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TCC_Beatriz_Silvério_Feitoza

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
Beatriz Silvério Feitoza 
 
 
 
 
 
Citometria de DNA como método diagnóstico em odontologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis 
2022 
 
 
 
 
Beatriz Silvério Feitoza 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Citometria de DNA como método diagnóstico em odontologia 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em 
Odontologia do Centro de Ciências da Saúde da 
Universidade Federal de Santa Catarina, como 
requisito para a obtenção do título de Cirurgiã-
Dentista. 
 
Orientador: Prof. Felipe Perozzo Daltoé, Dr. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis 
2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Beatriz Silvério Feitoza 
 
Citometria de DNA como método diagnóstico em odontologia 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do título de 
“Cirurgiã-Dentista” e aprovado em sua forma final pelo Curso de Odontologia. 
 
Florianópolis, 16 de Novembro de 2022. 
 
 
__________________________________ 
Profª. Gláucia Santos Zimmermann, Dra. 
Coordenadora do Curso 
 
Banca examinadora: 
 
 
__________________________________ 
Prof. Felipe Perozzo Daltoé, Dr. 
Orientador 
UFSC 
 
 
______________________________________ 
Profª. Luisa Machado Barin, Dra. 
Avaliadora 
UFSC 
 
 
_________________________________ 
Profª. Ana Guadalupe Gama Cuellar, Ma. 
Avaliadora 
UFSC 
 
 
Florianópolis, 2022. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus pais Luiz 
Carlos e Márcia e à minha irmã Vitória. 
Obrigada por me aceitarem como sou e 
por todo carinho. 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente a DEUS, por ter ouvido as minhas preces para que eu 
chegasse até aqui, desde a conquista por um lugar nesse curso de graduação até 
minha conclusão. Pelo acalento nos momentos de desespero e incerteza que eu 
pensei em desistir do curso, o que me traria profundo arrependimento. Pela minha 
saúde e pela saúde de todas as pessoas que eu amo, que é basicamente o que me 
possibilita acordar todos os dias. Pela oportunidade de poder recomeçar e reescrever 
a minha história, a cada raiar de sol. 
Aos meus pais, Luiz Carlos e Márcia, que embarcaram nessa aventura de 
gerar e criar um novo ser humano, tão jovens e que com toda certeza, deram o seu 
melhor. Pelo caminho que meu pai me apresentou como o mais fácil e dentro dos 
limites da moral e da ética, para respaldar, financeiramente, a realização dos meus 
sonhos, a vida acadêmica e pelo incentivo infinito da minha mãe visando edificar uma 
filha independente financeiramente, que buscasse crescer e construir sonhos por si 
mesma, Por nunca terem me forçado a nada na minha escolha profissional e pessoal. 
Por orgulharem-se do ser falho que eu sou e por continuarem me amando e me 
orientando mesmo a cada repetido erro que cometo. Por me ensinarem os valores 
mais importantes dessa vida, ou pelos menos, não pouparem esforços para que eu 
enxergasse quais são. Por nunca duvidarem da minha capacidade, mesmo me 
conhecendo e mais cientes do que ninguém das minhas limitações e medos. Por me 
amarem, apesar de minhas falhas, tanto na saúde como na personalidade e terem 
tido que lidar com questões desconhecidas pra eles, as quais muitos pais 
desconhecem. 
À minha irmã Vítória, minha melhor amiga, que me conhece e conhece a 
minha realidade mais que qualquer pessoa. Que sempre foi muito dura e sincera nos 
choques de realidade, mas que também sempre esteve disposta a segurar minha 
mão.. que tão mais jovem que eu, teve que me ouvir e tomar decisões comigo e, que 
com certeza, ficou com o coração apertado por problemas que não eram dela, pelo 
seu traço lindo de personalidade empata. Eu sou profundamente grata por te ter na 
minha vida e, ainda mais, poder dividir um cotidiano com você. Vivermos essa vida 
juntas, foi o que me devolveu o chão muitas vezes. Obrigada por me aceitar como eu 
sou. Conhecer toda minha personalidade e coração e mesmo assim, ver beleza em 
tudo isso. 
 
 
Ao meu orientador, Felipe Daltoé, que antes mesmo de ser o meu 
orientador, já despertava profunda admiração em mim, não só pelas conquista 
acadêmicas e profissionais em tão tenra idade, assim como pela empatia ao ministrar 
a Disciplina de Patologia Bucal. E quando meu orientador, por confiar na minha 
capacidade de desenvolver um trabalho desse porte, com um tema tão interessante, 
porém complexo, cujo conhecimento eu não possuía. Ele foi capaz de me apresentar 
e ensinar, com muita paciência, tudo sobre como construir um trabalho de conclusão 
de curso, assim como me fornecer muito aprendizado acerca de nosso tema em 
nossas reuniões, até muito mais do que eu poderia escrever aqui. Obrigada pela 
compreensão, e por não desistir de mim. O trabalho de um professor é lindo, vocês 
possuem uma responsabilidade enorme de transmitir toda sabedoria que foi reunida 
pela humanidade às próximas gerações, moldam novas mentes que constituirão a 
base de toda essa cadeia de conhecimento infinita e em constante evolução. Sem 
vocês, construir um futuro profissional seria muito difícil ou ouso até a dizer, 
impossível. Além do profundamente deleite à alma advindo da liberdade pessoal, que 
o conhecimento traz consigo. 
Aos diversos servidores dessa universidade que eu tenho tanto carinho, 
aos que eu conheço e que eu não conheço. Independente de quem seja, cada um de 
vocês representa um papel de suma importância na sociedade e desempenha tarefas 
que outras pessoas não seriam capazes de desempenhar. São os recursos humanos 
que fazem uma universidade viver e a todos vocês, meu muito obrigada. 
Aos meu professores da universidade, que em nós, alunos inexperientes, 
despertam tanta admiração e nos fazem questionar se um dia seremos capazes de 
deter tanto conhecimento quanto vocês, mas que também nos incentivam em ousar 
no aprender e não economizam esforços para nos ajudarem e transmitirem sua 
experiência a nós, peças tão brutas e grosseiras, cuja lapidação demanda anos e 
muita paciência por parte dos mestres. Obrigada por nos mostrarem o caminho. 
E finalmente, aos meus professores da escola, que eu guardo e sempre 
guardarei na memória com imenso carinho. Vocês que acenderam a primeira faísca 
da nossa sede de saber, ajudaram a traçar nosso caminho nos apresentando diversas 
disciplinas com as quais tínhamos ou não simpatia. Vocês, com certeza, têm papel 
primordial em nossa escolha profissional e em quem somos quando adultos. 
 
 
 
 
RESUMO 
 
A citometria baseada em luz é um método diagnóstico que consiste em analisar 
amostras obtidas através da citologia esfoliativa, pela mensuração da intensidade do 
pigmento e resistência que este oferece à passagem de luz proveniente do 
microscópio óptico. Dessa forma, gera-se um algoritmo referente a esta resistência à 
luz que categoriza os tipos de alterações genéticas, sobretudo as aneuploidias, e as 
expressa em números através dos índices de densidade óptica integrada (IOD), DNA 
index (DI) e excedentes de 5c, presentes no contingente da amostra. Essa 
mensuração do DNA, provida pela citometria, busca a pesquisa de clones aneuploides 
na amostra, os quais são conhecidos como indicadores primordiais do processo de 
instabilidade genômica e danificação da maquinaria mitótica celular. A presença 
desse fenômeno biológico, após anos de observação e estudo, foi consolidada por 
diversos autores como um fator estimulante da carcinogênese e promotor da piora 
prognóstica em vários aspectos dos carcinomas, em diversos sítios humanos, 
inclusive no carcinoma epidermóide bucal. Essa revisão de literatura foi concebida 
através da pesquisa bibliográfica, realizada principalmente,a partir da base de dados 
“Pubmed”,excluindo qualquer restrição quanto à data de publicação dos artigos 
utilizados e objetivando sempre apresentar as informações mais atuais acerca de 
como a citometria de DNA – sobretudo, a baseada em luz – pode ser utilizada no 
diagnóstico de lesões da cavidade oral. Bem como discutir e exemplificar etapas do 
método, desde a preparação e extração de amostras, até sua análise interpretação 
dos dados obtidos para diagnóstico e consequente impacto nas intervenções de 
tratamento e proservação. Além de demonstrar os valores preditores e propriedades 
de acurácia da citometria de DNA e da biópsia e elucidar quais os principais benefícios 
e desafios da incorporação dessa técnica ao cotidiano clínico odontológico. A 
citometria de DNA, apesar de possuir potencial promissor no que tange ao diagnóstico 
do câncer, ainda carece de estudos que se aprofundem nos campo do câncer oral, 
especificamente. Isso, portanto, justifica a realização desse trabalho, com a 
divulgação e discussão dos conhecimentos consolidados até o presente momento a 
despeito do assunto. 
 
Palavras-chave: aneuploidias; câncer oral; carcinoma epidermóide; análise de 
ploidia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Image based cytometry is a diagnostic method that consists of analyzing samples 
obtained through exfoliative cytology, by measuring the intensity of the pigment and 
the resistance it offers to the passage of light from the optical microscope. An algorithm 
related to this light resistance is generated, which categorizes the types of genetic 
alterations, especially aneuploidies, and expresses them in numbers through the 
indices of integrated optical density (IOD), DNA index (DI) and excess of 5c, present 
in the sample quota. This DNA measurement, provided by cytometry, essentially seeks 
to search for aneuploid clones in the sample, which were reported to be primary 
indicators of the process of genomic instability and damage to the cellular mitotic 
machinery. The presence of this biological phenomenon, after years of observation 
and study, has been consolidated by several authors as a stimulating factor for 
carcinogenesis and a promoter of poor prognosis in many aspects of carcinomas, in 
several human sites, including oral squamous cell carcinoma. This literature review 
was conceived through bibliographic research, carried out especially from the 
“Pubmed” database, without any restriction concerning the articles’ publication’s date, 
always intending to present the most current information about how DNA cytometry –
especially image based – can be used in the diagnosis of oral cavity lesions, as well 
as to discuss and exemplify steps of the method, from the preparation and extraction 
of samples, to their analysis, interpretation of the data obtained for diagnosis and 
consequent impact on treatment and follow-up interventions. In addition to 
demonstrate the predictive values and accuracy properties of DNA cytometry and 
biopsy, and elucidating the main benefits and challenges of incorporating this 
technique into daily clinical dentistry. Despite having promising potential regarding to 
the diagnosis of oral cancer related to DNA cytometry, there are still few studies 
focusing on the oral application of this technic, which justifies, therefore, the realization 
of this work, with the discussion and dissemination of the subject. 
 
