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166 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III Unidade III 7 MERCADOS EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Vimos anteriormente que os mercados são definidos conforme o grau de competição ou estrutura de mercado. Aqui, estudaremos a Teoria da Firma sob as condições de mercados perfeitamente competitivos. Nesse caso, considera-se que os agentes econômicos – consumidores e produtores – são tomadores de preços, ou seja, as decisões desses atores não afetam o preço de mercado. Lembrete Como visto anteriormente, um mercado é perfeitamente concorrencial quando: (i) possui grande número de compradores e vendedores; (ii) o bem é homogêneo; (iii) há ausência de barreiras; (iv) as informações são completas; (v) não ocorrem custos de transação; e (vi) os agentes são racionais. A hipótese básica que trataremos é a de que o produtor é maximizador de lucros. A partir desse conceito, poderemos: • determinar o nível do produto gerado por uma firma maximizadora de lucro; • derivar as curvas de oferta de curto e longo prazo de uma firma; • explicar a diferença entre lucros no curto prazo e longo prazo. 7.1 A escolha do nível de produção no curto prazo A hipótese básica sobre o comportamento da firma em concorrência perfeita é a de que ela busca sempre a maximização de lucros. A solução maximizadora de lucros da firma passa por algumas definições básicas. A primeira delas advém da condição de que produtores e consumidores são tomadores de preços, que faz com que a curva de demanda individual que a firma se defronta tome a forma do gráfico da figura a seguir. Assim, dado o preço p* de equilíbrio de mercado, uma firma que opera em um mercado perfeitamente competitivo cobrará pelo seu bem ou serviço exatamente esse preço. Caso uma firma venda a preços mais altos, dado que o bem é homogêneo, os consumidores procuram outros ofertantes que vendam o mesmo produto ao preço p*. 167 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA P P* Q Demanda RMg = RMe Figura 74 – Curva de demanda em mercados competitivos Dessa forma: • caso p > p*: as vendas da firma serão nulas; • caso p = p*: as firmas vendem o quanto puderem, dependendo do tamanho e da estrutura de custos; • caso p < p*: seria irracional, pois as firmas vendem o quanto querem a p*. Lembrete A curva de demanda individual para a firma em concorrência perfeita é infinitamente elástica, ou seja, ela vende seu produto pelo preço de mercado independentemente de quanto essa firma produz. A segunda definição básica é o próprio conceito de lucro (p), que nada mais é do que a diferença entre o que a firma fatura com a venda de bens e serviços – a receita total (RT) – e os custos relativos à produção desses bens e serviços (CT), ou seja: p = RT - CT (7.1) Definições sobre a receita das firmas Conforme visto, a receita total corresponde ao faturamento da firma, que decorre da venda de quantidades de bens e serviços produzidos (Q) a um determinado preço (P): RT(Q) = PQ (7.2) 168 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III A receita média (RMe) da firma é a razão entre a receita total e a quantidade de bens e serviços vendidos: RMe Q RT Q Q PQ Q P (7.3) Assim, de acordo com a equação (7.3), a receita média é constante e igual a P. Como, em concorrência perfeita, a curva de demanda que a firma está sujeita é dada pelo preço de mercado, a RMe é, portanto, a própria curva de demanda individual. A receita marginal, por fim, é a relação entre a variação da receita total decorrente de uma pequena variação na quantidade vendida: RMg Q RT Q Q PQ Q P (7.4) Logo, em concorrência perfeita, a receita marginal também é constate e igual a P. Desse modo, a curva de demanda individual é definida pela linha horizontal do gráfico na figura 74, dada por: RMe Q RMg Q P( ) ( )= = Definições sobre custos das firmas Conforme visto anteriormente, o custo total de uma firma no curto prazo é composto por: • um custo fixo (CF), representado por uma quantidade fixa de insumos; • um custo variável (CV), representado por uma quantidade de insumos variáveis. Assim, o custo total de produção de Q unidades, CT(Q), pode ser representado como: CT Q CV CF( ) Reproduzimos aqui, as expressões do custo médio – a razão entre o custo total e a quantidade produzida – e do custo marginal – a variação do custo total devido a uma pequena variação em Q: CMe Q CT Q Q ( ) ( )= (7.5) CMg Q CT Q Q ( ) ( ) (7.6) 169 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Observação O custo marginal: (i) representa a inclinação da curva de custo total; (ii) quando for mínimo, representa o ponto de inflexão do custo total; (iii) cruza a curva de custo variável médio no seu ponto mínimo. A função do custo marginal em (7.6) precisa mostrar que esse custo deve inicialmente cair enquanto a produtividade marginal do fator variável for crescente e passar a crescer a partir do momento em que a produtividade marginal do fator variável começar a diminuir. Ao associar a função de custo marginal com o gráfico da demanda individual da figura 74, teremos como resultado o gráfico a seguir. P P* QQ2Q1 RMg = RMe CMg BA Figura 75 – Pontos de decisão da firma em mercados competitivos Os pontos A e B na figura, determinados pela intersecção da curva de demanda da firma (ou curva de receita marginal definida pelo preço de mercado p*) com a curva de custo marginal, indicam os pontos de decisão da firma, ou seja, quais serão as quantidades que ela deverá produzir. Maximização de lucros por empresas competitivas A equação (7.1) mostrou que o lucro de uma firma é a diferença entre a receita total e o lucro total. Como tanto a receita quanto os custos da firma dependem da quantidade produzida, podemos expressar o lucro (p) como função de Q, ou seja: Q RT Q CT Q Q PQ CT Q ( ) ( ) O objetivo da firma é produzir quantidades ótimas de bens e serviços que possibilitem que ela alcance o lucro máximo, ou seja: 170 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III max ( ) Q RT Q CT Q (7.7) A condição de primeira ordem para a resolução do problema em (7.7) é: ( )Q Q RT Q Q CT Q Q RT Q Q CT Q Q 0 0 De acordo com as expressões em (7.4) e (7.6), ∂RT(Q)/∂Q e ∂CT(Q)/∂Q são, respectivamente, a RMg(Q) e o CMg(Q). Portanto, a solução maximizadora da firma será: RMg(Q) = CMg(Q) (7.8) Ou seja, a firma maximiza seu lucro quando ela produz quantidades de bens e serviços no ponto em que a curva de custo marginal cruza a curva de receita marginal, conforme mostrou a figura anterior. Ainda pela equação (7.4) podemos representar a condição de máximo da firma como: P = CMg(Q) (7.9) No entanto, observa-se que a curva de custo marginal iguala a receita marginal em dois pontos na figura. Para definir qual o ponto que inequivocamente representa a solução maximizadora da firma, devemos realizar o teste da condição de segunda ordem, ou seja: 2 2 ( ) ( ) Q Q Q RT Q Q CT Q Q Q RMg Q CMg Q Sabemos que RMg(Q) = P é, portanto, uma constante. Logo: 2 2 2 20 0 ( )Q Q CMg Q Q Q Q CMg Q Q (7.10) Assim, o lucro máximo é atingido quando o ramo crescente da curva de custo marginal cruzar a curva de receita marginal. Essa solução é representada na figura 75 pelo ponto B. Nesse ponto, Q2 representa a quantidade ótima de produção que gera o lucro máximo da firma. Lembrete Condição de maximização do lucro: a firma produzirá quando a receita marginaliguala o custo marginal no ponto em que a curva de custo marginal esteja subindo. 171 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA O resultado encontrado nas condições (7.9) e (7.10) podem ser interpretados a partir da figura a seguir. CMg > RMg CMg BA D = RMg = P CMg < RMg área de possibilidade de produção (p > 0) área de prejuízo (p < 0) 1 7 8 Q1 Q2 Q3Q* 9 Q 50 p* = 40 30 P Figura 76 – Operação da firma com lucro Na figura anterior apenas o ponto B corresponde à possibilidade de que o lucro seja máximo, pois atende às duas condições necessárias para a sua existência: • RMg = CMg = P = p*; • RMg e CMg se cruzam em um ponto no qual a curva de custo marginal é crescente. Nos demais casos, quando RMg ≠ CMg, não pode haver lucro máximo. Por exemplo: • quando CMg < RMg, será possível aumentar o lucro sempre que houver uma variação positiva na quantidade produtiva (∆Q > 0), até o ponto em que Q = Q*. Essa condição reflete o fato de que a firma tem capacidade ociosa – ou seja, os fatores de produção não estão sendo utilizados plenamente – e deve utilizá-la completamente para auferir o lucro máximo. Enquanto a firma estiver produzindo quantidades tais que Q < Q*, então ela estará deixando de lucrar mais com a venda seus produtos; • quando CMg > RMg, será possível aumentar o lucro sempre que houver uma variação negativa na quantidade produtiva (∆Q < 0), até o ponto em que Q = Q*. Essa condição reflete o fato de que a firma opera acima da capacidade e deve-se aumentá-la para auferir o lucro máximo. Por outro lado, enquanto a firma estiver produzindo quantidades acima do ótimo, Q > Q*, então ela observará prejuízo com a venda seus produtos. 