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Livro- Texto - Unidade II Línguas e culturas Latinas

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58
Unidade II
Unidade II
5 O LATIM VULGAR: DEFINIÇÃO
O principal objeto de estudo da linguística histórica é o fato de que as línguas se alteram com 
o passar do tempo. Dessa forma, as línguas humanas não constituem realidades estáticas, porque mudam 
continuamente. Os falantes, de modo geral, não têm consciência de que a língua está sofrendo mudanças. 
Como elas são lentas, é difícil perceber isso na vida cotidiana. Nessa perspectiva, vamos, a seguir, verificar as 
mudanças ocorridas no latim clássico em relação ao latim vulgar.
Mas o que era exatamente o latim vulgar? Segundo Ilari (2001), a palavra vulgar admite 
interpretações distintas:
1. Pode‑se tomá‑la com o sentido pejorativo de reles, baixo, associado à vulgaridade;
2. É possível associá‑la com vulgarismo, nome que ainda hoje os puristas da língua dão às formas e 
expressões que julgam condenáveis por suas conotações populares, provincianas ou arcaizantes.
Ainda de acordo com Ilari (2001), realmente o latim foi uma língua popular. Já na segunda acepção, 
ela não chega propriamente a representar uma língua, pois uma língua é muito mais que um catálogo 
de “erros” que ameaça a pureza da língua literária.
O autor ainda ressalta que as relações entre o latim clássico e o vulgar apresentaram equívocos 
devido à crença de que corresponderam respectivamente ao latim escrito e falado. Essa crença se revela 
falsa quando se lembra de que o latim literário foi uma língua falada e teve um suporte direto na 
expressão coloquial da aristocracia romana.
 Lembrete
A grande diferença entre as duas variedades do latim não é cronológica 
(o latim vulgar não sucede ao latim clássico), nem ligada à escrita, mas 
é social.
As duas variedades refletem duas classes sociais que conviveram em Roma: de um lado, uma 
sociedade conservadora e aristocrática, constituída pela classe dos patrícios; de outro, a plebe, uma classe 
aberta a todas as influências e a elementos estrangeiros.
59
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
5.1 Características do latim vulgar
Veja algumas peculiaridades do latim vulgar de acordo com Ilari (2001):
• em relação ao vocabulário:
— preferência dada às palavras compostas, principalmente expressões perifrásicas: Exemplos: hac 
hora (nunc), vernum tempus (ver);
— emprego frequente de termos representativos de ideias, que eram expressas diferentemente do 
latim literário. Exemplos: caballus (equus), bellus (pulcher).
• em relação à fonética:
— redução dos ditongos e hiatos a simples vogais. Exemplos: arum (aurum), preda (praeda);
— obscurecimento dos sons finais: Exemplos. dece (decem), ama (amat);
— tendência a evitar as palavras proparoxítonas. Exemplos: masclus (masculus), virdis (viridis);
— perda da aspiração representada no latim clássico pelo h. Exemplos: abere (habere), omo (homo);
— confusão entre i e e, sobretudo em hiato. Exemplos: nubis (nubes), aria (area);
— confusão entre b e v. Exemplos: serbus (servus), albeus (alveus);
— pelo acréscimo de um i nos grupos iniciais sl, sp, sc. Exemplos: islare (slare), Ispiritus (spiritu), 
Iscribere (scribere).
• em relação à morfologia:
— redução das cinco declinações do latim clássico a três, proveniente da confusão da quinta com 
a primeira e da quarta com a segunda. Exemplos: dia, ae (dies, ei), fructus, i (fructus, us);
— redução dos casos, tendo‑se conformado, em todas as declinações, o vocativo com o nominativo; 
o genitivo, dativo e ablativo, já desnecessários pelo emprego mais frequente das preposições, 
com o acusativo: Exemplos. cum filios (cum filiis), ex litteras (ex litteris);
— tendência para tornar masculinos os nomes neutros no singular. Exemplos: templus (templum), 
vinus (vinum);
— substituição das formas sintéticas do comparativo e superlativo pelas analíticas. Exemplos: 
plus certus (certior), multum justus (justissimus);
60
Unidade II
— uso do demonstrativo ille, illa, e do numeral unus, uma, como artigos. Exemplos: ille homo, 
unum templum;
— substituição pelo futuro imperfeito do indicativo por uma perífrase em que entrava o infinitivo 
de um verbo e o indicativo de habere, que deu origem ao futuro do pretérito em língua 
portuguesa. Exemplos: amare habeo (amabo), debere habeo (debebo);
— emprego de perífrases, formadas pelo verbo sum e particípio passado de outro verbo, em lugar 
das formas passivas sintéticas: Exemplos: amatus sum (amor), auditus sum (audior).
• em relação à sintaxe:
— preferência pelas construções analíticas. Exemplo: credo quod terra est rotunda (credo terram 
esse rotundam);
— emprego mais frequente de preposições em vez dos casos. Exemplo: liber de Petro (Petri líber).
 Observação
Algumas dessas particularidades mencionadas existiam também no 
latim clássico, porém se acentuaram mais no vulgar.
 Saiba mais
No livro “A Língua de Eulália: novela sociolínguística”, o professor 
Marcos Bagno apresenta e analisa muitos aspectos da língua portuguesa 
atual, considerados como “erros” pela gramática normativa, mas que ele 
relaciona com processos das transformações do latim vulgar, apoiando‑se, 
para tanto, na linguística histórica.
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolingüística. São Paulo: 
Contexto, 2001.
5.2 Fontes de informação sobre o latim vulgar
E como tomamos conhecimento da estrutura e do vocabulário do latim vulgar? As poucas fontes de 
informação são as seguintes:
• alguns trabalhos de gramáticos latinos, que corrigiam várias formas “errôneas”, comuns na época, 
em relação ao latim clássico;
61
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
O Appendix Probi é um documento importante da língua vulgar. No entanto, ele só interessa à 
fonética e à morfologia, e nada à sintaxe do latim. Provavelmente foi escrito em Roma no século III. Não 
é uma gramática, mas uma relação de palavras com a possível correção ao lado.
Veja abaixo alguns exemplos retirados do Appendix Probi:
Porphireticum marmor non purpureticum marmor.
Tolonium non toloneum.
Speculum non speculum.
Masculus non masclus.
Vetulus non veclus.
Vitulus non viclus.
Vernaculus non vernaculus.
Articulus non articles.
Baculus non vactus.
Angulus non anglus.
Iugulus non iuglus.
Calcostegis non calcosteis.
Septizonium non septizodium.
Vacua non vaqua.
Vacui non vaqui.
Cultellum non cuntellum.
Columna non colomna.
Pectin non pectinis.
Formica non furmica.
Avus non aus.
Miles non milex.
Sobrius non suber.
Figulus non figel.
Lanius non laneo.
Barbarous non barbar.
Acre non acrum.
Bravium non brabium.
• obras de comediógrafos, quando apresentam em cena pessoas do povo, falando;
• inscrições legadas por artistas plebeus.
As inscrições são muito importantes para o conhecimento do latim vulgar. Sem elas, seria impossível 
conhecer, em seus vários aspectos, a língua falada pelo povo do Império Romano. É por meio delas que 
sabemos as diferenças regionais do latim, como consequência de sua adoção por povos tão diversos.
É importante salientar que nem todas as inscrições devem ser consideradas para o conhecimento do 
latim vulgar. As oficiais, por exemplo, não são relevantes para o conhecimento dessa modalidade 
62
Unidade II
da língua tampouco aquelas que as pessoas cultas mandaram gravar, porque, nesses casos, apresentam a 
linguagem culta, “correta”.
Entretanto, há outras (a imensa maioria), nas quais estão claramente marcados os traços do latim vulgar.
De grande interesse a essa finalidade, são as inscrições contidas nas tabuinhas execratórias (defixionum 
tabellae). Assim se chamam algumas pequenas tábuas de chumbo, bronze, estanho, mármore ou terracota, 
em que estão inscritas certas fórmulas mágicas de encantamento ou de maldição, que, segundo era crença 
entre o povo, deviam produzir os efeitos desejados contra as pessoas a quem eram endereçadas.
As inscrições a seguir foram coligidas no Corpus Inscriptionum Latinorum, 16 volumes, Berlim, 
1863‑1943. Veja alguns exemplos:
Te rogo que infernales partes tenes, commendo tibi Iulia Faustilla, Marii filia, ut eam 
celerius abducas et ibi in numerum tu abias (DIAZ Y DIAZ, 1950, p. 43).
Tradução:
A ti, quedominas as regiões infernais, peço e encomendo Júlia Faustila, filha de Mário, 
para que a leves mais rapidamente e a conserves aí no número (dos mortos).
Dii iferi vobis comedo si quicua
sactitates hbetes AC tadro [...] Ticene
Carisi quodquid acat quod icidat
omnia in adversa. Dii iferi vobis
Comedo illius membra, colore
Ficura, caput, capilla, umbra, cerebru,
Frute, supercilia, os nasu,
Metu, bucas, labras, verbu [...]
[...] iocur, úmeros, cor, fulmones,
Itestina, vetre, bracia, dicitos,
Manus, ublicu, visica, femena,
Cenua, crura, talos, planta,
Ticidos,
Dii iferi si ilud libens ob aniversariu
Facere dicbus par
Entibus ilius
Peculiu tabesca
Tradução:
Deuses do outro mundo, conto com vocês, se algo de
sagrado tendes [...] Ticene
de Carísio, o que quer que faça que, para ele, dê
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LÍNGUA E CULTURA LATINAS
tudo errado. Deuses do outro mundo, a vocês
entrego as partes do corpo dele, a cor do rosto,
a cara, a cabeça, os cabelos, a sombra, o cérebro,
a testa, as sobrancelhas, a boca, o nariz,
o queixo, as bochechas, os lábios, a fala, [...]
[?] o fígado, os ombros, o coração, os pulmões,
Os intestinos, o ventre, os braços, os dedos,
As mãos, o umbigo, a bexiga, as coxas,
os joelhos, as pernas, os calcanhares, a planta dos pés
(os dedos?)
Deuses do outro mundo, se tudo isso eu vir [...]
Exemplos de inscrições tumulares:
Hoc tetolo fecet Muntana conius sua Mauricio, qui visit com elo annus dodece ET 
portavit annos quarranta. Trasit die VIII KL Iunias. (Tradução: Zélia de Almeida Cardoso).
“Este epitáfio fez para Maurício a sua esposa Montana, que viveu em sua companhia doze 
anos, e tinha ele quarenta. Morreu no dia oitavo antes das calendas de junho (25 de maio).”
Anastacia et Laurentia, puellas Dei, quas nos precesserunt in sonum pacis. (Tradução: 
Zélia de Almeida Cardoso).
