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4 Fundamentos de Imunologia

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Microbiologia e 
Imunologia Geral 
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Dr.ª Diane Alves de Lima
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Revisão Técnica:
Prof.ª Dr.ª Meire Silva
Fundamentos de Imunologia
Fundamentos de Imunologia 
 
 
• Abordar os aspectos gerais da imunologia, demonstrando os tipos celulares e órgãos que 
o compõem.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO 
• História da Imunologia;
• Propriedades Gerais do Sistema Imune;
• Componentes Celulares do Sistema Imune;
• Órgãos do Sistema Imune.
UNIDADE Fundamentos de Imunologia
Contextualização
Você já parou para pensar como o nosso organismo é atrativo aos microrganis-
mos? Ele possui calor, umidade e uma ampla variedade e quantidade de nutrientes. 
Todos esses recursos fornecem condições ideais para o desenvolvimento microbiano. 
Para se ter uma ideia da magnitude dessa atração, basta observar o que acontece 
quando um animal vai a óbito. À medida que ocorre a invasão microbiana dos teci-
dos, o organismo se decompõe rapidamente. 
Então perguntamos a você: por que essa forma de invasão não ocorre em indi-
víduos saudáveis? A resposta é simples: devido à presença de uma série de meca-
nismos interligados responsáveis pela defesa do organismo, o sistema imunológico. 
Para resistir à agressão microbiana de forma eficiente, o sistema imunológico, 
também chamado sistema imune, utiliza diferentes componentes. Alguns deles são 
efetivos contra vários tipos de microrganismos, enquanto outros atuam de forma 
específica, ou seja, direcionada a um determinado agente agressor.
Quando o sistema imune não atua de forma efetiva, infecções que antes passavam 
despercebidas podem causar doenças graves, levando o indivíduo à morte. Entretanto, 
mesmo com um sistema imune eficaz, muitas vezes os organismos adoecem. Isso 
ocorre porque os microrganismos também desenvolvem formas de invadir os tecidos 
e fugir da resposta imunológica do hospedeiro.
O estudo das interações entre os microrganismos e os animais, incluindo os 
 humanos, é de extrema importância para as diferentes áreas do conhecimento, 
 incluindo a Medicina Humana e Veterinária, a Biologia, a Farmácia, a Biomedicina, 
entre outras relacionadas à saúde. Com base em conhecimentos de imunologia, são 
desenvolvidos vários testes de diagnóstico, tratamentos e vacinas, essenciais para 
controle e prevenção de doenças infecciosas. 
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História da Imunologia
A percepção sobre a importância das defesas dos organismos só foi desenvolvida 
após a aceitação de que microrganismos poderiam causar doenças. Isso ocorreu a 
partir da disseminação de enfermidades como a varíola, que provocou a morte de 
milhares de pessoas pela sociedade antiga. No entanto, algumas pessoas conse-
guiam sobreviver e raramente adoeciam em outras epidemias da doença.
Com base nessas observações, em meados do século XII, os chineses desen-
volveram uma técnica em que cascas de feridas de pessoas infectadas pela varíola 
eram inoculadas em crianças através de pequenos cortes feitos na pele. As crian-
ças que sobreviviam à doença permaneciam resistentes à infecção por toda a vida. 
Com o passar do tempo, foram utilizadas cascas de feridas coletadas de pacientes 
com sintomas leves da doença, o que reduziu de forma significativa a mortalidade 
provocada por essa prática conhecida como “variolação”.
No final do século XVIII, o médico inglês Edward Jenner (Figura 1) observou que 
a varíola bovina provocava lesões nas tetas das vacas semelhantes àquelas apresen-
tadas em humanos, porém, mais brandas. Além disso, era de conhecimento popular 
na época que mulheres que realizavam a ordenha, quando em contato com as vacas 
doentes, desenvolviam uma forma leve da doença. 
A partir disso, Jenner preparou o material das lesões de varíola bovina e inocu-
lou em um menino de oito anos, o qual se tornou protegido contra a varíola. Esse 
processo ficou conhecido como vacinação (do latim vacca, que significa vaca) e sua 
contribuição foi tão grande que em 1980 a varíola foi mundialmente erradicada.
