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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DE SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO CURSO DE NUTRIÇÃO Letícia da Silva Brighente Associação de fatores dietéticos com o crescimento nos dois primeiros anos de vida em crianças com fibrose cística: uma revisão sistemática Florianópolis 2021 Letícia da Silva Brighente Associação de fatores dietéticos com o crescimento nos dois primeiros anos de vida em crianças com fibrose cística: uma revisão sistemática Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em Nutrição do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de Nutricionista. Orientador: Prof. Daniela Barbieri Hauschild, Dr. Florianópolis 2021 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO DECLARAÇÃO DE ANUÊNCIA DO ORIENTADOR Eu, Daniela Barbieri Hauschild, professora do Curso de Nutrição, lotado no Departamento de Nutrição, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), declaro anuência com a versão final do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do (a) aluno(a) Letícia da Silva Brighente, submetido ao Repositório Institucional da UFSC. Florianópolis, 07 de maio de 2021. _____________________________________ Profa. Dra. Daniela Barbieri Hauschild Orientadora do TCC Este trabalho é dedicado ao meu amado avô (in memorian), que sempre acreditou em mim e sonhava com a minha formatura. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a minha mãe, Rozária, por todo apoio, incentivo e amor. Obrigada por sempre estar presente fazendo com que os dias de estudos fossem mais leves, por me permitir dedicação quase que exclusiva à faculdade, por preparar os nossos cafezinhos e por ser uma mãe tão atenciosa. Sou muito grata por tudo! Ao meu pai, Ciro, por todo amor, incentivo e por sempre me proporcionar a melhor educação para que eu entrasse em uma universidade pública. À minha madrasta, Danielle e às minhas irmãs, Manuela e Sofia, por todos os bons momentos e por fazerem parte da minha vida. Aos meus avós, Tarcísio e Luiza, que sempre acompanharam tão de perto a minha trajetória escolar, sempre vibrando e que são/foram avós tão presentes e amorosos. À minha Tia Ana, Tia Caim e Tio Mauro, obrigada por sempre estarem torcendo por mim e por se alegrarem tanto com as minhas conquistas. Aos meus primos, Ricardo, Paulo Henrique, Marina e Ana Lídia, vocês são meus “irmãos mais velhos”. Com certeza são meus exemplos de dedicação aos estudos, ao trabalho e de persistência e determinação. Obrigada por todo incentivo e por toda ajuda ao longo da vida acadêmica. E aos nossos “mascotinhos”, Arthur e Maria Alice, obrigada por trazerem ainda mais felicidade para nossa família. Agradeço imensamente por ter encontrado uma amiga, Juliana, tão fiel e parecida comigo dentro da graduação. Obrigada por ser a minha dupla para tudo desde a primeira fase do curso. Obrigada por cada troca de aprendizado, por toda dedicação mútua aos trabalhos, por toda ajuda ao longo desses anos. E por apesar de fora do seu tema de estudo, contribuir com suas ótimas sugestões nesse trabalho. A faculdade foi muito mais leve e prazerosa com você. Obrigada também por todos os momentos de lazer, como praias, festas, cafés, sempre tão especiais. Sou muito grata pela forte e linda amizade que construímos, seguiremos juntas por todos os novos caminhos da vida. Às minhas amigas de curso, obrigada por cada momento compartilhado, tanto dentro como fora da faculdade. À Julia, por dividir grande parte da rotina comigo, seja nos trajetos para a faculdade ou durante o estágio no Hospital Infantil. Obrigada por sempre ter palavras de conforto frente as adversidades e por toda a parceria em festas, mas também em momentos de seriedade. À Gabriela, por sempre ser incentivadora e por sempre me escutar, exemplo de amiga, dedicação e organização. À Larissa, pelas trocas de conhecimento e agradável companhia. E à Pricila, por todas as doces palavras e as boas conversas. Agradeço por ter vocês em minha vida, essa jornada não seria tão especial se não fosse a presença de cada uma! À minha querida amiga de escola Gabrielle, que apesar da rotina corrida sempre se faz presente, me apoiando e se alegrando inteiramente com as minhas conquistas. À minha admirável professora orientadora, Daniela Barbieri Hauschild, pela excelente orientação para execução desse trabalho. Sou muito grata pelas palavras de carinho, incentivo, motivação e por todas as belíssimas sugestões. O desafio de realizar revisão sistemática como TCC foi amenizado com a sua orientação tão precisa, dedicada e cuidadosa. E ainda, obrigada pelas maravilhosas aulas da graduação. Por ter uma didática tão clara e por sempre se esforçar em passar o que há de mais atualizado para os alunos. És um exemplo de pessoa e de profissional. Muito, muito obrigada! À nutricionista Monique Ferreira Garcia, pelas excelentes contribuições e sugestões, e por ter me apresentado o mundo encantador da Fibrose Cística. As oportunidades de acompanhar cada paciente foram momentos muito gratificantes que jamais serão esquecidos. E ao Bruno, por toda incansável ajuda, dedicação e pelas palavras de incentivo durante a execução desse trabalho. Às nutricionistas Julia Carvalho Ventura e Carolina de Quadros Camargo por aceitarem o convite para compor a banca de avaliação. Por fim, agradeço imensamente a oportunidade de estudar em uma universidade pública, gratuita e de qualidade, e no local que sempre sonhei desde criança: a Universidade Federal de Santa Catarina. A todos que de alguma forma contribuíram ao longo da formação e para a realização desse trabalho, muito obrigada! RESUMO Introdução: Otimizar o crescimento desde a primeira infância na fibrose cística (FC) é fundamental, uma vez que a função pulmonar e a sobrevida estão correlacionadas com o estado nutricional. A modalidade de alimentação ideal para crianças com FC (leite materno, fórmula infantil ou uma combinação) não está claramente definida, apesar de haver evidências dos benefícios da amamentação. Ainda, não há evidências que apoiem o uso rotineiro de uma fórmula infantil hidrolisada ou de alta energia para esses pacientes. Objetivo: Descrever a alimentação nos dois primeiros anos de vida de crianças com FC e avaliar o impacto da alimentação no crescimento nos dois primeiros anos de vida. Métodos: Revisão sistemática da literatura nas bases PubMed/Medline e Não Medline, Scopus, Web of Science, Embase e literatura cinzenta no Google Scholar. Estudos observacionais, ensaios clínicos e relatos de caso que avaliaram fatores dietéticos e/ou fatores dietéticos relacionados com crescimento de crianças com FC nos primeiros dois anos de vida foram incluídos na revisão. Dados de alimentação e crescimento foram os principais desfechos de interesse. Resultados: Dentre 3.565 artigos identificados, foram selecionados 22 estudos, sendo 15 com dados de associação da alimentação com o crescimento e 7 apenas com dados dietéticos. A prevalência de aleitamento materno variou de 21 a 63%. A utilização de fórmula infantil exclusiva aos 3 meses de idade variou de 55 a 71%. A associação do tipo de alimentação com o crescimento foi controversa. Não foi encontrada diferença no crescimento entre quemutilizou fórmula polimérica ou oligomérica, assim como entre quem utilizou fórmula específica para FC ou convencional. Somente quatro estudos apresentaram