“Anastácia e Lourença, filhas de Deus, que nos precederam no sono da paz.”
Entre as inscrições, estão os graffiti de Pompeia. Como se sabe, a cidade foi soterrada no ano 79 d.C. 
por cinzas expelidas pelo Vesúvio, que a cobriram sem, porém, destruí‑la. Assim, Pompeia conservou‑se 
intacta até hoje.
Figura 4 – Vesúvio, vulcão em Pompeia
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Unidade II
Gaius Plinius Caecilius Secundus (61 ou 62 d.C. – 113 d.C.) é famoso principalmente por suas cartas. 
Talvez a mais notável delas seja a carta VI, 16, dirigida a Tácito, seu amigo e outro importante nome da 
literatura latina, na qual descreve a morte de seu tio Plínio, o Antigo. Vejamos alguns trechos dessa carta.
Petis ut tibi avunculi mei exitum scribam, quo verius tradere posteris possis. Gratias ago; 
nam video morti eius si celebretur a te immortalem gloriam esse propositam. [...]
[...] Nonum Kal. Septembres hora fere septima mater mea indicat ei apparere nubem 
inusitata et magnitudine et specie.
Usus ille sole, mox frigida, gustaverat iacens studebatque; poscit soleas, ascendit locum 
ex quo maxime miraculum illud conspici poterat. Nubes – incertum procul intuentibus 
ex quo monte; Vesuvium fuisse postea cognitum est – oriebatur, cuius similitudinem et 
formam non alia magis arbor quam pinus expresserit. Nam longissimo velut trunco elata 
in altum quibusdam ramis diffundebatur, credo quia recenti spiritu evecta, dein senescente 
eo destituta aut etiam pondere suo victa in latitudinem vanescebat, candida interdum, 
interdum sordida et maculosa prout terram cineremve sustulerat.[.
[...] Iubet liburnicam aptari; mihi si venire una vellem facit copiam; respondi studere me 
malle, et forte ipse quod scriberem dederat. [...]
[...] Egrediebatur domo; accipit codicillos Rectinae Tasci imminenti periculo exterritae – 
nam villa eius subiacebat, nec ulla nisi navibus fuga ‑: ut se tanto discrimini eriperet orabat. [...]
Figura 5 – Corpo petrificado em Pompeia
Tradução:
Tu pedes que eu escreva para ti sobre a morte de meu tio, para que possas transmitir 
para a posteridade justamente. Agradeço, pois vejo que uma glória imortal será atribuída à 
morte dele, se for celebrada por ti. [...]
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LÍNGUA E CULTURA LATINAS
[...] No nono dia antes das Calendas de Setembro, por volta da hora sétima, minha mãe 
anuncia a ele que surge uma nuvem estranha pela magnitude e pela forma.
Ele havia tomado um banho de sol, logo depois um banho frio, estava deitado após ter 
se alimentado e estudava; pediu as sandálias, subiu em um lugar do qual pôde enxergar 
ao máximo aquele fenômeno extraordinário. Uma nuvem surgia (era incerto para os que 
observavam de longe de qual monte – se soube depois que era do Vesúvio), cuja semelhança 
e forma pareciam alguma árvore não maior que um pinheiro. Pois, elevada ao alto como um 
tronco longuíssimo, espalhava certos ramos, acredito porque era levada por um vento recente, 
depois era abandonada quando perdia a força ou mesmo vencida por seu peso, dissipava‑se 
pela lateral, ora branca, ora suja e manchada, conforme carregava terra ou cinza.
[...] Ele ordena que o barco seja preparado, dá permissão para que eu fosse junto se 
desejasse; respondi que preferia estudar e por acaso ele mesmo havia dado algo para que 
escrevesse. [...]
[...] Saía de casa quando recebeu uma carta de Rectina, esposa de Tasco, atemorizada pelo 
perigo iminente – pois sua casa ficava aos pés do Vesúvio e não havia outra fuga a não ser 
por barco – na qual pedia que lhe tirasse de tamanho risco. [...]” (Tradução de Beatris Gratti)
Entre outros dados de importantíssimo valor documental sobre a vida antiga, foram preservados 
os graffiti das paredes de Pompeia. Essas inscrições são muito numerosas e diversificadas porque os 
habitantes dessa cidade tinham o hábito de rabiscar paredes com carvão, escrevendo e desenhando.
Figura 6 – Graffiti em casa de Pompeia
Compare os graffiti de Pompeia com os grafitti atuais na Grande São Paulo:
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Unidade II
Figura 7 – Grafite em Ribeirão Pires
Veja na inscrição a seguir (localizada também em Pompeia), uma crítica irônica ao próprio hábito de 
rabiscar paredes, que utiliza, diferentemente de outras inscrições, linguagem literária:
Admiror, paries, te non cecidisse ruinis
Qui tot scriptorum taedia sustineas.
Tradução:
“Admira‑me, parede, que não tenhas desabado,
Tu que aguentas o fastio de tantos escritores.”
A obra Satiricon foi escrita por um dos grandes escritores: Petronius (cerca de 65 d.C.). Ela está 
incompleta, porém há episódios de uma divertida história vivida por três jovens – Encólpio, Ascilto e 
Gitão – e um velho poeta, Eumolpo, que peregrinam por cidadezinhas da região do sul da Itália. Eles 
envolvem‑se em várias peripécias de cunho erótico e um dia participam de uma ceia oferecida pelo 
novo‑rico Trimalquião. A descrição da ceia é muito longa e ocupa várias e várias páginas, sendo uma 
sátira aos costumes da época. Um dos recursos que Petrônio utiliza para caracterizar a personagem do 
novo‑rico é o seu modo de falar, utilizando‑se de formas vulgares cultas demais, com o propósito de 
escapar a uma possível crítica de vulgaridade.
 Saiba mais
Procure assistir à obra cinematográfica baseada nos episódios narrados 
por Petronius:
SATYRICON. Direção: Federico Fellini. França/Itália, 129 minutos, 1969.
Por semelhantes documentos e pelos muitos subsídios que nos fornecem as línguas românicas, 
podemos concluir que eram bem profundas as diferenças entre o sermo vulgaris e o sermo urbanus. 
67
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
Importante para o estudo do latim vulgar são as obras dos escritores da decadência romana, 
principalmente daqueles que escreviam com simplicidade, sem a preocupação da gramática e do estilo, 
como, por exemplo, os autores cristãos.
6 A LITERATURA LATINA
Agora, passaremos ao estudo de grandes escritores da literatura latina, que muito infuenciaram a 
literatura ocidental. Vamos iniciar com o gênero comédia.
6.1 As origens da comédia
Os antigos romanos realizavam procissões religiosas nas quais se dançava e se cantava e, em ocasiões 
especiais, havia cantos dramatizados de caráter licencioso e grosseiro, chamados fesceninos.
Segundo Cardoso (2003), dançarinos etruscos estiveramem Roma em 394 a.C. para realizarem 
uma cerimônia de invocação de proteção dos deuses em razão de uma epidemia que assolava a 
cidade. Os dançarinos fizeram uma sessão de danças gestuais, acompanhadas de música de flauta. 
Depois dessas performances, os romanos começaram a imitá‑los, misturando cantos e brincadeiras 
satíricas e danças gestuais. Nascia então a satura, possivelmente a primeira manifestação do teatro 
romano propriamente dito.
Lívio Andronico, Névio e Ênio se inspiraram na comédia nova, modalidade teatral que se desenvolveu 
na Grécia no século IV a.C. Essa comédia trata de fatos engraçados do dia a dia, ocorridos entre pessoas 
das várias classes sociais. Baseando‑se nos textos escritos pelos autores que se dedicaram à comédia 
nova, os comediógrafos romanos praticavam a contaminatio (contaminação), fundindo numa única 
peça duas ou mais obras gregas.
Os romanos gostavam da comédia para entreter o público e muitas delas eram realizadas no Coliseu 
ou em outras arenas destinadas às lutas entre gladiadores. Elas geralmente eram apresentadas antes das 
batalhas. Dessa época, datam as comédias de Plauto e de Terêncio.
As comédias romanas apresentam personagens tipos, semelhantes àqueles das comédias gregas e 
possuem também estrutura similar a elas.
Plauto (Titus Maccius Plautus – 250? – 184? a.C.)
Plauto desempenhou várias funções nas artes cênicas. Conta‑se que ele era um escravo de guerra 
que aprendeu a profissão de carpinteiro. Inclusive, em suas peças, mostra‑se a situação dos escravos em 
Roma. Atribuiu‑se a ele a autoria de mais de cem comédias. Vinte e uma resistiram até a época atual, 
conservando‑se quase na íntegra: Anfitrião, Os burros, A marmita, Báquides, Os prisioneiros, Cásina, 
O cofre, O gorgulho, Epídico, Os menecmos, O mercador, O soldado fanfarrão, O fantasma, O persa, 
Psêudolo, A corda, O trinumo, Truculento, A valise e O cartaginês.
68
Unidade II
As personagens de Plauto têm nomes gregos, vivem em cidades gregas, mas agem como os romanos. 
Devido a esse ponto de vista do autor, as comédias de Plauto têm mais valor social e histórico do que 
as de Terêncio, ao descrever a vida romana. Em O cartaginês, por exemplo (escrita na época da segunda 
guerra de Roma contra Cartago), há uma detalhada descrição dos cartagineses, inimigos dos romanos.
Em Anfitrião, Plauto trata da lenda mitológica sobre o nascimento de Hércules, construindo uma 
trama em que Júpiter, apaixonado por Alcmena, esposa de Anfitrião, adquire as feições do marido ausente 
e seduz a bela mulher. Isso causa uma série de confusões apresentadas com humor. Misturam‑se cenas 
cômicas e sérias, caracterizando‑lhe como tragicomédia além de ainda haver muitos trechos cantados. 
Obtendo grande popularidade, essa peça de Plauto serviu de modelo para Camões (Auto dos Enfatriões) 
e Molière (O Anfitrião).
Os Menecmos é uma comédia em que também se explora a confusão provocada pela semelhança 
entre pessoas. Um jovem de Siracusa, Menecmo, chega a Epidano após ter percorrido toda a Grécia à 
procura de um irmão gêmeo desaparecido na infância. Ao desembarcar na cidade onde vivia o irmão, 
começa a ser confundido com ele pelas pessoas que moram no local. Há uma série de engraçadas 
confusões que levam, finalmente, ao conhecimento da verdade. Shakespeare se baseou nessa peça para 
escrever A comédia dos erros.
A marmita (Aulularia) é a história de um velho avarento, Euclião, que encontra na lareira de sua casa 
uma marmita cheia de moedas de ouro ali escondida anos atrás por seu avô. Euclião esconde o que 
achou, mas ela acaba sendo descoberta por um escravo de Licônes, que seduzira, alguns meses antes, 
a filha do avarento. Ao saber que seu próprio tio pedira a moça em casamento, Licônes resolve reparar 
seu erro, desposando‑a. O escravo devolve a marmita a Euclião e ele a oferece aos jovens namorados.
