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Mercado Cervejeiro e Escolas Cervejeiras Me. Filipe Bortolini Me. Maycon Vinicius de Senna Ribeiro Me. Renan Carlos Klichowski ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador de Conteúdo Diogo Henrique Hendges. Designer Educacional Yasminn Talyta Tavares Zagonel. Revisão Textual Cintia Prezoto Ferreira e Érica Fernanda Ortega. Editoração Bruna Stefane Martins Marconato. Ilustração Marcelo Goto e Mateus Calmon. Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Naldei e Thiago Surmani. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BORTOLINI, Filipe; RIBEIRO, Maycon Vinicius de Sen- na, KLICHOWSKI, Renan Carlos. Mercado Cervejeiro e Escolas Cervejeiras. Filipe Bortolini; Maycon Vinicius de Senna Ribeiro; Renan Carlos Klichowski. Maringá-PR.: Unicesumar, 2021. 168 p. “Graduação - EAD”. 1. Mercado. 2. Cervejeiro. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 680 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Impresso por: DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-gra- duação Kátia Coelho; Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; Head de Curadoria e Inovação Tania Cristia- ne Yoshie Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock PALAVRA DO REITORPALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS WILLIAM DE MATOS SILVA PRÓ-REITOR EXECUTIVO DE EAD Janes Fidélis Tomelin PRÓ-REITOR DE ENSINO EAD Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. Kátia Coelho DIRETORIA DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO Leonardo Spaine DIRETORIA DE PERMANÊNCIA APRESENTAÇÃO O mercado brasileiro de cervejas é o terceiro maior do mundo em volume, perdendo, apenas, para a China e os Estados Unidos. São 14 bilhões de litros produzidos e R$ 77 bilhões faturados por ano, em um setor que responde por 14% da indústria de transformação, 1,6% do PIB e gera 2,2 milhões de empregos diretos ou indiretos. São números bastante significativos, que mostrama força que essa bebida possui em nosso país. Desde 2011, observamos o crescimento acelerado de um segmento, até então, pouco conhecido e explorado: a produção de cerveja artesanal. No total, o número de cervejarias instaladas no país é bastante evidente: eram pouco mais de 100, em 2012, e, em 2019, já somam mais de 1000 estabelecimentos. Este é o resultado de uma revolução no comportamento de consumo dos brasileiros que, insatisfeitos com a pouca diferenciação entre os produtos das grandes cervejarias, passaram a buscar novos sabores e novas experiên- cias nos rótulos de pequenos fabricantes. Esses, com acesso a equipamentos industriais fabricados no país e a insumos de qualidade, trazidos por um número crescente de distribuidores de maneira cada vez mais rápida e ba- rata, passaram a produzir diversos estilos, ultrapassando a marca de 17.000 produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen- to (MAPA). Acredita-se que, hoje, as microcervejarias com suas cervejas artesanais sejam responsáveis por 1% do total de cervejas comercializadas e em torno de 2,5% do faturamento do mercado. Este fato, entretanto, não é algo que ocorre, isoladamente, em nosso país, mas sim é um fenômeno mundial que ganha força em diversos países. O berço desse movimento foi Estados Unidos, onde, na segunda metade dos anos de 1970, surgiu a primeira microcervejaria para produção de cervejas artesanais. Hoje, são, aproximadamente, 7.450 em atividade. Inglaterra, Es- cócia, Espanha, França e Itália, também, são países onde a revolução ganha força. Em todos estes lugares, não é só a quantidade de microcervejarias e o número de rótulos oferecidos que crescem, surgem, cada vez mais, cer- vejeiros caseiros que, com equipamentos de baixo custo e muita vontade de aprender, produzem, em suas casas, suas próprias receitas. Com isso, disseminam a cultura da cerveja artesanal e ajudam a criar cada vez mais consumidores esclarecidos. Como consequência ou causa deste aumento do número de cervejeiros caseiros, está a multiplicação da quantidade de lojas físicas e virtuais de insumos e equipamentos para a produção de cerveja caseira. Isto é, trata-se, em diversos lugares do mundo, de um mercado forte, em franco crescimento, e com diversas possibilidades para empreender. Por isso, no decorrer deste material, conversaremos sobre a história da cerveja e sobre os principais mercados, procurando entender como chegamos ao momento atual e o que se espera para os próximos anos. Na Unidade 1, entenderemos as origens da cerveja na Antiguidade e falaremos sobre os fatos históricos e os avanços teóricos e tecnológi- cos que impulsionaram a produção cervejeira mundial. Veremos como as descobertas de Louis Pasteur permitiram o entendimento do processo de fermentação e o controle de qualidade da produção de cervejas, bem como entenderemos como Carl Linde e seu sistema de refrigeração possibilitaram a produção de cervejas de baixa fermentação em qualquer lugar ou época, e como Joseph Groll criou, em Pils, na República Tcheca, o estilo de cerveja mais apreciado, atualmente, no mundo. Sobre o mercado europeu, berço das cervejarias mais antigas do mundo. Na Unidade 2, conheceremos um pouco de sua longa história, especialmen- te na Alemanha, com sua Lei de Pureza da Cerveja; na Bélgica, com suas cervejarias monásticas e, no Reino Unido, onde surgiram muito dos estilos que inspiraram as cervejarias americanas e onde, hoje, está a maior quan- tidade de microcervejarias da Europa. Veremos como a cerveja artesanal, com suas novidades, está impactando as cervejarias mais antigas e clássicas. Na Unidade 3, falaremos sobre os responsáveis pelo início do movimento de renascimento das cervejas artesanais. Assim, trataremos da história da cerveja, nos Estados Unidos, desde as primeiras produções dos colonizado- res, passando pelo período da Lei Seca, até chegar nos dias atuais. Veremos como uma pequena cervejaria inspirou inúmeros cervejeiros caseiros a abrirem seus próprios negócios, o renascimento do estilo India Pale Ale, carro-chefe da revolução, e o surgimento dos novos lúpulos americanos que, hoje, estão presentes em produtos do mundo todo. Também estudaremos como as grandes cervejarias estão reagindo ao constante crescimento das microcervejarias e como isso impacta o mercado. E o mercado brasileiro, é claro, não poderia ficar de fora dos nossos estudos. Por isso, na Unidade 3, veremos como se iniciou a produção de cervejas no país e como a chegada da Família Real, em 1808, influenciou nosso mercado. Por fim, discutiremos, nas Unidades 4 e 5, um compilado sobre as opor- tunidades de empreendimentos no mercado cervejeiro, dentro da realidade que temos hoje no país. Assim, entenderemos o que implica investir em uma microcervejaria, com sua necessidade de equipamentos e investimen- tos. Também veremos como as instituições de fomento financeiro podem contribuir para o mercado em expansão das cervejas artesanais. Então, vamos adiante, que temos muito conteúdo interessante pela frente, não é mesmo? Bons estudos! CURRÍCULO DO PROFESSOR Me. Filipe Bortolini Possui mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas pela Unisinos (2015), MBA em Gestão de Pessoas pela Unisinos (2011) e graduação em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2002). Também possui certificação Project Management Pro- fessional (PMP) pelo Project Managent Institute (PMI). Tem experiência na área de TI, atuan- do, principalmente, nos seguintes temas: gerenciamento de projetos, escritório de projetos e métodos ágeis. É sócio da Arnesto Brewery Cave, cervejaria cigana e brewpub de Marau (RS) e, também, sócio da Beer Business, consultoria técnica e de negócios especializada no ramo cervejeiro. http://lattes.cnpq.br/4585220021975796 Me. Renan Carlos Klichowski Mestre em Administração pela Universidade Estadual de Maringá – UEM, MBA em Gestão Pública pela Faculdades Maringá (2014), especialização em EAD e Tecnologias Educacionais pela UniCesumar (2014), especialização em Gestão Estratégica de Empresa pelo Instituto Paranaense de Ensino – IPE (2013) e graduação em Administração pelo Centro Universitário de Maringá – UniCesumar (2010). Foi professor mediador da UniCesumar, atua como Analista Administrativo Financeiro (Serviço Social da Indústria – SESI), professor formador (UniCesu- mar), professor autor (UniCesumar) e professor conteudista (UniCesumar). http://lattes.cnpq.br/1353431666289168 Me. Maycon Vinicius de Senna Ribeiro Possui graduação em Engenharia Química pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2016), mestrado e doutorando em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Ma- ringá (2019). Atualmente é professor mediador do Centro Universitário de Maringá no