do que determinar o formato gráfico de acordo com seu som. Isso implica poder reconhecer o sinal gráfico, bem como o áudio correspondente. Posteriormente, o indivíduo consegue distinguir por meio das palavras, letras, ou até mesmo por sílabas, a forma gráfica do texto, a partir do seu som. 30 Durante a leitura, a decodificação faz parte desse processo, permitindo a compreensão do significado do texto. Assim, ao realizar a leitura, o indivíduo compensa a ideia central do texto, oferecendo uma decodificação. [...] além da compreensão que se dá ao sujeito mediante a uma leitura, o mesmo decodificará as implicações contidas no texto, de modo que ao refletir acerca disto consequentemente proporcionará a construção do próprio conhecimento e opinião a respeito do que foi/será lido. O autor ainda fala que na ausência da decifração ocasiona uma leitura inadequada , assim como também sem a decodificação e os demais instrumentos referentes à interpretação, se torna desinteressante por parte do leitor, não gerando deste modo o conhecimento necessário. (CAGLIARI, 1985, apud STAMPA, 2009, p.43). O processo de aquisição da leitura e da escrita na criança acontece em três momentos. De acordo com Frith (1985,1990), o sujeito passa pelo estágio logográfico, o alfabético e ortográfico. a) o logográfico, decorre da leitura a partir de imagens e logotipos, onde possibilitando assim que a criança entenda ou decodifique as representações dos desenhos; b) o alfabético pode ser compreendido como o uso da rota fonológica por meio do qual a criança faz uma associação da escrita com o som, ou seja, a decodificação grafofonêmica; c) o terceiro e último estágio, o ortográfico, utiliza-se da rota lexical, onde já estão armazenadas algumas palavras, de modo que propicia ao indivíduo uma leitura direta da palavra. O estágio alfabético é essencial, pois nele, o sujeito consegue dar significado ao sinal gráfico atribuindo um som a este. Esta etapa permite que a criança leia representações de letras e números, bem como sílabas e palavras, para que os alunos possam associar os sons das sílabas e palavras à sua forma gráfica. Desta forma, além da criança identificar as imagens e as figuras, também conseguirá vincular a imagem a sua escrita. O estágio ortográfico deve ser aplicado de forma contínua, uma vez que o mesmo pode sofrer variações ao longo da vida do aprendiz. Em relação à criança, o estágio ortográfico acontece de forma automatizada, uma vez que no ato ler, acontece um processo de acomodação das palavras, facilitando a memorização. Segundo Palitot et al., (2016), 31 Utiliza-se a rota lexical quando fazemos a leitura de palavras familiares que ficaram armazenadas na memória ortográfica em decorrência de nossas experiências repetidas de leitura. Denominamos está memória estabelecida de léxico de input visual ou sistemade reconhecimento visual das palavras. Dentro de um contexto de leitura, pode-se encontrar a necessidade do uso das duas rotas de processamento, dependendo do tipo de palavra que encontramos. Nas crianças em processo de alfabetização é sempre importante que haja o estímulo das duas rotas, para isto, atividades devem ser desenvolvidas com o objetivo de promover o uso efetivo de ambos os processos: Fonológico e Lexical. (PALITOT, 2016, apud SILVA, 2016, p. 7). A linguagem pode ser vista como uma universidade onde o indivíduo deve compreender por meio de sinais de voz, enquanto a língua, é um meio específico da linguagem. Além disso, a escrita representa uma forma predominante de linguagem, portanto, exige que o indivíduo seja hábil em lembrar ideias, bem como em estruturá-las ou organizá-las em uma sequência. (FÉLIX, 2008) Todavia, segundo o mesmo autor supracitado, não se deve pensar nesses processos de forma diferenciada, uma vez que eles se relacionam de maneira peculiar. Nas palavras de Ferreiro e Teberosky: [...] para o desenvolvimento da escrita foram definidos cinco níveis, são estes: nível pré-silábico, silábico, silábico-alfabético, alfabético e ortográfico. Estes, no entanto, apresentam de com se dá o crescimento da escrita no indivíduo, até que o mesmo esteja apto para desenvolver a linguagem escrita. Sendo assim inicialmente dar-se-á as primeiras garaturjas, em seguida passará a compreender que há uma correlação da fala ou sonoridade das palavras com a escrita contendo uma forma gráfica, posteriormente passarão a conhecer e escrever sílabas, logo a criança passará a construir palavras, bem como fazer a leitura da linguagem escrita. Contudo quando o indivíduo obtém êxito no desenvolvimento da linguagem escrita sucederá o último estágio, o qual implicará na forma concreta da escrita. (FERREIRO, 1970, apud PALITOT, 2016). A criança no nível pré-sílaba ainda não correlaciona a pronúncia com sua forma gráfica, pois ela apenas escreve através de rabiscos, desenhos e letras aleatórias. Conforme Nogueira e Silva, neste nível, “a criança representa traços típicos da escrita e podem aparecer tentativas de correspondência entre a escrita e o objeto: espera que a escrita dos nomes esteja relacionada ao objeto e proporcional ao seu tamanho”. (NOGUEIRA E SILVA, 2014) Em relação ao nível silábico: No nível silábico, a