dados sobre terapia nutricional enteral e nutrição parenteral. O início da introdução alimentar foi diverso entre os estudos. A suplementação de sódio teve prevalência de 98 e 99% nos dois estudos em que foi mencionada. Conclusão: Mais estudos prospectivos longitudinais são necessários para verificar o impacto do aleitamento materno e das fórmulas infantis sobre o crescimento nos dois primeiros anos de vida de crianças com FC, principalmente sobre o tempo de exclusividade e a duração do aleitamento materno, bem como o uso de fórmulas infantis. Palavras chaves: Fibrose cística. Crianças. Alimentação. Aleitamento materno. Fórmulas Infantis. Crescimento. Ganho de Peso. Revisão sistemática. LISTA DE ABREVIATURAS AGE Ácidos graxos essenciais ATP Adenosina trifosfato C/I Comprimentoparaidade CFF Cystic Fibrosis Foundation CFTR Canal regulador de condutância transmembrana de fibrose cística (Do inglês: Cystic Fibrosis Transmembrane Regulator) EUA Estados Unidos da América ESPEN European Society for Clinical Nutrition and Metabolism ESPEGHAN European Society for Paediatric Gastroenterology Hepatology and Nutrition ECFS European Cystic Fibrosis Society FC Fibrose Cística FI Fórmula Infantil FIE Fórmula Infantil Exclusiva HIJG Hospital Infantil Joana de Gusmão IL Interleucina IM Íleo meconial IMC Índice de massa corporal IMC/I Índice de massa corporalparaidade IP Insuficiência pancreática IRT Tripsinogênio imunorreativo NOS The NewcastleOttawa Scale NP Nutrição parenteral P/C Pesoparacomprimento P/I Pesoparaidade PCR Proteína Creativa PRISMA Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalysis PROSPERO International Prospective Register of Systematic Reviews TCC Trabalho de conclusão de curso TNE Terapia nutricional enteral U Unidade VEF1 Volume expiratório forçado no primeiro segundo SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12 1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 13 1.1.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 13 1.1.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 13 2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 14 2.1 FIBROSE CÍSTICA ........................................................................................................... 14 2.1.1 Conceito e epidemiologia ............................................................................................... 14 2.1.2 Diagnóstico ..................................................................................................................... 15 2.1.3 Fisiopatologia: alterações pulmonares e gastrointestinais ......................................... 17 2.1.4 Tratamento ..................................................................................................................... 19 2.1.5 Nutrição e FC ................................................................................................................. 22 2.1.5.1 Aleitamento materno e FC ............................................................................................ 26 3 MÉTODOS ........................................................................................................................... 27 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO ................................................................................ 27 3.2 SELEÇÃO DOS ESTUDOS .............................................................................................. 28 3.3 EXTRAÇÃO DE DADOS ................................................................................................. 29 4 RESULTADOS .................................................................................................................... 30 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 58 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 59 APÊNDICE A ......................................................................................................................... 65 APÊNDICE B .......................................................................................................................... 67 12 1 INTRODUÇÃO A fibrose cística (FC), também chamada de mucoviscidose, é uma doença genética autossômica recessiva caracterizada pela disfunção da proteína transmembranática reguladora do transporte iônico de cloro, o Canal Regulador de Condutância Transmembrana de Fibrose Cística (CFTR, do inglês Cystic Fibrosis Transmembrane Regulator), também chamada de canal de cloro (CANT; POLLOCK; FORD, 2014; KLIMOVA et al., 2017). Tratase de uma doença multissistêmica que ocorre mais frequentemente em populações descendentes de caucasianos (ATHANAZIO et al., 2017). No Brasil, estimase que a incidência de FC seja de 1:7.576 nascidos vivos, porém, apresenta diferenças regionais, com valores mais elevados nos estados da região Sul (ATHANAZIO et al., 2017). Seus efeitos afetam principalmente as células do tecido epitelial exócrino, e acarretam em defeito no transporte do íon cloro, causando a desidratação de secreções e a consequente produção de muco hiperviscoso, com obstrução das vias aéreas, insuficiência pancreática (IP) e má absorção intestinal (LUBAMBA et al., 2012). A desnutrição é uma característica frequente nos pacientes com FC, considerada mau prognóstico e está associada à piora da função pulmonar (SMYTH et al., 2014; TURCK et al., 2016). O manejo nutricional é, portanto, padrão de tratamento em pacientes com FC (TURCK et al., 2016). A desnutrição resulta de uma combinação de condições de perda de energia, principalmente pela má digestão e má absorção, alta necessidade energética e ingestão inadequada de nutrientes. A má digestão e absorção ocorrem devido à liberação insuficiente de enzimas pancreáticas no lúmen intestinal (IP exócrina). As perdas de energia são ainda agravadas quando anormalidades digestivas estão associadas a alterações metabólicas, como inflamação intestinal, supercrescimento bacteriano no intestino delgado e baixa produção de bicarbonato (TURCK et al., 2016). Como consequências da desnutrição, destacamse a função respiratória e imunológica prejudicadas, déficit de crescimento e diminuição da qualidade e expectativa de vida (TURCK et al., 2016). Se não tratada, a desnutrição na infância pode levar ao comprometimento da função cognitiva. Até o momento, uma dieta rica em calorias, rica em gorduras, com terapia de reposição enzimática pancreática e suplementação de vitaminas lipossolúveis tem sido considerada o padrão de cuidado nutricional para FC (TURCK et al., 2016). Para lactentes, a recomendação é que se mantenha o aleitamento materno, pois já se reconhece a presença de moduladores do sistema imunológico, como imunoglobulinas protetoras, citocinas imunomoduladoras e anti 13 inflamatórias e lactoferrina antibacteriana antiviral, que demonstram influenciar o sistema imunológico anos após a interrupçãoda amamentação (PARKER et al., 2004; TURCK et al., 2016). Apesar de a amamentação ser priorizada também para crianças com FC, ainda não está bem estabelecido nas diretrizes o tempo de exclusividade e a duração do aleitamento materno que seria recomendado para essa população (BOROWITZ et al., 2009; JADIN et al., 2011; TURCK et al., 2016). Portanto, o objetivo desta revisão sistemática é obter um panorama geral sobre a amamentação e a alimentação de crianças com FC nos primeiros dois anos de vida. A fim de compreender e descrever o perfil alimentar nesse período, sua associação com o crescimento e contribuir para a otimização dos cuidados dessa população. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo geral Revisar sistematicamente estudos que avaliaram fatores dietéticos e crescimento nos dois primeiros anos de vida em crianças com FC. 1.1.2 Objetivos específicos Descrever a alimentação nos dois primeiros anos de vida de crianças com FC. Avaliar o impacto da alimentação no crescimento de crianças com FC nos dois primeiros anos de vida. 14 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 FIBROSE CÍSTICA 2.1.1 Conceito e epidemiologia A FC segue um padrão genético autossômico recessivo mendeliano clássico, em que dois pais portadores assintomáticos têm 25% de chance de ter um filho com FC (BITONTI; FRITTS; SO, 2019). É a doença hereditária autossômica recessiva com risco de morte mais comum entre os indivíduos caucasianos, ou seja, brancos de descendência europeia (CANT; POLLOCK; FORD, 2014). Ocorre devido a mutações no gene CFTR, responsável por codificar a proteína que recebe o mesmo nome do gene. Foi identificado em 1989 e está localizado no braço longo do cromossomo 7 (locus 7q31) (KEREM et al., 1989). A proteína CFTR é uma glicoproteína, integrante da família de transportadores de membrana acoplados a adenosina trifosfato (ATP), que se localiza principalmente nas superfícies apicais ou luminais das células epiteliais que revestem as vias aéreas, intestino, glândulas exócrinas e tecidos reprodutivos (LI; NAREN, 2005). Sua principal função é o transporte iônico de cloreto e água através da membrana apical e o interior da célula (BITONTI; FRITTS; SO, 2019). Atualmente, existem cerca de 2.073 mutações (Cystic fibrosis Mutation Database, 2019) que podem acometer o gene CFTR e tornar a proteína disfuncional. E estas podem ser organizadas em seis classes diferentes, com base em seu mecanismo. Nas mutações de classe I ocorre a inibição completa da síntese da proteína CFTR. As mutações de classe II produzem versões imaturas da proteína, com degradação prematura e falha em alcançar a membrana apical, que podem ocasionar CFTR não funcional ou com função substancialmente reduzida (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009; LUBAMBA et al., 2012; BITONTI; FRITTS; SO, 2019). Dentro das mutações de classe II está a mutação mais comum, que afeta mais de 70% dos indivíduos brancos com FC, e corresponde a uma deleção de três pares de bases que codifica a fenilalanina na posição 508 da proteína CFTR, sendo conhecida como ΔF508 (KLIMOVA et al., 2017; LUBAMBA et al., 2012). As mutações de classe III impedem que a proteína se abra adequadamente, impedindo o fluxo normal de íons cloreto para fora da célula, ou seja, a proteína está localizada corretamente, porém, não é operante. As mutações de classe IV levam à baixa condutância dos íons cloreto, com transporte reduzido através da CFTR na membrana apical. Neste caso, há presença de proteína CFTR funcional. As 15 mutações de classe V produzem proteínas que funcionam normalmente, entretanto, apresentam se em quantidades reduzidas. Já as mutações da classe VI aumentam a degradação ou a rotatividade da proteína CFTR (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009; BITONTI; FRITTS; SO, 2019;). De modo geral, as mutações das classes I, II e III estão associadas a nenhuma função residual da CFTR e os pacientes normalmente apresentam um fenótipo grave. Enquanto que os indivíduos com as mutações das classes IV, V e VI têm alguma função residual da proteína, apresentam pulmão com fenótipo leve e suficiência pancreática (ELBORN, 2016). A FC é uma doença que afeta mais de 80.000 pessoas em todo o mundo, com incidência de aproximadamente 1 em 3.500 recémnascidos brancos nos Estados Unidos da América (EUA) e 1 em 2.500 recém nascidos no Reino Unido, apresentando uma incidência ainda maior na Europa (LUBAMBA et al., 2012; BITONTI; FRITTS; SO, 2019). Entretanto, a prevalência varia de acordo com o país e com a origem étnica; em latinos americanos, estimase uma prevalência de 1 em 4.000 a 10.000 e 1 em 15.000 a 20.000 afroamericanos. Enquanto que na África e na Ásia, é uma doença incomum, com frequência relatada de 1 em 350.000 no Japão (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009). No Brasil, verificouse prevalência de 4.654 pacientes no ano de 2016, de acordo com o Relatório Anual do Grupo Brasileiro de Estudos de Fibrose Cística (GBEFC, 2016). A região sul é a segunda região com o maior número de casos, aproximadamente 21,3% (n=992), atrás somente da região sudeste, com 48,5% (n=2.259). Santa Catarina é o sétimo estado mais acometido, com 5% (n=234) dos casos, sendo São Paulo o estado com a maior prevalência (25,5%, n=1.185) (GBEFC, 2016). Originalmente, a FC era considerada uma doença pediátrica, porém, os avanços no tratamento de apoio e inovações na farmacoterapia melhoraram significativamente a sobrevida, aumentando o número de adultos que vivem com a doença (BITONTI; FRITTS; SO, 2019). Segundo Bitonti, Fritts e So (2019), a porcentagem de doentes com FC com mais de 18 anos aumentou de 29,2% em 1986 para 52,7% em 2016. Além disso, a expectativa de vida aumentou de meses, na década de 1950, para uma média de 40 anos. De acordo com o registro de pacientes da Cystic Fibrosis Foundation (2017), nos EUA, mais de 30.000 pessoas estão vivendo com FC (mais de 70.000 em todo o mundo); aproximadamente 1.000 novos casos são diagnosticados a cada ano, e mais de 75% das pessoas são diagnosticadas até os 2 anos de idade. 2.1.2 Diagnóstico 16 O caminho para o diagnóstico de FC pode ser realizado mais comumente por três maneiras: triagem de recémnascidos (popularmente conhecida como Teste do pezinho), teste do suor e teste genético. No Brasil, a dedicação ao diagnóstico durante a infância, iniciando pela triagem neonatal, é significativa, contribuindo para o tratamento precoce, um bom prognóstico e sobrevida dos pacientes (HAACK, 2013). Santa Catarina, em 2000, foi o primeiro estado do país a implementar a FC na triagem de recémnascidos; antes mesmo da aprovação da Portaria do Ministério da Saúde do Governo Federal de 2001, a qual determinou a gratuidade e obrigatoriedade da realização dos testes sanguíneos para diagnóstico neonatal de FC (LUDWIGNETO, N., 2019; SANTA CATARINA, 2019). A triagem neonatal é realizada pela mensuração do tripsinogênio imunorreativo (IRT) nas manchas de sangue coletadas de recémnascidos. Uma concentração muito alta de IRT sugere lesão pancreática consistente com FC, mas não específica. Esse marcador é aumentado mesmo em bebês com mutações de classe IV ou V associadas à suficiência pancreática. Os bebês que apresentam alta concentração de IRT no teste inicial, passam por uma reavaliação e repetição do exame 1 a 3 semanas depois, ou pela análise genética para um grupo específico de mutações no CFTR. Um resultado positivo da triagem indica apenas que a criança está em maior risco para FC, sendo assim, um teste de suor ainda deve ser feito para confirmar o diagnóstico (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009). Em Santa Catarina, é adotado como normalidade valores de IRTabaixo de 70 mcg/mL. Se alterado, ocorre a repetição do teste, e se confirmar a disfunção, o bebê será encaminhado para uma avaliação médica e realização do teste do suor no laboratório do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), o qual