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APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina CASO Aroldo Mascarenhas andava muito estressado e procurou um médico por grande insistência de sua esposa. É empresário, pai de 6 filhos. Tabagista inveterado, toca a fábrica da família com 300 funcionários. Em sua rotina diária, chega em casa todo dia às 23h, dorme apenas 5 horas. Mantém essa rotina há 15 anos. O médico realizou o exame físico e encontrou níveis tensionais arteriais e sistólicos e diastólicos elevados, que se repetiram nas consultas subsequentes. Com isso, solicitou exames gráficos, laboratoriais e de imagens. OBJETIVOS - Compreender os fatores de risco da fisiopatologia da HAS e sua classificação; - Conhecer e interpretar os exames complementares utilizados na propedêutica de HAS. ____________________________ Compreender os fatores de risco da fisiopatologia da HAS e sua classificação FISIOPATOLOGIA O propósito do controle da pressão arterial é manter o fluxo sanguíneo constante aos órgãos vitais, inclusive coração, encéfalo e rins. A hipertensão é um fator contribuinte para morte prematura e incapacidade em razão de seus efeitos no coração, nos vasos sanguíneos e nos rins. A pressão no pico da pressão de pulso (a pressão sistólica) é inferior a 120 mmHg em adultos, com a pressão mais baixa (a pressão diastólica) inferior a 80 mmHg. A diferença entre as pressões sistólica e diastólica (aproximadamente, 40 mmHg em adultos sadios) é denominada pressão de pulso. A pressão arterial média (PAM), que gira em torno de 90 a 100 mmHg em adultos, é uma medida da pressão média no sistema arterial durante a contração e o relaxamento ventricular. A PA é determinada pelo produto do débito cardíaco (DC) com a resistência vascular periférica (RVP). O corpo mantém a sua pressão arterial (a) ajustando o DC para compensar as alterações na RVP, e (b) ajustando a RVP para compensar as alterações no DC. APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina O DC e RVP são regulados por mecanismos neurais, renais, humorais, endoteliais e locais de controle das funções cardiovasculares e renais. Desta forma, a HAS pode-se desenvolver a partir de anormalidades em quaisquer mecanismos homeostáticos de controle da RVP e/ou do DC. Mecanismos de regulação da pressão arterial Regulação imediata: depende principalmente de mecanismos neurais e humorais, com os mecanismos neurais produzindo a resposta mais imediata. Mecanismos neurais: O controle da pressão arterial pelo SNA é mediado por reflexos circulatórios intrínsecos, reflexos extrínsecos e centros de controle neural superiores. Os reflexos intrínsecos, inclusive os reflexos barorreceptores e quimiorreceptores – estão localizados no sistema circulatório e são essenciais à regulação rápida e instantânea da pressão arterial. Os sensores dos reflexos extrínsecos estão situados fora da circulação. Isso inclui as variações da pressão arterial associadas aos fatores como dor e frio. As vias neurais dessas reações são mais difusas e suas respostas são menos consistentes que as dos reflexos intrínsecos. Algumas dessas respostas são desencadeadas pelo hipotálamo, que desempenha um papel essencial no controle das respostas do SNS. Entre as respostas desencadeadas pelos centros superiores estão as que são causadas pelas oscilações do humor e pelas emoções. O sistema nervoso simpático (SNS) é responsável pelo controle em curto- prazo da PA, promovendo elevação da RVP, da contratilidade e da frequência cardíaca (FC). O aumento da atividade simpática é observado principalmente nas fases iniciais da HAS, ou mesmo, em estados pré- hipertensivos. Em crianças e adolescentes com HAS primária, a FC em repouso é maior do que em crianças normotensas e, muitas vezes, está associada com altos níveis circulantes de norepinefrina, descarga adrenérgica sistêmica e no nervo renal. Estas alterações na HAS são mais pronunciadas na criança com obesidade. Mecanismos humorais: Alguns mecanismos humorais contribuem para a regulação da pressão arterial, inclusive o sistema renina- angiotensina-aldosterona, vasopressina e epinefrina/ norepinefrina. Essas substâncias regulam instantaneamente a pressão arterial alterando o tônus dos vasos sanguíneos. A norepinefrina/epinefrina também alteram a pressão arterial aumentando a frequência e a contratilidade cardíacas. Controle da pressão arterial pelo sistema renina-angiotensina- aldosterona: a enzima renina converte APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina enzimaticamente a proteína plasmática angiotensinogênio em angiotensina I; a ECA nos pulmões converte a angiotensina I em angiotensina II que, por sua vez, causa vasoconstrição e aumenta a retenção de sal e água por sua ação direta nos rins e por estimulação da secreção de aldosterona pelo córtex suprarrenal. A angiotensina II atua na regulação da pressão arterial a curto e longo prazos. Essa proteína é um vasoconstritor potente, especialmente das arteríolas e, também, das veias em menor grau. A constrição das arteríolas aumenta a resistência vascular periférica e, deste modo, contribui para a regulação a curto prazo da pressão arterial. Além disso, a angiotensina II reduz a excreção de sódio porque aumenta sua reabsorção nos túbulos proximais dos rins. Outra função importante da angiotensina II – estimular a secreção de aldosterona pelas glândulas suprarrenais – contribui para a regulação a longo prazo da pressão arterial aumentando a retenção de sal e água pelos rins. A vasopressina, também conhecida como hormônio antidiurético (ADH), é secretada pela neuro-hipófise em resposta às reduções do volume sanguíneo e da pressão arterial, ao aumento da osmolaridade dos líquidos corporais e a outros estímulos. Esse hormônio tem efeito vasoconstritor direto, principalmente nos vasos da circulação esplâncnica que irrigam as vísceras abdominais. A epinefrina e, em menor grau, a norepinefrina são liberadas pela glândula suprarrenal na corrente sanguínea quando o sistema nervoso simpático é ativado. Esses hormônios aumentam a pressão arterial porque causam vasoconstrição e aumentam a frequência e a contratilidade cardíacas. Regulação a longo prazo: controlam a regulação diária, semanal e mensal da pressão arterial. Embora os mecanismos neurais e hormonais envolvidos na regulação a curto prazo da pressão arterial atuem rapidamente, não conseguem manter sua eficácia com o transcorrer do tempo. Em vez disso, a regulação a longo prazo da pressão arterial é uma atribuição principalmente dos rins e de sua função na regulação do volume de líquido extracelular. Quando o corpo tem excesso de líquidos extracelulares em razão do aumento das ingestões de água e sal, a pressão arterial aumenta e as taxas com que a água (diurese pressórica) e o sal (natriurese pressórica) são excretados pelo rim também aumentam. Por essa razão, há dois mecanismos pelos quais a pressão arterial pode aumentar com base nesse modelo: um é alterando a eliminação de sal e água para um nível de pressão mais alto e o outro é modificando o nível de líquido APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina extracelular no qual ocorrem diurese e natriurese. Definição de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Trata-se de uma condição multifatorial, que depende de fatores genéticos/epigenéticos, ambientais e sociais, caracterizada por elevação persistente da pressã arterial (PA), ou seja, PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg, medidacom a técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva. Associa-se a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, rins, encéfalo e vasos sanguíneos), e alterações metabólicas com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais. Portanto, é definida como fator de risco para doença cardiovascular. EPIDEMIOLOGIA - A prevalência de HAS é alta na população adulta do mundo inteiro; - Atinge em torno de 32% de brasileiros adultos, contribuindo com 50% das mortes por doenças cardiovasculares (CV); - Acomete mais de 50% dos idosos acima de 60 anos, e 75% acima de 70 anos; - Entre os gêneros, a prevalência foi de 35,8% nos homens e de 30% em mulheres, semelhante à de outros países. - É Uma doença de alto custo socioeconômico, devido aos baixos níveis de conhecimento, tratamento e controle, configurando um problema de saúde pública no Brasil. ETIOLOGIA Pode ser dividida em: • Primária ou essencial: é o termo usado para descrever 95% dos pacientes nos quais não é possível encontrar a causa da hipertensão. • Secundária: a elevação da pressão arterial resulta de uma causa subjacente detectável, inclusive doença renal ou endócrina. Hipertensão sistêmica primária ou essencial Fatores de risco Não modificáveis: • Genética: os fatores genéticos podem influenciar os níveis de PA entre 30-50%. No entanto, devido à ampla