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Alice Bastos HAS primária Definição É uma condição clínica multifatorial; Caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial; PA ≥ 140 e/ou 90 mmHg; Se associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco. Epidemiologia É um enorme problema de saúde pública no mundo todo; É a principal causa de morte no mundo e a causa mais comum de uma consulta ambulatorial a um médico; No Brasil, atinge 32,5% de indivíduos adultos e mais de 60% dos idosos; Contribui direta ou indiretamente para 50% das mortes por doença cardiovascular (DCV); Suas complicações (cardíacas, renais e AVE) têm impacto elevado na perda da produtividade do trabalho e da renda familiar. Fatores de risco Idade; Há uma associação direta e linear entre envelhecimento e prevalência de HA; Excesso de peso e obesidade; Ingestão de sal; Um dos principais fatores de risco para HA; O consumo máximo recomendado é 2g/dia; Ingestão de álcool; O consumo crônico e elevado de bebidas alcoólicas aumenta a PA de forma consistente; Sedentarismo; Fatores socioeconômicos; Adultos com menor nível de escolaridade (sem instrução ou fundamental incompleto) apresentaram a maior prevalência de HA autorreferida; Genética. Fisiopatologia Mais de 90% dos casos de hipertensão arterial são de origem desconhecida e tendem a se agrupar em famílias; Na hipertensão primária, uma única causa reversível da pressão arterial elevada não pode ser identificada; o Na maioria dos pacientes com hipertensão primária, comportamentos facilmente identificáveis (consumo excessivo de calorias, sal ou álcool) contribuem para a pressão arterial elevada; Diversos mecanismos fisiopatológicos foram identificados na gênese da hipertensão arterial primária: Aumento da atividade do sistema nervoso simpático; Aumento da produção de hormônios retentores de sódio e vasoconstritores; Aumento persistente da ingestão de sódio durante a vida; Ingestão inadequada de potássio e cálcio; Aumento da secreção ou secreção inapropriada de renina com consequente aumento na produção de angiotensina II e aldosterona; Deficiência na produção de vasodilatadores como prostaciclinas, óxido nítrico (NO) e peptídeos natriuréticos; Alterações na expressão do sistema calicreína- cinina; Anormalidades dos vasos de resistência, incluindo lesões seletivas da microvasculatura renal; Diabete melito e resistência à insulina; Obesidade; Alice Bastos Aumento na atividade de fatores de crescimento vascular; Alterações nos receptores adrenérgicos influenciando a frequência cardíaca, a resposta inotrópica do coração e o tônus vascular; Alterações do transporte iônico celular; Aumento da rigidez arterial, responsável direta pela hipertensão arterial do paciente idoso; Genética Existem evidências baseadas em estudos com gêmeos que mostram maior concordância da pressão arterial em gêmeos monozigóticos do que em dizigóticos; Além disso, estudos populacionais mostram haver maior similaridade na pressão arterial intrafamiliar do que entre famílias; Foram descritas mutações em 10 genes que causam formas mendelianas de hipertensão arterial e em 9 genes causando hipotensão arterial; Todas essas mutações causam alterações na absorção renal de sódio; Isso reforça a hipótese de Guyton de que o aparecimento da hipertensão arterial depende da disfunção renal geneticamente determinada que promove retenção de sódio e água; Sistema nervoso simpático O aumento da atividade do sistema nervoso simpático promove elevação da pressão arterial e contribui para o desenvolvimento e manutenção da hipertensão arterial por meio do estímulo ao coração, rins e vasos periféricos, promovendo aumento do débito cardíaco, retenção de volume e aumento da resistência arterial periférica; Os mecanismos envolvidos na hiperatividade do sistema nervoso simpático são complexos e envolvem alterações das vias centrais e periféricas do barorreflexo e do quimiorreflexo; O reflexo dos barorreceptores arteriais, aórtico e