Keywords: aneuploidies; oral cancer; ploidy analysis; scamous cell carcinoma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
 
Figura 1 – Sequência do ciclo celular ........................................................................ 20 
Figura 2 – Esquema das fases da mitose ................................................................. 22 
Figura 3 – Variação da quantidade de DNA nas fases da mitose ............................. 22 
Figura 4 – Variação da morfologia celular nas fases da mitose ................................ 23 
Figura 5 – Epitélio estratificado pavimevimentoso paraqueratinizado ....................... 31 
Figura 6 – Epitélio estratificado pavimentoso ortoqueratinizado ............................... 31 
Figura 7 – Epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado.............................. 32 
Figura 8 – Histograma de uma amostra considerada diploide .................................. 44 
Figura 9 – Histograma de uma amostra considerada tetraploide .............................. 45 
Figura 10 – Histograma de uma amostra considerada aneuploide ........................... 46 
Figura 11 – Amostra com DI < 2,3 ............................................................................ 53 
Figura 12 – Amostra com 2,3 > DI < 3,5 ................................................................... 53 
Figura 13 – Amostra com DI > ou = 3,5 .................................................................... 54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://d.docs.live.net/0d8aeeb589075b78/Área%20de%20Trabalho/teste%20sumário.docx#_Toc121191521
https://d.docs.live.net/0d8aeeb589075b78/Área%20de%20Trabalho/teste%20sumário.docx#_Toc121191525
https://d.docs.live.net/0d8aeeb589075b78/Área%20de%20Trabalho/teste%20sumário.docx#_Toc121191526
https://d.docs.live.net/0d8aeeb589075b78/Área%20de%20Trabalho/teste%20sumário.docx#_Toc121191527
https://d.docs.live.net/0d8aeeb589075b78/Área%20de%20Trabalho/teste%20sumário.docx#_Toc121191528
https://d.docs.live.net/0d8aeeb589075b78/Área%20de%20Trabalho/teste%20sumário.docx#_Toc121191529
https://d.docs.live.net/0d8aeeb589075b78/Área%20de%20Trabalho/teste%20sumário.docx#_Toc121191530
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 – Incidência do câncer no Brasil ................................................................. 48 
Tabela 2 – Análise dos valores preditivos e graduação histológica .......................... 52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
DI DNA Index 
DNA Ácido Desoxirribonucleico 
EB Extrato Basal 
FN Falso Negativo 
FP Falso Positivo 
G1 Fase do ciclo celular que antecede a multiplicação 
G2 Fase do ciclo celular de intervalo entre a síntrse e a divisão 
G-ZERO Possível fase de quiescência do ciclo celular 
HE Hematoloxilina e Eosina 
INCA Instituto Nacional de Câncer 
IOD Densidade Óptica Integrada 
M Mitose, fase de divisão do ciclo celular 
MEC Matriz Extracelular 
N Quantidade de DNA haploide 
NPV Negative Predictive Value 
PPV Positive Predictive Value 
R Ponto de Restrição do ciclo celular 
S Fase de Síntese do ciclo celular 
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina 
VPN Rede Virtual Privada 
VPN Valor Preditivo Negativo 
VPP Valor Preditivo Positivo 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14 
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 15 
2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 15 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 15 
3 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 16 
4 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 17 
4.1 A CÉLULA ........................................................................................................... 17 
4.2 MORFOFISIOLOGIA DOS TECIDOS ORAIS ..................................................... 23 
4.2.1 O tecido epitelial ............................................................................................. 23 
4.2.2 O epitélio oral ................................................................................................. 25 
4.2.3 Organização e estratosdo epitélio oral ........................................................ 28 
4.3 ALTERAÇÕES NÃO NEOPLÁSICAS DO EPITÉLIO ORAL ............................... 32 
4.4 ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS DO EPITÉLIO ORAL ........................................ 34 
4.5 CITOLOGIA ESFOLIATIVA ................................................................................. 35 
4.6 CITOMETRIA DE DNA COMO MÉTODO DIAGNÓSTICO ................................. 37 
4.6.1 Guia de termos epidemiológicos .................................................................. 37 
4.6.1.1 Valor preditivo positivo……………………………………………………………38 
4.6.1.2 Valor preditivo negativo…………………………………………………………...38 
4.6.1.3 Sensibilidade……………………………………………………………………….38 
4.6.1.4 Especificidade .................................................. Erro! Indicador não definido. 
4.6.1.5 Falso positivo………………………………………………………………………39. 
4.6.1.6 Falso negativo……………………………………………………………………...39 
4.6.2 Alterações cromossômicas detectáveis ...................................................... 39 
4.6.3 Interpretando os dados obtidos pela citometria de DNA ............................ 42 
4.6.4 Doenças malignas da cavidade oral ............................................................. 47 
4.6.5 Aplicabilidade da citometria de DNA no diagnóstico do câncer oral ........ 49 
5 DISCUSSÃO……………………………………………………………………………...54 
 
 
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 59 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60 
ANEXO A – ATA DE DEFESA ................................................................................. 66 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A citometria de DNA baseada em luz, consiste num método diagnóstico de 
quantificação do conteúdo nuclear de uma célula através do cálculo da resistência 
que o feixe de luz do microscópio óptico defronta ao penetrar amostras de tecido 
coradas em eosina e hematoxilina (HE). Esses coeficientes são expressos em gráfico 
detalhados – conhecidos como histogramas – que são edificados por números de 
índice de densidade óptica integrada (IOD), DNA index (DI) e até excedentes de 5c. 
As células usadas para essa análise são obtidas através dos exame de citologia 
esfoliativa (CHITTURI et al., 2014). Baseado nisso, qual a relevância de uma de um 
método diagnóstico cuja função compete mensurar a quantidade de DNA das 
amostras? E de que forma esse método articula-se à detecção de doenças bucais 
como o câncer? 
Theodor Boveri, biólogo alemão do início do século XX, foi um dos primeiros a 
demonstrar a relação entre a presença de anormalidades do conteúdo de DNA celular 
e a formação de tumores (WATT; SEVER, 2007). Subsequentemente, comprovou-se, 
através de uma série de evidências científicas, que a instabilidade do genoma não é 
somente chave no processo de desencadeamento da carcinogênese, mas também 
confere vantagens de sobrevivência às células tumorais (DANIELSEN; PRADHAN; 
NOVELLI, 2016). Além disso, há uma potencialização da heterogeneidade genética 
do tumor (BAKHOUM; SWANTON, 2014) que, consequentemente, confere 
resistência às drogas convencionais (MCGRANAHAN et al., 2012). Esses fatores 
refletem diretamente na gravidade do curso clínico da doença, opções de tratamento 
complementares e cirúrgicos, dentre outros. Diversas correntes científicas 
demonstraram que alguns status de ploidia anormais, o que conhecemos como 
“aneuploidias”, são característicos do fenômeno de instabilidade genômica de larga 
escala que está ocorrendo no tecido (MEROHTRA, 2013). 
Neste contexto, a detecção da presença desse fenômeno mutagênico 
indicativo de instabilidade genômica, as aneuploidias, comporta-se como um 
biomarcador indubitavelmente relevante, da presença de importantes alterações de 
DNA promotoras da formação do câncer, antes mesmo do surgimento dos sinais 
15 
 
 
 
clínicos ou histológicos relevantes. Além disso, a identificação das aneuploidias no 
DNA tem sido reconhecida como uma ferramenta importante para predição de 
prognóstico em uma gama de malignidades (BAKHOUM; SWANTON, 2014). 
Estudos recentes demonstraram resultados surpreendentes quanto às 
propriedades de acurácia da citometria de DNA no diagnóstico de lesões orais (LI et 
al., 2020; SHI et al., 2020), o que respalda a utilização dessa técnica para 
complementar o diagnóstico clínico e histológico no diagnóstico do câncer de boca. 
Entretanto, apesar da citometria de DNA baseada luz ser amplamente utilizada no 
cotidiano clínico da área médica como coadjuvante no diagnóstico de carcinomas de 
diversos sítios como gastrointestinal, mama, ovário, cérvix uterino, pulmão, dentre 
outros, o mesmo ainda não ocorre na odontologia (SPERANDIO et al., 2013). É 
justamente em virtude da carência de trabalhos se aprofundando e discutindo essa 
técnica no âmbito odontológico que esse trabalho se justifica e se desenvolve. 
 
