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1 Fernanda E. Bocutti T6 Manejo de tonturas O que nos dá equilíbrio? - Sistema visual - Sistema muscular - Sistema vestibular Anatomia do ouvido Ampolas – neuro epitélio que percebe movimentação (mecanorreceptor) Fisiologia do equilíbrio Ouvido interno Órgão da audição: cóclea Órgão do equilíbrio: vestíbulo e CSC Composto por labirinto ósseo (externo – perilinfa) e labirinto membranoso (interno – endolinfa) Labirinto membranoso - Ductos semicirculares Ampolas: cristais ampulares Neuroepitélio sensorial Cúpula gelatinosa (se move com a corrente de endolinfa Otólitos Sáculo Utrículo Vias vestibulares centrais - Núcleos vestibulares Núcleo vestibular superior (Bechterew) Núcleo vestibular medial (Schwalbe) Núcleo vestibular inferior (Roller) Núcleo vestibular lateral (Deiters) - Conexões com tálamos e SNA: enjoo e alteração da PA Vias vestibulares centrais - Fascículo longitudinal medial Núcleo vestibular – oculomotor, troclear e abducente RVO Otoneurologia 2 Fernanda E. Bocutti T6 - Trato vestíbulo-espinhal lateral N. Motor medula - Trato vestíbulo-espinhal medial N. Medulares cervicais - Fascículo vestibulococlear Núcleo vestibular – arquicerebelo Seguimento lento ou perseguição - Estabiliza imagem de objeto se movendo em cenário estacionário Reflexo optocinético - Quando todo o campo visual se desloca, o olho segue Ex: passagem de vagões de trem Nistagmo optocinético Reflexos vestíbulo-espinhal e vestíbulo-cervical - Estabiliza a cabeça por contrações musculares em resposta a estímulos vindos utrículo, sáculo e CSC Tontura ou vertigem? Tontura Vários tipos: - Tipo escurecimento visual - Tipo turvação visual - Tipo flutuação - Sensação de “cabeça vazia” - Tipo rotatória - Pode ser alteração visual, muscular, vascular, neurológica, cardiológica ou vestibular Vertigem - Tontura rotatória: vê o ambiente rodando – alteração labiríntica (vestibular) O que é labirintite? - Termo popularmente usado - Não é correto - Termo certo: labirintopatias - Compreende uma grande variedade de doenças - Causas: Mais comuns: alteração metabólica, síndrome de Meniére, deslocamento de otólitos, viral Mais raras: bacteriana, traumatismos, neurológica, tumoral Anamnese Direciona 80% dos casos - Característica da tontura: início, intensidade, duração (segundos, minutos, horas), evolução temporal, sintomas associados (zumbido, plenitude, cefaléia), fatores de melhora ou piora. Exame físico Diferenciar tonturas de origem periférica e central Manobras: - Romberg - Unterberger (começa a marchar e vai rodando (geralmente pro labirinto que tem hipofunção) – positivo) - Nistsagmo semi-espontâneo (pode ter para um lado só (origem periférica) pra todos os lados (origem central) - Head thrust (pescoço relaxado e gira a cabeça para um lado de uma vez – pede para tentar manter o olhar na ponta do nariz) e Head shake (balança a cabeça de um lado para o outro, pede para tentar manter o olhar na ponta do nariz) - Manobra de Dix-Hallpike - o paciente é colocado sentado inicialmente. Em seguida é posto rapidamente em decúbito dorsal horizontal, com a cabeça pendente na superfície (posição de Rose), ao mesmo tempo em que a cabeça é girada 45° para o lado. É mantido nesta posição por 10 a 15 segundos, observando-se o aparecimento de nistagmo. Então o paciente volta para a posição sentada e repete-se a manobra para o lado oposto. A prova é positiva se aparecer nistagmo com os olhos abertos, acompanhados de vertigem. Nistagmografia O exame permite analisar a presença de nistagmo, espontâneo ou provocado (movimentos involuntários e rítmicos dos olhos que ocorrem em determinadas posições), 3 Fernanda E. Bocutti T6 através da observação dos movimentos oculares dos pacientes. Nistagmo espontâneo: é o nistagmo gerado sem nenhum estímulo externo. Deve ser pesquisado com o paciente sentado e imóvel, com os olhos centralizados e a cabeça reta. - Olhos fechados: vertical, horizontal ou ausente. Nistagmo horizontal são típicos de distúrbios vestibulares. Nistagmo vertical