criança já começa a ter consciência de que existe uma relação entre fala e escrita, entre os aspectos gráficos e sonoros 32 das palavras, tentam dar valor sonoro a letras e sinais para representar as palavras. Para cada sílaba pronunciada o individuo escreve uma letra (uma letra para cada sílaba), ou para cada palavra numa frase dita. Os aspectos qualitativos que faz referências à diferenciação das letras utilizadas e os aspectos quantitativos que se referem aos números de letras utilizadas são presenças marcantes nessa etapa. (BARRETO, 2004, apud SILVA, 2016, p. 8). Quando é ultrapassada fase silábica, e a criança passa para o silábico- alfabético, acontece uma associação das letras com o som da mesma, e deste modo, acompanhada por um profissional, esta terá conhecimento de que a junção de duas ou três letras apresentará outro fonema. Dessa forma, são adotadas as sílabas simples e posteriormente as sílabas complexas, com a finalidade de que a criança reconheça que a junção destas sílabas forma as palavras. A fase silábico-alfabético é caracterizada por uma escrita no qual a criança começa escrevendo apenas algumas sílabas. Posteriormente, conforme a criança entende que a sílaba é composta por duas letras, e a partir delas se formam as palavras, têm-se um significado para elas. Contudo, se trata de uma fase onde ainda existe uma certa dificuldade em se organizar as palavras de forma contínua. O nível alfabético, no entanto, consiste na associação grafofonêmica, de modo que a criança consegue correlacionar o som a sua escrita, a mesma é capaz de representar a forma gráfica ao ouvir a palavra. Sendo assim a mesma é hábil a construir palavras através das representações gráficas silábicas. (BARRETO, 2004, apud SILVA, 2016, p. 9). 8 AS ESTRATÉGIAS DA EXPRESSÃO/PRODUÇÃO ESCRITA Yves Reuter diz que alguns aspetos são essenciais para a existência da expressão/produção escrita, e que elas dependem ainda de três operações: 1. A planificação, responsável: - Pela concepção do texto, isto é, pela ativação, na memória, das informações pertinentes para a sua elaboração, - Pela sua organização, ou seja, pela ordenação e hierarquização das informações ativadas, - Pela sua adequação ao público a quem se destina; 3. A textualização: - Ligada à redação propriamente dita, - Responsável pela gestão dos constrangimentos textuais globais e locais, que asseguram a coerência e a coesão do texto produzido; 2. A revisão, que conduz: 33 - À releitura crítica do texto produzido, - À detecção dos problemas, - À sua resolução. (REUTER, 1996, apud SÁ, 2018, p. 15). Estas operações são todas recorrentes, isto é, podem repetir-se e surgir em ordens diferentes, o que aumenta as possibilidades de interação entre elas. O contributo dado pela reflexão dos escritores sobre a sua prática sublinha a importância de alguns aspetos da escrita que qualquer “escrevente” precisa de ter em conta. A influência exercida pelas condições sócio-económico-pragmáticas sobre o trabalho de escrita; - O tempo, que apresenta várias dimensões (documentação, maturação, a sua duração, a correção, entre outras); - A importância da releitura e da correção; - O papel da leitura para a sua construção; - Os papéis relativos do impulso para a escrita e do trabalho sobre a escrita. (REUTER, 1996, apud SÁ, 2018, p. 16). 9 CARACTERÍSTICAS DA LÍNGUA FALADA E DA LÍNGUA ESCRITA Muito se discute a respeito das distinções entre língua falada e língua escrita. A visão dicotômica sobre as duas espécies tem sido criticada, uma vez que pode gerar “uma postura preconceituosa em relação ao texto falado, reforçando a ideia de que a fala é o lugar do caos, do erro, da desestruturação, da desordem, enquanto a escrita é vista como o lugar da ordem e do bom uso da língua” (CHAVES, 2002, p.31). Segundo os pressupostos científicos, a fala e escrita não devem ser comparadas em relação à superioridade ou inferioridade. Não obstante isso, sob o ponto de vista mais central da realidade humana, seria possível definir o homem como um ser que fala e não como um ser que escreve. Entretanto, isto não significa que a oralidade seja superior à escrita, nem traduz a convicção, hoje tão generalizada quanto equivocada, de que a escrita é derivada e a fala é primária. A escrita não pode ser vista como uma representação da fala [...]. (MARCUSCHI, 2001, apud DURTE, 2014, p. 3). Na verdade, as distinções entre elas são apenas estruturais, como por exemplo a forma de aquisição, as condições de produção, entre outros. 