2 OBJETIVOS 
 
2.1 OBJETIVO GERAL 
Discorrer sobre a citometria de DNA como método diagnóstico na odontologia. 
 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
• Descrever os benefícios que o método proporciona em relação a capacidade 
diagnóstica. 
‘ • Mostrar como interpretar os dados obtidos pelo método diagnóstico, através 
de gráficos e observações. 
• Evidenciar a relação do estadiamento de lesões e prognóstico da doença 
através de dados obtidos pelo método. 
• Relacionar a citometria de DNA a outros métodos diagnósticos 
• Apresentar os desafios que a comunidade científica enfrenta mediante ao 
uso do método. 
• Apresentar diferentes perspectivas e exemplificar o potencial de aplicação do 
método no cotidiano clínico. 
16 
 
 
 
3 MATERIAL E MÉTODOS 
 
A revisão de literatura foi realizada através da pesquisa bibliográfica 
essencialmente online, explorando e selecionando informações em artigos de 
relevância quanto ao tema abordado, na sua maioria em inglês e sem delimitações 
quanto a data de publicação. Similarmente, foram consultados livros e artigos em 
português que contivessem informações a relevantes a despeito do tema. A consulta 
de artigos online foi conduzida sob o suporte da rede de internet privada residencial 
utilizando a rede VPN da universidade ou ainda, na própria universidade, uma vez que 
a mesma possui acesso à principal base de dados utilizada: o Pubmed. Não foram 
estabelecidas quaisquer restrições para a pesquisa de artigos, como data e autoria. 
 Os principais termos inseridos para pesquisa na base de dados foram Image 
based DNA cytometry, aneuploidy in oral câncer, DNA Ploidy with Image Cytometry 
For Detecting Oral Câncer, DNA Ploidy With Image Cytometry In Oral Potencially 
Malignant Disorders, Aneuploidy in Oral Potencially Malignant Disorders, Predictive 
Value of Aneuploidy in Oral Scamous Cell Carcinomas. Já em livros textos e artigos 
em português, pesquisou-se conteúdos esclarecedores no tocante a conceitos de 
patologia geral e bucal, histologia bucal e epidemiologia. 
 Prioritariamente, a escolha dos artigos científicos foi feita pela pesquisa através 
do título de interesse, seguida pela avaliação do resumo e, finalmente, pela leitura do 
artigo em sua integralidade. Após a leitura de cada artigo na íntegra, foram redigidos 
manuscritos de síntese das informações mais relevantes contidas nos artigos. 
Complementarmente, foram consultadas e utilizadas outras plataformas com 
finalidade de pesquisa como sites próprios de instituições e órgãos públicos, de forma 
aleatória, excluindo a utilização das palavras-chave supracitadas. Posto isso, todas 
essas informações coletadas na literatura científica utilizada acerca do assunto de 
interesse, corroboraram para posterior compilação, exemplificação, discussão e 
construção do trabalho 
 
 
 
174 REVISÃO DE LITERATURA 
 
4.1 A CÉLULA 
 
As células constituem a unidade básica da vida e cada uma opera 
independentemente como uma miniatura de um organismo. Elas agrupam-se em 
populações e desempenham diferentes funções e assim formam os tecidos, os órgãos 
e o organismo como um todo. O advento do microscópio óptico de luz, no século XVII, 
em que Hooke observou as paredes celulares da cortiça numa rolha, possibilitou a 
visualização e comprovação de um mundo microscópico e o início do crescimento 
gradual da biologia celular. Entretanto, foi a partir do século XIX que o microscópio 
óptico passou a ser acessível financeiramente às pessoas fora da alta burguesia e 
teve consolidada sua função de observação celular e auxiliar no estudo dessa seara 
biológica (JOHNSON; WALTER, 2010). 
Os organismos vivos possuem uma classificação fundamental de 
complexidade celular e são divididos basicamente em eucariontes e procariontes. 
Essa designação refere-se aos tipos celulares com a existência ou não de um núcleo 
responsável por compactar o material genético celular, respectivamente. Os 
procariontes, seres simples e, na sua maioria, unicelulares, compreendem as 
bactérias e arqueobactérias. Estes são organismos pouco complexos que além da 
ausência de núcleo, também não possuem as microestruturas membranosas 
especializadas encontradas nas células eucariontes, as organelas celulares. Os 
eucariontes compreendem todos os seres com um grau de complexidade acima das 
bactérias e podem ser unicelulares, como em amebas e leveduras, ou pluricelulares, 
como em plantas, animais e fungos (BOUZON; GARGIONI; OURIQUES, 2010). 
Nos eucariontes, existe a presença de um compartimento membranoso que 
circunda as cadeias de DNA e isso faz com que ele esteja separado do restante do 
conteúdo celular distribuído no citoplasma. Ademais, os eucariontes são providos de 
organelas, as quais são estruturas especializadas em determinadas funções celulares 
destinadas à manutenção da vida da célula. Essas estruturas ficam imersas na porção 
entre a membrana plasmática e a membrana nuclear, em um espaço denominado 
18 
 
 
 
citoplasma. As principais organelas são as mitocôndrias, responsáveis pelo processo 
de produção de energia celular e liberação de CO2, conhecido como respiração 
celular; cloroplastos, que possuem a função de possibilitar a fotossíntese e são 
apenas encontrados em células vegetais; retículo endoplasmático, onde há a síntese 
da maioria das moléculas celulares internas ou que serão exportadas; complexo de 
golgi, que opera na condução, encapsulamento e modificação química das 
substâncias sintetizadas e os lisossomos, que são estruturas responsáveis pela 
digestão celular. Além das organelas membranosas, encontramos o ribossomo, que 
é uma organela comum aos procariontes e eucariontes, responsável por síntese 
proteica; a membrana celular, que é formada por uma bicamada lipídica e proteínas; 
estruturas que fazem ligação com células vizinhas como junções intercelulares e os 
desmossomos e o citoesqueleto que compreende-se como um conjunto de filamentos 
dispostos no meio citoplasmático responsáveis pela sustentação e orientação durante 
a divisão cellular (BIBBO; WILBUR, 2008). 
O núcleo presente nas células de organismos mais complexos, constitui um 
compartimento especial para todo o genoma do ser. Esse é formado pelo envoltório 
nuclear, cromatina, nucléolo, matriz nuclear e nucleoplasma. O envoltório nuclear é 
composto por duas membranas separadas centralmente por uma cisterna, possui 
poros e é possível vê-lo no microscópio óptico de luz devido às cromatinas 
condensadas aderirem-se à essa camada que normalmente é invisível sob 
observação microscópica de luz (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013). 
 O conteúdo nuclear de toda célula consiste em sequências de cadeias duplas 
de moléculas de ácido desoxirribonucleico, grupo fosfato e uma base nucleotídica, 
ligadas por pontes de hidrogênio, constituindo assim o DNA. Os segmentos de DNA 
caracterizam genes, que são uma sequência de bases nucleotídicas que ditam a 
codificação de proteínas. Essas informações armazenadas como sequências 
nucleotídicas específicas contendo suas respectivas mensagens de orientação 
biológica, são o que caracterizam os diferentes indivíduos e espécies, ou seja, 
diferentes sequências imprimem diferentes características no ser. 
Subsequentemente, essas informações são passadas para as células filhas, para que 
as mesmas as recebam e armazenem para a posteridade as orientações de como 
19 
 
 
 
essa população celular deve portar-se e assim sucessivamente (BIBBO; WILBUR, 
2008). 
O DNA é uma estrutura polimérica de comprimento abundante, equivalente a 
2 metros de comprimento em cada célula humana. Existem estruturas responsáveis 
e capazes de acomodar algo tão extenso num interior tão diminuto, como no núcleo. 
Isso é possível através de proteínas especializadas em “dobrar”, de forma efetiva e 
estratégica, o DNA, chamadas histonas. Uma vez “compactado” ou “condensado, 
todo o DNA celular é armazenado no interior nuclear e agrupado, em humanos, em 
22 pares de cromossomos. Estes, só são visíveis durante a fase de replicação, pois 
encontram-se no status mais condensado de seus estágios de desenvolvimento. O 
complexo formado pelo DNA enovelado em 4 pares de histonas compondo um 
octâmero, constitui o nucleossomo, que corresponde ao nível de condensação mais 
básico do DNA. Após as proteínas histonas agirem plenamente em sua função 
compactadora, teremos uma redução do comprimento da fita linear do DNA em 1/3 
do comprimento original, por sua vez, formando o complexo compactado do primeiro 
nível fundamental, a cromatina (BOUZON; GARGIONI; OURIQUES, 2010). 
Para a manutenção da vida, a proliferação e diferenciação celulares 
controladas são fundamentais. Dentro desse contexto, chamamos de ciclo celular o 
conjunto dos processos que determinam o status de proliferação da célula. É 
conveniente rever o ciclo celular e suas características no contexto do presente 
trabalho, uma vez que as células apresentam variações da sua quantidade de material 
genético dependendo da fase do ciclo celular. E entender isso se faz necessário para 
distinguir os processos fisiológicos dos patológicos, quando nos referimos às 
alterações nas quantidades de DNA celular em determinadas situações 
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013). 
Dessa forma, vale descrever que o ciclo celular é subdividido, didaticamente, 
em fases, ou etapas (Figura 1). A fase de intérfase constitui o estado celular em que 
não é possível constatar visualmente sinais ou processos de multiplicação da célula, 
ou seja, é considerado como o estado de “repouso” das divisões e subdivide-se em 3 
etapas: G1, S e G2. Nessa fase, é possível observar a duplicação do DNA para 
reconstituir o aporte de material genético celular inicial (2n), uma vez, que o mesmo 
20 
 
 
 
foi reduzido à metade durante a fase de mitose. Na etapa G1, que geralmente é bem 
curta em tecidos de baixo potencial de renovação celular, ocorre a síntese de RNA e 
restauração do volume da célula, uma vez que a mesma fora reduzida à metade 
durante a fase anterior, a mitose. Em tecidos de baixo potencial de renovação, após 
concluir G1, a célula passa para uma etapa de quiescência – chamada G-zero – e 
permanece em repouso multiplicativo por tempo indeterminado ou até que haja algum 
estímulo para retornar ao ciclo celular. É importante salientar, que na etapa G1, ocorre 
uma importante “checagem” do padrão de normalidade da multiplicação celular (ponto 
R, ou ponto de restrição). Se for detectado algum problema nesta etapa, a célula 
cessa o processo de proliferação. Mas, se não houver nenhum problema, dá-se início 
a etapa S, na qual há síntese de DNA e duplicação dos centrossomos e centríolos 
que desempenharão papel crucial na fase de mitose. Finalmente, na fase subseguiste 
denominada de G2, há o acúmulode energia celular e síntese da tubulina que formará 
o fuso mitótico, necessário para a divisão celular propriamente dita, a mitose 
(JOHNSON; WALTER, 2010). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
R 
 
 
 
 
 
É possível observar o ponto de checagem “R”, que é determinante para a continuidade da divisão 
dessa célula em duas células filhas ou não onte: Adaptado de (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013). 
 
