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REDES II – LONGA DISTÂNCIA E DE ALTO DESEMPENHO AULA 6 Prof. Gian Carlo Brustolin 2 CONVERSA INICIAL WANs sem fio No estágio atual do desenvolvimento tecnológico das telecomunicações, as conexões de backbone de longa distância parecem estar convenientemente suportadas pelos cabos de fibra óptica. Conexões de última milha em centros urbanos também encontraram viabilidade econômica, dada a concentração de acessos. Há, entretanto, como já comentado, algumas lacunas de cobertura quando os custos de implantação óptica não se justificam tanto nos acessos de média distância quanto em last miles em áreas de baixa concentração de usuários. A conectividade sem fio de baixo custo para grandes velocidades e de médio alcance, bem como de última milha, são sonhos perseguidos pelos fabricantes de tecnologia e pelas operadoras há algumas décadas. Com a sedimentação das técnicas de modulação QAM, significativos passos foram dados na direção da viabilização desses sonhos. Algumas dessas tecnologias sem fio, como o WIMAX (IEEE 802.16), são viáveis para implementações de WANs públicas ao passo que o 802.11 e LoRa podem ser soluções privadas interessantes. A flexibilidade de implementações de radiopropagação é opção que preserva, ao menos em sua maior parte, os investimentos em caso de alterações de topologia de rede. Estes fatos nos conduzem ao estudo de algumas implementações destas tecnologias nesta aula. Segundo Guimarães (1998), os sistemas sem fio podem ser classificados em algumas categorias: WANs sem fio para sistemas celulares, telefonia sem fio ad hoc e os sistemas via satélite. Para possibilitar a exposição destas tecnologiais ainda restam alguns conceitos iniciais a apresentar. TEMA 1 – CONEXÕES MULTIPONTO E LINHA DE VISADA Alguns rádios são projetados para permitir a conexão ponto a ponto entre dois transceptores, outros facultam a conexão de vários transceptores a um ponto de acesso (ou estação base) central que gerencia a comunicação. Ainda é possível que tais enlaces ocorram em visibilidade ou não. Vamos elucidar estes conceitos a seguir. 3 1.1 Rádio PTP, PTM e MTM Estudamos, anteriormente, sobre radiocomunicação, transceptores que realizam a conexão entre dois pontos estáticos. Este radioenlace é dito enlace ponto a ponto ou PTP (Point to Point). As primeiras experiências de radiopropagação visavam, entretanto, desenvolver um equipamento de radiodifusão (broadcasting em inglês), ou seja, capaz de estabelecer um canal simplex entre uma estação de radiotransmissão e vários receptores localizados nas residências (fixos) ou em veículos (móveis). Esta modalidade é dita transmissão ponto-multiponto ou PTM. Figura 1 – PTM Simplex A ideia do PTM duplex não demorou a surgir. Considerando que todos compartilham a mesma portadora e que a estação-base possui uma potência de transmissão suficiente para atingir a todos os receptores, estes poderiam ter a função de transmissão também habilitada, permitindo a comunicação duplex com a base. Naturalmente a estação rádio-base (ERB) escutará a todos os transceptores, mas nem todos os transceptores escutar-se-ão mutualmente. Isto ocorre posto que as potências de transmissão (TX) destes equipamentos são baixas em relação à ERB. Para permitir a comunicação full duplex, passou-se a utilizar um par de portadoras, uma para TX e outra para RX. Ainda assim, vários transceptores poderiam entrar em TX simultaneamente, impossibilitando, neste caso, o 4 entendimento. A solução deste problema é obtida por um algoritmo de multiplexação do meio, reservando segmentos temporais ou espectrais para cada transceptor, assim surgiram os rádios PTM full duplex. Os transceptores PTM full duplex, por analogia ao sistema telefônico, são chamados de assinantes. O processo de transmissão, para os assinantes, é chamado de downlink ao passo que a comunicação entre assinante e ERB, uplink. Nesta modalidade de comunicação existirá uma “autoridade central” que gerenciará a comunicação entre os assinantes e a comunicação não ocorrerá diretamente entre eles. Alternativa a este modelo, em que a comunicação direta entre assinantes é facultada, são as redes MTM (multiponto-para-multiponto), ou mesh. Nestas redes os assinantes ganham o nome de nós e cada nó comunica-se com o outro sem a necessidade do gerenciamento central (Flickenger, 2008, p. 53). Figura 2 – Comunicação MTM Fonte: Flickenger, 2008, p. 54. Redes mesh exigem que cada nó tenha capacidade de processamento e e roteamento mas, justamente por essa característica, são