é sugestivo de patologias centrais e pode ser para cima (mesencéfalo) ou para baixo (transição crânio vertebral). Observação: Se o nistagmo aparecer com os olhos fechados e desaparecer com a abertura ocular, provavelmente a origem deste nistagmo é periférica. - Olhos abertos: o periférico diminui ou desaparece e o central permanece inalterado ou aumentado. Nistagmo semi-espontâneo (direcional ou de fixação): é aquele que está ausente na posição central, mas aparece nas posições cardinais do olhar. No paciente com fixação normal, o olhar se mantém fixo focalizar um objeto. A presença de nistagmo semi-espontâneo é sempre patológica. - Presente: horizontal (sempre para a mesma direção e geralmente periférico) multidirecional ou vertical (central ou por uso de drogas) - Ausente Nistagmo de posição: aparece quando o indivíduo muda a cabeça e posição em relação ao espaço. Pode estar presente nos indivíduos normais, porém somente com olhos fechados. A existência de nistagmo posicional nítido, com frequência e velocidades razoáveis, sempre indica patologia (central ou periférica). - Presente: com latência (esgotável, unidirecional, paroxístico e com tontura, provavelmente periférico) ou sem latência (inesgotável, multidirecional e sem tontura, provavelmente central). - Ausente Tontura rotatória e não rotatória Na avaliação otoneurológica busca-se saber se existe um distúrbio dos sistemas relacionados ao equilíbrio, se a queixa de tontura é rotatória ou não rotatória, definindo-se inicialmente se a queixa é de origem vestibular ou não vestibular. Tontura rotatória: posicional. O episódio pode ser único (neurite vestibular, labirintopatia traumática, labirintopatias infecciosa, ansiedade/pânico e AVC fossa posterior) ou recorrente (vertigem postural paroxística benigna, hidropisia endolinfática, insuficiência vertebro-basilar e migrânea vestibular). Tontura não rotatória: intermitente (lesão de órgãos otolíticos, vestibulopatia metabólica, cinetose, vestibulotoxicose, vestibulopatia central e extravestibular, como visual, somatossensorial, cardiovascular e psicogênica), constante (compensação vestibular inadequada, vestibulotoxicose, distúrbios metabólicos, tontura de origem visual, vestibulopatia central, alterações psicopatológicas) e oscilopsia (à movimentação cefálica, como vestibulopatia bilateral, distúrbios da motricidade ocular, vertigem posicional central, ataxia vestíbulo-cerebelar, fístula perilinfática, vertigem pós traumática, síndrome do seio carotídeo, oclusão da artéria vertebral e intoxicação por álcool ou fenitoína; ou sem relação com a movimentação cefálica, como casos de nistagmo congênito, vertical, pendular adquirido, altamente periódico, opsoclonos, fibrilação ocular e voluntário e espontâneo de origem otolítica). Outras manifestações clínicas com tontura Alterações neurológicas: infecções, alterações vasculares, neoplasias, TCE, defeitos embrionários, intoxicações, doenças degenerativas. Migrânea: torcicolo benigno da infância (RN), vertigem paroxística benigna da infância (criança), migrânea basilar (adolescente) e vestibulopatia recorrente (adulto). Sintomas auditivos: surdez súbita (labirintite infecciosa, traumas labirínticos, hidropisia endolinfática, fístula labiríntica, schwannoma vestibular e oclusão da artéria labiríntica) ou perda auditiva progressiva (vestibulotoxicose, tumores do ângulo pontocerebelar, hidropisia endolinfática, alterações da orelha média, otoespongiose – otosclerose, labirintopatia imunomediada, malformações congênitas do osso temporal, síndromes genéticas e malformações craniocervicais). Desequilíbrio e quedas: crise vertiginosa, medicamentos, crises otolíticas de Tumarkin,vestibulopatia não compensada, síndrome multissensorial, acometimento central, alterações 4 Fernanda E. Bocutti T6 visuais, alterações somatossensoriais, distúrbios cardiovasculares e distúrbio psicogênico, Síncope e pré-síncope: cardiogênico (cardiopatias, arritmias e coronariopatias), vascular (hipotensão ortostática, síndrome do seio carotídeo