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ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO AULA 6 Prof. Leonardo Mercher 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, buscaremos sintetizar os processos de internacionalização. Daremos maior ênfase ao processo de internacionalização no campo microeconômico, ou seja, focaremos as empresas e, em especial as pequenas e médias empresas (PMEs) que necessitam das ferramentas de gestão do processo de internacionalização, mas não as conhecem. Facilitaremos a compreensão do papel do profissional responsável pela internacionalização, além das ferramentas de gestão e das áreas da empresa envolvidas, como: produção, marketing, logística e vendas internacionais. Para melhor compreensão, dividimos esta aula em cinco temas. O primeiro trata da definição de projeção internacional. Nele, estudaremos um pouco mais algumas das principais ferramentas de gestão no processo de internacionalização. O segundo tema aborda o marketing internacional associado à visibilidade da empresa, bem como o papel da produção e da logística na internacionalização. O terceiro foca as responsabilidades sociais e ambientais, tão importantes socialmente e legalmente nos dias de hoje. O quarto tema fala brevemente sobre a capacitação de pessoal em áreas importantes para fomentar a internacionalização. Finalmente, no quinto tema, estudaremos o monitoramento de resultados. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Após compreender o que é internacionalizar, precisamos sintetizar os principais pontos da internacionalização, em especial no âmbito empresarial. Assim como a produção, a internacionalização demanda estratégias de gestão e ferramentas para alcançar bons resultados no empreendedorismo, ao mesmo tempo que diminui riscos. Nos temas a seguir, abordaremos exatamente essas dicas de gestão como um conteúdo adicional para melhorar a sua capacidade competitiva no mercado empresarial. TEMA 1 – DEFININDO A PROJEÇÃO INTERNACIONAL Projetar-se internacionalmente significa ter responsabilidades para com a própria capacidade de manter uma imagem saudável e, com isso, garantir o cumprimento de suas obrigações. Ao definir o mercado, o setor de atuação e a 3 nação em que buscamos nos inserir, é preciso identificar os desafios de produção e gestão internos da empresa. Para tanto, trataremos da Análise PEST e de algumas ferramentas de gestão referentes a ciclos. Essas ferramentas de compreensão de riscos e de gestão garantirão uma melhor experiência de internacionalização. Mas, como sempre, lembramos que elas não são as únicas disponíveis. Sempre procure ampliar sua visão com estudos das áreas de interesse em periódicos acadêmicos e outras fontes confiáveis. O especialista Cláudio Henrique de Castro (2010) fala de uma ferramenta que se tornou muito comum na última década, que é a Análise PEST. PEST é uma sigla que reúne as dimensões políticas, econômicas, sociais e tecnológicas. Essa análise defende que, para um bom manejo dos riscos e da gestão, é preciso levar em consideração os seguintes aspectos do mercado em que se quer entrar (Castro, 2010): no âmbito político: o a estabilidade política (um sistema político estável); o o funcionamento do sistema jurídico; o o funcionamento do sistema penitenciário; o os riscos militares; o a estrutura de regulamentação para seus negócios; o a regulamentação trabalhista; o a política de impostos; o as normas técnicas de embalagem e segurança. no âmbito econômico: o o modelo econômico daquele país; o o “custo país”; o o modelo cambial e seu risco; o o modo como funciona o sistema financeiro; o a taxa de juros média daquele país; o acordos financeiros que existem entre aquele país e o seu; o as taxas de crescimento econômico e de inflação; o o ciclo econômico atual (recessão, recuperação, crescimento); o a disponibilidade de força de trabalho e de capitais variados. no âmbito social: o o modo como funciona a estrutura social daquele país; o a relação entre ricos e pobres; 4 o a escolaridade média da população adulta; o o nível de consciência ambiental daquele país; o as peculiaridades culturais do país. no âmbito tecnológico o as inovações tecnológicas existentes naquele país; o os estímulos ao desenvolvimento tecnológico; o o custo de transferência tecnológica; o a população de técnicos; o a taxa de difusão tecnológica; o o melhoramento da oferta com o uso de novas tecnologias; o o melhoramento do custo com o uso de novas tecnologias. São muitas perguntas e informações, mas se você