carotídeos, adapta-se à elevação da pressão arterial nos pacientes hipertensos e retorna a sua ação normal quando a pressão arterial é normalizada; A adaptação dos barorreceptores ajuda a mantes as reduções da pressão arterial e parece ter implicações clínicas importantes; Existem evidências da participação do quimiorreflexo na gênese da hipertensão arterial; Quando ocorrem apneia e hipóxia existe uma grande ativação do sistema nervoso simpático; A estimulação crônica dos receptores simpáticos induz o remodelamento vascular e hipertrofia do ventrículo esquerdo; Ocorre por ações diretas e indiretas da epinefrina, mas também pela produção de diversos fatores tróficos; A estimulação simpática renal está aumentada em pacientes hipertensos; Pode contribuir para a patogênese da hipertensão arterial por meio de mecanismos ligados a diminuição da excreção de sódio e água e consequentemente expansão do volume intravascular. Sistema renina-angiotensina-aldosterona A angiotensina II aumenta a pressão arterial em consequência a diversas de suas ações: Vasoconstrição por ação direta; Estimulação da síntese e liberação da aldosterona; Aumento da reabsorção tubular de sódio (por ação direta ou via ação da aldosterona); Estímulo de sede e de liberação de hormônio antidiurético; Aumento da atividade simpática mediada por suas ações no sistema nervoso central; As ações citadas acima são decorrentes do estímulo do receptor AT1 da angiotensina II; A ativação do receptor AT1 estimula diversas tirosina- quinases que, por sua vez, promovem a fosforilação dos resíduos de tirosina de diferentes proteínas; Isso ocasiona vasoconstrição, crescimento e proliferação celulares; A produção local de angiotensina II é controlada pela enzima de conversão da angiotensina (ECA) e outras proteases, incluindo a quimase, e foi observada em diversos tecidos, incluindo parede vascular, coração, cérebro e adrenais; Um mecanismo importante de lesões cardiovasculares relacionado à angiotensina II é o estímulo à produção Alice Bastos de superóxidos e consequente estímulo a trombose, inflamação, vasoconstrição e lesão vascular; A aldosterona está relacionada ao desenvolvimento de fibrose intra e perivascular e de fibrose intersticial no coração; Seu papel na gênese da hipertensão arterial vem sendo mais bem estudado nos últimos anos; O excesso de aldosterona é visto como um fator causal ou agravante da hipertensão arterial. Reatividade vascular e disfunção endotelial Os pacientes hipertensos apresentam maior resposta vasoconstritora à infusão de norepinefrina do que os normotensos; Isso ocorre também em filhos normotensos de pais hipertensos quando comparados com filhos de pais normotensos, sugerindo que a hipersensibilidade tem origem genética, não estando ligada à elevação da pressão arterial; Um dos fatores que possivelmente está relacionado ao aumento da sensibilidade vascular aos estímulos vasoconstritores é a presença da disfunção endotelial; O óxido nítrico (NO) é um potente vasodilatador, inibidor da adesão e agregação plaquetária e supressor da migração e proliferação das células musculares lisas vasculares; A sua produção pela célula endotelial é estimulada por diversos fatores, que incluem alterações da pressão arterial, estresse de cisalhamento e estiramento pulsátil; Tem importância na regulação da pressão arterial, do fluxo sanguíneo dos tecidos, dos mecanismos de trombose e da aterosclerose; O sistema vascular normal está exposto ao tônus vasodilatador dependente do NO; Em hipertensos, há diminuição da vasodilataçãomediada pelo endotélio (via ação do NO); Há evidências de que o aumento do estresse oxidativo, com maior produção de radicais superóxido, está relacionado à inativação do NO e consequente disfunção endotelial. Aspectos renais A teoria atual é que ocorra uma lesão renal subclínica, progressiva ao longo do tempo, e que leva ao desenvolvimento de lesão da arteríola aferente e túbulo-intersticial; Numa primeira fase, sobre um rim normal, a