Segundo Cardoso (2003), como comédia de intriga, a peça apresenta duas ações: uma voltada para 
as peripécias e confusões de Euclião, surgidas depois de ele haver encontrado a marmita cheia de ouro 
e a outra ação é centrada na história de amor de sua filha, grávida de Licônes, e que será pedida em 
casamento por Megadoro, sem que este e seu futuro sogro saibam da gravidez da moça.
Os dois enredos são independentes um do outro, mas se encontram entrelaçados, já que seus 
principais incidentes (o roubo da marmita e a confissão de Licônes), vão se combinar, no fim da história, 
para solucionar o problema de Euclião, de sua filha e do rapaz que, com a ajuda da mãe, levará o 
tio a desistir do casamento. Nesse momento, já ciente do drama dos dois jovens e da desistência de 
Megadoro, Euclião concede a filha em casamento a Licones e dá ao casal a marmita recuperada.
Esse final feliz, mostrando que o protagonista tem desprendimento aos bens materiais, não consta 
da Aulularia original. É de autoria de Codro Urceo, um latinista do século XV, que refez o último ato, com 
base nos argumentos, no prólogo e no IV fragmento da peça, que chegou até nós incompleta, contendo 
apenas fragmentos de sete versos.
69
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
 Lembrete
Como você já deve ter percebido, o enredo das peças de Plauto é 
engraçado, cheio de surpresas e reviravoltas. A gestualidade é muito 
explorada, em cenas de correria e pancadaria. O caráter caricatural e 
exagerado das personagens também contribui para o riso.
A linguagem de Plauto também é um recurso cômico. Os nomes das personagens são muitas vezes 
estranhos e engraçados. Ele cria aliterações e repetições cheias de comicidade e trocadilhos, muitas vezes 
reponsáveis por inúmeras confusões. Todos esses recursos contribuíram para a popularidade desse autor 
que, mesmo seguindo o modelo das peças gregas, apresenta elementos muito originais em suas peças.
Cardoso (2001) afirma que os cenários e os temas são gregos, mas há um “processo de romanização” 
em suas peças, pois deuses romanos são evocados, coexistindo com divindades gregas. Além disso, 
algumas personagens têm os nítidos traços de personalidade que caracterizaram o povo romano.
 Observação
A criação de Plauto permanece na história da literatura e do teatro na 
cultura ocidental. Esse autor foi muito apreciado por Shakespeare, Molière 
e muitos escritores que fizeram imitações e adaptações de suas comédias.
 Saiba mais
A marmita inspirou a peça de Molière chamada O Avarento, além de 
influenciar O santo e a porca de Ariano Suassuna.
Ariano Suassuna nasceu na Paraíba em 1927, formou‑se em Direito e foi 
professor na Universidade Federal de Pernambuco. Paralelamente, dedicou‑se ao 
teatro popular do Nordeste. Suas peças mais famosas são O auto da compadecida 
e O santo e a porca, esta última encomendada pela atriz Cacilda Becker.
Procure pesquisar e também fazer uma leitura das peças de Suassuna 
para que se conheça mais desse grande autor brasileiro.
SUASSUNA, A. O auto da compadecida. Rio de Janeiro: Agir, 2005.
SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002.
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Unidade II
Terêncio (185 – 159 a.C.)
Terêncio era um estrangeiro de origem africana. Suas comédias são mais sutis que as de Plauto, 
mostrando que foram escritas para um público refinado e culto.
O tom romano que impregna as comédias de Plauto desaparece em Terêncio, cujas peças são muito 
helenizadas. Os próprios títulos das comédias são em grego como Adelphone (Os irmãos) e Hecyra 
(A sogra). As intrigas das peças de Terêncio não variam muito. O autor prefere histórias de jovens de boa 
família que se apaixonam por belas escravas contra a vontade dos parentes.
O enredo de suas peças, entretanto, é apenas um ponto de partida para vários tipos de reflexões que 
propoprcionam ao texto um tom moralizante. Por exemplo, na peça Os dois irmãos, são apresentados 
dois velhos irmãos, e um deles entrega ao outro um de seus filhos para que seja criado. Porém, eles 
encaram a educação de forma diferente. O pai do joven vive no campo e dá aos filhos uma educação 
severa e rígida; o outro, solteiro, vive na cidade e educao sobrinho com extrema liberalidade. Após 
muitas peripécias, tudo termina bem, após os fatos se esclarecerem com a ajuda do tio.
6.2 Historiografia
Catão
Catão foi um historiador, orador e erudito. Embora seus textos não possam ser considerados 
totalmente literários, sua linguagem é quase sempre da poética latina, com ritmo melódico, vocabulário 
selecionado, figuras e elementos ornamentais.
Autor de numerosas obras de erudição, escreveu Sobre a agronomia (De agri cultura) e preocupou‑se 
com o tema da evasão do camponês, que procurava a cidade, despovoando a região rural. Catão via no 
cultivo da terra uma forma de ampliar a riqueza da pátria.
Na primeira parte do livro, refere‑se à exploração do solo, aos deveres do proprietário de terras, ao cultivo 
da vinha e da oliveira e aos instrumentos agrícolas. Na segunda parte, apresenta as precauções que devem ser 
tomadas contra as inundações e propriedades medicinais de algumas plantas, fornecendo receitas práticas, 
inclusive fórmulas mágicas e encantamentos. Possui um estilo conciso, com frases curtas e incisivas.
6.3 Poesia filosófica
Lucrécio (Titus Lucretius Carus – 99 – 55 a.C.)
Lucrécio foi um poeta e filósofo latino que viveu no século I a.C e pouco se sabe da sua vida. É 
provável que tenha nascido em Roma, onde foi educado. A única obra que compôs foi o poema Sobre a 
Natureza (De rerum natura), publicada após sua morte por suicídio em 55 a.C.
O autor procurou reproduzir em versos toda a doutrina de Epicuro, filósofo grego que vivera em 
Atenas entre os séculos IV e III a.C. Epicuro quis demonstrar que a felicidade do homem consiste no 
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LÍNGUA E CULTURA LATINAS
prazer, ou seja, na ausência de dor para o corpo e de perturbações para a alma. Só se chega, entretanto, 
a essa paz interior, quando o espírito se liberta de seus medos maiores: dos deuses e da morte.
Segundo Cardoso (2003), para libertar o homem desses medos, Epicuro mostrou que os deuses 
existem, mas não interferem na natureza e, portanto, na vida do homem e que a morte é um fenômeno 
natural, sendo a vida após a morte ilusória, já que o espírito é material e mortal.
Epicuro baseia‑se nas teorias físicas de Demócrito, fundamentadas no atomismo. Essa doutrina defende 
a ideia de que nada se destrói: tudo se reintegra no universo, que é constituído de partículas mínimas e 
indivisíveis (os átomos), agrupando‑se em combinações e formando os seres animados e inanimados.
Composto por seis cânticos, esse poema começa evocando Vênus, princípio de toda a vida; em 
seguida, expõe as leis de Demócrito e de Epicuro a respeito do universo e termina mostrando as etapas 
que o homem e a civilização devem percorrer antes de alcançarem a sabedoria.
Veja a seguir um trecho desse poema:
Mimosa Vênus, mãe da eneide. Roma,
Prazer dos homens e numes! Tu alentas
Os astros, que dos céus no âmbito giram,
As férteis terras, o naval oceano.
Por ti, todo animal recebe a vida!
Logo ao nascer, na luz do sol atenta...
 Lembrete
Utilizando recursos poéticos, Lucrécio descreve fenômenos da natureza, 
explicando‑os por meio de causas naturais, pois, segundo ele, a filosofia 
precisa libertar os homens das superstições e do medo dos deuses.
Muitos estudiosos concordam em considerar a obra de Lucrécio como o maior poema filosófico de 
todos os tempos.
 Observação
Em sua obra, Lucrécio apresenta a teoria de que a luz visível seria 
composta de pequenas partículas. Muito consistente, é uma espécie de 
visão antiga da atual teoria dos fótons.
Lucrécio também sustenta a ideia da existência de seres vivos que, 
apesar de invisíveis, teriam a capacidade de causar doenças. Essa ideia 
representa a base da microbiologia.
72
Unidade II
6.4 A retórica
Dedicando‑se muito cedo à oratória política e jurídica, os romanos, práticos por natureza, não se 
descuidaram da formação dos oradores, procurando fornecer‑lhes elementos que os capacitassem para 
o desempenho de suas atividades. Para isso, foram criadas escolas de retórica, cujas características se 
diferenciavam de uma para outra, conforme a época e a moda do momento.
Já Aristóteles, na Grécia, havia mostrado a ligação da retórica com a persuasão, desvinculando‑a da 
noção de verdade. Assim, é no mundo da opinião que são tecidas as relações sociais, políticas e econômicas.
Como consequência do trabalho realizado nessas escolas, começaram a surgir, desde o início do 
século I a.C., os primeiros tratados de retórica – obras que estabeleceram os princípios do “falar bem”.
Marco Antônio (143 – 87 a.C.), político, orador e um dos mestres de Cícero, foi provavelmente um 
dos primeiros tratadistas, escrevendo Sobre a razão de falar (De ratione dicendi), texto em que procurou 
demonstrar como deveria ser formado o orador eficaz.
Figura 9 – Escola de Atenas. À porta, Aristóteles e Platão. Afresco de Rafael
Cícero (106–43 a.C.)
Cícero tornou‑se famoso como advogado em Roma. Seus ideais políticos o fizeram um enérgico 
defensor do regime republicano e da constituição.
Em 63 a.C., Cícero elegeu‑se cônsul, representando o partido aristocrático. Venceu seus adversários, 
Crasso e César, que eram apoiados por Catilina. Por ter sido derrotado nas eleições seguintes, Catilina 
preparou uma conspiração e seus planos incluíam o assassinato de Cícero e o incêndio de Roma. No 
meio do caos, ele pretendia tomar o poder, mas a conspiração foi descoberta. Sendo apoiado pelo 
Senado, que lhe deu poderes especiais, Cícero desmascarou Catilina, com um discurso que ficou célebre. 
Mais tarde, com provas escritas, Cícero fez com que os partidários de Catilina fossem aprisionados e 
depois executados em Roma. Os que escaparam – uns 3000 – foram liquidados na Etrúria, inclusive o 
próprio Catilina.
73
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
Para Cícero, o discurso não devia apenas dizer alguma coisa: devia ensinar e comover o auditório, 
além de agradar a ele.
