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Princípios de bioquímica de Lehninger chega à 6ª edição com a qualidade e os diferenciais que o tornaram um clássico na área: o texto claro e objetivo, as explicações cuidadosas de conceitos complexos e a compreensão dos meios pelos quais a bioquímica é entendida e aplicada atualmente o mantêm como a referência ideal na área. A relevância da bioquímica nos mecanismos moleculares das doenças é destaque também nesta nova edição, enfocando seu papel fundamental nos avanços da saúde e do bem-estar humano e incorporando os mais recentes avanços científicos. Visite a Área do Professor em para ter acesso às imagens da obra, em formato PowerPoint®, extremamente úteis como recurso didático em sala de aula. www.grupoa.com.br Em , você terá acesso a recursos adicionais (em inglês) citados ao longo do livro. www.whfreeman.com/lehninger6e Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED EDITORA LTDA., uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 – Santana 90040-340 – Porto Alegre – RS Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. Unidade São Paulo Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 – Pavilhão 5 – Cond. Espace Center Vila Anastácio – 05095-035 – São Paulo – SP Fone: (11) 3665-1100 Fax: (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 – www.grupoa.com.br IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Obra originalmente publicada por W.H.Freeman and Company, New York, sob o título Lehninger principles of biochemistry, 6th edition ISBN 9781429234146 First published in the United States by W.H.Freeman and Company, New York. Copyright © 2013, W.H.Freeman and Company. All rights reserved. Gerente editorial: Letícia Bispo de Lima Colaboraram nesta edição: Editora: Simone de Fraga Assistente editorial: Mirela Favaretto Arte sobre capa original: Márcio Monticelli Preparação de originais: Henrique de Oliveira Guerra Leitura final: Carine Garcia Prates e Heloísa Stefan Editoração: Techbooks Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 N425p Nelson, David L. Princípios de bioquímica de Lehninger [recurso eletrônico] / David L. Nelson, Michael M. Cox ; [tradução: Ana Beatriz Gorini da Veiga ... et al.] ; revisão técnica: Carlos Termignoni ... [et al.]. – 6. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8271-073-9 1. Bioquímica. I. Cox, Michael M. II. Título. CDU 577 Nelson_6ed_Iniciais_6ed_eletronica.indd ivNelson_6ed_Iniciais_6ed_eletronica.indd iv 06/06/14 13:5906/06/14 13:59 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 9 5 1 c Os aminoácidos são utilizados para sintetizar proteínas hepáticas e plasmáticas, ou seus esqueletos carbônicos são convertidos em glicose e glicogênio pela gliconeogê- nese; a amônia formada pela desaminação é convertida em ureia. c O fígado converte os ácidos graxos em triacilgliceróis, fosfolipídeos ou colesterol e seus ésteres, que são transportados como lipoproteínas plasmáticas para o armazenamento no tecido adiposo. Os ácidos graxos também podem ser oxidados para gerar ATP ou para formar corpos cetônicos, que se difundem para outros tecidos. c O tecido adiposo branco armazena grandes reservas de triacilgliceróis, e os libera no sangue em resposta à adre- nalina ou ao glucagon. O tecido adiposo marrom é espe- cializado na termogênese, o resultado da oxidação dos ácidos graxos em mitocôndrias desacopladas. c O músculo esquelético é especializado na produção e no uso do ATP para trabalho mecânico. Durante atividade muscular baixa a moderada, a oxidação dos ácidos gra- xos e da glicose é a primeira fonte de ATP. Durante a atividade muscular extenuante, o glicogênio é o com- bustível básico, produzindo ATP pela fermentação lác- tica. Durante a recuperação, o lactato é reconvertido (pela gliconeogênese) em glicose e glicogênio no fígado para ser usado na reposição dos estoques de glicogênio muscular. A fosfocreatina é uma fonte imediata de ATP durante a contração ativa. c O músculo cardíaco obtém praticamente todo o seu ATP da fosforilação oxidativa, com os ácidos graxos como o principal combustível. c Os neurônios do cérebro usam somente glicose e b- -hidroxibutirato como combustíveis, sendo que o último é importante durante o jejum ou a inanição. O cérebro utiliza a maior parte do seu ATP para o transporte ativo de Na1 e K1 para manter o potencial elétrico através da membrana neuronal. c O sangue transfere nutrientes, produtos de excreção e sinais hormonais entre os tecidos e os órgãos. Isso é rea- lizado por células (eritrócitos, leucócitos e plaquetas) e pelo líquido rico em eletrólitos (plasma) que contém muitas proteínas. 