Entretanto, a importância das observações de Jenner não foram percebidas até 
1879. Naquele ano, o cientista francês Louis Pasteur pesquisava uma doença que 
acometia galinhas, a cólera aviária, causada pela bactéria Pasteurella multocida. 
Pasteur possuía uma cultura pura dessa bactéria em seu laboratório, a qual acabou 
envelhecendo. Após serem inoculadas com essa cultura envelhecida, as galinhas 
continuaram saudáveis. 
Passado algum tempo, Pasteur desafiou novamente essas mesmas aves com uma 
cultura fresca de P. multocida, capaz de provocar a morte dos animais. Porém, para 
a surpresa de Pasteur as aves permaneceram assintomáticas. Pasteur logo associou 
esse resultado às observações relatadas por Jenner ao usar a varíola bovina para o 
processo de vacinação. 
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UNIDADE Fundamentos de Imunologia
Figura 1 – Edward Jenner
Fonte: Wikimedia Commons
Dessa forma, Pasteur estabeleceu o princípio da vacinação. De acordo com esse 
processo, quando um indivíduo é exposto a um microrganismo que não causa a 
 doença (cepa avirulenta), ele poderá desenvolver uma resposta que o protegerá 
quando ele tiver contato com outra cepa capaz de causar doença (virulenta), desde 
que seja da mesma espécie ou muito próxima. 
Com base nesse princípio, Pasteur também desenvolveu uma vacina contra o 
antraz, doença bacteriana causada pelo Bacillus anthracis, e contra a raiva, enfer-
midade viral que afeta o sistema nervoso central. A partir desse período, as vacinas 
começaram a ser produzidas contra vários agentes, tornando-se uma das principais 
formas de prevenção e controle de doenças no mundo inteiro.
Por volta de 1900, o desenvolvimento de uma resposta imune contra doenças 
 infecciosas já era reconhecido entre os cientistas. Desde então, várias descobertas 
 foram feitas em relação à interação entre patógenos e hospedeiros em um nível celular 
e molecular. Isso possibilitou o enfrentamento às doenças causadas por alguns desses 
agentes. Entretanto, muitas questões ainda precisam ser melhor compreendidas dentro 
do contexto da imunologia. 
Saiba mais sobre vacinas, disponível em: https://bit.ly/2Rcucc5
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Propriedades Gerais do Sistema Imune
Como vimos anteriormente, os microrganismos utilizam diversos mecanismos 
(fatores de virulência) para invadir o organismo animal e utilizá-lo como fonte de 
 nutrientes e abrigo. Em contrapartida, o hospedeiro apresenta um complexo sistema 
de defesa que impede a invasão e a sobrevivência desses microrganismos infeccio-
sos, caso eles consigam entrar no organismo. 
No entanto, mesmo substâncias não infecciosas, como pólen, pelos e produ-
tos químicos podem desencadear uma resposta imune. Em algumas situações, os 
mesmos mecanismos usados para combater um agente infeccioso, podem causar 
 danos aos tecidos do indivíduo. Em outros casos, o sistema imune pode reagir contra 
 moléculas próprias do organismo, desencadeando o processo de doença autoimune. 
Tipos de Resposta
A resposta de defesa contra os patógenos é regulada por eventos coordenados e 
sequenciais conhecidos como imunidade inata e imunidade adaptativa. A imunidade 
inata corresponde à resposta inicial contra os agentes infecciosos e ocorre primeiras 
horas e dias após o início da infecção. 
A resposta adaptativa, por outro lado, é estimulada pela exposição aos micror-
ganismos invasores. Cada vez que o organismo é exposto a um agente particular, 
a resposta adaptativa se torna mais defensiva. Em razão dessas características, a 
imunidade adaptativa também é conhecida como imunidade adquirida ou específica. 
Esse tipo de imunidade reage frente a diversas estruturas microbianas e substâncias 
não microbianas denominadas antígenos. 
A resposta imune adaptativa é considerada mais forte e especializada que a res-
posta inata, porém, as duas atuam em conjunto. Por exemplo, após a invasão micro-
biana, a resposta inata fornece os primeiros sinais de alerta que ativam a imunidade 
adaptativa. Em contrapartida, a respostaadaptativa intensifica os mecanismos da 
resposta inata, resultando em uma resposta de defesa do organismo efetiva con-
tra os agentes infecciosos. A Tabela 1 mostra uma comparação entre as principais 
 características da imunidade inata e adaptativa.