bastante resilientes e flexíveis quanto à sua expansão. Naturalmente a complexidade maior dos nós restringe o desempenho em relação aos modelos PTP e PTM. 1.2 Enlace LOS e NLOS Como estudamos anteriormente, a transparência dos meios à OEM depende da frequência. Objetos refletem, refratam ou absorvem a onda de rádio conforme a frequência de operação. Dito de outra forma, o mesmo objeto pode 5 ser transparente, refratando a onda, em uma dada frequência, mas, quando operamos em frequências mais altas, passa a refletir, apresentando opacidade, por vezes, completa, à onda. Esta característica física das OEMs nos permite imaginar que determinados radioenlaces só são viáveis na ausênciade objetos na linha de visada entre a antena de RX e a de TX. Tais enlaces são ditos LOS (Line of Sight) ou de visada direta. Figura 3 – Enlace Micro-ondas satelital em LOS Enlaces em frequências mais baixas (abaixo de 1 GHz, por exemplo) podem operar mesmo com interposição de objetos sólidos, com perdas aceitáveis. A operação de telefonia celular, na proximidade dos 800 MHz, é um bom exemplo de operação sem linha de visada direta. Estes enlaces são ditos NLOS (Not in Line of Sight) ou sem visada direta. Devemos comentar que mesmo enlaces de SHF podem operar em NLOS desde que sejam aceitáveis perdas significativas no nível do sinal recebido. O desenvolvimento de técnicas de modulação por espalhamento espectral (spread spectrum em inglês), a exemplo do QAM e QPSK, que permitem SNR baixas, facultou a radiocomunicação PTN NLOS de banda larga, com altas taxas de transmissão. O WIMAX é um exemplo de aplicação desta tecnologia. 6 TEMA 2 – WIMAX O crescimento da demanda por conectividade, em paises como o Brasil, no início deste milênio, não foi atendido plenamente pela infraestrutura existente. Soluções sem fio, como o WLL (Wireless Local Loop), precisaram ser rapidamente implantadas. Este atendimento de última milha, entretanto, estava focado em voz e canais de baixa velocidade. Sistemas mais poderosos, operando em frequências acima de 2 GHz, foram desenvolvidos para permitir a conectividade de banda larga. O LMDS (Local Multipoint Distribution Systems ou sistemas de distribuição local multiponto) foi a primeira resposta da indústria que permitiu a conexão de vários usuários fixos locais em banda larga (Andrews et al., 2007). O WIMAX (Wordwide Interoperability for Microwave Access, ou interoperabilidade mundal para acessos em micro-ondas) foi idealizado como um padrão mundial de interoperabilidade, para redes sem fio em altas frequências e para altas taxas de transmissão. A ideia do IEEE seria padronizar protocolos e tecnologias, como feito nos protocolos PCM e de multiplexação óptica, de forma que a operação poderia ser transparente aos diversos fabricantes porventura existentes. O sistema, baseado em transmissão sem fio ponto-multiponto, teria foco em redes MAN (Metropolitan Area Networks) urbanas públicas (Fey, 2015, p. 232). O padrão recebeu o código IEEE 802.16 e pode ser descrito, em sua aplicação PTM, por aproximação, como um sistema celular fixo voltado à transmissão de dados, uma vez que a estação-base de rádio pode suportar vários “assinantes”, maso padrão original os supõe fixos. As primeiras implementações apontavam para a solução definitiva de acesso de last mile de banda larga à internet (Andrews et al., 2007). O padrão estabelece, também, as diretivas de desenho para um segmento da rede operando em PTP, idealizado para as conexões entre estações-base ou entre a estação-base e o backbone da operadora. 2.1 Camada Física O IEEE 802.16 é um padrão que evoluiu de um sistema PTM LOS para um sistema PTM NLOS. Esta evolução só foi possível graças ao desenvolvimento das técnicas de modulação multifrequenciais já apresentadas. 7 O WIMAX, originalmente, utiliza OFDM (Orthogonal Frequency Division Multiplexing) como técnica de multiplexação que consiste em dividir um sinal de alta velocidade em sub-sinais de menor velocidade, transmitindo cada um deles em uma frequência sub-portadora. Esta técnica “alarga” os pulsos de cada sub- sinal, reduzindo a interfrência intersimbólica. O surgimento do WIMAX móvel, IEEE 802.16e incluiu alguma complexidade extra com alocação dinâmica das sub-portadoras para os assinantes. Da mesma maneira que estudamos no TDM clássico, cada assinante receberá um slot que, no caso do WIMAX, será uma reserva dedicada de tempo e sub-portadora. Um assinante com maior demanda de dados poderá receber mais de um slot dedicado. O algoritmo de multiplexação marcará, então, os slots para