23.3 Regulação hormonal do metabolismo energético Os ajustes feitos minuto a minuto que mantêm a concen- tração de glicose sanguínea em cerca de 4,5 mM envolvem as ações combinadas da insulina, do glucagon, da adrena- lina e do cortisol sobre os processos metabólicos em mui- tos tecidos corporais, mas especialmente no fígado, no músculo e no tecido adiposo. A insulina sinaliza para esses tecidos que a glicose sanguínea está mais alta do que o ne- cessário; como resultado, as células captam o excesso de glicose do sangue e o convertem em glicogênio e triacilgli- ceróis para armazenamento. O glucagon sinaliza que a gli- cose sanguínea está muito baixa, e os tecidos respondem produzindo glicose pela degradação do glicogênio, pela gli- coneogênese (no fígado) e pela oxidação de gorduras para reduzir o uso da glicose. A adrenalina é liberada no sangue para preparar os músculos, os pulmões e o coração para um grande aumento de atividade. O cortisol é responsá- vel por mediar a resposta corporal a estressores de longa duração. Essas regulações hormonais serão discutidas no contexto de três estados metabólicos normais – alimenta- do, em jejum e em inanição – e serão vistas as consequên- cias metabólicas do diabetes melito, doença que resulta de alterações nas vias de sinalização que controlam o meta- bolismo da glicose. A insulina opõe-se a níveis altos de glicose sanguínea Agindo por meio de receptores na membrana plasmática (ver Figuras 12-15 e 12-16), a insulina estimula a captação da glicose pelos músculos e pelo tecido adiposo (Tabela 23-3), onde a glicose é convertida em glicose-6-fosfato. No fígado, a insulina também ativa a glicogênio-sintase e ina- tiva a glicogênio-fosforilase, de modo que grande parte da glicose-6-fosfato é canalizada para formar glicogênio. A insulina também estimula o armazenamento do exces- so de combustível no tecido adiposo na forma de gordura (Figura 23-25). No fígado, a insulina ativa a oxidação da glicose-6-fosfato em piruvato pela glicólise e a oxidação do piruvato em acetil-CoA. O excesso de acetil-CoA não ne- cessária para a produção de energia é utilizado para a sín- tese de ácidos graxos, exportados do fígado para o tecido adiposo como TAG de lipoproteínas plasmáticas (VLDL; ver Figura 21-40). A insulina estimula a síntese de TAG nos adipócitos, a partir dos ácidos graxos liberados pelos TAG da VLDL. Esses ácidos graxos são, em última análise, deri- 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Glicose sanguínea (mg/100 mL) Variação normal Sinais neurológicos sutis; fome Liberação de glucagon, adrenalina, cortisol, Sudorese, tremor Letargia Convulsões, coma Dano encefálico permanente (se prolongado) Morte FIGURA 2324 Efeitos fisiológicos do baixo nível de glicose sanguí- nea em humanos. Os níveis de glicose sanguínea de 40 mg/100 mL ou abaixo constituem hipoglicemia grave. Nelson_6ed_23.indd 951Nelson_6ed_23.indd 951 03/04/14 11:3103/04/14 11:31 9 5 2 DAV I D L . N E L S O N & M I C H A E L M . COX TABELA 233 Efeitos da insulinasobre a glicose sanguínea: captação de glicose pelas células e armazenamento como triacilgliceróis e glicogênio Efeito metabólico Enzima-alvo c Captação de glicose (músculo, tecido adiposo) c Transportador de glicose (GLUT4) c Captação de glicose (fígado) c Glicocinase (expressão aumentada) c Síntese de glicogênio (fígado, músculo) c Glicogênio-sintase T Degradação de glicogênio (fígado, músculo) T Glicogênio-fosforilase c Glicólise, produção de acetil-CoA (fígado, músculo) c PFK-1 (por c PFK-2) c Complexo da piruvato-desidrogenase c Síntese de ácidos graxos (fígado) c Acetil-CoA-carboxilase c Síntese de triacilglicerol (tecido adiposo) c Lipase lipoproteica Insulina Insulina Pâncreas Intestino Glicose Piruvato ATP Acetil- -CoA TAG Aminoácidos Síntese de proteínas Glicogênio Sistema linfático VLDL TAG Tecido adiposo Músculo Ácidos graxos ATP CO2 ATP CO2 CO2 Fígado Cérebro para o cérebro, o tecido adiposo e o músculo NH3 a-Cetoácidos Urea Glicose Vaso sanguíneo Amino- ácidos Gorduras Glicose Glicose TAG FIGURA 2325 O estado bem-alimentado: o fígado lipogênico. Ime- diatamente após uma refeição rica em calorias, a glicose, os ácidos graxos e os aminoácidos entram no fígado. A insulina, liberada em resposta à alta concentração sanguínea de glicose, estimula a captação do açúcar pelos tecidos. Parte da glicose é exportada para o cérebro para suas necessidades energéticas e parte para os tecidos adiposo e muscular. No fígado, o excesso de glicose é oxidado a acetil-CoA, que é usada na síntese de ácidos graxos que são exportados como triacilgliceróis, em VLDL, para os tecidos adiposo e muscular. O NADPH necessário para a síntese de lipídeos é obtido pela oxidação da glicose na via das pentoses-fosfato. O excesso de aminoácidos é convertido em piruvato e acetil-CoA, também usados para a síntese de lipí- deos. As gorduras da dieta se deslocam na forma de quilomicra, via sistema linfático, do intestino para o músculo e o tecido adiposo. Nelson_6ed_23.indd 952Nelson_6ed_23.indd 952 