Importante!
O sistema imune é capaz de reconhecer, responder e eliminar muitas substâncias estra-
nhas ao organismo (não próprias), mas normalmente não reage contra tecidos e outros 
componentes do próprio indivíduo. 
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UNIDADE Fundamentos de Imunologia
Tabela 1 – Comparação entre imunidade inata e imunidade adaptativa
Imunidade Inata Imunidade Adaptativa
Células envolvidas Macrófagos, células dendríticas, neu-trófilos, células natural killer (NK)
Linfócitos T e B
Proteínas 
sanguíneas
Complemento, lectina etc. Anticorpos 
Início Rápido (minutos – horas) Lento (dias – semanas)
Especificidade Estruturas microbianas comuns Antígenos específicos
Memória Ausente Significativa
Eficiência Não aumenta Aumento com a exposição
Fonte: Adaptado de TIZARD, 2008
Resposta Inata
Os mecanismos da resposta inata estão presentes desde o nascimento. Eles estão 
sempre disponíveis para responder às agressões causadas por agentes infecciosos e 
não infecciosos. A primeira linha de defesa da imunidade inata são as barreiras físi-
cas, incluindo a pele e as membranas mucosas. A segunda linha inclui as barreiras 
químicas compostas por células natural killer, fagócitos, mediadores da inflamação 
e substâncias antimicrobianas presentes nas superfícies mucosas.
Como exemplos de barreiras físicas, podemos citar a pele e as membranas mu-
cosas. A pele íntegra é extremamente eficiente contra a invasão microbiana. Porém, 
a presença de lesões possibilita a ocorrência de infecções. Nas superfícies mucosas 
estão presentes mecanismos físicos de defesa relativamente simples, porém, que 
atuam realizando uma “autolimpeza” do local. Por exemplo, no trato respiratório, 
o fluxo do muco direciona as impurezas do interior da traqueia em direção às vias 
áreas superiores, o mesmo ocorre durante a tosse e o espirro. No trato urinário, 
esse mecanismo ocorre através do fluxo da urina e, no trato digestório, por meio do 
vômito e da diarreia. Além disso, a microbiota normal presente na pele e no intestino 
é formada por microrganismos bem adaptados a esses locais e atua competindo com 
patógenos pouco adaptados.
Quando os microrganismos conseguem superar as barreiras físicas, eles se depa-
ram com mecanismos químicos e celulares, incluindo macrófagos, células dendríticas 
e mastócitos. Essas células estão presentes na maior parte dos tecidos e atuam iden-
tificando e capturando os agentes invasores. 
A destruição desses agentes pode ocorrer de duas formas: através do processo 
de inflamação, onde são recrutados outros leucócitos e enzimas que destroem os 
microrganismos; e através da lise de células infectadas por vírus ou por mecanis-
mos que inibem a replicação viral. Discutiremos as características desses mecanis-
mos posteriormente.
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Resposta Adaptativa
A resposta imune adaptativa é capaz de reconhecer os patógenos, destruí-los e 
aprender com todo esse processo. Dessa forma, cada vez que o indivíduo é exposto 
a um determinado microrganismo, mais efetiva será a resposta contra esse invasor. 
As células que participam da resposta adaptativa são denominadas linfócitos. 
A principal diferença dessas células em relação àquelas da imunidade inata é a pre-
sença de um grande número de receptores que reconhecem uma enorme gama de 
moléculas estranhas ao organismo. Há dois tipos principais de linfócitos, chamados 
linfócitos B e linfócitos T, os quais participam de respostas imunes adaptativas distintas. 
Primeiro entenderemos as propriedades relevantes do sistema imune adaptativo e 
então voltaremos aos diferentes tipos de respostas imunes adaptativas.
Os linfócitos apresentam propriedades importantes que refletem nas caracterís-
ticas da resposta adaptativa. Entre elas, podemos citar especificidade, diversidade, 
memória e autotolerância. Vejamos o que significa cada uma dessas características.