Sobre o orador (De oratore) é composto em forma de diálogo, como se fosse uma conversa entre 
Antônio e Crasso, dois antigos mestres de Cícero. O primeiro considera a cultura geral como o principal 
requisito: o orador deve ser dono de grande saber; já o segundo, julga que a prática de eloquência é mais 
importante. Também argumentam sobre as qualidades exigidas por quem vai dedicar‑se à arte oratória, 
além de fazer reflexões sobre a estrutura do discurso.
Leia a seguir a tradução de um trecho dessa obra:
[...]II. Visto que, efetivamente, a eloquência consta de palavras e de ideias, deve‑se lograr 
que, falando pura e corretamente, isto é, latinamente, sigamos de perto a elegância dos 
termos, ademais tanto os próprios como os translatos; nos próprios, que escolhamos os 
mais distintos; nos translatos, que deles usemos seguindo rigorosamente a similitude. 
5. E existem precisamente tantos gêneros de ideias quantos eu disse existir de méritos; assim, 
as ideias do instruir são agudas, as do deleitar são, por assim dizer, argutas, as de comover 
são graves. Das palavras existe uma estrutura que produz dois efeitos, o ritmo e a leveza; as 
ideias, por sua vez, têm sua composição, a ordem apropriada ao que deve ser demonstrado. 
Mas disso tudo a memória é, por assim dizer, o fundamento, como o dos edifícios; a ação, a 
luz. 6. Será, pois, perfeito orador aquele no qual isso tudo for sumo; medíocre aquele no qual 
for médio; o pior aquele no qual for mínimo. E todos serão chamados oradores, como são 
chamados pintores mesmo os maus, e não em gêneros, mas em capacidades, diferirão entre 
si. Assim, não é orador quem senão queira semelhante a Demóstenes. Porém Menandro não 
se quis semelhante a Homero; ora, o gênero era outro. Isso não existe entre os oradores, ou, 
se é que alguém, buscando a gravidade, fuja à sutileza, outro, pelo contrário, se queira mais 
agudo que ornado, mesmo estando em gênero tolerável certamente não está no melhor, se 
em verdade o que possui todos os méritos é o melhor. (Tradução Clóvis Luiz Alonso Júnior)
As Filípicas são discursos em que Cícero ataca violentamente a vida particular epública de Marco 
Antonio, o triúnviro. Escritos sob a forma de panfletos e divulgados em toda a Itália, esses discursos 
(que não chegaram a ser proferidos em sua totalidade), marcaram o fim da carreira oratória e política 
de Cícero, sendo os responsáveis por sua condenação e morte.
Quintiliano (30 d.C. – 95 d.C.)
Quintiliano foi advogado e proprietário de uma famosa escola de retórica, fundada por volta do 
ano 70 de nossa era.
74
Unidade II
Escreveu um grande tratado em doze livros, A Instituição Oratória (Institutio Oratoria). Embora 
extensa, a obra de Quintiliano tem um objetivo único: apresentar o necessário para a formação do 
orador. Segundo seu ponto de vista, o orador deve ser “o homem de bem, capaz de discursar”. A partir 
de tal ideia, desenvolve‑se toda a teoria de Quintiliano.
No livro I, trata do futuro orador, falando sobre a alfabetização. Para Quintiliano, esta se inicia com 
o conhecimento das letras e o material didático deve ser adequado aos interesses da criança. As frases 
apresentadas para leitura devem sempre transmitir algum ensinamento. Os versos devem ser ensinados 
desde cedo e a leitura deve ser ministrada como se fosse um jogo.
Além disso, o autor trata também da natureza da retórica e da formação geral do orador. Nas 
entrelinhas, depreendem‑se muitos aspectos da visão de Quintiliano sobre o estado, as sociedades 
humanas e os deuses. Ele defende a necessidade, para o orador, de um conhecimento mais enciclopédico 
possível, que extrapole o simples conhecimento da gramática. Esta, juntamente com a retórica, a 
dialética, a aritmética, a música, a geometria e a astronomia constituíam as chamadas artes liberales 
que formariam, posteriormente, o trivium e o quadrivium medievais.
Apresenta‑se, a seguir, um trecho da obra de Quintiliano, em que ele cita Empédocles (médico e 
filósofo do século V a.C), Varrão (o grande erudito da época de César, autor de muitos estudos sobre o 
latim, que em grande parte estão perdidos) e Lucrécio (autor do poema filosófico De rerum natura).
Nec poetas legisse satis est: excudiendum omne scriptorum genus, non propter historias 
modo, sed uerba, quae frequenter ius ab auctoribus sumunt. Tum neque citra musicen 
grammatice potest essere perfecto, cum ei de metris rhythmisque dicendum sit, Nec, si 
rationem siderum ignoret, poetas intellegat, qui, ut alia mittam, totiensortu occasuque 
signorum in declarndis temporibus utuntur, Nec ignara philosophiae, cum proppter plurimos 
in omnibus gere carminibus locos ex intima naturalium quaestionum subtilitate repetitos, 
Tum UEL propter Empedoclea in graecis, Varronem ac Lucretium in Ltinis, qui praecepta 
sapientiae uersibus tradiderunt. (Instituição Oratória – Livro Primeiro).
“Mas não basta ler os poetas: todo tipo de escritores deve ser estudado, não apenas 
pelo conteúdo de suas obras como pelas suas palavras, que amiúde recebem o aval dos 
que a empregam. Além disso, a gramática não se pode considerar perfeita, prescindindo da 
música, pois o gramático deve tratar de metros e ritmos, e, se ignorar a astronomia, não 
compreenderá os poetas, os quais – deixando de lado outras coisas – servem‑se tantas vezes 
do nascimento e do ocaso dos astros para veicular a ideia de tempo. Não pode a gramática, 
igualmente, ignorar a filosofia, tendo em vista que numerosas passagens de muitos poemas 
se baseiam na mais profunda sutileza da filosofia natural. De mais, entre os gregos temos, 
por exemplo, Empédocles, e entre os latinos Varrão e Lucrécio, que transmitiram princípios 
filosóficos em versos. (Tradução Marcos Aurélio Pereira).”
75
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
 Saiba mais
Nessa obra, Quintiliano enfatiza a relação entre várias disciplinas. 
Essa é uma ideia muito presente na pedagogia atual. Pesquise a respeito 
da interdisciplinaridade nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) 
no site do MEC: 
http://www.mec.gov.br
6.5 A poesia lírica e a poesia épica
Catulo (84 – 52 a.C.)
Catulo nasceu em Verona em uma família respeitável e rica. No entanto, a vida desregrada e cheia de 
prazeres fez com que ele perdesse a fortuna e morresse jovem, antes dos trinta anos. Educado em Roma, 
iniciou sua carreira literária escrevendo poemas e panfletos políticos, sátiras a personagens da época, 
inclusive Júlio César e Pompeu, além de recriações mitológicas e temas eróticos.
Seus textos mais considerados foram os que tratam de experiências pessoais como a morte do irmão e vinte 
e cinco poemas dirigidos a uma mulher, em que retrata excepcionais declamações de ternura e sentimento.
Sua poesia influenciou os elegíacos latinos Tíbulo, Propércio e Ovídio, dos quais pode ser considerado 
precursor, e foi admirado por poetas do nível de Virgílio e Horácio.
A obra de Catulo (87‑84 – 54‑52 a.C.) consiste numa coletânea de 116 poemas (Carmina) que se 
organizam em três grupos distintos. O primeiro compreende os sessenta primeiros poemas e em muitos 
deles, Catulo se dirige a uma musa inspiradora, à qual dá o nome de Lésbia.
Vivamos, minha Lésbia, e amemos
E atribuamos o valor de um níquel
Às murmurações dos velhos mais severos.
Os sóis podem morrer e retornar
Mas, quanto a nós, quando a breve luz se vai,
Só nos resta dormir uma noite sem fim.
Dá‑me mil beijos, e depois mais cem,
Depois mais outros mil, depois mais cem,
Depois mais mil ainda e ainda cem.
(Catulo. 5, 1‑9)
Em outros poemas, existe amargura, desencanto e tristeza:
Pobre Catulo, deixa de ser louco
E considera perdido o que vês que se perdeu,
76
Unidade II
Brilharam‑te outrora belos dias de sol
Quando corrias para onde te levava uma garota
Mais amada por ti do que nenhuma o será.
Muitas brincadeiras realizavam‑se então.
Aquilo que desejavas, a garota também queria,
Brilharam–te, realmente, belos dias de sol.
Agora ela não quer mais, deixa, também de querer.
Não persigas quem te foge, não viva como infeliz.
(Catulo. 8, 1‑10)
O segundo grupo de poemas (61–68) compõe‑se de oito peças relativamente longas. Todos esses 
textos são construídos de acordo com uma linguagem ornamentada, abundância de figuras e requinte 
na composição de imagens.
O pequeno trecho a seguir mostra de forma evidente a excessiva preocupação com os aspectos 
formais, o que caracteriza os poemas desse grupo.
Assim como o Zéfiro, quando a Aurora desponta
No limiar do Sol errante, encrespa o plácido mar
Com seu sopro matinal e incita as ondas dóceis,
E elas se alongam, a princípio lentamente,
Impelidas pelo ar manso, e o marulho ressoa
Com o agitar‑se das águas, mas depois, quando o vento aumenta,
Inflam‑se mais e mais e, debatendo‑se,
Refulgem ao longe com brilhante luz purpúrea,
Assim os hóspedes, deixando o palácio real,
Partiram para seus lares, cada um por seu caminho.
(Catulo. 64, 269‑278)
O terceiro grupo apresenta apenas epigramas e dísticos elegíacos. Alguns são dirigidos a amigos e 
pessoas da sociedade romana da época.
Segundo Cardoso (2003), Catulo foi um dos maiores líricos romanos. Soube combinar brincadeira 
e seriedade, ironia e sentimentalismo, o estilo elegante, caracterizado pela riqueza vocabular e pela 
abundância de figuras e a linguagem popular, repleta de modismos, de diminutivos, de expressões do 
dia a dia extraídas das formas coloquiais.
Virgílio (70 – 19 a.C.)
A família de Virgílio, muito modesta, era de agricultores. O poeta viveu em contato com a natureza, 
por isso valorizava os elementos campestres. Aos doze anos foi para Cremona estudar, depois para Milão 
e então para Roma, fracassando nos estudos oratórios.
77
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
Augusto o incumbiu de escrever uma grandiosa epopeia para exaltar os feitos romanos e o trabalho 
durou dez anos – de 29 a 19 a.C. A Eneida se compõe de doze cantos ou livros, num total de 9.826 versos. 
Para tanto, Virgílio baseou‑se nas epopeias gregas.