Curso de Tecnologia em Produção Cervejeira. Tem experiência na área de Engenharia Química, com ênfase em Processos Bioquímicos, atuando principalmente nos seguintes temas: fermentação alcoólica, mel invertido, bebidas alcoólicas, hidromel e leveduras. O Mercado Europeu de Cervejas 15 43 A História da Cerveja Gestão Financeira de Negócios Cervejeiros 143 As Micro e Pequenas Empresas – Mpes 111 77 Escola Americana e Mercado de Cerveja nos Estados Unidos e no Brasil Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. Módulo de refrigeração29 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Filipe Bortolini • Compartilhar o conhecimento existente sobre as origens da cerveja na antiguidade. • Esclarecer os primeiros passos da evolução do processo de produção de cerveja e dos ingredientes utilizados. • Descrever a importância do estudo de Louis Pasteur na descoberta das leveduras e seu metabolismo e os impac- tos na indústria cervejeira. • Discorrer sobre a invenção dos geradores de frio e o im- pacto na produção de cervejas lager e na disseminação do mercado decerveja. • Apresentar a história da criação do estilo pilsen, que do- mina a indústria cervejeira atual, e as invenções dos equi- pamentos que hoje são padrão no mercado. Origens na pré-história Desenvolvimento na época medieval Carl Linde e a modernização das cervejarias As pilsens e a indústria contemporânea Louis Pasteur e a Cerveja no Século XIX A História da Cerveja Origens na Pré-História Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo(a). Nesta unidade, vamos discutir sobre a origem da cerveja. A pro- dução de bebidas alcoólicas, que hoje encontra-se difundida por toda a Terra, surgiu de forma inde- pendente na totalidade das culturas, em todos os continentes. Os povos africanos utilizavam sorgo; no Leste da Ásia empregava-se o arroz; enquanto na América do Sul produziam-se bebidas de mi- lho e mandioca (NELSON, 2005); na Europa, as antigas culturas empregavam o centeio, o trigo, a aveia e a cevada. Nas regiões onde a uva era abun- dante, a bebida alcoólica era feita a partir dela, dando origem ao vinho. Semelhante ao vinho, a cerveja acompanha o homem em toda a sua jornada evolutiva. Na pré-história, o homem vivia em grupos de caçadores-coletores, cuja subsistência consistia em coletar o que estava disponível na natureza, no território onde estivessem (HARARI, 2015). Presume-se que, ao contrário dos animais, que se alimentam dos frutos maduros que caiam das árvores, o homem primitivo os colhia e carrega- 17UNIDADE 1 va-os até suas cavernas ou esconderijos. Além de consumir os frutos, é provável que os caçadores- -coletores também os maceravam para obter suco e bebê-lo em tigelas rudimentares. É fácil concluir que esse suco, enquanto não consumido, iniciava um processo fermentativo, produzindo álcool. Assim, a bebida ganhava a capacidade de alterar as sensações e o ânimo dos nossos ancestrais de forma mais intensa do que após a ingestão dos frutos recém colhidos. A fermentação é o processo pelo qual os micror- ganismos transformam os açúcares presentes no mosto em gás carbônico e álcool. No caso da cerveja, o mosto é o líquido obtido da mistura de malte triturado com água em uma temperatura determinada, que propicia a transformação do amido do malte em açúcares fermentescíveis. Além desses dois produtos, os microrganismos podem produzir outras substâncias, desejadas ou não, que interferem no sabor da bebida. Para controlar quais substâncias são produzidas e em quais quantidades, utilizam-se diversas técnicas, sendo que a mais fundamental é o controle da temperatura do processo. A vida como caçadores-coletores exigia que os grupos de humanos pré-históricos mudassem de local quando os recursos naturais do lugar onde estivessem habitando se esgotasse. Desse modo, o nomadismo do homem primitivo lhe permitia produzir bebidas fermentadas dos frutos de dife- rentes árvores que encontrava em suas jornadas. Porém, quando os caçadores-coletores come- çaram a colher frutos de gramíneas e a armazená- -los em suas cavernas, produziam-se excedentes que lhes garantiam a subsistência em períodos de inverno ou de seca. Esses estoques serviam de alimentação crua, mas precisavam ser macerados para a alimentação dos seus filhos que ainda não tinham dentição completa. Presume-se que o ho- mem primitivo deu-se conta de que o macerado, misturado à água, com a finalidade de fazer min- gau, após alguns dias de armazenamento, tenha lhe causado sensação embriagante, o que, sendo- -lhe de agrado, levou-lhe a repetir o procedimento (SINCLAIR, T.; SINCLAIR, C., 2010). Dessa forma, o homem primitivo descobriu que o mingau de cereais moídos e misturados em água, após alguns dias, poderia ser ingerido, conferindo-lhe coragem para enfrentar inimigos ou feras. Percebeu, também, que essa bebida lhe mudava o ânimo da mesma forma que os frutos maturados e fermentados de certas árvores, tais como a marula das savanas africanas. Desse modo ele, acidentalmente, inventou uma bebida alcoó- lica feita de frutos de gramíneas, ou seja, cereais, e essa técnica alimentar o acompanharia em sua evolução cultural e civilizatória. Especula-se que, após dominar o fogo, o ho- mem inadvertidamente tenha deixado seu min- gau de cereais junto ao calor e tenha observado que aquela mistura pastosa aumentou de volume e obteve uma consistência firme. E, assim, nosso ancestral descobriu, também acidentalmente, os primórdios da panificação. A observação dos hábitos alimentares de po- vos primitivos, ainda remanescentes em várias regiões do mundo, demonstra que todos elaboram uma ou outra bebida fermentada alcoólica. Essa 18 A História da Cerveja produção é feita tanto a partir da maceração de frutos quanto a partir da maceração e infusão de cereais ou raízes. Esse fato embasa a tese de que o vinho e a cerveja se confundem com a existência humana desde seus primórdios. Alguns povos, como os nativos americanos, não se limitavam somente a cereais. A raiz de mandioca era utilizada na América do Sul, en- quanto o milho era empregado na América Cen- tral e do Norte. Os primeiros exploradores euro- peus relatavam que a maceração do milho e da mandioca era feita mastigando-se e cuspindo-se o bolo alimentar numa tigela. Esse mingau de amido rapidamente ficava doce pela inversão do amido em açúcares, graças ao efeito da diástase da saliva, e era deixado fermentar. Nossos nativos chamavam essa bebida de cauim (PROUS, 2006). Os primeiros cervejeiros da humanidade foram, provavelmente, os sumérios, que 6.000 anos a.C. habitavam a região do sul da Mesopotâmia, hoje Iraque (NELSON, 2005). Em sítios arqueológicos no Egito foram encontradas receitas registradas em paredes de túmulos datados de 2.650 a 2.180 a.C (VENTURINI FILHO, 2018). Na antiga Babilônia, já eram comercializados 20 estilos, inclusive de cervejas leves e até cer- vejas de alta qualidade, descritas por eles como de exportação, que eram enviadas para o Egito (MÜLLER, 2002). Estudando a história, desco- bre-se que o rei Hamurabi promulgou um tipo de direito do consumidor, que também abrangia essas bebidas. O Código de Hamurabi, de 1760 a.C., incluía várias leis que regulamentavam a fa- bricação, a venda e até o consumo de cerveja, com direitos e deveres dos taverneiros e seus clientes. Conforme a lei, a morte era o castigo para quem vendesse uma cerveja estragada ou adulterada (NOBLE, 2009). 19UNIDADE 1 No Egito, no período do Reino Antigo (2.700 a 2.500 a.C.), a cerveja já era conhecida e consu- mida, como pode-se atestar por pinturas e relevos encontrados em escavações (VENTURINI FI- LHO, 2018). A cerveja não era elaborada a partir de trigo e cevada, mas, curiosamente, com o pão feito desses cereais (MÜLLER, 2002). Presume-se que todo o pão que sobrasse era convertido em matéria-prima para a elaboração de cerveja. Uma pintura encontrada no túmulo do faraó Quenamon mostra a sequência de elaboração de cerveja a partir de pães. O fato dessa sequência ter sido colocada no túmulo do faraó mostra a elevada importância que a bebida tinha durante seu reinado e, provavelmente, que essa técnica de elaboração se constituía em um bem guardado Figura 1 - Fabricação de cerveja a partir de pães no antigo egito Fonte: adaptado de Brockhaus (1955). segredo. Desse modo, deveria ser levado pelo fa- raó em sua jornada pós-morte para que pudesse ser empregada por ele quando retornasse à vida. A gravura a seguir deve ser interpretada ini- ciando na linha inferior, na sequência da esquerda para a direita. Ela mostra um homem partindo pão e outro colocando os pedaços numa peneira com água. Segue-se um homem pisoteando o pão para amassá-lo e diluí-lo na água. À direita há dois ho- mens lavando ânforas e as untando internamente. Na linha central, um homem enche pequenas ânfo- ras, as quais serão esvaziadas num recipiente maior por outro homem,enquanto um terceiro segura uma peneira. Na linha superior são representados homens armazenando a cerveja sobre prateleiras, para fermentação. 