172 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III Observação O prejuízo de uma firma ocorre quando p(Q) < 0. Exemplo de aplicação Uma firma tomadora de preços conhece o comportamento de seus custos e sabe que podem ser descritos pela equação: CT(Q) = Q2 + 20Q + 100. Seu produto final é vendido ao preço de mercado de R$ 42 a unidade. Determine: a) qual a quantidade ótima que a firma deve produzir. Resolução Sabemos que o lucro máximo ocorre quando RMg = CMg e que a receita marginal é constante e igual ao preço de mercado (P - p* = 42). Dessa forma: RMg P CMg CT Q Q Q 42 2 20 ( ) Estabelecendo a igualdade entre RMg = CMg: 42 = 2Q + 20 ⇒ 2Q = 22 ⇒ Q* = 11 Portanto, a firma deve produzir 11 unidades do bem. b) qual o valor do lucro total máximo a ser obtido. Resolução O lucro total da firma é estabelecido como sendo p = RT - CT. Logo: RT PQ CT Q Q 42 11 462 20 100 11 20 11 100 4412 2 Aplicando a fórmula do lucro total, obteremos: RT CT 462 441 21 Portanto, ao produzir 11 unidades, a firma atingirá o lucro máximo de R$ 21. 173 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Relações entre receita, custo e lucro Estudamos anteriormente que a curva de custo marginal cruza as curvas de custo variável médio e de custo médio em seu ponto mínimo. Podemos, assim, acrescentar ao gráfico da figura 75 as curvas de custo médio e custo variável médio para obter a representação gráfica do lucro total na figura a seguir. P, custos ($) P, custos ($) P, custos ($) B B B CMg CMg CMg CMe CMe CMe CVMe CVMe CVMe D = RMg D = RMg D = RMg Receita total Custo total Lucro total Q* (a) (b) (c) Q* Q* Q Q Q p* p* p = CMe p* = CMe p* Figura 77 – Áreas de receita total, custo total e lucro total O gráfico (a) da figura anterior mostra a receita total da firma (RT = PQ) que deve ser igual à área do retângulo com base igual à Q* (a quantidade ótima a ser escolhida para produzir o lucro máximo da firma) e altura igual a p* (o preço de mercado). O gráfico (b) mostra a área de custo total da firma. É possível demonstrar a partir da equação (7.5) que: CT = CMe(Q) x Q Logo, o custo total pode ser representado pela área do retângulo com base igual à Q* e altura definida por P = CMe. Dessa forma, a área do lucro total – gráfico (c) da figura – deve ser representada pela diferença entre a receita total e o custo total. Mais especificamente, o lucro total é a área do retângulo com base igual à Q* e altura definida pela diferença entre P = p* e P = CMe(Q*), ou seja: Q p CMe Q Q * * *( ) (7.11) 174 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III O gráfico da figura a seguir apresenta a visão completa da maximização de lucro da firma no curto prazo a partir da relação entre receita, custo e lucro totais com o custo e receita marginais. RT, CT, p ($) RT = CT P p* RT CT Q Q Q* B D = RMg = P CMg p Q* Q1 Q1 B' B" A Lucro máximo Figura 78 – Visão geral da maximização de lucro no curto prazo Na figura, observamos que a firma passa a ter lucro positivo (p > 0) no ponto A, ou seja, quando a receita total passa a ser superior ao custo total, o que também equivale dizer a partir do ponto mínimo da curva de custo marginal (painel inferior da figura). No ponto B, temos RMg = CMg. Nesse ponto, a firma escolhe Q*, que permitirá à firma atingir o lucro máximo (painel superior da figura). O lucro máximo equivale à maior distância alcançada entre receita e total e custo total (pontos B’ e B’’). Desse ponto em diante, o lucro passa a ser decrescente. Lembrete Regra do produto: se uma empresa está produzindo no curto prazo, ela deve fazê-lo no nível em que a receita marginal é igual ao custo marginal (RMg = CMg). Exemplo de aplicação Suponha que o mercado de sabão em pó seja perfeitamente competitivo. Uma das empresas que opera nesse mercado, a OWO, tem uma curva de custo total de curto prazo representada por: 175 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA CT Q Q Q Q 1 3 4 5 23 303 2/ , , onde Q representa a quantidade produzida de caixas de sabão em pó em milhões de unidades. Sabe-se que o preço recebido pelos produtores de sabão em pó é de R$ 15 por caixa. Dessa forma, pede-se: a) a quantidade ótima de caixas de sabão em pó que maximiza o lucro da OWO. Resolução O lucro máximo ocorre no ponto em que RMg = CMg. Como PMg = P = p*, então, no curto prazo, temos: RMg CMg CT Q Q Q Q 15 9 232 ( ) Estabelecendo a igualdade entre RMg = CMg, obteremos: 15 9 23 9 23 15 0 9 8 02 2 2 Q Q Q Q Q Q Para obter a quantidade produzida ótima Q*, devemos calcular as raízes da equação do segundo grau que acabamos de apresentar: Q Q e Q ( ) ( )( ) ( ) 9 81 4 1 8 2 1 1 81 2 Formalmente, a escolha da quantidade ótima que levará ao lucro máximo passa pela aplicação da CSO, ou seja, a condição (7.10), em que: 2 2 0 0 ( ) ( )Q Q ou CMg Q Q Diferenciando o CMg em relação a Q, obteremos: CMg Q Q Q ( ) 2 9 Substituindo, agora, o valor de Q pelos pontos críticos Q e Q1 21 8= = : 2 1 9 7 0 2 8 9 7 0 176 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III Portanto, Q* = B representa o ponto em que o CMg é crescente e, pelo gráfico da figura 78, também representa o ponto onde o lucro é máximo. Logo, a OWO deve produzir 8 milhões de caixas de sabão em pó. b) o valor do lucro total da OWO no curto prazo. Resolução O lucro total da firma é representado por p = RT - CT. Alternativamente, o lucro pode ser expresso pela equação (7.11). Dessa forma, precisamos obter o CMe da OWO quando Q* = B: CMe Q CT Q Q Q Q Q Q Q Q Q CMe Q 1 3 4 5 23 30 1 3 4 5 23 30 8 3 2 2 1 , , 1 3 8 4 5 8 23 308 12 08332 1( ) , , Aplicando a fórmula do lucro total descrita em (7.11), obteremos: Q P CMe Q Q * * , ,15 12 0833 8 23 3333 Portanto, ao produzir 8 milhões de caixas de sabão em pó, a OWO atingirá o lucro máximo de R$ 23,333 milhões. 7.2 Curva de oferta de curto prazo Vimos na figura 77 que a firma, quando opera no ponto ótimo B, encontrado na situação em que RMg = CMg, sempre terá lucro caso o preço de mercado do produto (p*) for maior que o seu custo médio de produção (CMe). Dessa forma, podem ocorrer as seguintes situações: • quando p* > CMe – a firma apresenta lucro positivo, p(Q) > 0 no ponto ótimo; • quando p* = CMe – a firma apresenta lucro nulo, p(Q) = 0 no ponto ótimo; • quando p* < CMe – a firma apresenta prejuízo, p(Q) < 0 no ponto ótimo. Quando a firma incorre em prejuízo no ponto ótimo, diz-se que ela, na verdade, está operando com o menor prejuízo possível. As vendas de quaisquer outras quantidades que não Q* provocam um prejuízo ainda maior para a firma. A pergunta que surge é a seguinte: a firma deve continuar operando mesmo com prejuízo? Podemos resolver essa questão analisando o gráfico da figura a seguir. 177 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA P, custos ($) CMg CMe CVMe D = RMg = P QQ*Q1 A B Prejuízo P = CMe P = CVMe p* Figura 79 – Operação da firma com prejuízo A figura anterior mostra uma situação em que a firma opera com prejuízo, pois o ponto ótimo B é encontrado quando o preço de mercado (p*) é inferior ao custo médio (CMe). Note, entretanto, que p* é superior ao custo variável médio. Com p* > CVMe, verificamos que o preço de mercado é suficiente para cobrir, pelo menos, parte do custo fixo médio (CFMe). Nessa situação, se a firma interromper a produção, ela incorrerá em prejuízo muito maior, pois não terá como arcar com o custo fixo da operação. Dessa forma, podemos observar as seguintes situações: • quando p* > CVMe – a firma produz, mesmo que a firma incorra em prejuízo no curto prazo, pois a receita obtida com p* é suficiente para cobrir parte do CFMe; • quando p* < CVMe – a firma deve encerrar a produção, pois a receita obtida com p* não é suficiente para cobrir o CFMe. Lembrete Regra do fechamento: uma empresa maximizadora de lucros que opera em mercados competitivos nunca produz, no curto prazo, se o preço de mercado for inferior ao custo variável médio (p* < CVMe). Exemplo de aplicação Uma fazenda produtora de morangos apresenta a seguinte função de custos totais de curto prazo: CT Q Q Q Q 3 26 25 100, onde Q representa a quantidade ofertada pela fazenda em 1.000 caixas por ano. Sabe-se que esse mercado apresenta condições próximas dos mercados competitivos. O preço de mercado dos morangos é de R$ 19,75 por caixa. Dessa forma, pede-se: a) o nível ótimo de produção, se o preço de venda de cada unidade vendida de seu produto é igual ao preço de mercado. 