03/04/14 11:3103/04/14 11:31 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 9 5 3 vados do excesso de glicose captada do sangue pelo fígado. Em resumo, o efeito da insulina é favorecer a conversão do excesso de glicose sanguínea em duas formas de armazena- mento: glicogênio (no fígado e no músculo) e triacilgliceróis (no tecido adiposo). Além de agir diretamente no músculo e no fígado, mu- dando seu metabolismo de carboidratos e gorduras, a insu- lina pode agir no cérebro, sinalizando indiretamente para esses tecidos, conforme descrito mais adiante. As células b pancreáticas secretam insulina em resposta a alterações na glicose sanguínea Quando a glicose entra na corrente sanguínea a partir do intestino após uma refeição rica em carboidratos, a quanti- dade aumentada de glicose no sangue provoca um aumen- to na secreção de insulina (e uma redução na secreção do glucagon) pelo pâncreas. A liberação de insulina é regula- da basicamente pelo nível de glicose no sangue que irriga o pâncreas. Os hormônios peptídicos insulina, glucagon e somatostatina são produzidos por agrupamentos de células pancreáticas especializadas, as ilhotas de Langerhans (Fi- gura 23-26). Cada tipo celular das ilhotas produz um único hormônio: as células a produzem glucagon; as células b, in- sulina; as células d, somatostatina. Conforme mostrado na Figura 23-27, quando a gli- cose sanguínea aumenta, ➊ os transportadores GLUT2 carregam a glicose para dentro das células b, onde é ime- FIGURA 2327 Regulação, pela glicose, da secreção de insulina nas células b pancreáti- cas. Quando o nível sanguíneo de glicose é alto, o metabolismo ativo de glicose nas células b aumen- ta a [ATP] intracelular, fechando os canais de K1 na membrana plasmática e, assim, despolarizando-a. Em resposta a esta despolarização da membrana desencadeada pela alta [ATP], os canais de Ca21 con- trolados por voltagem se abrem, permitindo o fluxo do íon para dentro da célula. (O Ca21 também é li- berado do retículo endoplasmático, em resposta à elevação citosólica inicial da [Ca21].) A concentração citosólica do íon é agora suficientemente alta para provocar a liberação da insulina por exocitose. Os processos numerados são discutidos no texto. ➊ ➋ ➌ ➍ ➎ Glicose Glicose-6-fosfato Retículo endoplasmático Transportador de glicose GLUT2 Espaço extracelular Célula b pancreática Fosforilação oxidativa Glicólise Ciclo do ácido cítrico [Ca2+] Ca2+ [ATP] Canal de K+ controlado por ATP + + + + + + – – – – – – despolarização Canal de Ca2+ controlado por voltagem Grânulos de insulina Secreção de insulina Núcleo K+ K+ Vm Glicose Hexocinase IV (glicocinase) Célula b (insulina) Célula a (glucagon) Célula d (somatostatina) Pâncreas Vasos sanguíneos Célula exócrina Ilhota de Langerhans FIGURA 2326 O sistema endócrino do pâncreas. O pâncreas tem células exócrinas (ver Figura 18-3b), que secretam enzimas digestivas na forma de zimogênios, e grupos de células endócrinas, as ilhotas de Lan- gerhans. As ilhotas têm células a, b e d (também conhecidas como células A, B e D, respectivamente), e cada tipo celular secreta um hormônio pep- tídico específico. Nelson_6ed_23.indd 953Nelson_6ed_23.indd 953 03/04/14 11:3103/04/14 11:31 9 5 4 DAV I D L . N E L S O N & M I C H A E L M . COX diatamente convertida em glicose-6-fosfato pela hexoci- nase IV (glicocinase) e entra na glicólise. Com a taxa de catabolismo da glicose mais alta, ➋ a [ATP] aumenta, cau- sando o fechamento dos canais de K1 controlados por ATP na membrana plasmática. ➌ O efluxo reduzido de K1 despolariza a membrana. (Lembre, da Seção 12.6, que a saída deste íon por um canal de K1 aberto hiperpolariza a membrana; por essa razão, o fechamento do canal despo- lariza a membrana.) A despolarização abre canais de Ca21 controlados por voltagem, e ➍ o aumento resultante na [Ca21] citosólica desencadeia ➎ a liberação da insulina por exocitose. O cérebro integra o suprimento e a demanda de energia, e os sinais dos sistemas nervosos parassimpático e simpático também afetam (estimulam e inibem, respec- tivamente) a liberação da insulina. Um circuito simples de retroalimentação limita a liberação do hormônio: a insulina reduz a glicose sanguínea estimulando sua captação pelos tecidos; a redução na glicose sanguínea é detectada pelas células b pelo fluxo diminuído na reação da hexocinase; isto reduz ou interrompe a liberação da insulina. Essa re- gulação por retroalimentação mantém a concentração da glicose sanguínea praticamente constante apesar da gran- de variação na captação dietética. A atividade dos canais de K1 controlados por ATP é fundamental para a regulação da secreção de insuli- na pelas células b. Os canais são octâmeros formados por quatro subunidades Kir6.2 idênticas e quatro subunida- des SUR1 idênticas, e são construídos nos mesmos mol- des dos canais de K1 das