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ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO CLIENTE CIRÚRGICO PROF. DR. FABRÍCIO DOS SANTOS Introdução A Unidade de Centro Cirúrgico (UCC) é definida como um conjunto de elementos destinados à atividade cirúrgica e à recuperação anestésica. É composta pelo Centro Cirúrgico (CC), pela Recuperação Anestésica (RA) e pelo Centro de Material e Esterilização (CME). Tal unidade é caracterizada como um sistema localizado dentro de uma estrutura hospitalar. É composta por cinco subsistemas: metas e valores; tecnológico; estrutural; psicossocial; administrativo. Evolução Histórica da Cirurgia O CC é um dos sistemas mais importantes dentro do sistema hospitalar. No entanto, além de infraestrutura, recursos materiais e humanos, é necessário haver integração entre todas as outras áreas do hospital para que seu funcionamento seja eficiente e eficaz. A implementação de normas de qualidade e a individualização do cuidado prestado ao paciente determinarão o resultado final. O hospital constitui-se, atualmente, em um dos tipos mais complexos de organização. O termo deriva do latim hospe, que significa “aquele que recebe”, e define o estabelecimento próprio para internação e tratamento de doentes e feridos. Essa instituição surgiu no período medieval, quando os doentes passaram a buscar os conventos, em vez de médicos, para sanar seus problemas. Tinha como finalidade dar hospedagem ou refúgio a idosos, incapacitados e desabrigados, os quais recebiam cuidados de aspecto religioso. Hospital Nos ambientes hospitalares, são encontradas estruturas de alta tecnologia, tanto em relação aos recursos materiais, como aos recursos humanos. Esses elementos formam um sistema organizacional capaz de prestar atendimento de qualidade. ASPECTOS HISTÓRICOS DA CIRURGIA O homem realiza práticas cirúrgicas desde a Antiguidade. O termo cirurgia, do grego kheirourgia, que significa “trabalho manual”, pode ser definido como a especialidade que se destina ao tratamento de doenças e traumatismos por meio de processos operativos manuais e instrumentais. Na Idade Média, as cirurgias eram realizadas nos campos de batalha, nas casas dos cirurgiões ou sob os convés dos navios de guerra. As operações restringiam-se a amputações de membros, drenagem de abscessos e retirada de tumores, e eram realizadas no corpo humano apenas com o uso das mãos ou o auxílio de instrumentos. Os pacientes submetidos a tratamentos cirúrgicos tinham de superar a dor, a hemorragia e a infecção geradas pelos procedimentos sem anestesia. A hemorragia era estancada utilizando-se cauterização com óleo fervente ou ferro em brasa. A infecção passou a ser mais estudada somente após o advento dos antibióticos. Muitas descobertas contribuíram para a prevenção da infecção em pacientes cirúrgicos, como o uso de máscaras e de avental cirúrgico e a padronização da degermação das mãos. Curiosamente, o uso de luvas nas salas de operação foi introduzido em 1890, por William Halsted, não para proteção do paciente, mas para proteger a enfermeira, sua noiva, que era alérgica a antissépticos. A cirurgia teve importante evolução a partir de 1846, quando se descobriu a anestesia e a narcose (diminuição reversível e inespecífica da excitabilidade dos neurônios) passou a ser realizada pela inalação de éter. Tornava-se real a possibilidade de realizar um procedimento cirúrgico indolor. Os esforços para alcançar essa meta iniciaram-se ainda na Antiguidade, com o uso do ópio, da mandrágora, da cânfora e de técnicas de hipnose, empregados pelos povos do Oriente Médio. Porém, nesse período, os resultados não foram satisfatórios. Os anos que se seguiram após a realização das primeiras cirurgias foram marcados por vários obstáculos: instrumentos inadequados, inexistência de antibióticos e de anestesia endotraqueal, além da incapacidade para transfusões sanguíneas. Somente no século XX, com o desenvolvimento científico, é que houve a evolução das técnicas cirúrgicas e da ligadura vascular (ou laqueação é o processo cirúrgico de amarração de uma estrutura oca, mais frequentemente vasos sanguíneos, com fios cirúrgicos), a criação de instrumentos próprios para melhor acesso às áreas operadas e a introdução da anestesia geral e de técnicas assépticas para a realização de intervenções cirúrgicas. Tais procedimentos passaram a ser realizados em hospitais, porém ainda em recintos não específicos. Com o atual avanço tecnológico, as mais diversas especialidades de assistência à saúde passaram a utilizar a robótica e computadores de última geração nas cirurgias. Durante toda a história da cirurgia, a enfermagem perioperatória esteve presente, desde as primeiras amputações, realizadas pelos “cirurgiões--barbeiros”, até as cirurgias robóticas. A história da realização das cirurgias mostra o desenvolvimento do trabalho do enfermeiro de Centro Cirúrgico (CC) que, desde os primórdios, era responsável pelo ambiente seguro, confortável e limpo para o transcorrer do procedimento. As atividades, que antes se resumiam ao auxílio na restrição do paciente e à limpeza e manutenção do ambiente, hoje são focadas na competência técnico-científica de profissionais envolvidos na previsão e provisão de recursos materiais e humanos, no relacionamento multi e interdisciplinar e na interação com o paciente e sua família. Classificação das Cirurgias O tratamento cirúrgico pode ser classificado de acordo com o descrito no quadro abaixo: A determinação do momento propício à realização da cirurgia depende da evolução do quadro clínico e da avaliação das vantagens e desvantagens da espera em relação às condições do paciente. Classificam-se em cirurgias de emergência, de urgência e eletivas. As cirurgias de emergência são aquelas que, em virtude