se programar e for em busca das respostas de cada uma o processo ficará muito mais fácil. A Análise PEST reforça o que já mencionamos em outros momentos de nossa disciplina: é importante compreender os cenários internacionais e nacionais dos países em que se busca investir ou criar parcerias. As leis mudam, assim como os costumes e a cultura, a estabilidade política e a liberdade de mercado, as barreiras tarifárias e não tarifárias. Essas e outras variáveis determinarão se a projeção vale ou não a pena, se compensa correr os riscos da internacionalização e o que fazer para amenizá-los. A preocupação com os custos tecnológicos e de mão de obra, além do peso dos impostos sobre os produtos são fatores que devem entrar na conta final de sua empresa, pois afetam o preço final do produto ou serviço. Carlos Júnior (2017) apresenta cinco ferramentas de gestão (que, não cansamos de reforçar, não são as únicas) que facilitam a elaboração de projetos como o de internacionalização. São elas: 1. 5W2H; 2. PDCA; 3. PMBOK; 4. KPI; 5. PM Canvas. Segundo o autor: Com o passar do tempo, foram desenvolvidas muitas ferramentas de gestão com o objetivo de subsidiar a tomada de decisão e os trabalhos 5 de gerenciamento. Afinal, trata-se de um avanço inevitável em um contexto empresarial cada vez mais agressivo. Não importa qual seja o setor, área de atuação ou tipo de trabalho, não se pode entregar um bom produto ou serviço sem usar as ferramentas adequadas de análise ou mesmo de metodologias. Na gestão de projetos, não poderia ser diferente! Essa necessidade deu origem a alguns modelos que tornaram a gestão mais eficiente. (Júnior, 2017) Com base nessa percepção, falaremos de algumas ferramentas que facilitam a gestão. Lembre-se: investir em tecnologia (que não se trata, necessariamente, de computadores; pode ser também estratégias de gestão eficientes) e em modelos de eficiência é praticar o que aprendemos sobre internacionalização em casa. 1.1 5W2H O 5W2H, segundo Júnior (2017), “surgiu no Japão para facilitar o planejamento de qualquer demanda. O 5W corresponde às iniciais em inglês de What (O quê), Why (Por quê), Where (Onde), When (Quando) e Who (Quem). Já o 2H faz menção às iniciais de How (Como) e de How much (quanto)”. Com base nessas perguntas, conseguimos hierarquizar o que de fato importa e descobrir quais são as informações secundárias. Ou seja, saber o que produzimos/ofertamos; por que buscamos a internacionalização e onde; quais estratégias utilizaremos (franquia, licenciamento, filiais etc.); quando e quanto tempo demoraremos ou planejamos ficar por lá; e quais profissionais (principais ou de apoio) serão os responsáveis por conseguir sintetizar nossa projeção internacional. Além disso, o 5W2H facilita a passagem das principais informações e orientações à equipe envolvida e as definições de tarefas para a elaboração prévia do projeto de internacionalização, bem como organiza as ideias para contato e negociação com as outras partes. Brevemente, podemos ainda citar a Análise SWOT (uma abreviação das palavras em inglês strengths, weaknesses, opportunities e threats, que podem ser traduzidas como forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, respectivamente), os 4 Ps (produto, preço, promoção e praça) e os 4 Ss (solução,serviço, sinceridade e seriedade), todos em busca da organização por etapas e do bom funcionamento da gestão. Nesses casos, o mercado, ou seja, o processo de produção e inserção na praça (mercado e concorrência), soma- 6 se ao pessoal (gestão de pessoal e qualidade de recursos humanos) em etapas planejadas que fomentam a eficiência final. 1.2 Plan, do, check and act (PDCA) No ciclo PDCA, a principal estratégia é identificar possíveis falhas e riscos na organização dos processos de gestão e, consequentemente, de internacionalização. É composta de quatro ações: plan, do, check e act (planejar, fazer, checar e agir). Esse ciclo visa identificar as causas geradoras do desvio e solucionar seus fatores primários, ou seja, é uma filosofia de melhoria contínua (Júnior, 2017): “Logo que um ciclo é concluído, outro começa e assim sucessivamente até que se alcance um nível mínimo de qualidade que atenda às expectativas do cliente”. Para a empresa, o resultado poderia ser ganhos em médio e longo prazo, ao se tornar mais eficiente diante dos riscos habituais (no nosso caso, dos riscos habituais da internacionalização). 