bactérias e das outras células eucarióticas (ver Figuras 11-47 e 11-48). As quatro subu- nidades Kir6.2 formam um cone ao redor do canal de K1 e funcionam como mecanismo de filtro de seletividade con- trolado por ATP (Figura 23-28). Quando a [ATP] aumen- ta (indicando aumento da glicose no sangue), os canais de K1 se fecham, despolarizando a membrana plasmática e desencadeando a liberação de insulina, como mostrado na Figura 23-27. As sulfonilureias, medicação oral utilizada no trata- mento do diabetes melito tipo 2, se ligam às subunidades SUR1 (receptor de sulfonilureia, de sulfonylurea recep- tor) dos canais de K1, fechando-os e estimulando a libera- ção de insulina. A primeira geração desses fármacos (tolbu- tamida, por exemplo) foi desenvolvida na década de 1950. A segunda geração, incluindo gliburida (Micronase), glipi- zida (Glucotrol) e glimepirida (Amaryl), é mais potente e tem menos efeitos colaterais. (A porção sulfonilureia está destacada em vermelho-claro nas estruturasseguintes.) As sulfonilureias às vezes são usadas em combinação com in- jeção de insulina, mas muitas vezes conseguem controlar sozinhas o diabetes tipo 2. Mutações nos canais de K1 controlados por ATP das células b felizmente são raras. Mutações em Kir6.2 que causam a abertura permanente dos canais (resíduos em vermelho na Figura 23-28b) originam diabetes melito neo- natal, com hiperglicemia grave, que requer insulinoterapia. Outras mutações em Kir6.2 ou em SUR1 (resíduos em azul FIGURA 2328 Canais de K1 controlados por ATP nas células b. (a) O canal, visto no plano da membrana. O canal é formado por quatro subuni- dades Kir6.2 idênticas, e externamente a elas estão quatro subunidades de SUR1 (receptor de sulfonilureia). As subunidades SUR1 têm sítios de ligação ao ADP e ao fármaco diazoxida, o que favorece a abertura do canal, e à tolbu- tamida, fármaco de sulfonilureia que favorece o fechamento do canal. As su- bunidades Kir6.2 constituem o verdadeiro canal e contêm, no lado citosólico, sítios de ligação ao ATP e ao fosfatidilinositol 4,5-bifosfato (PIP2), que favore- cem, respectivamente, o fechamento e a abertura do canal. (b) Estrutura da porção Kir6.2 do canal, vista no plano da membrana. Para tornar mais claro, são mostrados somente dois domínios transmembrana e dois citosólicos. Três íons K1 (em verde) são mostrados na região do filtro de seletividade. Mutações em determinados resíduos de aminoácidos (mostrados em ver- melho) causam diabetes neonatal; mutações em outros (mostrados em azul) causam o hiperinsulinismo infantil. Esta estrutura (as coordenadas foram cor- tesia de Frances Ashford e colaboradores da Universidade de Oxford) não foi obtida por cristalografia, mas pelo mapeamento da sequência conhecida de Kir6.2 sobre a estrutura cristalina de um canal de Kir bacteriano (KirBac1.1; PDB ID 1P7B) e os domínios carboxil e amino de outra proteína Kir, Kir3.1 (PDB ID 1U4E). Compare esta estrutura com a do canal de K1 na Figura 11-48. ATP ATP SUR1 Kir6.2 Kir6.2 SUR1 SUR1 SUR1 SUR1 SUR1 SUR1 K+ Fora Dentro Diazoxida ADP Tolbutamida K+ Fora Dentro K+ K+ (a) (b) ATP PIP 2 Nelson_6ed_23.indd 954Nelson_6ed_23.indd 954 03/04/14 11:3103/04/14 11:31 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 9 5 5 na Figura 23-28b) resultam em canais de K1 permanente- mente fechados e liberação contínua de insulina. Pessoas com essas mutações, se não forem tratadas, desenvolvem hiperinsulinemia congênita (hiperinsulinismo da infância); excesso de insulina causa hipoglicemia grave (baixa glicose sanguínea), levando a danos cerebrais irreversíveis. Um tra- tamento eficaz é a remoção cirúrgica de parte do pâncreas para reduzir a produção do hormônio. ■ O glucagon opõe-se a níveis baixos de glicose sanguínea Várias horas após a ingestão de carboidratos, os níveis de glicose sanguínea diminuem levemente devido à oxidação da glicose pelo cérebro e por outros tecidos. A diminuição da glicose sanguínea desencadeia a secreção do glucagon e reduz a liberação da insulina (Figura 23-29). O glucagon causa um aumento na concentração san- guínea da glicose de várias maneiras (Tabela 23-4). Como a adrenalina, ele estimula a degradação do glicogênio he- pático por ativar a glicogênio-fosforilase e inativar a glico- gênio-sintase; ambos os efeitos são o resultado da fosfo- rilação de enzimas reguladas, desencadeada pelo cAMP. O glucagon inibe, no fígado, a degradação da glicose pela glicólise, e estimula sua síntese pela gliconeogênese. Am- bos os efeitos resultam da redução da concentração da frutose-2,6-bifosfato, inibidor alostérico da enzima glico- neogênica frutose-1,6-bifosfatase (FBPase-1) e ativador da enzima glicolítica fosfofrutocinase-1. Lembre que a [frutose-2,6-bifosfato] é controlada em última análise por uma reação de fosforilação dependente de cAMP (ver Fi- gura 15-19). O