que, na fase de demultiplexação, possam ser remontados em um único feixe de dados. O processo de transmissão para os assinantes (downlink) se dá em rajadas espaçadas. Nos espaços entre rajadas, abre-se a janela de uplink. As técnicas usadas garantem boa qualidade e taxa de transmissão em distâncias de até 50 km. Há um protocolo de garantia de qualidade implementado pelo CqICh (Chanel-quality Indicator Chanel). O CqICh é um canal de retorno do assinante que fornece, à estação-base, dados sobre a qualidade de recepção, permitindo ajustes. No sentido contrário, a qualidade é garantida pela leitura dos cabeçalhos enviados regularmente durante o uplink, ditos midambles. Nas implementações atuais, o WIMAX pode escolher entre processos de modulação diversos (QAM 16, QAM 64, QPSK ...) de forma a otimizar a relação sinal-ruído. A adaptabilidade da estação-base pode ocorrer, hipoteticamente, a cada rajada de downlink. A velocidade de conexão, dada esta flexibilidade nas técnicas transmissão, pode variar a cada rajada. 2.2 Camada de acesso ao meio – MAC Como estudamos anteriormente, a camada física apresenta grande flexibilidade, de forma a preservar a qualidade e estabilidade do serviço. Uma camada física fléxivel, entretanto, demandará uma camada de controle de maior complexidade. A camada MAC deve, inicialmente, prover a interface entre a camada física e a camada de transporte. Os pacotes vindos da camada de transporte são 8 ditos MSDUs (MAC Service Data Units ou unidades de dados do serviço MAC). Estes pacotes, hipoteticamente, podem ser originados em qualquer protocolo de transporte, porém, as implementações mais recentes têm focado em pacotes IP. Os MSDUs serão, então, transformados em unidades de dados do protocolo (MPDU), que poderão ter tamanhos variados em função das taxas de transmissão envolvidas e do padrão de qualidade de transmissão. Os MPDUs foram desenhados para suportar serviços de controle de fluxo como aqueles associados ao MPLS ou outros protocolos de qualidade fim a fim IP. Facilidades de economia de bateria, como modo de operação suspenso ou de hibernação, são possibilitadas por implementações no protocolo de sinalização. Estas facilidades são importantes para clientes móveis ou fixos sem fontes de alimentação perenes. O protocolo de sinalização permite que o dispositivo negocie previamente, com a estação-base, períodos de desligamento absoluto. Estes períodos podem crescer exponencialmente até um valor máximo, em caso de inatividade prolongada. Períodos de hibernação indefenidos também podem ser estabelecidos. Nestes casos, o dispositivo é registrado em um conjunto predefinido de estações-base. Ao entrar em hibernação, o dispositivo não manterá comunicação alguma com qualquer base. Na eventualidade do endereçamento de um pacote para o dispositivo em hibernação, as estações-base predefinidas endereçam o dispositivo, este, então, responde à estação de melhor qualidade de sinal e o canal é estabelecido. Naturalmente, esta facilidade indica a necessidade de uma base de dados de assinantes compartilhada entre as estações-base. A Figura 4 ilustra esta ideia. 9 Figura 4 – Base de dados do WIMAX Crédito: Jefferson Schnaider. A base de dados é dita MIB (Mannagement Information Base) e recebe informações prévias da operadora, bem como informações advindas do dispositivo no momento da conexão. 2.3 Antenas Antenas para radio propagação, em sistemas WIMAX, do lado da estação-base, não diferem fisicamente daquelas usadas em sistemas WiFi de grande capacidade. Algumas antenas, de alto ganho, com refletores planos, foram desenhadas para o atendimento às interconexões NLOS de longa distância, assemelhando-se a um prato plano de duas ou três dezenas de centímetros de diâmetro. As facilidades de economia de energia e de QoS, implementáveis no WIMAX, o tornaram uma opção viável para atendimentos em topografias complexas ou em soluções de interconexão segura de dados. Assim, do lado 10 dos dispositivos de acesso, soluções de miniaturização dos dispositivos propagantes precisavam ser implementadas. O grande problema de implementação é a flexibilidade do WIMAX, em relação à tecnologia de modulação, que exige antenas reconfiguráveis (Shi; Ding, 2015). A Figura 5 mostra uma microantena, reconfigurável eletronicamente, implentável diretamente em placas de circuito impresso. Figura 5 – Antena microstrip para WIMAX Crédito: Flávio Oliveira. Os sistemas WIMAX entraram em relativa obsolescência com a evolução das redes celulares na direção da transmissão de dados. Fato é que os padrões IEEE 802.16 estabelecem, como já comentamos, redes complexas que contam com QoS e gerenciamento de enlace, facilidades parcamente suportadas em redes de telefonia celular. Desta forma, é possível o uso do WIMAX como last mile de redes de alto desempenho. Esta aplicação não pode ser implementada, ao menos no momento atual, por redes celulares. Mesmo com esta importante diferença de qualidade, boa parte dos potenciais clientes do WIMAX foram absorvidos por redes de telefonia celular, retendo os investimentos nesta tecnologia. 