Leia a seguir os cantos resumidos:
Canto I – Atingidos por violenta tempestade provocada por Juno (a deusa inimiga de Troia), os 
navios de Eneias são arremessados às praias do norte da África. Dido, a rainha de Cartago, acolhe os 
náufragose se apaixona por Eneias, que vaga por muito tempo em busca da pátria prometida.
Canto II – Eneias relata a Dido a história da guerra de Troia, a introdução do cavalo de madeira na 
cidade, a saída dos soldados escondidos na calada da noite, a batalha noturna, o incêndio, o ataque ao 
palácio do rei e a vitória dos gregos.
Canto III – Eneias relata à rainha as peripécias que marcaram a viagem dos troianos e a morte de 
Anquises, seu velho pai.
Canto IV – Extremamente apaixonada por Eneias, Dido entrega‑se a ele durante uma tempestade. 
Júpiter o censura por ter abandonado sua missão e Dido, desesperada, suicida‑se.
Canto V – Chegando de novo a Sicília, Eneias faz uma homenagem ao primeiro aniversário da morte 
de Anquises.
Canto VI – Eneias, por meio de uma sacerdotisa, fica sabendo de alguns acontecimentos futuros e 
obtém uma permissão para se encontrar com seu pai no reino dos mortos.
Canto VII – Eneias chega à região do Tibre e o rei latino lhe oferece a mão de sua filha, Lavínia, mas 
esta fora prometida a Turno, que se enfurece ao saber dos fatos.
Canto VIII – Eneias procura fazer aliança com o rei Evandro enquanto Vênus oferece armas para 
o troiano.
Canto IX – O acampamento de Eneias é atacado e a guerra prossegue.
Canto X – Júpiter procura conciliar Juno e Vênus, a fim de que a guerra chegue ao fim. Há perdas 
importantes de ambos os lados, mas a violência continua. Faz‑se uma trégua para que se enterrem os 
mortos; pensa‑se em uma proposta de paz, mas os inimigos se defrontam.
Canto XII – Turno intenciona enfrentar Eneias num duelo. Firmam‑se as condições, mas o tratado 
é violado. Trava‑se um combate. O chefe troiano vence o inimigo e o sacrifica. Superando todos os 
obstáculos, Eneias assegura a fundação de Roma.
78
Unidade II
Veja, a seguir, alguns versos dessa obra:
Arma virumque cano, Troiae qui primus ab oris
Italiam, fato profugus, Laviniaque venit
litora, multum ille et terris iactatus et alto
vi superum saevae memorem Iunonis ob iram;
multa quoque et bello passus, dum conderet urbem,
inferretque deos Latio, genus unde Latinum,
Albanique patres, atque altae moenia Romae.
“Eu canto as armas e o barão primeiro,
Que, prófugo de Tróia por destino,
à Itália e de Lavínio às praias veio.
Muito por mar e terra contrastado
Foi do poder dos numes, pelas iras
esquecidas jamais da seva Juno:
Muito sofreu na guerra, antes qu’em Lácio
Cidade erguesse e introduzisse os deuses:
D’onde a gente Latina origem teve,
D’Alba os padres, e os muros d’alta Roma.”
(Tradução: José Barreto Feio)
Muitas vezes, a Eneida foi considerada como uma espécie de “cópia” das epopeias gregas. Porém, 
Virgílio faz inovações. Por exemplo, segundo Cardoso (2003), os deuses de Virgílio são diferentes dos 
de Homero, pois são mais “humanos” e se submetem ao Destino e às leis que comandam o Universo. 
As personagens humanas são construídas com mais complexidade e revelam, às vezes, características 
tipicamente romanas. Eneias, no início da epopeia, apenas obedece a ordens, sem praticamente agir. 
Após a visita a seu pai, no reino dos mortos, as atitudes de Eneias mudam, tornando‑o um herói.
 Observação
Virgílio procura valorizar as virtudes cultuadas pelos romanos dos velhos 
tempos, sobretudo a piedade – pietas –, ou seja, a consciente submissão aos 
deuses, a resignação com a própria condição e o profundo senso de dever.
Virgílio estava descontente com a Eneida e ordenou em testamento que os manuscritos fossem 
destruídos, mas Augusto se opôs a isso. A obra foi elogiada por Ovídio e Quintiliano e ficou com tão 
grande fama que até nos banquetes se costumava ler trechos dela para distração dos convidados, 
passando a ser o texto preferencial nas escolas romanas para aulas de gramática, retórica, filologia 
e poética. Santo Agostinho estimava muito a Eneida, que continuou a ser um texto muito presente 
durante a Idade Média nas aulas dos mosteiros.
79
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
 Observação
Todas as grandes epopeias do ocidente europeu foram criadas com base 
na Eneida. Por exemplo, A Comédia de Dante Alighieri e Os Lusíadas de 
Camões são os épicos modernos que, mais de perto, se deixaram influenciar 
pela Eneida.
Na Comédia de Dante, todas as tensões morais, políticas, filosóficas e literárias confluem. 
Apresentam‑se visões, gênero literário da tradição medieval ou profecias de eventos faustosos e 
calamidades como a descida de Eneias ao Ade, no sexto livro da Eneida. Na obra de Dante, a síntese do 
humano, tanto em relação à sabedoria antiga quanto à cristã, resume toda cultura ocidental.
Em sua estrutura, A Comédia é um poema de três cantos dedicados a uma viagem, na visão de 
Dante, ao Além: Inferno, Purgatório e Paraíso. Essa viagem apresenta um paradoxo. Para entender isso, 
é necessário conhecer a cosmologia aristotélica – ptolomaica de Dante, um sistema físico‑astronômico 
baseado na teologia e na ética. Segundo essa concepção, a Terra é uma esfera imóvel no centro do 
universo, circundada pelas superfícies esféricas do céu, cada uma delas com seu próprio movimento. No 
Empíreo encontra‑se a sede de Deus. O Inferno se encontra no hemisfério boreal como um anfiteatro na 
forma de um cone cujo vértice coincide com o centro da terra. Do lado oposto, se eleva a montanha do 
Purgatório. O cume do monte é o Paraíso terrestre.
Não se conhece, ao certo, a data da composição da obra. Sabe‑se apenas que os contemporâneos já 
conheciam o Inferno em 1316 e o Purgatório em 1320. Depois disso foi escrito o Paraíso.
No livro Inferno, Dante, com 35 anos, inicia a viagem entre a noite de quinta‑feira santa e o domingo 
depois da Páscoa. É o poeta Virgílio que lhe indica o caminho da salvação: ele próprio guiará Dante 
pelo Inferno e pelo Purgatório, enquanto Beatrice o guiará pelos céus do Paraíso, até a visão de Deus. A 
viagem terá a proteção da Virgem Maria e de Santa Luzia.
Inicia‑se o caminho para o Inferno, dividido em nove círculos de diâmetros cada vez mais estreitos 
à medida que se desce até a ponta, onde fica Lúcifer. A cada círculo, Dante fala com os condenados ao 
fogo eterno. Após passar pelo Purgatório, o poeta Dante começa a subir aos céus e encontra Beatrice, 
que o leva ao encontro de Deus.
 Lembrete
A Comédia é uma viagem em direção a Deus. O poeta Virgílio, nessa 
obra, representa um ideal de perfeição e encarnação da justiça, como um 
guia para a perfeição.
80
Unidade II
Também Os Lusíadas apresenta características da Eneida. Compare o início desse poema com o início 
do épico de Camões:
Primeiros versos da Eneida:
Arma virunque cano, Troiae qui primus ab oris
Italiam, fato profugus, Laviniaque venit
litora, multum ille et terris iactatus et alto;
vi superam saevae memorem iunones ob irem;
Tradução:
“As armas dos varões eu canto, que das costas de Troia
Para a Itália vieram, pelo fado exilados, a Lavínia
Alto agitados pela ira de Juno;”
Primeiros versos de Os Lusíadas:
As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca dantes navegados
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
 Saiba mais
Procure ler as obras Os Lusíadas de Camões e A Comédia de Dante 
Alighieri na íntegra.
CAMÕES, L. Os Lusíadas. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
ALIGHIERI, D. A divina comédia. Trad. Cristiano Martins. Belo Horizonte: 
Itatiaia, 1976.
Virgílio escreveu outra obra, as Geórgicas, um poema didático que se divide em quatro livros, cada 
um deles com aproximadamente quinhentos versos.
No Livro I, o poeta expõe os tipos de solo que é preciso conhecer antes de iniciar o cultivo, a 
necessidade que a terra tem de descansar entre uma semeadura e outra e a importância de alternarem‑se 
as culturas. Em seguida, refere‑se às más consequências das queimadas e apresenta as dificuldades dos 
81
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
agricultores. Para o poeta, Júpiter foi o responsável pela dureza dos trabalhos agrícolas, não permitindo 
que, durante o seu reinado, os homens se tornassempreguiçosos.
No Livro II, se inicia uma invocação a Baco, deus do vinho. O poeta trata do cultivo das videiras, das 
oliveiras, de árvores frutíferas em geral e das plantas silvestres que produzem essências.
Já no III Livro trata do gado em geral e das doenças a que estão sujeitos esses animais, enquanto o 
Livro IV trata da apicultura.
No gênero poesia lírica, Virgílio compõs, entre 41 e 37 a.C., dez poemas pastoris que se agrupam em 
uma coletânea sob o título de Bucólicas (assim se designavam os poemas que versavam sobre assuntos 
relacionados ao pastoreio).
Virgílio, embora com alguma influência de Homero, poeta grego, se inspira principalmente em 
Teócrito, poeta que viveu em Alexandria e criou, em seus poemas, personagens‑pastores. Virgílio 
baseou‑se nesses poemas, porém recriando os temas e transformando o cenário, retratando as regiões 
que conhecia e dando mais delicadeza à personalidade de seus pastores.
Horácio (65 – 8 a.C.)
Contemporâneo de Virgílio, Horácio era considerado um inimigo na época, contra Otávio e, por isso, 
foi espoliado dos poucos bens que possuía. Só após ter sido apresentado por Virgílio a Mecenas, protetor 
das artes, e de ter recebido uma propriedade rural, começou a publicar suas obras.
Dentre os textos compostos por Horácio, destacam‑se as Sátiras e Odes. O poeta prefere, em algumas 
circunstâncias, censurar, por meio da sátira, não uma pessoa específica, mas algum defeito, em sua 
generalidade. Não apresenta um tom agressivo, atenuando assim o próprio ridículo das coisas.
Diversos são os assuntos tratados por Horácio nas Sátiras. No Livro I, composto de dez poemas, 
o poeta aborda temas morais como insatisfação com a própria condição, perigo de cair num erro 
quando se evita outro e falsidade de julgamentos. No Livro II, composto de oito sátiras, Horácio focaliza 
problemas de ordem moral: a sobriedade, a loucura humana e a liberdade. A importância exagerada 
dada aos prazeres da mesa são ridicularizados em dois poemas.