1.3 Project Management Body of Knowledge (PMBOK) O Project Management Body of Knowledge (PMBOK), como guia de boas práticas de gerenciamento de projetos, orienta uma gestão integrada entre diversas ferramentas, técnicas, habilidades e áreas do conhecimento prático da gestão empresarial. Integração, escopo, tempo, custos, qualidade, recursos humanos, comunicações, riscos, aquisições e partes interessadas são as bases da identificação de informações fundamentais sobre sua empresa e sobre os custos e necessidades do projeto em relação a essas áreas. Quanto dos recursos humanos de sua empresa o projeto demandará? Quais são os riscos? Quais são as partes interessadas. “O PMBOK estabelece 47 processos de gerenciamento contidos em 5 grupos de processos (Iniciação; Planejamento; Execução; Monitoramento e controle; e Encerramento) correspondentes às 10 áreas de conhecimento [...]” (Júnior, 2017). Saiba mais Dada a extensão do PMBOK, sugerimos que você leia sobre o Project Management Institute (PMI), uma associação voltada ao gerenciamento de projetos e que está por trás da criação dessa ferramenta. Disponível em: <https://www.projectbuilder.com.br/blog/o-que-e-pmi>. Acesso em: 4 jan. 2019. https://www.projectbuilder.com.br/blog/o-que-e-pmi 7 1.4 Key Performance Indicators (KPIs) Os indicadores de performance, ou key performance indicators (KPIs), seriam muito mais semelhantes a métricas do que propriamente a um guia. Um KPI busca mensurar o desempenho empresarial (criar indicadores) tomando como base variáveis (critérios) hierarquizadas como mais relevantes (com maior capacidade explicativa sobre sucesso e fracasso): “Ao medir o status de suas demandas, a organização pode avaliar se o resultado é ou não satisfatório. Caso não seja, você tem subsídios para intervir e ajustar a performance ao resultado esperado” (Júnior, 2017). Os KPIs estratégicos apontariam, portanto, para o alinhamento dos objetivos dos projetos com os da empresa, simulando-os em diversos cenários, ou seja, “projetando panoramas e comparações entre o planejado e o realizado” (Júnior, 2017). Como exemplo de indicadores, o autor destaca: o tempo de retorno sobre o investimento (ou payback); o déficit; e a receita por tipo de produto ou por unidade de negócio. Os KPIs de produtividade servem para mensurar o desempenho dos integrantes dos projetos em andamento, colaborando com a projeção da viabilidade de admissões ou desligamentos, atribuição de recursos, aquisição de equipamentos etc. Ou seja, os KPIs são métricas para criar indicadores de capacidades e necessidades em cenários de elaboração, execução e avaliação de projetos. 1.5 Project model Canvas (PM Canvas) Por fim, o Project Model Canvas (PM Canvas) se apresenta como uma metodologia que busca proporcionar ao planejamento, à execução e à gestão de projetos uma natureza colaborativa, e que ajuda na compreensão da internacionalização como o resultado de práticas de incentivo à participação das partes. Mostrar para os funcionários e para as partes externas que o projeto é positivo contribui para o crescimento de todos, e não apenas o de sua própria empresa em termos de lucros. Segundo Júnior (2017), O PM Canvas É uma ferramenta visual que possibilita o planejamento do projeto inteiro em um só documento, de uma única página. A simplicidade do modelo parte do princípio que a elaboração de um novo projeto deve estar norteada pelas perguntas: Por quê? O quê? Quem? Como? Quando? E quanto? As respostas dessas questões embasam o ponto de partida para a criação do diagrama de Canvas. Os benefícios mais 8 evidentes são: manutenção do foco da equipe em objetivos mensuráveis que levam a metas maiores e melhores representações visuais de todo o projeto, otimizando a compreensão de cada uma das etapas. Esse caráter intuitivo da metodologia beneficia as organizações que têm dificuldade de elaborar um plano de projeto. Ou seja, essa ferramenta oferece simplificação visual para que todos possam entender em que parte se encaixam no projeto e como ele poderá ser positivo para todos os envolvidos. Com ela, é possível incentivar a participação de todos e motivar contribuições sem a segmentação excessiva de informações exclusivas para cada setor ou profissionais que não se comunicam – o que poderia gerar muitos erros. Essa ferramenta de gestão, contudo, funciona mais como um sumário das atividades às partes (funcionários e negociadores externos) e demanda estratégias complementares que já mencionamos anteriormente para avaliar riscos mais pontuais à projeção internacional. TEMA 2 – MARKETING DA INTERNACIONALIZAÇÃO – IMAGEM, IDENTIDADE E VISIBILIDADE INTERNACIONAIS Quando ultrapassamos