34 Neste mesmo sentido, Chaves afirma que “é mais conveniente relacioná- las dentro de um contínuo sócio-histórico de práticas sociais que envolvem o uso da língua e não na relação dicotômica de dois polos opostos”. (CHAVES, 2002) Já Marcuschi diz que: [...] “as diferenças entre fala e escrita se dão dentro do continuum tipológico das práticas sociais de produção textual e não na relação dicotômica de dois pólos opostos”. (Marcuschi, 2001, apud DURTE, 2014, p. 3). Percebe-se assim, que o autor propõe um sistema que separa as distinções entre língua falada e língua escrita, demonstrando um “ponto de vista sóciointeracional”, em que os gêneros de texto são considerados como mais ou menos falado/escrito. Segundo os ensinamentos de Burgo, Storto e Galembeck, frequentemente citados por Duarte: “[...] existem gêneros da escrita que se situam mais próximos ao polo de um determinado gênero da fala, assim como há gêneros da fala que se situam mais próximosde um determinado polo da escrita, havendo, ainda, gêneros mistos”. (BURGO, 2013, apud DURTE, 2014, p. 3). Os diversos contextos de realização da fala e da escrita explicam suas principais características. Partindo do pressuposto de que a língua escrita não é a simples transcrição da falada e que a língua falada é a conclusão de uma tarefa cooperativa, o entendimento de Hilbert é que “a dialogicidade instaurada pela situação face a face que caracteriza a língua falada” mostra-se oportuna. Contudo, nem toda interação falada acontece face a face, é o caso de algumas interlocuções mediadas por computador ou realizadas por telefone. (HILBERT 1991 apud RODRIGUES, 2001, p.31) É importante lembrar, que toda língua varia de acordo com a situação em que é utilizada. Existem escritas informais e falas formais; logo, cada contexto de produção e de realização irá determinar a forma mais adequada a ser empregada. A organização do texto escrito inclui tanto a ordem das informações, quanto a escolha de termos, formas morfológicas e sintáticas. Acerca deste assunto, Chafe nos diz que a “produção da língua escrita se faz lentamente, 35 deliberadamente, com possibilidade de revisões e correções”. (CHAFE, 1988 apud CAMPOS, 1989,) Há uma forte tendência do texto escrito ser mais formal, planejado e livre de repetições, e essas características são mais difíceis de observar no texto falado, que são marcadas pelo planejamento quase simultâneo com fala e repetição de termos. Essas tendências estão diretamente relacionadas às condições produtivas de cada modo de uso da língua: Na fala, os usuários estão em presença, e a construção do enunciado se desenvolve ao mesmo tempo em que os interlocutores interagem. Na escrita, os usuários estão em ausência e o enunciado se constrói isoladamente, ou seja, o leitor não participa da elaboração do texto. (CHAVES, 2002, apud DURTE, 2014, p. 4). No decorrer do tempo, acontece um distanciamento entre o ato de elaboração do texto por seu produtor e o ato de leitura por seu destinatário. Dessa forma, a língua escrita deve compensar essa ausência, fornecendo, “linguisticamente, informação a ela equivalente, ou, em tese, precisa haver a recuperação linguística do componente situacional” (HALLIDAY, 1974 apud RODRIGUES, 2001, p.26-27). No entanto, essa distância entre o escritor e o leitor não exclui completamente os interlocutores da obra. Apesar de não estarem envolvidos no processo de construção, os leitores podem lidar com questões como estilo, linguagem e gênero, que são as condições básicas para que o texto atinja plenamente o seu público-alvo. O escritor, livre das pressões do tempo, tem condições de se abastecer de muitas informações sobre o assunto que pretende desenvolver, assim como para se dedicar a uma organização mais cuidadosa dos procedimentos linguísticos que vai adotar no seu texto escrito. (RODRIGUES, 2001, apud DURTE, 2014, p. 5). A seguir mostramos um quadro comparativo, elaborado por Burgo, Storto e Galembeck. Através dele é possível perceber as condições de produção e de recepção diferentes nas espécies, e, por isso, suas estruturas também apresentam distinções. 36 (BURGO, STORTO E GALEMBECK, 2013, apud DURTE, 2014, p. 5). Através do quadro, percebe-se que as diferenças entre fala e escrita são resultados da maior ou menor pressão que foi exercida sobre as condições físicas de comunicação, que, em decorrência, atingem diretamente a organização da informação. É importante destacar, que a língua falada, registra dois períodos fundamentais da linguagem, que são o planejamento, e a execução verbal. A língua falada é planejada localmente, elaborada passo a passo. Sendo assim, o planejamento e a realização do discurso acontecem no mesmo tempo ou são praticamente concomitantes” (RODRIGUES, 2001). 37 Na produção da língua falada, a quase simultaneidade entre planejamento e realização da mensagem ocasiona a presença de marcas de planejamento na superfície textual, tais como: pausas, falsos começos, alongamento de vogais, repetições, hesitações, entre outros. A comunicação oral corresponde a uma atividade social e, como tal, requer a coordenação de esforços de, pelo menos, dois interlocutores com objetivos comuns. Observando as condições de produção de cada atividade interacional, constatamos que a alternância de turnos caracteriza a língua falada. Depois de explicar brevemente as características da linguagem falada e escrita, algumas diferenças estruturais entre os dois métodos são destacadas. Assim, pode-se entender que se trata de expressões linguísticas que ocorrem em diferentes situações e com diferentes finalidades. 