glucagon também inibe a enzima glicolítica piruvato-cinase (promovendo sua fosforilação dependen- te de cAMP), bloqueando a conversão do fosfoenolpiru- vato em piruvato, e impedindo a oxidação do piruvato no ciclo do ácido cítrico. O consequente acúmulo de fosfo- enolpiruvato favorece a gliconeogênese. Esse efeito é aumentado pela estimulação pelo glucagon da síntese da enzima gliconeogênica PEP-carboxicinase. Pela estimula- ção da degradação do glicogênio, prevenção da glicólise e promoção da gliconeogênese nos hepatócitos, o glucagon permite que o fígado exporte glicose, restaurando seu ní- vel sanguíneo normal. Cl NHCH2CH2 S N H N H O O O OCH3 O Gliburida H3C NHCH2CH2 S N H N H O O O O Glipizida N N FIGURA 2329 O estado de jejum: o fígado glicogêni- co. Após algumas horas sem alimento, o fígado torna-se a principal fonte de glicose para o cérebro. O glicogênio hepático é degradado, e a glicose-1-fosfato produzida é convertida em glicose-6-fosfato e, a seguir, em glicose livre, que é liberada para a corrente sanguínea. Os aminoácidos procedentes da degradação das proteínas no fígado e no músculo e o glicerol oriundo da degradação dos TAGs no tecido adiposo são utilizados para a gliconeogênese. O fí- gado usa os ácidos graxos como seu combustível principal, e o excesso de acetil-CoA é convertido em corpos cetôni- cos exportados para outros tecidos; o cérebro é particular- mente dependente deste combustível quando há deficiên- cia de fornecimento de glicose (ver Figura 23-21). (As setas azuis mostram a trajetória da glicose; as setas alaranjadas, a dos lipídeos; e as setas roxas, a dos aminoácidos.) Pâncreas Amino- ácidos TAG Tecido adiposo Músculo Fígado Cérebro Glucagon ATP Corpos cetônicos CO2 CO2 Ácidos graxos Ácidos graxos ATP Proteína Corpos cetônicos ATP Proteínas CO2 CO2 Corpos cetônicos Glicogênio Piruvato gliconeogênese Glicose Glicose Glicerol Glicose-6-fosfato Nelson_6ed_23.indd 955Nelson_6ed_23.indd 955 03/04/14 11:3103/04/14 11:31 9 5 6 DAV I D L . N E L S O N & M I C H A E L M . COX Embora seu alvo principal seja o fígado, o glucagon (como a adrenalina) também afeta o tecido adiposo, ativan- do a degradação de TAG por causar fosforilação, dependen- te de cAMP, da perilipina e da lipase sensível a hormônio. As lipases ativadas liberam ácidos graxos livres, que são ex- portados como combustível para o fígado e outros tecidos, poupando glicose para o cérebro. O efeito final do glucagon é, portanto, estimular a síntese e a liberação da glicose pelo fígado e mobilizar os ácidos graxos do tecido adiposo para serem usados no lugar da glicose por outros tecidos que não o cérebro. Todos esses efeitos do glucagon são mediados por fosforilação proteica dependente de cAMP. O metabolismo é alterado durante o jejum e a inanição para prover combustível para o cérebro As reservas de combustível de um adulto humano saudá- vel são de três tipos: glicogênio armazenado no fígado e, em menor quantidade, no músculo; grandes quantidades de triacilgliceróis no tecido adiposo; e proteínas teciduais que podem ser degradadas, quando necessário, para fornecer combustível (Tabela 23-5). Duas horas após uma refeição, o nível de glicose san- guínea está levemente diminuído, e os tecidos recebem gli- cose liberada a partir do glicogênio hepático. Há pequena ou nenhuma síntese de triacilgliceróis. Quatro horas após a refeição, a glicose sanguínea está mais reduzida, a se- creção de insulina diminuiu e a secreção de glucagon está aumentada. Esses sinais hormonais mobilizam os triacilgli- ceróis do tecido adiposo, que agora se tornam o principal combustível para o músculo e o fígado. A Figura 23-30 mostra as respostas ao jejum prolongado. ➊ Para fornecer glicose para o cérebro, o fígado degrada determinadas pro- teínas – aquelas mais dispensáveis em um organismo que não está se alimentando. Seus aminoácidos não essenciais são transaminados ou desaminados (Capítulo 18), e ➋ os TABELA 234 Efeitos do glucagon sobre a glicose sanguínea: produção e liberação deglicose pelo fígado Efeito metabólico Efeito sobre o metabolismo da glicose Enzima-alvo c Degradação de glicogênio (fígado) Glicogênio ¡ glicose c Glicogênio-fosforilase T Síntese de glicogênio (fígado) Menos glicose armazenada como glicogênio T Glicogênio-sintase T Glicólise (fígado) Menos glicose usada como combustível no fígado T PFK-1 c Gliconeogênese (fígado) Aminoácidos Glicerol ¡ glicose Oxaloacetato c FBPase-2 T Piruvato-cinase c PEP-carboxicinase c Mobilização de ácidos graxos (tecido adiposo) Menos glicose usada como combustível pelo fígado e pelo músculo c Lipase sensível a hormônio c PKA (perilipina- ) c Cetogênese Fornece alternativa à glicose como fonte de energia para o cérebro T Acetil-CoA-carboxilase TABELA 235 Combustível metabólico disponível em um homem com peso normal de 70 kg e em um homem obeso