Figura 1 – Sequência do ciclo celular 
 
21 
 
 
 
Na mitose, uma célula mãe dá origem a duas células filhas geneticamente 
idênticas à si. A mitose compreende uma série de etapas graduais que contribuem 
para, essencialmente, distribuir os cromossomos maternos duplicados igualmente às 
células filhas. As etapas que compõem o processo de mitose são prófase, metáfase, 
anáfase e telófase (Figura 2). Na prófase, os cromossomos já duplicados, começam 
a condensar-se, o que torna-os visíveis sob observação microscópica de luz. Há a 
fragmentação do nucléolo em inúmeras vesículas que ficam dispersas no citoplasma 
celular, migração dos pares de centrossomos e centríolos um para cada polo da 
célula, além do início do surgimento de centríolos ligando-se a esses cromossomos 
polarizados; na metáfase, os cromossomos polarizados são deslocados para a região 
central da célula através de microtúbulos e ali dividem-se longitudinalmente em duas 
cromátides. Essas cromátides ligam-se aos microtúbulos da célula através de uma 
porção especializada nessa ligação, localizada no centrômero de cada cromossomo; 
na anáfase, os cromossomos filhos deslocam-se para os polos da célula através da 
tração feita pelos microtúbulos celulares ligados a seus respectivos centrômeros; e, 
finalmente, na telófase, há a reconstrução do envoltório nuclear pela fusão das 
vesículas que foram fragmentadas na etapa de prófase, circunscrevendo os 
cromossomos recém duplicados, além da descondensação dos cromossomos e 
retorno ao estado de cromatina. Após a etapa final da mitose, há a conclusão do 
processo de divisão do citoplasma que circundará os novos núcleos, a partir da 
constrição da região central da célula por um anel de actina e miosina disposto sob a 
membrana celular ( JOHNSON; WALTER, 2010; REHMAN er al. 2022). 
 
22 
 
 
 
Figura 2 – Esquema das fases da mitose 
 
É possível observar o ponto de checagem “R”, que é determinante para a continuidade da divisão 
dessa célula em duas células filhas ou não. . Os dois círculos na linha inferior demonstram o final da 
fase de telófase, onde há a separação dos conteúdos nucleares recém sintetizados seguido da 
separação do conteúdo citoplasmático, denominado de citocinese (divisão citoplasmática) 
Fonte: Adaptado de (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013) 
 
Dependendo do estágio do ciclo e de quais fenômenos proliferativos estão em 
andamento, como divisão ou duplicação do material genético celular, a célula pode 
encontrar-se contendo aporte genético em sua forma haploide (n), diploide (2n) ou 
tetraploide (4n). A quantidade de DNA dentro de cada célula irá variar, portanto, de 
acordo com a fase do ciclo celular. Em G1, os cromossomos encontram-se em fios 
simples (quantidade 2n de material genético), sendo então duplicados na fase S 
(quantidade 4n de material genético). Assim permanecem na fase G2, sendo então 
divididos na fase de mitose (REHMAN et al., 2022). (Figura 3). 
 
 
Figura 3 – Variação da quantidade de DNA nas fases da mitose 
 
Gráfico exemplificando a quantidade de DNA contido na célula em cada uma das fases do ciclo 
celular. n, 2n e 4n, representam respectivamente a quantidade de DNA de uma célula haploide, 
diploide e tetraploide 
Fonte: Adaptado de: Tércio Câmara oficina de ciências (2020). 
 
23 
 
 
 
Cada uma dessas fases de divisão celular assume características morfológicas 
peculiares, facilmente identificáveis na microscopia óptica de luz, conforme observado 
na Figura 4: 
 
 
 
Figura 4 – Variação da morfologia celular nas fases da mitose 
 
Aspectos da morfologia celular e nuclear de células epiteliais em diferentes fases do ciclo celular. Em 
(A) é possível observar o aspecto do núcleo celular interfásico, contendo cromatina e nucléolos. Em 
(B), na prófase, há a desintegração dos nucléolos e condensação dos cromossomos. (C) Metáfase, 
os cromossomos estão condensados e dirigindo-se ao centro da célula. (D) Anáfase: os 
cromossomos estão polarizados em cada lado da célula e observa-se início da citocinese 
Fonte: Adaptado de (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013) 
 
4.2 MORFOFISIOLOGIA DOS TECIDOS ORAIS 
 
4.2.1 O tecido epitelial 
 
O organismo humano é formado por aglomerados de células imersos em matriz 
extracelular (MEC) compondo camadas, chamados tecidos, que são classificadas 
segundo sua estrutura, funções e origem embriológica. O tecido que reveste a 
24 
 
 
 
cavidade oral é o tecido epitelial que está presente na cavidade oral como “mucosa”, 
ou seja, “um forramento úmido”, banhado por solução aquosa (KATCHBURIAN; 
ARANA, 2013). Este tecido é composto basicamente por células poliédricas – que 
possuem muitas faces – condicionadas a revestirem superfícies e secretarem 
moléculas, imersas numa porção diminuta de matriz extracelular e conectadas por 
junções intercelulares, ou seja, as células integrantes desse tecido localizam-se 
extremamente próximas umas das outras. Essa conformação do epitélio arquiteta uma 
espécie de barreira física, que é conveniente mediante as funções que competem a 
esse tecido tais como proteção, absorção de íons e moléculas, percepção de 
estímulos, dentre outros (GROEGER; MEYLE, 2019). 
O tecido epitelial, independente de seus subtipos ou particularidades, encontra-
se disposto sobre o tecido conjuntivo. Ambos separam-se por uma interface delgada 
de moléculas denominada lâmina basal – nomenclatura que pode variar entre 
diferentes autores na literatura. Esta constitui uma barreira física responsável por 
mediar a troca de macromoléculas, conferir aderência através de fibras de ancoragem 
entre os dois tecidos e até mesmo influir na proliferação e diferenciação celular 
(BRIZUELA; WINTERS, 2022). O tecido conjuntivo adjacente pode formar projeções 
em direção ao interior epitelial, desde que respeitando o limite e a integridade da 
lâmina basal, formando papilas conjuntivas, variando regionalmente entre alongadas 
e curtas (KATCHBURIAN; ARANA, 2013). Corriqueiramente, é possível observar o 
tecido conjuntivo sob a terminologia de “lâmina própria”, como em Junqueira e 
Carneiro (2013), onde o termo refere-se ao tecido conjuntivo adjacente ao 
revestimento epitelial de órgãos ocos e cavidades, como no sistema urinário, gástrico 
e cavidade oral. 
As células que compõem o tecido epitelial são denominadas “queratinócitos", 
tanto na pele quanto na cavidade oral, mesmo em epitélios desprovidos de produção 
de ceratina (KATCHBURIAN; ARANA, 2013). Essas células organizadas em linhas e 
camadas sobrepostas, ordenam a classificação desse tecido, conforme o número 
camadas de células, que variam desde simples (um estrato), pseudoestratificado 
(encontrado nas vias respiratórias calibrosas) e estratificado (mais de um estrato) e 
segundo a geometria das células justapostas, que podem atribuir formatos variados 
25 
 
 
 
como pavimentoso, cúbico, colunar, dentre outros. Já nos epitélios arquitetados por 
múltiplos estratos celulares, os estratificados, as células atribuem diferentes formatos 
de acordo com a porção e profundidade que localizam-se no tecido. A denominação 
de um tecido de múltiplos estratos celulares é dada pelo formato das células presentes 
na camada mais superficial, podendo variar abundantemente em formas, como já 
discorrido, e até possuir a característica de “transição” – a conformação espacial das 
células da camada superficial modifica-se sob determinadas circunstâncias, como na 
bexiga humana, que altera suas formas celulares quando está “murcha”, ou “cheia”(AZEVEDO et al., 2016). 
 
