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DIREITO AMBIENTAL Professora Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira Web Designer Thiago Azenha FICHA CATALOGRÁFICA UNIFATECIE - CENTRO UNIVERSITÁRIO EAD Direito Ambiental Patrícia de Moura Leal Teixeira Paranavaí - PR.: UniFatecie, 2022. 119 p. Ficha catalográ ica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira da Silva. UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí- PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376, KM 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.unifatecie.edu.br/site Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-Graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Jorge Luiz Garcia Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Dudatt Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Kauê Berto Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-Graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Jorge Luiz Garcia Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Dudatt Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Kauê Berto As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock. A U T O R Profa. Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira Possui graduação em Direito pela Universidade Paranaen- se(2001). Atualmente é Professora da Faculdade de Tecnolo- gia e Ciências do Norte do Paraná. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Ambiental. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2222065128110745 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 07 | Meio Ambiente e Desenvolvimento CAPÍTULO 2 18 | Direito Ambiental CAPÍTULO 3 26 | Princípios Ambientais CAPÍTULO 4 53 | Política nacional do Meio Ambiente CAPÍTULO 5 66 | Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente CAPÍTULO 6 84 | Estudos dos Impactos Ambientais CAPÍTULO 7 93 | Crimes Ambientais CAPÍTULO 8 109 | Responsabilidade Ambiental PÁGINA 6 CAPÍTULO 1 MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Refletir sobre a importância e o papel da educação ambiental, não só como fer- ramenta de compreensão e reflexão sobre o mundo, mas, acima de tudo, como conscientização de uma forma crítica comunitária em que a qualidade de vida e a harmonia entre os seres humanos e o meio ambiente, sejam sempre uma meta a ser alcançada. Professor Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira Objetivos de Aprendizagem: • Entender a importância do meio ambiente para a sobrevivência dos seres vivos e do planeta; • Conhecer algumas modificações que o homem faz no ambiente e suas consequências; • Incentivar os cidadãos a preservar e conservar o ambiente em que vive. • Promover atitudes de conservação do meio ambiente, sobretudo aquelas que os próprios podem ter em seu dia-a-dia. Plano de Estudo: • Conceito de Meio Ambiente; • Previsão Legal; • Classificação do Meio Ambiente; • Principais Características dos bens ambientais. PÁGINA 7 INTRODUÇÃO A preocupação com as questões ambientais vem se intensificando nas últimas décadas, como resultado da conscientização da sociedade mundial, que pas- sou a cobrar uma postura responsável nos gestos mais simples de todos os ci- dadãos e, sobretudo, daqueles que atuam na exploração e no uso dos recursos naturais. Atualmente é visível que a educação ambiental está cada vez mais restrita a escola, uma vez que as crianças, os jovens e os adultos, estão aptos para receber conhecimentos que irão intervir não apenas na sua formação profissional, mas também na sua qualidade de vida. O consumo desequilibrado dos recursos naturais, sem a preocupação com as futuras gerações faz com que cada país lute pela sua sobrevivência e pela prosperidade quase sem levar em consideração o impacto que causa sobre os demais. Alguns consomem os recursos da Terra a um tal ritmo que provavel- mente pouco sobrará para as gerações futuras. Outros em número muito maior, consomem pouco demais e vivem na perspectiva da fome, da miséria, da do- ença e da morte prematura. É possível chegar a uma nova era de crescimento econômico, fundamentada em políticas que mantenham e ampliem a base de recursos da Terra; o pro- gresso que alguns desfrutaram no século passado pode ser vivido por todos nos próximos anos. Mas, para que isso aconteça, temos que compreender me- lhor os sintomas de desgaste que estão diante de nós, identificar suas causas e conceber novos métodos de administrar os recursos ambientais e manter o desenvolvimento humano. Para nossa surpresa, a própria pobreza polui o meio ambiente também, criando outro tipo de desgaste ambiental. Para sobreviver, os pobres e os famintos mui- tas vezes destroem seu próprio meio ambiente: derrubam florestas, permitem o pastoreio excessivo, exaurem as terras marginais e acorrem em número cada vez maior para as cidades já congestionadas. O efeito cumulativo dessas mu- danças chega a ponto de fazer da própria pobreza um dos maiores flagelos do mundo. PÁGINA 8 1.1 Definição O termo meio ambiente tem sido dito com muita frequência nos últimos tempos em reportagens, na internet enfim em todos os meios de comunicação. Sabemos realmente o que é meio ambiente? Na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente celebrada em Esto- colmo, em 1972, definiu-se o meio ambiente da seguinte forma: “O meio ambiente é o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas.” O meio ambiente é o conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um sistema natural. Assim, o meio ambiente é composto por toda a vegetação, animais, microrganismos, solo, rochas, atmosfera. Também fazem parte do meio ambiente os recursos naturais, como a água e o ar e os fenômenos físicos do clima, como energia, radiação, descarga elétrica e magnetismo. O meio ambiente é composto por quatro esferas diferentes: atmosfera, litosfe- ra, hidrosfera e biosfera. A atmosfera é a camada ar que envolve o planeta, formada por gases como oxigênio, gás carbônico, metano e nitrogênio. A litosfera é a camada mais ex- terna do planeta, formada pelo solo e por uma superfície rochosa, também cha- mada de crosta terrestre. 1.1.1 Definição no Brasil O Brasil também possui o seu conceito de meio ambiente, definido pela Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) que tem origem na Lei No. 6.938 de 31 de agosto de 1981. A regulamentação se deu pelo Decreto nº 99.274, de 6 de ju- nho de 1990. O conceito é o seguinte: “O conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, quími- ca e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. PÁGINA 9 O objetivo da PNMA é definir critérios e mecanismos de ação que devem ser tomados pelos governos para garantir a preservação do meio ambiente. São exemplos de objetivos previstos na lei: • fiscalização do uso e consumo dos recursos naturais, • controle da emissão de poluição no ambiente, • controle o uso consciente do solo, da água e do ar, • incentivo ao estudo e pesquisa na área ambiental, • proteção dos ecossistemas, • proteção, preservação e recuperação de áreas ameaçadas. A PNMA também define quais devem ser as ações implementadas pelos go- vernos para garantir a preservação do meio ambiente a partir da avaliação de impactos ambientais ocorridos e da definição de prioridades de ação. São algumas medidas adotadas pela Política Nacional do Meio Ambiente: pre-visão de que o agente causador de poluição deve reparar e indenizar os danos causados ao meio ambiente, criação de um cadastro de dados sobre a qualida- de do meio ambiente e a criação de espaços de proteção e reserva ambiental. 1.1.1.1 Previsão Legal O conceito legal de meio ambiente, inserido pela Lei 6.938/81 em seu artigo 3º, I, é: “conjunto de bens, influencias e interações de ordem físicas, químicas e biológicas, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Por este conceito, o que se busca explorar é o Meio Ambiente Natural, sua compo- sição e uns de seus princípios norteadores essenciais: Prevenção e Precaução. Além do Meio Ambiente Natural, explorado pelo mencionado conceito legal, para o homem ainda existem três meio ambientes: cultural, artificial e do tra- balho, os quais tutelam a vida em uma questão sociocultural e da saúde no ambiente de trabalho. O doutrinador Guilherme José Purvin expõe a insufici- ência do conceito trazido na lei para abranger todas as qualificações de meio ambiente existentes: “(...) A definição legal da LPNMA (lei 6.938/81) é adequa- da para a identificação de determinado aspectos do meio ambiente, como por exemplo o natural, mas é insuficiente para abranger todos os valores jurídicos tutelados pelo Di- reito Ambiental como, por exemplo, o meio ambiente cul- tural (tutela do patrimônio cultural) e o meio ambiente do trabalho (tutela da saúde dos trabalhadores).”1 1 Figueiredo, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental – 6ª ed. –São PÁGINA 10 Sua composição é perfeitamente delineada na posição de José Afonso da Sil- va. Vejamos: “(...) meio ambiente natural ou físico é constituído pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora, enfim, pela interação dos seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação recí- proca entre as espécies e as relações destas com o am- biente físico que ocupam”2 O que se percebe a partir de todos os