178 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III Resolução A condição de primeira ordem para o lucro máximo é definida pela relação: RMg = CMg. Com p* = 19,75, então, no curto prazo, temos: RMg P p CMg CT Q Q Q Q * , ( ) 19 75 3 12 252 Como RMg = CMg, então: 19 75 3 12 25 3 12 25 19 75 0 3 12 5 25 02 2 2, , , Q Q Q Q Q Q Resolvendo a equação, obtemos os seguintes valores para Q: Q Q e Q ( ) ( )( , ) ( ) , , 12 144 4 3 5 25 2 3 0 5 3 51 2 Aplicando a condição de segunda ordem expressa em (7.10): CMg Q Q Q ( ) 6 129 Substituindo Q, na expressão, pelos pontos críticos Q e Q1 20 5 3 5= =, , : 6 0 5 12 9 0 6 3 5 12 9 0 , , Portanto, a produção ótima ocorrerá quando Q* = 3,5, ou seja, a fazenda deve produzir 3.500 caixas de morango por ano. b) o custo variável médio (CVMe) quando a produção atinge o seu nível ótimo. Resolução O custo variável da firma é expresso como: CV Q Q Q Q 3 26 25 Dessa forma, o CVMe é calculado da seguinte forma: 179 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA CVMe Q CV Q Q Q Q Q Q Q Q 3 2 26 25 6 25 No ponto ótimo: CMe Q* , ( , ) , , 3 5 3 5 6 3 5 25 16 252 Assim, para Q* = 3,5, o CVMe da fazenda será de R$ 16,25/caixa. c) o custo fixo médio (CFMe) quando a produção atinge o seu nível ótimo. Resolução O custo fixo da firma é CF = 100. Logo, o CFMe no ponto ótimo será de: CFMe = =100 3 5 28 57 , , Ou seja, quando Q* = 3,5, o CFMe da fazenda será de R$ 28,57/caixa. d) o custo total médio (CMe) quando a produção atinge o seu nível ótimo. Resolução O CMe é obtido da seguinte forma: CTMe Q CT Q Q Q Q Q Q Q Q Q ( ) 3 2 2 16 25 100 6 25 100 No ponto ótimo, o CMe será: CTMe Q* , ( , ) ( , ) , , 3 5 3 5 6 3 5 25 100 3 5 44 822 1 Logo, quando Q* = 3,5, o Ce da fazenda será de R$ 44,82/caixa. e) o lucro da fazenda e a sua decisão em operar no longo prazo. Resolução Ao preço de mercado p* = 19,75, o lucro da fazenda no ponto ótimo será Q RT Q CT Q Q ( ) , , , [ , ) , ,* 3 5 19 75 3 5 3 5 6 3 5 25 3 53 2 100 69 13 156 88 87 75, , , 180 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III Portanto, o proprietário da fazenda produz com prejuízo de R$ 87.750 no curto prazo. Como p* > CVMe, (19,75 > 16,25), a diferença cobre parte do custo fixo. Então, a fazenda deve continuar produzindo. Caso a fazenda encerrasse a produção, não haveria nenhuma parcela de receita que cobrisse seu custo fixo. Derivando a curva de oferta de curto prazo A curva de oferta da firma representa as quantidades (Qs) que a firma está disposta a vender para diferentes níveis de preço de mercado. Sabemos que a condição de operação da firma depende do preço de mercado e do custo variável médio. De acordo com a regra do fechamento, podemos estabelecer as seguintes condições de oferta: • p* < CVMe; a firma não produzirá. Logo, a oferta é zero nessa condição, QS = 0; • p* > CVMe; a firma produzirá. Logo, a oferta será positiva nessa condição, QS > 0. Formalmente, a oferta da firma (S) é representada da seguinte forma: S P CVMe Q P CVMe Q s s 0 0 (7.12) Podemos observar na figura 79 que a curva de CMg cruza a curva de CVMe no seu ponto mínimo (ponto A). Para preços maiores que o CVMe, a firma passará a ofertar diferentes quantidades produzidas a partir de Q1. Sabemos que o nível ótimo de produção Q* ocorre no ponto em que a curva de custo marginal cruza a receita marginal e esta, em concorrência perfeita, deve ser igual ao preço de mercado p*. Assim, qualquer nível de p* = CMg pode ser válido para gerar um produto ofertado, desde que acima do ponto A na figura 79. Portanto, a curva de oferta de curto prazo de uma firma é a região da curva de custo marginal acima do ponto mínimo da curva de custo variável médio, condição em que a firma passa a operar, como vemos na figura a seguir. P, Custos ($) P2 Q2Q1 Q CVMe CMg Curva de oferta A' A P1 - CVMe Figura 80 – Curva de oferta da firma individual no curto prazo 181 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Exemplo de aplicação Considere que a curva de custo total de uma firma no curto prazo seja dada por: CT(Q) = Q2 +20Q + 100, onde Q representa a quantidade produzida pela firma. Determine: a) a função de custo variável médio, CVMe(Q), e a quantidade produzida da firma quando esse custo for mínimo. Resolução A função do custo variável dessa firma é dada por: CV(Q) = Q2 +20Q Logo, o CVMe(Q) dela será: CVMe Q Q Q Q Q( ) 2 20 20 O pontoem que o CVMe mínimo ocorre é: min ( )CVMe Q CVMe Q CMg Q Como a função do CMg(Q) é: CMg Q CT Q Q Q( ) ( ) 2 20 Então, fazendo CVMe(Q) = CMg(Q), obteremos: Q Q Q 20 2 20 0 Assim, quando Q = 0, o CVMe será equivalente a: CVMe Q 0 0 20 20 Portanto, o custo variável médio mínimo é igual a $20. b) a curva de oferta de curto prazo da firma. Resolução Aplicando a condição expressa em (7.12), obteremos: 182 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III S P Q P Q s s 20 0 20 0 Sabemos que a firma deve oferta qualquer preço, equivalente ao custo marginal, desde que acima do ponto mínimo da curva de CVMe. Então: P Q Q Ps 20 2 10 1 2 Logo a função de oferta da firma individual pode ser especificada da seguinte forma: Q se P P se Ps 0 20 10 1 2 20 , , O gráfico a seguir mostra como seria curva de oferta, de acordo com a função especificada. P, custos ($) P2 P1 20 0 Q1 Q2 Q CVMe Qs = -10 + 0,5P CMg, Curva de oferta (s) Figura 81 – Definição da curva de oferta da firma Elasticidade-preço da oferta Anteriormente, vimos que a elasticidade-preço da oferta representa a medida de sensibilidade da relação entre preço e a quantidade ofertada, cuja fórmula reproduzimos a seguir: s P s s s s s s sQ P Q Q P P Q Q P P P Q Q P % % (7.13) 183 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Considerando variações infinitesimais, a fórmula da elasticidade-preço da oferta se transforma em: s P s sP Q Q P (7.14) Conforme o resultado da equação (7.14), a oferta poderá ser classificada quanto a sua elasticidade- preço, da seguinte forma: • oferta elástica (s P 1): a oferta desse bem apresenta grande sensibilidade à variação de preços; • oferta inelástica (s P 1): a oferta do bem tem baixa sensibilidade à variação de preços. Além disso, podemos traçar algumas curvas de oferta típicas, conforme se observa na figura a seguir. P P P* Q S S ηP = 0ηP = ∞ QQs (a) Oferta totalmente elástica (b) Oferta perfeitamente inelástica Figura 82 – Curvas de oferta típicas No caso de curvas de oferta totalmente elásticas – figura 82 (a) –, temos o caso em que os custos marginais tornam-se constantes, que é a condição para que a firma esteja operando em regime de rendimentos constantes de escala. Por outro lado, quando a curva de oferta é perfeitamente inelástica – figura 82 (b) – observa-se a situação em que a capacidade instalada da firma é totalmente utilizada, ou seja, as plantas fabris e os insumos (equipamentos e trabalhadores) são plenamente utilizados. Exemplo de aplicação Considere que uma indústria eletrônica fabrique tablets. Essa firma conhece sua curva de oferta, que é definida pela seguinte função: QS = P 1/2, onde Q representa a quantidade ofertada (em milhares) e P é o preço de venda do tablet. Calcule a elasticidade-preço da oferta no ponto em que a quantidade vendida for de 6 mil unidades. 184 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III Resolução Pelos dados do enunciado, QS = 6. Logo, o preço que corresponde a essa quantidade é: Q P P Ps 1 2 1 26 36/ / Aplicando a fórmula da elasticidade-preço da oferta em (7.14) no ponto em que P = 36 e QS = 6, obteremos: s P s sP Q Q P P 36 6 1 2 36 6 1 2 36 0 5 1 2 1 2/ /( ) , Portanto, a elasticidade-preço da oferta de tablets é igual a 0,5: um aumento de 1% no preço provoca um aumento na quantidade ofertada de tablets de 0,5%. Podemos observar que a curva de oferta é do tipo isoelástica. Conforme vimos anteriormente, curvas desse tipo são de elasticidade constante e igual ao expoente da função (no caso, 1/2). Equilíbrio de curto prazo na concorrência perfeita Definimos o equilíbrio de mercado como a situação em que a demanda por bens ou serviços se iguala à oferta. O equilíbrio reflete a situação em que o preço é determinado pelas forças de mercado e não se altera a menos que ocorram deslocamentos nas curvas de demanda ou oferta. Mostramos também como a curva de demanda é derivada. Aqui, trataremos da derivação da curva de oferta apresentada na figura a seguir. P p* P = CMe P = CVMe P p* Ps E S D B A qs q* q (a) Firma típica (b) Mercado Qs = ηqs Q* = ηq* Q CVMe D = RMg Lucro total CMe CMg Figura 83 – Equilíbrio de curto prazo em mercados competitivos Por hipótese, existem n firmas típicas que maximizam o lucro conforme o gráfico (a) da figura: • o preço mínimo que cada firma cobrará é aquele que iguala o custo variável médio mínimo; 185 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA • as quantidades qs e q* são, respectivamente, as quantidades de início de produção e o nível ótimo de produto da firma típica; • no curto prazo, uma firma típica obtém lucro, fato que incentiva outras firmas a entrarem no mercado. No curto prazo, a curva de oferta de mercado S – figura 83 (b) – é a soma da oferta de todas as firmas típicas que formam o mercado do produto. A porção horizontal da curva de oferta reflete que: • nenhum bem ou serviço é produzido se o preço está abaixo do ponto de saída do mercado (P < CVMe); • basta o preço de mercado ser um pouco maior que o CVMe (P > CVMe) para que as firmas passem a produzir. A intersecção das curvas de oferta de mercado (S) e de demanda de mercado (D), figura 83 (b), determina o equilíbrio de curto prazo do mercado (p*;Q*). Nesse caso: Q p Q ps d * * * (7.15) Ou seja, a quantidade de bens que as n firmas desejam ofertar ao preço de mercado Q p q p q p q ps s s s n* * * * *( ) ( ) ( ) ( ) 1 1 é igual à quantidade de bens que os consumidores desejam demandar a esse preço Qd(p*). A quantidade produzida pela totalidade de firmas do mercado pode ser expressa pela fórmula: Q p n qs s * * *( ) (7.16) onde q* é a quantidade ótima de produção das n firmas típicas. Exemplo