diversidade de genes, às variantes genéticas estudadas até́ o momento e à miscigenação em nosso País, não foram identificados dados uniformes com relação a tal fator. • Idade: com o envelhecimento, a PAS torna-se um problema mais significante, resultante do APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina enrijecimento progressivo e da perda de complacência das grandes artérias. Em torno de 65% dos indivíduos acima dos 60 anos apresentam HA, e deve-se considerar a transição epidemiológica que o Brasil vem sofrendo, com um número ainda maior de idosos (≥ 60 anos) nas próximas décadas, o que acarretará um incremento substancial da prevalência de HA e de suas complicações. • Sexo: em faixas etárias mais jovens, a PA é mais elevada entre homens, mas a elevação pressórica por década se apresenta maior nas mulheres. Assim, na sexta década de vida, a PA entre as mulheres costuma ser mais elevada e a prevalência de HA, maior. Em ambos os sexos, a frequência de HA aumenta com a idade, alcançando 61,5% e 68,0% na faixa etária de 65 anos ou mais, em homens e mulheres, respectivamente. • Etnia: é um fator de risco importante para a HA, mas condições socioeconômicas e de hábitos de vida parecem ser fatores mais relevantes para as diferenças na prevalência da HA do que a implicação étnica propriamente dita. Negros versus brancos = 24,9% versus 24,2%. • Diabetes: pode causar instalação de um quadro de hipertensão, já que a resistência à insulina dificulta o acesso das células à glicose circulante. Isso deixa o sangue com níveis maiores de açúcar, o que contribui para o enrijecimento das artérias e o aumento da pressão. • Dislipidemias: colesterol anormalmente elevado ou gorduras (lipídeos) no sangue. a dislipidemia agrava a lesão dos órgãos alvo na hipertensão arterial, determinando maior incidência de eventos coronários e maior deterioração da função renal. Modificáveis: • Sobrepeso/obesidade: parece haver uma relação direta, contínua e quase linear entre o excesso de peso (sobrepeso/obesidade) e os níveis de PA. Décadas de evidências inequívocas de que a circunferência de cintura fornece informações independentes e aditivas ao índice de massa corpórea (IMC) para predizer morbidade e risco de morte. • Ingestão de sódio e potássio: a ingestão elevada de sódio tem-se mostrado um fator de risco para a elevação da PA, e consequentemente, da maior prevalência de HA. A literatura científica mostra que a ingestão de sódio está APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina associada a DCV e AVE, quando a ingestão média é superior a 2g de sódio, o equivalente a 5g de sal de cozinha. De maneira inversa, o aumento na ingestão de potássio reduz os níveis pressóricos. Deve ser salientado que o efeito da suplementação o de potássio parece ser maior naqueles com ingestão elevada de sódio e entre os indivíduos da raça negra. A ingestão média de sal no Brasil é de 9,3 g/dia (9,63 g/dia para homens e 9,08 g/dia para mulheres), enquanto a de potássio é de 2,7 g/dia para homens e 2,1 g/dia para mulheres. • Sedentarismo: há uma associação direta entre sedentarismo, elevação da PA e da HA. No Brasil, cerca de 44,8% dos adultos não alcançaram um nível suficiente de prática de atividade física (150 minutos de atividade física por semana ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana). A falta de atividade física pode causar uma série de problemas que pode levar a HAS, como a obesidade. • Consumo de álcool: o impacto da ingestão de álcool foi avaliado em diversos estudos epidemiológicos. Há maior prevalência de HA ou elevação dos níveis pressóricos naqueles que ingeriam seis ou mais doses ao dia. O recomendado é o equivalente a 30 g de álcool/dia = 1 garrafa de cerveja (5% de álcool, 600 ml); = 2 taças de vinho (12% de álcool, 250 ml); = 1 dose (42% de álcool, 60 ml) de destilados (uísque, vodca, aguardente). Esse limite deve ser reduzido à metade para homens de baixo peso e mulheres. • Fatores socioeconômicos: entre os fatores socioeconômicos, podemos destacar menor escolaridade e condições de habitação inadequadas, além da baixa renda familiar, como fatores de risco significativo para HA. • Drogas ilícitas e medicações: algumas medicações, muitas vezes adquiridas sem prescrição médica, e drogas ilícitas têm potencial de promover elevação da PA ou dificultar seu controle. Entre eles, estão: os inibidores da monoaminaoxidase e os simpatomiméticos, como