e disautonomia) e não cardiovascular (neurológica, metabólica, psiquiátrica, induzida por drogas, insuficiência adrenal e diabetes insípido). Alterações do psiquismo: tontura crônica subjetiva, hiperventilação, ansiedade/pânico, agorafobia, acrofobia e depressão. Síndromes vestibulares Vertigem postural paroxística benigna (VPPB): ao se deitar ou levantar da cama, com duração de segundos, acometendo, normalmente, um único lado. Deslocamento de otólito para os canais semicirculares. A resolução é feita pela manobra de Eppley (reposiciona o otólito). Síndrome de Ménière (hidropsia endolinfática): os sintomas são tontura, zumbido, sensação de ouvidos tampados e variação da audição ao longo do dia. Tem uma duração de minutos a horas e está relaciona a alterações metabólicas. O diagnóstico é clínico, feito pela história e avaliação vestibuloclocear. Pode-se fazer a busca etiológica (metabolismo/hormonal, drogas, migrânea, pós-traumática e infecciosa) por exames hematológico, eletrofisiologia e exames de imagem. O tratamento durante as crises é sedativos vestibulares e antiméticos e nas intercrises tenta- se resolver as causas, controlar os agravos, administrar medicação para reabilitação vestibular e intervenção cirúrgica. Neurite Vestibular o diagnóstico é clínico, feito com base no quadro clínico com vertigens intensas, náuseas, vômitos e tendência à queda para o lado da lesão. O diagnóstico diferencial se faz com AVE (fixação visual/inibição do nistagmo e teste do impulso cefálico). O tratamento é sedativos vestibulares, corticoides e reabilitação vestibular. Vestibulopatia relacionada à migrânea: o diagnóstico é clínico, feito com base no quadro clínico com cefaleia associada, vertigem de posicionamento, dix-hallpike negativo e presença de aura. Investiga-se gatilhos, eletronistagmografia, audiometria e imagem. Tratamento com alterações no estilo de vida, dieta sem gatilhos, reabilitação vestibular e medicamentos (antidepressivos, betabloqueadores, anticonvulsivantes e bloqueadores de canal de cálcio). Tontura no idoso: os tipos mais comuns são (1) síncope e pré-síncope: cardiológica, vasovagal, intolerância ortostática. Avaliação clínico-cardiológica; (2) fenômenos visuais: IVB (hemorreológicos, antiagregantes plaquetários, reabilitação do equilíbrio corporal) e doenças do sistema visual; (3) desequilíbrio/queda: síndrome multissensorial. Reabilitação do equilíbrio corporal atividade física. Tontura crônica subjetiva: diagnóstico clínico com sintomas tipicamente vestibulares, período maior que o esperado para compensação central, desencadeada por situações estressantes, associação de sintomas neurovegetativos. Na investigação os exames vestibulares são normais e há ansiedade associada com melhora durante o uso de ansiolíticos. Tratamento com psicoterapia, antidepressivos, ansiolíticos e reabilitação do equilíbrio corporal. Exames complementares Hemograma, VHS, glicemia, hemoglobina glicada, gama GT, colesterol total e frações, triglicérides, TSH e T4 livre, VDRL, RX simples de coluna cervical (frente, perfil e oblíqua). Avaliação audiológica e eletrofisiológica (BERA eletronistagmografia). Exames de imagem (RNM, TC e doppler de carótidas/vertebrais). Tratamento Modalidades: tratamento medicamentoso, tratamento da doença de base, orientações nutricionais e reabilitação vestibular. Os objetivos da reabilitação vestibular são reduzir manifestações clínicas, melhorar interação visuovestibular (estabilização visual à movimentação cefálica), promover orientação espacial, promover estabilidade postural em situações de conflito sensorial, autopercepção de segurança e evitar quedas. Os procedimentos sugeridos são hipofunção unilateral ou bilateral não compensada (trabalho do reflexo vestíbulo-ocular), deficiência multissensorial do idoso (estimulação global do equilíbrio, força e coordenação), cinetose (treinamento do conflito sensorial) e vestibulopatias centrais (estimulação global do equilíbrio, força e coordenação).
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