de aplicação Imagine que você abriu uma empresa que produz autopeças e as vende no mercado de reposição, para oficinas. Suponha que existem 300 empresas nesse setor, todas idênticas e com a seguinte função de custos totais de curto prazo: CT(Q) = 150Q2 + 0,1, onde Q representa a quantidade de autopeças colocadas no mercado pela empresa, em milhões de unidades por ano. A curva de demanda desse mercado é dada por: Qd = 60 - P. Com base nesses dados, responda as seguintes perguntas: a) quais as curvas de custo marginal, CMg(Q), e custo variável médio, CVMe(Q)? Resolução O custo variável da firma é dado por: CV(Q) = 150Q2 186 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III Para obter a função CVMe(Q), devemos proceder da seguinte forma: CVMe Q Q Q Q( ) = =150 150 2 A função CMg(Q), por sua vez, é obtida da seguinte forma: CMg Q CT Q Q Q( ) ( ) 300 b) qual o preço mínimo de oferta? Resolução O preço mínimo de oferta é aquele em que: CVMe(Q) = CMg(Q) Utilizando os resultados obtidos em (a): 150 300 0Q Q Q Portanto, a quantidade mínima que cada firma individual oferta nesse mercado é Q = qs = 0 c) obtenha o equilíbrio de curto prazo desse mercado. Resolução Como a quantidade mínima a ser oferta é zero, conforme o resultado em (b), então a curva de oferta será dada por qualquer preço que iguale a curva de custo marginal: P CMg Q qs * Dessa forma, a curva de oferta da firma individual será: P Q q Ps 300 300 1* Portanto, em equilíbrio que maximiza o lucro no curto prazo, a curva de oferta de mercado, ou seja, com n = 300 firmas, será: Q P n q Q P P Q P P s s s s * * * * 300 300 1 187 CI EC O Re visã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Igualando as curvas de oferta e demanda de mercado: Q P Q P P P P s d * 60 30 Ao preço de $30, a quantidade de equilíbrio de mercado será Q* = 30, ou seja, 30 milhões de unidades/ano. Cada empresa individualmente produzirá, por sua vez: Q P n q q Q P n qs s s s s * * * * * , 30 300 0 1 Ou seja, cada firma individual produz anualmente 100.000 unidades do produto. d) no equilíbrio de mercado, as empresas obtêm lucro econômico positivo? Resolução Como atesta a figura 77, uma firma individual terá lucro na condição em que P > CMe. A função de custo médio é dada por: CMe Q CT Q Q Q Q Q 150 0 1 150 0 1 2 1Q , , com Q qs= = * ,0 1, o valor do custo médio será: CMe Q 0 1 150 0 1 0 1 0 1 161, , , , Como P = 30, então P > CMe. Logo, cada empresa aufere lucro econômico positivo. De fato, ao apurarmos o lucro de cada firma, obteremos: Q RT CT 30 0 1 150 0 1 0 1 14 2, , , , Efeito de um imposto sobre as vendas Um imposto sobre as vendas desloca a curva de custo marginal da empresa no montante do imposto. A empresa reduzirá seu nível de produção até o ponto em que o custo marginal acrescido do imposto seja igual ao preço de mercado do produto, como na figura a seguir. A determinação do nível de produção em concorrência perfeita é CMg = RMg = P. Com a incidência do imposto t, a nova quantidade produzida de equilíbrio será determinada a partir da relação: CMg + t = P ⇒ CMg = P - t (7.17) 188 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III CMg + t CMg B P p* q* q* q1 0 A ∆t Figura 84 – Impacto de um imposto sobre as vendas no nível de produção Observação Caso o efeito de um imposto impeça a firma de obter lucro econômico (p > 0), a firma deve optar por sair do mercado. Quando um imposto sobre a produção atinge todas as empresas de um mercado competitivo, ocorrerá o deslocamento da curva de oferta para cima à esquerda no montante do imposto recolhido, como vemos na figura a seguir. Entretanto, isso acarretará em elevação do preço de mercado do produto e diminuirá a produção total do setor atingido. P P1 P2 Q1 Q0 Q D S S + t E1 E0 ∆t* * * * Figura 85 – Impacto de um imposto sobre as vendas na produção do setor 189 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Exemplo de aplicação Suponha que um mercado caracterizado como de competição pura apresente as seguintes curvas de oferta e demanda de mercado: Qs =1.200P e Qd = 6.500 - 100P, onde Q é quantidade em unidades negociadas nesse mercado e P é o preço por unidade. A função de custo total de curto prazo de cada firma desse mercado é: CT(Q) = 520 +0,005Q2. a) obtenha o nível ótimo de produção de cada firma e o lucro total. Resolução O preço de equilíbrio desse mercado é determinado pela igualdade Qs = Qd. Dessa forma: 1.200P = 6.500 - 100P ⇒ P =5 O nível de produção que maximiza o lucro da firma é aquele em que CMg = RMg. Como em mercados competitivos RMg = P, então: CMg(Q) = 0,01Q 0,01Q = 5 ⇒ Q = 500 Dessa forma, o lucro total de cada firma desse mercado será: Q RT CT PQ CT Q Q ( ) ,5 500 520 0 005 500 7302 b) imagine que o governo tenha criado um imposto específico de $2/unidade vendida. Determine o novo nível ótimo de produção de cada firma e o lucro total. Com o imposto de t = 2Q, a curva de custo total passará a ser: CT Q Q Q 520 0 005 22, O novo equilíbrio com a incidência do imposto será: CMg Q Q Q Q 0 01 2 0 01 2 5 300 , , Com essa nova quantidade, o lucro total de cada firma desse mercado será: Q 5 300 520 0 005 300 530 2, Portanto, a incidência do imposto reduzirá o custo da firma. 190 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III 7.3 Curva de oferta de longo prazo No equilíbrio de curto prazo, uma firma típica aufere lucro quando o preço de mercado do produto está acima de seu custo médio. Essa condição induz outras firmas a entrarem nesse mercado até o ponto em que: P CMe Q min ( ) (7.18) Quanto maior o número de firmas que entram nesse mercado, maior o custo agregado dos fatores de produção individuais (capital e trabalho). Quando o preço de mercado atinge o ponto definido em (7.18), o lucro total torna-se negativo e as firmas não conseguem construir novas plantas produtivas nem contratar mais trabalhadores. Nesse ponto, o mercado para de crescer e alcança o número máximo de firmas do mercado (n*). A quantidade total de bens e serviços produzidos nesse mercado passa a ser: Q P n qs s * * * (7.19) No longo prazo, as firmas podem ajustar seus níveis de capital que permitem ampliar a capacidade produtiva, ou seja, todos os fatores de produção são livres para variar. Isso significa dizer que não existe diferenciação entre custos fixos e custos variáveis. Dessa forma, no longo prazo: CVMe Q CMe Q ( ) A elevação do custo médio ocorre até o ponto em que: CMe Q Cmg Q ( ) Nesse ponto, a firma estará produzindo em seu nível mais eficiente, ou seja, com o menor custo unitário. Portanto, a curva de oferta de longo prazo individual será a porção da curva de custo marginal acima do ponto mínimo do custo total médio. O gráfico (a) da figura a seguir mostra o equilíbrio de longo prazo da firma individual típica. No longo prazo, o preço pmin equivale a P = CMe(Q). Nesse gráfico, também é representado o lucro econômico formado pela área do retângulo ABp pmin * . Observação Conforme visto anteriormente, o lucro econômico é definido pela diferença entre a receita total da firma e seus custos econômicos (soma dos custos implícitos e explícitos). 191 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA P p* pmin A C B CMe = CVMe D = RMg p* = CMe Lucro econômico (a) Firma típica (b) Mercado CMg P E SCP SLP D QQ* = n* q*q* q Figura 86 – Equilíbrio de longo prazo em mercados competitivos Assim: • quanto mais elevado for p*, maior será o lucro econômico; • para preços inferiores a p*, o lucro econômico será menor; • quando p* = pmin, o lucro econômico da firma será nulo. Em concorrência perfeita, enquanto P > CMe(Q), mais empresas serão atraídas para o setor, elevando a quantidade produzida no mercado (Q*) e reduzindo o preço de mercado até atingir novo equilíbrio quando P = CMe(Q*). Nesse caso, o lucro econômico desaparece. No ponto C na figura anterior, o preço equivale à condição (7.18) de equilíbrio de curto prazo, ou seja: P = min{CMe(Q)}. Nesse caso, a firma teria prejuízo no curto prazo, mas continuaria operando. No longo prazo, se o prejuízo persistir, a firma sai do mercado. O gráfico (b) da figura anterior apresenta o equilíbrio de mercado de longo prazo. A curva de oferta de curto prazo (SCP) é demonstrada a partir do ponto em que P = min{CMe(Q)}. A curva de demanda de mercado no longo prazo é idêntica à de curto prazo. O equilíbrio de mercado no longo prazo é determinado pela intersecção das curvas de demanda (D) e de oferta de longo prazo (SLP) e o preço de equilíbrio passa a ser: P CMe Qs * (7.20) Caso o número de firmas que podem produzir ao mesmo custo seja muito grande (n* → ∞), a curva de oferta de longo prazo (SLP) será horizontal, correspondendo ao mesmo nível do custo médio mínimo de uma firma típica. 