descongestionantes nasais (fenilefrina), antidepressivos tricíclicos (imipramina e outros), hormônios tireoidianos, contraceptivos orais, anti-inflamatórios não esteroides, carbexonolona e liquorice, glicocorticoides, ciclosporina, eritropoietina, drogas ilícitas (cocaína, APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina cannabis ativa, anfetamina e 3,4- metilenodioximetanfetamina (MDMA)). • Tabagismo: cigarro é um fator de risco para o surgimento tanto do diabetes quanto da hipertensão, sendo comum encontrar fumantes que apresentem uma das duas doenças ou ainda as duas ao mesmo tempo. Isso porque o tabaco afeta praticamente todos os órgãos do corpo. Em um cigarro, já foram catalogadas milhares de substâncias que, além do efeito de causar dependência, provocam o estreitamento das artérias e a inflamação e aparecimento da aterosclerose. Nesse sentido, estão associados ao cigarro efeitos prejudiciais sobre a pressão arterial e os vasos sanguíneos, sobre as artérias coronárias e artérias cerebrais. Por esse motivo, é possível identificar em fumantes riscos aumentados de derrames cerebrais (AVC), infarto e desenvolvimento da hipertensão. • Apneia Obstrutiva do Sono (AOS): é um transtorno comum e potencialmente grave. A via aérea torna-se repetidamente bloqueada pelo relaxamento dos tecidos da faringe e da base da língua, limitando a quantidade de ar que atinge os pulmões. Há clara evidência que sustenta a relação entre a AOS e a HA e o aumento do risco para HA resistente. Os graus leve, moderado e grave da AOS mantém uma relação dose-resposta com a HA. Existe uma associação mais forte de caucasianos e pacientes do sexo masculino à AOS. Manifestações clínicas Lesões dos órgãos – alvos: a hipertensão sistêmica primária (essencial) é um distúrbio assintomático. Quando surgem os sintomas, geralmente estão relacionados com os efeitos crônicos da hipertensão em outros sistemas do corpo, como rins, coração, olhos e vasos sanguíneos. Hipertensão é um fator de risco importante para aterosclerose, uma vez que promove e/ou acelera a formação e a ruptura potencial das placas. Isso predispõe a todos os principais distúrbios cardiovasculares ateroscleróticos, assim como APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina cardiopatia coronariana, insuficiência cardíaca, acidente vascular encefálico (AVE) e doença arterial periférica. Os riscos de doença coronariana e AVE dependem em grande parte dos outros fatores de risco, inclusive obesidade, tabagismo e níveis altos de colesterol, assim como da predisposição genética. A elevação da pressão arterial aumenta a carga de trabalho imposta ao ventrículo esquerdo, porque eleva a pressão contra a qual o coração precisa bombear para ejetar o sangue na circulação sistêmica. Com o tempo, a pressão alta aumenta a sobrecarga do coração. Com isso, a parede do ventrículo esquerdo remodela e hipertrofia para compensar o aumento da carga de pressão. Essa hipertrofia do ventrículo esquerdo é um fator de risco importante para cardiopatia coronariana, arritmias cardíacas, morte súbita e insuficiência cardíaca congestiva, porque o coração não consegue bombear sangue com eficiência. A hipertensão crônica provoca nefrosclerose, uma causa comum de doença renal crônica. A lesão dos rins é causada por vários mecanismos. Um dos principais mecanismos pelos quais a hipertensão causa danos aos rins é por redução da perfusão (hipoperfusão) dos glomérulos. Em seguida, essa hipoperfusão causa glomerulosclerose e fibrose tubulointersticial. Outro mecanismo estudado é a disfunção endotelial causada pelas pressões glomerulares altas. A nefropatia hipertensiva é mais comum nos indivíduos negros que nos caucasoides. A hipertensão também desempenha um papel importante na aceleração da evolução dos outros tipos de doença renal, principalmente nefropatia diabética. Demência e disfunção cognitiva são mais comuns nos pacientes com hipertensão. A hipertensão – principalmente a hipertensão sistólica – é um fator de risco significativo para AVE isquêmico e hemorragia intracerebral. O estreitamento e a esclerose das artérias perfurantes finas nas regiões subcorticais do encéfalo são anormalidades encontradas comumente à necropsia dos pacientes com hipertensão crônica. A hipertensão também afeta os olhos, algumas vezes de maneira agressiva. A retinopatia hipertensiva acomete a retina por uma série de alterações da microcirculação. Os