As Odes são variadas quanto à métrica, extensão, assunto e até mesmo quanto ao estilo e aos temas: 
a juventude, o amor, os prazeres do vinho e a alegria da vida. Elas dirigem‑se aos deuses, relembram 
lendas mitológicas e exaltam o civismo e o espírito patriótico, alternando poemas longos com outros 
mais curtos. Horácio dedica essa obra a Mecenas, que patrocinava vários artistas na época. Nessas odes, 
encontram‑se algumas das principais ideias de Horácio, retomadas mais tarde, em outros momentos da 
literatura universal.
82
Unidade II
Carpe diem
Em muitos poemas de Horácio há o desejo de aproveitar o momento presente, a sede de viver. O 
poeta aconselha que as pessoas não se preocupem com realizações heroicas, já que, segundo o autor, 
não se sabe o que os deuses reservam. Então, o melhor é não sonhar com o futuro, admitir que a vida é 
breve e colher os frutos de hoje. Assim, deve‑se aproveitar a vida ao máximo, livre de preocupações. A 
expressão carpe diem (“colher o dia“) aparece no poema 11 das Odes do poeta Horácio.
A própria natureza confirma a transitoriedade das coisas:
A beleza não está sempre presente nas flores da primavera
e a lua vermelha não brilha sempre com a mesma aparência.
(Horácio. Odes. II, 9‑10)
É preciso, portanto, não desperdiçar as ocasiões e gozar de tudo que o momento presente possa oferecer:
Mostras que tem gosto, filtra teu vinho [...]
Enquanto falamos, o tempo hostil terá passado.
(Horácio. Odes. I, 11, 5‑7)
Além desses temas, encontramos o elogio da moderação e da simplicidade (aurea mediocritas), o 
desprezo pelas riquezas e pelo luxo:
Odeio os aparatos orientais, meu jovem,
E as coroas trançadas com cordões de tília
(Horácio. Odes. I, 38, 1‑2)
 Observação
A expressão aurea mediocritas (mediocridade dourada) dá a ideia de que 
só é feliz quem se contenta com pouco ou com aquilo que tem, sem aspirar a 
mais. Portanto, é um conselho à moderação e às coisas simples da vida.
Ou então:
Nem ouro nem marfim
Fazem brilhar os painéis de minha casa
(Horácio. Odes. II, 18, 1‑2)
Veja mais alguns versos de Horácio a seguir:
Tu ne quaesieris (scire nefas) quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
83
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
temptaris numeros. ut melius quidquid erit pati!
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum, sapias, vina liques et spatio brevi
spem longam reseces. dum loquimur, fugerit invida
aetas: carpe diem, quam minimum credula postero.
Tu não trates (que é mau) saber, ó Leucônoe,
que fim darão a mim, a ti os deuses;
nem inquiras as cifras babilônias.
Por que melhor (qual for) sofrê‑lo apures.
Ou já te outorgue Jove invernos largos,
ou seja o derradeiro o que espedaça
agora o mar Tirreno nos fronteiros
carcomidos penhascos. Vinhos coa:
encurta em tracto breve ampla ‘sperança.
Foge, enquanto falamos, a invejosa
idade. O dia de hoje colhe, e a mínima
no dia de amanhã confiança escores. (Tradução Filinto Elísio)
 Saiba mais
O tema carpe diem também está presente na obra árcade brasileira 
“Marília de Dirceu” de Thomas Antonio Gonzaga.
Se você pesquisar, irá se admirar com o emprego dessa expressão em 
vários campos da vida social na atualidade. No filme Sociedade dos poetas 
mortos, esse tema aparece:
SOCIEDADE dos poetas mortos. Direção Peter Weir. EUA, 129 minutos, 1989.
Ovídio (43 a.C. – 17 d.C)
Ovídio nasceu em uma família rica. Seus pais o enviaram a Roma para aprender as técnicas retóricas, 
que serviam para que o aluno falasse de forma eloquente e de improviso sobre qualquer assunto. Os 
estudos de filosofia em Atenas lhe proporcionaram uma ampla visão de mundo. Frequentava o palácio 
do Imperador Augusto. Ovídio participou das modificações decisivas nessa época e acompanhou os 
passos que levaram à pax romana. Presenciou a implantação das políticas e viveu intensamente as 
consequências de uma nova estrutura social. Pouco a pouco, o poeta impôs‑se ao círculo culto e 
elegante que o recebera com simpatia.
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Unidade II
Ovídio começou a publicar suas obras por volta de 20 a.C. No entanto, as censuras e comentários sobre suas 
criações, consideradas licenciosas, acabaram levando o imperador a decidir pelo seu banimento para a costa 
do Mar Negro, de onde não voltou mais. Isso ocorreu principalmente por causa do seu livro Ars amatoria (que 
se constitui como um conjunto de três volumes nos quais o poeta apresenta “dicas de sedução”, publicados 
no final do século I a.C.), o que lhe causou um profundo desgosto até o final de sua vida.
Inicialmente, a obra deveria constar somente de dois livros; no decorrer de sua criação, Ovídio resolve 
juntar um terceiro, exclusivamente para mulheres.
No primeiro livro, o autor mostra quais as principais ocasiões em que os homens podem aproximar‑se 
da mulher amada – em passeios, nos edifícios públicos, no fórum, no teatro, no circo, em comemorações 
de triunfos, em banquetes –, dando conselhos de como agir para agradar a essa mulher; o segundo livro 
refere‑se aos meios utilizados para seduzir a mulher amada: amabilidades, presentes, devotamento, 
manifestações de ciúme; o terceiro livro apresenta as artimanhas da mulher para tornar‑se amada: 
penteados, roupas etc. A figura feminina nessa obra não é a de um ser passivo. Pelo contrário, ela deve 
desfrutar de todos os prazeres assim como o homem o faz.
O estilo de Ovídio nessa obra é um pouco rebuscado, devido aos recursos retóricos que ele utiliza. O 
livro é constituído por estrofes com dois versos.
Em Metamorfoses (15 livros), o poeta apresenta as origens do mundo até a época de Augusto. Isso 
é feito por meio de um universo de transformações e a partir da cosmogonia, construída no mito da 
criação. Assim, Ovídio conta histórias de transfigurações, de “metamorfoses” de deuses e de homens, 
em fontes, árvores, rios, pedras e animais. Essas mudanças vão sucedendo‑se continuamente, sem 
comentários moralistas ou reflexões teóricas sobre o sentido delas, misturando ficção e realidade.
Em Metamorfoseshá uma construção intertextual, uma rede de correspondências com obras 
anteriores a Ovídio. O autor retoma tanto aspectos narrativos quanto estilísticos de fontes gregas, mas 
mantém um estilo próprio e original.
Veja também a forma original pela qual Ovídio expressa suas ideias, justificando o fato de não 
escrever textos no gênero tragédia:
A primeira recusa da tragédia
Uma floresta ergue‑se antiga há muitos anos não cortada
É de crer que um deus habita esse lugar
Há no meio uma fonte sagrada e uma caverna de que pendem pedras,
e de todo lado pássaros pendem com doçura.
Aqui, enquanto eu vagava, oculto pelas sombras do bosque,
(pois buscava um gênero que a Musa inspirasse),
Eis que chega a Elegia, com cabelos cheirosos e trançados
E, creio, tinha um pé mais longo que o outro.
A bela forma era decente; a vestimenta, muitíssimo tênue; o rosto, de amante:
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LÍNGUA E CULTURA LATINAS
E o defeito nos pés era causa do decoro.
Eis que vem também a Tragédia, violenta, com grandes passos
(os cabelos na fronte turva, o manto escorrido pelo chão;
a mão esquerda movia largamente o cetro real,
o coturno lídio atava‑se ao alto da perna).
e foi a primeira a dizer‑me: “haverá fim para o teu amar;
ó poeta, que demoras em teu assunto?
De teus galanteios contam os banquetes vinosos
contam as encruzilhadas repartidas em muitas estradas.
Amiúde alguém com o dedo aponta o poeta que passa,
e diz: “esse, esse aí é aquele a quem Amor feroz queima”.
Já és, e não sabes, anedota em toda a cidade,
Uma vez que, largado o pudor, conta os teus feitos.
Era tempo de seres movido, impelido pelo tirso mais grave;
Basta de inércia! Dá início a um gênero mais alto.
Com aquela matéria estás oprimindo teu engenho: canta as gestas dos varões
Dirás: “Aquele é o território da minha inclinação”.
Tua musa já brincou de fazer versos que as tenras meninas soem cantar
e tua primeira juventude transcorreu entre ritmos que lhe convinham.
Agora, por meio de ti, eu, a Tragédia Romana, hei de possuir renome!
Teu entusiasmo cumprirá minhas leis”.
Falou e, apoiada nos coturnos pintados, meneou
Três, quatro vezes a cabeça densa pela cabeleira.
A outra, se estou lembrado, sorriu com seus olhinhos oblíquos
(engano‑me ou será que na mão direita havia um ramo de mirto?)
Disse ela: “Por que, impetuosa Tragédia, com graves palavras
me oprimes? Ou será que não podes deixar de ser grave?
Porém tu te dignaste a mover‑te em versos desiguais:
Lutaste contra mim usando meus versos.
Não vou comparar teus cantos sublimes aos meus
Teu palácio faz desaparecer minha humilde casa.
Sou ligeira e comigo é ligeiro Cupido, meu cuidado;
Não sou mais forte do que minha matéria,
E, no entanto, mereci ter mais poder do que tupor suportar
muitas coisas que teu cenho não admitiria,
Sem mim que seja rústica a mãe do lascivo Amor;
nasci para ser alcoviteira e companheira daquela deusa.
A porta que não poderia abrir com teu duro coturno
é franqueada às minhas blandícias.
Por meu intermédio Corina, enganando o guardião, aprendeu
A corromper a fidelidade da porta trancada,
a deslizar do leito oculta pela túnica aberta,
e a mover, pela noite, os pés sem rumor.
Quantas vezes, gravada, estive apenas em duras portas
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Unidade II
sem temer ser lida pelo povo que passava!
Mais: até que o cruel guardião partisse, lembro‑me
de ter estado oculta, como carta, no seio da ama.
E quando me envias como presente de aniversário e
ela me rasga e, bárbara, mergulha‑me na água que está ao lado?!
Eu fui a primeira a mover os germes fecundos de teu talento.
Se ela já te procura, isto é dádiva minha”.
Terminara. Comecei: “peço a cada um de vós
que as palavras de quem teme cheguem a ouvidos disponíveis.
Tu me ornas com teu cetro e teu grande coturno:
Tocada já por ti minha boca, a voz agora é grandiosa,
tu dás ao meu amor um nome sempre vivo.