10 O ENSINO DA PRODUÇÃO DE TEXTOS A concepção de linguagem que hoje orienta a metodologia de trabalho com a língua é a do interacionismo ou sociointeracionismo. Os documentos que fundamentam o trabalho do professor reforçam tal perspectiva. De acordo com os PCN: Linguagem aqui se entende, no fundamental, como ação interindividual orientada por uma finalidade específica, um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos de sua história. Os homens e as mulheres interagem pela linguagem tanto numa conversa informal, entre amigos, ou na redação de uma carta pessoal, quanto na produção de uma crônica, uma novela, um poema, um relatório profissional (BRASIL, 1998) Como se vê, adota-se, nesse documento, a compreensão de que a linguagem se efetua na relação de interação por meio dos diversos gêneros que circulam socialmente. Ainda, segundo o documento, O discurso, quando produzido, manifesta-se linguisticamente por meio de textos. O produto da atividade discursiva oral ou escrita que forma um todo significativo, qualquer que seja sua extensão, é o texto, uma seqüência verbal constituída por um conjunto de relações que se estabelecem a partir da coesão e da coerência. Em outras palavras, um texto só é um texto quando pode ser compreendido como unidade significativa global. Caso contrário, não passa de um amontoado aleatório de enunciados (BRASIL, 1998) 38 É possível perceber, que a interação se evidencia por meio de textos que circulam de maneira social, e não através de palavras ou frases sem coerência. Neste mesmo sentido, as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do estado do Paraná afirmam que: As Diretrizes ora propostas assumem uma concepção de linguagem que não se fecha “na sua condição de sistema de formas [...], mas abre-se para a sua condição de atividade e acontecimento social, portanto estratificada pelos valores ideológicos” (RODRIGUES, 2005, p. 156). Dessa forma, a linguagem é vista como fenômeno social, pois nasce da necessidade de interação (política, social, econômica) entre os homens (PARANÁ, 2008, apud ROSA, 2012, p.5). As Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE) adotam uma concepção de linguagem sociointeracionista. Elas entendem ainda, que de maneira geral, mesmo que inconsciente, a relação entre humanos acontece trocas positivas. Trocas que só são possíveis na interação com o outro, e que só se constituem à medida que há uma resposta, ou uma atitude equivalente por parte desse “outro”. Seguindo o mesmo entendimento, o Currículo Básico para as Escolas Públicas Municipais da região Oeste do Paraná também fundamenta sua proposta numa visão socioiteracionista da linguagem, sendo: Pensar o ensino de Língua Portuguesa implica pensar na realidade da linguagem como algo que permeia todo o nosso cotidiano, articulando nossas relações com o mundo e com o outro, e com os modos como entendemos e produzimos essas relações. A percepção da natureza histórica e social da linguagem, estabelecida nos meios de produção, conduz-nos a compreender seu caráter dialógico, no sentido de que tudo o que dizemos, fazemo-lodirigido a alguém, a um interlocutor concreto, quer dizer, sócio historicamente situado. Em decorrência do dialogismo que constitui a linguagem, a língua configura-se como resultante de um trabalho coletivo, portanto, também sócio-histórico. Sob esse prisma, os sentidos passam a ser produzidos na relação estabelecida entre os homens, conforme suas condições de produção (AMOP, 2007, apud ROSA, 2012, p.5). Os documentos norteadores para o ensino de Língua Portuguesa pautam- se na teoria dos gêneros discursivos (BAKHTIN, 1992). Segundo os mesmos documentos, o ensino da Língua Portuguesa deve-se começar pelo texto e aplicar os seguintes tópicos: oralidade, leitura e escrita. Sendo assim, a melhor maneira de aplicação seria envolvendo os alunos em situações concretas de uso da língua, para que, de maneira consciente, possam escolher os meios de chegar onde desejam. 39 É necessário ter a consciência de que a escola é um “autêntico lugar de comunicação” e de que as situações escolares “são ocasiões de produção e recepção de textos” (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 78). 11 PRODUÇÃO TEXTUAL EM LÍNGUA MATERNA Por muito tempo, o objetivo principal da produção de textos em sala de aula era fazer com que os alunos praticassem sua escrita, seus conhecimentos gramaticais e copiassem o estilo e a linguagem dos escritores e autores dos grandes clássicos da literatura brasileira e popular. Contudo, antes o processo de ensino e aprendizagem não era voltado à perspectiva interacional e discursiva da língua, e sim dos aspectos lexicais e formais do texto. Durante muito tempo, as atividades em salas de aula de permaneceram desta forma, sem objetivo e desprovida de função social, exercendo apenas algumas correções ortográficas e gramaticais. Considerando essas falhas na produção de textos nas escolas do Brasil, entendemos que é necessário criar oportunidades para que os alunos se tornem verdadeiros usuários da língua. Portanto, os professores devem ensinar, nas escolas, a escrita como instrumento de intervenção social, afinal, a criação de textos, ministrados em instituições de ensino, segundo os PCN, deve atender a este propósito, sempre respeitando as diferentes condições de produção de texto. (BRASIL, 1998) Deve-se lembrar, que a escrita envolve o trabalho com cartas, bilhetes, e outros gêneros, e não somente as tarefas da sala de aula. j Finalidade; Especificidade