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CONSTITUCIONAL_S6

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Seção 6 
ESPELHO DE CORREÇÃO 
 
 
DIREITO 
CONSTITUCIONAL 
 
 
 
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Caro estudante, 
Você já identificou que a peça a ser proposta é um cumprimento de sentença em sede de 
ação civil pública apresentada pela promotora de justiça Ana Paula, a ser apresentada na 9ª Vara 
Cível da Comarca da Capital de São Paulo, onde foi ajuizada e transitou em julgado. 
Vamos ler novamente o caso e conferir o espelho da peça elaborada. 
O caso 
Tenha em mente que se trata de um caso fictício apenas destinado à prática jurídica. 
Você se recorda de que Renata, designer, casada, brasileira e domiciliada na capital do 
estado de São Paulo, é uma cliente regular de uma grande rede de supermercados chamada 
Pão de Sal? Pois bem. 
Ela usava os serviços da loja on-line e das lojas físicas, fazendo diversas transações. No 
entanto, ela percebeu que o mercado Pão de Sal havia começado a enviar mensagens 
publicitárias não solicitadas para o seu celular, oferecendo produtos e serviços pelos quais 
ela não estava interessada. 
Um dia, Renata recebeu um material publicitário parabenizando-a por sua gravidez, fato que 
até então ela não havia revelado a absolutamente ninguém. Nesse material foram enviados 
cupons de desconto para diversos produtos para gestantes e para crianças recém-nascidas, 
com uma frase: “Descontos especiais para você Renata, futura mamãe!”. 
Irritada e intrigada pela absurda invasão de privacidade, Renata procurou o seu escritório 
para entrar com uma ação para ter acesso aos dados que a Rede Pão de Sal tinha a seu 
respeito, e para que fossem suprimidos. Ela sabia que tinha o direito de proteger seus dados 
pessoais e evitar que o mercado usasse suas informações para fins comerciais sem o seu 
 
Seção 6 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 Na prática! 
 
 
 
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consentimento, mas não tem o interesse de receber qualquer indenização por esse 
transtorno. Ela também não desejava ter gastos com os honorários e demais custas 
processuais; somente deseja saber quais são os seus dados que constam do banco de dados 
da rede de supermercados e impedir que sejam compartilhados com terceiros sem o seu 
consentimento. 
O advogado Dr. Luiz Augusto notificou extrajudicialmente a Rede Pão de Sal para que para 
que fornecesse todas as informações que coletou a respeito da cliente. No entanto, a rede 
resistiu a fornecer os dados, alegando que tinha o direito de usar as informações dos clientes 
para fins comerciais, e se recusou a fornecer as informações. 
Figurando como o advogado Luiz Augusto você apresentou uma petição inicial, propondo 
uma ação de habeas data em face da Rede Pão de Sal com a finalidade de obter acesso às 
informações e dados que essa empresa tem a respeito da impetrante Renata. 
A causa foi ganha em primeiro grau e em segundo grau, tendo a empresa ré ingressado com 
recurso especial perante o STJ, que não foi acolhido, tendo a ação transitada em julgado. 
O sucesso da sua ação despertou a atenção da promotora de justiça Ana Paula, que atuou 
nos autos como fiscal da lei (custos legis). 
A promotora percebeu que diversas pessoas estavam em idêntica situação à de Renata e 
instaurou um inquérito civil para apuração das irregularidades no uso de dados dos clientes 
da Rede Pão de Sal. 
A empresa foi intimada para fazer um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no qual 
estaria obrigada a atender qualquer pedido formulado pelos consumidores a respeito de 
informações constantes de seu banco de dados a seu próprio respeito, no prazo máximo de 
10 dias, sob pena de multa diária de R$ 5.000 (cinco mil reais). 
Não tendo sido aceito o TAC e havendo vasto conjunto probatório da indevida utilização de 
dados pessoais dos consumidores, a promotora de justiça de São Paulo Ana Paula elaborou 
uma petição inicial de ação civil pública para obrigar a Rede Pão de Sal a fornecer aos seus 
consumidores os dados constantes de seus bancos de dados, com a medida de urgência e 
multa diária. 
A ação foi julgada procedente, condenando a empresa Pão de Sal nos seguintes termos: 
“Condeno a empresa Pão de Sal a atender qualquer pedido de acesso às suas informações 
pessoais constantes dos arquivos físicos ou eletrônicos desde que formulados por escrito e 
protocolados em sua sede, devendo ser fornecidos no prazo máximo de 10 dias, sob pena de 
multa diária de R$ 5.000 (cinco mil reais) por dia de descumprimento. Condeno, outrossim, a 
 
 
 
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empresa Pão de Sal ao pagamento de uma indenização por dano moral coletivo no valor de 
R$ 1.000.000, que deverá ser depositada no Fundo Especial de Despesa de Reparação de 
Interesses Difusos Lesados do estado de São Paulo; e, por fim, condeno a empresa Pão de 
Sal ao pagamento de custas e honorários no valor de R$ 100.000, que deverão ser 
depositados no mesmo fundo indicado.” 
A empresa não recorreu, tendo a decisão do MM Juiz da 9ª Vara Cível Central da Capital de 
São Paulo transitada em julgado, e a empresa, intimada de todos os atos processuais e 
tomado ciência. 
O Ministério Público foi intimado a dar andamento no processo em razão da inércia da parte 
após 30 dias da ciência de sua condenação transitada em julgado. 
Elabore a peça processual adequada para que a empresa cumpra a condenação sofrida na 
ação civil pública ajuizada por você. 
 