192 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III Curvas de oferta de longo prazo típicas A figura a seguir traz dois exemplos típicos de curva de oferta de longo prazo: uma indústria de custos constantese uma indústria de custos crescentes. Observação Como a curva de oferta de mercado representa o conjunto de firmas que pertencem a esse mercado, então, muitas vezes, essa curva representa o setor econômico ou uma indústria. P (a) Indústria de custos constantes (b) Indústria de custos crescentes P P* SLP SLP Q Q Figura 87 – Curvas de oferta de longo prazo típicas No caso de indústria de custos constantes, como no gráfico (a) da figura, os custos de produção de longo prazo permanecem inalterados quando a produção aumenta, denotando rendimentos constantes de escala. Nesse caso, a elasticidade-preço da oferta é infinita, como igualmente observado na figura 82 (a). Por outro lado, as indústrias de custos crescentes, como no gráfico (b) da figura, são aquelas cujos custos de produção aumentam de acordo como o aumento da produção. Assim, se a oferta de insumos é constante, todo aumento de produção reflete em aumento nos custos. Saiba mais O setor de transportes é um exemplo de indústria de custos crescentes: a elevação na produção de veículos aumenta os congestionamentos, o que provoca crescimento nos custos do transporte, como é possível ver no capítulo 3 de: WHEELAN, C. Economia nua e crua: o que é, para que serve, como funciona. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. 193 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Equilíbrio de longo prazo De acordo com as características econômicas de longo prazo exibidas aqui, podemos concluir que o equilíbrio de mercado de longo prazo, em que P = p*, decorre de três propriedades, a saber: 1. O lucro de longo prazo é maximizado com respeito ao nível de produção e ao tamanho da planta de produção. Esse caso reflete a condição em que: p CMg Qs * * (7.21) 2. O lucro econômico de longo prazo é zero, Qs * 0 , refletindo a condição em que: p CMe Qs * * (7.22) 3. Ao preço de mercado p*, a demanda é igual à oferta. Pela equação (7.18), sabemos que a quantidade oferta de mercado deve ser Q P n qs s * * * . Dessa forma, para termos Q p Q ps d* * * : n q Q p n Q p q s d d s * * * * * * (7.23) Exemplo de aplicação O custo total de longo prazo de uma firma que oferta seu produto num mercado perfeitamente competitivo é dado por: CT Q Q QQLP( ) , 0 01 40 3 2 , onde Q é a quantidade de bens vendida pela empresa. A firma sabe que a curva de demanda desse mercado é representada pela função: Q Pd 25 000 1 000. . . Sendo assim, pede-se: a) a quantidade ofertada por empresa e o preço de equilíbrio de longo prazo. Resolução Em primeiro lugar, observe que a curva de custo de longo prazo não apresenta custos fixos. O equilíbrio de longo prazo deve satisfazer às condições (7.21) a (7.23), a saber: (i) p CMg Qs * * : p Q Q* , 0 03 2 402 (ii) Q p CMe Qs s * * * 0 : p Q Q* , 0 01 402 194 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III (iii) Q p Q ps d * * * : n Q p q P q d s s * * * * . . 25 000 1 000 Substituindo o resultado da condição (ii) em (i): 0 01 40 0 03 2 40 0 03 0 01 2 0 02 0 02 2 2 2 2 2 2 , , , , , , Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q 1 0 0 02 1 1 0 02 50, , Q Q Portanto, cada empresa produz Q qs= = * 50 unidades. Substituindo esse resultado nas condições (i) ou (ii), obteremos o preço de mercado desse produto: p P* , ( ) 0 0150 50 40 152 Logo, o preço de mercado do bem será igual à $15. b) o número de empresas desse mercado e quantidade ofertada de mercado. Resolução Aplicando a condição (iii) descrita em (a) e os resultados já obtidos: n P qs * * . . . . ( ) 25 000 1 000 25 000 1 000 15 50 200 Utilizando a fórmula (7.19), conheceremos a quantidade ofertada no mercado: Q P n q Q Ps s s * * * * . 200 50 10 000 7.4 Excedente do produtor Vimos anteriormente que o excedente do consumidor representa a diferença entre o que um consumidor está disposto a pagar por um bem e o preço que ele efetivamente paga. O excedente do produtor, por outro lado, representa a quantia que, no curto prazo, os produtores recebem acima do preço mínimo que teria sido necessário para que eles produzissem e vendessem seu produto. O excedente do produtor é representado na figura a seguir, como a área acima da curva de oferta limitada pelo preço de mercado p*. 195 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA P p* Excedente do produtor Preço de mercado Custo variávelCV EP q* Q SCP pmin Figura 88 – O excedente do produtor Na figura, pmin representa o preço mínimo que o produtor pode receber, dada a sua curva de oferta. O pmin, no curto prazo, é definido pela condição (7.18), ou seja, P = min{CMe(Q)}. Dessa forma: • qualquer preço entre pmin e p* pode ser praticado, sendo que somente em p* os produtores maximizam seu lucro; • abaixo de pmin, o produtor não oferta. Entre pmin e p* o vendedor pode ofertar o bem, mas o lucro máximo não é assegurado. A área abaixo da curva de oferta mostra que o custo total da firma varia com a quantidade ofertada. Logo, essa área representa o custo variável (CV). A soma das duas áreas na figura (EC + CV) representa a receita total (RT) dos produtores. Assim, temos que: EP = RT - CV (7.24) Dessa forma, no curto prazo, o excedente do produto é igual ao lucro variável. Note que o conceito de excedente do produtor difere do conceito de lucro total, que representa a diferença entre a receita total e todos os custos da firma: p(Q) = RT - CT = RT - CV - CF Com isso, devemos ter uma condição no curto prazo tal que o excedente do produtor é necessariamente maior que o lucro total da firma: EP > p (Q). No longo prazo, quando p* = pmin e todos os custos são considerados variáveis (como na figura 86), o excedente do produtor é nulo, ou seja: EP = RT - CV = 0 ⇒ RT - CV 196 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III O excedente do produtor também pode ser calculado diretamente tomando-se a área acima da curva de oferta na figura 88, delimitada pelo ponto que representa o preço mínimo (pmin) até a linha que representa o preço de equilíbrio de mercado (p*). Se a função de oferta for linear, pode-se calcular o excedente do produtor a partir da seguinte fórmula: EP p p qmin * * 2 (7.25) Exemplo de aplicação Fazendeiros produzem cana-de-açúcar de acordo com a seguinte função de custo de curto prazo: CT Q QCP 4 1502 , onde Q é a quantidade de cana-de-açúcar produzida em milhares de toneladas. Existem 32 fazendas idênticas que produzem cana-de-açúcar nesse mercado. Agora, determine: a) a função de oferta de cana-de-açúcar da fazenda individual e função de oferta de cana-de-açúcar do mercado. Resolução A curva de oferta individual de curto prazo pode ser obtida a partir da condição de maximização de lucro: max ( ) max [ ] ( ) Q RT Q CT Q Q PQ Q Q Q P Q 4 150 8 0 2 Resolvendo para Q, obteremos a seguinte função de oferta de curto prazo: Q q Ps= = * ,0 125 A oferta de mercado é obtida a partir da aplicação da fórmula (7.17): Q P n q Q P P Q P Ps s s s * * * *, 32 0 125 4 b) supondo que a função de demanda de cana-de-açúcar pode ser expressa por Qd = 1.200 - 2P, determine o preço e a quantidade de equilíbrio desse mercado. Resolução Em equilíbrio de mercado, devemos ter: Q p Q ps d * * * . Então: 4 1 200 2 6 1200 200P P P P . 197 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Portanto, o preço de equilíbrio mercado é P = p* = $200. Substituindo o resultado em alguma dasfunções (oferta ou demanda): Q P p P Q Ps s * * * 4 200 4 200 800 Assim, a produção total do mercado é de 800 mil toneladas de cana-de-açúcar. p P* , ( ) 0 0150 50 40 152 c) determine o lucro de cada fazendeiro e excedente do produtor. Resolução A quantidade ofertada por cada fazenda é obtida a partir da função de oferta individual: q P qs s * *, , 0 125 0 125 200 25 Com esse resultado, no curto prazo, o lucro total que cada fazenda obtém será: Q RT CT Q Q 200 25 4 25 150 5 000 2 650 2 350 2[ ] . . . O excedente do produtor, por sua vez, é obtido a partir da expressão em (7.24), ou seja: EP RT CV EP EP 200 25 4 25 5 000 2 500 2 500 2[ ] . . . Podemos comprovar esse resultado a partir da fórmula (7.25). Observe no gráfico a seguir a função de oferta individual e os respectivos pontos críticos, pmin e p*: 198 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III P p* = 200 CV EP q* = 25 Q SCP = Qs = 0,125P pmin = 0 Figura 89 Utilizando a fórmula (7.25) para calcular o excedente do produtor: EP p p qmin * * . 2 200 0 25 2 2 500 Finalmente, pelos resultados encontrados, podemos concluir que EP Q ( ) . 8 ANÁLISE DE MERCADOS COMPETITIVOS E BEM-ESTAR Apresentamos os conceitos de excedente do consumidor e excedente do produtor. O excedente do consumidor retrata o bem-estar dos consumidores com a compra de mercadorias. O excedente do produtor reflete o ganho dos produtores com a venda dos bens e serviços aos consumidores. Tais medidas, portanto, podem ser utilizadas para avaliar o benefício líquido da sociedade com a troca de mercadorias. Aqui, utilizaremos esses conceitos de bem-estar para desenvolver uma metodologia de análise de políticas públicas. Para tanto, introduziremos um novo conceito: o peso morto, que representará a perda de bem-estar quando o mercado apresentar falhas ou quando o governo intervém na economia. Com base nessas ferramentas, estaremos aptos a responder as seguintes questões: • por que em mercados competitivos, a interação entre os agentes econômicos é eficiente? • qual o benefício para a sociedade decorrente da compra de venda de mercadorias? • qual o efeito, em termos de bem-estar, da intervenção governamental na economia? 