4.2.2 O epitélio oral 
 
A cavidade oral corresponde à união do vestíbulo – cavidade virtual formada 
pela mucosa localizada anteriormente aos arcos dentários – com a cavidade oral 
propriamente dita – espaço maior que inclui a área posterior aos arcos dentários. A 
cavidade oral é delimitada, portanto, na região anterior pelos lábios, na superior pela 
mucosa do palato mole e duro, lateralmente pela mucosa jugal (bochechas) e, 
posteriormente, pelo istmo das fauces (AZEVEDO et al., 2016). 
A mucosa oral assemelha-se muito ao tecido epitelial da pele, exceto pela 
ausência de anexos como pelos, glândulas sudoríparas e sebáceas além da umidade 
presente sobre as superfícies mucosas promovida pela ação glandular, diferente da 
pele. O tecido epitelial estratificado pavimentoso da mucosa oral é equiparado à 
epiderme da pele; a lâmina própria à derme e, mais profundamente, a submucosa 
encontrada em algumas áreas da boca constituída essencialmente por tecido adiposo 
e glândulas, assemelha-se à hipoderme na pele (BRIZUELA; WINTERS, 2022; 
KATCHUBURIAN; ARANA, 2013). 
 O revestimento mucoso da cavidade oral é constituído de tecido epitelial, 
lâmina própria, não excluindo também a possível existência de submucosa em e 
distintas conforme a localização, função e necessidade de reforço estrutural para 
suportar atritos mastigatórias. Isso pode lhes conferir maior ou menor espessura, bem 
como produção e deposição de certas substâncias que auxiliam na integridade da 
26 
 
 
 
superfície tissular, a exemplo da ceratina, por exemplo. Baseado nisso, pode-se 
classificar o tecido epitelial em três tipos principais: mucosa de revestimento, mucosa 
mastigatória e mucosa especializada (KATCHBURIAN; ARANA, 2013). 
A mucosa de revestimento da cavidade oral está presente no interior dos lábios 
(mucosa labial), ventre de língua, palato mole, mucosa jugal, assoalho e porção lingual 
da mucosa alveolar. Esse epitélio apresenta-se como uma camada tecidual não 
queratinizada, sobrepondo uma lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo na sua 
maioria. A espessura da porção epitelial da mucosa varia de acordo com sua 
localização, como é o caso das mucosas jugal e labial onde encontra-se um epitélio 
mais espesso, contrastante à diminuta espessura do epitélio do assoalho bucal, por 
exemplo (KATCHBURIAN; ARANA, 2013). Em suma, a presença da lâmina própria 
menos fibrosa deve-se a característica de o revestimento epitelial dessas áreas situar-
se sobre porções musculares, portanto, passando a exigir dos tecidos adjacentes uma 
propriedade de maior flexibilidade. Há também de ressaltar a possiblidade da 
existência de submucosas com maior ou menor espessura e constituições variadas 
em cada uma das porções abrangidas pelo epitélio de revestimento, que podem 
conter tecido adiposo e glândulas salivares menores (AZEVEDO et al., 2016). 
 A mucosa mastigatória está presente em gengivas e palato duro. Na mucosa 
do palato duro, é possível observar um tecido epitelial ortoqueratinizado sobre o 
conjuntivo do tipo denso, além de algumas regiões com presença de uma submucosa, 
entre a porção da lâmina própria e o periósteo do osso palatino constituída de tecido 
adiposo, glândulas salivares menores, nervos, vasos e feixes colágenos. Já a 
composição do tecido epitelial pavimentoso estratificado da mucosa mastigatória em 
gengivas pode ser não queratinizada no colo interdental e sulco gengival, 
paraqueratinizado na gengiva livre (ou marginal) e ortoqueratinizado na gengiva 
inserida, além da conter uma lâmina própria de tecido conjuntivo denso (BRIZUELA; 
WINTERS, 2022). 
 A mucosa especializada encontra-se no dorso lingual. A língua é 
formada por feixes musculares esqueléticos sobrepostos e entremeados por lâmina 
própria com rica irrigação, vasos linfáticos, nervos, tecido linfoide e adiposo. A sua 
mucosa de revestimento se projeta em algumas regiões da língua formando 
27 
 
 
 
evaginações na superfície, chamadas de papilas linguais. Estas podem conter células 
e estruturas capazes de realizar a sensibilidade especializada de paladar, chamadas 
botões gustativos – também encontrados no palato mole. As papilas que ficam 
localizadas nos 2/3 anteriores do dorso diferem quanto a morfologia podendo ser: 
filiformes, fungiformes, circunvaladas ou foliadas. Já na base lingual, localizada no 1/3 
posterior do dorso, observa-se uma superfície epitelial irregular devido às tonsilas 
linguais, as quais são aglomerados de tecido linfoide e glândulas mucosas, sob a 
mucosa de tecido epitelial não queratinizado (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013; 
KATCHBURIAN; ARANA, 2013). 
As papilas filiformes, as mais numerosa na língua, encontram-se distribuídas 
praticamente por toda a extensão do dorso lingual e não possuem as estruturas 
responsáveis pela sensibilidade gustativa, entretanto tem alta sensibilidade tátil. São 
formadas por feixes alongados e curvos de tecido conjuntivo denso acompanhado 
pelo revestimento epitelial ortoqueratinizado, distribuídas por toda a língua. As papilas 
fungiformes possuem formato de cogumelos, são revestidas por epitélio 
paraqueratinizado, possuem lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo, alguns botões 
gustativos na sua superfície e encontram-se distribuídas por toda a língua, 
entremeadas às filiformes – porem em menor densidade que estas. As papilas 
circunvaladas, também reconhecidas como valadas ou caliciformes, estão presentes 
no total de 8 a 12 unidades na porção posterior da língua conhecida como "V" lingual. 
Elas são constituídas por epitélio ortoqueratinizado e lâmina própria de tecido 
conjuntivo frouxo. São as maiores papilas em tamanho, possuem maior quantidade 
de “botões gustativos” que as demais e glândulas salivares menores serosas em suas 
bases. Por fim, as papilas foliadas, revestidas pelo epitélio não queratinizado, estão 
localizadas nas rugas linguais na porção latero-posterior e possuem botões gustativos 
embutidos nas suas faces laterais, além de igualmente possuírem glândulas serosas 
(AZEVEDO et al., 2016). 
Os lábios, por sua vez, constituem uma exceção, por deterem variantes 
morfológicas regionais, como já discorrido anteriormente. Na porção externa, são 
revestidos por pele, sendo tecido epitelial ortoqueratinizado característico da 
epiderme, com presença de submucosa repleta de pelos, inúmeras glândulas 
28 
 
 
 
sudoríparas e sebáceas. Já a porção intermediária, conhecida como “vermelhão do 
lábio”, é revestida por um tecido epitelial estratificado pavimentoso discretamente 
queratinizado ou paraqueratinizado, sobre o tecido conjuntivo fibroso. O epitélio dessa 
região é delgado, deixando mais aparente o tecido conjuntivo vascularizado 
subjacente, o que justifica a coloração mais rosada-avermelhada, dessa região. 
Finalmente, a parte interior do lábio, adjacente às faces vestibulares dentais, possui a 
mucosa é revestida por epitélio não queratinizado (mucosa de revestimento), com 
grande quantidade de glândulas salivares menores com lâmina própria contendo 
tecido conjuntivo frouxo (KATCHBURIAN; ARANA, 2013). 
 
4.2.3 Organização e estratos do epitélio oral 
 
Sob observação microscópica óptica de cortes histológicos, podem ser 
identificados quatro estratos principais dentro do epitélio pavimentoso estratificado da 
mucosa oral salvo na porção externa labial, que não é revestida por mucosa, mas sim 
por pele, a qual geralmente apresenta um estrato epitelial adicional, a camada lúcida 
(CARVALHO, 2002). Estes estratos sobrepõem-se um ao outro desde a lâmina 
própria até a superfície da mucosa e denominam-se, respectivamente, basal, 
espinhoso, granuloso e córneo (BRIZUELA; WINTERS, 2022). Em algumas literaturas 
é possível encontrá-los sob a nomenclatura de “camadas”, entretanto, muitos autores 
têm preferência por denominar essas porções epiteliais de “estratos”, uma vez que 
um mesmo estrato pode possuir várias camadasde células com características 
semelhantes e não apenas uma, como subentende-se quando usamos o termo 
“camada” para designá-los (CARVALHO, 2002); 
O estrato basal (EB) também reconhecido por camada germinativa, que contata 
o tecido conjuntivo adjancente, constitui a porção mais profunda do epitélio. Ele possui 
células justapostas, com formato cuboide, núcleo de tamanho e coloração 
pronunciados (CARVALHO, 2002). Esse estrato tissular pode conter de 1 a 3 camadas 
de células sobrepostas e, em casos que sua constituição possui múltiplas camadas 
celulares, chamamos apenas a que está em contato com a lâmina própria de “camada 
29 
 
 
 
basal” e as subsequentes de estrato suprabasal (KATCHBURIAN; ARANA, 2013) ou 
camada parabasal (CARVALHO, 2002). 
Mais superficialmente, encontramos o estrato espinhoso, composto por 3 a 7 
camadas celulares. O nome que designa essa seção celular refere-se ao aspecto dos 
queratinócitos presentes nesse terço epitelial, os quais possuem uma quantidade 
muito superior de desmossomos, além de possuir projeções digitiformes em todas as 
faces de suas células poliédricas, que visualmente assemelham-se a inúmeras 
"pontes", fazendo alusão a "espinhos". É pertinente ressaltar que algumas porções da 
mucosa oral possuem esse estrato epitelial intensamente desenvolvido, ou seja, 
bastante espesso e formado por mais camadas celulares sobrepostas. Como 
exemplo, a gengiva inserida possui um estrato espinhoso constituído por muitas 
camadas, ao contrário da mucosa alveolar e o assoalho bucal, que possuem estrato 
espinhoso bem menos desenvolvido em espessura (AZEVEDO et al., 2016). 
Acima do espinhoso, encontra-se o estrato granular, que possui células um 
pouco maiores às pertencentes ao estrato anterior, embora não seja possível 
visualizar de forma plena na norma bidimensional do corte histológico devido às 
mesmas encontrarem-se achatadas visualizadas por este ângulo. Os queratinócitos 
desse estrato, contêm grânulos envoltos por membrana de um conteúdo composto de 
lipídios, glicoproteínas e enzimas lisossomais (querato-hialina). As células mais 
superficiais do estrato granular liberam seu conteúdo na interface mais superficial, e 
darão origem a queratina. Esta, por sua vez, confere maior resistência a 
permeabilidade do epitélio (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013; KATCHBURIAN; 
ARANA, 2013). 
Finalmente, na porção mais superficial do epitélio de revestimento da mucosa 
oral, encontramos o estrato córneo, constituído por células pronunciadamente 
achatadas, que não possuem mais grânulos, mas sim um citoplasma complemente 
preenchido por ceratina e com a ausência de núcleo e de organelas celulares. A 
abundante quantidade de ceratina acidófila presente nesse estrato, faz com que este 
assuma uma coloração intensamente eosinofílica. A porção córnea do epitélio possui 
características distintas segundo o subtipo de tecido epitelial em que está contida, 
podendo haver ou não queratinização completa. Quando há ceratinização completa 
30 
 
