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APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina OBJETIVOS - Conhecer a definição, fisiopatologia e manifestações clínicas da Síndrome Coronariana Aguda (angina instável e infarto agudo do miocárdio). - Compreender os exames complementares utilizados na avaliação da SCA: ECG (diferenças entre o IAM sem supra de ST e IAM com supra de ST) e marcadores de necrose do miocárdio; - Explicar o mecanismo de ação dos fármacos utilizados no tratamento da DAC e/ou SCA. DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA É um processo de obstrução da luz das artérias coronárias por aterosclerose, caracterizada por depósito de placa gordurosa (ateroma) no endotélio das coronárias, associado a processo inflamatório local, que pode levar a uma obstrução do vaso e interrupção total (necrose) ou parcial (isquemia) do fluxo sanguíneo ao músculo do ventrículo esquerdo. Dado que os cardiomiócitos produzem energia quase exclusivamente por meio da fosforilação oxidativa mitocondrial, o funcionamento do coração depende estritamente do fluxo contínuo de sangue oxigenado através das artérias coronárias. Na maioria dos casos, as várias síndromes da DAC são consequências de uma aterosclerose coronariana que se desenvolveu gradualmente durante décadas (começando ainda na infância ou na adolescência). Nos demais casos, a DAC pode resultar do aumento da demanda (p. ex., aumento da frequência cardíaca ou hipertensão); da diminuição do volume sanguíneo (p. ex., hipotensão ou choque); da diminuição da oxigenação (p. ex., resultante de pneumonia ou ICC); ou da redução da capacidade de transportar oxigênio (p. ex., causada por anemia ou intoxicação por monóxido de carbono). A apresentação clínica pode incluir uma ou mais das seguintes síndromes cardíacas: • Angina pectoris (literalmente, “dor no peito”): A isquemia provoca dor, mas não é suficiente para causar a morte dos miócitos. A angina pode ser estável (quando ocorre de modo previsível durante certo grau de esforço físico), causada por espasmo vascular (angina de Prinzmetal) ou instável (quando ocorre durante esforços físicos progressivamente menores ou mesmo no repouso). • Infarto do miocárdio (IM): Ocorre quando a gravidade ou a duração da isquemia é suficiente para causar a morte de cardiomiócitos. • Doença isquêmica crônica do coração com ICC: Esta descompensação progressiva do coração após IM ou como resultado de lesões isquêmicas pequenas que, com o passar do APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina tempo, acumulam-se e levam à falência mecânica da bomba. • Morte súbita cardíaca (MSC): Pode ocorrer como consequência da lesão tecidual promovida por um IM, mas geralmente resulta de arritmia fatal, sem necrose de miócitos. EPIDEMIOLOGIA Com o melhor tratamento das doenças infecciosas e maior acesso aos hábitos alimentares ocidentais, a aterosclerose também está se tornando cada vez mais prevalente nos países em desenvolvimento. Como a doença das artérias coronarianas é uma importante manifestação da aterosclerose, dados epidemiológicos relacionados com a mortalidade geralmente refletem as mortes causadas por doença cardíaca isquêmica. A doença isquêmica do coração é a principal causa de óbito em todo o Mundo, responsável em torno de 7,4 milhões de mortes anuais, correspondendo a pouco mais de 13% de todas as mortes. No Brasil, a doença isquêmica do coração também é a principal causa de óbito, sendo responsável por 31% das mortes cardiovasculares, ultrapassando a taxa de mortalidade por acidente vascular cerebral, estimada em 30%. Estima-se que ocorram de 300 a 400 mil óbitos por doença cardiovascular anualmente, ou seja, 1 a cada cinco ou sete casos. A mortalidade é influenciada por diversos fatores, como idade, sexo, tempo de espera para o tratamento, modo de tratamento, antecedente de IAM, diabetes mellitus, insuficiência