lesão poderia ser iniciada por diversos fatores, incluindo aumento da atividade do sistema renina-angiotensina- aldosterona e do sistema nervoso-simpático, principalmente quando facilitados pela presença de fatores genéticos que aumentem a absorção de sódio ou limitem a sua filtração; Numa segunda fase, esses estímulos resultariam em vasoconstrição renal, que poderia levar a isquemia renal, estimulando a migração local de leucócitos e a produção de espécies reativas de oxigênio; A geração local de angiotensina II tem sido apontada como um outro estímulo para as alterações hemodinâmicas (aumento da resistência vascular, diminuição do coeficiente de ultrafiltração e redução da filtração de sódio) e estruturais (doença microvascular renal) que levam ao aparecimento da hipertensão arterial; Na terceira fase, as alterações renais que são observadas em pacientes hipertensos (mudança da curva pressão-natriurese e aumento da pressão de perfusão renal) estão presentes, mantendo e modulando a hipertensão arterial sensível ao sal. Alice Bastos Remodelamento vascular e rigidez arterial As principais características do sistema arterial na hipertensão essencial incluem remodelação de artérias pequenas e grandes, com alterações funcionais associadas; As mudanças estruturais e geométricas de pequenas artérias incluem remodelação eutrófica interna e rarefação na microcirculação; Essas mudanças (citadas acima) levam a um aumento na parte estrutural da resistência vascular, aumentam a resposta vasoconstritora para diversos agentes e prejudicam a autorregulação do fluxo sanguíneo para os diversos órgãos; As alterações geométricas e estruturais de grandes artérias são variavelmente associadas com remodelamento e enrijecimento, dependendo do local da artéria; Essas alterações desempenham um papel importante na geração de reflexão de ondas de pressão e consequente aumento da pressão sistólica e da pressão de pulso; É o principal mecanismo do desenvolvimento da hipertensão sistólica no paciente idoso; A cross-talk entre a pequena e grande circulação exerce um efeito sinérgico em órgãos-alvo, principalmente por meio do excesso de energia pulsátil, que é transmitida como pressão sistólica central ou pressão de pulso; Os principais parâmetros de alterações de grandes e pequenas artérias, ou seja, rigidez arterial, pressão sistólica central e pressão de pulso e relação espessura- lúmen das artérias pequenas de resistência, têm valor preditivo independente para eventos cardiovasculares e complicações renais em pacientes com hipertensão arterial. Quadro clínico 90% dos pacientes diagnosticados com hipertensão arterial são assintomáticos; Nos estágios mais graves, a hipertensão arterial pode ser a causa de cefaleia importante; A maioria dos sintomas relacionados à doença hipertensiva é relatada pelos pacientes na presença de lesões em órgãos-alvo da hipertensão arterial; Diagnóstico A natureza assintomática da maioria dos casos de hipertensão e da variabilidade inerente na pressão arterial pode retardar o diagnóstico e tratamento; A avaliação inicial de um paciente com HAS inclui: Confirmação do diagnóstico; Avaliação do risco cardiovascular; Identificação de causa secundária; Medida da pressão arterial A PA deve ser medida em toda avaliação por médicos de qualquer especialidade e demais profissionais de saúde devidamente capacitados; Recomenda-se, pelo menos, a medição da PA a cada dois anos para os adultos com PA ≤ 120/80 mmHg, e anualmente para aqueles com PA > 120/80 mmHg e < 140/90 mmHg; A pressão arterial deve ser medida pelo menos duas vezes após cinco minutos de repouso com o paciente sentado, com as costas apoiadas e o braço nu e no nível do coração; Tabaco e cafeína devem ser evitados por pelo menos 30 minutos; Não deve estar com a bexiga cheia; Alice Bastos Não praticou exercícios há pelo menos 60 minutos; A PA deve ser medida em ambos os braços (para excluir a coarctação da aorta); Hipotensão ortostática deve ser suspeitada em