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LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA Prof. João Vitor Rodrigues de Souza LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Marília/SP 2023 “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 SUMÁRIO CAPÍTULO 01 CAPÍTULO 02 CAPÍTULO 03 CAPÍTULO 04 CAPÍTULO 05 CAPÍTULO 06 CAPÍTULO 07 CAPÍTULO 08 CAPÍTULO 09 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 14 08 25 39 56 70 87 105 121 136 153 168 188 204 220 INTRODUÇÃO AO DIREITO AMBIENTAL HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL INTRODUÇÃO AO DIREITO E SISTEMAS JURÍDICOS POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS RECURSOS HÍDRICOS E SANEAMENTO AMBIENTAL CONAMA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO CÓDIGO FLORESTAL LEGISLAÇÃO E GESTÃO PÚBLICA DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO POLÍTICA PÚBLICA POLÍTICAS E DESAFIOS CLIMÁTICOS PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 SUMÁRIO CAPÍTULO 15 234CENÁRIOS POLÍTICOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 INTRODUÇÃO O curso de Legislação Ambiental é uma disciplina abrangente que explora a complexidade do direito ambiental e seu impacto no cenário brasileiro. A disciplina de Legislação Ambiental no Brasil aborda o conjunto de leis, normas e regulamentos que visam proteger o meio ambiente e promover o desenvolvimento sustentável no país. O estudo dessa disciplina envolve a compreensão dos princípios, diretrizes e instrumentos jurídicos utilizados para regular atividades que impactam o ambiente, como a exploração de recursos naturais, a gestão de resíduos, a conservação da biodiversidade e a proteção dos recursos hídricos. O currículo da disciplina inclui a análise das principais leis ambientais brasileiras, como a Política Nacional do Meio Ambiente, o Código Florestal, a Lei de Crimes Ambientais e a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Além disso, são estudados tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário e que têm relação com o meio ambiente. Também serão discutidos sobre os órgãos e instituições responsáveis pela implementação e fiscalização das políticas ambientais, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e os órgãos ambientais estaduais. Ao todo, dividido em quinze aulas, o livro aborda desde o contexto histórico do direito ambiental até políticas públicas essenciais para o desenvolvimento sustentável. Cada aula oferece uma análise detalhada de temas fundamentais, incluindo legislação ambiental, unidades de conservação, resíduos sólidos, educação ambiental, e outros tópicos relevantes. A disciplina de Legislação Ambiental tem como objetivo capacitar os estudantes para compreender a complexa legislação ambiental do país, conhecer seus direitos e deveres em relação ao meio ambiente e entender como as questões ambientais estão interligadas com outros campos do direito e da sociedade. É uma área de estudo crucial para profissionais que atuam nas áreas de meio ambiente, advocacia ambiental, gestão pública, engenharia ambiental e outras áreas relacionadas à sustentabilidade e proteção do meio ambiente. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO AMBIENTAL Este capítulo explica que os problemas ambientais são inerentes à civilização desde os primórdios e precisam de uma gestão coletiva. Ele rastreia as questões ambientais e como as sociedades as administravam desde a Roma antiga até a Idade Média e depois até a industrialização. A crescente dimensão internacional dos problemas ambientais é discutida, bem como o ambientalismo emergente da década de 1960. A década de 1970 viu acordos regionais e internacionais assinados em relação a uma série de questões de poluição e conservação da natureza, mas houve desencanto na década de 2000, quando as leis ambientais começaram a ser vistas como uma ameaça ao crescimento econômico. Por fim, será também abordado aspectos relacionados ao direito ambiental internacional. 1.1 Contexto Histórico O direito ambiental é um termo coletivo que abrange aspectos do direito que fornecem proteção ao meio ambiente. Um conjunto relacionado, mas distinto, de regimes regulatórios, agora fortemente influenciados por princípios jurídicos ambientais, concentram-se na gestão de recursos naturais específicos, como florestas, minerais ou pesca. Outras áreas, como avaliação de impacto ambiental, podem não se encaixar perfeitamente em nenhuma das categorias, mas são componentes importantes do direito ambiental. Os primeiros exemplos de decretos legais destinados a preservar conscientemente o meio ambiente, para seu próprio bem ou prazer humano, são encontrados ao longo da história. No direito consuetudinário, a proteção primária encontrava-se na lei do incômodo, mas está só permitia ações privadas por danos ou liminares se houvesse dano à terra. Isso inclui, por exemplo, os impactos relacionados ao odor emanados de criações de porco, despejo de lixo ou danos causados pela explosão de barragens (ANTUNES, 2015). LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 ANOTE ISSO Direito consuetudinário consiste em um conjunto estabelecido de comportamento que pode ser objetivamente verificado dentro de um determinado ambiente social. A maioria das leis consuetudinárias lida com padrões da comunidade que foram estabelecidos há muito tempo em um determinado local. No entanto, o termo também pode se aplicar a áreas do direito internacional onde certos padrões têm sido quase universais em sua aceitação como bases corretas de ação – por exemplo, leis contra pirataria ou escravidão A aplicação privada, no entanto, foi limitada e considerada lamentavelmente inadequada para lidar com as principais ameaças ambientais, particularmente as ameaças aos recursos comuns. Durante o “Grande Fedor”, de 1858, o despejo de esgoto no rio Tâmisa começou a cheirar tão mal no calor do verão que o Parlamento teve que ser evacuado em uma tentativa de “limpar”, mas isso simplesmente levou as pessoas a poluir o rio. Em 19 dias, o Parlamento aprovou uma nova lei para construir o sistema de esgoto de Londres. Londres também sofria de terrível poluição do ar, e isso culminou no “Grande Smog” de 1952, que por sua vez desencadeou sua própria resposta legislativa: o Clean Air Act, em 1956 (OLIVEIRA, 2017). A estrutura regulatória básica era estabelecer limites de emissões para residências e empresas (particularmente queima de carvão), enquanto uma inspeção fiscalizava o cumprimento. Título: Registro do evento “Grande Smog”, em 1952, em Londres Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Nevoeiro_de_1952#/media/Ficheiro:Nelson%27s_Column_during_the_Great_Smog_of_1952.jpg LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 A partir da década de 1960,o ambientalismo tornou-se um importante movimento político e intelectual no Ocidente. Nos Estados Unidos, a publicação do biólogo Rachel Carson chamada Primavera Silenciosa, em 1962, levou a uma reconsideração de uma gama muito mais ampla de riscos ambientais reais e potenciais (CURI, 2012). Nas décadas seguintes, o governo dos Estados Unidos aprovou um número extraordinário de leis ambientais – incluindo leis que tratam do descarte de resíduos sólidos, poluição do ar e da água e proteção de espécies ameaçadas – e criou uma Agência de Proteção Ambiental para monitorar o cumprimento delas. Essas novas leis ambientais aumentaram drasticamente o papel do governo nacional em uma área anteriormente deixada principalmente para a regulamentação estadual e local (CURI, 2012) 1.2 Jornada ambiental e a evolução até a Declaração de Estocolmo As questões ambientais não eram uma grande preocupação das Nações Unidas no período seguinte à sua criação em 1945. Em 1949, as Nações Unidas convocaram sua primeira conferência sobre o meio ambiente, a Conferência Científica da ONU sobre a Conservação e Utilização de Recursos, para abordar a urgência questão do uso imprevidente dos recursos cada vez menores da Terra em um contexto de crescimento dramático da população e demanda crescente de recursos (OLIVEIRA, 2017). A Conferência concentrou- se principalmente em seis temas principais – terra, água, florestas, vida selvagem e peixes, combustíveis, energia e minerais. No entanto, o principal objetivo da Conferência foi sobre as formas de gerir esses recursos naturais para sustentar o desenvolvimento econômico e social, em vez de uma perspectiva de conservação. Ano Evento Antes de 1960 Poluição do ar e chuva ácida na Europa; doenças relacionadas com a poluição industrial “Big Four” mo Japão 1968 Conferência da Biosfera realizada em Paris: para considerar os efeitos das atividades humanas no biosfera e promover o uso racional e a conservação dos recursos da biosfera 45ª sessão do Conselho Econômico e Social (ECOSOC). Foram abordados problemas extremamente complexos relacionados ao ambiente humano. 1969 Relatório sobre os problemas do ambiente humano foi publicado pela Conferência da Biosfera; apelo para o mundo lidar com a poluição do ar/água, erosão do solo e problemas de uso de recursos 1971 Reunião do Estudo dos Impactos do Homem no Clima e Monitoramento Ambiental Global 1972 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Conferência de Estocolmo). 