olhos de um paciente hipertenso inicialmente têm tônus vasomotor exagerado, que causa estreitamento arteriolar generalizado. À medida que a hipertensão persiste, as alterações arterioscleróticas pioram e incluem hiperplasia da média da artéria, espessamento da íntima e degeneração hialina. Essas alterações crônicas podem causar entalhes arteriovenosos (AV) mais graves e cegueira. Quando ocorrem aumentos repentinos da PA, os pacientes APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina podem ter hemorragias, micro aneurismas e exsudatos duros. Hipertensão secundária Ao contrário da hipertensão primária, alguns dos distúrbios que causam hipertensão secundária podem ser corrigidos ou curados por intervenção cirúrgica ou tratamento clínico específico. A hipertensão secundária tende a ocorrer nos pacientes com menos de 30 ou mais de 50 anos. Cocaína, anfetaminas e outras drogas ilícitas podem causar hipertensão significativa, como também ocorre com os fármacos simpaticomiméticos (descongestionantes, anorexígenos), a eritropoetina e o alcaçuz (inclusive algumas preparações de tabaco de mascar que levam alcaçuz como ingrediente). Entre as causas mais comuns de hipertensão secundária estão doenças renais (hipertensão renovascular), doenças do córtex suprarrenal, feocromocitoma e coarctação da aorta. Os anticoncepcionais orais também foram implicados como causa de hipertensão secundária. - Hipertensão renal: A maioria das doenças renais agudas causa redução da produção de urina, retenção de sal e água e hipertensão. Isso inclui glomerulonefrite aguda, insuficiência renal aguda e obstrução aguda das vias urinárias. Hipertensão também é comum nos pacientes com pielonefrite crônica, doença renal policística, nefropatia diabética e doença renal terminal, independentemente da causa. Nos idosos, o início súbito de hipertensão secundária geralmente está atrelado à doença aterosclerótica dos vasos sanguíneos renais. O termo hipertensão renovascular refere-se à hipertensão causada por redução do fluxo sanguíneo renal e ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona. A redução do fluxo sanguíneo renal associada à doença renovascular leva o rim afetado a secretar quantidades excessivas de renina, que aumentam os níveis circulantes de angiotensina II. Por sua vez, a angiotensina II atua como vasoconstritor no sentido de aumentar a resistência vascular periférica e como estímulo para elevar os níveis de aldosterona e ampliar a retenção de sódio nos rins. - Distúrbios dos hormônios do córtex suprarrenal: Níveis altos dos hormônios do córtex suprarrenal também podem ocasionar hipertensão. O hiperaldosteronismo primário (produção excessiva de aldosterona em consequência da hiperplasia do córtex suprarrenal ou de um adenoma) e os níveis excessivos de glicocorticoides (doença ou síndrome de Cushing) tendem a elevar a pressão arterial. Esses hormônios facilitam a retenção de sal e água pelos rins. A hipertensão associada aos níveis excessivos de qualquer um desses hormônios provavelmente está relacionada com esse fator. Nos APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina pacientes com hiperaldosteronismo primário, a dieta com restrição de sal frequentemente diminui a pressão arterial. Como a aldosterona atua no túbulo renal distal e aumenta a absorção de sódio em troca da eliminação de potássio na urina, pacientes com hiperaldosteronismo geralmente têm níveis baixos de potássio. - Feocromocitoma: é um tumor dos tecidos cromafínicos, que contêm os neurônios simpáticos que se coram com sais de cromo e secretam catecolaminas. Na maioria dos casos, o tumor está localizado na medula suprarrenal, mas também pode desenvolver-se em outros locais (p. ex., gânglios simpáticos) onde exista tecido cromafínico. Como também acontece com as células da medula suprarrenal, as células do feocromocitoma produzem e secretam as catecolaminas epinefrina e norepinefrina. A hipertensão que se desenvolve é resultado da secreção profusa dessas catecolaminas. Sua secreção pode ser paroxística em vez de contínua, causando episódios transitórios de cefaleia, transpiração excessiva e palpitações. - Coarctação da aorta: é um estreitamento da aorta. Com a coarctação aórtica do adulto, o estreitamento se dá mais comumente um pouco além da origem das artérias subclávias. Em razão desse estreitamento, o fluxo sanguíneo para as partes inferiores do corpo e para os rins é