 
 
ele é chamado de epitélio paraceratinizado (Figura 5) e quando não há ceratinização 
completa, chama-se epitélio ortoqueratinizado (Figura 6) (KATCHBURIAN; ARANA, 
2013). 
No epitélio paraceratinizado, é possível observar uma camada córnea acidófila 
de espessura mais discreta e também com a presença de um núcleo de aspecto 
picnótico nos queratinócitos, além dos grânulos do estrato granuloso apresentarem-
se em menor número, dificultando a visualização dos mesmos. Já no tecido epitelial 
não queratinizado, as células do estrato basal possuem menor volume ao 
compararmos com suas correspondentes nesse terço dos tecidos queratinizados, 
além de menores quantidades de desmossomos entre os queratinócitos da camada 
espinhosa, sendo portanto, menos evidenciado o padrão espinhoso (Figura 7). O 
estrato granular e córneo nos tecidos não queratinizados sofrem algumas alterações 
estruturais, sendo substituídos pelas denominações de estrato intermediário e 
superficial, respectivamente. Estes sucedem o espinhoso e achatam-se gradualmente 
conforme a proximidade com a superfície tecidual. Observa-se também a presença 
de raros grânulos membranosos contendo substância lamelar, que serão igualmente 
liberados no meio extracelular conferindo modesta impermeabilidade aos tecidos não 
queratinizados. É possível observar ainda, grande contraste entre as células das 
camadas superficiais dos epitélios queratinizados e não queratinizados. O primeiro 
possui células altamente coradas pela eosina em virtude do depósito de ceratina. Já 
o segundo, possui células da porção superficial nucleadas e com presença glicogênio, 
atribuindo um citoplasma mais claro e aspecto esbranquiçado às mesmas 
(BRIZUELA; WINTERS, 2021). 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Epitélio estratificado pavimentoso paraqueratinizado, com presença núcleos achatados na 
camada córnea e queratina 
Fonte: Adaptada de http://nathaliaschitini.com.br/estruturadamucosaoral/ 
Epitélio estratificado pavimentoso queratinizado ortoqueratinizado com camada córnea 
abundante de ceratina e ausência de núcleos nos queratinócitos superficiais 
Fonte: Adaptado de http://nathaliaschitini.com.br/estruturadamucosaoral/ 
 
 
 Figura 5 – Epitélio estratificado pavimevimentoso paraqueratinizado 
Figura 6 – Epitélio estratificado pavimentoso ortoqueratinizado 
http://nathaliaschitini.com.br/estruturadamucosaoral/
http://nathaliaschitini.com.br/estruturadamucosaoral/
32 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4.3 ALTERAÇÕES NÃO NEOPLÁSICAS DO EPITÉLIO ORAL 
 
 É necessário esclarecer que nem toda alteração morfológica é indicativa de um 
processo neoplásico. Muitas vezes, as células estão alteradas por processos 
completamente benignos, de origem inflamatória, no entanto, microscopicamente, 
podem apresentar semelhanças com tecidos acometidos por doenças importantes 
como o câncer, por exemplo (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013). Dessa forma, elucidar 
e distinguir tais características é necessário para que não ocorram erros de 
interpretação diagnóstica. 
 Geralmente, os processos patológicos não neoplásicos – como infecções ou 
inflamações – refletem em características peculiares nas células e tecidos, e são 
passíveis de distinção pela análise morfológica microscópica por um profissional 
Há ausência dos estratos córneo (produção de ceratina) e granular. Presença 
dos estratos basal, espinhoso e intermediário, com células se achatando 
gradualmente até a superfície tissular, nucleadas e com citoplasma 
esbranquiçado 
Fonte: adaptado de http://nathaliaschitini.com.br/estruturadamucosaoral/ 
 
Figura 7 – Epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado 
http://nathaliaschitini.com.br/estruturadamucosaoral/
33 
 
 
 
qualificado. Entretanto, processos patológicos como as neoplasias – tanto benignas 
quanto malignas – desenvolvem-se gradualmente, e dependendo do momento em 
que o paciente é diagnosticado, poucas características podem estar presentes e 
muitas vezes elas assemelham-se aos processos não neoclássicos supracitados. E é 
aí onde reside o principal desafio: fazer o diagnóstico diferencial entre algumas 
doenças simples e outras mais urgentes e relevantes (JOHNSON; WALTER, 2010). 
 Embora nosso organismo possua parâmetros estruturais e de comportamento 
em cada célula, tecido e órgão considerados fisiológicos, é notável sua hábil 
capacidade de adaptar-se às mais extremas situações. Eventualmente, o organismo 
pode adquirir alterações do padrão de normalidade mediante estímulos que suscitem 
a necessidade de uma adaptação como o estresse fisiológico ou uma ação nociva 
(microorganismos ou radiação, por exemplo) (NEVILLE; ALLEN, 2009). Estas 
modificações viabilizam a sobrevivência celular em condições adversas, e podem 
refletir em alterações de número, tamanho e até mesmodiferenciação celulares, 
incluindo fenótipo. Tecnicamente, essas alterações são denominadas de hipertrofia, 
quando há aumento do volume das células em um tecido; atrofia, quando há 
diminuição desse volume e hiperplasia quando há aumento no número de células. Por 
fim, recebe o nome de metaplasia a célula ou tecido que sofre alterações fenotípicas 
e/ou do seu processo de diferenciação como um todo (GIROUX; RUSTGI, 2017). 
 É importante salientar, no entanto, que, independente de qual comportamento 
adaptativo o estímulo demandar, estes mecanismos de multiplicação, modificação do 
volume e diferenciação celular, encontram-se sob controle do organismo e 
permanecem qualificados a serem interrompidos mediante o cessar do estímulo 
promotor. Já, nas neoplasias, as células não respondem a esses estímulos de controle 
sobre o seu comportamento (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016). 
 Como as alterações adaptativas acima descritas não resultam em alterações 
no DNA celular, o exame de citometria de DNA é capaz de identificar que se tratam 
de células não neoplásicas, apesar das alterações morfológicas que possam possuir 
(número, tamanho e morfologia alteradas). Isso mostra como a técnica de citometria 
de DNA pode ser útil como método adjuvante no diagnóstico das doenças bucais 
(BIBBO; WILBUR, 2008). 
34 
 
 
 
4.4 ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS DO EPITÉLIO ORAL 
 
O câncer consiste, biologicamente, em uma neoplasia maligna. As neoplasias 
e processos adaptativos possuem naturezas extremamente distintas, uma vez que a 
multiplicação celular neoplásica não possui mais sensibilidade aos mecanismos de 
controle celular ou seja, é autônoma e descontrolada (COOPER, 2000). 
Provavelmente a característica mais notável e pertinente num processo 
proliferativo neoplásico que o distingue das adaptações é a sua etiologia, a qual é de 
origem genética, a partir de mutações no DNA capazes de modificar a expressão e/ou 
função de genes imprescindíveis no controle do ciclo celular. Para que o câncer de 
fato se propague, essas mutações não podem ser passíveis de reparo pelo organismo 
– ou seja, tem que perpetuar ao longo da vida da célula – e tem que ser capazes de 
serem transmitidas de uma célula mãe para as suas filhas e assim sucessivamente, 
criando-se uma linhagem de clones neoplásicos. Outras características comuns às 
células neoplásicas é a capacidade de evadir os mecanismos de indução de morte 
celular (apoptose) e escape de detecção pelo sistema imunológico. Com o passar do 
tempo, portanto, haverá uma superpopulação de espécimes celulares tumorais, sob 
o efeito dessa instabilidade genômica (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016). 
O câncer em fases iniciais muitas vezes passa desapercebido à análise clinica 
pois pode não apresentar alterações morfológicas muito expressivas. No entanto, 
microscopicamente, tais alterações comumente podem ser vistas sob a análise óptica 
ou molecular de células coletadas por métodos de diagnóstico como a citologia 
esfoliativa e a biópsia, por exemplo (MEROHTRA, 2013). 
Dentre as principais características morfológicas das células neoplásicas pode-
se citar: pleomorfismo celular e nuclear (células e núcleo com formato irregular); 
células e núcleos aumentados; nucléolos grandes e proeminentes; razão 
núcleo/citoplasma aumentada; núcleos hipercromáticos (corados em escuro); 
disceratose (ceratinização precoce); maior número de mitoses e presença de mitoses 
anormais. Quando analisadas dentro do tecido (análise anatomopatológica de 
material coletado por meio de biópsia) pode-se observar ainda alterações 
morfológicas arquiteturais do tecido tais como cristas epiteliais em formato de gota de 
35 
 
 
 
orvalho; perda da polarização da camada basal e perda da coesão celular (BIBBO; 
WILBUR, 2008) 
Nesse contexto de lesões neoplásicas em fase inicial de desenvolvimento e 
haja visto a importância de atuar no diagnóstico precoce e fazer prevenção em saúde, 
vale salientar a importância de se identificar as lesões pré-malignas, ou seja, 
precursoras do câncer. Essas denotam da presença das atipias celulares e 
arquiteturais acometendo somente parte dos tecidos e recebem o nome de displasias. 
As displasias não são processos adaptativos mas, em teoria, podem regredir quando 
removida a causa. Nem toda displasia formará um câncer mas todo câncer já foi um 
dia uma displasia. É, portanto, em virtude da sua relevância biológica que as 
displasias devem ser identificadas e contextualizaras para, sempre que possível, 
tratado a causa e/ou removido a porção de tecido com essas alterações antes que se 
tornem mais expressivas e descontroladas (LIU et al., 2012). 
As displasias devem, portanto, serem interpretadas como um alerta. As suas 
características morfológicas discretas podem dificultar a sua identificação 
microscópicas mas o início desse processo de instabilidade genômica ocorrendo no 
DNA já pode ser identificado com precisão pelos métodos de citometria de DNA 
(MEROHTRA, 2013). 
 