O termo especificidade refere-se à capacidade dos linfócitos em reconhecer e agir 
contra antígenos específicos e, frequentemente contra diferentes porções de um mes-
mo antígeno. Essas porções específicas identificadas por linfócitos são chamadas de 
epítopos. Acredita-se que o sistema imune de um indivíduo consiga diferenciar cerca 
de 10 epítopos distintos através de um amplo repertório de linfócitos. Essa capacidade 
de reconhecer um grande número de antígenos refere-se à chamada diversidade.
Quando o organismo é exposto pela segunda vez a um antígeno estranho, a res-
posta imune tende a ser mais rápida e de maior magnitude se comparada à primeira 
exposição aquele antígeno. Isso ocorre porque cada exposição a um determinado 
antígeno induz à produção de células de memória, as quais possuem vida longa e 
são específicas ao antígeno. Esse mecanismo de memória permite que o sistema 
imune apresente uma resposta aumentada frente a patógenos encontrados frequen-
temente no meio ambiente.
Uma das características mais importantes do sistema imune é a capacidade de 
reagir apenas contra antígenos estranhos ao organismo (não próprios). Essa pro-
priedade de não responsividade imune aos antígenos próprios é denominada auto-
tolerância. Diversos mecanismos são responsáveis por manter a autotolerância, tais 
como a eliminação de linfócitos autorreativos. Falhas no sistema de autotolerância 
levam ao desenvolvimento de doenças autoimunes.
Retornaremos agora aos tipos de resposta imune adaptativa? Ela é dividida em 
duas categorias: imunidade humoral e imunidade mediada por células (Figura 2). 
A imunidade humoral é mediada por linfócitos B, os quais secretam substâncias 
chamadas anticorpos. Os anticorpos estão presentes na corrente sanguínea e nas 
superfícies mucosas. Eles reconhecem e se ligam aos antígenos microbianos, neu-
tralizando-os. Os microrganismos marcados por anticorpos perdem sua capacidade 
de infecção e são eliminados pelos fagócitos e pelo sistema complemento, os quais 
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UNIDADE Fundamentos de Imunologia
discutiremos mais adiante em unidades posteriores. É importante ressaltar que a 
imunidade humoral corresponde ao mecanismo de defesa usado contra patógenos 
e substâncias não-próprias que estão fora das células, por exemplo, no sangue, no 
trato respiratório, urinário e assim por diante. 
Figura 2 – Tipos de imunidade adaptativa
Fonte: ABBAS, 2019, p. 5
A imunidade mediada por células (imunidade celular) é realizada por linfócitos T. 
Esse tipo de resposta é gerado contra microrganismos que se replicam dentro das 
células do hospedeiro, como vírus e bactérias intracelulares. Como os anticorpos 
circulantes não alcançam os microrganismos localizados dentro das células, o pro-
cesso de destruição desses agentes ocorre dentro dos fagócitos ou pela destruição 
das células infectadas.
A aquisição de imunidade protetora contra um antígeno pode ocorrer de duas 
formas: através da imunidade ativa e da imunidade passiva (Figura 3). A imunidade 
ativa ocorre quando o indivíduo é exposto a um determinado antígeno e produz 
anticorpos contra ele. Nesse caso, o indivíduo estará imune. Como exemplo de imu-
nidade ativa, podemos citar a vacinação. 
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Já a imunidade passiva ocorre por meio da transferência de anticorpos de um 
indivíduo imune para outro que nunca teve contato com o antígeno. Um exemplo 
importante desse processo é a passagem de anticorpos da mãe para o filho através 
do colostro.
Figura 3 – Imunidade ativa e imunidade passiva
Fonte: ABBAS, 2019, p. 5
Componentes Celulares do Sistema Imune
As células que atuam na resposta imune derivam de células-tronco hematopoi-
éticas (CTHs) presentes na medula óssea (Figura 4). As CTHs dão origem a duas 
linhagens celulares distintas: células progenitoras mieloides e células progenitoras 
linfoides. As células progenitoras mieloides originam fagócitos, mastócitos, basófilos, 
eosinófilos e amaioria das células dendríticas. As células progenitoras linfoides, por 
sua vez, originam os linfócitos e as células NK. Grande parte dessas células são en-
contradas no sangue, outras estão concentradas nos órgãos do sistema imune, como 
veremos a seguir.