reduzido. Com a coarctação aórtica infantil, o estreitamento está localizado antes do canal arterial e, nestes casos, os pacientes podem ter insuficiência cardíaca e outros problemas de saúde. Alguns recém- nascidos afetados morremno primeiro ano de vida. Com a coarctação aórtica do adulto, a ejeção de um volume sanguíneo maior dentro da aorta estreitada aumenta a pressão arterial sistólica e amplia o volume de sangue levado à parte superior do corpo. A pressão arterial dos membros inferiores pode ser normal, embora geralmente esteja mais baixa. Alguns autores apontaram que o aumento do volume ejetado e a manutenção da pressão na parte inferior do corpo são obtidos por ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona em resposta à diminuição do fluxo sanguíneo renal. - Anticoncepcionais orais: O uso de anticoncepcionais orais provavelmente é a causa mais comum de hipertensão secundária entre as mulheres jovens. As mulheres usuárias de anticoncepcionais orais devem aferir sua pressão arterial regularmente. A causa da elevação da pressão arterial é praticamente desconhecida, embora tenha sido sugerido que a causa provável seja uma expansão de volume, porque os estrogênios e os progestógenos sintéticos usados nos contraceptivos orais causam retenção de sódio. Vários anticoncepcionais orais contêm quantidades e APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina combinações diferentes de estrogênios e progestógenos, e estas diferenças podem contribuir para hipertensão em algumas mulheres, mas não em outras. Conhecer e interpretar os exames complementares utilizados na propedêutica de HAS. DIAGNÓSTICO Na primeira avaliação, as medidas devem ser obtidas em ambos os braços e, em caso de diferença, deve-se utilizar como referência sempre o braço com maior valor. O indivíduo deve ser investigado para doenças arteriais se apresentar diferença de pressão entre os membros superiores maiores de 20/10 mmHg para as pressões sistólica/diastólica respectivamente. Em cada consulta, deverão ser realizadas pelo menos três medidas, com intervalo de um minuto entre elas. A média das duas últimas deve ser considerada a PA real. Caso as pressões sistólicas e/ou diastólicas obtidas apresentem diferença maior que 4mmHg, deverão ser realizadas novas medidas até que a diferença seja inferior. A posição recomendada para a medida da PA é a sentada. As medidas nas posições ortostática e supina devem ser feitas pelo menos na primeira avaliação em todos os indivíduos e em todas as avaliações em idosos, diabéticos, portadores de disautonomias (doença que afeta o sistema nervoso autônomo), etilistas e/ou em uso de medicação anti- hipertensiva. Preparo do paciente: 1. Explicar o procedimento ao paciente, deixando-o em repouso por pelo menos 5 minutos em ambiente calmo, instruí-lo a não conversar durante a medida; 2. Certifica-se que o paciente não está com a bexiga cheia, não praticou exercícios físicos há pelo menos 60 minutos, não ingeriu bebidas alcoólicas, café ou alimentos e não fumou nos 30 minutos anteriores. 3. O paciente deve estar sentado, com pernas descruzadas, pés apoiados no chão e dorso encostado na cadeira. O braço deve estar na altura do coração (a nível do ponto médio do esterno ou 4º espaço intercostal), livre de roupas e apoiado com a palma da mão voltada para cima, com cotovelo ligeiramente fletido. Para medida propriamente dita: 1. Obter a circunferência aproximadamente na metade do braço. Após a medida selecionar o manguito de tamanho adequado ao braço; APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina 2. Colocar o manguito, sem deixar folgas, 2 a 3 cm acima da fossa cubital; 3. Centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria braquial; 4. Estimar o nível da pressão sistólica pela palpação do pulso radial. O seu reaparecimento corresponderá à PA sistólica; 5. Palpar a artéria braquial na fossa cubital e colocar a campânula ou diafragma do estetoscópio sem compressão excessiva; 6. Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível estimado da pressão sistólica, obtida pela palpação; 7. Proceder a deflação lentamente (velocidade de 2 mmHg por segundo); 8. Determinar a pressão sistólica pela ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff), geralmente fraco, seguido de batidas regulares, e, após, aumentar ligeiramente a velocidade da deflação; 9. Determinar a pressão diastólica no desaparecimento dos sons (fase V de Korotkoff); 10. Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder a deflação rápida e completa; 11. Anotar os valores exatos, sem arredondamentos, e o braço em que a PA foi aferida. Auto medida da pressão arterial (AMPA): realizada por pacientes ou familiares, não profissionais de saúde, fora do consultório, geralmente no domicílio. Valores superiores a 130/85 mmHg devem ser considerados alterados. Monitorização residencial da pressão arterial (MRPA): aferida pelo paciente ou outra pessoa capacitada, durante a vigília, no domicílio ou no trabalho. Pode ser realizada obtendo- se três medidas pela manhã, antes do desjejum e da tomada de medicamento, e três a noite, antes do jantar, durante cinco dias ou duas medidas em cada sessão, durante sete dias. São consideradas anormais medidas de PA > 130/85 mmHg. Monitorização ambulatorial da pressão arterial de 24 horas (MAPA): permite o registro indireto e intermitente da PA durante 24 horas ou mais, enquanto o paciente realiza suas atividades habituais, durante os períodos de vigília e sono. Uma das características mais específicas é a possibilidade de identificar as alterações do ciclo circadiano da PA, sobretudo as alterações durante o sono, que têm implicações prognósticas consideráveis. São considerados anormais as médias de PA de 24 horas > 125x75 mmHg, vigília > 130x85 mmHg e sono > 110/70 mmHg. APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina CLASSIFICAÇÃO A linha demarcatória que define HAS considera valores de PA sistólica ≥ 140mmHg e/ou de PA diastólica ≥ 90 mmHg em medidas de consultório. O diagnóstico deverá ser sempre validado por medidas repetidas, em condições ideais, em, pelo menos, três ocasiões. Classificação* PAS (mmHg) PAD (mmHg) PA ótima < 120 < 80 PA normal 120-129 80-84 Pré- hipertensão 130-139 85-89 HA Estágio 1 140-159 90-99 HA Estágio 2 160-179 100-109 HA Estágio 3 ≥ 180 ≥ 110 HA Sistólica Isolada ≥ 140 < 90 HA Diastólica Isolada < 140 ≥ 90 • Normotensão verdadeira: As medidas de consultório são consideradas normais desde que atendidas todas as condições determinadas nas diretrizes. Deve-se considerar médias de pressão na AMPA ou MRPA ou, ainda, no período de vigília pela MAPA < 130 x 85mmHg. • Hipertensão sistólica isolada: comportamento anormal da PA sistólica com a PA diastólica normal. • Hipertensão diastólica isolada: comportamento normal da PA sistólica com a PA diastólica anormal. • Hipertensão do avental branco: é a diferença de pressão obtida entre a medida conseguida no consultório e fora dele, desde que essa diferença seja igual ou superior a 20mmHg na pressão sistólica e/ou de 10mmHg na pressão diastólica. Essa hipertensão ocorre quando o paciente apresenta medidas de PA persistentemente elevadas (≥ 140/90mmHg) no consultório e médias de PA consideradas normais na residência, pela AMPA, MRPA ou MAPA. • Hipertensão mascarada: caracterizada por valores normais de PA no consultório (< 140/90mmHg), porém com PA elevada pela MAPA, durante o período de vigília, ou na MRPA. AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR Exames laboratoriais, radiografias e outros exames complementares geralmente são realizados para excluirhipertensão secundária e determinar a existência ou a gravidade das lesões dos órgãos alvo. Exame Intervalo normalidade Análise de urina Potássio plasmático entre 3,5 mEq/L e 5,1 mEq/L APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina Creatinina plasmática Mulheres: 0,60 a 1,12 mg/dl. Homens: 0,70 a 1,3 mg/dl Glicemia de jejum inferior a 99 mg/dL Estimativa do ritmo de filtração glomerular >90 mL/min/1,73m2 Colesterol total, HDLc e triglicerídeos plasmáticos Colesterol total: Abaixo de 190; HDL: Acima de 40; Triglicérides: Abaixo de 150 Ácido úrico plasmático Mulheres: 2,4 - 6,0 mg/dl; Homens: 3,4 - 7,0 mg/dl. Eletrocardiograma convencional Exames complementares: Exame Intervalo Radiografia do tórax Ecocardiograma Microalbuminúria abaixo de 30mg de albumina/grama de creatinina Ultrassom de carótidas Teste ergométrico Hemoglobina glicada ≤ 5,6% MAPA considerados anormais as médias de PA de 24 horas >125x75 mmHg, vigília >130x85 mmHg e sono >110/70 mmHg. Velocidade de onda de pulso (VOP) De 40 a 49 anos de idade: 6,86 metros por segundo; De 50 a 59 anos de idade: 8,15 metros por segundo; De 60 a 69 anos de idade: 8,47 metros por segundo; De 70 anos em diante: 9,02 metros por segundo. FARMACOLOGIA Entre os