é referência estadual para o diagnóstico e tratamento da doença (LUDWIGNETO, N. 2019). O teste do suor (iontoforese de pilocarpina) é realizado pela mensuração da concentração de cloreto, em que um nível de cloreto no suor maior ou igual a 60 mmol/L é consistente com o diagnóstico de FC. Um segundo teste confirmatório é recomendado, a menos que duas mutações causadoras de FC sejam identificadas por testes genéticos (ROSENFELD; SONTAG; REN, 2016). Um nível de cloreto de suor menor que 30 mmol/L indica improvável FC, já nos indivíduos que se enquadram no nível intermediário de cloreto de suor, 3059 mmol/L, é necessária análise genética (FARRELL et al., 2017). O responsável pela maior concentração de cloreto no suor secretado é o mau funcionamento das glândulas sudoríparas, que são bloqueadas por muco e tornamse incapazes de excretar cloreto, enquanto o sódio é absorvido em excesso e a água segue passivamente (KLIMOVA et al., 2017). A partir dos avanços nos métodos diagnósticos, recomendase que a análise da mutação do CFTR também seja realizada como parte da avaliação. O teste genético deve ser feito para 17 confirmar o diagnóstico e potencialmente auxiliar no tratamento e discussão do prognóstico (ROSENFELD; SONTAG; REN, 2016). Em geral, um diagnóstico de FC pode ser feito em um paciente com características clínicas da doença se a concentração de cloreto no suor for maior que 60 mmol/L ou se estiver na faixa intermediária (3059 mmol/L para bebês com menos de 6 meses de idade, e 4059 mmol/L para indivíduos mais velhos) e com a identificação de duas mutações no CFTR causadoras da doença (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009). As manifestações clínicas mais comuns nos lactentes, que sugerem um provável diagnóstico de FC, são: íleo meconial, infecções respiratórias recorrentes, esteatorreia e baixo ganho de peso e comprimento; na infância: infecções respiratórias recorrentes, baqueteamento digital, sinusite e pólipos nasais, baixo índice de massa corporal (IMC) e síndrome de obstrução intestinal distal; e na idade adulta: infertilidade, síndrome de obstrução intestinal distal, diabetes mellitus relacionada à FC e insuficiência respiratória (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009). O diagnóstico, quando realizado precocemente, oferece a oportunidade de melhorar os resultados a longo prazo, por meio de monitoramento rigoroso e intervenções apropriadas, se iniciadas antes que déficits nutricionais graves ou danos irreversíveis nas vias aéreas ocorram (ROSENFELD; SONTAG; REN, 2016). 2.1.3 Fisiopatologia: alterações pulmonares e gastrointestinais Os defeitos na proteína CFTR promovem o transporte irregular de cloretos através da membrana celular, independente da classe da mutação. Já se sabe também que a disfunção da proteína CFTR pode causar alterações nas concentrações epiteliais de sódio, glutamato e bicarbonato (BITONTI; FRITTS; SO, 2019). Em suas funções normais, a proteína CFTR regula o gradiente eletroquímico na superfície da célula, controlando o volume e a viscosidade do muco; além de regular os componentes e as características do suor e fluidos digestivos (ELBORN, 2016). Na FC essa proteína está ausente, com mau funcionamento ou completamente não funcional, proporcionando a produção de líquido viscoso (BITONTI; FRITTS; SO, 2019). Entre todos os comprometimentos resultantes da FC, a doença pulmonar é a principal responsável pela morbidade e mortalidade, sendo a causa de morte em 90% dos pacientes (LUBAMBA et al., 2012; HAACK, 2013). Já no início da vida é possível evidenciar bronquiectasia, presente em cerca de um terço dos pacientes nos primeiros meses de vida (ELBORN, 2016). O transporte iônico prejudicado leva a produção de muco desidratado e 18 hiperviscoso, impedindo a depuração mucociliar. O defeito na condução de bicarbonato altera o pH do líquido na superfície das vias aéreas, contribuindo para a formação de muco viscoso. Outro coadjuvante para esta situação é a hiper reabsorção de sódio, que reduz o líquido superficial das vias aéreas e a depuração mucociliar (LUBAMBA et al., 2012). A patologia dominante no pulmão é a inflamação gerada principalmente pela falha na eliminação de microrganismos e pela formação de um microambiente local próinflamatório tóxico; sendo que a quebra de neutrófilos libera uma grande quantidade de proteases que destroem as defesas do hospedeiro local, induzem o estresse oxidativo, aumentam a viscosidade das secreções endobrônquicas e promovem a destruição do tecido pulmonar (LUBAMBA et al., 2012; ELBORN, 2016). Como consequência, este quadro pode causar infecções respiratórias persistentes, insuficiência respiratória e potencialmente a morte (BITONTI; FRITTS; SO, 2019;). Outros sintomas mais leves de manifestação pulmonar incluem tosse persistente, chiado no peito, falta de ar, intolerância ao exercício e cavidades nasais inflamadas ou nariz entupido (KLIMOVA et al., 2017). Em crianças com FC, a infecção repetida do trato respiratório por vírus e bactérias, como Haemophilus influenzae e Staphylococcus aureus, resulta em danos diretos e indiretos às vias aéreas (ELBORN, 2016). A colonização por Pseudomonas aeruginosa, o patógeno mais comum encontrado nas vias aéreas de pessoas com FC, tem difícil erradicação, e está associada com a aceleração do declínio da função pulmonar, acarretando em pior prognóstico. Entre outros patógenos clinicamente relevantes, a bactéria multirresistente do complexo Burkholderia cepacia pode ter um impacto potencial na necessidade de transplante de pulmão (LUBAMBA et al., 2012). Referente ao trato gastrointestinal, o íleo meconial pode estar presente nos recém nascidos, correspondendo a cerca de 10% a 17% dos bebês com FC (LUBAMBA et al., 2012). É uma condição obstrutiva secundária as primeiras fezes, que bloqueiam a última parte do intestino delgado, devido às secreções intestinais espessas e pegajosas (KLIMOVA et al., 2017). A IP exócrina é uma condição que acomete 85 a 90% dos pacientes, ocasionada pela obstrução dos canais pancreáticos, em consequência ao muco espesso (KLIMOVA et al., 2017). Desta forma, a insuficiência das enzimas pancreáticas resulta em má absorção dos nutrientes, esteatorreia e falha no crescimento, bem como em deficiência de vitaminas lipossolúveis e desnutrição (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009; BITONTI; FRITTS; SO, 2019). Segundo estudo de Lai et al. (2009), pacientes com FC com IP que alcançaram recuperação precoce do crescimento dentro de dois anos após o diagnóstico, apresentaram menos sintomas de tosse e 19 melhor função pulmonar aos 6 anos de idade, o que enfatiza a necessidade de um tratamento abrangente, implementado o mais rapidamente possível após o diagnóstico. Outras consequências relacionadas à FC incluem doença hepática (pela ausência de CFTR funcional nas células epiteliais que revestem os ductos biliares, assim há redução da secreção de cloreto e redução do transporte passivo de água e cloreto, resultando em aumento da viscosidade da bile); diabetes (o pâncreas produz insulina, mas ela não consegue ser excretada); infertilidade masculina (devido a atrofia ou ausência de vasos deferentes); osteopenia (pela menor densidade mineral óssea devido ao atraso puberal, as consequências da mutação CFTR, inflamaçãocrônica e inatividade) e disfunção renal (comumente causada pelo uso de aminoglicosídeos intravenosos, principalmente gentamicina, a qual foi associada com insuficiência renal aguda e crônica) (LUBAMBA et al., 2012; ELBORN, 2016; KLIMOVA et al., 2017). 