a etapa da elaboração de projetos e focamos a etapa da execução da internacionalização, passamos a nos preocupar com a produção, o marketing, a logística e as vendas internacionais. Atreladas a todas essas atividades se encontram a imagem, a identidade e a visibilidade da marca e a confiança do cliente e dos investidores financeiros. Mas o que isso quer dizer? Isso significa que se algo der errado durante a execução (produção, marketing, logística e vendas), a sua imagem e a sua confiabilidade diante do mercado sairão perdendo, o que poderá prejudicar negócios futuros, especialmente se a empresa for pequena ou média, com poucos recursos para se reerguer. É importante identificar se os recursos para a produção do produto ou serviço estão acessíveis, se o preço apresentará variações e se isso já foi calculado, se a mão de obra e as ferramentas que você tem conseguirão produzir a quantidade acordada, se a legislação local e a exterior estão sendo respeitadas no ato da produção, se as embalagens estão de acordo com as regras de rótulos, idiomas e armazenamento etc. Com esses cuidados, a qualidade do produto ou serviço estará garantida e não impactará negativamente a imagem da empresa no exterior. 9 Quanto ao marketing, é importante avaliar se o contrato está correto, se os mercados foram estudados, se as propagandas e demais posicionamentos dos produtos e serviços estão adequados à cultura e aos valores externos em que serão inseridos, dentre outros. No âmbito da gestão da logística é preciso assegurar que os modais sejam os mais adequados ao armazenamento e à integridade dos produtos a serem transportados; tenham os seguros corretos; e que os pagamentos possam ser feitos do modo mais conveniente para a transação internacional (ver International Commercial Terms – Incoterms). Também é preciso avaliar os perigos humanos (pirataria e conflitos internacionais) e naturais (clima) das rotas e fazer com que toda a parte burocrática de parametrização e liberação de mercadorias sejacumprida com sucesso. Por fim, é preciso identificar se as vendas ocorrerão como esperado diante da estratégia adotada (franquia, joint venture, licença etc.), se os representantes ou estabelecimentos de venda cumprirão o acordado, se os pagamentos são pré-estabelecidos e assegurados pelas instituições financeiras ou outros meios, se os custos finais estão dentro da margem de cálculo. É importante lembrar que muitas nações praticam o câmbio fixo, mas outras, como o Brasil, utilizam o câmbio flutuante e por isso as vendas precisam ter uma gestão de todas as partes e os pagamentos tem que ser pré-estabelecidos. Para evitar riscos nesse sentido, é sempre bom lembrar na etapa da negociação da margem de reservas – nunca tenha exatamente os recursos esperados, sempre busque ter mais ainda na etapa da negociação. Esses cuidados são importantes porque a imagem que projetamos para o exterior impacta tanto os negócios futuros quanto os investidores e sócios. Digamos que tenhamos tido uma negociação complicada internacionalmente. Logo, nossa imagem (o modo como nos veem) pode ter se desgastado, mesmo que nossa identidade (valores e essência da empresa) não condiga com aquela prática errônea. Isso resulta em uma visibilidade momentânea negativa, tanto para fora (mercados) quanto para dentro (nossos investidores e apoiadores). Como sabemos, mesmo que seja algo momentâneo, o mercado reage rápido e podemos perder muito. Por isso, mais do que se preocupar com os riscos externos, precisamos também avaliar o impacto de nossa vida empresarial no cenário doméstico caso uma projeção/execução internacional não saia como planejamos. A imagem e a confiabilidade de uma empresa é tudo para o 10 mercado de investidores e para os consumidores, como veremos no próximo tema. TEMA 3 – RESPONSABILIDADES SOCIAIS E AMBIENTAIS DE MERCADO Além dos riscos tradicionais de execução (produção, logística etc.), há também riscos em termos de credibilidade quando ignoramos responsabilidades sociais e ambientais. Durante a execução e o monitoramento de nossas estratégias de internacionalização, precisamos ficar atentos às legislações ambiental e trabalhista. A Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 1948, define prerrogativas que estabelecem direitos mínimos e gerais para todos os indivíduos. Com base nesses direitos, muitas nações criaram suas próprias legislações que protegem direitos específicos, como os trabalhistas e ambientais. É muito comum, em momentos de financeirização da globalização, que empresas busquem