11 TEMA 3 – TELEFONIA CELULAR O sistema de telefonia celular, quando de sua criação, tinha foco exclusivo em voz. Uma restrita banda de dados foi, em seguida, idealizada para transmissão de pequenas mensagens de texto, os SMSs, sigla advinda do inglês Short Message Service. Este serviço, ainda em operação, permite a transmissão de até 160 caracteres de texto e marcou o início da digitalização da comunicação celular. Os sistemas celulares, dado o exposto, não fariam parte do conjunto de soluções para redes de longa distância. Os sistemas evoluíram, entretanto, para permitir tráfego de banda larga com razoável qualidade. Este fato tornou a conexão celular uma possível alternativa de conectividade em situações limítrofes. Para que possamos entender qual a aplicabilidade deste sistema, devemos analisar muito brevemente a telefonia celular. 3.1 Os Primeiros sistemas Celulares A comunicação móvel captou usuários com extrema velocidade e a busca por facilidades, que ultrapassavam a mera comunicação de voz, tornou-se uma pressão constante sobre as operadoras do sistema móvel celular. Esta pressão rapidamente se traduziu em novos produtos e novas tecnologias. Os saltos tecnológicos em telefonia celular foram batizados de “gerações”,assim surgiram as siglas 3G, 4G e 5G, identificando, respectivamente, a terceira, quarta e quinta geração do sistema. Isto nos leva a pensar sobre as duas primeiras gerações, nas quais todos os conceitos básicos de telefonia celular foram edificados. Como já comentamos, os primeiros sistemas (primeira geração) eram voltados à comunicação de voz. Tratava-se de sistemas analógicos de rádio, nos quais o sinal de voz é modulado diretamente sobre a portadora de radiofrequência. Estes sistemas ditos AMPS (Advanced Mobile Phone System ou sistema avançado de telefonia móvel) entraram em operação em 1983 nos Estados Unidos. São sistemas PTM que utilizam multiplexação FDM sobre modulação FM. Havia duas bandas (A e B), operando na faixa de 800 MHz, que disponibilizavam 416 canais simultâneos. Os detalhes de operação deste sistema não são importantes para nosso estudo, mas o conceito de células e 12 de roaming, posteriormente padronizados pela EIA 553, são a base de todas as gerações futuras. As células são áreas de cobertura de determinado conjunto de frequências. Uma ERB divide a região de cobertura em sete células não interferentes. Este conceito, ao primeiro momento, parece inútil, mas quando várias ERBs operam proximamente o padrão demonstra sua utilidade. Na figura a seguir, os círculos demarcam as áreas de cobertura de cada ERB. Cada cor representa uma área com características não interferentes com as demais cores. Como facilmente se observa, o esquema das multicélulas faculta a cobertura de determinadas regiões por mais de uma ERB. Esta solução permite a troca de conexão de um assinante em movimento entre duas ERBs contíguas sem que seja necessária a desconexão, ou a interrupção da conexão. As ERBs são conectadas a uma CCC (Central de Comutação e Controle), a qual se conecta com o restante da rede pública, permitindo a interconexão com redes de telefonia fixa, outras operadoras celulares ou à internet. A CCC gerencia a conexão dos assinantes e auxilia no processo de troca de ERBs conforme o assinante se afasta de uma ERB ou quando a qualidade do sinal sofre degradação. Figura 6 – Sistema celular 13 Os sistemas de primeira geração cederam espaço para sistemas digitais, que utilizam amostragem da voz pelo método PCM. Estes sistemas, de transmissão digital de voz serão ditos de segunda geração. Como a comunicação, entre ERB e assinante, passa a ocorrer pela transmissão de conjuntos de bits, a limitação de uso do sistema apenas para voz perde o sentido e surgem os primeiros PCSs (Personal Communication Systems) que associam facilidades de conexão de dados à capacidade inicial de voz. Esta segunda geração possui vários padrões, ainda operacionais, como GSM e EDGE. Estes sistemas permanecem ainda como âncoras de interoperabilidade dos sistemas de gerações posteriores, bem como atendem às contingências operacionais. Sua cobertura e potência de transmissão típicas são maiores que as gerações mais novas, o que permite manter a operação em caso de falha de ERB próxima. Estes sistemas, de segunda geração, podem suportar taxas de transmissão de dados, por assinante, inferiores a 9,6 kbps e permitiram, pela primeira vez, a utilização do módulo de identificação de usuário, dito SIM (Subscriber Identification Module), e de criptografia de canal. 