renal, entre outros. Segundo a European Society of Cardiology, cerca de 30% dos casos de IAM têm mulheres como vítimas, que possuem maior chance de morte que os homens depois de instalado o quadro. No Brasil, mais de 200 mulheres morrem diariamente devido ao IAM, chegando a matar 6 vezes mais que o câncer de mama. ANGINA INSTÁVEL | INFARTO DO MIOCÁRDIO SEM ELEVAÇÃO DO SEGMENTO ST É considerada uma síndrome clínica de isquemia miocárdica, que varia de angina estável até infarto do miocárdio. A AI e o IMSEST diferem pelo fato de a isquemia ser suficientemente grave para causar lesão miocárdica suficiente para liberar quantidades detectáveis de marcadores cardíacos no soro. Pacientes que não apresentam sinais de marcadores séricos de lesão miocárdica são classificados como portadores de AI, enquanto o diagnóstico de IMSEST é estabelecido quando há um marcador sérico de lesão miocárdica detectável. APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina A fisiopatologia pode ser dividida em cinco fases: 1. Formação da placa instável que se rompe, ou erosão da placa com trombose não obstrutiva superposta. 2. Obstrução causada por espasmo, constrição, disfunção ou estímulos adrenérgicos. 3. Estreitamento grave do diâmetro interno da artéria coronária. 4. Inflamação. 5. Qualquer condição fisiológica que cause isquemia associada à redução da irrigação sanguínea, inclusive febre ou hipotensão. A inflamação pode desempenhar um papel proeminente na instabilidade da placa, já que as células inflamatórias liberam citocinas que tornam a cobertura fibrosa mais delgada e mais vulnerável à ruptura ou à erosão. A dor associada a AI/IMSEST é grave e persistente e caracteriza-se por no mínimo três aspectos: 1. Ocorre em repouso (ou com esforço mínimo) e, em geral, persiste por mais de 20 min (se não for suprimida por nitroglicerina). 2. É grave e descrita como dor inquestionável de início recente. 3. É mais grave, persistente ou frequente que a dor que o paciente sentia antes. AI/IMSEST é classificada por gravidade com base na história clínica, no padrão do ECG e nos biomarcadores séricos. A classificação dessa síndrome é a seguinte: • Classe I: angina grave de início recente • Classe II: angina em repouso no último mês, mas não nas últimas 48 h • Classe III: angina em repouso nas últimas 48 h O padrão eletrocardiográfico de AI/IMSEST revela depressão do segmento ST (ou elevação transitória do segmento ST) e alterações da onda T. O grau de desvio do segmento ST é um indicador importante da gravidade da isquemia e do prognóstico. INFARTO DO MIOCÁRDIO COM ELEVAÇÃO DO SEGMENTO ST O infarto agudo com elevação do segmento ST (IMEST), também conhecido como ataque cardíaco, caracteriza-se por morte isquêmica dos tecidos miocárdicos, associada a doença aterosclerótica das artérias coronárias. A área do infarto é determinada pela artéria coronária afetada e por sua distribuição do fluxo sanguíneo. Cerca de 30 a 40% dos infartos afetam a artéria coronária direita, 40 a 50% acometem a artéria descendente anterior esquerda e os 15 a 20% APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina restantes envolvem a artéria circunflexa esquerda. FISIOPATOLOGIA DO IMEST A extensão do infarto depende: • Da localização e da gravidade da obstrução; • Da quantidade de tecido cardíaco irrigado pelo vaso afetado; • Da duração da obstrução; • Das necessidades metabólicas dos tecidos envolvidos; • Da amplitude da circulação colateral; • De outros fatores, inclusive frequência cardíaca e pressão arterial. Um infarto pode acometer o endocárdio, o miocárdio ou uma combinação destes. Infartos transmurais: afetam toda a espessura da parede ventriculare, na maioria dos casos, ocorrem quando há obstrução de uma única artéria. Infartos subendocárdicos: afetam o terço interno de uma parede ventricular e ocorrem mais comumente quando há estreitamento grave de artérias que, ainda