com 140 kg no início do jejum Tipo de combustível Peso (kg) Equivalente calórico (milhares de kcal [kJ]) Sobrevivência estimada (meses)* Homem com peso normal, 70 kg Triacilgliceróis (tecido adiposo) 15 140 (590) Proteínas (principalmente músculo) 6 24 (100) Glicogênio (músculo, fígado) 0,23 0,90 (3,8) Combustíveis circulantes (glicose, ácidos graxos, triacilgliceróis, etc.) 0,023 0,10 (0,42) Total 165 (690) 3 Homem obeso, 140 kg Triacilgliceróis (tecido adiposo) 80 750 (3.100) Proteínas (principalmente músculo) 8 32 (130) Glicogênio (músculo, fígado) 0,23 0,92 (3,8) Combustíveis circulantes 0,025 0,11 (0,46) Total 783 (3.200) 14 *O tempo de sobrevivência é calculado assumindo um gasto de energia basal de 1.800 kcal/dia. Nelson_6ed_23.indd 956Nelson_6ed_23.indd 956 03/04/14 11:3103/04/14 11:31 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 9 5 7 grupos amino extras são convertidos em ureia, que é ex- portada pela corrente sanguínea para os rins e excretada na urina. Também no fígado, e de certa forma nos rins, os esque- letos de carbono dos aminoácidos glicogênicos são conver- tidos em piruvato ou intermediários do ciclo do ácido cítri- co. ➌ Esses intermediários (assim como o glicerol dos TAG do tecido adiposo) fornecem os materiais de partida para a gliconeogênese no fígado, ➍ gerando glicose para exportar para o cérebro. ➎ Os ácidos graxos liberados do tecido adi- poso são oxidados a acetil-CoA no fígado, mas, como o oxa- loacetato é depletado pelo uso de intermediários do ciclo do ácido cítrico na gliconeogênese, ➏ a entrada da acetil-CoA no ciclo é inibida e a mesma se acumula. ➐ Isso favorece a formação de acetoacetil-CoA e corpos cetônicos. Após al- guns dias de jejum, aumentam os níveis de corpos cetônicos no sangue (Figura 23-31), à medida que são exportados do fígado para o coração, o músculo esquelético e o cére- bro, que utilizam esses combustíveis em vez da glicose (Fi- gura 23-30, ➑). ➊ ➐ ➌ ➏ ➋ ➍ ➑ ➒ ➎ Acetil-CoA Pi Oxaloacetato Amino- ácidos NH3 Glicose-6-fosfato Fosfoenol- -piruvato Citrato Acetoacetil-CoA Corpos cetônicosGlicoseUreia Ácidos graxos A degradação proteica gera aminoácidos glicogênicos. A glicose é exportada para o cérebro através da cor- rente sanguínea. O excesso de corpos cetônicos acaba na urina. Os ácidos graxos (importados do tecido adiposo) são oxidados como combustível, produzindo acetil-CoA. Os corpos cetônicos são exportados através da corrente sanguínea para o cérebro, que os usa como combustível. A ureia é transportada para o rim e excretada na urina. O intermediário do ciclo do ácido cítrico (oxaloacetato) é desviado para a gliconeogênese. O acúmulo de acetil-CoA favorece a síntese de corpos cetônicos. A falta de oxaloacetato impede a entrada da acetil-CoA no ciclo do ácido cítrico; acetil-CoA se acumula. FIGURA 2330 Metabolismo energético no fígado durante jejum pro- longado ou no diabetes melito não controlado. As etapas numeradas estão descritas no texto. Após a depleção dos estoques de carboidratos (gli- cogênio), a gliconeogênese no fígado torna-se a principal fonte de glico- se para o cérebro (setas verdes). A NH3 da desaminação dos aminoácidos é convertida em ureia e excretada (setas verdes). Os aminoácidos glicogênicos provenientes da degradação das proteínas (setas roxas) fornecem substratos para a gliconeogênese, e a glicose é exportada para o cérebro. Os ácidos graxos são importados do tecido adiposo para o fígado e são oxidados a acetil-CoA (setas cor de laranja), o material de partida para a formação dos corpos cetônicos no fígado exportados para o cérebro para servirem como a fonte principal de energia (setas vermelhas). Quando a concentração dos corpos cetônicos no sangue excede a capacidade do rim de reabsorver as cetonas, estes compostos começam a aparecer na urina. Nelson_6ed_23.indd 957Nelson_6ed_23.indd 957 03/04/14 11:3103/04/14 11:31 9 5 8 DAV I D L . N E L S O N & M I C H A E L M . COX A acetil-CoA é crítica na regulação do destino do piru- vato; ela inibe alostericamente a piruvato-desidrogenase e estimula a piruvato-carboxilase. Dessa forma, a acetil-CoA previne sua própria produção a partir do piruvato, enquan- to estimula a conversão do piruvato em oxaloacetato, a pri- meira etapa da gliconeogênese. Os triacilgliceróis armazenados no tecido adiposo de um adulto com peso normal podem fornecer combustível suficiente para manter uma taxa metabólica basal por cer- ca de três meses; um adulto muito obeso tem combustível armazenado suficiente para suportar um jejum de mais de um ano (Tabela 23-5). Quando acabam as reservas de gor- dura, começa a degradação de proteínas essenciais; isso leva à perda da função cardíaca e hepática, e, na inanição prolongada, à morte. A gordura armazenada fornece ener- gia suficiente (calorias) durante o jejum ou em uma dieta rígida, mas as