20 A História da Cerveja O termo cerveja provém do latim cerevisiae. Os romanos cultuavam a deusa Ceres, a quem atri- buíam o crescimento de vegetais e das plantas alimentares e, por conseguinte, a fartura das co- lheitas (NELSON, 2005). Eles festejavam, em 19 de abril, o dia da deusa Ceres, no qual pediam pelo êxito das plantações que se iniciariam na primavera europeia. Os gregos tinham o mesmo culto, porém chamavam a divindade de Demeter (NELSON, 2005). Os romanos e os gregos bebiam vinho, já que a região que habitavam produzia muita uva. Os povos bárbaros, que habitavam regiões frias, como os vikings, os celtas, as tribos germânicas, os francos, os alemães entre outros, não elaboravam nem bebiam vinho, dado que em suas regiões as uvas eram difíceis de cultivar ou, simplesmente, não existiam. Esses povos produziam bebidas fer- mentadas a partir da infusão de cereais macerados ou pela fermentação de mel diluído. Na medida em que os romanos aumentavam seu império sobre a Europa, tiveram contato com as bebidas dos povos dominados. Dado que, na maioria dos casos, as bebidas eram pro- duzidas a partir de cereais, os romanos as deno- Desenvolvimento na Época Medieval 21UNIDADE 1 minavam genericamente de cervisa ou cerevisa, isto é, bebida feita de cereais. Surgem, então, no mundo de idiomas neo-latinos, os termos cer- veja ou cerveza. Na Itália, apesar de ser o berço do latim, a cerveja é chamada de birra pelo fato que as tribos germânicas, dominadas pelos ro- manos, chamavam sua bebida de birr ou pirr. Atualmente, em inglês, cerveja se diz beer e, em alemão, Bier. Com certa segurança histórica, pode-se afir- mar que o hábito de consumo de cerveja e de sua produção difundiu-se em regiões conquistadas pelos romanos, que não eram propícias ao cultivo de uva. Já a elaboração e o consumo de vinho de- senvolveram-se nas regiões próprias à viticultura. Por meio do historiador Plínio, sabemos que, na Gália e na Espanha, elaborava-se “cerevisia” (NELSON, 2005). Ele narra que os celtas, os ger- manos, os trácios e os citas elaboravam e consu- miam a bebida. Em seus relatos, ele descreve que a elaboração era feita a partir de trigo, cevada, aveia ou centeio, com adição de mel, zimbro, cogumelos, cascas de árvores e outras ervas aromáticas. O lúpulo silvestre era adicionado aleatoria- mente, como uma das ervas condimentares, uma mistura conhecida como “gruit”. Porém, somente no século VIII é que se tem registros da utilização de lúpulo cultivado. O uso sistemático de lúpulo na elaboração de cerveja, a fim de torná-la mais saudável e estável, é atribuído a Hildegarda de Bin- gen (1098-1179), uma monja beneditina que vi- veu na Alemanha (SMITH, 2014). Ela possuía grandes conhecimentos sobre plantas medi- cinais e práticas de cura de doen- ças, e escreveu estudos sobre as ervas tóxicas e venenosas que deveriam ser evitadas. Observe que, até então, era comum que se adicionasse ervas ou cogumelos venenosos na cerveja, causando intoxicações e até a morte de pessoas. Lúpulo (Humulus lupulus) é angiosperma, da es- pécie Humulus lupulus, da família Cannabaceae, de difícil cultivo e de regiões frias da Europa, Ásia Ocidental e América do Norte. É uma planta diói- ca (flores masculinas e femininas), perene, herbá- cea, que cresce brotos no início da primavera e definha como um rizoma endurecido no inverno. Sendo uma trepadeira, tem capacidade de cres- cer em torno de 4,6 a 6,1 metros. Os cones das plantas femininas são agrupados em cachos, que possuem uma vértebra com vá- rias dobras, sobre as quais se fixam brácteas e bractéolas. Nelas, forma-se glândulas onde são produzidos os grânulos de lupulina, que contêm as substâncias que geram as substâncias de in- teresse cervejeiro. Fonte: Venturini Filho (2018). Em torno dessa época, surgiram as Corporações de Ofício, ou guildas, que eram organizações comerciais que elaboravam regras e ditavam a conduta dos praticantes de uma determinada profissão. Elas funcionavam como uma espécie de união de mestres, e só era permitido abrir um negócio se ele estivesse vinculado a uma corpo- ração de ofício. Cada corporação possuía suas regras próprias e um brasão que as identificava – a cerveja também teve a sua (HEILBRONER; MILBERG, 2009). 22 A História da Cerveja Na gravura a seguir, vê-se um cervejeiro me- dieval em seu trabalho. Ele está fervendo o mosto numa panela, provavelmente feita de cobre, com aquecimento a fogo de lenha. Acima dele está o símbolo da corporação dos mestres cervejeiros, formado por dois triângulos superpostos, que, para os alquimistas da época, significava “álcool”. Apesar da semelhança, a estrela de seis pontas não é a Estrela de Davi, símbolo religioso do judaísmo. Os alquimistas aceitavam apenas quatro ele- mentos básicos, que eram: a Terra, a Água, o Fogo e o Ar. O fogo era representado por um triângulo com a base para baixo e a ponta para cima, e a água era representada por um triângulo com a base para cima e a ponta para baixo. A água, para os alquimistas, era um elemento contrário ao fogo, pois o apagava. O álcool na alquimia era a “água que queima”. Portanto, o símbolo do álcool era um triângulo da água sobre o triângulo do fogo, que resultava nessa estrela. Muitas cervejarias da Europa ainda têm esse símbolo e, no Brasil, as cervejarias Antarctica e Brahma utilizavam-no em seus rótulos. Ainda tratando de símbolos e crenças, vale des- tacar, também, a figura do Rei Gambrinus que, segundo a lenda surgida na fronteira da França com a Holanda, teria sido o inventor da cerveja. Desse modo, apesar de sua existência nunca ter sido de fato comprovada, Gambrinus tornou-se o patrono dos cervejeiros (MÜLLER, 2002). No ano de 1040, o monastério beneditino de Weihenstephan, fundado no ano de 738, em Frei- sing, na Alemanha, recebe oficialmente o direito de produzir cerveja e de ensinar o ofício a outros monges. Não se tem registros da elaboração de cerveja nesse monastério antes de 1040, mas tudo leva a crer que, já pelo ano de 750, era fabricada cerveja no local. Figura 2 - Cervejeiro medieval Fonte: adaptado de Brockhaus (1955). Figura 3 - Rei Gambrinus Fonte: Resto de Coleção (2012, on-line)1. 23UNIDADE 1 É certo que, de 1040 até os dias de hoje, a cerve- jaria jamais deixou de funcionar, sendo, por isto, considerada a cervejaria mais antiga do mundo em funcionamento. O monastério deu lugar a uma universidade que, atualmente, abriga, entre outros cursos, o de graduação em cervejaria e tec- nologia de alimentos. Na Alemanha e na Baviera, eram igualmente produzidas cervejas a partir de vários ingredientes e contendo diferentes ervas. Com o aumento do número de cervejarias e o consequente aumen- to de consumo, as autoridades viram na cerveja uma boa fonte de renda por meio da cobrança de impostos. No caso de Weihenstephan, sendo ela uma cerve- jaria monástica, os impostos eram a favor da Igreja. No caso das cervejarias pertencentes a nobres, os impostos eram para o rei; e no caso das cervejarias pertencentes a plebeus, toda a arrecadação era di- recionada para o estado. O controle dos impostos era feito por meio do consumo de malte e cevada, mas muitas cervejarias começaram a utilizar outras matérias-primas, burlando, assim, o fisco. A fim de coibir a sonegação, o Duque Guilher- me IV da Baviera promulgou, a 23 de abril 1516, a “Reinheitsgebot”, a “Lei da Pureza da Cerveja”, a qual está vigente até os dias de hoje. Por essa lei, a cerveja só poderia ser produzida a partir de cevada, de água e lúpulo. Como não se conhecia a levedura como um ingrediente, esta não foi men- cionada no decreto. Em 1906, a “Lei da Pureza” foiestendida para todo o país, apesar dos protestos da indústria cer- vejeira. Logo após o encerramento da Segunda Guerra Mundial, o decreto foi alterado e seu texto incorporado às leis tributárias aplicadas à cerveja (Biersteuergesetz). Entre as alterações realizadas estavam a permissão para o uso de maltes de outros cereais nas cervejas de alta fermentação. Nas cervejas de baixa fermentação permaneceu a limitação para a utilização apenas do malte de cevada, água e lúpulo. Figura 4 - Cervejaria Weihenstephan Fonte: Weihenstephaner ([2018], on-line)2. 