199 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA 8.1 Aplicação dos conceitos de excedentes do consumidor e produtor Em estruturas de mercados de concorrência perfeita, tanto consumidores quanto produtores são agentes racionais ou, ainda, possuem comportamentos otimizadores: • cada consumidor atua de acordo com seu próprio interesse, maximizando seu bem-estar na compra de bens e serviços que satisfaçam suas necessidades (utilidade) sujeitos à restrição orçamentária; • cada produtor também atua de acordo com seu próprio interesse, decidindo se permanece no mercado de acordo com o resultado de maximização do lucro, também sujeito à restrição dos custos de aquisição de insumos necessários para a produção de bens e serviços. Quando esses agentes atendem a esses princípios, é possível traçar as curvas de demanda e de oferta dos bens e serviços negociados nesse mercado. Observação A ideia de que agentes decidem a permanência no mercado de acordo com seus interesses foi descrita originalmente por Adam Smith (1776), que afirmou existir uma “mão invisível” guiando o mercado competitivo para o nível eficiente de produção. O equilíbrio de mercado em concorrência perfeita é a situação em que a quantidade demandada por bens ou serviços se iguala à quantidade ofertada. O equilíbrio reflete a situação em que o preço é determinado pelas forças de mercado (p*) e não se altera a menos que ocorram deslocamentos em alguma das curvas (de demanda ou de oferta ou em ambas). Esse equilíbrio é representado na figura a seguir. Excesso S E D Q0 pmin P = p* pmax P Q* = Qs = Qd Escassez EC EP Figura 90 – Equilíbrio de oferta e demanda em mercados competitivos 200 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III O ponto de equilíbrio E na figura traduz a situação em que os consumidores e produtores estão otimizando a satisfação em um mercado suficientemente competitivo. Logo, a interação (ou troca) entre compradores e vendedores nesse ponto é a melhor situação de bem-estar que os agentes econômicos podem atingir. Em qualquer outro ponto, não ocorre essa otimização: • se o preço estiver acima de p*, haverá excesso de mercadorias (a oferta será maior que demanda). Assim, o preço deve se reduzir (e a quantidade demandada aumentar) para o mercado alcançar o equilíbrio; • se o preço estive abaixo de p*, haverá escassez de mercadorias (a demanda será maior que a oferta). Com isso, o preço deve aumentar (e a quantidade demandada reduzir), trazendo a economia para o equilíbrio. Portanto, apenas no ponto E a sociedade maximiza o bem-estar ou, ainda, os agentes estão atuando de modo eficiente. A medida do bem-estar pode ser estabelecida a partir dos conceitos de excedente do consumidor e produtor, que agora podem ser definidos como: • excedente do consumidor (EC): benefício líquido total que os consumidores recebem por pagar o preço de mercado pelas mercadorias que satisfazem seu bem-estar. Na figura anterior, esse ganho é observado enquanto os consumidores estiverem consumindo quantidades de bens e serviços entre 0 e Q*; • excedente do produtor (EP): benefício líquido que os produtores desfrutam ao vender pelo preço de mercado os bens e serviços produzidos que geram o máximo lucro. Na figura anterior, esse ganho é observado enquanto os ofertantes estiverem vendendo quantidades de bens e serviços entre 0 e Q*. Dessa forma, podemos também definir o excedente total (ET) como o benefício líquido agregado obtido por consumidores e produtores, ou seja: ET = EC + EP (8.1) A soma dos dois excedentes, portanto, é a medida do ganho social da troca. Na figura 90, o excedente total é representado pela área do triângulo com base igual à diferença entre o preço máximo (pmax) – que o consumidor aceita pagar pela mercadoria – e o preço mínimo (pmin), que o produtor aceita para ofertar a mercadoria. Com as fórmulas utilizadas para representar o excedente do consumidor, na fórmula (4.13), e o excedente do produtor, fórmula (7.25), podemos estabelecer o excedente total como sendo: ET p p q p p q p p qmax min max min * * * * * 2 2 2 (8.2) 201 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Variação do bem-estar Quando o preço varia alterando o equilíbrio de mercado, podemos medir quanto foi o ganho (ou perda) de bem-estar decorrente dessa variação. Vejamos na figura a seguir, por exemplo, o caso em que um aumento de renda dos consumidores (∆R) provoque o deslocamento para cima da curva de demanda. Caso as condições de oferta permaneçam as mesmas, notaremos um aumento no preço de equilíbrio, de p0 * para p1 * , para que a nova quantidade ofertada (Q1 * ) se iguale às novas condições da demanda. D'D Q0 C B A F P pmax pmax pmin p* p* Q* Q* 1 0 0 1 0 0 1 S G E1 E0 ∆R Figura 91 – Variação no excedente total devido a um aumento de renda A área ABC na figura corresponde ao excedente total antes do deslocamento da demanda, sendo que a área AB é o excedente do consumidor e a área C é o excedente do produtor. O excedente total após o deslocamento da curva de demanda (e o decorrente aumento no preço de mercado) passa a ser medido pela área ABCFG , sendo que o excedente do consumidor é medido pela área AF e o excedente do produtor é medido pela área BCG . A tabela a seguir resume esses resultados. Tabela 10 – Variaçõesde bem-estar devido a um aumento na renda Medidas de bem-estar Antes da variação em p* Depois da variação em p* Efeito líquido no bem-estar (1) (2) (3) = (2) – (1) Excedente do consumidor (EC) A + B A + F −B + F Excedente do produtor (EP) C B + C + G B + G Benefício líquido total: EC + EP A + B + C A + B + C + F + G F + G 202 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III Note ainda que a renda adicional permitiu ao consumidor um ganho de bem-estar igual à área F. Contudo, o aumento de preço fez com que o consumidor tenha perda de bem-estar igual à área B. Os produtores, por sua vez, obtiveram um ganho igual à área BG, em parte por que passaram a vender o produto a um preço maior (área B); a outra parte relaciona-se com a maior venda de produtos que gera um aumento em sua receita total (área G). A variação no excedente total (∆ET), portanto, é igual à área FG e pode ser representada, sinteticamente, pela fórmula: ET EC EP (8.3) Considerando o subscrito 0 como a situação antes da variação de preços e o subscrito 1 como a situação depois, então temos que: EC EC EC EP EP EP 1 0 1 0 Exemplo de aplicação O Prêmio Nobel em economia em 2012 foi dividido entre dois economistas que trabalham com o desenho de mercados, Alvin Roth e Lloyd Shapley. Um dos artigos de Roth discute o mercado de rins humanos. A venda de rins humanos para doação é proibida na maioria dos países do mundo, inclusive no Brasil. Portanto, rins para doação são obtidos a preço igual a zero. Mesmo assim, há aproximadamente 16.000 doações de rins por ano. Se pudessem ser ofertados a preços de mercado, estima-se que a oferta poderia ser representada por: Qs = 16.000 + 0,4P. A demanda, por sua vez, pode ser representada por: Qd = 32.000 - 0,4P. O preço (P) é dado em dólares por rim e a quantidade (Q), em número de rins. a) calcule qual o preço e a quantidade de equilíbrio, caso fosse possível negociar rins humanos em um mercado competitivo. Desenhe as curvas de oferta e demanda desse mercado. Resolução Imaginando um mercado livre de rins com as curvas de oferta e demanda, obteremos o seguinte par preço e quantidade de equilíbrio: Q Q P P P p Q s d d 16 000 0 4 32 000 0 4 20 000 32 000 0 4 20 00 . , . , . . , . * 00 24 000 Q qd * . Com base nesses resultados, o equilíbrio de mercado de rins pode ser representado pelo gráfico a seguir. 203 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA EC EP P S E D Qq* = 24.00016.0000 p* = 20.000 pmax = 80.000 Figura 92 – Definição do bem-estar social a partir do excedente total Portanto, num mercado livre, de acordo com as funções de oferta e demanda estabelecidas, a quantidade de rins doados (Q = 16.000) seria menor do que a quantidade de equilíbrio de mercado (q* = 24.000). b) calcule o excedente do consumidor, do produtor e o benefício líquido total, em valores monetários. Resolução Da função de demanda, sabemos que pmax = 80 000. . Aplicando a fórmula do excedente do consumidor (4.13) vista anteriormente: EC p p qmax * * . . . . . 2 80 000 20 000 24 000 2 720 000 000 O excedente do produtor (no caso, a medida do ganho dos ofertantes de rins) é igual à área do trapézio (EP) da figura anterior. Pela configuração da oferta, o preço mínimo seria negativo. Logo, o cálculo do excedente precisa ser efetuado considerando a área do trapézio representada na figura. A área (A) do trapézio retângulo é definida como: A B b h ( ) 2 , onde B é a base maior, b é a base menor e h é a altura. EP 24 000 16 000 20 000 2 400 000 000 . . . . . O benefício líquido total é a soma do EC e EP: ET EC EP 720 000 000 400 000 000 1 120 000 000. . . . . . . 