vitaminas e os minerais devem ser forneci- dos, sendo necessários aminoácidos glicogênicos na dieta em quantidade suficiente para substituir aqueles utilizados na gliconeogênese. As formulações em uma dieta de ema- grecimento geralmente são enriquecidas com vitaminas, minerais e aminoácidos ou proteínas. A adrenalina sinaliza atividade iminente Quando um animal é confrontado com uma situação estres- sante que requer atividade aumentada – lutar ou fugir, em casos extremos – os sinais neuronais originários do cére- bro provocam a liberação da adrenalina e da noradrena- lina da medula suprarrenal. Ambos os hormônios dilatam as vias aéreas para facilitar a captação de O2, aumentam a frequência e a força dos batimentos cardíacos, e elevam a pressão arterial, favorecendo o fluxo de O2 e de combus- tíveis para os tecidos (Tabela 23-6). Essa é a resposta de “lutar ou fugir”. A adrenalina age principalmente nos tecidos muscular, adiposo e hepático. Ela ativa a glicogênio-fosforilase e ina- tiva a glicogênio-sintase pela fosforilação, dependente de cAMP, dessas enzimas, estimulando a conversão do glico- gênio hepático em glicose sanguínea, o combustível para o trabalho muscular anaeróbio. A adrenalina também pro- move a degradação anaeróbia do glicogênio muscular pela fermentação em ácido láctico, estimulando a formação gli- colítica de ATP. A estimulação da glicólise é acompanhada pela elevação da concentração de frutose-2,6-bifosfato, um ativador alostérico potente da fosfofrutocinase-1, enzima- -chave da glicólise. A adrenalina também estimula a mobi- lização da gordura no tecido adiposo, ativando (por fosfori- lação dependente de cAMP) a lipase sensível a hormônio e removendo a perilipina que recobre a superfície das gotícu- las de gordura (ver Figura 17-3). Finalmente, a adrenalina estimula a secreção de glucagon e inibe a secreção de insu- lina, reforçando seu efeito de mobilização de combustíveis e inibição de seu armazenamento. O cortisol sinaliza estresse, incluindo baixa glicose sanguínea Uma grande variedade de agentes estressores (ansiedade, medo, dor, hemorragia, infecção, glicose sanguínea baixa, jejum) estimula a liberação do hormônio corticosteroide cortisol do córtexsuprarrenal. O cortisol age no músculo, no fígado e no tecido adiposo para suprir o organismo com combustível para resistir à situação estressante. O cortisol é um hormônio de ação relativamente lenta, que altera o metabolismo pela mudança nos tipos e nas quantidades de determinadas enzimas sintetizadas em suas células-alvo, em vez da regulação da atividade de moléculas enzimáticas já existentes. No tecido adiposo, o cortisol provoca um aumento na liberação dos ácidos graxos a partir dos triacilgliceróis armazenados. Os ácidos graxos exportados servem como combustível para outros tecidos, e o glicerol é usado na gliconeogênese no fígado. O cortisol estimula a degrada- ção das proteínas musculares não essenciais e a expor- tação dos aminoácidos para o fígado, onde servem como precursores para a gliconeogênese. No fígado, o cortisol promove a gliconeogênese por estimular a síntese da en- zima-chave PEP-carboxicinase; o glucagon tem o mesmo efeito, enquanto a insulina tem o efeito oposto. A glico- se assim produzida é armazenada no fígado como glico- gênio ou exportada imediatamente para os tecidos que precisam dela para combustível. O efeito líquido dessas alterações metabólicas é a restauração dos níveis normais de glicose sanguínea e o aumento dos estoques de gli- cogênio, pronto para dar suporte à resposta de luta ou fuga comumente associada ao estresse. Os efeitos do cor- tisol, portanto, contrabalançam os da insulina. Durante b-hidroxibutirato Glicose Ácidos graxos livres Acetoacetato Acetona 0 7 6 5 4 3 2 1 0 C on ce nt ra çã o p la sm át ic a (m M ) 10 20 Dias de jejum 30 40 FIGURA 2331 Concentração plasmática de ácidos graxos, glicose e corpos cetônicos durante seis semanas de jejum. Apesar dos meca- nismos hormonais para a manutenção do nível de glicose no sangue, ela começa a diminuir depois de dois dias de jejum (em azul). O nível de corpos cetônicos, quase indetectáveis antes do jejum, aumenta drasticamente após 2 a 4 dias de jejum (em vermelho). Estas cetonas hidrossolúveis, acetoacetato e b-hidroxibutirato, suplementam a glicose como fonte de energia para o cérebro durante o jejum prolongado. A acetona, o corpo cetônico minoritá- rio, não é metabolizado e é eliminado com a respiração. Um aumento muito menor de ácidos graxos também ocorre no sangue (em cor de laranja), mas esse aumento não contribui para o metabolismo energético no cérebro por- que os ácidos graxos não atravessam a barreira hematoencefálica. Nelson_6ed_23.indd 958Nelson_6ed_23.indd 958 03/04/14 11:3103/04/14 11:31 P R I N C Í P I O S D E B I O Q U Í M I C A D E L E H N I N G E R 9 5 9 períodos prolongados