1974 Simpósio Cocoyoc: vincular preocupações ambientais com questões de desenvolvimento seguindo a Conferência de Estocolmo e a adoção da Declaração Cocoyoc. Tabela 1 – A evolução da Conferência de Estocolmo. Fonte: Adaptado de Calijuri e Cunha (2013) LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 Os países em desenvolvimento estavam, no entanto, cautelosos com o movimento ambiental predominante no hemisfério norte. Eles temiam que a preocupação humanitária com o meio ambiente pudesse facilmente se tornar um argumento egoísta para um maior protecionismo. (ONU, 1972). Eles também temiam que a preocupação com o meio ambiente pudesse se tornar uma prioridade em si mesma nos países desenvolvidos” e que isso impedisse ou retardasse seu desenvolvimento econômico. Para a região em desenvolvimento, as iniciativas de proteção ambiental do Norte não passavam de um estratagema neoimperialista para manter as ex-colônias em péssimo estado de desenvolvimento (Gaines, 1997). Muitos países em desenvolvimento desconfiavam de Estocolmo como uma tentativa de ratificar e até aumentar as relações econômicas desiguais existentes e a dependência técnica, atolando-os na pobreza para sempre; portanto, ameaçaram boicotar a Conferência (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016) Os países em desenvolvimento, especialmente na América Latina e na África, temiam que o movimento ambientalista no Ocidente agravasse seus problemas de pobreza ao sufocar o desenvolvimento (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016) Em uma nota mais radical, o ecologista político, professor Héctor Alimonda, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, no Brasil, lamentou que a degradação ambiental fosse causada pelo colonialismo persistente e afirmou ainda que ao longo de cinco séculos, ecossistemas inteiros foram destruídos pela implementação de monoculturas de exportação (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016). Ao abordar os conflitos ambientais e de desenvolvimento Norte-Sul e na tentativa de garantir o apoio dos países em desenvolvimento para a Conferência, o Secretário- Geral da Conferência de Estocolmo, Maurice Strong, estabeleceu um painel composto por 27 especialistas de países em desenvolvimento e desenvolvidos países (Painel Founex) que se reuniu em Founex em 1971 como parte dos preparativos para a Conferência para discutir as questões em torno da relação entre desenvolvimento e meio ambiente (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016). O painel afirmou que “a preocupação atual com questões ambientais surgiu dos problemas experimentados pelos países industrialmente avançados” e que esses problemas são em grande parte o resultado de um alto nível de desenvolvimento econômico e a criação de grandes capacidades produtivas na indústria e na agricultura” (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016). O painel revelou ainda que a escala de perturbações ambientais constituiu sérios perigos para a saúde humana e bem-estar em muitas comunidades. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 1.2.1 Os conflitos entre as nações e a realização da Conferência O Relatório Founex desempenhou um papel crítico na ponte entre as diferenças políticas e conceituais nos objetivos primordiais de proteção ambiental e desenvolvimento econômico entre o norte e o sul. O Relatório estimulou a participação dos países em desenvolvimento em Estocolmo com base no entendimento de que os compromissos ambientais alcançados na Conferência não seriam usados para restringir seus esforços de desenvolvimento (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016). No entanto, a União Soviética e a maioria dos países do Bloco de Leste boicotaram a Conferência devido à exclusão ocidental da República Democrática Alemã, um país não membro, da Conferência com base no facto de não ser membro das Nações Unidas nem de qualquer organização especializada dos Estados Unidos. Agência das Nações (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016). O boicote afetou, mas não frustrou seriamente, a Conferência, que finalmente foi realizada entre 5 e 16 de junho de 1972 em Estocolmo, após longas negociações e preparativos. A Conferência de Estocolmo formalmente conhecida como Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, com o tema Only One Earth, é a primeira conferência global sobre impacto ambiental humano na história das Nações Unidas que formalmente colocou o meio ambiente na agenda política global. Aqui, pode-se reiterar que, conforme observado acima, a Conferência Científica das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização de Recursos Naturais de 1949 foi a primeira conferência ambiental global das Nações Unidas realizada para discutir o uso sustentável dos recursos naturais. No que diz respeito à Conferência de Estocolmo, muitas vezes é considerada a primeira conferência ambiental global das Nações Unidas que formalmente colocou o meio ambiente na agenda política global. No entanto, a Conferência não teve um sentimento cordial desde o início com os países em desenvolvimento criticando duramente os países industrializados como a principal causa do atual declínio ambiental global por causa de sua exploração econômica desenfreada do sistema terrestre. A região em desenvolvimento também lamentou que as preocupações ambientais postuladas pelo norte afluente, associadas à obtenção de uma melhor qualidade de vida com o desfrute de um ambiente limpo, fossem uma tentativa de sufocar as aspirações de desenvolvimento no sul assoladopela pobreza. A Costa do Marfim, por exemplo, mostrou-se reticente em colocar a questão ambiental como prioridade global. Na Conferência, anunciou que preferiria LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 mais problemas de poluição aos problemas de pobreza na medida em que fossem evidências de industrialização (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016). Na América Latina, os governos rejeitaram a ideia dos “Limites do Crescimento” e optaram por estilos distintos de desenvolvimento de acordo com a realidade ecológica e social. Em consonância com o argumento contido no Relatório Founex, os governos latino-americanos enfatizaram ainda que em suas regiões, atormentadas por uma distribuição desigual de renda durante séculos, a solução para os problemas ambientais não era deter o progresso econômico na região em desenvolvimento, mas na mudança da distribuição desigual de poder e riqueza no mundo (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016). A delegação brasileira, por exemplo, deixou claro que precisava desenvolver primeiro para poder limpar depois e “não crescer” era inaceitável (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016). O Presidente do Banco Mundial, Robert McNamara, também ecoou os mesmos sentimentos na Conferência, confessando que o crescimento econômico contínuo tanto no Norte quanto no Sul constitui necessariamente uma pré-condição para uma melhor proteção e gestão ambiental global. De fato, o Sul em desenvolvimento argumentou persistentemente que a única maneira de circunscrever os problemas ambientais locais era por meio do rápido progresso industrial e do crescimento econômico. Enquanto isso, os países desenvolvidos economicamente seguros que abordavam as questões ambientais como uma questão de qualidade de vida eram de opinião que a superpopulação e o estilo ocidental de industrialização nos países em desenvolvimento acelerariam a taxa de declínio ambiental global (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016). Preocupado com a diminuição dos recursos básicos mundiais e propagação da poluição, eles enfatizaram a importância da proteção ambiental e argumentaram que era uma obrigação de todos os países do mundo tomar as medidas ambientais domésticas necessárias para proteger seu meio ambiente e abster-se de causar danos além de suas fronteiras no processo de busca econômica crescimento. 1.2.2 Resultados da Conferência A Conferência colocou os ricos industrializados em rota de colisão com os pobres do Sul em desenvolvimento sobre as prioridades de crescimento econômico e proteção ambiental. Esses conflitos Norte-Sul aparentemente intermináveis refletiram a necessidade de repensar e isso levou à adoção dos seguintes três grandes conjuntos de decisões e recomendações não vinculativas que carregam as marcas de compromisso entre o Norte e o Sul (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016): LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 a) Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Declaração de Estocolmo) que visa orientar a comunidade internacional sobre a preservação e valorização do meio ambiente humano. A declaração consiste em 26 princípios que abrangem uma infinidade de questões que vão desde a educação ambiental, ciência e tecnologia, armas nucleares, instituição, transferência de assistência financeira e tecnológica, a necessidade de desenvolvimento social e econômico na região em desenvolvimento e o direito soberano de recursos exploração, entre outros. Os princípios 1 a 4 da declaração reconhecem explicitamente a necessidade de exercer o uso prudente dos recursos naturais de acordo com o equilíbrio ecológico da biosfera ou a capacidade de carga do nosso planeta para o benefício das gerações presentes e futuras. b) Resolução sobre Arranjos Financeiros e Institucionais para a Cooperação Ambiental Internacional que visa promover a implementação efetiva de medidas pela comunidade internacional para salvaguardar e melhorar o meio ambiente; e c) O Plano de Ação de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano que continha recomendações concretas e específicas para ações nacionais e internacionais. Inclui 109 recomendações sobre medidas internacionais para deter