24 A História da Cerveja As cervejas produzidas na Europa, com ex- ceção da Baviera, eram de alta fermentação. A técnica de fermentar e maturar a baixas tempe- raturas tem registro, pela primeira vez, no ano de 1500, no monastério de Weihenstephan. Isso era possível com o auxílio de ambientes refrigerados com o uso de gelo coletado durante o inverno e armazenado nos porões das cervejarias. Aos poucos, as demais cervejarias bávaras adotaram esse método. Em 1812, o padre jesuíta B. Scharl descreve, pela primeira vez, o procedimento de fabricação de baixa fermentação. O método, porém, não era totalmente controlável, pois, até então, não havia conhecimento consolidado sobre leveduras, tam- pouco a distinção entre as várias cepas. Além das técnicas de baixa fermentação, as cervejarias, em sua maioria, não sabiam que le- vedura exatamente estavam utilizando, nem do- minavam as técnicas de assepsia. Dessa forma, havia muita perda de cerveja por simplesmente estarem deterioradas, azedas ou intragáveis por outras razões de contaminação. Relatos da época dão conta que, por volta de 1800, até 50% da pro- dução era descartada. 25UNIDADE 1 O biólogo e pesquisador francês, Louis Pasteur (1822-1895), começou seus estudos sobre a fer- mentação de açúcares em meados de 1850. Nessa época, pesquisadores e trabalhadores das cerveja- rias estavam começando a ver o fermento como um organismo vivo, como já havia sido inequi- vocamente estabelecido por Theodor Schwann (1810– 1882) e outros, cerca de vinte anos antes (BARNETT; BARNETT, 2011). Entre 1855 e 1875, Pasteur estabeleceu, clara- mente, o papel do fermento na fermentação al- coólica, a fermentação como um fenômeno fisio- lógico e as diferenças entre a utilização aeróbica e anaeróbica do açúcar pelas leveduras (BARNETT; BARNETT, 2011). A pesquisa iniciou quando ele recebeu um pedido de ajuda de um fabricante, conhecido como Monsieur Bigo, que produzia bebidas alcoólicas à base de beterraba. Ele esta- va tendo problemas sérios com suas produções, pois muitos dos recipientes de fermentação esta- vam produzindo bebida azeda (ALPHIN; VERS- TRAETE, 2003). Louis Pasteur e a Cerveja no Século XIX 26 A História da Cerveja Figura 5 - Louis Pasteur Fonte: Paul Nadar (1895, on-line)3 Monsieur Bigo atribuía isto ao que, na época, chamavam de “a coisa” estragada. A “coisa” (“das Zeug” em alemão) era, na verdade, a levedura, que, na época, retirava-se do fundo das cubas de fermentação para reutilização. Achava-se que a tal “coisa” era uma borra mineral, e jamais se havia considerado a possibilidade de que fosse consti- tuída por organismos vivos. O jovem Louis Pasteur começou sua pesquisa com rigor científico, separando amostras de tan- ques com problema e tanques onde a fermentação ocorria normalmente. Ao examiná-las no micros- cópio, percebeu que haviam diferentes partículas, mas que uma delas aparecia apenas nas amostras problemáticas. Supôs, assim, que essas partículas deveriam ser as responsáveis pela contaminação. Descobriu, então, as bactérias ácido-láticas, que matam as leveduras responsáveis pela fermen- tação de álcool, interrompendo o processo e ge- rando odores desagradáveis e sabores ácidos na bebida (POLLARD, 2010). Isso não bastava para resolver o problema do cervejeiro. Assim, Pasteur inventou meios de cultura líquidos, pelos quais conseguiu separar diferentes cepas de levedura (RENNEBERG et al., 2011). Além disso, ele demonstrou que, para evitar problemas na produção, além de se utilizar cepas puras, era necessário sanitizar os tanques, as tubulações e os recipientes da cerveja (VAL- LERY-RADOT; TYNDALL; HAMILTON, 2015). Tudo isto não era feito até então (ALPHIN; VERS- TRAETE, 2003). A pasteurização prolonga a vida da cerveja (e outras bebidas e alimentos) ao eliminar os or- ganismos que poderiam se multiplicar, aprovei- tando-se do baixo teor alcoólico e dos açúcares presentes. Entretanto, também pode ter conse- quências negativas, tais como a sedimentação ou a suspensão estável de proteínas e o enve- lhecimento do produto pela oxidação, causada pelo oxigênio presente na garrafa no momento do aquecimento. Esses problemas podem ser re- solvidos com filtragem adequada, com cuidados no processo para evitar a absorção de oxigênio ou mesmo com a desaeração prévia da bebida. Fonte: Venturini Filho (2018). 27UNIDADE 1 As descobertas de Pasteur não terminaram nes- te ponto. Percebendo que o processo de fermenta- ção era produzido por organismos, ele imaginou que, aquecendo o líquido até uma determinada temperatura, ele poderia matar os organismos indesejados. Assim, depois de resfriado, o líquido poderia receber as leveduras que se desejava utili- zar, da mesma forma como se fazia normalmente. Dessa forma, descobriu o sistema de estabilização microbiológica de alimentos por meio do aqueci- mento, processo que hoje, em sua homenagem, re- cebe o nome de pasteurização (POLLARD, 2010). As grandes cervejarias, em quase sua totalidade, pasteurizam seus produtos para a venda. Fazem isso como forma de garantir a estabilidade da cer- veja, de aumentar o prazo de validade e de dispen- sar a necessidade de armazenamento refrigerado. Após encerrar seus estudos com a cerveja, Pas- teur ainda manteve seu interesse por processos fermentativos. Na metade dos anos de 1860, ele resolveu problemas semelhantes na indústria de vinho francesa, mas, mais importante que isso, ele teve a intuição de que, se uma bactéria era res- ponsável pela fermentação lática, talvez micróbios específicos fossem os causadores de doenças es- pecíficas. Desse modo, deu-se início à medicina moderna (POLLARD, 2010). Com toda a justiça, Louis Pasteur, pode ser considerado um dos maiores cientistas de todos os tempos. Muitas microcervejarias não pasteurizam seus produtos vendidos em barris e em garrafas, tanto por não possuírem equipamentos adequados para esse fim quanto para evitar possíveis alte- rações no sabor dos produtos. Assim, tem-se a necessidade de mantê-los em cadeia refrigerada até o momento do consumo. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 28 A História da Cerveja O físico e engenheiro alemão Carl Paul Gottfried von Linde (1842-1934) foi um dos maiores in- ventores da tecnologia da refrigeração. Ele foi o primeiro a desenvolver um sistema especialmen- te projetado para fermentar e maturar a cerveja a frio durante os meses quentes de verão. Linde nasceu na vila de Berndorf, na Francônia, numa época em que era proibido fabricar cerveja duran- te o dia de São Jorge (23 de abril) e o dia de Miguel (29 de setembro). A proibição tinha o objetivo de impedir fermentações a quente, que eram habitats ideais para bactérias transportadas pelo ar e que causavam sabores indesejados nas cervejas. Essa proibição durou de 1553 a 1850, quando os cer- vejeiros bávaros aprenderam a encher seus porões e celeiros com gelo trabalhosamente coletado du- rante o inverno (OLIVER; COLICCHIO, 2012). Em 1856, foi inaugurada a primeira empre- sa alemã de venda de gelo coletado da natureza, construída no lago Schäfer em Berlim-Reinic- kendorf. O preço, entretanto, era proibitivo para o consumo em massa, e os alemães demoraram para adotaras tecnologias mais eficientes que já eram utilizadas pelas indústrias americanas. As cervejarias que produziam cervejas lager, de baixa Carl Linde e a Modernização das Cervejarias 29UNIDADE 1 fermentação, eram os principais consumidores, com demandas muito acima dos consumidores privados e da indústria da carne. A Drehersche Brewery, em Klein-Schwechat, perto de Viena, por exemplo, usava mais de 31.500 barris de gelo, aproximadamente um quilo de gelo por litro de cerveja vendido (DIENEL, 2004). Além da inconsistência na disponibilidade, o gelo natural trazia grandes problemas para a sani- tização da produção, uma vez que levava germes para a fermentação e para os depósitos. Flutua- dores de cobre cheios de gelo eram usados para regular as temperaturas de fermentação, porém vazamentos e mesmo a submersão completa dos flutuadores aconteciam comumente. Os velhos porões usados para armazenamento eram refri- gerados, colocando-se o gelo em contato direto com os barris, num ambiente úmido e propenso a mofo. Com a adoção das máquinas de refrige- ração, os cervejeiros começaram a utilizar flu- tuadores de água gelada que usavam mangueiras para bombear. Em 1895, o gelo natural era usado em Munique apenas para o transporte da cerveja (DIENEL, 2004). O princípio básico da refrigeração é simples: uma vez que o frio é a ausência de calor, para res- friar alguma substância, basta retirar o calor. O calor pode ser obtido ao se comprimir um meio; e descomprimi-lo ou evaporá-lo em seguida faz com que o calor seja rapidamente absorvido do ambiente. Esse princípio, aplicado a um recipiente de fermentação, geraria um sistema de frio cer- vejeiro, porém era necessário definir qual seria o refrigerante ideal a ser usado. Após testar diversas substâncias, Linde optou pela amônia, devido a sua rápida expansão, e cha- mou seu invento de “máquina de frio de amônia”. Linde utilizou um