conceitos exemplificados é que o meio ambiente não é um lugar, um local físico, mas sim uma reunião de fatores que propiciam o surgimento e interação de vida. Tudo o que gera ou detém vida compõe o que podemos chamar de meio ambiente natural. Com a Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio ambiente (PNMA, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, além de outras providencias, a proteção ambiental passou a ter maior visibilidade e importân- cia. O Direito Ambiental brasileiro possui instrumentos idôneos para salvaguardar o meio ambiente e, consequentemente, o direito à vida humana, espalhados por diversas normas legais, com previsão tanto nas órbitas federal, quanto estadual e municipal. Portanto, para a melhor análise do direito ao meio ambiente, se faz necessário o estudo da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e, para não nos estendermos demais, das mais importantes leis infraconstitu- cionais de caráter nacional sobre o tema (tendo em vista a competência legis-lativa concorrente dos entes públicos concedida pelo Texto Maior, em que a União institui as regras gerais e os Estados-membros, Distrito Federal e Municípios a complementam, de acordo com as suas particularidades regionais e locais, nunca de forma contrária às de caráter nacional). A Constituição Federal de 1988 cuidou de garantir a proteção ao meio ambien- te, qual passou a ser primordial, tornando-a garantia fundamental em nosso or- denamento jurídico. Resguardado pelo capítulo VI, com início no artigo 225 da Constituição Fede- ral, regido por diversas leis complementares e resolução do CONAMA, o direito ambiental, que busca resguardar o meio ambiente natural, é regido por vários princípios, que buscam nortear as normas em todos os âmbitos. E, mesmo com a pluralidade de artigos previstos em nossa Constituição Fe- deral de 1988, ainda assim, o mais importante preceito de proteção ao meio ambiente, orientador da ordem econômica e social, base para a elaboração le- Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2013. Pg. 64. 2 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: MALHEIROS, 1994. PÁGINA 11 gislativa, encontra-se inserido no artigo 225, caput, do Texto Maior (conhecido na doutrina por consubstanciar o princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado), que preceitua da seguinte forma: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” Assim, no Brasil, diante da importância do direito ao meio ambiente ecologi- camente equilibrado, previsto na Constituição Federal (artigo 225, caput), sen- do fruto, como visto, da Declaração de Estocolmo de 1972, há o entendimen- to pela doutrina nacional, de que tal prerrogativa é um verdadeiro direito fun- damental, mesmo que não esteja inserido no Capítulo dos Direitos Individuais (artigo 5º), nem dos Direitos Sociais (artigo 6º), sendo que tal pensamento se faz, diante do fato de que com o meio ambiente saudável, consequentemente, se terá uma melhor qualidade de vida, requisito básico e indispensável para a existência digna do ser humano, direito esse, garantido pelo já mencionado artigo 5º, caput, da Magna Carta de 1988. Portanto, ao se assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, está sendo protegido, também, o direito individual à vida e à dignidade humana. Ainda, pode-se concluir deste entendimento acima citado, que ao se assegurar esse direito, logo se estará garantindo a promoção dos demais direitos civis e econômico-sociais também (como, por exemplo, o direito à saúde), advindo daí o entendimento de nossa doutrina que o direito ao meio ambiente sadio é ao mesmo tempo um direito in- dividual e social.3 3 Com o posicionamento adotado pela doutrina brasileira de que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado seria um direito individual e social, pode-se afirmar que isso acarretará que todos os bens ambientais, sejam eles públicos ou privados, considerar-se- ão bens comuns a todos, tendo como consequência disso, que a propriedade rural ou urbana, mesmo sendo de um particular, deverá atender a sua função social (artigos 182, § 2º e 186 da Constituição Federal), respeitando-se, pois, o meio ambiente, sob pena de desapropriação pelo Poder Público (CF, artigos 5º, XXIV e 170, III e VI). Com a intervenção do Estado no domínio privado, o Texto Maior de 1988 garantiu a todos, as benesses dos recursos naturais, mesmo que esses estejam inseridos em uma propriedade particular. Porém, tal benefício ocorrerá de forma indireta, já que o proprietário continua na posse de seus bens, podendo fruir de seu direito de propriedade. Contudo, deverá se valer dos recursos inseridos em seu domínio de maneira a não prejudicar o direito da coletividade de possuir um meio ambiente ecologicamente equilibrado, já que se a propriedade ferir a higiene, a ordem pública e o meio ambiente, poderá ser responsabilizado objetivamente por sua atividade degradadora tanto o particular, como o próprio Estado, conjuntamente ou não, sendo que esse último, por sua atitude omissiva de não fiscalização adequada das atividades poluidoras ou potencialmente ou até mesmo de forma comissiva, com a prática danosa ao meio ambiente. PÁGINA 12 1.1.1.1 Classificação do Meio Ambiente A partir dos conceitos de meio ambiente, é possível identificar áreas distintas que integram e formam a totalidade do que se entende por Meio Ambiente: a natural, a artificial e a cultural. Fiorillo (2003) esclarece que: A divisão do meio ambiente em aspectos que o compõem busca facilitar a identificação da atividade degradante e do bem imediatamente agredido. Não se pode perder de vista que o direito ambiental tem como objeto maior tutelar a vida saudável, de modo que a classificação apenas identifica o aspecto do meio ambiente em que valores maiores foram aviltados. Atualmente, utiliza-se uma classificaçãopara Meio Ambiente que identifica uma quarta área de estudo: o Meio Ambiente do Trabalho. Assim sendo, o Meio Ambiente classifica-se, segundo a doutrina jurídica, em: - Meio Ambiente Natural; - Meio Ambiente Artificial; - Meio Ambiente Cultural; - Meio Ambiente do Trabalho. 1.1.1.2.1 Meio Ambiente Natural: O Meio Ambiente Natural, também chamado de Meio Ambiente Físico, é com- posto pela atmosfera, águas (subterrâneas e superficiais, mar territorial), solo e subsolo, fauna e flora e o patrimônio genético. A tutela do Meio Ambiente Natural se dá pelo artigo 225 da Constituição Fede- ral, em seu parágrafo 1º, incisos I e VII, e parágrafo 4º: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibra- do, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Públi- co: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; PÁGINA 13 VII - proteger a fauna e a flora, vedadas na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoque a extinção de espé- cies ou submetam animais à crueldade. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegu- rem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recur- sos naturais. 1.1.1.2.2 Meio Ambiente Artificial: O Meio Ambiente Artificial “é compreendido pelo espaço urbano constru- ído, consistente no conjunto de edificações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos equipamentos públicos (espaço urbano aberto)” (FIO- RILLO, 2003, p. 21). O Meio Ambiente Artificial é uma área que está dire- tamente relacionada ao conceito de cidade. A tutela constitucional do Meio Ambiente Artificial está presente no artigo 225 da Constituição Federal, que trata especificamente do Meio Ambien- te, mas também nos artigos 21, inciso XX e 182 (que trata da Política Urbana) da carta constitucional, dentre outros: Art. 21. Compete à União: XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habita- ção, saneamento básico e transportes urbanos. Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei têm por ob- jetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. PÁGINA 14 1.1.1.2.3 Meio Ambiente Cultural: Integra o Meio Ambiente Cultural o patrimônio artístico, paisagístico, arqueológico, histórico e turístico. Vale pontuar que, apesar de serem bens produzidos pelo Homem e, portanto, também serem caracterizados como artificiais, eles diferem dos bens que compõem o Meio Ambiente Artificial em razão do valor diferenciado que possuem para uma socieda- de e seu povo. O Meio Ambiente Cultural é tutelado especificamente pelo artigo 216 da Constituição Federal brasileira: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portado- res de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços desti- nados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artísti- co, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. PÁGINA 15 1.1.1.2.4 Meio Ambiente do Trabalho: O Meio Ambiente do Trabalho é constituído pelo ambiente, local, no qual as pessoas desenvolvem as suas atividades laborais, remuneradas ou não remuneradas, “cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psí- quica dos trabalhadores, independentemente da condição que ostentem” (FIORILLO, 2003, p. 23). A tutela do Meio Ambiente do Trabalho também está contida na Consti- tuição Federal nos artigos 225 e 200, inciso VIII: Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribui- ções, nos termos da lei: VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Ressalta-se