assim, continuam pérvias. A maioria dos infartos é transmural e acomete a parede livre do VE e o septo interventricular. A consequência bioquímica do infarto do miocárdio é a conversão do metabolismo aeróbio ao anaeróbio, com produção insuficiente de energia para manter a função miocárdica normal. Por essa razão, há perda profunda da função contrátil nos primeiros 60 s de um infarto. As alterações da estrutura celular (depleção de glicogênio e tumefação das mitocôndrias) ocorrem nos primeiros minutos. Essas alterações iniciais são reversíveis quando o fluxo sanguíneo é recuperado. Alterações macroscópicas dos tecidos miocárdicos não são evidentes nas primeiras horas depois do infarto do miocárdio, porém a área isquêmica deixa de funcionar dentro de alguns minutos e a lesão irreversível das células ocorre em torno dos 40 minutos iniciais. A morte irreversível das células miocárdicas (necrose) ocorre depois de 20 a 40 minutos de isquemia grave. A lesão da microcirculação ocorre em cerca de uma hora e depois da morte celular irreversível. Quando o infarto é suficientemente amplo, ele deprime a função global do ventrículo esquerdo e o coração entra em falência contrátil. APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina Várias alterações estruturais dinâmicas mantêm a função cardíaca dos pacientes com IMEST. As áreas ventriculares normal e infartada passam por alterações progressivas de tamanho, formato e espessura envolvendo adelgaçamento inicial das paredes, cicatrização, hipertrofia e dilatação. À medida que o músculo não funcionante da área infartada torna- se fino e dilatado, o músculo da área normal circundante torna-se mais espesso conforme desenvolve hipertrofia adaptativa, de modo que possa executar o trabalho do músculo infartado. Contudo, o efeito adaptativo da remodelação pode ser anulado pela formação de um aneurisma ou pela depressão da função miocárdica, limitando ainda mais a função ventricular. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O IMEST pode ser um evento de início súbito ou uma consequência da progressão de AI/IMSEST. Em geral, o início é súbito e o sintoma típico é dor. Nos casos típicos, a dor é grave excruciante, geralmente descrita como constritiva, sufocante ou “como se alguma coisa comprimisse o peito”. Geralmente a dor é subesternal e irradia para os braços, braço esquerdo, o pescoço ou a mandíbula. Ao contrário da angina, a dor associada a um IMSEST é mais prolongada e não alivia com repouso ou nitroglicerina, sendo, na maioria dos casos, necessário administrar narcóticos. As mulheres frequentemente referem desconforto torácico isquêmico atípico, enquanto os pacientes idosos podem queixar-se de dispneia mais comumente que de dor torácica. Queixas gastrintestinais são comuns nos casos de IMSEST. O paciente pode referir uma sensação de desconforto epigástrico e, também, pode ter náuseas e vômitos. Esses sintomas parecem estar relacionados com a gravidade da dor e da estimulação vagal. O desconforto epigástrico pode ser confundido com indigestão. Queixas de fadiga e fraqueza, especialmente dos braços e das pernas, são comuns. A dor e a estimulação simpática combinam-se e causam taquicardia, ansiedade, agitação e sensação de desmaio iminente. O paciente também pode ter tosse produtiva com expectoração rosada espumosa. A pele geralmente fica pálida, fria e úmida. A depressão da função miocárdica pode causar hipotensão e choque. Morte súbita associada ao IMEST é a que ocorre na primeira hora depois do início dos sintomas. Em geral, essas mortes são atribuídas às arritmias fatais, que podem ocorrer sem indícios de infarto. APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina EXAMES COMPLEMENTARES Eletrocardiograma (ECG) de doze derivações: deve ser realizado e interpretado dentro de 10 minutos após a admissão do paciente. Alterações no ECG em pacientes com SCAs/SST incluem