se internacionalizar (especialmente a sua produção) em mercados e nações em que essas legislações são mais brandas. Mas não se engane: se o seu público consumidor for de uma nação em que a legislação é mais rígida, é possível que sua estratégia fracasse. Boicotes a marcas que utilizam mão de obra infantil ou pagam baixos salários no sudeste asiático são comuns em países europeus. Desastres ambientais ou exploração de recursos ambientais considerados predatórios nos países dos consumidores também geram crises comerciais. Além disso, muitos investidores, por mais que não sejam consumidores, acabam sofrendo pressão de grupos de ativistas e passam a abandonar as empreitadas das empresas. Para pequenas e médias empresas (PMEs), esses riscos existem, mas em menor escala, visto que os recursos que ela explora são menores, e o número de funcionários e terceirizadas que elas empregam também é menor. Contudo, vale a pena ficar de olho e sempre se informar sobre a legislação do país em que se busca atuar, bem como sobre os valores do público consumidor e do ativismo transnacional deste país. Uma empresa com a imagem sem complicações ambientais e sociais sempre será mais competitiva do que empresas que já mancharam seu nome com processos duvidosos. Por outro lado, ao incluir sua empresa em redes de proteção ambiental e de responsabilidade social, como o Pacto Global da ONU, você pode melhorar a sua reputação (imagem e visibilidade) e superar a concorrência, mesmo que 11 ela não esteja envolvida em escândalos, pois você terá valores adicionais em sua marca. Selos, como o ISO 14000 e outros certificados, também fomentam a “saúde comercial” e facilitam a inserção internacional. Lembre-se: é melhor praticar a responsabilidade e ter todas as portas abertas do que arriscar por interesse de lucros fáceis e acabar fechando portas importantes para o crescimento comercial de sua instituição. TEMA 4 – QUALIFICAÇÃO E GESTÃO DE PESSOAL NA INTERNACIONALIZAÇÃO Neste tema, trataremos da qualificação profissional dos envolvidos na internacionalização. Sabemos que você, trader, está apto a exercer funções de internacionalização de sua instituição. Entretanto, caso monte uma equipe, é importante que você desenvolva habilidades relativas a: domínio de idiomas; domínio jurídico internacional; negociação internacional; processos de importação e exportação; logística internacional; domínio cambial e de economia política; sistema financeiro internacional e de investimentos; e gestão de recursos. No âmbito dos idiomas é fundamental que o profissional, mesmo que não seja fluente, desenvolva ferramentas linguísticas instrumentais. Isso significa que ele precisa fazer cursos de aperfeiçoamento, como inglês instrumental para negociação e para as áreas específicas do setor de seu produto/serviço. Também é importante padronizar e-mails e assinaturas em outros idiomas para facilitar o contato e evitar desentendimentos. É sempre bom garantir protocolos de atendimento em dois ou mais idiomas, ainda que o inglês seja uma língua franca. Outro ponto importante sobre idiomas é que alguns erros, especialmente com símbolos, podem ocorrer. Por exemplo, no Brasil escrevemos “um mil dólares” ou “um mil reais” assim: 1.000,00. Já os norte-americanos escrevem o mesmo valor assim: 1,000.00. Perceba que a vírgula em um exemplo é usada no lugar do ponto em outro, e vice-versa. Por isso, tome cuidado na hora de instruir os funcionários em relação à comunicação. Informações sobre os procedimentos jurídicos ou respostas para dúvidas podem ser obtidas em embaixadas, consulados e câmaras de comércio. A formação profissional interessante inclui cursos nas áreas de Direito Internacional Público (tratados, regimes internacionais, direitos humanos, cidadania) e Direito Internacional Privado (contratos, direitos empresariais, 12 investimentos e comércio internacional). Além disso, é preciso também desenvolver capacidades de eficiência na lida com as burocracias nacional e internacional, como orientam o Siscomex e Siscoserv no Brasil. Em uma negociação internacional é preciso demonstrar qualidades de um bom negociador, como a oratória, o equilíbrio entre assertividade e receptividade, o respeito à interculturalidade e a cerimonial e protocolos. Também devemos capacitar a nossa prática e a nossa compreensão sobre a relação entre ganhos absolutos (conseguir o máximo possível em uma negociação, o que pode desgastar as partes) e os ganhos relativos (todas as partes saem satisfeitas com os ganhos, ainda que nenhuma tenha