pacientes idosos, diabéticos, disautônomicos e naqueles em uso de medicação anti-hipertensiva; Nessas condições, deve-se medir a PA com o paciente de pé, após 3 minutos, sendo a hipotensão ortostática definida como a redução da PAS > 20 mmHg ou da PAD > 10 mmHg. A pressão arterial de uma pessoa varia tanto ao longo de um período de 24 horas, que é impossível caracterizá-la com precisão, exceto por medidas repetidas sob várias condições; Dessa forma, as leituras feitas fora do consultório são a única maneira de obter uma imagem clara da pressão arterial de uma pessoa normal para diagnóstico e tratamento precisos; A medição de consultório possui muitas armadilhas, incluindo erros médicos e reações do “jaleco branco”; Além disso, a monitoração domiciliar da pressão arterial também aumenta a aderência à medicação por envolver ativamente os pacientes em sua própria assistência médica; Algumas recomendações devem ser: A monitoração residencial da pressão arterial deve ser uma parte rotineira do manejo clínico de pacientes com hipertensão conhecida ou suspeita; Devem ser feitas 3 medições pela manhã, antes do desjejum e da tomada da medicação, e 3 â noite, antes do jantar, durante cinco dias; o Outra opção é realizar duas medições em cada uma dessas duas sessões, durante sete dias; São considerados anormais valores de PA ≥ 135/85 mmHg. Ç Permite medições automáticas de pressão arterial durante um período de 24 horas, enquanto os pacientes estão envolvidos em suas atividades habituais, incluindo o sono; É a única maneira que permite detectar a hipertensão durante o sono; Os valores normais recomendados são: Durante o dia: abaixo de 135/85 mmHg; Durante a noite: abaixo de 120/70 mmHg; 24 horas: abaixo de 130/80 mmHg; Classificação Hipertensão Quando utilizadas as medidas de consultório, o diagnóstico deverá ser sempre validado por medições repetidas, em condições ideais, em duas ou mais ocasiões, e confirmado por medições fora do consultório (MAPA ou MRPA), excetuando-se aqueles pacientes que já apresentem LOA detectada. Normotensão Quando as medidas de consultório são ≤ 120/80 mmHg e as medidas fora (MAPA ou MRPA) confirmam os valores considerados normais. Pré-hipertensão Caracteriza-se pela presença de PAS entre 121 e 139 e/ou PAD entre 81 e 89 mmHg. Efeito do avental branco É a diferença de pressão entre as medidas obtidas no consultório e fora dele, desde que essa diferença seja igual ou superior a 20 mmHg na PAS e/ou 10 mmHg na PAD; Essa situação não muda o diagnóstico, ou seja, se o indivíduo é normotenso, permanecerá normotenso, e se é hipertenso, continuará sendo hipertenso; Alice Bastos No entanto, pode alterar o estágio e/ou dar a falsa impressão de necessidade de adequações no esquema terapêutico. Hipertensão do avental branco Valores considerados anormais da PA no consultório, porém com valores considerados normais pela MAPA ou MRPA. Hipertensão mascarada Á caracterizada por valores normais da PA no consultório, porém com PA elevada pela MAPA ou medidas residenciais. Hipertensão sistólica isolada É definida como PAS aumentada com PAD normal. Avaliação clínica Anamnese Obter história clínica completa com perguntas sobre o tempode diagnóstico, evolução e tratamento prévio; As informações sobre a história familiar são fundamentais para aumentar a certeza do diagnóstico de HA primária; O paciente deve ser interrogado sobre fatores de risco específicos para DCV, comorbidades, aspectos socioeconômicos e estilo de vida, além do uso prévio e atual de medicamentos ou outras substâncias que possam interferir na medição da PA e/ou no tratamento da HAS. Exame físico PA medida com técnica adequada; Dados antropométricos, como peso, altura (para cálculo do IMC), circunferência abdominal e frequência cardíaca, devem ser registrados; A avaliação deve englobar palpação e ausculta do coração, carótidas, pulsos, medida do índice tornozelo- braquial e realização da fundoscopia.
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