depressão do segmento ST, elevação transitória do segmento ST ou nova inversão da onda T. Ressalte-se que AI e IAMs/SST são geralmente indistinguíveis pelo ECG e que este, sendo normal, não exclui o diagnóstico de SCAs/SST. Nesse caso, deve ser repetido de forma mais frequente (por exemplo, com intervalos de 15 minutos na primeira hora). Caso o ECG seja inconclusivo e o paciente mantenha sinais e/ou sintomas sugestivos de isquemia, derivações adicionas devem ser realizadas (V7-V9 para possível detecção de oclusão de Cx, e V3R-V4R para infarto de ventrículo direito). Alterações dinâmicas no segmento ST (depressão ou elevação do ST) ou inversões da onda T durante episódio doloroso são importantes marcadores de prognóstico adverso. Pacientes com alterações de ST em derivações anterosseptais e/ou inversão simétrica da onda T (≥ 2 mm [0,2 mV]) em derivações precordiais, comumente apresentam estenose significativa da artéria coronária descendente anterior e constituem um grupo de alto risco. Marcadores de necrose miocárdica (MNM): Em pacientes que se apresentam com quadro sugestivo de SCA, nos quais o diagnóstico de infarto do miocárdio não está estabelecido, os marcadores bioquímicos são úteis para confirmar o diagnóstico de infarto. Eles fornecem importantes informações prognósticas, na medida em que existe uma direta associação entre a elevação dos marcadores séricos e o risco de eventos cardíacos em curto e médio prazo. Porém, além dessa indicação mais comum, esses biomarcadores podem ser usados em outras patologias tais como insuficiência cardíaca, tromboembolismo pulmonar (TEP), miocardites e trauma. É importante reconhecer que as troponinas são medidas bioquímicas de necrose miocárdica, mas o diagnóstico de SCA é clínico. Os marcadores não devem ser utilizados com a finalidade diagnóstica em pacientes com SCA com ECG mostrando supra de ST e não se deve aguardar seus resultados para iniciar o tratamento dos pacientes. Seu maior valor em pacientes com SCA com supra de ST é prognóstico. • CK-total: Mede a creatinoquinase (CK). A CK- MM é encontrada predominantemente nos músculos esquelético e cardíaco; a CK-BB está presente no cérebro, pulmão e muitos outros tecidos; e a CK- MB, se encontra principalmente no músculo cardíaco, com quantidades menores também sendo encontradas no músculo esquelético. Desta forma, a CK- APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina MB é a mais sensível para lesão cardíaca, sendo também a isoenzima mais utilizada no diagnóstico de infarto. Para identificar se o aumento da CK- MB é de origem cardíaca ou esquelética, foi sugerida a utilização da proporção de CK- MB para CK total (CKMB/CK). Se essa proporção for > 6% sugere fortemente origem cardíaca, de modo contrário, valores elevados de CK-MB com uma proporção de CK-MB/CK < 6% sugere lesão musculoesquelética. • Troponinas sérica: Via de regra, a indicação desse exame acontece nos casos de pacientes com dor torácica, levantando a suspeita de uma origem cardíaca. Além disso, caso o paciente chegue ao pronto-socorro com queixas de dor no peito, falta de ar e náusea, também pode ser preciso realizar o exame para auxiliar no diagnóstico de infarto. Em pessoas saudáveis, o exame de troponina é negativo ou não reagente, porque a quantidade de exames no sangue é baixíssima. Se, em até 18 horas após a queixa de dor, o exame for negativo, é sinal de que a dor no coração não tem relação com uma lesão noórgão. Entretanto, pode ter outra causa, como problemas digestivos. No entanto, se for positivo, o valor da alteração pode ser indicativo de infarto (se muito maior que 0,04 ng/mL, no caso da troponina I, e que 0,01 ng/mL para a troponina T). TRATAMENTO DA DAC O tratamento imediato recomendado para AI/IMSEST e IMEST geralmente é o mesmo. Os elementos principais do tratamento dos pacientes com IMEST são: • Detecção dos sintomas e procura por atendimento