da gravidade do quadro clínico do paciente, exigem intervenção imediata. Por exemplo: hemorragias, perfuração de vísceras por trauma, ferimento por arma branca ou arma de fogo. Já as cirurgias de urgência necessitam de intervenção mediata, podendo aguardar algumas horas, nas quais o paciente é mantido sob avaliação e observação clínica e laboratorial. Por exemplo: cirurgias de abdome agudo inflamatório e exérese de tumores. As cirurgias eletivas compreendem os procedimentos cirúrgicos que, mesmo sendo indicados para tratar a condição clínica do paciente, podem ser realizados em data pré-agendada. Por exemplo: cirurgias de varizes de membros inferiores e de adenoide.Alguns autores classificam certos tipos de tratamentos cirúrgicos eletivos como optativos, ou seja, a cirurgia é feita por solicitação do paciente, como nos casos de cirurgias plásticas com fins estéticos. As cirurgias radicais são aquelas em que ocorre a retirada parcial ou total de um órgão ou segmento corporal, como nos casos de apendicectomia, gastrectomia e mastectomia. Finalidade da cirurgia Dependendo da finalidade à qual se destina, o tratamento pode ser classificado em paliativo, radical, estético ou com finalidade diagnóstica. Entende-se por cirurgia paliativa aquela que visa a melhorar as condições clínicas do paciente, contribuindo para a qualidade de vida, ou, ainda, aliviar a dor, como a gastrojejunoanastomose sem remoção do tumor de estômago. Já as cirurgias plásticas são tratamentos realizados com finalidade estética ou corretiva, como a blefaroplastia e a ritidoplastia, entre outras. Em relação às cirurgias diagnósticas, pode-se citar algumas laparoscopias e as biópsias, que se caracterizam pela extração de fragmentos de tecidos para exame microscópico com fins diagnósticos Risco cardiológico Diante do risco que o paciente tem de perder fluido e sangue durante a cirurgia e, portanto, de apresentar complicações cardiológicas, os procedimentos cirúrgicos são classificados, quanto ao risco, como de pequeno, médio e grande porte. As cirurgias de pequeno porte são aquelas em que o paciente tem probabilidade reduzida de perda de fluidos e sangue. Por exemplo: cirurgias oftálmicase otorrinolaringológicas. As cirurgias de médio porte são os procedimentos em que o paciente tem probabilidade mediana de perda de fluidos e sangue. Por exemplo: prostatectomia, histerectomia, correções de fraturas. As cirurgias de grande porte são aquelas em que há maior probabilidade de perda sanguínea e de fluidos. Por exemplo: correção de aneurismas, cirurgias cardíacas e transplantes. Duração da cirurgia De acordo com a duração do ato cirúrgico, as cirurgias são classificadas em porte I, porte II, porte III e porte IV. Geralmente, quanto maior a duração do procedimento, maior é o porte da cirurgia e maior o risco de o paciente apresentar complicações no período pós-operatório. As cirurgias de porte I têm até 2 horas de duração. Por exemplo: hemorroidectomia, amigdalectomia, curetagem uterina. As cirurgias de porte II duram, em média, de 2 a 4 horas. Por exemplo: histerectomia, colecistectomia convencional, prostatectomia radical. As cirurgias de porte III têm duração de 4 a 6 horas. Por exemplo: revascularização do miocárdio, colocação de prótese total de quadril, craniotomia. As cirurgias de porte IV são aquelas cuja duração ultrapassa 6 horas. Por exemplo, transplantes, aneurismectomia, gastroduodenopancreatectomia. Potencial de contaminação As cirurgias podem ser classificadas segundo o potencial de contaminação, ou seja, de acordo com o risco de infecção ao qual o paciente é exposto. As cirurgias limpas são aquelas realizadas em tecidos estéreis ou passíveis de descontaminação, na ausência de processo infeccioso e inflamatório local; cirurgias eletivas atraumáticas; cirurgias em que não ocorre penetração nos tratos digestório, respiratório e urinário. Nesses procedimentos, o risco de infecção gira entre 1,5 e 5,1%. Por exemplo: cirurgias cardíacas, neurocirurgias, vasculares, artroplastia de quadril. As cirurgias potencialmente contaminadas são realizadas em tecidos colonizados por flora microbiana residente pouco numerosa ou em tecidos de difícil descontaminação, ou, ainda, quando ocorre penetração nos tratos digestório, respiratório ou geniturinário, sem contaminação significativa. O índice de infecção é de 7,7 a 10,8%. Por exemplo: histerectomia abdominal, colecistectomia, gastrectomia, prostatectomia. As cirurgias contaminadas são realizadas em tecidos traumatizados recentemente e abertos ou em tecidos colonizados por flora bacteriana abundante, cuja descontaminação é difícil ou impossível. Entram nesta categoria também as cirurgias em que ocorreram falhas na técnica operatória, na antissepsia e/ ou na degermação. O risco de infecção fica entre 15,2 e 16,3%. Por exemplo: colectomias, cirurgias dentárias, amigdalectomia, apendicectomia. As cirurgias infectadas, como o próprio nome sugere, são realizadas em qualquer tecido ou órgão, na presença de processo infeccioso com supuração local, tecido necrótico ou corpo estranho. O índice de infecção é de 28 a 40%. Por exemplo: cirurgias de reto e ânus com fezes ou pus, debridamento de lesão por pressão, amputação de pé diabético, nefrectomia com infecção. BIBLIOGRAFIA • BRUNNER,L. SUDDART,D. Tratado de enfermagem médico cirúrgica. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527735162/cfi/6/2!/4/ 2/2@0:0 • CARVALHO, R., Bianchi ERF. Enfermagem em Centro Cirúrgico e Recuperação. Barueri: Manole Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/36987/pdf https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527735162/cfi/6/2!/4/2/2@0:0 https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/36987/pdf
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