2.1.4 Tratamento A FC é uma doença crônica que, até o momento, ainda não foi descoberta a cura. Seu tratamento consiste em amenizar ou retardar os sintomas com cuidados respiratórios de suporte, controle de infecções e reposição de enzimas pancreáticas (KLIMOVA et al., 2017; BITONTI; FRITTS; SO, 2019). Como tratamento não farmacológico focado nas vias aéreas, temse a fisioterapia respiratória, também conhecida como técnica de desobstrução das vias aéreas. Ela age principalmente afrouxando o muco e o expectorando, e deve ser feita pelo menos 1 a 4 vezes ao dia. Outra maneira de expectorar o muco espesso é pela oxigenoterapia. Além disso, pacientes com FC devem fazer treinamento físico regular, visando preservar parcialmente as funções pulmonares e aumentar a intensidade mineral óssea (KLIMOVA et al., 2017). O tratamento farmacológico das manifestações pulmonares concentrase em substâncias mucoativas que podem ser divididas em inespecíficas para FC, como ambroxol, acetilcisteína e mesna; e específicos, como amiloreto, NaCl e dornase alfa (KLIMOVA et al., 2017). O único mucolítico licenciado é a dornase alfa (desoxirribonuclease humana recombinante), que reduz a viscoelasticidade do escarro quando administrada diariamente (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009; HURT; BILTON, 2012). A solução salina hipertônica inalada representa uma importante mudança no tratamento da FC, do tratamento que trata apenas os sintomas para aqueles que corrigem o defeito subjacente. Funciona como um agente hiperosmolar que atrai água para a superfície celular, 20 mesmo quando a disfunção da CFTR está presente, contribuindo para redução nas taxas de exacerbações; uma vez que a reidratação da camada periciliar permite uma melhor depuração mucociliar (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009; HURT; BILTON, 2012). O manitol inalado também aumenta a depuração mucociliar. A azitromicina em longo prazo parece reduzir o declínio da função pulmonar e as taxas de exacerbações. Essa terapia imunomodulatória provavelmente interrompe o crescimento do biofilme de Pseudomonas aeruginosa (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009; HURT; BILTON, 2012). O uso frequente de antibióticos orais para reduzir sintomas como produção de tosse e escarro é recomendado no tratamento de pacientes sintomáticos (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009). O manejo das infecções também é importante em pacientes com FC. Os patógenos mais comuns encontrados nos pulmões dos pacientes mudam com a idade, com Staphylococcus aureus sendo frequentemente isolado na infância e as espécies de Pseudomonas mais comuns em adolescentes. Os pacientes geralmente desenvolvem infecções crônicas que requerem o uso de antibioticoterapia inalatória intermitente em ciclos de 28 dias, para impedir o desenvolvimento de resistência e reduzir a probabilidade de exacerbações pulmonares agudas (ELBORN, 2016; BITONTI; FRITTS; SO, 2019). O transplante pulmonar é a opção terapêutica final para pacientes com doença pulmonar em estágio terminal. Para indivíduos adultos, o encaminhamento para transplante geralmente ocorre quando o VEF1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo) do paciente está abaixo de 30% do previsto. Entretanto, idade, sexo, infecção e colonização pulmonar e a taxa de declínio do VEF1 afetam esta decisão. O transplante tem o potencial de estender e melhorar substancialmente a qualidade de vida em pacientes adequadamente selecionados. A sobrevida em cinco anos após o transplante, para crianças, é inferior a 50%, com resultados ligeiramente melhores em adultos (50% dos receptores estão vivos seis anos após o transplante) (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009). A suplementação de enzimas pancreáticas deve ser utilizada em pacientes que apresentam IP por motivos clínicos (esteatorreia, falha no crescimento) ou como demonstrado pela baixa concentração de elastase1 fecal humana (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009). A IP não está presente em todos os bebês no momento do diagnóstico através da triagem neonatal, mas evolui durante a infância. A elastase fecal é um exame fácil de repetir e pode precisar ser verificada mais de uma vez durante o primeiro ano de vida, especialmente se o bebê desenvolver sintomas gastrointestinais ou ganho de peso inadequado (BOROWITZ et al., 2009). Vale ressaltar que com a IP, a suplementação de vitaminas lipossolúveis tornase obrigatória (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009). 21 A reposição de enzimas pancreáticas é necessária em 80% dos pacientes com FC para evitar a desnutrição e a falha no desenvolvimento (BITONTI; FRITTS; SO, 2019). Normalmente, são administradas por via oral como comprimidos ou microesferas com revestimento entérico, impedindo sua inativação pelo ácido gástrico e garantindo a entrega de enzimas ativas ao duodeno. As enzimas pancreáticas nunca devem ser adicionadas à comida das crianças, devem ser administradas previamente a alimentação. Na prática clínica, a administração das microesferas enzimáticas aos lactentes pode ser difícil; desse modo, se a criança recusar a oferta em uma colher com um pouco de leite materno ou fórmula, a administração com um purê ácido ou papa de maçã pode ser uma opção. Se a criança ainda recusar as microesferas, pode ser necessário considerar temporariamente o uso de enzimas em pó desprotegidas. Quando a ingestão por via oral não for possível, as enzimas devem ser administradas em doses em bolus através do tubo da alimentação enteral, e nunca misturadas a fórmula. Nessa situação, o uso de enzimas em pó pode ser considerado, juntamente com a adição de um inibidor de bomba de prótons, para ajudar a impedir a destruição da lipase pelo ácido gástrico. Outro método mais comum de administração de enzimas pancreáticas é fornecê las antes e depois da alimentação enteral (e durante o meio da noite, se o paciente acordar) (TURCK et al., 2016). Segundo as diretrizes da European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN), European Society for Paediatric Gastroenterology Hepatology and Nutrition (ESPEGHAN) e European Cystic Fibrosis Society (ECFS) (ESPENESPEGHANECFS) (2016) sobre cuidados nutricionais para indivíduos com FC, não há evidências sobre o momento ideal para iniciar o tratamento ou sobre como ajustar as dosagens de enzimas pancreáticas para pessoas com diferentes gravidades de IP. A dosagem estipulada para bebês até o primeiro ano de vida. É de 2.000 a 4.000 unidades (U) de lipase/120 mL de fórmula ou ingestão estimada de leite materno, e de aproximadamente 2.000 U de lipase/g de lipídio presente na comida. Para crianças a partir de 1 ano até 4 anos, recomendase 2.000 a 4.000 U de lipase/g de lipídio presente na dieta, aumentando a dose conforme a necessidade (sem ultrapassar a dose máxima de 10.000 U lipase/kg/dia). Por fim, para crianças acima de 4 anos e adultos, devese considerar começar com 500 U de lipase/kg/refeição, aumentando a dose conforme o necessário (sem ultrapassar 1.000 a 2.500 U de lipase/kg/refeição, ou 10.000 U de lipase/kg/dia, ou 2.000 a 4.000 U de lipase/g de lipídio presente em todas as refeições e bebidas) (TURCK et al., 2016). As inovações relacionadas ao tratamento da FC estão focadas em medicamentos moduladores do CFTR, representando um grande passo à frente na medicina de precisão. Esses agentes visam diretamente o defeito básico da FC, ao invés de somente gerenciar os sintomas22 da doença. Apesar disso, os pacientes devem continuar as medidas de cuidados de suporte enquanto tomam estes moduladores de CFTR (BITONTI; FRITTS; SO, 2019). 