motor elétrico para comprimir gases de amônia até um estado líquido para, após, liberá-los em serpentinas dentro de um comparti- mento para refrigeração. Nesse momento, a amô- nia voltava a seu estado gasoso e, no processo, retirava calor do ambiente. O motor, em seguida, repetia o ciclo, convertendo a amônia novamente em líquido e assim por diante. Essa compressão é melhor feita fora da área refrigerada, por que a compressão libera calor (DORNBUSCH, 1998). Seus estudos foram financiados, principalmen- te, por Gabriel Sedlmayr, mestre-cervejeiro da cer- vejaria Spaten, de Munique, que foi o primeiro cliente e a primeira cervejaria a instalar o novo equipamento, em 1873, ainda antes da definição pela amônia. A cervejaria, que na época já era uma das maio- res da cidade, viu no invento a possibilidade de produzir cerveja de baixa fermentação, com alta qualidade, durante todos os meses do ano. Com a máquina, era possível manter as temperaturas sob controle mesmo durante o verão, quando o gelo acondicionado nos porões terminava. O uso do gerador de frio, aliado à aplicação das leveduras específicas recentemente lançadas por Pasteur, fi- zeram a cervejaria ter um grande e rápido sucesso. Módulo de refrigeração 30 A História da Cerveja Assim, em pouco tempo, todas as grandes cerve- jarias instalaram compressores de frio para con- trolar a temperatura de fermentação e resfriar as adegas de guarda. Em torno de 1890, Linde já havia vendido 747 máquinas de refrigeração para cervejarias e armazéns de armazenamento a frio (OLIVER; COLICCHIO, 2012). Atualmente, em todo o mundo, as cervejarias têm instalações de frio, mesmo as que produzem cervejas de alta fermentação. Linde continuou inovando e inventando novos dispositivos até sua morte, em 1934, aos 92 anos. Ele criou, entre outros, equipamentos para liquefa- ção de ar, para a produção de oxigênio puro, nitro- gênio e hidrogênio (OLIVER; COLICCHIO, 2012). 31UNIDADE 1 A cidade de Pilsen (Plzeň), na República Checa, fica na região conhecida como Bohemia, distante cerca de 100 km da capital nacional, Praga. Ali, em 1295, já se produzia e comercializava cerveja com autorização de Wenceslau II, Rei da Bohemia, fundador da cidade. Há registros do ano de 1307 que relatam a existência de uma cervejaria central, que deve ter oferecido melhores condições que as produções caseiras e, como em outras partes da Europa, havia ali, também, uma corporação de ofí- cio dos mestres cervejeiros (CARPENTER, 2017). Ao redor de 1800, Pilsen já era famosa como um centro cervejeiro, e a abordagem técnica que era ali utilizada certamente contribuiu para a melhoria dos processos. Por exemplo, atribui-se ao cervejei- ro checo, František Ondřej Poupě (1753–1805), o primeiro uso de um termômetro no processo de fabricação de cerveja (CARPENTER, 2017). As Pilsens e a Indústria Contemporânea 32 A História da Cerveja Entretanto, a qualidade da cerveja produzida passava por muitos altos e baixos, sendo que um dos piores momentos aconteceu no ano de 1838. Indignados com a baixa qualidade da cerveja, os cervejeiros da cidade reuniram-se na praça cen- tral e declararam 36 barris de cerveja impróprios para consumo. Em seguida, com a ajuda dos ha- bitantes da cidade, despejaram todo o conteúdo dos barris na rua, em protesto (WALLER, 2011). As autoridades, então, fecharam as cerveja- rias e decidiram construir uma cervejaria nova, no estado da arte, aos moldes das cervejarias de Munique. Martin Stelzer (1815–1894), contrata- do para projetar e construir a cervejaria, viajou longamente por toda a Bavária para encontrar o mestre cervejeiro ideal. Ele encontrou, assim, o alemão Josef Groll (1813-1887), que estudara em Weihenstephan, e teve a certeza de que Groll produziria uma cerveja de alta qualidade (OLI- VER; COLICCHIO, 2012). Diz-se que Groll era grosseiro, sem modos e que seu próprio pai se referia a ele como “o ho- mem mais rude da Bavária”. Entretanto, devia ser um excelente cervejeiro, pois quando foi contrata- do para trabalhar em Pilsen, tinha apenas 29 anos de idade. Até hoje não se sabe se foram os bávaros que ficaram mais felizes com a sua partida ou os checos com a sua chegada (CARPENTER, 2017). Naquela época, a Bavarian Lager, uma cerveja marrom, era o estilo mais vendido na Europa, e Groll foi contratado com o objetivo de recriar uma cerveja desse estilo na nova cervejaria, a Bür- ger Brauerei (cervejaria dos cidadãos). Ele contra- tou auxiliares e fabricantes de barris bávaros para auxiliá-lo e trouxe leveduras da Bavária consigo (OLIVER; COLICCHIO, 2012). Em 4 de outubro de 1842, ele lançou no mer- cado sua nova cerveja, que era dourada, clara, bri- lhante, tinha espuma consistente e estável, aroma de lúpulo e um amargor marcante, mas sem ser adstringente (WALLER, 2011). Era um produto completamente diferente das cervejas de alta fer- mentação, produzidas até então em Pilsen, que eram escuras, turvas, sem espuma, com sabor aze- do, aroma de vegetais cozidos e sem gás carbônico. O sucesso foi estrondoso, tanto que, atualmen- te, cerca de 95% das cervejas do mundo são do es- tilo Pilsen. Contudo, como foi possível produzir tal cerveja inovadora? Josef Groll analisou, primeira- mente, a água do local e descobriu que se tratava de uma água “mole”, com uma quantidade menor que 50 partes por milhão de sólidos dissolvidos. A água retirada do solo de Pilsen é o mais próximo que se pode chegar naturalmente de uma água destilada. Uma água desse tipo é ideal para a fabricação de cervejas claras e bastante lupuladas, por que alguns íons, tais como os sulfatos, acentuam o caráter do lúpulo. Para esta água, Groll pôde elaborar uma receita que utilizava uma maior quantidade de lúpulo (CARPENTER, 2017). Figura 6 - Josef Groll Fonte: Wikipedia ([2018], on-line)5. 33UNIDADE 1 Além disso, a cervejaria já vinha dotada de profundas adegas cavadas no arenito,que garantiam ambientes refrigerados com gelo natural, durante todo o ano. Assim, ele pôde produzir sua cerveja com baixa fermentação e fazer a maturação no frio, de forma lenta e sob pressão, garantindo farta dissolução de gás carbônico e, assim, a formação de espuma. Some-se a isto a utilização de maltes claros e lúpulos Saaz da Bohemia, conhecidos pelo fino aroma e amargor suave, mas pronunciado (WALLER, 2011). Entretanto, a grande revolução na arte de fabricar cerveja deu-se há poucos anos, com a introdução dos tanques cilindro cônicos com a consequente utilização do sistema unitank. Isto é, da fermentação e maturação no mesmo tanque, com a separação da levedura sem ne- cessidade de trasfega (transferência entre tanques). Esta tecnologia teve consequências importantes na redução de etapas de fabricação e simplificou enormemente o processo. Além disso, permitiu uma redução significativa da absorção de oxigênio, diminuindo o risco de oxidação e a produção de sabores indesejados nos produtos. Além do uso desses tanques, hoje muito empregados pelas mi- crocervejarias, o avanço na tecnologia deu-se mediante utilização de cromatografia gasosa. Trata-se de uma técnica pela qual se pode identificar, quase por completo, os componentes voláteis e não volá- teis gerados na fermentação. Assim, foi possível conhecer e estabe- lecer formas de monitorar a redução de componentes secundários indesejados na cerveja. A introdução do CIP (“Cleaning in place” ou “limpeza no local”, em tradução livre) possibilitou que o processo cervejeiro pudesse ocorrer em equipamentos absolutamente saneados. Isso garantiu que as cepas puras das diferentes leveduras pudessem fermentar livres de contaminações por bactérias, fungos e leveduras selvagens. Outrora, e estamos falando de 20 ou 30 anos atrás, manter sua fá- brica saneada era resultado de muito esforço e do uso de produtos químicos que hoje, felizmente, não são mais autorizados, como o formol, por exemplo. Outra importante novidade que, de certa forma, influenciou a história recente da cerveja foi a introdução de novos cultivares de lúpulo. Essas novas variedades são frutos de intensas pesquisas e do cruzamento dirigido de diversos lúpulos, em busca de novos aromas e sabores. Assim, temos, hoje, opções que eram totalmente desconhecidas ou inexistentes há menos de duas décadas. 