do gênero; Lugares preferenciais de circulação; Interlocutor eleito; Utilização de procedimentos diferenciados para a elaboração do texto: Estabelecimento de tema; Levantamento de idéias e dados; Planejamento; Rascunho; Revisão (com intervenção do professor); Versão final; Utilização de mecanismos discursivos e linguísticos de coerência e coesão textuais, conforme o gênero e os propósitos do texto, desenvolvendo diferentes critérios: 40 De manutenção da continuidade do tema e ordenação de suas partes (BRASIL, 1998) O que determina o documento acima, é basicamente manter a função comunicativa e social. Quando um texto é produzido, é feito para alguém, e com um determinado assunto, um objetivo. Segundo os ensinamentos de Dolz, Gagnon e Decândio: A contextualização consiste em interpretar a situação de comunicação de modo a produzir um texto coerente. O texto é uma unidade coerente, isto é, um todo que faz sentido na situação. A coerência resulta de um julgamento geral para o conjunto do texto em relação à tarefa pedida ou à pertinência da situação. Ele é considerado coerente em função de sua adaptação à situação de comunicação, do efeito que suscita, de sua orientação argumentativa e da presença de um fio condutor que lhe da coesão e unidade (DOLZ; GAGNON; DECÂNDIO, 2010, apud ROSA, 2012, p.7). Podemos então perceber, que um texto deve seguir determinados parâmetros para que esteja inserido em um gênero de comunicação contextualizada, como por exemplo para quem escreve, e com quais objetivos. A escrita, portanto, não é compreendida em relação apenas à apropriação das regras da língua, nem tão pouco ao pensamento e às intenções do escritor, mas sim em relação à interação escritor-leitor, levando em conta as intenções daquele que faz uso da língua para atingir o seu intento sem, contudo, ignorar que o leitor, com seus conhecimentos, é parte constitutiva desse processo. O ato de escrever se trata de uma atividade intencionalmente definida, em que cada texto cumpre um determinado objetivo. Sendo assim, podemos dizer que escrever algo envolve além das especificidades linguísticas, outras pragmáticas, culturais, cognitivas e discursivas. (ANTUNES, 2005) A partir de uma dedução de que o texto é materialização do discurso, deve-se lembrar que o mesmo não pode ser entendido apenas como um conjunto de palavras e frases articuladas entre si, mas também como uma forma de manifestação das ideias que tem um autor, e de como elas serão interpretadas pelo leitor de acordo com seus conhecimentos e contexto. Nas palavras de Geraldi, 41 A produção de textos (orais e escritos) como ponto de partida (e ponto de chegada) de todo o processo de ensino/aprendizagem da língua. E isto não apenas por inspiração ideológica de devolução do direito à palavra às classes desprivilegiadas, para delas ouvirmos a história, contida e não contada, da grande maioria que hoje ocupa os bancos escolares. Sobretudo, é porque no texto que a língua – objeto de estudos – se revela em sua totalidade quer enquanto conjunto de formas e de seu reaparecimento quer enquanto discurso que remete a uma relação intersubjetiva constituída no próprio processo de enunciação marcada pela temporalidade e suas dimensões. (GERALDI, 1997, apud RAMOS, 2016, p. 6). Além dos elementos já citados, é essencial conhecer os elementos constitutivos que compõe o texto, para posteriormente ensinar ao aluno, de modo que ele perceba que um texto só transmite a ideia final quando está coerente. Segundo Geraldi, para produzir um texto é necessário que, a) se tenha o que dizer; b) se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer; c) se tenha para quem dizer o que se tem a dizer; d) o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz (ou, na imagem wittgensteiniana, seja um jogador no jogo); e) se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d). (GERALDI, 1995, apud RAMOS, 2016, p. 6). Todo texto é constituído por alguns aspectos formais como estrutura, elementos que estabelecem relação entre si. Dentre eles estão à coesão e a coerência, que dão sentido e forma ao texto. A coesão de um texto pode levar a uma sequência lógico-semântica de diversas partes do texto, levando ao aluno perceber que essa mesma coesão aconteceu, muitas vezes, quando foi reiterado algo que já foi dito, ou até mesmo quando houve substituição de uma palavra por outra. Determinados termos só podem ser entendidos mediante à uma vinculação com outros termos do texto, este é o caso por exemplo da anáfora e da catáfora. Após as substituições lexicais é estabelecida uma relação de sinonímia, antonímia, hiponímia ou hiperonímia, isso acontece até mesmo quando há a repetição da mesma unidade lexical (mesma palavra). Os elementos coesos de um texto permitem a articulação e a conexão entre suas diferentes partes, bem como o fluxo de ideias. Ao fazer o uso de alguns conectores como conjunções, preposições e advérbios, fica estabelecida uma relação de dependência e ligação entre termos. Para que um texto seja de fácil compreensão e tenha uma 42 sequência lógica e linear dos acontecimentos, se faz necessário ainda utilizar de forma correta os tempos verbais. Porém, um texto pode estar perfeitamente