Os fagócitos dividem-se em neutrófilos e monócitos, os quais são responsáveis 
por ingerir e destruir agentes invasores ou células danificadas do hospedeiro. Após 
serem produzidas na medula, neutrófilos e monócitos ficam circulando no sangue até 
serem recrutadas para o local de inflamação. Embora possuam função semelhante, 
há diferenças significativas entre eles. 
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UNIDADE Fundamentos de Imunologia
Figura 4 – Morfologia e linhagem de células envolvidas na resposta imune
Fonte: MURRAY, 2016, p. 34
Os neutrófilos possuem formato esférico, medem entre 12 e 15 µm de diâmetro e 
apresentam grânulos no citoplasma. O núcleo é segmentado em três a cinco lóbulos, 
os quais são interligados (Figura 5A). Em razão disso, os neutrófilos são também cha-
mados leucócitos polimorfonucleares (PMNs). Embora apresentem ação mais rápida 
se comparadas aos monócitos, seu tempo de vida é mais curto.
Os monócitos possuem morfologia variável e são diferenciados através de estru-
turas presentes em sua superfície e por meio de suas funções. O diâmetro celular 
varia entre 10 e 15 μm e o núcleo possui formato de feijão (Figura 4). No citoplasma, 
estão presentes grânulos de lisossomos, vacúolos e filamentos de citoesqueleto. Após 
deixar a corrente sanguínea, os monócitos entram nos tecidos e se transformam em 
macrófagos, os quais podem sobreviver por longos períodos.
Mastócitos são células que apresentam numerosos de grânulos de histamina em seu 
citoplasma (Figura 5B). Esses grânulos possuem afinidade por corantes básicos, os quais, 
quando utilizados, deixam a célula com uma coloração azul-escura. Os mastócitos madu-
ros estão presentes nos tecidos como a pele e mucosa. Após serem ativados, eles liberam 
substâncias inflamatórias envolvidas em doenças alérgicas. Os mastócitos também estão 
envolvidos na resposta imune contra parasitas.
Os basófilos, assim como os mastócitos, possuem grânulos citoplasmáticos com 
afinidade por corantes básicos, deixando o citoplasma corado de azul-púrpura (Figura 
5C). Além disso, eles sintetizam os mesmos mediadores inflamatórios produzidos por 
mastócitos, embora constituam menos de 1% dos leucócitos circulantes no sangue. 
Em razão disso, a importância dessas células em reações alérgicas não está clara.
Os eosinófilos apresentam grânulos de proteínas que se ligam a corantes ácidos, 
como, por exemplo, a eosina, tornando o citoplasma celular de coloração vermelha 
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ou laranja (Figura 5D). As enzimas presentes nos eosinófilos atuam na parede celular 
de parasitas, porém, podem causar danos às células do hospedeiro.
Figura 5 – (A) Morfologia de neutrófi los, (B) mastócitos, (C) basófi los, e (D) eosinófi los
Fonte: ABBAS, 2019, p. 15
As células dendríticas apresentam longos prolongamentos e são encontradas em 
maior quantidade na pele, nas mucosas, no timo e nos linfonodos. Após identificar 
a presença do agente invasor, as células dendríticas iniciam o processo da resposta 
imune inata. Em adição, elas realizam a captura e apresentação dos antígenos aos 
linfócitos T, começando assim a resposta imune adaptativa também.
Os linfócitos incluem as células T, células B e células Natural Killer (NK). Os  linfóci-
tos T e B estão presentes tanto nos tecidos linfoides quanto nos circulantes no sangue. 
Eles desempenham funções importantes na resposta imune adaptativa. Quanto à mor-
fologia, os linfócitos T e B são muito similares, embora eles realizem funções distintas. 
Os linfócitos B foram inicialmente identificados em um órgão linfoide presente 
nas aves, a Bursa de Fabricius, local onde ocorre o amadurecimento dos linfócitos 
B. Os mamíferos não apresentam um órgão equivalente à Bursa e a maturação dos 
linfócitos B ocorre na medula óssea. Os linfócitos T se originam na medula óssea e 
migram para o timo, local onde amadurecerão (Figura 6).