4.5 CITOLOGIA ESFOLIATIVA 
 
A citologia esfoliativa consiste basicamente em um método diagnóstico que 
envolve a coleta de células descamadas do epitélio, coloração das mesmas e 
visualização sob microscopia óptica de luz a fim de analisar e avaliar a morfologia 
celular. O método de coleta e procassamento – cellblock e aspiração por agulha fina, 
por exemplo – são variados, de acordo com a natureza do material a ser analisado, 
que pode ser tanto sólido, quanto líquido (MEROHTRA, 2013). Com o avanço da 
citologia esfoliativa ao longo dos anos, atualmente a técnica também é vastamente 
empregada em amostras de fluidos corporais que não sejam oriundas do epitélio de 
revestimento, como no exsudato fistular, secreção bronquial e até mesmo no muco 
cervical (BIBBO; WILBUR, 2008). 
36 
 
 
 
Materiais advindos de tecidos moles podem ser coletados através da raspagem 
dos tecidos bucais com hastes de madeira, metal ou plástico munidas de uma 
superfície capaz de alcançar, deslizar e colher células. Posteriormente, na técnica 
convencional, o material será disposto diretamente sobre lâminas histológicas, fixado 
em álcool 95 e submetido à coloração Papanicolau – sequência de soluções que 
incluem Hematoxilina de Harris, álcool, Orange G, Eosina e Xilol. Ou, ainda, a amostra 
a ser analisada pode ser imersa em soluções comerciais fixadoras à base de metanol 
para posterior centrifugação, lavagem, distribuição sobre lâminas histológcas e 
coloração Papanicolau, o que constitui a técnica de citologia esfoliativa em base 
líquida (CARVALHO, 2002). 
 A citologia esfoliativa foi relatada como sendo uma técnica importante de alta 
sensbilidade e especifcidade no que tange ao diagnóstico precoce de lesões epiteliais 
malignas ou potencialmente malignas (DOLENS et al., 2012). O que ressalta o caráter 
de importância da técnica no âmbito do diagnóstico precoce do carcinoma 
epidermoide, uma vez que a grande maioria dos cânceres de boca, irão desenvolver-
se a partir de uma lesão pré-cancerizável de mucosa (THOMSON; HAMADAH, 2007). 
As principais indicações de aplicação da ténica são em suspeitas de lesões epiteliais 
malignas ou pré-malignas; lesões epiteliais amplas ou múltiplas; avaliação da 
evolução de doenças de origem fúngica, viral e neoplásica; análise de lesões que, por 
algum motivo, não podem ser submetidas à biópsia e em conjunto à biópsia, 
rastreando os sítios mais representativos de lesão (MEROHTRA, 2013). 
 No que tange à citometria de DNA, a citologia esfoliativa consiste na etapa de 
coleta e preparação da amostra para posterior análise de sua ploidia. A citologia 
esfoliativa representa o método ideal de coleta de amostras destinadas à análise 
citométrica de DNA baseada em luz, diferente da biópsia. Isso deve-se, 
principalmente, à preparação das amostras da biópsia, em que são realizadas 
pequenas secções de tecido muito delgadas para posterior visualização microscópica. 
Essas secçõesteciduais podem, ocasionalmente, refletirem em amostras de tecido 
com várias células de núcleos partidos e não inteiros, portanto “perdidas”. Isso é 
imensamente desfavorável para uma método que analisa amostras de forma 
37 
 
 
 
quantitativa a partir de propriedades morfológicas do núcleo celular – que deve 
preferencialmente, estar íntegro (OGDEN; COWPE; WIGHT, 2006). 
 
4.6 CITOMETRIA DE DNA COMO MÉTODO DIAGNÓSTICO 
 
4.6.1 Guia de termos epidemiológicos 
 
Os testes diagnóstico são ferramentas científicas que buscam identificar a 
população de sadia ou doente, para a confirmação da hipótese diagnóstica de 
indivíduos suspeitos, progressão ou status da doença e efetividade do tratamento 
(MOREIRA, 2012). Não existe, no entanto, um teste diagnóstico com 100% de 
eficácia, ou seja, capaz de identificar em 100% dos casos todos os indivíduos doentes 
e todos os sadios. Na maioria das vezes, essa identificação será parcial e não total, 
produzindo sempre falsos positivos e falsos negativos. Por este motivo, é necessário 
compreender as características limitadoras dos testes diagnósticos e encontrar o mais 
indicado e seguro para determinada situação clínica, sempre trabalhando com 
probabilidades (FERREIRA; PATINO, 2018). 
Baseado nas informações que a estatística provê acerca da exatidão 
diagnóstica dos testes, é possível avaliar qual o melhor e mais confiável método 
diagnóstico para determinada situação clínica. Quando a intenção é o diagnóstico de 
uma doença, como nos casos de exames de rastreamento, o melhor teste é aquele 
com alta especificidade porque terá mais impacto no valor preditivo positivo. Ou seja, 
se o teste obtiver resultado positivo é muito pouco provável que a pessoa não esteja, 
de fato, doente. Quando a intenção for afastar o diagnóstico de uma doença ou 
condição, como por exemplo, em paciente suspeito de recidiva ou progressão, 
considera-se que o melhor teste deve ter alta sensibilidade porque terá mais impacto 
no valor preditivo negativo. Ou seja, se o teste der resultado negativo é muito pouco 
provável que a pessoa esteja, de fato, doente (DEEKS, 1999). 
Para analisar a eficácia de um método diagnóstico, lança-se mão informações 
epidemiológicos que associam os resultados obtidos no método testado com 
evidências reais da doença. Baseado nisso, vale apresentar a seguir as definições de 
38 
 
 
 
alguns termos que serão utilizados ao longo deste trabalho para designar e mensurar 
situações em seus respectivos contextos (KAWAMURA, 2002). É possível observar 
alguns dos principais termos epidemiológicos e ao que cada um se refere a seguir: 
 
4.6.1.1 Valor preditivo positivo 
 
(VPP): é a probabilidade de um método epidemiológico que apontou positivo para a 
doença de interesse, estar correto e o paciente realmente possuir a doença. Exemplo: 
VPP = 10%, significa que se o resultado do teste for positivo para a doença, existem 
10% de chances de o paciente realmente possuir a doença de fato ou 90% de chances 
de não possui-la, mesmo que o teste acuse positivo (KAWAMURA, 2002). 
𝑽𝑷
𝑽𝑷 + 𝑭𝑷
 
 
4.6.1.2 Valor preditivo negativo 
 
(VPN): é a probabilidade de um método diagnóstico que apontou negativo para a 
doença de interesse, de estar correto e o paciente realmente não possuir a doença. 
Exemplo: VPN: 2,5%, significa que se o resultado do teste apontar para a ausência 
de doença, tem 2,5% de chances de ele estar correto e o paciente realmente ser 
saudável e 97,5% de o paciente possuir a doença (mesmo com o teste negativo, 
apontando para normalidade) (KAWAMURA, 2002). 
𝑽𝑵
𝑽𝑵 + 𝑭𝑵
 
4.6.1.3 Sensibilidade 
 
É a probabilidade de um teste dar positivo e haver a presença da doença, ou seja, a 
capacidade do teste de detectar a presença real da doença (Kawamura 2002; Ferreira 
and Patino 2018). É a divisão do número de verdadeiros positivos pela soma dos 
falsos negativos e verdadeiros positivos (KAWAMURA, 2002). 
𝑽𝑷
𝑽𝑷+𝑭𝑵
 
 
39 
 
 
 
 
4.6.1.4 Especificidade 
 
É a probabilidade de o teste dar negativo e haver ausência de doença, ou seja, a 
capacidade do teste de descartar a doença (acusar negativo) quando ela realmente 
não estiver presente (Kawamura 2002; Ferreira and Patino 2018). É divisão do 
número de verdadeiros negativos pela soma dos falsos positivos e verdadeiros 
negativos (KAWAMURA, 2002). 
𝑽𝑵
𝑽𝑵 + 𝑭𝑷
 
 
4.6.1.5 Falso positivo 
 
(FP): Considerado quando o teste apontou positivo para uma doença, mas o paciente 
não possui a tal doença de fato (FERREIRA; PATINO, 2018; KAWAMURA, 2002). 
 
4.6.1.6 Falso negativo 
 
(FN): Quando o teste aponta negativo para determinada doença, mas o paciente, na 
verdade, possui sim tal doença (KAWAMURA, 2002). 
 