coeso, mas pode apresentar incoerente se não forem atendidos alguns princípios básicos no momento da produção. Um texto não pode ser composto por ideias que são contraditórias,ou que mudem o assunto antes mesmo de terminar outro. Ou seja, será incoerente quando não construir uma informação sólida, ou até mesmo quando houver repetição em excesso. Outros aspectos importantes para coerência textual são a continuidade temática, que acontece quando não se faz a correlação entre partes do texto e a quebra da progressão semântica, que ocorre quando não há a introdução de novas informações para dar sequência significativa. Dessa forma, a coesão e a coerência devem ser compreendidas como resultado da junção de vários significados com o objetivo de formular sentidos e processos cognitivos para os leitores do texto. O mais importante, é aplicar as práticas de produção com objetivo de formar escritores competentes, que sejam capazes de produzirem textos coerentes e coesos. Para a formação de escritores competentes, é necessária uma constante prática de produção textual em sala de aula, tomando por base a concepção sociointeracionista, a qual norteia a proposta de ensino de língua portuguesa, reforçando a natureza social da linguagem como uma verdadeira necessidade histórica do homem de interação social. Costumou-se designar por coesão a forma como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se interligam se interconectam, por meio de recursos também linguísticos, de modo a formar um “tecido” (tessitura), uma unidade de nível superior à da frase, que dela se difere qualitativamente Sendo assim, antes de propor uma produção textual são fundamentais alguns encaminhamentos para que seja garantido que o aluno vivencie uma situação real de interação. (Koch, 2009, apud RAMOS, 2016, p. 8). Segundo Costa-Hubes, [...] precisamos ter clareza dos objetivos que orientam o trabalho com a língua, dos enunciados como forma de interação, dos gêneros como o elemento organizador dos enunciados e, nesse contexto, do texto como a materialidade discursiva da língua. O encaminhamento que precede uma situação de produção escrita, por exemplo, deve organizar-se a partir desses pressupostos norteadores, pois são as condições de produção que fulcram o que e como escrever naquele 43 contexto significativo. (COSTA-HUBES, 2012, apud RAMOS, 2016, p. 8). Portanto, o domínio da escrita tem origem da produção de diversos gêneros, resultante das diversas experiências sociais. A aplicação das propostas de produção em sala de aula devem ser as mais significativas, baseadas em uma situação de comunicação e não apenas uma tarefa em que o professor corrigi e atribuí uma nota. Geraldi destaca que “é preciso lembrar que a produção de textos na escola foge totalmente ao sentido de uso da língua: os alunos escrevem para o professor (um único leitor, quando lê os textos) ”. (GERALDI, 2006) O conhecimento linguístico é elaborado por meio de práticas de leitura e escrita que são ensinados na escola, dessa forma, deve-se aplicar a produção após um conhecimento acerca do gênero que irá ser produzido. É importante também, que além de toda a estrutura, o aluno tome conhecimento dos aspectos da língua que estuda, e das normas que a compõe. No processo de ensino-aprendizagem, é importante ter claro que quanto maior o contato com a linguagem, nas diferentes esferas sociais, mais possibilidades se têm de entender o texto, seus sentidos, suas intenções e visões de mundo. A ação pedagógica referente a linguagem, portanto, precisa pautar-se na interlocução, em atividades planejadas que possibilitem ao aluno a leitura e a produção oral e escrita, bem como a reflexão e o uso da linguagem em diferentes situações. Desse modo, segure-se um trabalho pedagógico que priorize práticas sociais. (PARANÁ, 2008, apud RAMOS, 2016, p. 9). O ensino de Língua portuguesa parte da perspectiva de que os alunos das séries finais do Ensino Fundamental dominem o sistema da escrita, restando apenas particularidades a serem fixadas nas etapas de ensino seguintes. Porém, a realidade presente em sala de aula, principalmente com as práticas de produção textual, revela defasagens, por parte dos alunos, no domínio da fala e da escrita. Dessa forma, o domínio do código escrito e a compreensão de sua estrutura, é um grande desafio para a escola. E se a criança aprende a falar sem nenhum cuidado especial, a não ser o de colocá-la em contato com falantes, o mesmo não acontece com relação à escrita, que resiste vigorosamente a qualquer desabrochar espontâneo, e, não raro, não desabrocha jamais. (PÉCORA, 2000, apud RAMOS, 2016, p. 9). 