que a tutela do Meio Ambiente do Trabalho difere da tute- la dos direitos trabalhistas. As normas e leis que integram o Direito do Trabalho disciplinam as relações jurídicas entre empregado e emprega- dor, ao passo que, a tutela do Meio Ambiente do Trabalho refere-se à se- gurança e saúde do trabalhador no ambiente em que ele trabalha (FIO- RILLO, 2003). Principais Características dos Bens Ambientais De acordo com constituição promulgada no ano de 1988, os bens ambientais são todas as extensões vegetativas que servem como recursos naturais aos homens. Segundo a redação oficial, os bens ambientais são pertencentes a to- dos os brasileiros naturais ou naturalizados. Porém, será que os políticos estão fazendo trabalho qualitativo na defesa da natureza, implantando ações efetivas contra a degradação contra o meio ambiente? Em termos gerais, a sociedade precisa compreender que a sustentabilidade é mais do que urgente para que não aconteça o fim do mundo. Os recursos naturais podem ser definidos como o conjunto de elementos de ordem natural que compõem o Meio Ambiente. Em tese, é tudo aquilo que não é criação do Homem. É a flora, a fauna, as águas, o ar, o solo e a diversidade genética. Recurso natural equivale àquilo que se conhece popularmente como natureza. Os leigos podem confundir natureza com Meio Ambiente, mas aquela é só uma parte do Meio Ambiente. PÁGINA 16 A Lei n. 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) trouxe a definição de outra categoria de recursos, a dos recursos ambientais. Segundo a Lei, são re- cursos ambientais a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. Com o aumento da conscientização ambiental e das tendências protecionistas do Meio Ambiente (no Brasil e no mundo), em 1988, com a promulgação da Constituição Federal brasileira, a primeira a atribuir um capítulo exclusivo para o Meio Ambiente, surge uma nova categoria de bens, os bens ambientais. Tradicionalmente, o Direito classifica os bens em públicos e privados. Os bens públicos são aqueles de propriedade das pessoas jurídicas de direito público interno, como a União, os Estados e os Municípios. Já os bens privados perten- cem às pessoas jurídicas de direito privado ou às pessoas físicas. Segundo as disposições constitucionais do artigo 225, os bens ambientais são aqueles de uso comum do povo, essenciais à sadia qualidade de vida, o que “configura nova realidade jurídica disciplinando bem, o que não é público nem, muito menos, particular” (FIORILLO, 2003, p. 51). Por serem qualificados como de uso comum do povo, os bens ambientais al- cançaram o status de bens difusos, uma vez que os mesmos não se referem a um único indivíduo, mas a toda uma coletividade, sem individualizar seus titula- res. Fiorillo (2003) ensina: O bem ambiental é, portanto, um bem que tem como característica constitucio- nal mais relevante ser ESSENCIAL À SADIA QUALIDADE DE VIDA, sendo on- tologicamente de uso comum do povo, podendo ser desfrutado por toda e qual- quer pessoa dentro dos limites constitucionais. [...] É, portanto, da somatória dos dois aspectos: bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, que se estrutura constitucionalmente o bem ambiental. PÁGINA 17 REFERÊNCIAS ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 08 ed. Rio de Janeiro: Lu- men Juris, 2005. BRASIL. Constituição daRepública Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988. 24 ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2000. BRASIL. Lei n.° 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Dispõe sobre a Política Na- cional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e apli- cação, e dá outras providências) in Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, acompanhada da legislação complementar. 09 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. BRASIL. Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). 09 ed. São Paulo: Saraiva, 2003 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. DOS SANTOS, Fabiano Pereira. Meio ambiente e poluição. Jus Navigan- di, 2004. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4753 – capturado em 24/02/2006 Figueiredo, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental – 6ª ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2013. Pg. 64. SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: MALHEI- ROS, 1994.Romulo S. R. Tópicos de Direito Ambiental: 30 anos da politica nacional do meio ambiente. Lumen Juris, 2011, pg 27.Cureau, Sandra. Direito Ambiental / Sandra Cureau e Maricia Dieguez Leuzinger.- Rio de Janeiro: Else- vier, 2013. Pg. 52. LEITURA COMPLEMENTAR SUGERIDA: https://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/os-cinco-maiores-problemas- -ambientais-do-mundo-e-suas-solucoes PÁGINA 18 CAPÍTULO 2 DIREITO AMBIENTAL Compreender o significado do direito enquanto uma ciência de construção das relações humanas. Discutir os conceitos e fundamentos do direito Ambiental. Professor Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira Objetivos de Aprendizagem: • Revisar conceitos inerentes aos direitos e interesses difusos e coletivos de especial relevância para a compreensão da tutela do bem ambiental; • Reforçar a autonomia científica e didática do direito ambiental; • Identificar o direito ambiental na constituição; • Apresentar a noção de dano ambiental; Plano de Estudo: • Direito Ambiental; • Conceito; • Objetivos do Direito Ambiental; • Outros Conceitos. PÁGINA 19 INTRODUÇÃO A Revolução Industrial é o marco desencadeador de uma sociedade fundada no consumo. Esta sociedade impõe pressões cada vez maiores sobre os recur- sos naturais, fazendo crescer preocupações com o equilíbrio do meio ambiente e com a própria sobrevivência da vida no planeta. Diante das constantes agressões ao meio ambiente, confirmadas pela ciência e condenadas pela ética e pela moral, surge a necessidade de se repensar con- ceitos desenvolvimentistas clássicos. Neste sentido, torna-se imperiosa a agre- gação de diversas áreas do conhecimento científico, técnico e jurídico, aliados aos conhecimentos locais e de comunidades tradicionais em torno da constru- ção de uma nova teoria de desenvolvimento econômico que agregue a noção de sustentabilidade. Em outras palavras, significa a internalização pelo processo produtivo de exter- nalidades que até então não eram computadas nos custos de produção. A sus- tentação jurídica desta nova forma de encarar a relação do homem com o meio ambiente reside justamente no reconhecimento do direito das futuras gerações de usufruírem, em igualdade de condições, os recursos naturais disponíveis hodiernamente. O direito ambiental está inserido neste contexto. Um ramo do direito que regula a relação entre a atividade humana e o meio ambiente. Por sua natureza inter- disciplinar, o direito do ambiente acaba se comunicando com outras áreas da ciência jurídica. Em alguns casos com peculiaridades próprias e distintas, em outros, socorrendo-se de noções e conceitos clássicos de outras áreas. Trata-se de uma matéria interdisciplinar, que tem ligação com o direito penal, civil e administrativo. O seu campo de atuação é a DEFESA DE INTERESSES DIFUSOS, ou seja, a preservação, a manutenção do meio ambiente é uma matéria por si só abstra- ta, ela visa o interesse difuso, isto é, o DESTINATÁRIO É INDETERMINADO, não temos como identificar quem será aquele que irá se beneficiar com uma política saudável de proteção ambiental. PÁGINA 20 1. DIREITO AMBIENTAL. 1.1 Conceito Prevê o artigo 225, caput, da Constituição Federal de 1988: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre- sentes e futuras gerações.” A matéria ambiental é de extrema importância pois, além de estar prevista pela própria Constituição Federal, o direito a um meio ambiente saudável é tido como um direito humano de terceira geração, também chamados de “direitos de solidariedade”. Tais direitos de terceira geração são direitos da própria cole- tividade. Nesse sentido, diz Marcia Rodrigues Bertoldi: A corrente doutrinária maioritária entende como direitos de solidariedade, ou de terceira geração, os direitos ao desenvolvimento, ao patrimônio comum da hu- manidade, à paz e ao meio ambiente, os quais estão orientados pelos princí- pios de indivisibilidade, interdependência e solidariedade.1 No plano internacional, a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente é de extrema importância, na medida em que é o texto responsável por estabele- cer princípios que visam preservar e melhorar o meio ambiente no plano mun- dial. É responsabilidade do Direito Ambiental criar normas que garantam a sustenta- bilidade do meio ambiente e seu desenvolvimento contínuo, evitando a sua de- gradação e o preservando às próximas gerações. É ele o responsável, portan- to, por buscar um equilíbrio entre a exploração do meio ambiente e os agentes econômicos que dele fazem uso, buscando, assim, sua preservação. Conceitualmente, o Direito Ambiental é o ramo do direito que estabelece as normas que visam limitar as condutas humanas em relação ao meio ambien- te. Tem por objetivo, portanto, garantir que as próximas gerações possuem um meio ambiente saudável. É importante ter em mente, além de tudo, que o Direito Ambiental não deve ser visto de uma forma isolada. Nesse sentido, é sabido que o direito é dividido em “ramos”, o que facilita a sua compreensão. 