a degradação ambiental global. Este documento destina-se a complementar a Declaração de Estocolmo. A Conferência levou ao estabelecimento do Programa Ambiental das Nações Unidas (PNUMA) dentro do sistema das Nações Unidas. O PNUMA atua como um agente catalisador institucional para a promoção e coordenação de atividades ambientais globais. Também lançou as bases para a criação e adoção de uma série de documentos importantes durante e após a Conferência para aumentar a sustentabilidade ambiental (HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016). Esses incluem: • A Convenção do Património Mundial de 1972, que apela aos Estados-Membros para proteger e preservar não só os sítios do Património Mundial, mas também o património nacional situado nos seus territórios. A Convenção teve impacto ao aumentar a conscientização sobre a importância de proteger esses locais para o benefício das gerações presentes e futuras; • A Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES) de Fauna e Flora Selvagens, um tratado internacional elaborado em 1973 que visa promover a conservação da vida selvagem, prevenir a exploração excessiva LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 da fauna e da flora selvagens e regular o comércio internacional de espécies ameaçadas de extinção; e • A Convenção de 1979 sobre a Conservação das Espécies Migratórias (CEM) de Animais Selvagens, ou Convenção de Bonn, foi concluída em reconhecimento à Recomendação 32 do Plano de Ação adotado na Conferência de Estocolmo para proteger as espécies migratórias de animais selvagens de importância global. A Convenção reconhece que os animais selvagens, incluindo espécies terrestres, aquáticas e migratórias aviárias em suas inúmeras formas, são uma parte insubstituível do sistema natural da Terra e cada geração tem a responsabilidade de conservar esses recursos biológicos para o benefício das gerações futuras. A Convenção presta atenção específica à proteção e conservação de espécies de animais selvagens que atravessam regularmente fronteiras nacionais ou que migram em águas internacionais. A convenção entrou em vigor apenas em 1º de novembro de 1983. Além destes, o engajamento da PNMA permaneceu posterior ao marco de 1972, gerando diferentes outros eventos e marcos importantes desde então. Ano Evento Finalidade 1979 Primeira Conferência Mundial do Clima realizada em Genebra Fundação do Programa Mundial do Clima para promover a pesquisa global sobre importantes questões climáticas, incluindo a destruição da camada de ozônio e o aquecimento global. 1980 Estratégia Mundial de Conservação (atualmente a World Conservation Union) em colaboração com o PNUMA e o WWF Publicou a Estratégia Mundial de Conservação para promover o uso sustentável de recursos dentro das capacidades de carga dos ecossistemas (sustentabilidade ecológica). Particularmente, seus principais objetivos são (a) manter processos ecológicos essenciais e sistemas de suporte à vida, (b) preservar a diversidade genética e (c) garantir a utilização sustentável de espécies e ecossistemas. Ela define a conservação como “a gestão do uso humano da biosfera de modo que possa produzir o maior benefício sustentável para as gerações atuais, mantendo seu potencial para atender às necessidades e aspirações das gerações futuras. 1982 Relatório Brundtland A comissão de Desenvolvimento Sustentável teve como objetivo realizar audiências em todo o mundo e unir os países para buscar o desenvolvimento sustentável. Isso levou à publicação do Relatório Brundtland ou Nosso Futuro Comum, que definiu o desenvolvimento sustentável como desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidadedas gerações futuras de atender às suas próprias necessidades. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 1985 Criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) Enfocar a avaliação científica de todos os aspectos das mudanças climáticas e seus impactos ambientais e socioeconômicos com vistas à formulação de estratégias de resposta realistas. 1992 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio+92) Documentos adotados: (i) A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – um programa de ação que enuncia 27 princípios orientadores para a gestão dos recursos naturais e do meio ambiente; (ii) Agenda 21 – um acordo de 40 capítulos e 800 páginas que estabeleceu 115 programas específicos para ajudar a alcançar o desenvolvimento sustentável; (iii) Declaração de Princípios Florestais—um breve documento contendo 15 princípios para orientar o manejo, conservação e desenvolvimento sustentável de todos os tipos de florestas; (iv) A UNFCCC—um tratado internacional de cooperação global para combater a mudança climática limitando a emissão de gases de efeito estufa, e (v) CDB— um acordo multilateral juridicamente vinculativo com três objetivos principais: conservação da biodiversidade; uso sustentável da biodiversidade; repartição justa e equitativa dos benefícios decorrentes do uso dos recursos genéticos. Seu objetivo geral é proteger a diversidade de espécies e habitats no mundo. A cúpula também abriu caminho para amplas discussões sobre desenvolvimento sustentável em torno da questão da mudança climática. 1995 Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) Lançado o Segundo Relatório de Avaliação do IPCC compreendendo (1) Grupo de Trabalho I: A Ciência das Mudanças Climáticas, (2) Grupo de Trabalho II: Impactos, Adaptações e Mitigação das Mudanças Climáticas: Análises Científico- Técnicas, (3) Grupo de Trabalho III: Economia e Dimensões Sociais das Mudanças Climáticas e (4) Segunda Avaliação do IPCC. A mensagem essencial do Relatório é que o dióxido de carbono continua sendo o contribuinte mais importante para a mudança climática e o alerta de que atividades humanas descontroladas ameaçam alterar o clima da Terra em uma extensão sem precedentes na história da humanidade, com impactos destrutivos como o aumento do nível do mar. 2000 Cúpula do Milênio Adotou a Declaração do Milênio que continha oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio: (1) erradicar a pobreza extrema e a fome; (2) alcançar a educação primária universal; (3) promover a igualdade de gênero e empoderar as mulheres; (4) reduzir a mortalidade infantil; (5) melhorar a saúde materna; (6) combater o HIV/AIDS, malária e outras doenças; (7) garantir a sustentabilidade ambiental; e (8) desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento. Sobre o objetivo da sustentabilidade ambiental, a Declaração afirmou que esforços devem ser feitos para combater a ameaça do planeta ser irremediavelmente danificado pelas atividades humanas. Também pediu uma nova ética de conservação e administração para proteger o meio ambiente. A Cúpula comprometeu os países membros a atingir essas metas até 2015. Tabela 2 – Engajamento das Nações Unidas com a sustentabilidade ambiental na era pós-Estocolmo até os anos 2000 Fonte: Adaptado de Calijuri e Cunha (2013) LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA A importância da Rio 92 para a legislação ambiental do Brasil não pode ser exagerada. Antes da conferência, o Brasil enfrentava desafios ambientais significativos, incluindo desmatamento, perda de biodiversidade e práticas de desenvolvimento insustentáveis. A Rio 92 proporcionou uma oportunidade única para o país mostrar suas preocupações ambientais em um cenário global e colaborar com outras nações para encontrar soluções. Um dos principais resultados da Rio 92 foi a adoção de dois acordos críticos: a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e a Agenda 21. A Declaração do Rio estabeleceu 27 princípios que lançaram as bases para a governança ambiental global e enfatizaram a integração da proteção ambiental e desenvolvimento socioeconômico. Esta declaração desempenhou um papel fundamental na formação da legislação ambiental do Brasil, promovendo o conceito de desenvolvimento sustentável e incentivando o país a incorporar considerações ambientais em suas políticas e leis. Fonte: Cordani, Marcovitch, e Salati (1997). 1.2.3 Princípios da Declaração de Estocolmo A Declaração de Estocolmo determinou 26 princípios que colocou as questões ambientais no primeiro plano das preocupações internacionais e marcou o início de um diálogo entre os países industrializados e em desenvolvimento sobre a ligação entre o crescimento econômico, a poluição do ar, da água e dos oceanos e o bem-estar -ser de pessoas ao redor do mundo. São eles (adaptado de HEINRICHS, MARTENS, e WIEK, 2016): • Princípio 1: O homem tem direito fundamental à liberdade, à igualdade e a condições adequadas de vida, em um ambiente de qualidade que permita uma vida digna e com bem-estar, e tem a solene responsabilidade de proteger e melhorar o meio ambiente para o presente e futuras gerações. Nesse sentido, as políticas que promovem ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e dominação estrangeira são condenadas e devem ser eliminadas. • Princípio 2: Os recursos naturais da Terra, incluindo ar, água, solo, flora e fauna, e especialmente amostras representativas de ecossistemas naturais, devem ser salvaguardados para o benefício das gerações presentes e futuras por meio de planejamento ou gerenciamento cuidadoso, conforme apropriado. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 • Princípio 3: A capacidade da Terra de produzir recursos renováveis vitais deve ser mantida e, sempre que possível, restaurada ou melhorada. • Princípio 4: O homem tem uma responsabilidade especial de salvaguardar e gerir sabiamente o património da vida selvagem e o seu habitat, que estão agora gravemente ameaçados por uma combinação de fatores adversos. A conservação da natureza, incluindo a vida selvagem, deve, portanto, receber importância no planejamento do desenvolvimento econômico. • Princípio 5: Os recursos não renováveis da Terra devem ser empregados de forma a prevenir o perigo de seu esgotamento futuro e assegurar que os benefícios de tal emprego sejam compartilhados por toda a humanidade. • Princípio 6: A descarga de substâncias tóxicas ou de outras substâncias e a liberação de calor, em quantidades ou concentrações que excedam a capacidade do ambiente de torná-las inofensivas, devem ser interrompidas para garantir que danos graves ou irreversíveis não sejam causados infligidos aos ecossistemas. A justa luta dos povos dos países doentes contra a poluição deve ser apoiada. • Princípio 7: Os Estados devem tomar todas as medidas possíveis para evitar a poluição dos mares por substâncias que possam criar riscos à saúde humana, prejudicar os recursos vivos e a vida marinha, danificar as amenidades ou interferir em outros usos legítimos do mar. • Princípio 8: O desenvolvimento econômico e social é essencial para garantir um ambiente de vida e trabalho favorável ao homem e para criar na Terra as condições necessárias para a melhoria da qualidade de vida. • Princípio 9: As deficiências ambientais geradas pelas condições de subdesenvolvimento e desastres naturais representam graves problemas e podem ser melhor remediadas pelo desenvolvimento acelerado por meio da transferência de quantidades substanciais de assistência financeira e tecnológica como complemento ao esforço interno dos países em desenvolvimento e a assistência oportuna que possa ser necessária. • Princípio 10: Para os países em desenvolvimento,a estabilidade de preços e ganhos adequados para commodities primárias e matérias-primas são essenciais para a gestão ambiental, uma vez que fatores econômicos, bem como processos ecológicos, devem ser levados em consideração. • Princípio 11: As políticas ambientais de todos os Estados devem aumentar, e não afetar adversamente, o potencial de desenvolvimento presente ou futuro LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 dos países em desenvolvimento, nem devem impedir a obtenção de melhores condições de vida para todos, e medidas apropriadas devem ser tomadas pelos Estados e organizações internacionais. Organizações com vistas a chegar a um acordo sobre o atendimento das possíveis consequências econômicas nacionais e internacionais decorrentes da aplicação de medidas ambientais. • Princípio 12: Os recursos devem ser disponibilizados para preservar e melhorar o meio ambiente, levando em consideração as circunstâncias e requisitos dos países em desenvolvimento e quaisquer custos que possam advir da incorporação de salvaguardas ambientais em seu planejamento de desenvolvimento e a necessidade de disponibilizar a eles, mediante solicitação, assistência técnica e financeira internacional adicional para esse fim. • Princípio 13: A fim de alcançar uma gestão mais racional dos recursos e, assim, melhorar o meio ambiente, os Estados devem adotar uma abordagem integrada e coordenada para o seu planejamento de desenvolvimento, de modo a garantir que o desenvolvimento seja compatível com a necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente para a benefício de sua população. • Princípio 14: O planejamento racional constitui uma ferramenta essencial para conciliar qualquer conflito entre as necessidades de desenvolvimento e a necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente. • Princípio 15: O planejamento deve ser aplicado aos assentamentos humanos e à urbanização com vistas a evitar efeitos adversos ao meio ambiente e obter o máximo de benefícios sociais, econômicos e ambientais para todos. Neste sentido, devem ser abandonados os projetos que visam a dominação colonialista e racista. • Princípio 16: Políticas demográficas que não prejudiquem os direitos humanos básicos e que sejam consideradas apropriadas pelos governos envolvidos devem ser aplicadas nas regiões onde a taxa de crescimento populacional ou concentrações populacionais excessivas possam ter efeitos adversos no meio ambiente humano e impedir o desenvolvimento. • Princípio 17: Instituições nacionais apropriadas devem ser encarregadas da tarefa de planejar, administrar ou controlar os nove recursos ambientais dos Estados com vistas a melhorar a qualidade ambiental. • Princípio 18: A ciência e a tecnologia, como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social, devem ser aplicadas na identificação, LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 prevenção e controle dos riscos ambientais e na solução dos problemas ambientais e para o bem comum da humanidade. • Princípio 19: A educação em questões ambientais, tanto para a geração mais jovem quanto para os adultos, dando a devida atenção aos menos favorecidos, é essencial para ampliar a base para uma opinião esclarecida e conduta responsável por indivíduos, empresas e comunidades na proteção e melhoria o ambiente em toda a sua dimensão humana. Também é essencial que os meios de comunicação de massa evitem contribuir para a deterioração do meio ambiente, mas, ao contrário, divulguem informações de caráter educativo sobre a necessidade de projetar e melhorar o meio ambiente para permitir o desenvolvimento do homem em todos os aspectos. • Princípio 20: A pesquisa e o desenvolvimento científico no contexto dos problemas ambientais, tanto nacionais quanto multinacionais, devem ser promovidos em todos os países, especialmente nos países em desenvolvimento. Nesse sentido, deve ser apoiado e auxiliado o livre fluxo de informações científicas atualizadas e a transferência de experiências, a fim de facilitar a solução dos problemas ambientais. As tecnologias ambientais devem ser disponibilizadas aos países em desenvolvimento em termos que encorajem sua ampla disseminação sem constituir um ônus econômico para os países em desenvolvimento. • Princípio 21: Os Estados têm, de acordo com a Carta das Nações Unidas e os princípios do direito internacional, o direito soberano de explorar seus próprios recursos de acordo com suas próprias políticas ambientais e a responsabilidade de garantir que as atividades sob sua jurisdição ou controle não sejam não causar danos ao meio ambiente de outros estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional. • Princípio 22: Os Estados devem cooperar para desenvolver ainda mais o direito internacional relativo à responsabilidade e compensação para as vítimas da poluição e outros danos ambientais causados por atividades dentro da jurisdição ou controle de tais Estados em áreas fora de sua jurisdição. • Princípio 23: Sem prejuízo de critérios que venham a ser acordados pela comunidade internacional, ou de normas que devam ser determinadas nacionalmente, será imprescindível em todos os casos considerar os sistemas de valores vigentes em cada país, e a extensão da aplicabilidade de padrões que LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 são válidos para os países mais avançados, mas que podem ser inadequados e de custo social injustificado para os países em desenvolvimento. • Princípio 24: As questões internacionais relativas à proteção e melhoria do meio ambiente devem ser tratadas em espírito de cooperação por todos os países, grandes e pequenos, em pé de igualdade. A cooperação por meio de acordos multilaterais ou bilaterais ou outros meios apropriados é essencial para efetivamente controlar, prevenir, reduzir e eliminar os efeitos ambientais adversos resultantes de atividades desenvolvidas em todas as esferas, de forma que a soberania e os interesses de todos os Estados sejam levados em consideração. • Princípio 25: Os Estados devem assegurar que as organizações internacionais desempenhem um papel coordenado, eficiente e dinâmico para a proteção e melhoria do meio ambiente. • Princípio 26: O homem e seu ambiente devem ser poupados dos efeitos das armas nucleares e de todos os outros meios de destruição em massa. 