44 Dentro deste contexto, é importante compreendermos também que as relações existentes entre fala e escrita estão relacionadas à Fonética e Fonologia, as quais produzem implicações para a variação linguística, isto é, elementos da fala relacionam-se diretamente com a escrita. Sendo assim, o professor deve ter conhecimento sobre a fonética e fonologia da língua para entender o motivo dos seus alunos cometerem determinados erros ortográficos. Através de uma sequência de atividades com relatos de experiências vividas, que abordará desde o relato oral, até o registro escrito, o trabalho, aqui proposto, pauta-se no estudo das reflexões sobre oralidade, leitura e escrita no ensino, bem como a importância de papel da escola para o domínio efetivo da linguagem em todas as suas modalidades. Nas diferentes situações e necessidades de uso da língua, as diferenças existentes entre as línguas, representam apenas formas de sua atualização distinta. Porém, o uso da língua coloquial sempre foi carregado de preconceito racial ou cultural, associado a uma maneira errada de se falar uma língua ou uma maneira de distinguir a língua das classes mais favorecidas das menos favorecidas. Segundo Azevedo e Tardelli (2004), Produzir um texto na escola é, pois, realizar uma atividade de elaboração que se apura nas situações interlocutivas criadas em sala de aula; é um trabalho de reflexão individual e coletiva e não um ato mecânico, espontaneísta ou meramente reprodutivo. (AZEVEDO; TARDELLI, 2004, apud RAMOS, 2016, p. 10). Dessa forma, o ensino de língua portuguesa deve respeitar as características presentes na fala do aluno e da sua comunidade, buscando aproximá-lo das variedades linguísticas pertencentes a cada gênero e sua esfera de produção, ou seja, real situação de uso da linguagem, levando-o a compreender que existem diferenças em relação à fala, visto que, cada lugar apresenta sotaques, palavras ou expressões próprias daquela região. Essas diferenças acabam por causar o surgimento de preconceitos, sendo então necessário desenvolver práticas visando a valorização da forma que o aluno pronuncia determinada língua. 45 Faraco assevera que: Do ponto de vista da ciência da linguagem, é preciso não confundir “diferença” com “erro”. A diversidade – sintática (isto é, da estrutura da sentença), morfológica (da forma das palavras), lexical (do vocabulário) e de todos os traços fonéticos da fala – é elemento inseparável de todas as línguas humanas. Não existe “língua única”. O “erro” é uma noção normativa que diz respeito à obediência às regras da chamada “língua padrão”, que, é claro, ninguém usa o tempo todo em todas as situações. (FARACO, 2003, apud RAMOS, 2016, p. 11). É preciso que o aluno compreenda que cada um de nós fala muitas línguas, pois em nossas conversas com amigos de todo dia, não nos expressamos da mesma forma que em nossas conversas com pessoas desconhecidas ou que exercem uma função de superioridade na sociedade. Nosso vocabulário varia de acordo com nosso interlocutor, processamos linguagens diferentes para atender as necessidades de comunicação. [...] um texto se constitui enquanto tal no momento em que os parceiros de uma atividade comunicativa global, diante de uma manifestação lingüística, pela atuação conjunta de uma complexa rede de fatores de ordem situacional, cognitiva, sociocultural e interacional,são capazes de construir, para ela determinado sentido. Portanto, a esta concepção subjaz o postulado básico de que o sentido não está no texto, mas se constrói a partir dele no curso de uma interação humana. (KOCH, 1997, apud RAMOS, 2016, p. 11). A língua escrita é um processo no qual o falante tem algo a dizer e o faz sempre em relação ao outro, ou seja, seu interlocutor, com uma determinada intenção. Portanto, o aluno precisa ter conhecimento claro de alguns aspectos: Para que escrever? Para quem? Quando? Onde? Sua desenvoltura deve ser pensada como um processo de comunicação. Em razão do objetivo pretendido (para que escrever?), do interlocutor/leitor (para quem se escreve?), do quadro espaciotemporal (onde e quando?) e do suporte de veiculação, o produtor elabora um projeto de dizer e desenvolve esse projeto, recorrendo a estratégias linguísticas, textuais, pragmáticas cognitivas, discursivas e interacionais, vendo e revendo no próprio percurso da atividade, a sua produção. (KOCH; ELIAS, 2010, apud RAMOS, 2016, p. 12). Neste contexto, a análise do texto e a sua organização linguística, permite ao professor explorar aspectos de ortografia e gramática, bem como a função que cada palavra desempenha na atribuição de sentido ao texto, permitindo assim que os alunos desenvolvam a reflexão sobre a sua própria escrita. 46 12 GÊNEROS TEXTUAIS E SEQUÊNCIAS TEXTUAIS OU TIPOLÓGICAS Os gêneros textuais são entidades comunicativas, materializados por textos orais ou escritos. Estes podem ser vistos como unidades de comunicação e interação quando se objetiva alcançar determinados propósitos. Tal concepção nos motiva a ver os textos como formas discursivas, capazes tanto de se adequarem às situações como de modificá-las de um modo ou de outro. Mikhail Bakhtin se refere aos gêneros textuais como gêneros do discurso. Ele ressalta que todas as práticas da atividade humana, por mais diversas que sejam, estão sempre ligadas ao uso da língua. O autor reconhece uma grande variedade dos gêneros orais e escritos, tais como: a “réplica do diálogo cotidiano, o relato familiar, a carta, a ordem militar, o repertório das declarações públicas” dentre outros. (BAKHTIN, 1997) Nesse sentido, a diversidade textual em suas especificidades possibilita aos alunos diferentes gêneros do discurso, criando condições para que eles construam os conhecimentos discursivos necessários para a produção