34 A História da Cerveja Durante os últimos quarenta anos, verificou- -se o surgimento de grandes grupos cervejeiros por meio da compra de cervejarias regionais por empresas maiores. Esse movimento deu origem a alguns poucos grupos cervejeiros, multinacionais que oferecem cervejas de qualidade, produzidas em mega instalações, mas que raramente “encan- tam” o consumidor. A venda em grandes volumes é sustentada por farta publicidade, fortalecendo o binômio imagem-produto. Diante da dificuldade de ajustar o processo para cervejas de estilos es- peciais, as grandes cervejarias oferecem poucos estilos ao mercado. Por outro lado, a disponibilização de tecno- logia cervejeira em farta literatura, a existência de cursos acessíveis, a simplificação dos proces- sos de elaboração pelo emprego de unitanks, a disposição moderna de equipamentos em um plano, a grande oferta de equipamentos por em- presas locais, o uso de barris kegs e a populariza- ção do uso de growlers (recipientes retornáveis) envasáveis em qualquer local abriram caminho para o grande fenômeno cervejeiro mundial das últimas décadas: as cervejarias artesanais, ou em inglês as craft breweries. Estas cervejarias oferecem ao consumidor sabores, aromas e qualidade, que devolvem ao apreciador da cerveja o prazer de degustar uma bebida com caráter local, regional ou mesmo com o toque pessoal do mestre cervejeiro. Deve-se às cervejarias artesanais o renascimento das cervejas de alta fermentação, que estavam restritas a algu- mas áreas da Europa e do Reino Unido. Graças às microcervejarias artesanais, o apre- ciador de cerveja tem à sua disposição estilos de cerveja de trigo, de centeio, de aveia e de trigo sarraceno, entre outras possibilidades. Também graças às cervejarias artesanais, são oferecidas ao mercado cervejas de diferentes estilos, cada um com suas variações, sua própria história e sua ori- gem. Outra contribuição interessante das cerveja- rias artesanais, na história da cerveja, é a criação de trabalho e renda para jovens empreendedores, tanto do setor cervejeiro como gastronômico. 35 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Relacione as colunas: 1) Louis Pasteur. 2) Carl Linde. 3) Josef Groll. ) ( Identificou as leveduras como seres vivos e criou formas de identificá-las e separá-las em seus diferentes tipos. ) ( Criou um método de estabilização microbiológica de alimentos pela utilização do aquecimento. ) ( Inventou o sistema de geração de frio por meio da compressão e expansão de amônia. ) ( Criou o estilo de cerveja Pilsen, o mais produzido no mundo até os dias atuais. Assinale a alternativa correta: a) 1-1-3-2. b) 2-3-3-1. c) 1-1-2-3. d) 1-2-3-1. e) 3-2-1-2. 36 2. Sobre a “Lei da Pureza”, promulgada pelo Duque Guilherme IV da Baviera, na Alemanha, em 23 de abril 1516, é correto afirmar que: (Marque as afirmações como verdadeiras ou falsas). ) ( A lei foi criada com o objetivo de coibir a sonegação fiscal. ) ( Por esta lei, a cerveja só poderia ser produzida a partir de cevada, água e lúpulo. ) ( Como a levedura atua só no processo de fermentação e depois é retirada, ela não foi considerada como um ingrediente. ) ( A lei continua em vigor até os dias atuais, sendo vedado qualquer produto quí- mico como conservante ou flavorizante na fabricação de cerveja na Alemanha. Assinale a alternativa correta: a) V-F-F-V. b) V-V-F-V. c) F-F-V-V. d) F-V-F-V. e) V-V-V-F. 3. Na idade média era comum a adição acidental de ervas e cogumelos venenosos na cerveja, causando intoxicações e até a morte de pessoas. O uso sistemático do lúpulo na elaboração de cerveja para torná-la mais estável, bem como a realização de estudos sobre ervas tóxicas e venenosas a serem evitadas são legados de: a) Louis Pasteur. b) Duque Guilherme IV da Baviera. c) Carl Linde. d) Hildegarda de Bingen. e) Rei Gambrinus. 37 The Beer Hunter – O Caçador de Cervejas Ano: 1989 Sinopse: Michael Jackson (1942-2007) foi um jornalista britânico e autor de di- versos livros sobre cerveja e uísque. Sua obra mais famosa, “The World Guide to Beer”, publicada em 1977, aborda detalhadamente mais de quinhentas marcas de cervejas, e é reconhecida até os dias de hoje como referência fundamental para o mundo cervejeiro. Nos seis episódios da série “The Beer Hunter – O Ca- çador de Cervejas”, exibida pelo Discovery Channel em 1989, Jackson viaja por diferentes partes do mundo em busca de estilos típicos e raros. Nessa caçada por boas cervejas, os países visitados por ele na série são a Bélgica, a Alemanha, a República Tcheca, a Holanda, os Estados Unidos e a Inglaterra. Cada parada, é claro, é marcada pelas histórias dos lugares visitados e dos estilos degustados, também harmonizados com comidas típicas. Apesar de antiga, a série continua sendo uma ótima referência para quem aprecia cervejas especiais, e encontra-se disponível para visualização gratuita na internet, com legendas em português. FILME 38 ALPHIN, E. M.; VERSTRAETE, E. Germ Hunter: A Story about Louis Pasteur. Minneapolis: Lerner Publishing Group, 2003. BARNETT, J. A.; BARNETT, L. Yeast research: a historical overview. Washington: ASM Press, 2011. CARPENTER, D. Lager: The Definitive Guide to Tasting and Brewing the World’s Most Popular Beer Styles. Minneapolis: Voyageur Press, 2017. BROCKHAUS, E. Der Grosse Brockhaus. In: 13 Wiesbaden: F. A. Brockhaus Wiesbaden, 1955. DIENEL, H. L. 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Acesso em: 05 nov. 2018. 40 1. C. 2. B. 3. D. 41 42 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Filipe Bortolini • Relatar brevemente a forma como o mercado de cervejas europeu se desenvolveu. • Descrever os estilos característicos da região. • Compartilhar dados de tamanho de mercado, quantidade de cervejarias, volumes e consumos. • Relatar o estado atual do mercado de cervejas artesanais no local. • Discutir as tendências do mercado local e o que se espera para os próximos anos. Histórico de Desenvolvimento Estilos Regionais Característicos Cervejarias Artesanais na Atualidade Europeia Tendências do Mercado Cervejeiro Europeu Cenário Atual na Europa O Mercado Europeu de Cervejas Histórico de Desenvolvimento Olá, aluno(a), falaremos, nesta unidade, sobre a história da cerveja que está intimamente corre- lacionada com a história dos povos europeus. Lembremos que, quando os romanos iniciaram a expansão de seu império para além dos Alpes, es- palharam-se pelos territórios da Gália (hoje Fran- ça), da Germânia (hoje Alemanha), Escandinávia (hoje Dinamarca), da Ibéria (hoje Espanha) e do Albion (hoje Inglaterra e Escócia). Em todos esses lugares, depararam-se com tribos que preparavam bebidas fermentadas a partir de diversos cereais, ou de mel diluído (NELSON, 2005). Os romanos levaram a civilização a todas essas tribos primitivas que dominaram e, graças a eles, os povos bárbaros transformaram-se em flores- centes culturas. Assim, podemos afirmar que, do ponto de vista histórico, a cultura cervejeira, em- bora tenha raízes próprias na ancestralidade de cada uma das regiões europeias, foi difundida por meio do processo civilizatório romano. Em 380 d.C., o imperador Teodósio consti- tuiu o cristianismo como religião oficial do im- pério romano, seguindo os passos do imperador Constantino, que havia suprimido a perseguição sistemática aos cristãos, em 312 d.C. (SHELLEY; 45UNIDADE 2 NIEDHARDT, 2018). Dessa forma, saem da clan- destinidade as igrejas e os mosteiros já existentes no império, e começam a se espalhar novas unida- des pela Europa, na medida em que missionários catequizavam as tribos e os povos nativos. Com a construção de mosteiros, difunde-se a produção de cerveja, utilizada como alimento monástico, principalmente no jejum quaresmal (NACHEL; ETTLINGER; BRAGA, 2018). Isso confere um caráter institucional à cerveja, antes só elaborada no ambiente doméstico, tal qual o pão era produzido particularmente. Na Europa Medieval, ou seja, do século V ao sé- culo XV, houve uma grande difusão da produção de cerveja, tanto em monastérios como em cervejarias pertencentes a nobres, a bispos e a burgueses (OET- TERER; D’ARCE; SPOTO, 2006). Se consideramos que ainda existem muitas cervejarias europeias que ostentam orgulhosamente, em seus rótulos, anos de fundação (como a cervejaria de Weihenstepham, de 1040), imagina-se quantas existiram e deixaram de existir durante esse período. Apenas 63 anos após o final da Idade Média, ocorrido no ano de 1453, com a Queda de Cons- tantinopla, é promulgada a Lei da Pureza da Cer- veja, pelo Duque Guilherme IV da Baviera, em 1516 (NACHEL; ETTLINGER; BRAGA, 2018). Se uma lei específica para a produção de cerveja foi promulgada, pode-se inferir que, naquela época, já existiam centenas de cervejarias comerciais for- necendo cerveja ao povo. Dado que essa lei tinha efeito somente na Baviera, que era apenas um dos muitos reinos da Europa, imagina-se que os outros reinos tivessem um cenário cervejeiro semelhante. Portanto, com boa certeza histórica, pode- mos sugerir que tanto na Europa continental como nas ilhas britânicas, a cerveja já fazia parte da cultura alimentar dos europeus. No entan- to, sabe-se que a produção de cerveja floresceu naquelas regiões europeias, onde a uva vinífera era escassa ou mesmo inexistente (STANDAGE, 2005). Assim, a Idade Média (476-1453) e a Idade Moderna (1453-1789) foram períodos de forte florescimento do mercado cervejeiro na Europa, com exceção das regiões da península Ibérica, da Itália, e de partes da França. Nestas, o vinho manteve sua importância como bebida popular. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Graduação alcoólica Quando analisamos os rótulos das bebidas alcoó- licas vendidas no Brasil, podemos perceber que todos eles trazem a informação de graduação al- coólica, expressa em um percentual. Mas por que esse valor é obrigatório e o que esse percentual significa? O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), por meio de legislação específica, exige que a informação de graduação alcoólica seja informada em um percentual de volume alcoólico. Esse percentual indica a quanti- dade de álcool presente na bebida. Por exemplo, se uma cerveja tem 5% de graduação alcoólica, isso significa que, a cada 100 ml de cerveja, 5 ml são de álcool, ou seja, uma garrafa de 500 ml vai conter 25 ml de álcool. 46 O Mercado Europeu de Cervejas Somente a partir do século XIX, as regiões europeias tipicamente vinícolas começam a registrar um aumento do mercado de cervejas, graças às descobertas de Louis Pasteur. Seus estudos comprovaram que a assepsia e o uso de cepas puras de levedura garantiam cervejas estáveis (ALPHIN; VERSTRAETE, 2003). A cerveja, ao contrário do vinho, não tem graduação alcoólica capaz de conferir-lhe estabilidade microbiológica. Assim, essa estabilidade somente era possível pelo uso de cepas puras de levedura, de criteriosa limpeza e assepsia dos equipamentos e da pasteurização (VALLERY-RADOT; TYNDALL; HAMILTON, 2015). A invenção da máquina geradora de frio, por Carl von Linde, possibilitou que se pudesse produzir cerveja de baixa fermentação em qualquer região, mesmo que desprovida de gelo natural retirado de lagos congelados (DIENEL, 2004). Pasteur e Von Linde abriram o caminho para a expansão do mercado cerve- jeiro europeupor meio da possibilidade da construção de cervejarias em qualquer região. Itália, Espanha, Portugal e regiões viníferas da França tornaram-se, assim, importantes mercados cervejeiros desde então. 47UNIDADE 2 As regiões não vinícolas da Europa tiveram larga expansão dos mercados cervejeiros até o século XIX. Cada região desenvolveu seus próprios es- tilos de cerveja, de acordo com as preferências locais. Contudo, esses estilos estavam atrelados, principalmente, às características químicas da água local utilizada, aos tipos de cereais e ervas que empregavam e às técnicas de brasagem e fer- mentação adotadas. A levedura era desconhecida como um ingre- diente, de modo que a fermentação ocorria por meio de leveduras selvagens. À borra decantada, que surgia quando se esvaziava um recipiente de fermentação, eram atribuídos poderes misteriosos. Os alquimistas acreditavam que nela haviam espíritos que eram libertados na destilação, e por isto chamavam o álcool de “spíritus” (HAUCK, 2008). A levedura era empregada por inúmeros ciclos, e só se descartava quando a cerveja resul- tante já era absolutamente intragável. Estilos Regionais Característicos 48 O Mercado Europeu de Cervejas Importância da água A água responde por mais de 90% da constituição de uma cerveja, tendo grande influência na sua qualidade. A “água mole”, ou seja, com poucos minerais, é bastante adequada para a produção de cervejas claras, como as Pilsen. Já uma “água dura”, com bastante minerais, é adequada para cervejas escuras, como as Stouts. As quantidades de minerais podem sempre ser ajustadas, porém, adicionar minerais é muito mais fácil que extraí-los. Assim, é melhor ter uma água mole e ajustá-la com uso de sais à base de sulfatos e cloretos, de fácil aquisição, de acordo com a necessidade. Fonte: adaptado de Palmer e Kaminski (2013). Leveduras selvagens Existem centenas de espécies de leveduras, cada espécie com milhares de cepas, vivendo no solo, em insetos e crustáceos, em animais e em plantas. As leveduras podem ser carregadas pelo vento e, com isso, cair em novos lugares, inclusive dentro de um fermentador de cerveja. Em geral, os cervejeiros não querem leveduras nativas em suas cervejas, e as chamam de “leveduras selvagens”. Alguns usam esse termo para qualquer cepa que não tenha sido colocada intencionalmente pelo cervejeiro. Outros consideram como “leveduras selvagens” apenas as leveduras que não são específicas para cerveja. Fonte: White e Zainasheff (2010). 49UNIDADE 2 Muitos desses estilos locais deixaram de ser produzidos e suas receitas se perderam, a partir do momento em que se difun- diu a utilização do lúpulo. Este veio a substituir a utilização de determinadas ervas, de raízes de certos vegetais, de algumas frutas e de cascas de árvores. Inicialmente, empregava-se lúpulo selvagem, que florescia nas bordas das florestas. Com a escassez deste, iniciou-se a utilizar lúpulo cultivado, o que ocorre até os dias de hoje. Atualmente, verifica-se novamente o emprego de certas ervas aromáticas e de determinadas frutas na produção de cervejas artesanais. As cervejas de estilos europeus são, geralmente, originárias de uma determinada cidade ou região. Assim, temos os seguintes principais estilos que remetem a cidades ou regiões onde, ini- cialmente, foram produzidos. A Alemanha tem longa tradição cervejeira, tendo cervejarias que estão em atividade há quase mil anos, é o maior produtor de cervejas da Europa e tem um dos maiores consumos per capita. A escola britânica é marcada, tradicionalmente, por suas ales, que estão classificadas em diversos estilos. Os belgas são co- nhecidos por suas cervejas especiais, de alta fermentação e com ingredientes inusitados e complexidade sensorial alta, elaboradas com uma combinação de métodos inovadores e tradicionais. Conheça, a seguir, o que os alemães, britânicos e belgas mais apreciam de cervejas. 50 O Mercado Europeu de Cervejas German Pils SRM 3,5-6 Weizenbier SRM 2-6 Munich Helles SRM 3-5 German Helles Export Bier SRM 3-5 Kölsch SRM 3,5-5 Alt SRM 11-17 Berliner Weiss SRM 2-3 SRM: cor da cerveja segundo Standardt Reference Method Teor alcoólico (ABV) ESTILOS POPULARES Amargor (IBUS) Unidades Internacionais de Amargor Fermentação Sabor Alemanha 4,6% ~ 5,3% 4,3% ~ 5,6% Baixa Acre de lúpulo. Refrescante, final seco, notas de banana e cravo. Maltado, pouco dulçor, amargor de lúpulo floral ou herbal. Amargor do lúpulo. Moderadamente amargo, com sabores apreciáveis de malte e lúpulo. Amargor do lúpulo, caráter de malte intenso, mas limpo e nítido. Alta Baixa Baixa Alta Alta 4,7% ~ 5,4% 4,8% ~ 6,0% 2,4% ~ 3,6% 4,3% ~ 5,5% 2,8% ~ 3,8% 22 ~ 40 8 ~ 15 16 ~22 20 ~ 30 18 ~ 30 25 ~ 50 Levemente ácido.Alta3 ~ 8 51UNIDADE 2 Fonte: adaptado de Deutschland (2018, on-line) , BJCP (2015), Mestre Cervejeiro (2016, on-line) e Mestre Cervejeiro (2016, on-line) . 4,5% ~ 5,5% Alta Frutado, refrescante e com um final ácido e seco. Aromade coentro, picante ou apimentado ao fundo.8 ~ 20 4,8% ~ 12,0% O sabor vai de frutado e doce-maltado à ricamente maltado e alcoólico.Alta15 ~ 45 Suave, maltado com tostado, biscoito, noz, leves notas de caramelo e mel. Lúpulo, herbal ou floral. Final seco a equilibrado. Alta 4,8% ~ 5,5% 20 ~ 30 Sabores frutados e condimentados, malte suave com sabores de grãos. Amargor ou acidez. Alta 3,5% ~ 9,5% 20 ~ 35 Bastante acidulado, moderadamente funky, com acidez.Selvagem 5,0% ~ 6,5% n.d. * *não definido 3,2% ~ 3,8% Alta Amargor, ésteres frutados, sabor de lúpulo, caráter terroso, maltado com final seco. 25 ~ 35 3,8% ~ 4,6% Alta25 ~ 4 0 Alta 4,6% ~ 6,2% 30 ~ 50 Alta 5,0% ~ 7,5% 40 ~ 60 Alta 4,0% ~ 5,4% 18 ~ 35 Sabores de café e chocolate até torrado forte, com amargor torrado mais intenso e amargor alto. Alta 4,0% ~ 8,0% 20 ~ 70 Reino Unido Ordinary Bitter SRM 8-14 Best Bitter SRM 8-16 Strong Bitter SRM 8-18 English India Pale Ale SRM 6-14 Porter SRM 20-30 Stout SRM 22-40 Notas de pão, chocolate, noz ou toffee. Pode conter sabores secundários de café. Sabor de lúpulo com amargor, frutado, malte com características de pão, biscoito, tostado e toffee. Amargor com maltes de pão, nozes e toffee. Sabor de lúpulo floral, terroso, resinoso e frutado. Amargor, ésteres frutados, sabor de lúpulo, terroso, frutado, maltado com final seco. Bélgica Witbier SRM 2-4 Trapista SRM 3-22 Belgian Pale Ale SRM 8-14 Saison SRM 5-22 Lambics SRM 3-7 A é t Frutado refrescan 52 O Mercado Europeu de Cervejas Após conhecer os estilos populares de cervejas presentes na Alemanha, Reino Unido e Bélgica, iremos ver agora o histórico e comerciais derivados de cada um dos estilos. ALEMANHA German Pils Weizenbier Histórico: é um dos estilos mais apreciados na Alemanha. Adaptado da Pilsen tcheca, desenvolvida por Josef Groll para se adequar às condições de produção alemãs, especialmen- te água com alto teor de minerais e variedades nacionais de lúpulo. Comerciais derivadas: Radeberger Pilsner, König Pilsener, Left Hand Polestar Pils, Paulaner Premium Pils e Schönramer Pils. Histórico: também conhecida como Weissbier, em 1567 foi proibida de ser produzida sem justificativa convincente; na ver- dade, o valioso trigo não deveria ser empregado para a produ- ção de cerveja. Mais tarde, príncipes bávaros ganharam muito dinheiro concedendo licenças excepcionais de produção. Comerciais derivadas: Erdinger Weissbier, Ayinger Bräu Weisse, Hacker-Pschorr Weisse, Paulaner Hefe-Weizen Naturtrüb, Schneider Weisse, Unser Original, Weihenste- phaner Hefeweissbier. Munich Helles Histórico: foi criada em Munique, em 1894, para competir com as Pilsens. Tem mais corpo e presença de malte que uma German Pils, mas com menos caráter de lúpulo. Comerciais derivadas: Paulaner Original, Münchner Hell, Augustiner Lagerbier, Hell ,Hacker-Pschorr, Münchner Gold, Löwenbraü Original, Paulaner Premium, Lager, Spaten Premium, Lager, Weihenstephaner Original. 