3.2 3G, 4G e 5G Consolidada a tendência à presença de dados, simultaneamente à disponibilidade de voz, o ITU (União Internacional das Telecomunicações) criou o padrão nomeado de IMT-2000, que estabelecia regras para este compartilhamento. Os novos padrões, de fato, são evoluções dos sistemas GSM e CDMA. Os mais populares no Brasil são 1xEV-DO, com downlink de 2,4 Mbps e uplink de 153 kbps e WCDMA, originário do GSM, com uplink e downlink compartilhando banda de 5 Mbps. Em ambos os casos, modulações de espalhamento como QAM e QPSK, com constelações de até 16 variações, são utilizadas para permitir o trânsito estável de dados em condições ruidosas. A convergência efetiva entre voz e dados foi prometida pelos fabricantes na quarta geração. 4G não é, antagonicamente ao 3G, um padrão internacional, mas sim uma designação dada as tecnologias sem fio convergentes que surgiram após o IMT-2000 (Oliveira et al., 2018). O objetivo básico das tecnologias 4G (por vezes dita LTE do inglês Long Term Evoluntion) é a garantia de qualidade de serviço para comunicação 14 multimídia tanto quanto de serviços de voz e dados mantendo compromisso de otimização de rede. Dito de outra forma, o 4G busca a melhor relação de entrega de serviços para dada condição de rede, otimizando dinamicamente a utilização dos recursos da rede e do assinante. Por ser uma rede convergente, toda a comutação se dá por pacotes. A arquitetura (dita SAE ou System Architecture Evolution) divide o controle de roteamento em dois planos, um principal, dito MME (Mobility Management Entity) e um secundário, do usuário, dito SGW (Serving Gateway). A figura a seguir ilustra a arquitetura utilizada. Implementando técnicas semelhantes, em seu estágio de rádio transmissão, ao 3G, as tecnologias 4G voltam-se totalmente para o roteamento IP, adaptando a comutação de pacotes tradicionais, em redes com fio, para a realidade wireless. Além disso, o 4G deve ser plenamente compatível com os legados, permitindo a coexistência de assinantes, operando em gerações anteriores. Figura 7 – Arquitetura SAE Crédito: Jefferson Schnaider. As taxas de transmissão possíveis no 4G são 100 Mbps de download e 50 Mbps de upload. O WIMAX, estudado anteriormente neste capítulo, pode ser enquadrado como uma tecnologia de quarta geração. 15 Finalmente, abordaremos muito rapidamente o 5G. As técnicas utilizadas no 4G, embora extremamente eficientes, apresentam algumas lacunas quando delas se exige baixa latência e altas taxas de conexão por usuário. Tais demandas são, entretanto, novas, advindas, principalmente, de aplicações IoT (como câmeras de vigilância), realidade aumentada, sistemas de saúde e streaming de vídeo. Estas demandas migraram de aplicações profissionais corporativas para o cotidiano das redes móveis, pressionando a qualidade e desempenho destas redes, originalmente pensadas para usos menos complexos. O núcleo de roteamento e a interface rádio dos sistemas 4G não suportariam, consistentemente, este novo tráfego (Oliveira et al., 2018). Algumas evoluções do entendimento das redes de computadores, como técnicas de flexibilização da arquitetura de roteamento por softwares e virtualização, quando associadas às poderosas técnicas de controle de cobertura por antenas inteligentes, facultaram um salto tecnológico nas redes sem fio móveis, capaz de atender às novas demandas de rede. A pirâmide, a seguir, apresenta algumas destas demandas quando associadas às limitações das redes legadas. 16 Figura 8 – Novas demandas para redes móveis 5G Crédito: Jefferson Schnaider. A rede 5G foi pensada para manter a operabilidade legada, bem como tirar proveito de área de cobertura WIMAX e WiFi. Desta forma, a ideia da divisão de planos de roteamento, introduzida no 4G, é mantida e ampliada no 5G. Separa-se, no 5G, efetivamente, o roteamento ligado ao plano usuário (PU), do plano de controle (PC), mantêm-se o SGW do usuário e acrescenta-se um gateway de pacotes da rede (PGW). A figura a seguir ilustra a arquitetura comentada. Como é possível observar, as mudanças e upgrades no PU são independentes do PC, permitindo, assim, acréscimos de banda a um dado usuário sem que o sistema de controle precise sofrer alterações. 