 
 
 
4.6.2 Alterações cromossômicas detectáveis 
 
Os tecidos somáticos humanos, na sua maioria, em condições fisiológicas 
possuem um conteúdo genético composto por dois grupos de 23 cromossomos, sendo 
44 somáticos e 2 sexuais. Por esse motivo, o material genético humano é conhecido 
como sendo em quantidade diploide, representada pela simbologia 2n. A essa 
quantidade de DNA do núcleo individual de uma célula, dá-se o nome de “ploidia” e, 
40 
 
 
 
portanto, considera-se “ploidia alterada”, qualquer célula com quantidade de DNA 
diferente da quantidade diploide (2n). Um exemplo disso são as poliploidias, quando 
ocorrem variações na quantidade do material genético com múltiplos de 2n, e das 
aneuploidias, em que há anormalidades de número e estrutura dos cromossomos 
condicionando um valor de DNA diferente de um número inteiro (como por exemplo 
2n, 4n e 8n) (DANIELSEN; PRADHAN; NOVELLI, 2016). 
 As poliploidias podem ser observadas de forma fisiológica durante a divisão 
celular no intervalo entre as fases G2 e M, em que há a completa duplicação do DNA 
para subsequente divisão celular, conferindo um aporte tetraploide transitório do DNA. 
As poliploidias são encontradas também normalmente em tipos celulares específicos 
como megacariócitos, trofoblastos placentários e hepatócitos e em condições de 
hipertrofia de alguns órgãos submetidos a certas condições como no músculo liso 
uterino e o epitélio glandular mamário durante a gravidez, ou ainda quando a célula 
está sob estresse. Desconsiderando-se essas condições fisiológicas onde a ploidia 
celular pode ser diferente de 2n, as alterações de número e morfologia dos 
cromossomos são normalmente corrigidas durante o ciclo celular, impedindo a 
ocorrência de problemas celulares (DAVOLI; DE LANGE, 2011; OBERRINGER et al., 
1999). 
Entretanto, quando uma poliploidia persiste em situações não fisiológicas ou 
há presença de espécimes celulares aneuploides na amostra, esta variação de 
número e morfologia cromossômica é considerada um indicativo de instabilidade 
genômica de larga escala. Nesse contexto, foi relatada a existência de uma relação 
causa\consequência da ocorrência da instabilidade genômica de larga escala em uma 
população celular. Este fenômeno geralmente manifesta-se na amostra com a 
presença de células com ploidias “anormais” além da “heterogeinidade intratumoral”, 
ou seja, fora do padrão diploide esperado de um tecido humano sadio 
(MCGRANAHAN et al., 2012). 
Além disso, há indícios de que a instabilidade do genoma não é somente chave 
no processo de desencadeamento da carcinogênese, mas também confere vantagens 
de sobrevivência às células tumorais (DAVOLI; DE LANGE, 2011; HANAHAN; A 
WEINBERG, 2011) e de potencialização da heterogeinidade genética presente no 
41 
 
 
 
tumor (BAKHOUM; SWANTON, 2014), consequentemente, confere resistência às 
drogas anti-neoplásicas convencionais (MCGRANAHAN et al., 2012). 
Neste contexto, pode-se dizer que a presença de uma aneuploidia celular 
comporta-se como um biomarcador, indubitavelmente, importante das alterações do 
DNA relevantes para a formação do câncer, principalmentese comparado com os 
indicadores mais usualmente empregados como graduação histológica e marcadores 
moleculares específicos. A identificação das aneuploidias no DNA tem sido 
reconhecida como uma ferramenta diagnóstica importante estatística e clinicamente, 
capaz de estimar o risco para o desenvolvimento de câncer em algum tecidos ou, até 
mesmo, uma previsão de prognóstico de uma gama de malignidades (CHITTURI et 
al., 2014). 
Uma das formas de se avaliar a ploidia celular é por meio do método da 
citometria de DNA baseada em luz. Nessa técnica as células são obtidas por meio de 
citologia esfolitiava ou aspirativa e analisadas em microscópios ópticos de luz. Nestes 
aparelhos são capturadas imagens as quais, por sua vez, são analisadas por 
computadores dotados de algoritmos capazes de mensurar a resistência à passagem 
da luz do microscópio que a coloração da amostra apresentou. Conforme descrito 
anteriormente nesse trabalho, antes da divisão celular, propriamente dita, as células 
necessitam multiplicar seu DNA para posteriormente se dividir e permitir que as 
células filhas recebam partes iguais do seu material genético. Essa quantidade maior 
de DNA pode ser visualizada, sob a microscopia de luz, como um núcleo mais 
densamente corado que os demais. Nesse contexto, a densidade da coloração do 
núcleo celular pode ser interpretada como um indicador da quantidade de material 
genético presente no seu interior. A citometria faz uso destas propriedades de 
resistência a luz mensuração dessa densidade de corante presente no núcleo 
expressando, em números, uma avaliação quantitativa de DNA e, por conseguinte 
uma avaliação de se estão presentes células com maior potencial mitótico celular e/ou 
com potencial carcigênico (DANIELSEN; PRADHAN; NOVELLI, 2016). 
Outra vantagem desse método diagnóstico é o fato dele ser automatizado. Ou 
seja, o método oferece uma análise quantitativa de DNA sem passar pela análise 
42 
 
 
 
morfológica subjetiva do olho humano o qual pode divergir de opiniões por entre 
profissionais que avaliam uma mesma amostra (SHI et al., 2020). 
 
4.6.3 Interpretando os dados obtidos pela citometria de DNA 
 
A primeira proposta registrada do emprego da mensuração quantitativa do 
conteúdo nuclear como forma de avaliar as tendências de transformação 
carcinogênica da célula, demonstrou uma análise estequiométrica da coloração de 
células individuais com dados impressos num histograma (CASPERSSON, 1987). O 
histograma é um gráfico composto, no eixo das ordenadas, por uma sequência de 
números que representa a população celular, em unidades de núcleos relacionados 
com cada intervalo (pico) presente no histograma. Já no eixo das abcissas, há uma 
sequência quantificando o conteúdo genético nuclear expressa em unidades de 
densidade óptica integrada no inglês conhecidas como "integrated optical density” ou 
IOD. O gráfico é sumarizado em categorias pré-estabelecidas de valores de “DNA 
index” (DI). Este refere-se a quantidade de DNA nuclear contido pela população de 
células indicada naquele ponto do gráfico. Dessa forma, o gráfico apresenta diferentes 
linhas que indicam a simbologia de ploidia 2c, 4c, 8c etc, em que a categoria 2c 
expressa o material genético de células diploides (2n) na fase G0/G1 do ciclo celular, 
a 4c, de células tetraploides e assim sucessivamente. Estas categorias da escala de 
ploidia de DNA são dispostas graficamente em colunas acompanhando acima e 
paralelamente o eixo das abscissas e um intervalo expresso numa das categorias da 
escala, refere-se a uma população celular cuja células participantes possuam o 
mesmo valor de conteúdo genético, ou seja, mesmo DI expresso na categoria. Em 
suma, a expressão gráfica dos dados obtidos pela citometria quando analisando uma 
amostra tecidual, o histograma, nos permite visualizar a frequência de populações de 
células com quantidades iguais de DNA no seu núcleo, fornecendo dessa forma, a 
avaliação da ploidia predominante do tecido, presença de traços celulares 
aneuploides e aberrações (GIARETTI et al., 2013). 
Baseado nisso, espera-se que uma amostra de células saudáveis (não suspeita 
de malignidade ao ser examinada durante exame clínico), que supostamente 
43 
 
 
 
contenha, na sua maioria, células diploides, com 23 pares de cromossomos. Neste 
caso o DI será expresso graficamente como o maior e mais predominante pico, na 
posição 2c. A“ altura” do pico, indica a quantidade de células que contém aquele 
respectiva ploidia de DNA em seu núcleo, ou seja, aquele mesmo valor de DI. 
Baseado nisso, quando for condizente com o conteúdo genético de uma população 
ou célula diploide, ele assumirá o valor DI=1. Entretanto, como já discorrido, as células 
humanas podem, fisiologicamente, apresentar conteúdo celular aumentado em 
determinadas circunstâncias, como em certos pontos da ciclo celular, por exemplo 
(BIBBO; WILBUR, 2008; JOHNSON; WALTER, 2010). Por este motivo, podemos 
encontrar, adicionalmente, uma taxa de células da amostra na fase G2/M do ciclo 
celular, que serão expressas no histograma como um outro pico, bem diminuto, na 
posição 4c, com DI=2 (Figura 8) (DANIELSEN; PRADHAN; NOVELLI, 2016). 
Em casos em que a taxa de proliferação celular esteja aumentada - seja por 
um processo inflamatório ou por um processo de carcinogênese em andamento, por 
exemplo – o pico representativo destas células com taxa proliferativa fora do usual 
será expresso entre as posições 2c e 4c e morfologicamente, encontraremos essas 
células na fase S do ciclo celular. Dessa forma, é possível distinguir se os espécimes 
celulares com ploidia fora do esperado expresso no histograma são provenientes de 
um estado de proliferativo aumentado por um processo neoplásico ou por algum fator 
fisiológico (HVEEM et al., 2014). 
 A coloração não uniforme da amostra apresenta-se como fator limitante para a 
sensibilidade da análise da mesma, que no histograma é expresso como uma variação 
do pico (espalhamento na linha do gráfico) ao redor da categoria da posição 2c (Figura 
10), que é denominado coeficiente de variação (cv) que será correntemente >1% (LI 
et al., 2020). 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apesar de haver uma variação na quantidade de material genético nuclear no 
decorrer das diferentes fases do ciclo celular em células sadias e dessa variação 
poder ser ainda maior em um tumor, tem-se criado critérios para classificar quando 
uma amostra de células coletadas é suficiente para classificar um tecido como 
diploide, tetraploide ou aneuploide, por exemplo, para que, a partir deste julgamento, 
seja possível nortear o que se espera do curso clínico e gravidade da lesão analisada. 
Nesse sentido, é possível considerar tumores como tetraploides quando há uma 
população substancial de células na posição 4c e uma população mais discreta na 
posição 8c que se encontram na fase G2/M ou/e ainda se houver mais de 10% dos 
núcleos contendo material genético na posição 4c (Figura 9) (DANIELSEN; 
PRADHAN; NOVELLI, 2016). 
 
 
 
 
IOD (integrated optical density) 
 
. 
 
Histograma de uma população de células saudáveis, na sua maioria diploide. Isso 
se confirma pela visualização do maior pico na posição 2c da escala de ploidia de 
DNA, em verde. Pode-se observar também que do total de células da amostra, 
existe uma pequena população de células com DNA 4c (ponto 1), 
correspondendo provavelmente às células que estão em multiplicação celular, em 
G2/M, no momento da coleta 
Fonte: adaptado de Danielsen, Pradhan, Novelli (2016) 
Figura 8 – Histograma de uma amostra considerada diploide 
45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Algumas amostras tumorais com populações de células em fase G0/G1 podem 
representar picos em posições diferentes das categorias pré-estabelecidas no 
histograma, ou seja, números não inteiros provenientes de 2c (Figura

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