53UNIDADE 1 German Helles Export Bier Histórico: também conhecida como Dortmunder ou Dort- mund Export. O termo "Export" é um descritor de intensidade na tradição cervejeira alemã e não é sinônimo de estilo “Dort- munder". Comerciais derivadas: DAB Original, Dortmunder Kronen, Dortmunder Union Export, Flensburger Gold, Gordon Biersch, Golden Export, Great Lakes, Dortmunder Gold. Kölsch Histórico: original da Renânia, que possui essas duas especia- lidades cervejeiras: a Kölsch de Colônia e a Alt de Düsseldorf. Segundo a “Convenção da Kölsch”, apenas 24 cervejarias de Colônia e das imediações diretas podem produzir Kölsch. Comerciais derivadas: Früh Kölsch, Gaffel Kölsch, Mühlen Kölsch. Alt Histórico: é produzida e consumida, sobretudo, em Düssel- dorf. O nome é derivado da velha (“alt”) e tradicional forma de produção, na qual ainda é empregada a levedura de alta fermentação. Comerciais derivadas: Früh Kölsch, Gaffel Kölsch, Mühlen Kölsch, Bolten Alt, Diebels Alt, Füchschen Alt. Berliner Weiss Histórico: borbulhante e le- vemente amarga, costuma ser misturada com xarope de framboesa ou de aspérula e bebida com um canudinho. Especialidade do século XVI, está retornando à moda em Berlim. Comerciais derivadas: Berliner Kindl Weisse, Nodding Head Berliner Weisse, The Bruery Hottenroth. REINO UNIDO Ordinary Bitter 54 O Mercado Europeu de Cervejas Histórico: a famí- lia das British Bitter surgiu das English Pale Ales como um Adnams Southwold Bitter, Brains Bitter, Fuller’s Chiswick Bitter, Greene King IPA, Tetley’s Original Bitter, Young’s Bitter. produto do barril no final dos anos 1800. O uso de malte Cris- tal bitters tornou-se maciço após a Primeira Guerra Mundial. Tradicionalmente servida mais fresca e com baixa pressão. O membro com menos densidade da família das British Bitters, normalmente conhecido pelos consumidores como "Bitter", algumas cervejarias se referem ao estilo como Ordinary Bitter para distingui-lo de outros membros da família. Comerciais derivadas: Best Bitter Histórico: o membro intermediário da família das British Bit- ters é outra variação de estilo, com sabor de malte mais evi- dente que a Ordinary Bitter. Comerciais derivadas: Adnams SSB,Coniston Bluebird Bitter, Fuller's London Pride, Harvey’s Sussex Best Bitter, Shepherd Neame Master Brew Kentish Ale, Timothy Taylor Landlord, Young’s Special. Strong Bitter Histórico: as Strong Bitters podem ser vistas como uma ver- são com maior densidade do que as Best Bitter (embora não necessariamente "mais premium", já que a Best Bitter são tra- dicionalmente feitas com os melhores ingredientes). As Pale Ale britânicas são, geralmente, consideradas premium, com uma intensidade de exportação e amargas, algo que se aproxima das Strong Bitters, mas reformulado para ser engarrafada (incluindo aumento nos níveis de carbonatação); enquanto as British Pale Ales modernas são consideradas Bitters engarra- fadas, historicamente os estilos eram diferentes. Comerciais derivadas: Bass Ale, Highland Orkney Blast, Samuel Smith’s Old Brewery Pale Ale, Shepherd Neame Bishop’s Finger, Shepherd Neame Spitfire, West Berkshire Dr. Hexter’s Healer, Whitbread Pale Ale, Young’s Ram Rod. 55UNIDADE 1 English India Pale Ale Histórico: as India Pale Ales, ou IPAs, surgiram justamente na Inglaterra. Na época das grandes navegações, foi desco- berto que uma carga de lúpulo adicional na cerveja ajudava a preservar a bebida durante a viagem para as Índias. O estilo foi submetido a uma redescoberta da cerveja artesanal na década de 80. Comerciais derivadas: Fuller's Bengal Lancer IPA, Meantime India Pale Ale, Ridgeway IPA. Porter Histórico: seu surgimento se deu no século XVIII, sendo o pre- ferido dos trabalhadores dos portos, chamados de “porters”, cujo apelido deu nome ao estilo. A Porter evoluiu de uma cer- veja Brown Ale jovem e doce, popular na época. Tornou-se um estilo muito popular, amplamente exportado a partir de 1800, mas decaindo pouco antes da Primeira Guerra Mundial até desaparecer na década de 50, sendo reintroduzido em mea- dos da década de 70, com o início da era da cerveja artesanal. Comerciais derivadas: Fuller’s London Porter, Nethergate Old Growler Porter, RCH Old Slug Porter, Samuel Smith Taddy Porter. Stout Histórico: surgiu como uma variação das Porters. Dentro do estilo existem variações Oatmeal Stouts (com aveia), Sweet Stouts (com açúcar, lactose e/ou chocolate), e as Russian Im- perial Stouts, Dry Stout ou Irish Stouts. Comerciais derivadas: Samuel Smith’s Oatmeal Stout, Young’s Double Chocolate Stout (Sweet Stout), Guinness (Dry Stout), Courage Imperial Russian Stout (Imperial Stout). 56 O Mercado Europeu de Cervejas BÉLGICA Witbier Histórico: durante a segunda Guerra Mundial, as cervejarias da Bélgica foram destruídas; a última fechou em 1957. Anos depois, Pierre, um leiteiro que cresceu ao lado da cervejaria e ajudou algumas vezes na produção, resolveu ressuscitar essa cerveja. Comerciais derivadas: Hoegaader, Celis White, St. Bernardus Wit. Trapista Histórico: esse estilo contempla Trapist Single, com aromas remetendo a frutas cítricas ou de caroço. Belgian Dubbel, com aromas remetendo a chocolate e frutas secas. Belgian Tripel, que remete a aromas de frutas amarelas. Belgian Dark Strong Ale, com alto teor alcoólico e aromas complexos remetendo à tosta, frutas passas e licor. Comerciais derivadas: La Trappe Blond, Chimay Rouge, Westmalle Tripel, Rochefort 10, Orval. Belgian Pale Ale Histórico: produzida por cervejarias desde meados do século XVIII, foram aperfeiçoadas após a Segunda Guerra Mundial com influência da Grã-Bretanha, incluindo lúpulo e leveduras. Comerciais derivadas: De Koninck, De Ryck Special, Palm Dobble, Palm Speciale. Saison Histórico: tem como significado “estação” em francês, re- presentando a Valônia, a metade “francesa” do país. Recente- mente, estava em alta em todo o mundo. No Brasil, tornou-se apreciada pela versatilidade de permitir inclusão de frutas regionais, com resultados bastante interessantes. Comerciais derivadas: Saison Dupont, Fantôme Saison, Saison Voisin. 57UNIDADE 1 Lambics Fonte: adaptado de Deutschland (2018, on-line)1, BJCP (2015), Mestre Cervejeiro (2016, on-line)2 e Mestre Cervejeiro (2016, on-line)12. Histórico: são produzidas por meio de fermentação espon- tânea que é a ação de leveduras presentes no ar, em vez de serem inoculadas com variedades selecionadas. Wild Ales fer- mentadas espontaneamente em Bruxelas e ao seu redor (Vale do Rio Senne) são provenientes de uma tradição cervejeira do campo (Farmhouse Ale) de vários séculos. O número de produtores está constantemente diminuindo. Comerciais derivadas: Lindemans Kriek, Boon Mariage Parfait, Boon Kriek. Bélgica Witbier s Trapista BelgianPale Ale Saison L a m b ic s Alemanha German Pils Weizenbier M un ic h H el le s German Helles Export Bier Kölsch A ltBerliner Weiss Reino Unido O r d in a r y B it t e r Best Bitter Strong Bitter English India Pale Ale Porter Stout 58 O Mercado Europeu de Cervejas O mercado cervejeiro europeu está em um mo- mento de crescimento e renascimento contínuo. Em seu relatório Beer Statistcs – 2019 Edition, a associação The Brewers of Europe, que reúne as- sociações nacionais de cervejarias de vinte e nove países da Europa, o volume produzido cresceu constantemente de 2013 a 2018, a produção dos países integrantes da União Europeia superou a marca de 42 bilhões de litros (THE BREWERS OF EUROPE, 2019). A União Europeia (UE) já conta com mais de oito mil e quinhentas cervejarias ativas, com uma estimativa de surgimento de vinte novas
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