2.1.5 Nutrição e FC A FC é fortemente associada a alterações do estado nutricional, diretamente ligado a fatores relacionados à mutação genética e indiretamente a fatores como maiores necessidades de energia, perdas de energia, maior rotatividade de ácidos graxos essenciais (AGE) e menor ingestão de nutrientes e absorção. Nas crianças, especificamente, o mau estado nutricional resulta em crescimento e desenvolvimento atrofiados, sendo o déficit de crescimento detectado por baixos percentis de peso e estatura para idade (TURCK et al., 2016). Apesar do estado nutricional dos pacientes com FC ter melhorado significativamente nas últimas duas décadas, a nutrição adequada ainda é um grande problema para alguns. Se não tratada, a desnutrição relacionada à FC na infância pode levar ao comprometimento da função cognitiva. Nos casos de desnutrição grave, em bebês e crianças, a função pulmonar piora acentuadamente e há redução na sobrevida. Aqueles que são diagnosticados através da triagem neonatal se beneficiam pelas intervenções precoces, as quais podem minimizar déficits nutricionais e estão associadas a resultados nutricionais futuros positivos (TURCK et al., 2016). Os indivíduos com FC, independentemente da idade, sempre estão em risco nutricional. Devido a este fato, avaliações nutricionais rotineiras e completas devem ser realizadas, incluindo a medição antropométrica (peso, comprimento ou altura e IMC) (TURCK et al., 2016; LUSMAN; SULLIVAN, 2016). A Cystic Fibrosis Foundation (CFF) recomenda avaliar esses parâmetros todos os meses durante o primeiro ano de vida e depois a cada 3 meses como parte dos cuidados rotineiros da FC, para os pacientes que atingem as metas nutricionais. A frequência das avaliações deve aumentar em cenários clínicos em que o estado nutricional encontrase abaixo do ideal (a cada 2 semanas em bebês e a cada 6 a 8 semanas em crianças maiores de 2 anos de idade). A CFF ainda recomenda que crianças com FC atinjam crescimento e estado nutricional comparáveis aos de crianças bem nutridas sem FC (BOROWITZ; BAKER; STALLINGS, 2002). O crescimento é avaliado em crianças com FC pelos mesmos padrões utilizados para crianças saudáveis (LUSMAN; SULLIVAN, 2016). Idealmente, os gráficos utilizados para avaliar o crescimento devem ser apropriados à nacionalidade e etnia do paciente. Porém, se estes não estiverem disponíveis, devem ser utilizados os gráficos da Organização Mundial da Saúde (TURCK et al., 2016). Frente à importância da estatura, a velocidade de crescimento 23 deve ser interpretada com base no potencial genético da criança para a estatura. Essa velocidade pode ser estimada utilizando uma variedade de métodos, incluindo a previsão da altura alvo, de acordo com a altura dos pais (LUSMAN; SULLIVAN, 2016). O objetivo do tratamento nutricional de lactentes diagnosticados com FC no período neonatal é o crescimento normal. Uma atenção especial ao crescimento e nutrição no início do primeiro ano de vida é essencial, pois este é um momento de alta necessidade metabólica; bebês saudáveis dobram o peso de nascimento aos 4 meses de idade e o triplicam em 1 ano (BOROWITZ et al., 2009). Segundo Bronstein et al. (1992), a maioria das crianças com FC apresentam IP no momento do nascimento. O baixo peso ao nascer está presente até mesmo na ausência de prematuridade, na medida em que alterações no crescimento fetal, devido ao mau funcionamento do pâncreas exócrino, reduzem a nutrição intrauterina, resultando em menor peso ao nascimento (BRONSTEIN et al., 1992; HORTENCIO et al., 2015). O objetivo nutricional para os pacientes com FC é pesoparacomprimento (P/C) igual ou superior ao percentil 50, em crianças menores de 2 anos de idade, e um IMCparaidade (IMC/I) igual ou superior ao percentil 50, para crianças maiores de 2 anos (HOLLANDER; ROOS; HEIJERMAN, 2017). Este ponto de corte é considerado como objetivo nutricional porque se sabe que crianças que atingem maior P/C aos 2 anos têm demonstrado melhores resultados pulmonares e maior sobrevida na idade adulta (HOLLANDER; ROOS; HEIJERMAN, 2017). O estado nutricional geral de crianças com FC melhorou ao longo do tempo, no entanto, em média, o percentil do IMC diminui com o avanço da idade (TURCK et al., 2016). Apesar disso, a melhoria no crescimento e nutrição dos pacientes com FC nos últimos 15 anos pode estar relacionada a alterações na prescrição nutricional. A ingestão irrestrita de gordura e o aumento da utilização da reposição de enzimas pancreáticas foram amplamente adotados no final dos anos 80, após o estudo de Corey et al. (1988). Este estudo, considerado de referência, relatou uma vantagem de sobrevida de 9 anos em pacientes tratados em Toronto em comparação com pacientes tratados em Boston, sendo que a única diferença significativa entre as duas populações foi a natureza do aconselhamento nutricional, sem restrição de gorduras (COREY et al., 1988). Em relação às necessidades nutricionais de crianças com FC, recomendase que 35 a 40% de sua ingestão calórica seja de gordura, 20% de proteínas e 40 a 45% de carboidratos (TURCK et al., 2016). Crianças com FC podem precisar de maior consumo de energia que a população em geral para alcançar peso e crescimento normais, visto que há um processo inflamatório crônico, diminuição da ingestão alimentar e da absorção de gordura, fatores esses 24 que contribuem para o aumento da demanda calórica (HORTENCIO et al., 2015; TURCK et al., 2016). Estimase que a ingestão de energia varie de 120 a 150% da energia necessária para uma população saudável de idade, sexo e comprimento/estatura semelhantes, segundo as diretrizes europeias; e 110 a 200% da energia necessária para a população saudável, de acordo com as recomendações dos EUA. Entretanto, as necessidades energéticas variam muito entre os indivíduos, dependendo do grau de má absorção, função pulmonar, nível de inflamação crônica e presença de exacerbações respiratórias agudas (TURCK et al., 2016). A avaliação inicial da criança em risco nutricional deve incluir a determinação da ingestão calórica (histórico da dieta), presença de má absorção (presença de esteatorreia, histórico de administração de enzimas pancreáticas) e histórico de exacerbação pulmonar. As recomendações alimentares devem ser individualizadas a cada paciente com FC, porém, dietas ricas em gordura são normalmente recomendadas para todos os pacientes. Devese incentivar a ingestão de gorduras monoinsaturadas e poliinsaturadas em detrimento das gorduras saturadas. Alimentos ricos em ácidos graxos linoleicos e outros ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa também podem ser considerados (SULLIVAN; MASCARENHAS, 2017). Entre as ferramentas utilizadas para otimizar a nutrição, destacamse o aconselhamento dietético, suplementos orais hipercalóricos e alimentação por sonda enteral (nasogástrica, nasojejunal ou gastrostomia) além de suplementação de vitaminas e minerais, tratamento comportamental e farmacoterapia (incluindo estimulantes