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UNIDADE Fundamentos de Imunologia
Figura 6 – Maturação de linfócitos em mamíferos
Fonte: ABBAS, 2019, p. 23
As células B identificam antígenos, proliferam e se transformam em plasmócitos 
responsáveis pela produção de anticorpos específicos envolvidos na imunidade hu-
moral. As células T não produzem anticorpos, elas identificam proteínas estranhas 
ao organismo que estão associadas ao complexo principal de histocompatibilidade 
(MHC), o qual está presente na superfície celular.
Para saber mais sobre a função dos linfócitos T, acesse o link: https://bit.ly/32aIQao
As células NK, também descritas como células assassinas naturais, são assim 
chamadas porque conseguem matar uma grande variedade de células infectadas ou 
tumorais. Dessa forma, qualquer célula do organismo que apresente proteínas anor-
mais em sua superfície poderá ser atacada e destruída pelas células NK. 
Ativadores e Estimuladores das Imunidades Inata e Adaptativa
As células de defesa se comunicam através de interações célula-célula e por meio 
de substâncias químicas produzidas durante o processo de resposta imune. Essas 
moléculas incluem as citocinas, interferons, quimiocinas e produtos da quebra do 
complemento. 
As citocinas estão envolvidas na ativação e regulação da resposta imune inata e 
adaptativa. O interferon (INF) corresponde a um tipo de citocina produzido frente a 
infecções virais (IFN-α e IFN-β) ou para ativar a resposta imune (IFN-γ). Eles estimu-
lam a resposta imune antiviral e antitumoral. As quimiocinas atraem as células de 
defesa para os sítios de infecção. A intensidade da resposta imune gerada dependerá 
da interação desses mediadores com seus receptores em células específicas, bem 
como dos fatores que estimularam a sua produção.
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Órgãos do Sistema Imune
Os órgãos do sistema imune são classificados em primários e secundários. 
Vejamos as diferenças entre eles. Os órgãos linfoides primários incluem a medula 
óssea e o timo. Nesses locais, os linfócitos expressam pela primeira vez os recep-
tores contra antígenos e atingem sua maturidade funcional. 
Os órgãos linfoides secundários englobam o baço, os linfonodos e o sistema imu-
ne associado às mucosas. Os linfócitos presentes nesses tecidos iniciam e desenvol-
vem a resposta contra os antígenos estranhos.
Medula Óssea
Na medula óssea, são produzidas as células presentes na circulação sanguínea, 
como, por exemplo, as hemácias, os monócitos e os granulócitos. Nesse local tam-
bém ocorre a maturação dos linfócitos B. 
Ao nascimento, a produção de células sanguíneas (hematopoiese) ocorre na 
 medula de ossos longos, tais como o fêmur e o úmero. Conforme o indivíduo cresce, 
a hematopoiese vai se tornando restrita aos ossos chatos, sendo que, após a puber-
dade, ela ocorre basicamente no esterno, nas vértebras, costelas e nos ossos ilíacos. 
A porção vermelha da medula óssea, onde ocorre a hematopoiese, é encontrada 
entre as trabéculas ósseas e apresenta um aspecto esponjoso. O tecido é repleto de 
capilares sinusoides, entre os quais há várias células sanguíneas em diferentes fases de 
desenvolvimento e algumas células adiposas. À medida que as células sanguíneas ama-
durecem, elas migram até os capilares sinusoides e alcançam a circulação sanguínea.
Timo
Nesse órgão ocorre o amadurecimento dos linfócitos T e o desenvolvimento de 
autotolerância. O timo está presente no nascimento, porém, involui após a puber-
dade, sendo praticamente imperceptível em indivíduos adultos. O timo é composto 
por dois lobos que se dividem em vários lóbulos separados um do outro por tecido 
fibroso. Cada lóbulo possui uma região cortical e uma região medular (Figura 7). 