1 BERTOLDI, Marcia Rodrigues. O direito humano a um meio ambiente equilibrado. Sem data. < http://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/26472-26474-1-PB.pdf. PÁGINA 21 O Direito Ambiental, na medida em que é responsável por regular e sistemati- zar a atividade humana sobre o meio ambiente, acaba por se relacionar com todos os outros ramos. Exemplo claro disso a possibilidade de existência de crimes ambientais, conforme definidos pela Lei 9.605/98. 1.1.1 Objetivos do Direito Ambiental: A ideia do direito ambiental brasileiro é que ele está intimamente ligado com o desenvolvimento econômico e com o desenvolvimento social e não apenas em matéria de preservação ambiental propriamente dita. O direito ambiental não foi criado apenas para proteger, preservar o meio am- biental. Esta seria uma visão equivocada, pois o direito ambiental brasileiro em mo- mento algum quer frear o desenvolvimento sócio econômico. Pelo contrário, se frear o desenvolvimento sócio econômico, com certeza, estará gerando indire- tamente uma maior agressão ao meio ambiente, pois atividades irregulares co- meçarão a aparecer. O direito ambiental não visa preservação cega, ela visa compatibilizar o desen- volvimento econômico com a preservação do meio ambiente, gerando também um desenvolvimento social. Este é o elo do direito ambiental com o direito eco- nômico. A preocupação do direito ambiental é com o homem, com a figura do ser huma- no. O aspecto social do direito ambiental cresceu muito a ponto de na CRFB, art. 200 quando fala no sistema único de saúde diz competir, além de outras atribuições, colaborar com a proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Há uma relação entre o direito ambiental e o direito do trabalho. A principal preocupação do direito ambiental hoje é com o homem. Vejam, porexemplo, nos princípios elencados na Declaração do Rio 92, princípio nº 1: “Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.” De certa forma, há muito tempo, a nossa principal lei ambiental, a Lei 6.938/81 já falava isso no caput do art. 2º. PÁGINA 22 1.1.1.1 Outros Conceitos Destacarei agora alguns conceitos e definições que orientam a aplicação da normativa ambiental e que poderão ser utilizados quando da análise de sua aplicabilidade em casos concretos. Os conceitos que pontuo como fundamentais dentro do contexto ambiental, ressalvando a importância dos demais, são: a) Meio Ambiente Art. 3º, I da Lei 6938/81 - é o conjunto de condições, leis, influências e intera- ções de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (Art. 3°, I da Lei n° 6.938/81). b) Risco Ambiental O risco ambiental pode ser definido como a possibilidade de ocorrência de de- gradação ambiental em virtude da atividade antrópica no meio ambiente, ou seja, a possibilidade de alteração adversa das características do meio ambien- te. c) Poluição Consiste na degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afe- tem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (Art. 3°, III da Lei n° 6.938/81). d) Agente Poluidor É a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental (Art. 3°, IV da Lei n° 6.938/81). e) Dano Ambiental Poluição – art. 3º, III da Lei n° 6938/81 - o dano ambiental consiste em qual- quer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambien- te, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem a saúde, a segurança, o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota (fauna e flora de uma determinada região); as condições estéticas e sanitárias do meio am- biente; e, enfim, a qualidade dos recursos ambientais. PÁGINA 23 1.1.1.1.1. Novas diretrizes de conduta. O Direito Ambiental é a área do conhecimento jurídico que estuda as interações do homem com a natureza e os mecanismos legais para proteção do meio am- biente. É uma ciência holística que estabelece relações intrínsecas e transdis- ciplinares entre campos diversos, como antropologia, biologia, ciências sociais, engenharia, geologia e os princípios fundamentais do direito internacional, den- tre outros. No Brasil, o emergente Direito Ambiental estabelece novas diretrizes de con- duta, fundamentadas na Política Nacional do Meio Ambiente (lei 6.938, de 31/8/81). Esse código estabelece definições claras para o meio ambiente, qua- lifica as ações dos agentes modificadores e provê mecanismos para assegurar a proteção ambiental. A lei 6.938, regulamentada pelo decreto 99.274, de 6 de junho de 1990, insti- tui também o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), constituído por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos municípios e pelas fundações instituídas pelo poder público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, conforme a seguinte estrutura: • Órgão superior: conselho de governo; • Órgão consultivo e deliberativo: Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA); • Órgão central: Ministério do Meio Ambiente (MMA); • Órgão executor: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); • Órgãos seccionais: órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de ativi- dades capazes de provocar a degradação ambiental; • Órgãos locais: órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo con- trole e pela fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdi- ções. A atuação do SISNAMA se dá mediante articulação coordenada de órgãos e entidades que o constituem, observado o acesso da opinião pública às informa- ções relativas às agressões ao meio ambiente e às ações de proteção ambien- tal, na forma estabelecida pelo CONAMA. Cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios a regionalização das medidas emanadas do SISNAMA, elaborando normas e padrões supletivos e complementares. PÁGINA 24 Principais instrumentos de proteção ambiental • Estudo de Impacto Ambiental (EIA); • Relatório de Impacto Ambiental (RIMA); • Plano de Controle Ambiental (PCA); • Relatório de Controle Ambiental (RCA); • Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD); • Relatório Ambiental Preliminar (RAP); • Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS). A Lei da Ação Civil Pública (lei 7.347, de 24/7/85) tutela os valores ambientais, disciplina as ações civis públicas de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, consumidor e patrimônio de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Em 1988, a Constituição Federal dedicou normas direcionais da problemática ambiental, fixando as diretrizes de preservação e proteção dos recursos natu- rais e definindo o meio ambiente como bem de uso comum da sociedade hu- mana. O artigo 225 da Constituição Federal Brasileira de 1988 diz: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi- librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coleti- vidade o dever de defendê-lo e preservá-lo para às presen- tes e futuras gerações.” Além disso, a Rio-92 – Conferência da ONU sobre meio ambiente e desenvol- vimento – sacramentou a preocupação mundial com o problema ambiental, re- forçando princípios e regras para o combate à degradação ambiental no do- cumento intitulado “Agenda 21”, que consolidam a diretriz do desenvolvimento sustentável. Em qualquer organização pública ou privada, o Direito Ambiental exprime a busca permanente pela melhoria da qualidade ambiental de serviços, produ- tos e ambientes de trabalho, num processo de aprimoramento que propicia o desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental globalizados e abrangen- tes. Ao operar nesses sistemas, as organizações incorporam as melhores práti- cas corporativas em vigência, além de procedimentos gerenciais e técnicos que reduzem ao mínimo as possibilidades de dano ao meio ambiente, da produção à destinação de resíduos. PÁGINA 25 REFERÊNCIAS ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 08 ed. Rio de Janeiro: Lu- men Juris, 2005. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988. 24 ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2000. BRASIL. Lei n.° 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Dispõe sobre a Política Na- cional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e apli- cação, e dá outras providências) in Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, acompanhada da legislação complementar. 09 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. BRASIL. Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). 09 ed. São Paulo: Saraiva, 2003 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. DOS SANTOS, Fabiano Pereira. Meio ambiente e poluição. Jus Navigan- di, 2004. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4753 – capturado em 24/02/2006 Figueiredo, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental – 6ª ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2013. Pg. 64. SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: MALHEI- ROS, 1994.Romulo S. R. Tópicos de Direito Ambiental: 30 anos da politica nacional do meio ambiente. Lumen Juris, 2011, pg 27.Cureau, Sandra. Direito Ambiental / Sandra Cureau e Maricia Dieguez Leuzinger.