do apetite e moduladores de CFTR) (LUSMAN; SULLIVAN, 2016; TURCK et al., 2016). O uso da nutrição enteral é uma ferramenta importante quando não é possível atingir por via oral as metas nutricionais estabelecidas, pois já se sabe que a nutrição enteral tem o potencial de melhorar o estado nutricional e o crescimento de crianças e adultos com FC. A CFF recomenda o uso de alimentação por sonda enteral para melhorar a antropometria quando for incapaz de atingira ingestão calórica recomendada. Enquanto que a ESPENESPGHAN ECF (2016) recomenda o início da alimentação por sonda enteral na presença de falha persistente no crescimento (peso e comprimento < percentil 10) (SULLIVAN; MASCARENHAS, 2017). Vale ressaltar que o conceito de alimentação enteral deve ser introduzido precocemente, como um componente do tratamento da FC (BOROWITZ et al., 2009). É aconselhável que, para obter uma nutrição ideal em bebês com FC, a alimentação complementar seja introduzida entre 5 e 6 meses de idade, a fim de proporcionar uma ingestão de energia superior à recomendada para crianças saudáveis (COLOMBO et al., 2007). Devese promover o uso de alimentos com alta densidade calórica e alto teor de gordura, como 25 óleos/manteiga, queijo, oleaginosas e abacate, visando alcançar a alta demanda energética, sem sobrecarregar o paciente com grande volume de alimentos por refeição (SCHINDLER; MICHEL; WILSON, 2015). Devido a IP, doença hepática e má absorção intestinal, indivíduos com FC estão em risco de deficiência de vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K). Alguns grupos de crianças têm maior risco de apresentarem níveis mais baixos destas vitaminas, como os homozigotos ΔF508 e os que apresentam hipoalbuminemia ou fosfatase alcalina elevada no momento do diagnóstico. Como mencionado anteriormente, todas as crianças com IP devem suplementar vitaminas A, D, E e K (OSULLIVAN; FREEDMAN, 2009). Segundo a CFF, recomendase o monitoramento dos níveis e da suplementação de vitaminas lipossolúveis em todos os lactentes e crianças com FC pelo menos anualmente (mesmo naqueles com valores laboratoriais normais e com suficiência pancreática), começando no momento do diagnóstico. Para pacientes com IP, recomendase avaliar os níveis plasmáticos de vitaminas lipossolúveis após o início da suplementação de enzimas e vitaminas; 3 a 6 meses após o início ou alteração na terapia vitamínica; e anualmente a partir de então (BOROWITZ et al., 2009; TURCK et al., 2016). A suplementação vitamínica deve ser ingerida juntamente com a suplementação de enzimas pancreáticas e com alimentos ricos em gordura, visando melhorar sua absorção (TURCK et al., 2016). Ainda, o zinco é um mineral que requer atenção em crianças com FC, uma vez que apresentam risco aumentado de deficiência, pois a má absorção de gordura afeta negativamente a absorção deste micronutriente. O zinco tem papel importante em muitas reações enzimáticas e particularmente no crescimento, na saúde pulmonar e na imunidade. Sua deficiência pode resultar em falta de apetite, falha no crescimento e função imunológica comprometida. Como a deficiência de zinco pode ocorrer mesmo com níveis plasmáticos normais, a CFF recomenda suplementação empírica por 6 meses (1 mg de zinco elementar/kg/dia em doses divididas) em bebês e crianças com baixo crescimento (TURCK et al., 2016; SULLIVAN; MASCARENHAS, 2017). Pacientes com FC apresentam perda excessiva de sódio através do suor, sendo a suplementação deste mineral fundamental no tratamento da doença. A perda de sódio em excesso pode levar à desidratação hiponatrêmica e hipoclorêmica com alcalose metabólica em lactentes, que pode ser assintomática ou pode ser caracterizada por anorexia, geralmente com falha no ganho de peso e crescimento, além de febre, vômito, irritabilidade e fraqueza. Frente a isso, a CFF recomenda a suplementação de sódio (na forma de cloreto de sódio) em bebês; sendo que para os menores de 6 meses de idade, sugerese a ingestão de ⅛ de colher de chá de 26 cloreto de sódio (sal de mesa) diariamente, e para crianças com 6 meses ou mais (e crianças com dieta com pouco sal), recomendase a ingestão de ¼ de colher de chá de cloreto de sódio diariamente (BOROWITZ et al., 2009; SULLIVAN; MASCARENHAS, 2017). Outra recomendação, segundo a ESPENESPGHANECF (2016), é a ingestão de ½ grama de sal para crianças até 6 meses, e acima desta faixa etária, recomendase 1 grama de sal. 2.1.5.1 Aleitamento materno e FC Já é reconhecido que o leite materno possui muitos constituintes potencialmente benéficos não encontrados nas fórmulas infantis, como as imunoglobulinas, citocinas imunomoduladoras e antiinflamatórias e a lactoferrina, que possui propriedades antibacterianas e antivirais. Contém ainda, ácido docosahexaenoico (DHA), um ácido graxo do tipo ômega3 que auxilia no neurodesenvolvimento e pode servir como mediador lipídico anti inflamatório. Apesar dos benefícios do leite materno, a amamentação de bebês com FC foi desencorajada nas décadas de 1960 e 1970, devido a um pequeno número de relatos de casos de bebês com hipoproteinemia e/ ou hipoeletrolitemia que pareciam secundários à má absorção do leite materno. Porém, em 1990, aproximadamente 77% dos centros de FC recomendavam o aleitamento materno exclusivo, com o uso de enzimas pancreáticas ou suplementado com fórmula hidrolisada (PARKER et al., 2004). Em 1991, Holliday et al. descobriram que bebês com FC alimentados com leite materno podiam crescer normalmente e a uma taxa comparável ao daqueles que foram alimentados com fórmula infantil. Segundo as diretrizes da ESPENESPEGHANECFS (2016) sobre cuidados nutricionais para indivíduos com FC, o aleitamento materno exclusivo para bebês recém diagnosticados é recomendado. A partir de uma análise retrospectiva de bebês com FC, verificouse que aqueles que foram amamentados tinham melhor função pulmonar e menos infecções, comparados aos que não foram amamentados. Os autores sugerem que tal fato pode ocorrer devido à melhor função imunológica e à oferta direta de DHA ao bebê (COLOMBO et al., 2007). Ainda, segundo pesquisa de Parker et al. (2004), a amamentação exclusiva até os 6 meses foi associada ao menor uso de antibióticos intravenosos em pacientes com FC. Quando a amamentação não é possível, recomendase o uso de fórmula infantil, não havendo evidências para utilização de fórmulas de alta densidade energética ou hidrolisada. Apesar disso, fórmulas com essas características podem ser utilizadas para bebês que apresentam estado nutricional abaixo do ideal ou má absorção (TURCK et al., 2016). Para crianças maiores de 2 anos, a equipe multidisciplinar deve determinar as necessidades do 27 paciente individualmente, pois também não há evidências suficientes para apoiar um tipo específico de fórmula (polimérica, semielementar, elementar) (SULLIVAN; MASCARENHAS, 2017). Existem divergências entre os achados científicos sobre diferença de crianças alimentadas com leite materno e fórmula infantil. Três estudos retrospectivos forneceram evidências para o benefício do leite materno em comparação com a alimentação com fórmula infantil em bebês com FC (BRONSTEIN et al., 1992; PARKER et al., 2004; COLOMBO et al., 2007). Um estudo de coorte prospectivo não encontrou diferença de peso ou comprimento entre lactentes com FC exclusivamente alimentados com leite materno e aqueles alimentados exclusivamente com fórmula infantil, e