de estresse, a liberação constante de cortisol perde seu valor adaptativo positivo e começa a causar danos ao músculo e ao osso, prejudicando as fun- ções endócrina e imune. O diabetes melito resulta de defeitos na produção ou na ação da insulina O diabetes melito é uma doença relativamente co- mum: quase 6% da população dos Estados Unidos mostram algum grau de anormalidade no metabolismo da glicose, o que é indicativo de diabetes ou de tendência a essa condição. Existem duas classes clínicas principais da doença: diabetes tipo 1, às vezes denominado diabetes melito insulina-dependente (DMID), e diabetes tipo 2, ou diabetes melito não insulina-dependente (DMNID), tam- bém chamado de diabetes resistente à insulina. O diabetes tipo 1 começa cedo na vida, e os sintomas rapidamente se tornam graves. Essa doença responde à injeção de insulina, porque o defeito metabólico se origi- na da destruição autoimune das células b pancreáticas e de uma consequente incapacidade de produzir insulina em quantidade suficiente. O diabetes tipo 1 requer in- sulinoterapia e controle cuidadoso, por toda a vida, do equilíbrio entre a ingestão dietética e a dose de insulina. Os sintomas característicos do diabetes tipo 1 (e tipo 2) são sede excessiva e micção frequente (poliúria), levan- do à ingestão de grandes volumes de água (polidipsia) (“diabetes melito” significa “excreção excessiva de urina doce”). Esses sintomas são devidos à excreção de grande quantidade de glicose na urina, condição conhecida como glicosúria. O diabetes tipo 2 se desenvolve lentamente (em geral em pessoas mais velhas e obesas) e os sintomas são mais brandos e, com frequência, não reconhecidos no início. Este é, na verdade, um grupo de doenças nas quais a ati- vidade reguladora da insulina está perturbada: a insulina é produzida, mas alguns aspectos do sistema de resposta ao hormônio estão defeituosos. As pessoas com essa enfermi- dade são resistentes à insulina. A conexão entre o diabetes tipo 2 e a obesidade (discutida adiante) é uma área de pes- quisa ativa e excitante. As pessoas com um ou outro tipo de diabetes não con- seguem captar de maneira eficiente a glicose do sangue; lembre que a insulina provoca o deslocamento dos transpor- tadores de glicose GLUT4 para a membrana plasmática no músculo e no tecido adiposo (ver Figura 12-16). Sem glicose disponível, os ácidos graxos tornam-se o combustível princi- pal, o que leva a outra alteração metabólica característica no diabetes: a oxidação excessiva, mas incompleta, dos ácidos graxos no fígado. A acetil-CoA produzida pela b-oxidação não pode ser oxidada completamente pelo ciclo do ácido cítrico, porque a alta relação [NADH]/[NAD1] produzida pela b-oxidação inibe o ciclo (lembre que três etapas do ci- clo convertem NAD1 em NADH). O acúmulo de acetil-CoA leva à superprodução dos corpos cetônicos, acetoacetato e b-hidroxibutirato, que não podem ser usados pelos tecidos extra-hepáticos na velocidade com que são produzidos no fí- gado. Além do b-hidroxibutirato e do acetoacetato, o sangue das pessoas diabéticas também contém acetona, que resulta da descarboxilação espontânea do acetoacetato: H3C C O CH2 COO2 1 H2O H3C C O CH3 1HCO3 2 Acetoacetato Acetona A acetona é volátil e é exalada, de modo que, no diabe- tes não controlado, o hálito tem odor característico, às ve- zes confundido com etanol. Uma pessoa diabética que apre- senta confusão mental devido à alta glicose sanguínea é às vezes diagnosticada incorretamente como intoxicada, erro que pode ser fatal. A superprodução de corpos cetônicos, chamada de cetose, resulta em uma concentração muito aumentada desses compostos no sangue (cetonemia) e na urina (cetonúria). Os corpos cetônicos são ácidos carboxílicos que se io- nizam, liberando prótons. No diabetes não controlado, esta produção de ácido pode superar a capacidade do sistema tampão bicarbonato do sangue e produzir uma redução no pH sanguíneo, chamada de acidose, ou, em combinação com a cetose, cetoacidose, combinação potencialmente letal. TABELA 236 Efeitos fisiológicos e metabólicos da adrenalina: preparação para ação Efeitos imediatos Efeito total Fisiológicos c Frequência cardíaca c Pressão sanguínea c Dilatação das vias aéreas Aumento da liberação de O2 para os tecidos (músculo) Metabólicos c Degradação de glicogênio (fígado, músculo) T Síntese de glicogênio (fígado, músculo) c Gliconeogênese (fígado) Aumento da produção de glicose para combustível c Glicólise (músculo) Aumento da produção de ATP no músculo c Mobilização de ácidos graxos (tecido adiposo) Aumento da disponibilidade de ácidos graxos como combustível c Secreção de glucagon T Secreção de insulina Reforço dos efeitos metabólicos da adrenalina Nelson_6ed_23.indd 959Nelson_6ed_23.indd 959 03/04/14 11:3103/04/14 11:31 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.