A região cortical apresenta elevada concentração de linfócitos T e, por essa razão, 
apresenta uma coloração mais escura. Na região medular, há menor quantidade de 
linfócitos, os quais estão dispersos entre outros tipos celulares, incluindo macrófagos,células dendríticas e as chamadas células epiteliais medulares tímicas (MTECs, do 
 inglês, medullary thymic epithelial cells). As MTECs possuem a função de apresentar 
 antígenos próprios aos linfócitos T em desenvolvimento, selecionado e eliminando as 
células T autorreativas. Isso garante que o sistema imune permaneça autotolerante.
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UNIDADE Fundamentos de Imunologia
Figura 7 – Morfologia do timo
Fonte: ABBAS, 2019, p. 28
Sistema Linfático
O sistema linfático é formado por vasos linfáticos e linfonodos (Figura 8). Os vasos 
linfáticos drenam o líquido intersticial até os linfonodos. O líquido intersticial é for-
mado em todos os tecidos e corresponde a um filtrado de plasma que extravasa 
dos capilares durante a irrigação sanguínea do tecido. Quando o tecido é lesado ou 
infectado, o líquido intersticial aumenta significativamente. Após ser absorvido pelos 
vasos linfáticos, esse líquido recebe o nome de linfa.
Todos os tecidos do organismo possuem vasos linfáticos e barreiras epiteliais con-
tendo células fagocitárias, como as células dendríticas. Quando um microrganismo 
invade algum desses tecidos, as células dendríticas realizam a sua captura e migram 
em direção aos linfonodos através dos vasos linfáticos. Ao chegar nos linfonodos, a 
linfa é “filtrada” e os antígenos capturados pelas células dendríticas são apresentados 
às células do sistema imune adaptativo que ali estão.
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Figura 8 – O sistema linfático
Fonte: ABBAS, 2019, p. 31
Linfonodos
Os linfonodos estão distribuídos em todo o corpo ao longo dos vasos linfáticos. 
Eles filtram a linfa oriunda de todos os tecidos e assim possuem acesso aos antígenos 
encontrados nesses locais. Os linfonodos apresentam três camadas: córtex, paracór-
tex e medula. O córtex é a camada mais externa, na qual estão presentes folículos 
contendo linfócitos B, células dendríticas e macrófagos. O paracórtex é povoado por 
células T e células dendríticas. Já a medula é preenchida por linfócitos T, linfócitos B 
e plasmócitos (Figura 9).
Figura 9 – Organização do linfonodo
Fonte: MURRAY, 2016, p. 35
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UNIDADE Fundamentos de Imunologia
Baço
O baço possui função semelhante ao linfonodo realizando a filtração de antígenos 
microbianos, mas os presentes no sangue. O baço também realiza e remoção de 
plaquetas e hemácias envelhecidas que estejam circulantes. O órgão é dividido em 
polpa branca e polpa vermelha (Figura 10). A polpa branca corresponde a estruturas 
contendo uma arteríola central envolta por linfócitos T, chamadas bainha linfoide 
periarteriolar (BLPA). Nessa região também estão presentes folículos primários e 
secundários contendo os linfócitos B. Quando ativados, os folículos possuem centros 
germinativos formados por células de memória, macrófagos e células dendríticas. 
A polpa vermelha corresponde ao local de renovação de hemácias e plaquetas enve-
lhecidos, além de armazenar células sanguíneas.
Figura 10 – Organização do tecido linfoide no baço
Fonte: MURRAY, 2016, p. 35
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
O Sistema Imunológico Explicado I – Infecção por Bactérias
https://youtu.be/zQGOcOUBi6s
Immune System: Innate and Adaptive Immunity Explained
https://youtu.be/PzunOgYHeyg
Células do sistema imunológico
https://bit.ly/3hcqn1o
Immunology in the Gut Mucosa 
https://youtu.be/gnZEge78_78
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UNIDADE Fundamentos de Imunologia
Referências
ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 
9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
MALE, D. et al. Imunologia. 8. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
MURRAY, P. R.; ROSENTHAL, K. S.; PFALLER, M. A. Microbiologia médica. 
8 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
PLAYFAIR, J. H. L. Imunologia básica: guia ilustrado de conceitos fundamentais. 
9. ed. Barueri, SP: Manole, 2013.
TIZARD, I. R. Imunologia Veterinária. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2017.
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