- Rio de Janeiro: Else- vier, 2013. Pg. 52.LEITURA COMPLEMENTAR SUGERIDA: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/1701/Direito-Ambiental-Dos- -principios-a-sua-aplicabilidade PÁGINA 26 CAPÍTULO 3 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS Compreender o conceito de princípios e aplica-los na relações ambientais. Professor Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira Objetivos de Aprendizagem: Apresentar os princípios informadores e norteadores do direito ambiental brasi- leiro. Plano de Estudo: • Princípios Ambientais • Conceito; • Classificação • Princípio da prevenção; • Princípio da precaução; • Princípio do poluidor-pagador; • Princípio da responsabilidade; • Princípio da gestão democrática; • Princípio do Limite; • Princípio do Direito Humano Fundamental ao Meio Ambiente Sadio. PÁGINA 27 INTRODUÇÃO A palavra princípio significa o alicerce, a base ou o fundamento de alguma coi- sa. Trata-se de um vocábulo de origem latina e tem o sentido de aquilo que se torna primeiro. Na ideia de princípio está a acepção de início ou de ponto de partida. Maurício Godinho Delgado1 afirma que a palavra princípio significa proposição elementar e fundamental que embasa um determinado ramo de conhecimento ou proposição lógica básica em que se funda um pensamento. No entendimento de Roque Antônio Carraza2, o princípio jurídico é um enun- ciado lógico implícito ou explícito que, por conta de sua grande generalidade, ocupa posição de preeminência nos vastos quadrantes da Ciência Jurídica e por isso mesmo vincula de modo inexorável o entendimento e a aplicação das normas jurídicas que com ele se conectam. Os princípios exercem uma função especialmente importante frente às outras fontes do Direito porque, além de incidir como regra de aplicação do Direito no caso prático, eles também influenciam na produção das demais fontes do Direi- to. É com base nos princípios jurídicos que são feitas as leis, a jurisprudência, a doutrina e os tratados e convenções internacionais, já que eles traduzem os va- lores mais essenciais da Ciência Jurídica. Se na ausência de uma legislação específica há que se recorrer às demais fon- tes do Direito, é possível que no caso prático não haja nenhuma fonte do Direi- to a ser aplicada a não ser os princípios jurídicos. Com efeito, pode ser que não exista lei, costumes, jurisprudência, doutrina ou tratados e convenções internacionais, mas em qualquer situação os princípios jurídicos poderão ser aplicados. 1 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 4ª ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 184. 2 CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito Constitucional tributário. 11 ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p.31. PÁGINA 28 Na opinião de Joaquim José Gomes Canotilho3 os princípios desempenham um papel mediato, ao servirem como critério de interpretação e de integração do sistema jurídico, e um papel imediato ao serem aplicados diretamente a uma relação jurídica. Para o autor as três funções principais dos princípios são im- pedir o surgimento de regras que lhes sejam contrárias, compatibilizar a inter- pretação das regras e dirimir diretamente o caso concreto frente à ausência de outras regras. Nesse diapasão, é o entendimento de Ronald Dworkin: Violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma norma. A desa- tenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilega- lidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, por- que representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais4. Luís Roberto Barroso5 defende que segundo a dogmática moderna as normas jurídicas podem ser divididas em normas-disposição e em normas-princípio, de maneira que a distinção entre normas e princípios está superada. Enquanto as normas-disposição são regras aplicáveis somente às situações a que se diri- gem, as normas-princípio ou princípios possuem um grau maior de abstração e uma importância mais destacada dentro do sistema jurídico. Celso Antônio Bandeira de Mello6entende que os princípios jurídicos constituem o mandamento nuclear do sistema normativo, já que além de servirem de cri- tério para a interpretação de todas as normas jurídicas eles têm a função de integrar e de harmonizar todo o ordenamento jurídico transformando-o efetiva- mente em um sistema. Esclarecendo ainda mais esta questão temos, Bobbio faz uma clara análise dos princípios gerais do Direito, inserindo-os no amplo conceito de normas nos esclarecendo que: 3 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1999, p. 122. 4 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980, p. 230. 5 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 149. 6 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980, p. 230. PÁGINA 29 Sendo assim, os princípios têm valor normativo, e não apenas valorativo, in- terpretativo ou argumentativo, de maneira que se encontram hierarquicamente superiores a qualquer regra. Na verdade, já que os princípios são o esteio do ordenamento jurídico, é a eles que as regras têm se adequar e não o contrário, e quando isso não ocorrer deverá a mesma ser considerada nula. Assim, para que o Direito Ambiental tenha aplicabilidade e efetividade, é de ca- pital importância que, além da ciência das leis e das demais legislações am- bientais, sejam do senso comum seus princípios fundamentais, pois são estes as normas de valor genérico que orientarão sua compreensão, aplicação e in- tegração ao sistema jurídico como um todo, estando tais princípios escritos ou não. 1. PRINCÍPIOS AMBIENTAIS. 1.1 Conceito No âmbito do Direito Ambiental os princípios também desempenham essas mes- mas funções de interpretação das normas legais, de integração e harmonização do sistema jurídico e de aplicação ao caso concreto. É preciso destacar também que a afirmação dos princípios do Direito Ambiental desempenhou um papel fundamental no reconhecimento desse Direito enquanto ramo autônomo da Ciência Jurídica. Nesse diapasão, Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin aponta as quatro principais funções dos princípios do Direito Ambiental no que diz respeito a sua compreensão e aplicação: a) são os princípios que permitem compreender a autonomia do Direito Ambien- tal em face dos outros ramos do Direito; b) são os princípios que auxiliam no entendimento e na identificação da unidade e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que compõem o sistema legislativo ambiental; c) é dos princípios que se extraem as diretrizes básicas que permitem compreen- der a forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista na sociedade; d) e, finalmente, são os princípios que servem de critério básico e inafastável para a exata inteligência e interpretação de todas as normas que compõem o sistema jurídico ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do Di- reito nessa área7. 7 Apud MIRRA, Álvaro Luíz Valery. Principios Fundamentais do Direito Ambiental. Revista de Direito Ambiental, nº 2, ano 1, abril-junho de 1996, p. 52. PÁGINA 30 Um aspecto que ressalta a importância dos princípios no Direito Ambiental em relação aos demais ramos da Ciência Jurídica é o fato da enorme proliferação legislativa nessa área. Paulo de Bessa Antunes expõe que há alguns anos em se tratando de proteção à flora era apenas o Código Florestal que se aplicava, enquanto que atualmente essa lei é apenas um dos inúmeros elementos de proteção à flora já que existe a Convenção de Diversidade Biológica, o Sistema Nacional de Unidades de Con- servação e uma série de normas objetivando a proteção específica de um bioma ou de uma espécie de flora. Com efeito, como existe uma competência legislativa concorrente entre os di- versos entes federativos, é possível encontrar além das leis e decretos federais e convençõese tratados internacionais, uma série de leis e decretos estaduais, distritais e municipais. É também imensa a proliferação de resoluções ou deliberações editadas pelos conselhos de meio ambiente, seja no âmbito federal, estadual ou distrital e muni- cipal, e de portarias elaboradas pelos órgãos administrativos de meio ambiente. Muitas vezes tais normas são elaboradas por técnicos ambientais ou até por representantes de associações de classe ou de movimentos sociais que adotam uma redação confusa ou obscura sob o ponto de vista da técnica legislativa. Por conta disso, os conflitos normativos são muito comuns nessa área e deverão ser resolvidos por meio da aplicação dos princípios do Direito Ambiental. Com relação ao papel relevante que os princípios jurídicos podem desempenhar naquelas situações que ainda não foram objeto de legislação específica, trata-se da mais um situação muito comum no que diz respeito ao meio ambiente. A evolução da sociedade e o aparecimento de novas tecnologias fazem com que a cada dia surjam novas situações capazes de interferir na qualidade do meio ambiente e que por isso não podem deixar de ser reguladas pelo Direito Ambiental. Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin8 pondera que os princípios do Di- reito Ambiental, da mesma forma que os demais princípios do Direito Constitu- cional e do Direito Administrativo, e do Direito Público de uma maneira geral, são valores que fundamentam o Estado e incidem sobre a organização política da sociedade. 