fármacos usados para tratar hipertensão estão: • Diuréticos: inclusive tiazídicos, diuréticos de alça e antagonistas da aldosterona (poupadores de potássio) – reduzem a pressão arterial inicialmente, pois diminuem o volume vascular (suprimindo a reabsorção renal de sódio e aumentando a excreção de sal e água) e o débito cardíaco. Com a continuação do tratamento, a redução da resistência vascular periférica torna-se um dos mecanismos principais da diminuição da pressão arterial. • Bloqueadores β-adrenérgicos: são eficazes no tratamento da hipertensão porque diminuem a frequência e o débito cardíacos. Além disso, esses fármacos reduzem a secreção de renina e, deste modo, atenuam o efeito do sistema renina-angiotensina- aldosterona na pressão arterial. Há dois tipos de receptores β-adrenérgicos: β1 e β2. Os bloqueadores β1- adrenérgicos são cardiosseletivos e produzem seus efeitos no coração, enquanto os bloqueadores β2- adrenérgicos causam broncodilatação, relaxamento dos vasos sanguíneos APG 01: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina esqueléticos e outras funções mediadas pelos receptores β. • Inibidores de ECA ou bloqueadores do receptor de angiotensina: atuam por inibição da conversão da angiotensina I em angiotensina II e, deste modo, reduzem os níveis deste último mediador e amenizam seu efeito na vasoconstrição, nos níveis de aldosterona, no fluxo sanguíneo intrarrenal e na taxa de filtração glomerular. Além disso, esses fármacos inibem a decomposição da bradicinina e estimulam a síntese das prostaglandinas vasodilatadoras. • Bloqueadores do canal de cálcio: inibem o transporte de cálcio para os músculos cardíaco e vascular liso. Esses fármacos parecem reduzir a pressão arterial por vários mecanismos, inclusive redução do tônus da musculatura lisa dos vasos sanguíneos dos sistemas arterial e venoso. • Antagonistas dos receptores α1-adrenérgicos: bloqueiam os receptores α1 pós-sinápticos e reduzem o efeito do SNS no tônus da musculatura lisa dos vasos sanguíneos reguladores da resistência vascular periférica. Esses fármacos provocam redução considerável da pressão arterial depois da primeira dose; por esta razão, o tratamento deve ser iniciado com uma dose menor administrada à hora de deitar- se. • Agonistas adrenérgicos de ação central: bloqueiam a atividade simpática originada do SNC. Esses fármacos são agonistas α2-adrenérgicos que atuam por feedback negativo e reduzem a atividade simpática originada dos neurônios simpáticos pré- sinápticos do SNC. • Vasodilatadores: de ação direta na musculatura lisa vascular causam redução da resistência vascular periférica produzindo relaxamento da musculatura lisa dos vasos sanguíneos, principalmente das arteríolas. BIBLIOGRAFIA Site: https://www.gov.br/saude/pt- br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-parar-de- fumar/noticias/2022/tabagismo-e-dislipidemia- prevencao-dos-fatores-de-riscos-para-pessoas- com-hipertensao-e-diabetes Acesso em 03/08/2023 Barroso, Weimar Kunz Sebba et al. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020. Arquivos brasileiros de cardiologia, v. 116, n. 3, p. 516-658, 2021. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/207940 Grossman, Sheila C. Fisiopatologia/Sheila C. Grossman, Carol Mattson Porth; [tradução Carlos Henrique de Araújo Cosendey, Maiza Ritomy Ide, Mariângela Vidal Sampaio Fernandes e Sylvia Werdmüller von Elgg Roberto]. – 9. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-parar-de-fumar/noticias/2022/tabagismo-e-dislipidemia-prevencao-dos-fatores-de-riscos-para-pessoas-com-hipertensao-e-diabetes https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-parar-de-fumar/noticias/2022/tabagismo-e-dislipidemia-prevencao-dos-fatores-de-riscos-para-pessoas-com-hipertensao-e-diabetes https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-parar-de-fumar/noticias/2022/tabagismo-e-dislipidemia-prevencao-dos-fatores-de-riscos-para-pessoas-com-hipertensao-e-diabetes https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-parar-de-fumar/noticias/2022/tabagismo-e-dislipidemia-prevencao-dos-fatores-de-riscos-para-pessoas-com-hipertensao-e-diabetes https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-parar-de-fumar/noticias/2022/tabagismo-e-dislipidemia-prevencao-dos-fatores-de-riscos-para-pessoas-com-hipertensao-e-diabetes http://hdl.handle.net/11449/207940
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