204 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III c) (i) com preço do rim igual a zero, quantas pessoas vão ter que esperar na fila por uma doação? (ii) calcule, nessa situação, o excedente do consumidor, o excedente do produtor e o benefício líquido total. Resolução (i) Com P = 0, a quantidade de doações será igual a Q = 16.000. Mas, a esse preço, pela curva de demanda apresentada, a quantidade demandada deveria ser: Q Qd d 32 000 0 4 0 32 000. , . Portanto, 16.000 pessoas ficarão na fila (32.000 - 16.000 = 16.000), caso o rim deva ser doado. (ii) O excedente do consumidor deve ser igual à área da figura a seguir: EC P S E D Q16.0000 40.000 pmax = 80.000 Figura 93 – Definição do bem-estar social a partir do excedente total Observamos que, dada a curva de demanda, a quantidade de 16.000 rins doados poderia custar até US$ 40.000. No entanto, ainda haveria indivíduos dispostos a pagar o preço máximo de US$ 80.000. Portanto, o excedente do consumidor é definido pela área do trapézio (EC) destacada na figura: EC 40 000 80 000 16 000 2 960 000 000 . . . . . O excedente do produtor, com P = 0 é nulo (EP = 0). Logo, o benefício total líquido da sociedade passa a ser: ET EC EP 960 000 000 0 960 000 000. . . . d) qual foi a variação do excedente do consumidor, do excedente do produtor e de bem-estar nas duas situações apresentadas: com livre mercado (situação inicial) e com doação (situação final)? 205 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Resolução A variação do excedente do consumidor é: EC EC EC EC 1 0 960 000 000 720 000 000 240 000 000. . . . . . Logo, os consumidores obtiveram ganho de bem-estar. A variação do excedente do produtor é: EP EP EP EP 1 0 0 400 000 000 400 000 000. . . . Logo, os ofertantes de rins tiveram perda de bem-estar. Por fim, a variação benefício total líquido da sociedade é: ET EC ECP ET 240 000 000 400 000 000 160 000 000. . . . . . Portanto, a medida de criar uma fila para obter as doações de rins cria uma perda de bem-estar total para sociedade, ou seja, cria-se uma perda social (ineficiência) resultante da ausência de mercado. Observação Roth, Sönmez e Ünver (2004) mostram em quais condições é possível alcançar a eficiência mesmo na ausência de mercados. Por exemplo, os autores citam que parentes próximos de potenciais receptores aceitam trocar entre si rins doados ainda em vida, de modo que, assim, contornam- se problemas de incompatibilidade entre doadores e receptores. 8.2 Análise dos efeitos de políticas públicas O modelo de eficiência previsto anteriormente deve ser utilizado como parâmetro para análises dos efeitos de intervenções no mercado livre e falhas de mercado. Esse método é conhecido como de equilíbrio parcial. Observação A análise de equilíbrio parcial considera apenas um mercado isolado dos demais. A premissa, aqui, é a de que os demais mercados não se alteram devido a uma intervenção no mercado em análise. 206 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III Para determinar o efeito de bem-estar de uma política governamental, devemos calcular o ganho ou a perda nos excedentes do produtor e do consumidor devido à intervenção. Portanto, a variação de bem-estar da sociedade determina os ganhos e perdas causadas pela intervenção do governo no mercado. Quando adicionamos o governo, temos de incluir sua receita tributária. Dessa forma, ambos os excedentes – do consumidor e do produtor – diminuem. Além disso, a entrada do governo gera uma queda no excedente total da economia, uma vez que produz uma perda de peso morto. Lembrete Peso morto é a medida da perda líquida de excedente total devido a uma intervenção governamental ou a uma falha de mercado. Analisaremos aqui os efeitos sobre o bem-estar decorrentes das seguintes políticas públicas: • incidênciade um imposto sobre o consumo; • transferência de subsídios para os produtores; • controle de preços com regulação por preço máximo (preço-teto); e • controle de preços com regulação por preço mínimo (piso de preços). Efeito de um imposto sobre o consumo Considere o caso em que o governo passe a cobrar um imposto t sobre a quantidade vendida pelos ofertantes. Esse imposto, inicialmente, irá deslocar a curva de oferta para cima à esquerda. Isso ocorre porque, antes da intervenção governamental, os produtores recebiam o preço ps por unidade vendida e os demandantes pagavam o preço pd, sendo que p p ps d * = = . Após a intervenção governamental, os ofertantes passaram a receber: p p td s (8.4) O efeito de um imposto pode ser verificado no gráfico da figura a seguir. A área ABCD corresponde ao excedente do consumidor antes da incidência do imposto. O excedente do produtor antes dos impostos, por sua vez, é representado pela área EFGH. Após a intervenção governamental, ocorre o deslocamento da curva de oferta, com aumento no preço pago pelos consumidores para pd. O excedente do consumidor passa a ser medido pela área A e o excedente do produtor é representado pela área H. 207 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA A B E F C D 0 G D Q0 pmin pmax P t Pd Ps p* H S s + t + t 1 Q*Q* 01 Figura 94 – Efeito de um imposto sobre o consumo A diferença entre ps e pd refere-se à carga tributária t, que é paga pelo consumidor e recolhida ao governo pelo produtor. Portanto, a área BCEF representa a receita do governo com a arrecadação de impostos. A receita tributária deve ser incorporada ao benefício líquido, pois os tributos devem ser redistribuídos para a sociedade. A área DG é o peso morto decorrente do imposto. Essa área é a parte perdida do benefício líquido da sociedade – tanto pelos consumidores (área D) como pelos produtores (área H) – pelo fato da quantidade de equilíbrio recuar de Q0 * para Q1 * . A tabela a seguir resume esses resultados. Tabela 11 – Variações de bem-estar devido à incidência de um imposto sobre o consumo Medidas de bem-estar Equilíbrio de mercado - sem t Equilíbrio de mercado - com t Efeito líquido de t no bem-estar (1) (2) (3) = (2) – (1) Excedente do consumidor (EC) A + B + C + D A −B −- C − D Excedente do produtor (EP) E + F + G + H H −E − F − G Receita do governo (RG) Zero B + C + E + F B + C + E + F Benefício líquido total: EC + EP + RG A + B + C + D + E + F + G + H A + B + C + E + F + H −D − G Peso morto (PM) D + G Exemplo de aplicação Suponha que o mercado de cimento branco se aproxime das condições esperadas para mercados perfeitamente competitivos. A oferta e a demanda de cimento branco podem ser expressas, respectivamente, por: Q Ps s 2 e Q Pd d 10 0 5, , onde Ps é o preço estabelecido (em R$/saco de cimento) pelos ofertantes e Pd é o preço pago (em R$/saco de cimento) pelos demandantes. A quantidade Q é medida em milhões de sacos de cimento. 208 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III a) calcule qual o preço, a quantidade de equilíbrio, o excedente do consumidor, o excedente do produtor e o benefício líquido total. Resolução Para obter equilíbrio de mercado, devemos fazer Qs = Qd: 2 10 0 5P Ps d, Considerando que o mercado é competitivo, então P P Ps d* = = . Logo, os valores de P* e Q* serão, respectivamente: 2 10 0 5 8 10 0 5 8 6 P P P Q * * * * , $ , As medidas de bem-estar – excedente do consumidor, excedente do produtor e benefício total líquido – têm, por sua vez, os seguintes valores: EC P P Q EP P P Q E max min * * * * 2 20 8 6 2 36 2 8 2 6 2 18 TT EC EP 36 18 54 b) suponha um imposto sobre as quantidades vendidas de t = 6 e responda: qual a nova quantidade de equilíbrio? Qual o preço que os consumidores pagarão? Qual o preço que os produtores receberão? Resolução Com a incidência do imposto pd = ps + 6, os preços de equilíbrio para produtores e consumidores serão: 2 10 0 5 6 6 6 6 12 P P P P s s s d , A nova quantidade de equilíbrio de mercado será: Q* , 10 0 5 12 4 209 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA c) no equilíbrio com t, calcule: o excedente do consumidor, o excedente do produtor, a receita do governo, o benefício líquido total e o peso morto. Resolução Os excedentes do consumidor e do produtor com a incidência do imposto terão os seguintes valores: EC P P Q EP P P Q max d s min * * 2 20 12 4 2 16 2 6 2 4 2 8 A receita do governo é calculada a partir do produto da alíquota de imposto t pela nova quantidade de equilíbrio: RG tQ RG * 6 4 24 O benefício líquido total representa a soma de todas as medidas de bem-estar, ou seja: ET EC EP RG 16 8 24 48 O peso morto é a perda de benefício líquido total devido à intervenção governamental, ou seja: ET ET ET 1 0 48 54 6 Portanto, o peso morto decorrente da incidência do imposto é igual a R$ 6. Efeito de um subsídio O subsídio (s) é um pagamento que o governo efetua diretamente aos produtores. Esse recurso reduz o preço pago pelo comprador a um valor menor do que o preço recebido pelo produtor, ou seja: p p sd s (8.5) Podemos associar o subsídio a um “imposto negativo”. Ao contrário do imposto, o subsídio deslocará a curva de oferta para baixo à direita, conforme podemos verificar na figura a seguir. A área AB corresponde ao excedente do consumidor antes da aplicação do subsídio pelo governo. O excedente do produtor antes do subsídio, por sua vez, é representado pela área EI. Com o subsídio a esse mercado, ocorre o deslocamento da curva de oferta com queda no preço dos consumidores para pd. Assim, o excedente do consumidor aumenta e