1.3 Direito Ambiental Internacional O direito ambiental internacional abrange o corpo de regras acordadas pelos países com o objetivo de proteger vários aspectos do ambiente natural global. Dois instrumentos não vinculativos adotados pela comunidade internacional em conferências da ONU têm desempenhado papéis importantes no desenvolvimento moderno do direito ambiental internacional. Antes de 1900, havia poucos acordos multilaterais ou bilaterais sobre questões ambientais internacionais. Acordos internacionais relevantes foram baseados na soberania nacional irrestrita sobre os recursos naturais e focados principalmente em águas limítrofes, navegação e direitos de pesca ao longo de hidrovias compartilhadas, particularmente o rio Reno e outras hidrovias europeias. Eles não abordaram a poluição ou outras questões ecológicas. No início dos anos 1900, os países começaram a concluir acordos para proteger espécies comercialmente valiosas. Esses acordos incluem a Convenção de 1902 para a Proteção das Aves para a Agricultura, a Convenção de 1916 para a Proteção das Aves Migratórias nos Estados Unidos e Canadá, e o Tratado para a Preservação e Proteção das Focas Furadas assinado em 1911. Apenas uma convenção se concentrou na vida selvagem em geral; a Convenção de Londres de 1900 para a Proteção de Animais Selvagens, Aves e Peixes na África. Nas décadas de 1930 e 1940, os estados reconheceram a importância da conservação dos recursos LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DESOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 naturais e negociaram vários acordos para proteger a fauna e a flora em geral. Isso inclui a Convenção de Londres de 1933 sobre Preservação da Fauna e Flora em Seu Estado Natural (focada principalmente na África) e a Convenção de Washington de 1940 sobre Proteção da Natureza e Preservação da Vida Selvagem (focada no Hemisfério Ocidental). Durante os anos 1950 e início dos anos 1960, a comunidade internacional estava preocupada com os danos nucleares causados pelo uso civil (um subproduto da Proposta de Átomos para a Paz) e a poluição marinha causada pelo petróleo. Assim, os países negociaram acordos que regem a responsabilidade internacional por danos nucleares e exigem medidas para prevenir a poluição por óleo no mar. O escopo dos acordos internacionais se expandiu significativamente desde 1972, da poluição entre países para acordos globais de poluição; do controle de emissões diretas em lagos a regimes abrangentes de sistemas de bacias hidrográficas; da preservação de certas espécies à conservação de ecossistemas; desde acordos que entram em vigor apenas nas fronteiras nacionais até aqueles que restringem o uso de recursos e controlam as atividades dentro das fronteiras nacionais, como para patrimônios mundiais, zonas úmidas e áreas biologicamente diversas. A Declaração de Estocolmo de 1972 da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano marcou o início de uma maior ação internacional sobre questões ambientais, e o foco foi reforçado pela Declaração do Rio de 1992 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Além de contribuir para o impulso que deu origem a muitos acordos ambientais multilaterais adotados nos anos seguintes, os princípios gerais defendidos nesses instrumentos não vinculantes aparecem ao longo dos acordos posteriores. A vastidão desta área do direito internacional inclui as subquestões ambientais de população, biodiversidade, mudança climática global, destruição da camada de ozônio, preservação das regiões antárticas, movimento de substâncias tóxicas e perigosas, poluição terrestre ou marítima, despejo, conservação de recursos marinhos recursos vivos, poluição do ar entre países, poluição da água, desertificação e danos nucleares, entre outros. Alguns dos acordos ambientais mais significativos são apresentados nas seções a seguir. 1.3.1 Biodiversidade Várias convenções foram formuladas e aprovadas para a conservação da biodiversidade, algumas das mais importantes estão listadas abaixo: LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 • Convenção Internacional de 1946 para a regulamentação da caça à baleia; • Convenção de Ramsar de 1971 sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional; • Convenção de 1972 sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural; • Convenção de 1973 sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES); • Convenção de 1979 sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Selvagens; e • Convenção sobre Diversidade Biológica de 1992 e seu Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança de 2000 1.3.2 Atmosfera Semelhante à biodiversidade na área da atmosfera, os protocolos de Kyoto e Montreal são os mais importantes. • Convenção de Viena de 1985 para a Proteção da Camada de Ozônio e seu Protocolo de Montreal de 1987 sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio; e • Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 1992 e seu Protocolo de Quioto de 1997 ISTO ESTÁ NA REDE Apesar de seu impacto significativo em catalisar a ação climática internacional, o Protocolo de Kyoto teve limitações, como a exclusão de grandes emissores como os Estados Unidos e a China de metas obrigatórias. Como resultado, o primeiro período de compromisso do protocolo foi concluído em 2012 e os esforços subsequentes levaram ao Acordo de Paris, um acordo global mais inclusivo e abrangente sobre a mitigação das mudanças climáticas. No entanto, os créditos de carbono continuam a ser uma ferramenta essencial para incentivar reduções de emissões e promover o desenvolvimento sustentável, agora fazendo parte integrante de muitas iniciativas de precificação de carbono e planos de ação climática em todo o mundo. Saiba mais acessando este link: https://www.prensalatina.com.br/2022/12/11/ gases-de-efeito-estufa-impactam-a-25-anos-do-protocolo-de-kyoto/ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 1.3.4 Poluição/Substâncias Perigosas Para prevenção da poluição e manuseio de substâncias perigosas em terra e no mar, as várias convenções e protocolos incluem: • Convenção de Londres de 1972 sobre a Prevenção da Poluição Marinha por Despejo de Resíduos e Outros Matérias e seu Protocolo de 1996; • Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios de 1973, conforme modificado por seu Protocolo de 1978; • Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982; • Convenção da Basileia de 1989 sobre o controle de movimentos transfronteiriços de resíduos perigosos e seu descarte; • Convenção Internacional de 1992 sobre Responsabilidade Civil por Danos por Poluição por Óleo; • Convenção Internacional de 1992 sobre o Estabelecimento de um Fundo Internacional para Compensação por Danos por Poluição por Petróleo e seu Protocolo de 2003; • Convenção de Roterdã de 1998 sobre o Procedimento de Consentimento Prévio e Informado para Certos Produtos Químicos e Pesticidas Perigosos no Comércio Internacional (PIC); e • Convenção de Estocolmo de 2001 sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (POPS) LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 CAPÍTULO 2 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL Este capítulo descreve e analisa características proeminentes e principais efeitos de leis e políticas ambientais selecionadas emitidas pelo governo federal brasileiro entre 1934 até o século XXI. Ele pode ser lido como uma lista comentada de atos que sinalizaram a preocupação governamental e/ou social com o meio ambiente natural e recursos naturais. A rápida evolução do ordenamento jurídico brasileiro em matéria ambiental tornou-o bastante inovador, embora não particularmente eficaz, o que ficará evidente ao longo da leitura. 2.1 Introdução Se fosse possível considerar o ambientalismo uma preocupação específica com o estado do mundo natural e seus efeitos sobre a humanidade, o Brasil não estaria listado como uma sociedade ambientalista durante a maior parte do período 1934-2002. Era exatamente o contrário – uma sociedade pró-desenvolvimentista, no sentido mais duro da expressão. Não é que o desenvolvimento seja incompatível com a preocupação ou qualidade ambiental, ou que o atraso econômico seja necessariamente benigno para o ambiente natural. Argumentamos que houve no Brasil um profundo e duradouro consenso social a favor do crescimento econômico, a todo e qualquer custo, e que tal atitude foi apoiada por um consenso global bastante semelhante. Esse acordo cruzou fronteiras sociais, econômicas e ideológicas em períodos tão distintos entre si como a ditadura civil de Getúlio Vargas (1930-45), o “experimento de democracia” civil de 1945-64, a ditadura militar de 1964-85, todas as até as vésperas da cúpula ambiental do Rio+92. O “desenvolvimentismo” foi unanimidade nacional por quase 60 anos. O objetivo amplamente aceito era transformar o Brasil em uma grande potência mundial, às custas da liberdade política e da dotação de recursos naturais, para não falar da “justiça social”. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 Somente a partir de meados da década de 1980 o modelo “desenvolvimentista” foi questionado, tanto por razões sociais quanto ambientais, por uma preocupação duradoura e efetiva com o meio ambiente por parte de inúmeros cidadãos, lideranças e governantes. Embora ainda em expansão, tal preocupaçãopermanece tímida, disseminada de forma desigual e muito distante da unanimidade outrora sustentada pelo “desenvolvimentismo”. De fato, as regulamentações e políticas ambientais, mais abrangentes do Brasil foram promulgadas ou aplicadas com mais rigor apenas desde o início e meados da década de 1980, quando a fé no governo autoritário e no crescimento “sujo” diminuiu (CALIJURI e CUNHA, 2013). Àquela altura, porém, o Brasil, depois de crescer mais do que qualquer outro país do mundo entre 1900 e 1982, era um país plenamente industrializado. Foi classificado entre os dez maiores países do mundo (em termos de PIB), mas seu modelo de desenvolvimento, baseado na industrialização pesada e no uso extensivo de recursos, perdeu força depois de 1982 e ainda não o recuperou. Neste mesmo período – 1982 – o consenso global pró-crescimento que sustentava o crescimento do Brasil também havia mudado, com o surgimento de uma extensa crítica à degradação ambiental e ao uso perdulário dos recursos naturais. Eles não eram mais vistos como vantagens competitivas, mas como custos evitáveis e indesejáveis (OLIVIERA, 2017) 2.2 Fases legislativas De modo geral, as leis ambientais brasileiras e as políticas associadas podem ser divididas em três grandes fases. A primeira vai aproximadamente de 1934 a 1964, marcada por fortes esforços de desenvolvimento baseados em ampla intervenção e investimento do Estado e na expansão das fronteiras agrícolas. Ele assumiu a forma de códigos abrangentes que regulam a produção de minérios, madeira, energia hidráulica e outros recursos naturais. A segunda fase vai de 1964 a 1987, novamente marcada por forte intervenção do Estado e rápida expansão econômica (incluindo a fronteira agrícola), mas também por renovadas regulamentações e políticas ambientais. A terceira fase vai de 1988 até o presente, marcada por fraco crescimento econômico ou mesmo estagnação, intervenção estatal diminuída e cada vez mais ineficaz e legislação e políticas ambientais ampliadas. A fronteira agrícola continuou a se expandir, mas conviveu com maior produtividade nas áreas assentadas. Durante o último período, as leis ambientais tornaram-se mais abrangentes, mais fundamentadas cientificamente e mais punitivas. Pode ser LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 considerado um grande “torneio” na legislação e na política ambiental brasileira. Não só foram introduzidos mecanismos de controle e sanções criminais e administrativas, como também se tornaram mais comuns o planejamento ambiental e as avaliações de impacto. Instrumentos econômicos também foram adotados, como o princípio do “poluidor-pagador”, em consonância com uma tendência internacional no direito ambiental. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA O Princípio do Poluidor-Pagador (PPP) foi introduzido pela primeira vez em 1972 pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde o poluidor era responsável pela poluição (CURI, 2012). Em palavras simples, a PPP impõe responsabilidade à pessoa que polui o meio ambiente e compensa os danos causados à saúde humana ou ao meio ambiente ao seu estado original. O princípio do poluidor-pagador é um dos princípios fundamentais da política ambiental para orientar o desenvolvimento sustentável no mundo todo. A ideia principal do princípio é que cada poluidor deve atingir um nível economicamente eficiente de produção e poluição e o poluidor não deve ver apenas os benefícios da atividade causadora da poluição, mas também os danos impostos a terceiros ou ao meio ambiente. Ao adotar o princípio do poluidor-pagador, a estratégia foi responsabilizar quem produz o lixo pela sua reciclagem e descarte. Fonte: CURI (2012) 2.2.1 Primeiro Período (1934-1664) O ano de 1934 é um marco para a regulamentação ambiental no Brasil: dois decretos presidenciais estabelecem “códigos” para água/minérios e manejo florestal. No entanto, seu objetivo era colocar esses recursos sob controle e planejamento “racionais” dos órgãos federais. Ainda não havia uma intenção “moderna” de preservação, salvo itens menores do Código Florestal. No entanto, ao restringir seu uso, ambos os códigos tiveram efeitos duradouros sobre a forma como esses recursos foram consumidos (ou não consumidos). LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 Figura: Governo Getúlio Vargas, responsável pela elaboração do primeiro Código Florestal Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Miguel_Costa,_G%C3%B3is_Monteiro_e_Get%C3%BAlio_Vargas_-_1930.jpg O “Código de Águas e Minas” (“Código de Águas e Minas”) foi o nome popular do Decreto 24.643, de 10 de julho de 1934. Isso ia diretamente contra a característica acima mencionada de controle privado total sobre a terra, porque desde então nenhum proprietário de terra brasileiro teve propriedade automática ou direitos de uso sobre água associada (incluindo subterrânea) ou minérios (incluindo petróleo e gás natural). A água (para abastecimento, irrigação, hidroeletricidade, etc.) , ou misto). No entanto, como o Estado brasileiro se mostrou pelo menos tão desenvolvimentista quanto os empresários privados, essas restrições não significaram que parcelas significativas desses recursos fossem reservadas para o futuro, ou de outra forma preservadas. Na verdade, nas décadas seguintes, o Brasil se tornou um líder mundial tanto na mineração quanto na produção de energia hidrelétrica. O “Código Florestal” foi o nome popular dado ao Decreto 23.793, de 23 de janeiro de 1934. Apesar de suas extensas florestas, esta foi a primeira regulamentação abrangente sobre elas no Brasil. O primeiro artigo do decreto afirmava que as florestas eram de “interesse comum” de todos os brasileiros. Uma leitura literal indicaria que eles também estavam dissociados da propriedade privada da terra, assim como os minérios e a água, LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 mas isso não aconteceria. O controle público sobre o uso das florestas mostrou-se muito mais fraco do que no caso dos minérios e da água. Isso era mais um problema de eficiência gerencial do que da letra da lei, pois hoje a leitura literal avança em muitos planos, programas e políticas envolvendo não apenas as florestas, mas outras formações florais nativas (como cerrado e manguezal), sem grandes mudanças na letra da lei. De modo geral, porém, a flora nativa brasileira tem permanecido à mercê de proprietários privados, embora a lei estipule um sistema de concessões específicas para exploração madeireira e outros usos, tanto em terras particulares quanto em não particulares. Em certo sentido, as florestas têm sido mais “extraídas” do que os próprios minérios, dando ao Brasil uma celebridade relativamente injusta como um país particularmente propenso ao desmatamento. Preso entre muitos artigos relacionados à exploração madeireira, o Código Florestal trazia algumas disposições preservacionistas. Ele dividiu as florestas em quatro tipos: “protetora”, “remanescente”, “modelo” e “produtiva”. A imensa maioria das florestas nativas foi considerada “produtiva” – aberta à exploração comercial por meio de licenças. As florestas “modelo” eram florestas replantadas, bastante raras no Brasil na época. Florestas nativas “remanescentes” eram aquelas localizadas em parques nacionais, estaduais e municipais (inexistentes em 1934). Florestas nativas “protetoras” eram aquelas que protegiam bacias hidrográficas, solos, dunas, saúde pública, paisagens naturais e espécies raras. Outras importantes regulamentações ambientais foram editadas em 1934, como a criação do Serviço de Saúde Vegetal e do Serviço de Saúde Animal (ambos encarregados da fiscalização de alimentos), o Código de Caça e o Serviço de Irrigação, Reflorestamento e Colonização (OLIVEIRA, 2017). Esse aumento, no entanto, não correspondeu a nenhuma demanda registrada por movimentosambientais ou lobistas – foi o resultado da iniciativa do governo, combinada com a influência política de um punhado de cientistas naturais preocupados com a conservação, ajudando o estado a “ver adiante” das demandas ambientais. 2.2.2 Segundo Período (1964-1988) O “Estatuto da Terra” – nome popular dado à Lei 4.504, de 30 de novembro de 1964 – colocou temporariamente a conservação ambiental na” companhia da polêmica questão da reforma agrária. O latifúndio brasileiro resistiu a todas as débeis tentativas de reforma. Os reformistas civis das décadas de 1950 e 1960 defenderam a questão, LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 sem sucesso. No entanto, paradoxalmente, o governo militar criado pelo em 1964 assumiu o assunto e editou uma lei de reforma agrária bastante progressista. Estipulava, entre outras coisas, que a propriedade privada da terra atingia sua plena função social somente se combinasse distribuição justa, uso adequado e conservação dos recursos naturais (OLIVEIRA, 2017). Figura: Período militar no Brasil Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_1930.jpg Legalmente, portanto, o desperdício de recursos naturais tornou-se uma das três razões legais para restringir os direitos privados sobre a terra. Como as terras públicas foram revertidas à jurisdição federal no final de 1964, o governo federal passou a ter o direito de (1) utilizar o uso de terras privadas e (2) usar grandes estoques de terras públicas para políticas de conservação e preservação, associadas à reforma fundiária e políticas de colonização. Em outras palavras, políticas de reforma agrária poderiam estar associadas a políticas de proteção ambiental. Durante os trinta anos entre 1934 e 1964, nenhuma nova regulamentação ambiental significativa apareceu no Brasil. Apenas duas peças merecem breve atenção. O primeiro é o Decreto-Lei 5.894, editado em 1943, que dispõe sobre o Código de Caça e Pesca de 1934. Um artigo autorizou terras públicas a serem reservadas como “áreas de refúgio e reprodução” para animais selvagens nativos e previu que essas áreas poderiam ser posteriormente transformadas em parques nacionais (OLIVEIRA, 2017) Essa LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 preocupação inicial com a criação de animais silvestres é intrigante, pois na época a atividade era rara em todo o mundo, e ainda assim no Brasil. Não havia sequer uma lista oficial de animais ameaçados de extinção – a primeira lista desse tipo no Brasil apareceu apenas em 1968. Também não havia sinais de que a criação comercial ou a domesticação eram um objetivo. O Decreto-Lei 9.760, de 4 de setembro de 1946, também merece destaque Ele confirmou a propriedade pública de todas as seções da extensa costa atlântica do Brasil. Esta disposição foi espalhada por vários regulamentos mais antigos, alguns datados da época colonial, influenciados por um antigo princípio legal português de manter a sua costa nas mãos do governo central. Na verdade, esse regulamento de 1946 estendeu a validade do princípio às planícies de inundação dos rios afetadas pelas marés. As implicações disso, em termos de gestão costeira e fluvial, foram potencialmente grandes, mas plenamente aproveitadas nas políticas públicas (OLIVEIRA, 2017). Assim, a primeira fase do direito ambiental brasileiro