8 Apud MIRRA, Álvaro Luíz Valery. Principios Fundamentais do Direito Ambiental. Revista de Direito Ambiental, nº 2, ano 1, abril-junho de 1996, p. 52. PÁGINA 31 Por causa disso, esses princípios devem ser levados em consideração em todas as decisões do Poder Público, especialmente em relação às políticas públicas ambientais e a todas as políticas públicas de uma maneira geral, já que todos os setores da atividade pública de alguma forma repercutem na questão ambiental. De acordo com Paulo de Bessa Antunes9, são de dois tipos os princípios do Di- reito Ambiental: os explícitos e os implícitos. Os primeiros são aqueles que se encontram positivados nos textos legais e na Constituição Federal, e os segun- dos são aqueles depreendidos do ordenamento jurídico constitucional. É claro que tanto os princípios explícitos quando os implícitos encontram aplicabilidade no sistema jurídico brasileiro, pois os princípios não precisam estar escritos para serem dotados de positividade. Devido ao fato de parte dos princípios do Direito Ambiental serem construções eminentemente doutrinárias inferidas dos textos legais e das declarações inter- nacionais de Direito, a quantidade e a denominação desses princípios variam de um autor para outro. No entendimento de Celso Antônio Pachêco Fiorillo10 os princípios do Direito Ambiental são os seguintes: desenvolvimento sustentável, poluidor pagador, prevenção, participação (de acordo com o autor, a informação e a educação ambiental fazem parte deste princípio) e ubiquidade. Luís Paulo Sirvinskas11 enumera os seguintes princípios do Direito Ambiental: di- reito humano, desenvolvimento sustentável, democrático, prevenção (precaução ou cautela), equilíbrio, limite, poluidor-pagador e responsabilidade social. Edis Milaré12 elenca como princípios do Direito Ambiental: meio ambiente eco- logicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana, natureza pública da proteção ambiental, controle de poluidor pelo Poder Público, consi- deração da variável ambiental no processo decisório de políticas de desenvolvi- mento, participação comunitária, poluidor-pagador, prevenção, função social da propriedade, desenvolvimento sustentável e cooperação entre os povos. 9 ANTUNES, Paulo de Bessa. Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA: Comentários à Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 16. 10 FIORILLO, Celso Antonio Pachêco. Curso de direito ambiental brasileiro. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 23/42. 11 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 34/38. 12 MILARÉ, Edis. Direito do ambiente. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 136/152. PÁGINA 32 Para Rui Piva13 o Direito Ambiental possui os princípios a saber: participação do Poder Público e da coletividade, obrigatoriedade da intervenção estatal, pre- venção e precaução, informação e notificação ambiental, educação ambiental, responsabilidade das pessoas física e jurídica. Paulo Affonso Leme Machado14 classifica os seguintes princípios do Direito Am- biental: acesso equitativo aos recursos naturais, usuário-pagador e poluidor-pa- gador, precaução, prevenção, reparação, informação e participação. É importante destacar o relevante papel que a Declaração Universal sobre o Meio Ambiente e a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desen- volvimento, ambas documentos redigidos respectivamente na 1ª e na 2ª Con- venção Internacional da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambien- te, tiveram na formação dos princípios do Direito Ambiental. A maior parte dos princípios de Direito Ambiental trazidos pela Declaração Uni- versal sobre o Meio Ambiente foram consagrados explícita ou implicitamente pela Constituição Federal de 1988 e pela legislação ambiental de uma forma geral. De qualquer forma, passarão a ser analisados de forma objetiva apenas os prin- cípios mais importantes do Direito Ambiental. 1.2 Classificação 1.2.1 - Princípio da Prevenção Ao dispor sobre o meio ambiente a Constituição Federal se fundamenta no princípio da prevenção, que é aquele que determina a adoção de políticas pú- blicas de defesa dos recursos ambientais como uma forma de cautela em rela- ção à degradação ambiental. Seja no caput do art. 225, quando fala sobre o dever do Poder Público e da co- letividade de proteger e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações, ou seja na maior parte do restante do dispositivo. A Declaração Universal sobre o Meio Ambiente já consagrou desde 1972 o princípio da prevenção ao estabelecer no Princípio 6 que: 13 PIVA, Rui. Bem ambiental. São Paulo: Max Limonad, 2000, p. 51. 14 MACHADO, Paulo Affonso Leme Machado. Direito ambiental brasileiro. 9ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 43/78. PÁGINA 33 “Deve-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais e, ainda, à liberação de calor em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não tenha condições para neutralizá-las, a fim de não se causar da- nos graves ou irreparáveis ao ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os países contra a contaminação”. A Lei nº 6.938/81 também consagra o princípio da prevenção ao dispor nos in- cisos III, IV e V do art. 4º que a Política Nacional do Meio Ambiente tem como objetivo o estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais, o desenvolvimen- to de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais e a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consci- ência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico. Já os incisos II, III, IV, VI, VII, IX e X do art. 2º da referida Lei elenca entre os princípios da Política Nacional do Meio Ambiente a racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar, o planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais, a proteção dos ecossistemas, com a preservação de áre- as representativas, os incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orien- tadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais, o acompa- nhamento do estado da qualidade ambiental, a proteção de áreas ameaçadas de degradação e a educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participaçãoativa na defesa do meio ambiente. A prevenção é o princípio que fundamenta e que mais está presente em toda a legislação ambiental e em todas as políticas públicas de meio ambiente. A dificuldade, improbabilidade ou mesmo impossibilidade de recuperação é a regra em se tratando de um dano ao meio ambiente. A recuperação de uma lesão ambiental é quando possível muito demorada e onerosa, de forma que na maior parte das vezes somente a atuação preventiva pode ter efetividade. São inúmeros os casos em que as catástrofes ambientais não têm reparação e seus efeitos acabam sendo sentidos apenas pelas gerações futuras, o que res- salta o dever de prevenção. De fato, é melhor para o meio ambiente que o dano ambiental nunca ocorra do que ele ocorrer e ser recuperado depois. PÁGINA 34 A reparação, a indenização e a punição devem ser, respectivamente, os últimos recursos do direito ambiental. Devido a essas características do dano ambiental, a Constituição Federal reco- nheceu que deve ser dada prioridade às medidas que impeçam o surgimento degradações ao meio ambiente. O princípio da prevenção é aplicado em relação aos impactos ambientais co- nhecidos e dos quais se possa estabelecer as medidas necessárias para pre- ver e evitar os danos ambientais. 1.1.2 - Princípio da Precaução O princípio da precaução estabelece a vedação de intervenções no meio am- biente, salvo se houver a certeza que as alterações não causaram reações ad- versas, já que nem sempre a ciência pode oferecer à sociedade respostas con- clusivas sobre a inocuidade de determinados procedimentos. A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento con- sagrou pioneiramente o princípio da precaução no âmbito internacional, eman- cipando-o em relação ao princípio da prevenção, ao estabelecer no Princípio 15 que “De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de abso- luta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medi- das eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. Ao contrário dos tratados e convenções, que têm de passar por um proces- so de ratificação junto ao Poder Legislativo dos países membros da ONU, o princípio da precaução não é transposto automaticamente para o ordenamento jurídico interno do mesmos tendo em vista constar somente em declarações de direito. Com efeito, existe uma grande semelhança entre o princípio da precaução e o princípio da prevenção que o primeiro é apontado como um aperfeiçoamento do segundo. Prova disso é que os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente que se prestam a efetivar a prevenção são apontados também como instrumentos que se prestam a efetivar a precaução. Nesse sentido é a opinião de Ana Carolina Casagrande Nogueira: O “princípio de precaução”, por sua vez, é apontado, pelos que defendem seu status de novo princípio jurídico-ambiental, como um desenvolvimento e, sobre- tudo, um reforço do princípio da prevenção. Seu fundamento seria, igualmente, PÁGINA 35 a dificuldade ou impossibilidade de reparação da maioria dos danos ao meio ambiente, distinguindo-se do princípio da prevenção por aplicar-se especifica- mente às situações de incerteza científica15. Dessa forma, ao passo que a precaução diz respeito à ausência de certezas científicas, a prevenção deve ser aplicada para o impedimento de danos cuja ocorrência é ou poderia ser sabida. Paulo de Bessa Antunes16 pondera que o impedimento de uma determinada ati- vidade com base no princípio da precaução somente deve ocorrer se houver uma justificativa técnica fundada em critérios científicos aceitos pela comunida- de internacional, já que por vezes opiniões isoladas e sem embasamento têm sido utilizadas como pretexto para a interrupção de experiências e projetos so- cialmente relevantes. 