17 Figura 9 – Arquitetura 5G Fonte: adaptado de Oliveira et al., 2018. Do ponto de vista de interface rádio, o 5G cria o conceito de NR (New Radio), mais flexível que as interfaces 4G que se restringiam ao espectro de frequências reservadoà telefonia pública. As interfaces NR do 5G permitem conexões nas faixas do IEEE 802.11, IEEE 802.16, além de espectro de alta frequência, acima de 24 GHz. Esta flexibilidade no uso do espectro de frequências possibilita altas taxas de transmissão, apesar das restrições de cobertura, inerentes a cada faixa individualmente. 3.3 Utilização de Telefonia Celular em Redes de Longa Distância Estudamos brevemente a telefonia celular, sua evolução e potencial. Devemos, agora, identificar de que forma usar suas facilidades para conectividade de longa distância. 18 A conexão habitual entre a ERB e assinante supõe um usuário móvel provido de um equipamento portátil, a exemplo de um smartphone. Não tão comuns, outros equipamentos podem fazer as vezes do telefone móvel. POS (Point of Service ou pontos de serviço), como máquinas de cartão de crédito, ou mesmo notebooks, podem ser equipados com chips SIM, tornando-se capazes de estabelecer conexão com a rede celular. A ERB permitirá, então, a comunicação deste usuário com uma rede pública comutada privativa (como no caso dos POS) ou, genericamente, com a internet, no caso dos computadores móveis. 3.3.1 Redes Celulares Públicas Privativas A criação de redes privativas pelas operadoras de sistemas celulares não é algo novo e soluções para conexão de baixa velocidade já estão bastante sedimentadas. Neste caso, a operadora cria uma rede privativa, em seu backbone, e os usuários de determinada corporação podem a ela se conectar, bastando, para isso, localizarem-se na região de cobertura de qualquer ERB. Estes sistemas, originalmente de baixa velocidade, evoluíram na quarta e quinta geração, para conexões de banda larga, com disponibilização de facilidades de videoconferência e acesso às informações corporativas, de alto desempenho. TEMA 4 – RÁDIO PONTO A PONTO Conectar um ponto remoto da rede WAN, distante da área de cobertura de uma operadora de serviços de telecomunicação, pode ser uma tarefa de alto custo. As operadoras enfrentam esta questão transferindo integralmente os custos de implantação e manutenção deste last mile para o contratante, acrescido de sua margem de lucro. A questão é que os custos da operadora são aceitáveis apenas quando compartilhados entre vários usuários. Uma solução possível é a implantação de um link de rádio ponto a ponto. O problema inerente a esta solução são os custos elevados de sistemas rádio de alta estabilidade, que normalmente exigem redundância de equipamentos e antenas de alto desempenho. Este problema foi convenientemente enfrentado 19 pela adaptação de uma técnica utilizada em rádios militares, que buscava imitar o espectro do ruído branco, dito espalhamento espectral. 4.1 Rádios de Espalhamento Espectral As técnicas de modulação, até aqui apresentadas, foram originalmente desenvolvidas para permitir a transmissão de voz e, posteriormente, adaptadas para a comunicação digital. Ao se adaptar o AM para o ASK, por exemplo, perde- se muito da potencialidade do canal. Utilizamos um canal que pode transportar, hipoteticamente, infinitas frequências dentro do espectro de voz reduzido de 4 kHz, para o transporte de apenas uma frequência (ou eventualmente poucas frequências) que estarão presentes ou ausentes conforme o código binário que a controla. Esta subutilização do espectro de frequências para a transmissão de dados, entretanto, foi superada pelas técnicas de modulação em quadratura, que já estudamos. Estas técnicas, apesar de otimizarem o uso do espectro, apresentam certa instabilidade para ambientes ruidosos. Maior estabilidade se obtém com o espalhamento espectral (spread-spectrum). Sistemas spread-spectrum propositalmente espalham o sinal em um espectro de frequências maior que o originalmente necessário, segundo o teorema de Nyquist, apresentado anteriormente. Aparentemente, técnicas de espalhamento espectral vão na contramão das otimizações de banda obtidas pelas QAM, mas há um motivo para tal atitude. Espalhar o sinal transmitido em frequência o torna mais resiliente ao ruído. Por termos a informação espalhada, obtém-se o equivalente à redundância de transmissão, mesmo que algumas faixas de frequência sofram desvanecimento, a informação permanecerá intacta em outra área do espectro. Assim é possível implantar um sistema de rádio de baixo custo e alta qualidade. 