Vem, pois, e aos longos acrescenta versos breves!
Ao vate, Tragédia, concede um pouco de tempo.
Tu és trabalho eterno: o que a Elegia pede é breve”.
Comovida, permitiu. Que, ternos, meus Amores se apressem,
enquanto é lícito, que lá detrás um gênero mais elevado já me alcança. 
(Tradução João Ângelo Oliva Neto – Primeira Recusa da Tragédia – Ovídio, Amores. III 1, 1‑70).
6.6 A obra filosófica de Sêneca e a tragédia latina
Sêneca (Lucius Annaeus Seneca) – (4 a.C. – 65 d.C.)
A obra literária e filosófica de Sêneca inspirou o desenvolvimento da tragédia na Europa. O autor 
nasceu em Córdoba, na Espanha, em uma família ilustre.
Quando Nero foi nomeado imperador, Sêneca converteu‑se em seu principal conselheiro e tentou 
orientá‑lo para que se fizesse uma política justa e humanitária. Durante algum tempo, exerceu influência 
benéfica sobre o jovem, mas aos poucos foi forçado a concordar com algumas atitudes do imperador. 
Mais tarde, acusado de participar de uma conjuração, Sêneca recebeu de Nero a ordem de suicidar‑se, 
o que executou em Roma, com serenidade, conforme seus ideais filosóficos.
Juntamente com Marco Aurélio e Cícero, Sêneca é considerado um dos mais importantes 
representantes da intelectualidade romana e apesar de ter sido contemporâneo de Cristo, não fez relatos 
significativos de fenômenos milagrosos. Entretanto, constata‑se que os cristãos assimilaram aspectos 
filosóficos estoicos, utilizando inclusive as mesmas metáforas estoicas na bíblia.
Na cultura em que Sêneca estava inserido, a filosofia era considerada não apenas um sistema de 
ideias, mas, sobretudo, uma prática para a vida. Aderir a uma determinada escola filosófica implicava em 
apoiar não apenas uma ideia, mas um determinado modo de ser. O objetivo disso era uma arte de viver 
que se concebia para o alcance de uma vida feliz, adequada a realizar as necessidades do homem. Para 
Sêneca, essa filosofia era o estoicismo.
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LÍNGUA E CULTURA LATINAS
O estoicismo é uma escola filosófica do século IV a.C. Essa doutrina afirma que todo o universo 
é governado por um logos e a alma está identificada com este princípio divino, como parte do todo 
ao qual pertence. Este logos (razão universal) domina todas as coisas: tudo surge a partir dele e de 
acordo com ele.
 Observação
O estoicismo propõe que se viva de acordo com a lei racional da natureza 
e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo ao ser, 
ou seja, o ser humano não se deve deixar escravizar pelas paixões e pelas 
coisas externas.
Sêneca considerava o estoicismo a maior virtude para não ter a alma perturbada e procurava aplicar 
sua filosofia à prática. Assim, apesar de rico, vivia modestamente: bebia apenas água, comia pouco e 
dormia sobre um colchão duro. Sêneca não via nenhuma contradição entre a sua filosofia estoica e o 
fato de ser rico. Dizia que o sábio não estava obrigado à pobreza, desde que o seu dinheiro tivesse sido 
ganho de forma honesta, mas que, no entanto, deveria ser capaz de abdicar dele.
A ação virtuosa, para o estoicismo, não é simplesmente aquela que é guiada pela razão, mas sim a que 
é guiada por um juízo reto. As paixões humanas (como vontade, cobiça, receio) devem ser ultrapassadas. 
Os bens podem ser adquiridos, porém não se pode estabelecer uma dependência deles.
Mais do que se libertar das paixões, para um estoico, ser livre é não ser arrastado pelo destino, 
é deixar‑se conduzir por ele. Por isso, não se trata de simples submissão, mas de uma “sujeição com 
consentimento”, ainda que isso seja contraditório. Apenas o homem livre das paixões é capaz disso. 
Segundo essa filosofia, o destino encontra‑se predestinado. O homem pode apenas aceitá‑lo ou 
rejeitá‑lo. Se o aceitar de livre vontade, goza de liberdade. A morte é algo natural e o suicídio não 
é excluído.
A tragédia latina originou‑se da grega, reproduzindo um modelo que se constituía no produto final 
de uma longa evolução. No século V, a tragédia grega atingiu o seu ápice com os textos de Ésquilo, 
Sófocles e Eurípedes.
Em Roma, em 240 a.C., Lívio Andronico traduziu a Odisseia e divulgou em Roma os princípios que 
norteavam o teatro grego, além de traduzir ou adaptar comédias e tragédias. Suastragédias apresentam 
certa falta de teatralidade, pois o autor escreveu possivelmente para que elas fossem lidas em sessões 
públicas, para uma elite familiarizada com velhos mitos e habituada com textos em que os aspectos 
retóricos eram valorizados acima de tudo.
De acordo com Cardoso (2003), as peças de Sêneca foram influenciadas pelas gregas, mas revelando 
muitos traços de originalidade. Enquanto as peças gregas eram mais movimentadas, as latinas eram 
mais estáticas.
88
Unidade II
Sêneca compôs nove tragédias inspiradas em modelos gregos, sobretudo nas peças de Eurípedes. 
Dentre elas, destacam‑se Édipo, baseada em Édipo‑Rei de Sófocles e bastante próxima a ela. A peça 
relata a desgraça que acomete o rei de Tebas quando ele toma conhecimento dos crimes hediondos 
que cometera sem intenção. Fedra trata da rainha de Creta, violentamente apaixonada pelo enteado, 
causando‑lhe a perdição e a morte e Medeia relata a vingança da princesa feiticeira que, desprezada 
pelo amante, dele se vinga assassinando os filhos. Medeia se sente traída por Jasão, após tê‑lo ajudado. 
Ele vai se casar com a filha do rei de Coríntios, Creonte. Este conhece bem os poderes de Medeia, que 
é uma feiticeira, e teme por sua filha. Medeia envia à princesa, como presente, um véu e uma diadema 
envenenados, que matam a princesa que os vestiu e também o rei, seu pai, ao tentar salvá‑la. Jasão corre 
até sua casa, pois teme por seus filhos mas chega tarde demais, pois eles foram mortos pela própria mãe. 
Medeia, nesse momento, já está fugindo pelo ar, guiada por um carro com serpentes aladas.
Leia um trecho de Medeia, de Eurípedes:
Amigas, decidida está a minha ação: matar os filhos o mais depressa que puder e evadir‑me 
dessa terra, não vá acontecer que, ficando eu ociosa, abandone as crianças, para serem mortas 
por mão mais hostil. É absoluta a necessidade de as matar, e, já que é forçoso, matá‑las‑emos 
nós, nós que as geramos. Mas vamos, arma‑te, coração. Por que hesitamos e não executamos 
os males terríveis, mas necessários? Anda, ó minha desventurada mão, empunha a espada, 
empunha‑a, move‑te para a meta dolorosa da vida, não te deixe dominar pela covardia, nem 
pela lembrança dos teus filhos, de como eles te são caros, de como os geraste. Mas por este 
breve dia, ao menos, olvida, que depois os chorarás. Porque, mesmo matando‑os, eles te são 
sempre caros e eu – que desgraçada mulher que eu sou! (Medeia – Eurípedes)
Compare agora o que foi lido com a Medeia de Sêneca. Observe, nesse excerto, que Medeia revela 
também a luta que se trava em seu íntimo e a firme resolução ali gerada:
Minha mente se tumultua com a ideia de desgraças selvagens, desconhecidas, capazes 
de fazer tremer o céu e a terra. [...] Arma‑te com teu ódio e prepara‑te para a destruição 
com todo o teu furor. [...] Arranca de ti essa indecisão covarde. A pátria que te deste com um 
crime, com um crime deverá ser deixada. (Medeia – Sêneca)
Existe também uma peça atual, Gota d’água, em que Chico Buarque e Paulo Pontes fizeram uma 
transposição da tragédia grega Medeia, de Eurípedes, para o contexto carioca: um conjunto residencial 
proletário do Rio de Janeiro da década de 70.
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LÍNGUA E CULTURA LATINAS
Joana, a Medeia brasileira, é abandonada pelo amante Jasão, muito mais novo do que ela. Jasão, 
autor do samba Gota d’água, de grande sucesso, vai casar‑se a filha de Creonte, proprietário do conjunto 
residencial e explorador do povo oprimido da Vila do Meio‑Dia. Além de perder seu amante, Joana, 
oprimida pela engrenagem social, será expulsa por Creonte, com as duas crianças. Após falhar o plano 
de vingança, de envenenar a noiva no dia do casamento, ela acaba envenenando os dois filhos e depois 
a si própria. Observa‑se que Jasão não só trai Joana, mas também trai o povo, pois ele passa para o lado 
do patrão. Veja como isso fica evidente na fala de Joana:
Só que essa ansiedade que você diz
não é coisa minha, não, é do infeliz
do teu povo, ele sim, que vive aos trancos,
pendurado na quina dos barrancos.
Seu povo é que é urgente, força cega,
coração aos pulos, ele carrega
um vulcão amarrado pelo umbigo
Ele não tem tempo nem amigo,
nem futuro, que uma simples piada
pode dar em risada ou punhalada
Como a mesma garrafa de cachaça
acaba em carnaval ou desgraça
É seu povo que vive de repente
porque não sabe o que vem pela frente
Então ele costura a fantasia
e sai, fazendo fé na loteria,
se apinhando e se esgoelando no estádio,
bebendo no gargalo, pondo no rádio
sua própria tragédia, a todo volume,
morrendo por amor e por ciúme,
matando por um maço de cigarro
e se atirando debaixo do carro.
Se você não aguenta essa barra,
Tem mais é que se mandar, se agarra
na barra do manto do poderoso
Creonte e fica lá em pleno gozo
de sossego, dinheiro e posição
com aquela mulherzinha. Mas, Jasão,
já lhe digo o que vai acontecer:
tem uma coisa que você vai perder,
e a ligação que você tem com sua
gente, o cheiro dela, o cheiro da rua,
você pode dar banquetes, Jasão,
mas samba é que você não faz mais não. [...]
90
Unidade II
7 LÍNGUAS ROMÂNICAS
Línguas românicas são aquelas que conservam vestígios evidentes de sua origem latina no 
vocabulário, na morfologia e na sintaxe.
As línguas neolatinas não derivaram diretamente do latim, pois entre aquelas e estas, houve vários 
romances que eram modificações regionais do latim, dos quais saíram então as línguas românicas. Não 
se pode precisar a época exata da formação dos romances nem o desaparecimento do latim vulgar. 