médico; • Disponibilidade imediata de uma equipe médica de emergência capaz de realizar procedimentos de reanimação, inclusive desfibrilação; • Transporte rápido a um hospital equipado para tratar arritmias e adotar medidas de suporte avançado à vida cardíaca (ou ACLS em inglês); • Administração rápida do tratamento de reperfusão nos primeiros 60 a 90 min. As metas do tratamento da síndrome coronariana aguda (SCA) nos serviços de emergência incluem o reconhecimento dos pacientes candidatos ao tratamento de reperfusão. A história e o exame físico devem ser detalhados, embora sejam realizados no menor tempo possível de modo a não retardar o APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina tratamento. É importante investigar se houve episódios anteriores de DCV, inclusive SCA, cirurgia de by- pass coronariano ou intervenção coronariana percutânea (ICP). A avaliação da queixa principal do paciente – geralmente dor torácica – e, também, dos outra sintomas associados é essencial à diferenciação entre SCA e outras doenças. Deve-se obter um ECG de 12 derivações a ser interpretado por um médico nos primeiros 10 min depois da chegada no hospital. As alterações típicas do ECG podem não ser evidentes pouco depois do início dos sintomas, exceto pelas arritmias. As configurações típicas do ECG (elevação do segmento ST, prolongamento da onda Q e inversão da onda T) podem ser difíceis de detectar nos pacientes com IMEST e dor torácica. Outra dificuldade encontrada são as contrações ventriculares prematuras, que são arritmias frequentes depois do infarto do miocárdio. Outras arritmias e distúrbios da condução dependem das áreas do coração e das vias de condução incluídas no infarto. Bloqueio de ramo (principalmente do ramo esquerdo) com início recente também é um critério para IMEST e indica a necessidade de perfusão rápida. As medidas terapêuticas recomendadas comumente incluem a administração de oxigênio, AAS, anticoagulantes e antiplaquetários, nitratos, analgésicos e bloqueadores β-adrenérgicos (β-bloqueadores). Os pacientes com indícios de infarto no ECG devem receber tratamento de reperfusão imediata com um agente trombolítico ou ICP nos primeiros 60 a 90 minutos. É importante o controle rigoroso da insulina a fim de manter a glicose sanguínea na faixa normal (80 a 99 mg/dl) dos pacientes em estado crítico. Alívio da dor é um dos objetivos principais do tratamento do IMEST, obtido por uma combinação de oxigênio, nitratos, analgésicos (p. ex., a morfina) e β-bloqueadores. Oxigênio A administração aumenta a concentração deste gás no ar inspirado e melhora a saturação de oxigênio da hemoglobina. Níveis de oxigênio arterial podem cair repentinamente depois de um IMEST, e a administração de oxigênio ajuda a manter a concentração de oxigênio do sangue que irriga a circulação coronariana. Nos pacientes com insuficiência cardíaca causada por um IMEST, pode ser necessária ventilação com pressão positiva ou intubação endotraqueal com respiração artificial. Estatina Mecanismo de ação: as estatinas exercem seu efeito principal – a redução dos níveis de LDL – por meio de um componente semelhante ao ácido mevalônico, que inibe APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina competitivamente a enzima HMG- CoA-redutase (3-hidroxi-3-methyl- glutaril-CoA redutase). Ao reduzir a conversão da HMG-CoA em mevalonato, as estatinas inibem uma etapa inicial e limitante da velocidade na biossíntese do colesterol. As estatinas afetam os níveis sanguíneos de colesterol ao inibir a síntese hepática de colesterol, resultando no aumento da expressão do gene do LDLR. Alguns estudos sugeriram que as estatinas também podem reduzir os níveis de LDL ao aumentar a remoção dos precursores das LDL (VLDL e IDL) e diminuir a produção hepática de VLDL. Acredita-se que a redução na produção hepática de VLDL induzida pelas estatinas seja mediada pela síntese diminuída