4.2 Radioenlace Spread Spectrum PTP A técnica de espalhamento espectral permite a operação mesmo com relações sinal ruído (NSR) menores que um. A potência presente na recepção, entretanto, deve ser suficiente para que o receptor decodifique o sinal recebido. Na figura a seguir, vê-se a codificação do sinal, em frequência, segundo um padrão pseudoaleatório conhecido, o qual é utilizado para a decodificação. 20 É possível observar também que a energia total do sinal se espalha no espectro durante a transmissão e é recomposta no receptor. Parte da energia do sinal se perde por efeito da interferência do meio. Desta forma, embora a transmissão possa ocorrer com NSRs baixas ou negativas (em dBs), a presença do ruído consome parte da energia do sinal, restringindo apenas o alcance do rádio e não a inteligibilidade. Figura 10 – Codifi cação dos dados por espalhamento espectral Fonte: Maxim, 2021. Distância típicas destes radioenlaces são próximas a uma dezena de quilômetros e normalmente não superam os 30 km. Naturalmente, é possível suplantar este valor com o uso de repetições, mas os custos de equipamento, manutenção e implantação sobem rapidamente tornando distâncias acima de 150 km inviáveis. TEMA 5 – REDES SATELITAIS A solução mais tradicional para acesso a pontos remotos da rede é a satelital. A comunicação satelital já foi o elo de interligação entre as regiões mais remotas do nosso território, permitindo a transmissão não apenas de sinais de voz, mas também de imagens (broadcasting de TV) e conexão básica à internet. Esta solução ainda permanece em uso quando a distância da geografia corporativa em relação à rede pública mais próxima monta a algumas centenas de quilômetros. Nestes casos, mesmo o uso de rádios ponto a ponto, de espalhamento tornam-se excessivamente custosos ou implicarão em custos de manutenção de repetidoras proibitivos. A conexão de longa distância sem fio RF IN DATA DATA SPREAD DATA SPREAD AND INTERFERER DESPREAD DATA AND INTERFERER SPREAD SPREAD-SPECTRUM CODE SPREAD-SPECTRUM CODE INTERFERER RECEIVE CHAIN DATA OUT DATA IN TRANSMISSION CHAIN RF OUT RF LINK 21 satelital será implantada por uma operadora de telecomunicação que possua banda satelital contratada. Segundo Guimarães (1998), os tipos de serviços via satélite oferecidos pelas operadoras podem ser: de faixa estreita, para comunicação de voz e dados de baixa velocidade (a exemplo do VSAT), ou de faixa larga, para comunicação multimídia. 5.1 VSAT VSAT, ou Very Small Aperture Terminals, é uma tecnologia de conexão satelital de porte e custos aceitáveis. A estação de rádio digital VSAT é equipada com antenas parabólicas de diâmetro inferior a 3 metros. Em faixas de 20 GHz, antenas de 20 cm apresentam resultados estáveis de conexão, para capacidades de transmissão reduzidas. As redes satelitais contam com dois tipos de estações terrestres: Hubs (ou máster), que são estações exclusivas das operadoras e têm a finalidade de gerenciar as redes e as estações terrestres, de usuários, ditas remotas. As remotas podem ser fixas (FSS) ou móveis (MSS) e para cada um destes casos o serviço satelital ofertado será diverso, como diverso poderá ser o tipo de satélite escolhido para a prestação do serviço. O serviço VSAT utiliza satélites geoestacionários, em órbitas de 36.000 km, e as frequências reservadas para sua operação estão na faixa de SHF. Remotas VSAT são conectadasa uma rede VSAT, gerenciada por um hub satelital, localizado em uma estação terrestre da operadora. Estas redes podem interconectar pontos remotos com velocidades de até 64 kbps. Os protocolos e interfaces são flexíveis, podendo a operação ocorrer em protocolos típicos de baixa velocidade, como X.25 e frame relay, ou em padrões mais atuais como IP. A topologia típica de redes VSAT é estrela, com o nó central na estação Hub da operadora. Desta forma a comunicação entre duas estações VSAT dependerá de duas passagens pela Hub, como se vê no esquema a seguir. Figura 11 – Comunicação entre LANs com uso de VSAT em estrela 22 O pacote proveniente da LAN na geografia 1 será transmitido da Remota 1 para o satélite e deste para a Hub. A estação máster fará o roteamento do pacote para a Remota 2 através do satélite. A topologia em estrela típica, considerando a distância entre as estações terrestres e o satélite geoestacionário, insere um importante atraso de propagação da ordem de 500 ms entre as remotas. Quando a conexão