Segundo Grandgent, o período estende‑se do ano 200 a.C. até cerca do ano 600 da Era Cristã.
O território atual em que se falam estes idiomas oriundos do latim não coincide com os limites do 
Império Romano antes da invasão dos bárbaros. Há lugares em que o latim conseguiu impor‑se, mas 
depois teve de ceder às investidas de outros idiomas.
Há dez línguas românicas: português, espanhol, catalão, francês, provençal, italiano, reto‑romano, 
dalmático, romeno e sardo. 
A língua portuguesa, uma das línguas românicas, proveio da Lusitânia, região situada ao ocidente 
da Península Ibérica. Pode‑se afirmar que o português é o próprio latim modificado. Parece que povos 
procedentes de outras zonas europeias se sobrepuseram às populações nativas.
No século V a.C. houve a penetração dos celtas, que vinham do sul da Alemanha e já haviam 
se apoderado do território da Gália. Fixaram‑se principalmente na Galícia e nas regiões altas do 
centro de Portugal. A convivência entre celtas e iberos teve como consequência uma fusão, que 
resultou nos celtiberos.
Os romanos penetraram na Península no século III a.C. e a anexaram como província em 197 a.C. Na 
época do governo de Augusto, houve a assimilação da cultura latina por parte dos habitantes da região.
A assimilação começou nas cidades e nos centros mais povoados, passando depois às aldeias e 
finalmente aos campos. Os peninsuladores começaram a ver nos conquistadores um povo mais forte 
e civilizado e, depois de uma resistência que foi vencida pelos soldados romanos, adotaram a língua 
dos vencedores. Porém, houve um povo da Península Ibérica que não aceitou o latim como língua e 
continuou a falar o próprio idioma: o basco.
De acordo com Coutinho (1976), vários fatores concorreram para a romanização das populações que 
viviam na península:
• o recrutamento militar dos jovens provincianos que, depois de prestado o serviço do exército, 
voltavam aos seus familiares falando o chamado “latim vulgar”;
• o eficaz sistema rodoviário romano, que permitia fácil intercâmbio com a metrópole;
• o direito à cidadania concedido às cidades da Península pelos imperadores romanos;
• a tentativa de fazer desaparecerem as diferenças sociais, com os padres pregando num latim 
muito acessível, já na época do cristianismo.
91
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
O latim que se espalhou pelo território ibérico foi o do povo inculto, o sermo vulgaris. A outra 
modalidade, o sermo urbanus, utilizada por Cícero, Virgílio, Horácio e Ovídio, foi conhecida nas escolas.No século V, os bárbaros invadiram a Península, principalmente os vândalos, os suevos e os visigodos. 
Os suevos se estabeleceram na Galícia e na Lusitânia. Esses eram povos rudes e guerreiros e, embora 
vencedores, assimilaram a civilização romana e, com ela, o próprio latim, já sensivelmente alterado.
No século VIII, houve a invasão dos árabes na Península. Eles valorizavam as artes e as letras e a 
ciência estava muito difundida entre eles, além da medicina, filosofia, matemática e história.
Muitos hispano‑godos, interessados na civilização árabe, incorporaram seus costumes e às vezes até 
sua língua e ficaram conhecidos como “moçárabes”. Na maioria da Península, adotou‑se o árabe como 
língua oficial, mas o povo continuou a falar o romance, ou seja, o latim vulgar modificado.
O cristianismo começou a ser pregado em outras línguas. Primeiro em grego, com São Paulo, mas 
cedo chegou a Roma e logo sua propagação começou a ser feita também em latim.
A cultura árabe era totalmente diferente da cultura da região; a religião foi certamente um fator 
decisivo e fundamental de distanciação entre os árabes e a população românica, que era cristã, enquanto 
aqueles eram muçulmanos. Esses fatores levaram os dois povos a viverem, geralmente, segregados.
Empréstimos linguísticos
A expressão empréstimo linguístico significa a transmissão de formas linguísticas entre línguas de 
contato. Os empréstimos podem ter várias causas, desde a transmissão de uma cultura para a outra 
de técnicas e de objetos antes desconhecidos até moda.
As palavras de origem hebraica também estão presentes na língua portuguesa, embora os hebreus 
não tenham dominado a Península Ibérica. Em geral são nomes relacionados à religião e vieram do latim 
pelas sagradas escrituras. Exemplos: aleluia, amém, Cabala, Páscoa, rabino, sábado.
As palavras de procedência grega, introduzidas pelos colonos durante a dominação deste povo na 
Península Ibérica ou se perderam totalmente ou foram incorporadas ao latim. De origem mais antiga 
podem ser citadas: bolsa, corda, espada, governar, golfo.
Com o cristianismo, muitos foram os vocábulos gregos que penetraram no latim e se expandiram 
devido à Igreja. Exemplos: anjo, apóstolo, Bíblia, crisma, epifania.
Alguns vocábulos de origem grega nos foram transmitidos pelos árabes, mas antes sofreram 
modificações na pronúncia como acelga, alambique, alcaparra.
Assim, os árabes transmitiram para a Europa algumas de suas colaborações para o domínio da ciência 
e do comércio. Esses empréstimos geralmente são reconhecíveis pela sílaba inicial al–, correspondente 
ao antigo árabe: álcool, alferes, alcorão, álgebra, alfândega, almoxarifado.
92
Unidade II
Pode‑se perceber, portanto, que a influência da língua árabe sobre o latim na Península Ibérica não 
foi tão grande como era de se esperar devido à longa dominação árabe nesse local.
As palavras de origem árabe mais frequentes em nossa língua designam plantas, frutas, flores e 
substâncias aromáticas: algodão, alecrim, alfafa, alface, alfazema, açafrão, alcachofra.
Outras designam instrumentos musicais, utensílios e armas: alaúde, gaita, adarga, alicate, algema.
Pesos e medidas: arroba, alqueire.
Ofícios, cargos e empregos: alfaiate, alferes, almoxarife, califa.
Alimentos e bebidas: álcool, almôndega.
Da dominação germânica, há mais ou menos duzentas palavras que ficaram incorporadas à língua 
portuguesa. Muitas palavras de origem germânica entraram no latim e referem‑se, quase todas, às artes 
militares, usos e costumes, objetos e utensílios do povo germânico. Exemplos: acha, arauto, agasalho, 
arreio, albergue, anca, aspa, barão, banco, banho, brasa, dardo, escuma, espeto, elmo, estribo, espora, 
feudo, grupo, guerra, marco, sopa, roupa.
A influência germânica ainda se manifesta em alguns adjetivos e verbos: branco, fresco, liso, morno, 
rico, agasalhar, adular, brandir, estampar, guardar, roubar.
A tendência normal dos empréstimos é serem absorvidos de maneira completa na própria língua 
depois de uma fase mais ou menos longa em que sua origem estrangeira é sensível para os falantes.
 Observação
Na história das línguas românicas, a circulação de empréstimos sempre 
foi intensa. Eles originavam‑se não só de variedades linguísticas faladas 
no próprio território romano mas também do latim literário, cultivado em 
ambientes ligados à Igreja e à escola. Assim, o latim literário exerceu uma 
influência importante desde o período românico.
Durante o longo tempo que se seguiu às invasões bárbaras, até o século XI, quando os povos europeus 
adquiriram certa estabilidade e começaram a deixar testemunhos escritos, a Igreja foi a única instituição 
sólida cujas fronteiras se estendiam a todo o mundo conhecido. Ela utilizava o latim como instrumento 
de sua atividade, como meio de comunicação para pregar a povos que não conheciam essa língua. Nos 
mosteiros, copiavam‑se e compilavam‑se manuscritos em latim. Os bispos e os monges viajavam de país 
a país sem a necessidade de intérpretes.
93
LÍNGUA E CULTURA LATINAS
Houve um movimento renovador que procurava minimizar as influências do latim vulgar, sendo o 
latim dos autores clássicos reintroduzido como modelo. Os grandes intelectuais da Idade Média utilizaram 
por séculos o latim, inclusive em obras escritas. Deste modo, a língua se aprimorou, tornando‑se mais 
abstrata, com mais nuances para exprimir o rigor lógico e se enriqueceu no vocabulário, em razão de 
inúmeras traduções de palavras gregas e árabes.
Nesse contexto, a Escolástica pretendia racionalizar a fé por meio da filosofia grega. Foi nas universidades 
medievais e em latim que se formaram os primeiros legistas, que foram muito importantes. Os médicos, 
pelos quais a medicina árabe veio a ser introduzida na Europa ocidental, estudaram em latim.
Nessa época, houve muitos incentivos para o cultivo dessa língua e para um retorno aos modelos 
clássicos, que culminaram no Humanismo, um movimento que, partindo da Itália, se estendeu por todo 
o Ocidente. Um dos principais criadores desse movimento foi Petrarca, considerado, junto com Dante, 
um dos fundadores da língua moderna e da literatura italianas.
No século XII, a sociedade medieval atingiu seu auge. Esse foi o século das Cruzadas, das grandes 
catedrais e da fundação das primeiras universidades que rapidamente se estenderam por toda a Europa: 
Paris, Oxford, Cambridge, Bolonha, Montpellier, Colônia, Upsala e Salamanca. As universidades da Idade 
Média conheciam o latim apenas como língua didática e por esse motivo havia uma unidade – tanto de 
língua como de pensamento – em todo o Ocidente.
Mesmo com o Renascimento, o latim continuou a ser a língua da ciência. Todos os precursores da 
ciência moderna escreviam em latim: Copérnico, Kepler e Newton. Descartes escreveu as Meditações 
metafísicas em latim e Spinoza, toda sua obra. Assim, todos os trabalhos importantes da filosofia e da 
ciência, entre 800 e 1700, no Ocidente, foram escritos em latim.
É claro que, pouco a pouco, o latim foi dando lugar às línguas vulgares, mas, ainda no século XVIII 
e começo do século XIX, as teses eram redigidas em latim na maior parte das universidades europeias.
Na segunda metade do século XIX, iniciou‑se o ensino secundário na maioria dos países da Europa. 
Considerou‑se importante o estudo do latim e do grego, mas apenas como uma introdução à cultura 
humanista e não para que os alunos chegassem a utilizá‑los como meio de comunicação.
A Igreja continuou utilizando o latim na liturgia e na formação de eclesiásticos, mas, no século 
XX, isso começou a diminuir. O Concílio do Vaticano II decidiu substituir o latim pelas línguas vulgares 
na liturgia.
Em razão do uso sistemático do latim como veículo do saber e da cultura, o vocabulário é derivado 
dessa língua e também do grego. Trata‑se de um léxico homogêneo não só entre as línguas românicas 
mas também em todas as línguas da Europa.
Embora o latim fosse a língua comum e praticamente exclusiva na maior parte das terras do Império 
Romano,

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