de colesterol, um componente necessário das VLDL. Estatinas reduzem principalmente o colesterol LDL. Outros potenciais efeitos benéficos incluem maior produção de óxido nítrico endotelial, estabilização das placas ateroscleróticas, redução do acúmulo de lipídios na parede arterial e regressão das placas. Recomenda-se estatinas como terapia preventiva em 4 grupos de pacientes, constituídos por aqueles com qualquer um dos seguintes: • Doença cardiovascular aterosclerótica clínica • Colesterol LDL ≥ 190 mg/dL (≥ 4,92 mmol/L) • Idade de 40 a 75 anos, com diabetes e LDL de 70 a 189 mg/dL (1,81 a 4,90 mmol/L) • 40 a 75 anos de idade, com colesterol LDL 70 a 189 mg/dL e risco estimado em 10 anos de doença cardiovascular arteriosclerótica ≥ 7,5%. As opções existentes no mercado são: Sinvastatina, Atorvastatina, Pravastatina, Rosuvastatina, Lovastatina, Fluvastatina e Pitavastatina. Nitroglicerina Mecanismo de ação: atua através da formação de óxido nítrico, que induzirá a vasodilatação de arteríolas e veias por meio da geração de GMP (monofosfato guanosina) cíclico. O GMPc causa a desfosforilação das cadeias leves da miosina, sequestro de Ca2+ e o relaxamento do músculo liso. A nitroglicerina é administrada por seu efeito vasodilatador e por sua capacidade de aliviar a dor coronariana. Os efeitos vasodilatadores desse fármaco reduzem o retorno venoso (diminuem a pré-carga) e a pressão arterial (reduzem a pós-carga) e, deste modo, diminuem o consumo de oxigênio. Também pode limitar o tamanho do infarto e é mais eficaz quando administrada nas primeiras 4h depois do início dos sintomas. É administrada inicialmente por via sublingual, sendo avaliada em seguida a necessidade de infusão intravenosa. APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina A administração de nitroglicerina intravenosa pode estar indicada para tratar dor isquêmica persistente, controlar a hipertensão ou tratar a congestão pulmonar. Contraindicação: não deve ser administrada aos pacientes com hipotensão grave ou que usariam um inibidor de fosfodiesterase para tratar disfunção erétil nas últimas 24h. Também é conhecida como trinitroglicerina ou trinitrato de glicerina. Analgésicos A morfina geralmente é o fármaco preferido. Em geral, a morfina é indicada quando a dor não é aliviada por oxigênio e nitratos. O controle da ansiedade que acompanha o uso desse medicamento contribui para reduzir a agitação e a atividade do sistema nervoso autônomo, com diminuição subsequente das demandas metabólicas impostas ao coração. Em geral, a morfina é administrada por via intravenosa em razão do início imediato de sua ação e para não aumentar os níveis das enzimas. A via intravenosa também evita a taxa variável de absorção nos tecidos subcutâneos ou musculares, que geralmente não são bem perfundidos em razão da redução do débito cardíaco que ocorre depois de um infarto. Bloqueadores β- adrenérgicos Atuam como antagonistas, que bloqueiam as funções mediadas pelos receptores beta do sistema nervoso simpático e, deste modo, diminuem a necessidade de oxigênio do miocárdio em razão das reduções da frequência, contratilidade cardíacas e da pressãoarterial sistêmica. O prolongamento da diástole causado pela frequência cardíaca mais lenta pode melhorar a perfusão miocárdica, especialmente do subendocárdio. Além disso, os β-bloqueadores alteram os potenciais de membrana das células miocárdicas em repouso e podem evitar arritmias ventriculares potencialmente fatais. Como a atividade do sistema nervoso simpático aumenta as demandas metabólicas do miocárdio, os β- bloqueadores orais e intravenosos geralmente são administrados nas primeiras horas depois do início de um IMEST. Contraindicação: Esses fármacos não devem ser administrados aos pacientes com IMEST causado pelo uso de cocaína, porque poderiam acentuar o espasmo coronariano. Outras contraindicações ao uso dos β- bloqueadores são