 
 
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 9ª VARA CÍVEL DA COMARCA DA 
CAPITAL DE SÃO PAULO/SP 
 
[5 linhas] 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por sua promotora de justiça abaixo 
assinada, vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 129, inciso III, da Constituição 
Federal, artigos 1º, inciso II, e 5º, inciso XXXII, da Lei nº 7.347/85 e do artigo 523 do CPC requerer 
o 
 
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EM 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 
 Questão de ordem! 
 
 
 
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 em face da empresa REDE PÃO DE SAL, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ 
(qualificação), em fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos: 
 
A presente ação civil pública transitou em julgado em [data da certidão do trânsito em julgado 
e página], e conforme consta da respeitável decisão, a empresa Pão de Sal foi condenada a atender 
qualquer pedido de acesso às informações pessoais de seus clientes, devendo fornecê-las no prazo 
máximo de 10 dias, sob pena de multa diária de R$ 5.000 (cinco mil reais) por dia de 
descumprimento. Além disso, a empresa foi condenada ao pagamento de uma indenização por dano 
moral coletivo no valor de R$ 1.000.000, e ao pagamento de custas e honorários no valor de R$ 
100.000, ambos a serem depositados no Fundo Especial de Despesa de Reparação de Interesses 
Difusos Lesados do estado de São Paulo. 
Dessa forma, diante da inércia da empresa ré em, mesmo ciente do seu trânsito, proceder ao 
imediato cumprimento da sentença, é necessária sua intimação para pagar o débito de R$ 1.100.000 
(um milhão e cem mil reais) no prazo de 15 (quinze) dias e, não ocorrendo pagamento voluntário, 
ser acrescido de multa de dez por cento, além de honorários de advogado de dez por cento. 
 
Assim, requer-se à Vossa Excelência que determine o cumprimento integral da sentença, 
devendo a empresa Pão de Sal fornecer as informações solicitadas pelos clientes dentro do prazo 
estipulado e efetuar o pagamento dos valores determinados na sentença em favor do Fundo Especial 
de Despesa de Reparação de Interesses Difusos Lesados do estado de São Paulo. 
 
Certifico que, nos termos do artigo 523 do Código de Processo Civil, a parte executada foi 
intimada da sentença em [data da intimação] e, decorrido o prazo para recurso, não houve qualquer 
impugnação ou manifestação por parte da empresa Pão de Sal. 
Nestes termos, 
pede e espera deferimento. 
São Paulo, (dia), (mês) (ano). 
Ana Paula – Promotora de Justiça 
 
 
 
 
 
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1) O que é coisa julgada? 
A coisa julgada é uma qualidade que somente se aplica às decisões judiciais,e consiste na 
sua imutabilidade em razão da preclusão das impugnações e dos recursos 
 
2) Qual a diferença entre coisa julgada formal e material? 
A coisa julgada formal representa a preclusão máxima, extinguindo o direito naquele processo, 
porém, não impedindo que a mesma relação jurídica seja discutida em outro processo. 
Na coisa julgada material, a matéria de fundo, a relação jurídica que ensejou a ação, não 
poderá mais ser decidida em ação alguma. Somente por meio de uma ação especial 
denominada rescisória essa matéria poderá ser discutida, e apenas dentro do prazo de 2 anos. 
Após esse prazo, em que seria possível promover a rescisória, a doutrina chama a coisa 
julgada de soberana. 
No processo penal isso também ocorre, mas sem a limitação de prazo, chamando a ação de 
revisão criminal. 
Dessa forma, a proteção da coisa julgada não é absoluta, mas limitada pelas garantias 
fundamentais e pelos princípios constitucionais. 
 
3) A constituição protege a coisa julgada de forma especial? 
Sim, a Constituição Federal de 1988 protege a coisa julgada de forma especial, reconhecendo-
a como um direito fundamental e garantindo sua inviolabilidade, nos termos do artigo 5º, inciso 
XXXVI, que dispõe: "a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa 
julgada". 
 
Essa proteção é fundamental para a segurança jurídica e para a estabilidade das relações 
jurídicas, pois garante que as decisões judiciais definitivas não possam ser questionadas ou 
modificadas, a menos que haja algum recurso ou ação própria para esse fim. Isso significa 
que a coisa julgada tem eficácia erga omnes, ou seja, vincula a todos, inclusive ao Estado, 
que deve respeitar e cumprir as decisões judiciais transitadas em julgado. 
 
4) O que é a chamada flexibilização da coisa julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)? 
O STF tem se posicionado no sentido de que a coisa julgada não é um valor absoluto e pode 
ser relativizada em situações de extrema gravidade, como no caso de violações graves aos 
 Resolução comentada 
 
 
 
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direitos humanos, à dignidade da pessoa humana ou aos princípios constitucionais 
fundamentais. Nesses casos, o Supremo tem entendido que a revisão da coisa julgada é 
necessária para garantir a efetividade da Constituição e para assegurar a proteção dos direitos 
fundamentais. 
 
Um exemplo dessa flexibilização da coisa julgada ocorreu no julgamento da ação rescisória nº 
635.336, em que o STF, ao analisar um caso de esterilização forçada de mulheres, decidiu 
pela relativização da coisa julgada para permitir a revisão da sentença que havia julgado 
improcedente o pedido de indenização das vítimas. O Tribunal entendeu que a sentença havia 
violado direitos fundamentais e que era necessário garantir a reparação das vítimas. 
 
No entanto, é importante ressaltar que a flexibilização da coisa julgada pelo STF é excepcional 
e deve ser aplicada com cautela, de modo a evitar abusos e a garantir a segurança jurídica, 
que é um dos pilares da própria ideia de justiça.

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