de gêneros cada vez mais complexos. Ainda nos ensinamentos de Bakhtin: A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa. (BAKHTIN, 1997, apud MELO, 2017, p. 478). Assim, levando em conta que os gêneros do discurso são inúmeros em diversidade e que cada um deles está vinculado a uma situação social, o que leva a definir um gênero é, principalmente, o seu propósito e a sua função comunicativa. Como exemplo dos diversos gêneros textuais existentes, podemos citar os romances, as receitas culinárias, os informativos de um jornal, entre outros. Para Bakhtin, essas “são espécies relativamente estáveis de enunciados presentes em cada esfera comunicativa”. (BAKHTIN, 1997) O autor supracitado descreve ainda três elementos caracterizadores dos gêneros: o conteúdo temático, o estilo e a construção composicional. Esses três elementos são indissociáveis, visto que marcados pela condição específica de uma esfera de atividade humana. 47 Esses três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos de gêneros do discurso. (BAKHTIN, 1997, apud MELO, 2017, p. 479). Desse modo, o autor russo enfatiza os três elementos como características específicas dos gêneros do discurso. O conteúdo temático refere- se, principalmente, ao tema proposto no tipo de produção; o estilo diz respeito aos elementos linguísticos tais como: aspectos lexicais, fraseológicos e gramaticais. O autor define ainda os gêneros do discurso como primários e secundários. Os gêneros primários encontram-se em esferas de comunicação vinculadas às situações sociais cotidianas, como por exemplo o diálogo e a carta pessoal. Por outro lado, os gêneros secundários são constituídos em esferas mais complexas, elaborados a partir dos gêneros primários, assim como o romance, o teatro, o discurso científico e outros, ou seja, “aparecem em circunstâncias de uma comunicação cultural, mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente escrita: artística, científica, sociopolítica” (BAKHTIN, 1997). Segundo Marcuschi, os gêneros textuais devem ser vistos como eventos históricos, vinculados à condição social e cultural de um indivíduo. São fenômenos sociodiscursivos que têm um forte domínio discursivo sobre atividades humanas em qualquer situação comunicativa, ou seja, os gêneros textuais não são permanentes, mas sim entidades textuais, “maleáveis, dinâmicas e plásticas” (MARCUSCHI, 2002, p. 19). Sabendo que os gêneros correspondem a uma dada função comunicativa, muitos chegam a confundir gênero e tipo textual, passando a não compreender as finalidades e características fundamentais de ambos. Os tipos textuais estão relacionados às sequências linguísticas determinadas por aspectos sintáticos, lexicais, tempos verbais e relações lógicas. Adam (2008, p. 205) descreve cinco tipos de sequências textuais: narrativa, explicativa, descritiva, dialogal e argumentativa. Essas sequências 48 correspondem à elementos textuais complexos, formadas por um número limitado de proposições-enunciados, que são chamados de macroproposição. As sequências são unidades textuais complexas, compostas de um número limitado de conjuntos de proposições-enunciados: as macroproposições. A macroproposição é uma espécie de período cuja propriedade principal é a de ser uma unidade ligada a outras macroproposições, ocupando posições precisas dentro do todo ordenado da sequência (Adam, 2008, apud MELO, 2017, p. 479). Nesse sentido, as sequências são unidades estruturais que organizam as macroproposições. Estas combinam diversas proposições e características específicas, podendo constituir na organização do texto diferentes tipos de sequências. A sequência narrativa é constituída através do ato de contar histórias reais ou imaginárias, com a finalidade de manter o interlocutor atento ao que se narra; a sequência explicativa tem como principal finalidade justificar ou responder uma pergunta, com a intenção de apresentar razões acerca de uma questão inicial; a sequência descritiva é composta através da descrição de objetos e pessoas, de forma objetiva e subjetiva, caracterizada ainda pela ausência de ações; a sequência dialogal é apresentada em forma de textos materializados em forma de diálogos ou na forma de conversação. Além disso, é caraterizada pela sucessão de réplicas feitas por dois ou mais indivíduos; e a sequência argumentativa tem como finalidade defender uma opinião por meio da apresentação de argumentos para sustentação do ponto de vista. 49 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, C, S. G. À descoberta das narrativas clássicas da literatura infantojuvenil. Robinson Crusoé no 1º Ciclo do Ensino Básico. Relatório de estágio. Aveiro: Universidade de Aveiro. 2013. ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009. ANTUNES, I. Território dasPalavras: estudo do léxico em sala de aula. São Paulo, Parábola Editorial, 2012. BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 15 ed. Loyola: São Paulo, 1999. BAGNO, Marcos. A inevitável travessia: da prescrição gramatical à educação linguística. In:BAGNO; GAGNÉ; STUBBS. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo:Parábola Editorial, 2002 BAGNO, Marcos. 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