bradicardia sintomática, hipotensão, insuficiência ventricular esquerda moderada a grave, choque ou bloqueio cardíaco de segundo ou terceiro grau. • β-bloqueadores: atenolol, bisoprolol, esmolol, metoprolol, APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina nadolol, nebivolol, propranolol, timolol. Antiplaquetário As plaquetas podem desempenhar um papel importante na resposta trombótica à ruptura da placa aterosclerótica. Por esta razão, a inibição da agregação plaquetária é um componente importante inicial dos pacientes com AI/IMSEST e IMEST. AAS (ácido acetilsalicílico) é o antiplaquetário preferido para evitar agregação plaquetária dos pacientes com SCA. O AAS, que atua por inibição da síntese da prostaglandina conhecida como tromboxano A2, parece promover a reperfusão e reduzir as chances de recidiva da trombose. As ações do AAS estão relacionadas estão relacionados com o seu grupo acetila, que acetila irreversivelmente a enzima plaquetária essencial conhecida como ciclo-oxigenase, que é necessária à síntese do tromboxano A2. Como a ação desse fármaco é irreversível, o efeito do AAS na função plaquetária estende-se ao longo do tempo de sobrevivência das plaquetas – cerca de 8 a 10 dias. Aos pacientes que não conseguem usar AAS porque tem hipersensibilidade ou intolerância gastrointestinal pode-se prescrever clopidogrel. Esse fármaco é um derivado da tienopiridina, que reduz a agregação plaquetária por inibição da via do ADP das plaquetas. Ao contrário do AAS, o clopidogrel não interfere na síntese das prostaglandinas. A AHA recomenda o uso de clopidogrel junto com AAS nos pacientes com AI/IMSEST e como preparação pré-procedimento e tratamento crônico dos pacientes submetidos à intervenções coronarianas percutâneas (ICP). O tratamento anticoagulante, que atua na via da coagulação e na formação do trombo de fibrina, consiste em administrar heparina não fracionada ou heparina de baixo peso molecular. As indicações do uso do tratamento antitrombínico nos pacientes com IMEST incluem a profilaxia de trombose venosa profunda, embolia pulmonar e embolia cerebral. Inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) São administrados frequentemente na fase inicial e no período de convalescência (período de recuperação) do IMEST, porque há um efeito benéfico demonstrado de redução na taxa de mortalidade. Os inibidores de ECA aumentam o débito cardíaco e o volume ejetado e reduzem a resistência vascular pulmonar sistêmica, assim como a pressão de oclusão da artéria pulmonar (POAP). Por sua vez, isso reduz a disfunção do VE. O efeito benéfico mais acentuado é observado nos pacientes que já tiveram infartos ou que tem insuficiência cardíaca e taquicardia. Em geral, os inibidores de ECA são iniciados nas primeiras APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 24h, depois de finalizar o tratamento trombolítico. O tratamento com fármacos desse grupo, geralmente, é iniciado com doses orais baixas e aumentado progressivamente até chegar a dose plena. Embora o uso dos inibidores de ECA no tratamento agudo dos pacientes com AI/IMSEST não pareça trazer efeitos benéficos, o uso crônico ajuda a evitar episódios isquêmicos repetidos. • Inibidores da enzima conversora de angiotensina: benazepril, captopril, enalapril, fosinopril, lisinopril, moexipril, perindopril, quinapril, ramipril, trandolapril; TÉCNICAS DE REPERFUSÃO Reperfusão refere-se ao estabelecimento do fluxo sanguíneo por meio de fármacos (tratamento fibrinolítico), intervenção coronariana percutânea (ICP) ou cirurgia de bypass arterial coronariano (CBAC). Todos os pacientes com IMEST devem ser avaliados quanto à indicação do tratamento de reperfusão tão logo seja possível depois da chegada ao serviço de saúde. O tempo decorrido desde o início, dos sintomas, o risco de IMEST, os riscos potenciais associados ao tratamento fibrinolítico e o tempo necessário ao transporte