alcançado tudo o que esperava). Vale a pena estudar os métodos de negociação da escola (método) de Harvard, dentre outros cursos e orientações. O trabalho do negociador é feito sempre em equipe e, por isso, ele também precisa desenvolver capacidades cognitivas e emocionais nas mais variadas situações. Em processos de comércio internacional (importação e exportação), frisamos a importância de saber lidar bem com toda a burocracia, os tipos de pagamento, seguros, contratos e serviços, bem como com os canais fiscais e monetários. Já logística não é apenas terceirizar o frete, mas saber escolher o melhor modal, o mais barato, o mais seguro e eficaz para a relação de venda. A logística contínua, ou seja, a logística reversa,precisa planejar não apenas o transporte, mas o uso e o fim adequados de todos os recursos e materiais utilizados ao longo do processo (embalagens, baterias, combustíveis etc.) para que o impacto ambiental seja menor. Por fim, devemos desenvolver na equipe conhecimentos para que ela possa realizar cálculos cambiais, de riscos de investimentos financeiros. Ela precisa estar apta a entender como o mercado se comporta e quais são os indicadores favoráveis no setor de atuação que justificam os riscos de uma projeção internacional. Dessa forma, é preciso estar sempre atento às notícias econômicas e políticas internacionais, como bolsas de valores e variações monetárias, investimentos e saúde do sistema financeiro internacional. Lembre- se de que, em alguns casos, os períodos de crise são os melhores para expandir os negócios. 13 TEMA 5 – MONITORAMENTO DOS RESULTADOS O monitoramento dos resultados é tão importante quanto o bom planejamento da internacionalização. Devemos lembrar sempre que conhecer as consequências de nossos atos favorece novos planejamentos, sem os erros anteriores e com menores custos. Além disso, mais do que ganhar experiência, podemos criar portfólios para futuras parcerias, mostrando o que já conseguimos realizar e, assim, valorizar o nosso trabalho para investidores e fluxos de negócios interessados. Os resultados devem ser monitorados em diversos âmbitos, mas são três os mais importantes: 1. das partes com as quais negociamos; 2. da imagem de nossa empresa/produto/serviço no mercado; 3. das consequências com relação aos concorrentes e demais agentes relevantes no mercado. Quanto às partes com que negociamos: devemos manter os canais de contato com elas sempre ligados, funcionando. Podemos criar formulários de satisfação (surveys), reuniões para sanar dúvidas e orientações sobre o bom funcionamento de nossos produtos e serviços. Também podemos desenvolver ferramentas de retorno (feedback) em nosso site que nos dê a chance de melhorar como provedores de produtos e serviços. Muitas empresas investem na capacitação de seus clientes e parceiros para que eles melhorem a representação da marca ou tirem melhor proveito dos serviços e produtos que consomem. O segundo tipo de monitoramento se dá em relação à imagem de nossa empresa/produto/serviço no mercado. Precisamos saber quais valores afetivos, simbólicos e legais permeiam a introdução de nossa empresa e seus produtos no mercado externo. Mesmo que o produto seja algo comum, como batata, é importante saber como ele é ofertado ao público e se o armazenamento e as embalagens podem ser melhorados. O marketing não termina na venda; é preciso garantir tanto a qualidade dos produtos/serviços quanto o seu aperfeiçoamento, e, quase sempre, a sua adaptação constante às novas demandas do público-alvo. É comum, nesse caso, ver empresas que produzem o mesmo produto, mas com caras diferentes para atender às mudanças da diversidade cultural e de consumo internacional de cada nação. 14 Quanto às consequências com relação aos concorrentes e demais agentes relevantes no mercado: vale sempre lembrar que não estamos sozinhos no mercado, especialmente no mercado internacional. Além de lidar com a concorrência doméstica, temos que enfrentar a concorrência internacional. Nossas atividades precisam ser monitoradas em relação à concorrência para que possamos nos manter competitivos e ser a primeira escolha do mercado. A competitividade advém tanto de situações em que temos o controle quanto daquelas em que nada podemos fazer. O que podemos fazer em termos de competitividade é agregar maior valor ao nosso negócio e diminuir os custos de produção por meio de tecnologias e mão de obra qualificada, ou então encontrar recursos mais em conta; esses fatores são aqueles que podemos controlar. Dentre