1.1.3 - Princípio do Poluidor-Pagador O objetivo do princípio do poluidor-pagador é forçar a iniciativa privada a inter- nalizar os custos ambientais gerados pela produção e pelo consumo na forma de degradação e de escasseamento dos recursos ambientais. Esse princípio estabelece que quem utiliza o recurso ambiental deve suportar seus custos, sem que essa cobrança resulte na imposição taxas abusivas, de maneira que nem Poder Público nem terceiros sofram com tais custos. Como afirma Paulo Affonso Leme Machado, ao causar uma degradação am- biental o indivíduo invade a propriedade de todos os que respeitam o meio am- biente e afronta o direito alheio. O princípio do poluidor-pagador foi introduzido pela Organização para a Coo- peração e Desenvolvimento Econômico – OCDE em 26 de maio de 1972 por meio da Recomendação C(72) 128 do Conselho Diretor, que trata da relação entre as políticas ambiental e econômica. 15 NOGUEIRA, Ana Carolina Casagrande. O conteúdo jurídico do princípio da precaução no direito ambiental brasileiro. Estado de direito ambiental: tendências: aspectos constitucionais e diagnósticos. FERREIRA, Heline Sivini; LEITE, José Rubens Morato (orgs). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p 199. 16 ANTUNES, Paulo de Bessa. Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA: Comentários à Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 28. PÁGINA 36 A segunda parte do inciso VII do art. 4º da Lei nº 6.938/81 prevê o princípio do poluidor-pagador ao determinar que a Política Nacional do Meio Ambiente visa- rá à imposição ao usuário de contribuição pela utilização de recursos ambien- tais com fins econômicos. A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento tam- bém dispôs sobre o princípio do poluidor-pagador ao estabelecer no Princípio 16 que “Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômi- cos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais”. O princípio do poluidor pagador tem sido confundido por grande parte da doutri- na com o princípio da responsabilidade. Contudo, o seu objetivo não é recuperar um bem lesado nem criminalizar uma conduta lesiva ao meio ambiente, e sim afastar o ônus econômico da coletivi- dade e voltá-lo para a atividade econômica utilizadora de recursos ambientais. Nesse sentido, destaca Paulo de Bessa Antunes: O princípio do poluidor pagador parte da constatação de que os recursos am- bientais são escassos e o seu uso na produção e no consumo acarretam a sua redução e degradação. Ora, se o custo da redução dos recursos naturais não for considerado no sistema de preços, o mercado não será capaz de refletir a escassez. Assim sendo, são necessárias políticas públicas capazes de eli- minar a falha de mercado, de forma a assegurar que os preços dos produtos reflitam os custos ambientais. Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin afirma que o princípio do polui- dor-pagador visa a fazer com que o empreendedor inclua nos custos de sua atividade todos as despesas relativas à proteção ambiental. A poluição dos recursos ambientais de uma maneira geral, e especialmente em se tratando daqueles bens mais facilmente encontrados na natureza, como a água, o ar e o solo, por conta da natureza difusa, é normalmente custeada pelo Poder Público. Em termos econômicos, esse custo é um subsídio à atividade econômica po- luidora, já que não está sendo levado em conta os prejuízos sofridos pela so- ciedade que ocorrem tanto quando a coletividade sente os efeitos da poluição quando os cofres públicos deixam de aplicar seu dinheiro em outra finalidade para descontaminar uma determinada região ou um determinado recurso am- biental. PÁGINA 37 O objetivo do princípio do poluidor-pagador é evitar que ocorra a simples priva- tização dos lucros e a socialização dosprejuízos dentro de uma determinada atividade econômica. Os recursos ambientais de uma forma geral, e principalmente aqueles encon- trados em maior abundância na natureza, como a água (no caso de determina- das regiões do Brasil e do mundo), o ar e a areia, são historicamente degrada- dos por determinados setores econômicos, que têm obtido o lucro à revelia do prejuízo sofrido pela coletividade. Trata-se de uma espécie de privatização dos lucros e socialização dos prejuí- zos, o que significa um enriquecimento ilícito visto que de acordo com o caput do art. 225 da Constituição Federal o meio ambiente é um “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”. O princípio do poluidor-pagador leva em conta que os recursos ambientais são escassos, portanto, sua produção e consumo geram reflexos ora resultando sua degradação, ora resultando sua escassez. Além do mais, ao utilizar gratuitamente um recurso ambiental está se gerando um enriquecimento ilícito, pois como o meio ambiente é um bem que pertence a todos, boa parte da comunidade nem utiliza um determinado recurso ou se utiliza, o faz em menor escala. 1.1.4 Princípio da Responsabilidade O princípio da responsabilidade faz com que os responsáveis pela degradação ao meio ambiente sejam obrigados a arcar com a responsabilidade e com os custos da reparação ou da compensação pelo dano causado. Esse princípio está previsto no § 3º do art. 225 da Constituição Federal, que dispõe que “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e admi- nistrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. A primeira parte do inciso VII do art. 4º da Lei nº 6.938/81 prevê o princípio da responsabilidade ao determinar que a Política Nacional do Meio Ambiente visa- rá à imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou inde- nizar os danos causados ao meio ambiente. O inciso IX do art. 9º dessa Lei também prevê o princípio da responsabilidade ao classificar como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente as pe- nalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. PÁGINA 38 O princípio da responsabilidade também foi consagrado pelo inciso VII do art. 4º e no § 1º do art. 14 da referida Lei ao dispor, respectivamente, que a Políti- ca Nacional do Meio Ambiente visará à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos, e que sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade, prevendo ainda que o Ministério Público da União e dos Estados terá legitimi- dade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente. A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento tam- bém dispôs sobre o princípio do poluidor-pagador ao estabelecer no Princípio 13 que “Os Estados irão desenvolver legislação nacional relativa à responsabi- lidade e à indenização das vítimas de poluição e de outros danos ambientais. Os Estados irão também cooperar, de maneira expedita e mais determinada, no desenvolvimento do direito internacional no que se refere à responsabilida- de e à indenização por efeitos adversos dos danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle”. Pelo princípio da responsabilidade o poluidor, pessoa física ou jurídica, respon- de pelas ações ou omissões de sua responsabilidade que resultarem em pre- juízo ao meio ambiente, ficando sujeito a sanções cíveis, penais ou adminis- trativas, já que a responsabilidade ambiental se dá de forma independente e simultânea nas esferas cível, criminal e administrativa. Se for detectado falha no sistema de prevenção ou de precaução de uma de- terminada atividade econômica, assistirá a ela a obrigação de reparar o meio ambiente degradado. É importante destacar que muitos autores confundem esse princípio com o do poluidor pagador, porém a aplicabilidade deles ocorre em momentos distintos. A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento tam- bém dispôs sobre o princípio da responsabilidade ao estabelecer no Princípio 13 que “Os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à respon- sabilidade e indenização das vítimas de poluição e outros danos ambientais. Os Estados devem ainda cooperar de fomra expedita e determinada para o de- senvolvimento de normas de direito ambiental internacional relativas à respon- sabilidade e indenização por efeitos adversos de danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle”. PÁGINA 39 Este é o princípio da responsabilidade, segundo o qual o degradador assume os riscos de sua atividade arcando com os todos os prejuízos em matéria am- biental, seja perante as pessoas com quem se relacionou, ou seja, perante ter- ceiros. O poluidor poderá reparar uma área degradada, por exemplo, e/ou indenizar os prejudicados como uma forma de compensação pelos prejuízos. Vale ressaltar que esse procedimento também possui a função de prevenir tais danos posto que inibe, por meio de exemplos, potenciais degradações. 