a um laboratório especializado de ICP devem ser levados em consideração. A reperfusão imediata (nos primeiros 15 a 20 min) depois do início da obstrução coronariana pode evitar necrose e melhorar a perfusão miocárdica da zona infartada. A reperfusão depois de um intervalo mais longo pode recuperar parte das células miocárdicas, que poderiam ter morrido em consequência dos períodos mais longos em isquemia. Além disso, esse tratamento evita lesão da microcirculação que ocorre ao longo de um intervalo mais longo. Ainda que grande parte do miocárdio viável existente por ocasião do restabelecimento do fluxo (ou da reperfusão) por fim se recupere, anormalidades críticas da função bioquímica podem persistir e comprometer a função ventricular. A área cardíaca em processo de recuperação geralmente é conhecida como miocárdio hibernante. Como a função miocárdica é perdida antes que haja morte celular, o miocárdio hibernante pode não ser capaz de manter a vida e os pacientes com áreas amplas de miocárdio disfuncional podem necessitar de suporte à vida, até que as regiões “entorpecidas” readquiram sua função. Fibrinolíticos Os fármacos fibrinolíticos dissolvem os trombos de sangue e plaquetas e são usados para reduzir a mortalidade, limitar as dimensões do infarto e a remodelação miocárdica e reduzir as chances de ocorrerem arritmias potencialmente fatais. Esses fármacos interagem com o plasminogênio e formam plasmina, APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina que dissolve os trombos de fibrina e digere os fatores de coagulação V e VIII, a protrombina e o fibrinogênio. Os agentes fibrinolíticos são estreptoquinase, alteplase, reteplase e tenecteplase-tPA. Os melhores resultados são conseguidos quando o tratamento é iniciado nos primeiros 30 minutos depois do início dos sintomas. A magnitude do efeito benéfico diminui depois desse intervalo, mas é possível conseguir algum benefício até 12h. O paciente deve ter pouco risco de complicações causadas por sangramentos, ou seja, não pode ter história de hemorragia intracraniana ou traumatismo significativo nos últimos 3 meses. A complicação principal desse procedimento é hemorragia intracraniana, que geralmente ocorre nas primeiras 24 h depois do início do tratamento. Intervenção coronariana percutânea (ICP) Está indicada como procedimento invasivo imediato para pacientes com AI/IMSEST que não apresentem comorbidades graves e tenham lesões passíveis de correção por esse procedimento. A intervenção coronariana percutânea (ICP) inclui angioplastia coronariana transluminar percutânea (ACTP), colocação de stents, aterectomia e trombectomia. O objetivo da ICP é realizar o procedimento nos primeiros 90 min depois do primeiro contato com o paciente (o chamado “tempo portabalão”). Cirurgia de bypass arterial coronariano É uma das operações realizadas mais comumente em todo o mundo e oferece alívioà dor da angina, aumenta a tolerância aos esforços e prolonga a vida. O procedimento consiste na revascularização do miocárdio afetado colocando-se um enxerto de veia safena entre a aorta e a artéria coronária obstruída em posição distal à obstrução, ou na utilização da artéria mamária interna como vaso de revascularização da artéria descendente anterior esquerda ou seus ramos. Em geral, o cirurgião faz de uma a cinco anastomoses distais. BIBLIOGRAFIA Brunton, L.L. Goodman & Gilman: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12ª ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2012. APG 07: Tempo é vida!!! Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina Grossman, Sheila C. Fisiopatologia/Sheila C. Grossman, Carol Mattson Porth; [tradução Carlos Henrique de Araújo Cosendey, Maiza Ritomy Ide, Mariângela Vidal Sampaio Fernandes e Sylvia Werdmüller von Elgg Roberto]. – 9. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
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