aqueles que não podemos, estão as políticas tarifárias, como as praticadas pelos governos que colocam alíquotas (valores) de impostos de importação sobre produtos de acordo com seus interesses a todo momento. A liberalização comercial pode favorecer a inserção de determinados produtos em certos mercados. Contudo, não é possível acreditar que mercados liberalizados, em uma jogada de governo, alterem suas políticas fiscais, e então perderemos competitividade, por sermos produtos de importação, em relação aos produtos locais. Dessa forma, é importante manter o registro, o controle e o monitoramento de todas as atividades desenvolvidas, mesmo após os contratos já terem sido cumpridos plenamente. Uma boa relação entre as partes pode garantir o que já mencionamos: a rede de contatos (network). Existem outros índices a ser monitorados, mas como a natureza de cada produto e serviço comercializado muda, é preciso compreender as peculiaridades de cada projeto de internacionalização. TROCANDO IDEIAS Vimos, nesta aula, algumas ferramentas de gestão para a internacionalização. Seria interessante dominarmos um pouco mais as estratégias de internacionalização. Para isso, leia o artigo sobre logística reversa publicado no site do Senado Federal, logística reversa envolve indústria, comerciante e consumidor (S.d.). Lembre-se de que ela inclui a elaboração, a execução e o monitoramento das etapas de comércio de produtos. Posteriormente, busque mais informações sobre as práticas de outras empresas 15 e também sobre se a nossa legislação condiz com as práticas de outros países, como os do Mercosul ou os da União Europeia. Tente se informar sobre o tema e ver como a logística perpassa todas as etapas e estratégias apresentadas em nossa aula. NA PRÁTICA Como exercício, aconselhamos que você crie um projeto de internacionalização para uma empresa de produtos ou de serviços utilizando as principais ferramentas de gestão e estratégias de internacionalização vistas nessa disciplina. defina a empresa e o seu produto ou serviço; identifique o mercado internacional de interesse e justifique sua escolha. Leve em consideração a distância psíquica em relação ao mercado escolhido; utilize em seu projeto uma das ferramentas de gestão apresentadas em nossas aulas; defina a estratégia de internacionalização (franquia, licenciamento, joint venture etc.); avalie potenciais parceiros e concorrentes; conclua com as considerações pertinentes sobre o processo como um todo. Boa prática!! FINALIZANDO Nesta aula, vimos que a formação e a capacitação de pessoal é tão importante quanto a escolha das ferramentas de gestão para a elaboração de projetos de internacionalização. Também identificamos as possibilidades existentes em termos de monitoração de resultados, bem como de avaliação de riscos antes que estes possam prejudicar a imagem e a visibilidade de nossa empresa. Assim, finalizamos o nosso conteúdo sobre internacionalização, mas esperamos que você busque tantas fontes e materiais quanto possível sobre o tema para que possa se tornar um excelente trader e que, além de criar projetos de internacionalização, possa avaliar projetos propostos por terceiros e guiar 16 equipes e outras empresas a encontrar as diversas oportunidades que existem no cenário internacional. Boa sorte! 17 REFERÊNCIAS CASTRO, C. H. Análise PEST como ferramenta no processo de internacionalização das empresas. Sobre Administração, 23 ago. 2010. Disponível em: <http://www.sobreadministracao.com/analise-pest-como- ferramenta-no-processo-de-internacionalizacao-das-empresas/>. Acesso em: 3 jan. 2019. JÚNIOR, C. 5 ferramentas de gestão simples que não podem faltar em um projeto. Project Builder, 30 maio 2017. Disponível em <https://www.projectbuilder.com.br/blog/5-ferramentas-de-gestao-simples/>. Acesso em: 3 jan. 2019. LOGÍSTICA reversa envolve indústria, comerciante e consumidor. Senado Federal, S.d. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/emdiscussao/edicoes/residuos-solidos/realidade-brasileira-na-pratica-a-historia-e-outra/logistica-reversa-envolve-industria- comerciante-e-consumidor>. Acesso em: 4 jan. 2019. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em: <https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf>. Acesso em: 4 jan. 2019. O QUE é PMI? Project Builder, 31 maio 2017. Disponível em: <https://www.projectbuilder.com.br/blog/o-que-e-pmi/>. Acesso em: 4 jan. 2019. https://www.projectbuilder.com.br/blog/5-ferramentas-de-gestao-simples/
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