iniciou-se sob a égide de uma forte intervenção governamental na economia, na esteira da depressão mundial dos anos 1930, e coincidiu com as vastas políticas desenvolvimentistas pré e pós-Segunda Guerra Mundial que prevaleceram no País. A Lei 5.197, de 3 de janeiro de 1967, a “Lei de Proteção dos Animais”, atualizou as normas anteriores de 1934 e 1943 e definiu as reservas biológicas (anunciadas no Código Florestal de 1965). Essas unidades deveriam “reservar espécies (da fauna) raras ou únicas, e nenhum animal poderia ser introduzido, usado ou capturado nelas. Sua ecologia deve permanecer intacta. Apenas pesquisas científicas e restauração ecológica (se necessário) foram permitidas. Esta lei tornou-se a base para todas as reservas biológicas, agora bastante numerosas e geralmente extensas do Brasil, o tipo de unidade de conservação mais restritivo do país. No entanto, a primeira dessas reservas só foi estabelecida em 1974 – a unidade Poço das Antas, merecidamente famosa como a base do mico-leão-dourado. A atual estipulação de penalidades severas para a posse, venda, compra, transporte ou caça de qualquer animal silvestre também se baseia nessa lei (BRASIL, 1998). O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (“Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal”—IBDF) foi o primeiro órgão federal de pleno direito dedicado à questão da conservação e preservação dos recursos naturais renováveis no Brasil. Foi criado em 1967, pelo Decreto-Lei n. º 289, reunindo vários gabinetes dispersos no seio do Ministério da Agricultura, que se ocupavam da conservação ou do desenvolvimento LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 de produtos específicos, como o pinho, o sal, a erva-mate, etc. sobre. Seu papel recaiu principalmente no âmbito da produção de madeira – gestão da demanda e da oferta de recursos florestais – com a ajuda de novas e vigorosas políticas comerciais de plantio de árvores. A Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), criada em 30 de outubro de 1973 pelo Decreto 73.030, foi a primeira agência ambiental nacional do Brasil criada expressa e exclusivamente para políticas de proteção e gestão ambiental - não tinha qualquer papel ou mandato no campo da produção de recursos. Nasceu da adesão do Brasil às recomendações da Cúpula da ONU em Estocolmo, em 1972, sobre meio ambiente e desenvolvimento. Uma de suas principais atividades foi o estabelecimento de diversos padrões de qualidade ambiental a serem aplicados por futura legislação também elaborada por técnicos do órgão. No entanto, também se engajou na criação e gestão de unidades de conservação próprias, criadas por regulamentação própria – “estações ecológicas”, “áreas de relevante interesse ecológico, ” e “áreas de proteção ambiental”. Entre 1977 e 1986, a SEMA criou um total de trinta e oito estações ecológicas (áreas “prístinas” abertas apenas para pesquisa científica) e onze áreas de proteção ambiental (incluindo áreas degradadas privadas e públicas, às vezes dentro ou próximas às cidades), além de um pequeno número de áreas de relevante interesse ecológico (OLIVEIRA, 2017). ANOTE ISSO Durante a segunda metade desse segundo período – 1979 a 1988 – houve um novo surto de regulamentação ambiental, mais forte do que a de 1934 e bastante diferente em sua natureza. Àquela altura, ativistas, cientistas, políticos e gestores brasileiros eram (1) mais ambientalmente conscientes em escala global e (2) eram apoiados ou mesmo instados por uma crescente preocupação e mobilização ambiental entre os cidadãos brasileiros. Novas questões foram abordadas por essas novas regras, dentro de uma estrutura jurídica, institucional e científica muito aprimorada. As demandas da sociedade civil tornaram-se mais fortes e o Estado tornou-se menos capaz de ignorá-las ou moldá-las. Como símbolo de uma nova era, em 31 de agosto de 1981 foi promulgada a Lei 6.938, denominada “Lei da Política Nacional do Meio Ambiente” (BRASIL, 1981). Foi elaborado principalmente pela equipe da SEMA e se tornou, e ainda é, a pedra angular LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 da regulamentação ambiental do Brasil. Introduziu no vocabulário jurídico as definições legais de meio ambiente e de “responsabilidade objetiva” (responsabilidade atribuída independentemente da intenção de cometer infrações contra a qualidade ambiental). É interessante notar que essa lei foi promulgada no final da ditadura militar, refletindo tanto a transiçãodemocrática quanto a crescente capacidade da sociedade civil e das ONGs de influenciar as políticas públicas. A PNMA visava compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico com a qualidade ambiental e a estabilidade ecológica. Seus princípios eram completamente “modernos” – o conceito de ambiente natural como um bem público digno de proteção, o uso racional e planejado dos recursos naturais, o isolamento de atividades poluidoras em zonas restritas, a recuperação de áreas danificadas e a educação ambiental. Esses princípios e metas inovaram as regulamentações nacionais, antecipando conceitos posteriormente vinculados à noção de desenvolvimento sustentável. No entanto, deve- se enfatizar que essa lei ainda buscava garantir condições ótimas para o crescimento econômico e a segurança nacional, com a proteção da vida humana e da biota ocupando um claro terceiro lugar. Essa escala de prioridades ainda refletia o menor grau de importância atribuído às preocupações ambientais em meados e finais dos anos 1970. No entanto, quando a lei foi promulgada em 1981, já eram visíveis os primeiros indícios de um esforço jurídico concertado para instituir a prevenção e reparação (e não apenas a compensação econômica) de danos ambientais (OLIVEIRA, 2017) 2.2.3 Terceiro Período (1988 – dias atuais) Durante a década de 1980, acidentes envolvendo poluição ambiental em países estimularam negociações sobre várias convenções ambientais internacionais. Os efeitos do acidente de 1986 na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia - ainda parte da União Soviética - foram especialmente significativos (MORAES e PUGLIESI, 2014). Um ano depois, o Brasil também testemunhou um caso envolvendo acidente ambiental: o caso Césio-137. O acidente de contaminação radioativa ocorreu em 13 de setembro de 1987, em Goiânia - GO, após uma fonte de radioterapia esquecida ter sido roubada de um hospital abandonado na cidade. Posteriormente, foi manuseado indevidamente por muitas pessoas, resultando em quatro mortes. Cerca de 112.000 pessoas acabaram sendo expostas a radiação, das quais 249 delas foram contaminadas (BARSANO e BARBOSA, 2014). LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 Figura : Capas de jornais noticiando o acidente de Goiânia. Fonte: BARSANO e BARBOSA (2014) ISTO ESTÁ NA REDE Após o incidente do Césio-137, as autoridades brasileiras tomaram medidas imediatas para conter a contaminação radioativa e fornecer assistência médica aos indivíduos afetados. Eles estabeleceram um cordão de isolamento em torno das áreas contaminadas, evacuaram os residentes e realizaram extensos esforços de descontaminação. O solo, edifícios e materiais contaminados foram cuidadosamente removidos e descartados de maneira segura. O incidente também levou o governo brasileiro a fortalecer seus regulamentos sobre o manuseio e descarte de fontes radioativas e a melhorar a conscientização pública sobre a segurança da radiação. O caso do Césio-137 em Goiânia serve como um lembrete preocupante das possíveis consequências do manuseio incorreto de materiais radioativos e da importância de medidas de segurança rigorosas para evitar tais acidentes no futuro. Saiba mais acessando este link: https://www.em.com.br/app/noticia/ nacional/2023/07/17/interna_nacional,1520762/cesio-137-cnen-ainda-monitora- cemiterio-de-rejeitos-em-goias.shtml Durante esta década, o Brasil também se viu diante de importantes avanços na esfera de direito ambiental. Considerando a hierarquia legal, e não a ordem de promulgação, a Constituição Federal de 1988 concedeu proteção especial inédita ao meio ambiente, que foi declarada como um direito fundamental (BRASIL, 1988). Com um Capítulo V dedicado exclusivamente a pauta ambiental, o Art. 225 prevê que: https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2023/07/17/interna_nacional,1520762/cesio-137-cnen-ainda-monitora-cemiterio-de-rejeitos-em-goias.shtml https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2023/07/17/interna_nacional,1520762/cesio-137-cnen-ainda-monitora-cemiterio-de-rejeitos-em-goias.shtml https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2023/07/17/interna_nacional,1520762/cesio-137-cnen-ainda-monitora-cemiterio-de-rejeitos-em-goias.shtml LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988). Isso implica que todos os indivíduos têm não apenas o direito de se beneficiar de um meio ambiente equilibrado, mas também o dever de manter e protegê-lo para a posteridade. Daí resulta um direito e um dever do Estado de proteger e preservar o meio ambiente no desenvolvimento de suas funções executivas, legislativas e judiciárias. Segundo Benjamim (2012), muitas foram as consequências para o ordenamento jurídico pátrio de atribuir ao meio ambiente a característica de direito humano fundamental, dentre as quais destaca a aplicabilidade direta desse direito e o estabelecimento de um princípio de priorização do meio ambiente sobre os demais bens. “Meio ambiente” é entendido aqui em sua definição ampla como “o conjunto de condições, leis, influências e interações da física, química e biologia que permite, abriga e estimula a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981) e é reconhecido como um bem jurídico protegido autônomo. Ainda de acordo com a Constituição, para garantir o pleno exercício do que é estabelecido no Art. 225, cabe ao poder público (BRASIL, 1988): I - Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV: exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - Controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - Proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 VIII - manter regime fiscal favorecido para os biocombustíveis destinados ao consumo final, na forma de lei complementar, a fim de assegurar-lhes tributação inferior à incidente sobre os combustíveis fósseis, capaz de garantir diferencial competitivo em relação a estes (..);” (BRASIL, 1988) Vale ressaltar que, embora a Constituição trate de questões ambientais, principalmente por meio do Título VIII (Ordem Social), Capítulo VI (que inclui o artigo 225), há diversos outros artigos em seu texto relacionados ao tema, como o artigo 3º (dignidade da a pessoa humana), artigo 5.