1.1.5 Princípio da Gestão Democrática O princípio da gestão democrática do meio ambiente assegura ao cidadão o direito à informação e a participação na elaboração das políticas públicas am- bientais, de modo que a ele deve ser assegurado os mecanismos judiciais, le- gislativos e administrativos que efetivam o princípio. Esse princípio da gestão democrática diz respeito não apenas ao meio ambien- te, mas a tudo o que for de interesse público. Na verdade, a democracia participativa também é consagrada por diversos dis- positivos da Constituição Federal, como o parágrafo úncio do art. 1º que dispõe que o poder é exercido por meio de representantes eleitos ou diretamente pelo povo. Entretanto, no que diz respeito ao meio ambiente o princípio da gestão demo- crática é ainda mais importante, visto que se trata de um direito difuso que em regra não pertence a nenhuma pessoa ou grupo individualmente considerado. A realidade tem mostrado que é praticamente impossível que o Poder Público consiga acabar ou diminuir a degradação ambiental sem a participação da so- ciedade civil. O caput do art. 225 da Constituição Federal consagra o princípio da gestão de- mocrática ao dispor que é dever do Poder Público e da coletividade defender e preservar o meio ambiente. A Política Nacional do Meio Ambiente está estruturada no pressuposto de que a sociedade deve participar ativamente nas decisões e nos processos adminis- trativos que possam dizer respeito ao meio ambiente. É por isso que o inciso I do art. 2º da Lei nº 6.938/81 classifica o meio ambien- te como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido tendo em vista o uso coletivo. PÁGINA 40 Os incisos VI, VII e VIII do art. 5º do Decreto nº 99.247/90 determinam a parti- cipação da sociedade civil, por meio de entidades de classe, de organizações não governamentais e de movimentos sociais no CONAMA, que é o órgão con- sultivo e deliberativo do SISNAMA. O art. 20 da Resolução nº 237/97 do CONAMA exige que para os entes federa- tivos poderem exercer a competência licenciatória é necessário que tenham im- plementado os Conselhos de Meio Ambiente com caráter deliberativo e a obri- gatória participação da sociedade civil. O art. 2º da Resolução nº 9/87 do CONAMA e o art. 3º da Resolução nº 237/97 do CONAMA preveem a realização de audiência pública nos processos admi- nistrativos de licenciamento ambiental em que for necessárioo estudo e o rela- tório de impacto ambiental, caso alguma entidade civil, o Ministério Público ou pelo menos cinquenta cidadãos o requeira. O Estatuto da Cidade, ou Lei nº 10.257/2001, determina nos incisos II e XIII do art. 2º que a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimen- to das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante a gestão democrática por meio da participação da população e de associações repre- sentativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano e a audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos pro- cessos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos poten- cialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população, entre outras diretrizes. O art. 43 da referida Lei determina que para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre outros instrumentos, os órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal, os debates, audi- ências e consultas públicas, as conferências sobre assuntos de interesse urba- no, nos níveis nacional, estadual e municipal, e a iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano. O Direito Ambiental surgiu em virtude da atuação dos movimentos sociais, sen- do por isso a importância do princípio da gestão democrática, que se manifesta por meio da informação e da participação. A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento tam- bém dispôs sobre o princípio da responsabilidade ao estabelecer no Princípio 10 que “A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a par- ticipação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível na- cional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a PÁGINA 41 oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judi- ciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos”. De acordo com Paulo de Bessa Antunes, o princípio da gestão democrática assegura a participação dos cidadãos na elaboração das políticas públicas de meio ambiente e no acesso à informação dos órgãos administrativos de meio ambiente e do Poder Público de uma forma geral em relação à questões am- bientais. O princípio da gestão democrática é também chamado de princípio democrá- tico ou de princípio da participação e deve ser aplicado tanto em relação aos três Poderes ou funções do Estado. No que diz respeito ao Poder Executivo, esse princípio se manifesta por exem- plo através da participação da sociedade civil nos Conselhos de Meio Ambiente e do controle social em relação a processos e procedimentos administrativos como o licenciamento ambiental e o estudo e relatório de impacto ambiental. No que diz respeito ao Poder Legislativo, esse princípio se manifesta por exem- plo através de iniciativas populares, plebiscitos e referendos de caráter ambien- tal e da realização de audiências públicas que tenham o intuito de discutir pro- jetos de lei relacionados ao meio ambiente. No que diz respeito ao Poder Judiciário, esse princípio se manifesta por exem- plo através da possibilidade dos cidadãos individualmente, por meio de ação popular, e do Ministério Público, das organizações não governamentais, de sin- dicatos e de movimentos sociais de uma forma geral, por meio de ação civil pública ou de mandado de segurança coletivo, questionarem judicialmente as ações ou omissões do Poder Público ou de particulares que possam repercutir negativamente sobre o meio ambiente. Há doutrinadores que citam a informa- ção e a educação ambiental como princípios do Direito Ambiental. Os incisos VII e XI do art. 9º da Lei nº 6.938/81 estabelece o sistema nacio- nal de informações sobre o meio ambiente e a garantia de prestação de infor- mações relativas ao meio ambiente como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, dispondo inclusive que o Poder Público é obrigado a produzir as informações quando elas forem inexistentes. A segunda parte do inciso V do art. 4º determina que a Política Nacional do Meio Ambiente visará “à divulgação de dados e informações ambientais e à for- mação de uma consciência pública sobre a necessidade a necessidade de pre- servação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico”. PÁGINA 42 O § 3º do art. 6º dispõe que os órgãos administrativos de meio ambiente têm a obrigação de fornecer os resultados das análises efetuadas e sua fundamenta- ção, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada. O Constituição Federal também trata da informação em matéria ambiental ao determinar genericamente no caput do art. 220 que “A manifestação do pensa- mento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Consti- tuição”. No inciso II do § 3º do citado dispositivo existe uma referência direta à informa- ção em matéria ambiental, quando se dispõe que compete à lei federal estabe- lecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente. Já a educação ambiental e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente está prevista expressamente como uma obrigação do estado em relação a todos os níveis de ensino pelo inciso VI do § 1º do art. 225 da Constituição Federal. O inciso X do art. 2º da Lei nº 6.938/81 dispõe que um dos princípios da Políti- ca Nacional do Meio Ambiente é a promoção de educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. O inciso VII do art. 1º do Decreto nº 99.247/90 determina que na execução da Política Nacional do Meio Ambiente cumpre ao Poder Público, nos seus dife- rentes níveis de governo, orientar a educação, em todos os níveis, para a par- ticipação ativa do cidadão e da comunidade na defesa do meio ambiente, cui- dando para que os currículos escolares das diversas matérias obrigatórias con- templem o estudo da ecologia. A Lei nº 9.795/99 estabeleceu a Política Nacional de Educação Ambiental, defi- nindo como educação ambiental no art. 1º “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilida- des, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua susten- tabilidade”. PÁGINA 43 1.1.6 Princípio do Limite Também voltado para a Administração Pública, cujo dever é fixar parâmetros mínimos a serem observados em casos como emissões de partículas, ruídos, sons, destinação final de resíduos sólidos, hospitalares e líquidos, dentre ou- tros, visando sempre promover o desenvolvimento sustentável. A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento tam- bém dispôs sobre o princípio da responsabilidade ao estabelecer no Princípio 3 que “O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações presentes e futuras”. O inciso V do § 1º do artigo 225 da Constituição Federal determina que para assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado incumbe ao Poder Público “controlar a produção, a comercialização e o emprego de técni- cas, métodos e substâncias
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