passa a ser medido pela área ABEFG. O excedente do produtor também aumenta e é representado pela área BCEI. 210 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III A B E I F C D 1 G D Q0 pmin pmax P s Pd Ps p* H S - s s - s 0 Q* Q*0 1 Figura 95 – Efeito de um subsídio sobre o bem-estar A diferença entre pd e ps refere-se ao subsídio s, que é transferido ao produtor. Portanto, a área BCDEFGH representa a perda de arrecadação do governo com o subsídio. A receita tributária negativa também representa uma perda de benefício líquido, pois os subsídios são impostos que não foram redistribuídos para sociedade. A área DH é o peso morto decorrente do subsídio. Essa área é a parte perdida do benefício líquido da sociedade – tanto pelos consumidores (área D) como pelos produtores (área H) – pelo fato de o governo deixar de arrecadar os impostos. Esses resultados estão demonstrados na tabela a seguir. Tabela 12 – Variações de bem-estar devido à aplicação de um subsídio Medidas de bem-estar Equilíbrio de mercado - sem s Equilíbrio de mercado - com s Efeito líquido de s no bem-estar (1) (2) (3) = (2) – (1) Excedente do consumidor (EC) A + B A + B + E + F + G E + F + G Excedente do produtor (EP) E + I B + C + E + I B + C Receita doXverno (RG) Zero −B − C − D − E − F − G − H −B − C − D − E − F − G − H Benefício líquido total: EC + EP + RG A + B + E + I A + B + E + I − D − H −D − H Peso morto (PM) D + H Exemplo de aplicação As funções de oferta e demanda de um bem negociado em um mercado competitivo são especificadas como: Q Ps s 1 8 e Q Pd d 14 2 , onde Ps e Pd são os preços pagos, respectivamente, por ofertantes e demandantes. Calcule a variação de bem-estar provocada pela aplicação de um subsídio de R$ 0,50 por unidade produzida. 211 CI EC O Re vi sã o: C ar la- D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Resolução O equilíbrio de mercado competitivo corresponde à igualdade Q Qs d= : 1 8 14 2P Ps d Como o mercado é competitivo, então P* = Ps = Pd. Dessa forma, os valores de P* e Q* serão: 1 8 14 2 15 14 2 15 11 P P P Q * * * * $ , , As medidas de bem-estar na condição de livre mercado terão os seguintes valores: EC P P Q EP P P Q max min * * * * , , , , 2 7 15 11 2 30 25 2 15 0 1225 11 2 7 5625 30 25 7 5625 37 8125 , , , ,ET EC EP Com a transferência de subsídio para os produtores, os preços de compradores e vendedores passam a ser representados por: P Pd s 0 5, Aplicando a expressão nas funções de oferta e demanda especificadas, obteremos: 1 8 14 2 0 5 16 16 0 5 11 P P P P s s s d , , , , , A nova quantidade de equilíbrio de mercado será agora: Q* , , 14 2 11 118 Os novos valores de bem-estar com subsídio serão os seguintes: EC P P Q EP P P Q max min * * * * , , , , 2 7 11 118 2 34 81 2 16 0,, , , 125 118 2 8 7025 212 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III A perda de receita do governo com o subsídio é calculada a partir do produto do valor do subsídio s transferido por unidade produzida pela nova quantidade de equilíbrio, ou seja: RG sQ RG * , , ,0 5 118 5 9 Dessa forma, o benefício líquido total da sociedade com o subsídio será: ET EC EP RG 34 81 8 7025 5 9 37 6125, , , , Como o peso morto é determinado pela perda de benefício líquido total devido à intervenção governamental: ET ET ET 1 0 37 6125 37 8125 0 20, , , Então, o peso morto decorrente da aplicação do subsídio é igual a R$ 0,20. Efeito do controle de preços com regulação por preço máximo (preço-teto) A eficiência dos mercados competitivos, muitas vezes, não está relacionada com questões de equidade nem leva em conta se o equilíbrio de mercado é realmente desejado. Por isso, além de fixar impostos e efetuar transferências a título de subsídios, o governo também pode intervir na economia regulando os mercados de diversas formas. Uma forma comum de regulação é o controle de preços. Em alguns mercados – principalmente aqueles que apresentam falhas como os monopólios naturais – é comum o governo estabelecer um preço-teto inferior ao preço que vigoraria de acordo com as condições de equilíbrio entre oferta e demanda. É possível que mesmo em mercados perfeitamente competitivos, o governo estabeleça a regulação de preços com o intuito de controlar a inflação. Saiba mais Os monopólios naturais são, em geral, empresas que atuam em mercados de serviços industriais de utilidade pública, por exemplo, o fornecimento de energia elétrica e o tratamento de água e esgotos. Veja mais no capítulo 10 de: PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 7. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. Suponha que o governo fixe um preço-teto (pteto) abaixo do preço de equilíbrio de mercado p*, como na figura a seguir. Nesse caso, os produtores ofertarão uma quantidade inferior àquela que deveria prevalecer ao preço de mercado Q Q1 0 * . Por outro lado, os consumidores desejarão, ao preço-teto, demandar mais produtos Q Q2 0 * . Essa situação deve resultar em escassez ou, ainda, em uma 213 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA ineficiência. A área AB, na figura, corresponde ao excedente do consumidor antes da imposição do preço-teto pelo governo. O excedente do produtor antes da regulação é representado pela área CDE. Com o controle de preços, o governo impõe que pteto < p*. Assim, o excedente do consumidor aumenta e passa a ser medido pela área AC. O excedente do produtor, por sua vez, fica reduzido à área E. Portanto, o controle de preços gerou aumento no excedente do consumidor e perda de excedente do produtor. P pmax pteto pmin p* 0 Q1 Q2Q0 Q D S A C E D B 0 Escassez * Figura 96 – Efeito do controle de preços com preço-teto Entretanto, alguns consumidores não conseguirão demandar todas as quantidades que desejariam para maximizar seu bem-estar. Por isso, eles acabam perdendo a área B. Os produtores, além de perderem excedente, pois obrigatoriamente devem vender a um preço mais baixo que desejariam para maximizar os lucros (área C), eles operariam abaixo de sua capacidade instalada, acarretando na perda de eficiência caracterizada pela área D. Portanto, a área BD representa a perda de benefício líquido da sociedade pelo fato de o governo impor um preço-teto. Os resultados da intervenção governamental podem ser verificados na próxima tabela. Observe que na análise de equilíbrio parcial, o controle de preços não gera alterações na receita orçamentária. Tabela 13 – Variações de bem-estar devido à aplicação de um preço-teto Medidas de bem-estar Equilíbrio de mercado - sem pteto Equilíbrio de mercado - com pteto Efeito líquido do pteto no bem-estar (1) (2) (3) = (2) – (1) Excedente do consumidor (EC) A + B A + C C − B Excedente do produtor (EP) C + D + E E −C − D Benefício líquido total: EC + EP A + B + C + D + E A + C + E −B − D Peso morto (PM) B + D De acordo com a inclinação da curva de demanda, é possível extrair as seguintes situações, devido a um controle de preços: 214 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 Unidade III • se área B > área D: haverá perda líquida de bem-estar para os consumidores; • se área B < área D: haverá perda líquida de bem-estar para os produtores. Na figura a seguir, observamos uma curva de demanda relativamente mais inelástica que a oferta. Nos casos de bens inelásticos, portanto, a área B é bem maior que a área D, denotando que os consumidores poderão sofrer uma perda líquida decorrente do controle de preços. P pteto pmin p* 0 Q1 Q0 Q D S A C E D B 0 * Figura 97 – Efeito do controle de preços com preço-teto – demanda inelástica Exemplo de aplicação Sejam as mesmas funções de oferta e demanda utilizadas no exemplo de aplicação anterior: Q Ps s 1 8 e Q Pd d 14 2 , calcule a variação de bem-estar provocada pela imposição de um preço- teto igual a R$ 1 por unidade produzida. Resolução O par preço/quantidade de equilíbrio calculado no exemplo de aplicação anterior foi: P Q* *$ , ;= =15 11 Com a imposição de um preço-teto igual a R$ 1, a nova quantidade ofertada (Qs) será: Qs 1 8 1 7 As novas medidas de bem-estar com o controle de preços serão: 215 CI EC O Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 09 /2 01 5 MICROECONOMIA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA EC P P Q EP P P Q max teto s teto min s 2 7 1 7 2 21 2 1 0 125, 7 2 3 0625 21 3 0625 24 0625 , , ,ET EC EP Portanto, em comparação ao equilíbrio de mercado, tanto consumidores quanto produtores perderam excedente. As perdas líquidas de cada agente, em relação à situação inicial de livre mercado, foram as seguintes: EC EC EC EP EP EP 1 0 1 0 21 30 25 9 25 3 0625 7 5625 4 5 , , , , , Dessa forma, o peso morto – a perda de benefício líquido total devido à intervenção governamental – será: ET EC EP 9 25 4 5 13 75, , , Efeito do controle de preços com regulação por preço mínimo (piso de preços) Uma política pública, às vezes, tem o intuito de elevar os preços acima do nível de mercado, ao invés de reduzi-los. O controle regulatório por preço mínimo tem o objetivo de aumentar o excedente de algumas categorias de ofertantes. São exemplos de políticas de preços mínimos: • adoção de um salário mínimo para os trabalhadores;
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