º (proteção do direito à vida e à saúde), artigo 186.º inciso II (função ecológica da propriedade), artigo 170.º (função social da propriedade) e artigo 182.º (política de desenvolvimento urbano). Além disso, a Constituição trouxe uma série de princípios explícitos e implícitos do direito ambiental, dentre os quais pode-se destacar princípios de desenvolvimento sustentável, cooperação,participação, não regressão, in dubio pro natura e precaução. Todos esses princípios devem ser observados pelos órgãos legislativos, órgãos governamentais e juízes nos casos em que se trata de meio ambiente. Além disso, estabelecem diretrizes e delimitam a atuação dessas instituições e agentes. Os tribunais no Brasil, por exemplo, têm o relevante dever constitucional de aplicá-los e interpretá- los adequadamente, buscando a proteção integral do meio ambiente. Diante de tudo isso, pode-se argumentar resumidamente que o arcabouço constitucional brasileiro (1) confere um direito fundamental exigível ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, (2) estabelece a proteção ambiental como um direito e dever vinculante do Estado, (3) fornece uma estrutura conceitual para políticas públicas e (4) assume forte e distinta tutela jurisdicional do meio ambiente (MORATO LEITE; BORATTI, 2015); representando o cerne do direito ambiental brasileiro. Além disso, fornece fundamentos para o fortalecimento do Estado de direito para a natureza. Uma dimensão importante a ser discutida no contexto da década de 1990 é a dos compromissos ambientais internacionais do Brasil, pois eles tiveram forte influência em suas políticas ambientais. Como a Cúpula do Rio de 1992 ocorreu no Brasil, esperava-se obviamente que o país anfitrião adotasse prontamente leis e políticas em consonância com esta grande cúpula ambiental. Em um sentido amplo, o Brasil de fato tem se comportado dessa maneira, para aplausos da maioria das organizações ambientais, nacionais e internacionais Em relação às políticas e leis ligadas às mudanças climáticas, o Brasil se engajou nas negociações internacionais a respeito do ponto de vista de que seu orçamento LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 energético (predominantemente baseado em energia hidráulica) é bastante “limpo” em comparação com os países mais ricos, que consomem intensivamente combustíveis fósseis. Assim, a delegação brasileira insistiu na questão da responsabilidade histórica dos países que passaram por suas revoluções industriais nos séculos XVIII e XIX. Essa é a principal razão pela qual a legislação nacional sobre o assunto não sofreu nenhuma mudança radical na última década: o Brasil tem estado praticamente livre de pressões internacionais sobre o assunto. Não obstante, o Brasil adotou diversas resoluções e políticas de controle de poluição e emissões atmosféricas, demonstrando seu compromisso com a proteção da qualidade de vida, especialmente nas grandes cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte (OLIVEIRA, 2017) Além disso, é notório salientar que questões ambientais vêm recebendo cada vez mais atenção no Poder Legislativo brasileiro com a promulgação de diversas regulamentações ambientais que obrigam os setores público e privado a considerar constantemente a agenda ambiental em suas atividades. Dentre as legislações ambientais brasileiras, destacam-se: • Lei 9.433/1997: Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos. • Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998: Infrações penais e administrativas ambientais; e seu Decreto 6.514, de 22 de julho de 2007. • Lei 10.650 de 16 de abril de 2003: Acesso à informação ambiental. • Lei 9.795/1999: Lei da Política Nacional de Educação Ambiental. • Lei 9.985/2000: Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. • Lei 10.650 de 16 de abril de 2003: Acesso à informação ambiental. • Lei 11.445/2007: Lei da Política Nacional de Saneamento Básico (reformulada pela Lei 14.026/2020, que atualiza o marco legal nacional de saneamento básico). • Decreto 6.040/2007: Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável e Povos e Comunidades Tradicionais. • Lei 12.187/2009: Lei da Política Nacional de Mudanças Climáticas. • Lei 12.305/2010: Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. • Lei complementar 140/2011: Clarifica e delimita as competências ambientais de cada esfera de governo no Brasil, com o objetivo de evitar conflitos e sobreposições, inclusive no que diz respeito ao licenciamento ambiental. • Lei 12.587/2012: Lei Nacional de Política Urbana. • Lei 12.651/2012: Novo Código Florestal. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 • Decreto 7.747/2012: Política de Proteção Territorial e Ambiental de Terras Indígenas. • Lei 13.123/2015: Lei da Política Nacional de Biodiversidade. Essas leis, entre outras, estabelecem em nível federal um conjunto de dispositivos que conferem proteção legal específica a diversos aspectos do meio ambiente, elaborando e implementando os direitos e princípios constitucionais. De acordo com a Constituição Federal brasileira, o Governo Federal e os Estados têm o poder de legislar de forma competitiva sobre proteção ambiental e controle da poluição, bem como sobre responsabilidade por danos ambientais. Adicionalmente, os Municípios também têm o direito de legislar sobre questões ambientais em relação a questões consideradas de interesse local, podendo complementar a legislação federal e estadual sempre que necessário. Portanto, todos os níveis de governo legislam sobre questões ambientais e existe uma ampla legislação federal, estadual e municipal sobre o assunto. Embora haja alguma divergência, a visão majoritária da doutrina e do Judiciário é que, nas situações de conflito de normas, prevalecerá a legislação que ofereça maior proteção ao meio ambiente (OLIVEIRA, 2017) LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 CAPÍTULO 3 INTRODUÇÃO AO DIREITO E SISTEMAS JURÍDICOS A lei tem significados diferentes, bem como funções diferentes. Os filósofos consideraram questões de justiça e direito por séculos, e várias abordagens diferentes, ou escolas de pensamento jurídico, surgiram. Neste capítulo, examinaremos esses diferentes significados e abordagens e consideraremos como as dinâmicas sociais e políticas interagem com as ideias que animam as várias escolas de pensamento jurídico. Também veremos conceitos fundamentais relacionados e que distinguem legislações: lei, decreto, resolução e afins. Será observado as diferenças entre Programas e Políticas nacionais; por fim, abordaremos a respeito da hierarquia legal no Brasil. Título: Legislação Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/martelo-justi%C3%A7a-jur%C3%ADdico-juiz-3577254/ 3.1 Definições Em uma nação, a lei pode servir para (1) manter a paz, (2) manter o status quo, (3) preservar os direitos individuais, (4) proteger as minorias contra as maiorias, (5) promover a justiça social e (6) promover uma mudança social ordenada. Alguns LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PROF. JOÃO VITOR RODRIGUES DE SOUZA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 sistemas jurídicos atendem melhor a esses propósitos do que outros. Embora uma nação governada por um governo autoritário possa manter a paz e manter o status quo, ela também pode oprimir minorias ou oponentes políticos (por exemplo, Birmânia, Zimbábue ou Iraque sob Saddam Hussein). Sob o colonialismo, as nações europeias muitas vezes impuseram a paz em países cujas fronteiras foram criadas de forma um tanto arbitrária por essas mesmas nações europeias (GRANZIERA, 2015). Ao longo de vários séculos antes do século XX, impérios foram construídos pela Espanha, Portugal, Grã-Bretanha, Holanda, França, Alemanha, Bélgica e Itália. Em nações que eram ex-colônias de nações européias, várias facções étnicas e tribais frequentemente dificultam o governo efetivo de um governo único e unido. Em Ruanda, por exemplo, as lutas pelo poder entre hutus e tutsis resultaram no genocídio da minoria tutsi. (O genocídio é a morte deliberada e sistemática ou o deslocamento de um grupo de pessoas por outro grupo. Em 1948, a comunidade internacional condenou formalmente o crime de genocídio.) Nas nações da antiga União Soviética, a retirada de um poder central criou vácuos de poder que foram explorados por líderes étnicos. Quando
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