se faz com a internet ou com outra rede pública (de voz ou dados), apenas metade do atraso ocorre, mas ainda serão em torno 250 ms além dos tempos de chaveamento eletrônico nas estações e satélite. A estação máster VSAT deve gerenciar a rede, cujos acessos poderão ser originados simultaneamente em várias remotas, solicitando serviços diversos. Desta forma, a Hub deve ser provida de protocolo de múltiplo acesso PTM. A tecnologia mais comum em redes VSAT é o TDMA, ou seja, a multiplexação temporal. A estação Hub aloca um slot dinâmico para cada remota. Naturalmente outras técnicas de multiplexação são também aplicáveis como o CDMA e FDMA. Do ponto de vista de modulação, por operar em altas frequências e com enlaces de extralonga distância, as técnicas mais utilizadas são o PSK e FSK. Técnicas QAM podem ser utilizadas desde que protocolos robustos de correção Hub Remota 2 Remota 1 23 de erros sejam implementados. Neste último caso, um importante overhead será inserido nos pacotes, reduzindo a velocidade efetiva de transmissão. 5.2 Redes de Longa Distância sem Fio com uso de VSAT As recentes implementações de facilidades IP em redes VSAT permitem, com certa facilidade, sua utilização como solução de interconexão em redes WAN. Como comentamos acima, entretanto, será necessário estabelecer protocolos particulares de tratamento dos dados destinados ou provenientes de LANs atendidas por VSAT. O principal problema está no atraso inserido nos pacotes IP que, via de regra, faz com que os pacotes VSAT se comportem de maneira muito diferente dos demais pacotes circulando pela rede. Suponha um sistema de tempo real que monitora os sinais vitais servidores das diversas LANs, a aquisição de dados das sedes atendidas por VSAT se dará algumas dezenas de vezes mais lentamente que nas demais sedes. A aplicação identificará, então, falsos problemas nestes servidores, se não for capaz de tratar tais sinais de maneira diversa. Além da questão do atraso e velocidade de efetiva de conexão, links satelitais são bastante suscetíveis a desvanecimentos, uma vez que os níveis de sinal recebidos são bastante baixos. Este comportamento instável deve ser tratado pelas aplicações, como bastante provável, de forma a não ser considerado uma anomalia da rede remota. FINALIZANDO Nesta aula, apresentamos algumas tecnologias sem fio para conexão de redes WAN. A qualidade esperada, na atualidade, em conexões WANs, pode se ver frustrada em algumas destas soluções. Como estudamos, há implementações bastante confiáveis e resilientes de comunicação sem fio, porém, esta estabilidade não é típica destas soluções, de modo que esforços de protocolo precisam ser encetados para que a obtenhamos. Estes esforços têm custos computacionais e de segurança, que precisam ser avaliados na escolha destas soluções, além das considerações econômicas diretas. Adaptações nas aplicações são geralmente necessárias e tais alterações implicam em custos junto aos desenvolvedores, bem como em despesas de manutenção sobre soluções despadronizadas. Estes são cuidados imperativos, 24 não obstante as facilidades inerentes à mobilidade e aos baixos custos de relocação que implicam na crescente utilização de redes sem fio. São, portanto, soluções de importância para a atuação profissional e seu aprofundamento recomendado para aqueles que atuarão em redes WAN. 25 REFERÊNCIAS ANDREWS, J. G.; GHOSH, A.; MUHAMED, R. Fundamentals of WiMAX: understanding broadband wireless networking. Pearson Education, 2007. FEY, A. F. Introdução às Redes WAN: Redes de Computadores de Longa Distância. Caxias do Sul: Clube de Autores, 2015. FLICKENGER, R. Redes sem fio no mundo em desenvolvimento: um guia prático para o planejamento e a construção de uma infra-estrutura de telecomunicações. Hacker Friendly LLC 2008. Disponível em: <http://wndw.net/pdf/wndw-pt/wndw-pt-ebook.pdf>. Acesso em: 4 out. 2021. GUIMARÃES, D. A. Introdução às comunicações móveis. Revista INATEL Telecomunicações, v. 1, n. 1, 1998. MAXIM Integrated Systems. An Introduction to Spread-Spectrum Systems. Disponível em: <https://www.maximintegrated.com/en/design/technical- documents/tutorials/1/1890.html>. Acesso em: 4 out. 2021. OLIVEIRA, L.; ALENCAR, M S.; LOPES, W. T. A. Evolução da Arquitetura de Redes Móveis Rumo ao 5G. Revista de Tecnologia da Informação e Comunicação, v. 8, n. 2, p. 43-50, 2018. SHI, S.-J.; DING, W.-P. Radiation pattern reconfigurable microstrip antenna for WiMAX application. Electronics letters, v. 51, n. 9, p. 662-664, 2015.
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