sugeriu que o leite materno fornece benefícios pulmonares aos pacientes com FC (HOLLIDAY et al., 1991). Outro estudo constatou que bebês em aleitamento materno tinham escoresz de peso e altura maiores do que aqueles que foram alimentados com fórmula infantil (COLOMBO et al., 2007). E um estudo descreveu que a hipoalbuminemia foi mais frequente em bebês alimentados com leite materno em comparação com os alimentados com fórmula infantil, e ainda descreveu uma maior frequência de deficiência de vitaminas D e E nos bebês alimentadoscom leite materno (BRONSTEIN et al., 1992). Justificativa Embora a importância de manter o estado nutricional adequado em pacientes com FC seja reconhecida, não há na literatura um panorama geral que sumarize os fatores dietéticos associados ao crescimento, sobretudo descrevendo a amamentação e a alimentação nos dois primeiros anos de vida. Assim, o objetivo desta revisão sistemática é descrever e discutir estes fatores, respondendo à seguinte pergunta de pesquisa: “Qual a associação entre fatores dietéticos e crescimento nos dois primeiros anos de vida em crianças com FC?”, a fim de auxiliar no aconselhamento dietético dessa população. 3 MÉTODOS 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO O trabalho em questão tratase de uma revisão sistemática com o objetivo de responder à pergunta de pesquisa: “Qual a associação entre fatores dietéticos e crescimento nos dois primeiros anos de vida em crianças com FC?”. 28 3.2 SELEÇÃO DOS ESTUDOS Os critérios de elegibilidade (Quadro 1) foram definidos de acordo com o sistema PECOS (População; Exposição; Controle; Desfecho; Desenho do estudo. Do inglês: Participants; Exposure; Comparators; Outcomes; Study Design), seguindo os itens preconizados pelo PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta Analysis) (LIBERATI et al., 2009). Quadro 1: Critérios de elegibilidade conforme preconizado pelo PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalysis). PECOS Inclusão Exclusão P – População Fibrose cística Crianças: 2 primeiros anos/ infância Diagnóstico precoce após triagem neonatal ou tardio Mutações diversas Estudos com crianças com outras condições clínicas Estudos que não avaliem os 2 primeiros anos de vida Estudos que avaliem mais enfermidades além de FC e não apresentem os resultados de FC separadamente. E Exposição Fatores dietéticos: amamentação, fórmulas infantis, alimentação complementar, suplemento, nutrição enteral ou parenteral Não incluírem dados referentes aos 2 primeiros anos de vida C – Controle O – Desfecho Crescimento: antropometria e dados laboratoriais S – Desenho do estudo Observacionais (coorte, transversal ou caso controle), ensaios clínicos e relatos de casos Artigos de revisão, comunicação ou editoriais Fonte: elaborado pelo autor (2020) A busca foi realizada no dia 8 de agosto de 2020 nas bases de dados PubMed (Medline e Não Medline), Scopus, Web of Science e Embase por meio de palavraschave predeterminadas e MeSH Terms (APÊNDICE A). Um exemplo de busca utilizada no PubMed está disponível no Apêndice B. Também foi realizada a busca na literatura cinzenta por meio do Google Scholar, limitada aos primeiros 150 artigos mais relevantes. Ainda, as listas de referências dos artigos selecionados também foram revisadas. A busca não foi restrita por data ou idioma. A fim de responder o objetivo específico de descrever a alimentação de crianças com FC nos dois primeiros anos de vida, a busca não incluiu palavras chaves para o desfecho. 29 Os resultados encontrados foram exportados para o software gerenciador de referência Rayyan QCRI® para revisões sistemáticas (2016), eliminando assim as duplicatas. Os títulos e resumos dos estudos foram avaliados por dois pesquisadores de forma independente, e em caso de desacordo, resolvido por discussão com um terceiro pesquisador. Aqueles artigos que atenderam aos critérios de elegibilidade foram lidos na íntegra, para nova avaliação dos critérios de inclusão e exclusão, por dois pesquisadores independentes, e em caso de desacordo, resolvido por discussão com um terceiro pesquisador. 3.3 EXTRAÇÃO DE DADOS Por meio de um formulário de extração de dados padronizado, dois pesquisadores extraíram de forma independente as informações de cada estudo. Qualquer divergência, um terceiro pesquisador realizou a avaliação final. Foram extraídos dos estudos as seguintes informações: primeiro autor; título do artigo; contato do autor correspondente; título da revista; ano de publicação; país da amostra; objetivo e/ou hipótese e desenho do estudo; ano(s) de coleta (de recrutamento); tamanho da amostra; como foi realizado o diagnóstico de FC; critérios de exclusão; tempo de seguimento dos participantes; modalidades dietéticas avaliadas; métodos de avaliação do crescimento; ponto de corte e curva utilizada para crescimento; dados laboratoriais de albumina e vitaminas lipossolúveis; análise estatística utilizada; resultados percentuais de mutação, IP e prematuridade; resultados de modalidades dietéticas e crescimento, bem como associação entre estas duas variáveis; e ainda, limitações e fragilidades. Os dados extraídos dos artigos foram compilados e os principais resultados foram apresentados na forma de quadro (Quadro 1 Artigo). A qualidade dos artigos foi avaliada por critérios propostos pelo The NewcastleOttawa Scale (NOS) (WELLS et al., 2020), disponível do Quadro Suplementar 3 Artigo. O protocolo da revisão sistemática foi registrado na International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), sob o número CRD42020212183. 30 4 RESULTADOS Os resultados do presente trabalho de conclusão de curso (TCC) serão apresentados na forma de artigo, a ser submetido em revista científica. Artigo Título: Associação de fatores dietéticos com o crescimento nos dois primeiros anos de vida em crianças com fibrose cística: uma revisão sistemática RESUMO Introdução: Otimizar o crescimento desde a primeira infância na fibrose cística (FC) é fundamental, uma vez que a função pulmonar e a sobrevida estão correlacionadas com o estado nutricional. A modalidade de alimentação ideal para crianças com FC (leite materno, fórmula infantil ou uma combinação) não está claramente definida, apesar de haver evidências dos benefícios da amamentação. Ainda, não há evidências que apoiem o uso rotineiro de uma fórmula infantil hidrolisada ou de alta energia para esses pacientes. Objetivo: Descrever a alimentação nos dois primeiros anos de vida de crianças com FC e avaliar o impacto da alimentação no crescimento nos dois primeiros anos de vida. Métodos: Revisão sistemática da literatura nas bases PubMed/Medline e Não Medline, Scopus, Web of Science, Embase e literatura cinzenta no Google Scholar. Estudos observacionais, ensaios clínicos e relatos de caso que avaliaram fatores dietéticos e/ou fatores dietéticos relacionados com crescimento de crianças com FC nos primeiros dois anos de vida foram incluídos na revisão. Foram descritos dados de alimentação, e aqueles que trouxeram associação com o crescimento também foram apresentados. Resultados: Dentre 3565 artigos identificados, foram selecionados 22 estudos, sendo 15 com dados de associação da alimentação com o crescimento e 7 apenas com dados dietéticos. A prevalência de aleitamento materno variou de 21 a 63%. A utilização de fórmula infantil exclusiva aos 3 meses de idade variou de 55 a 71%. A associação do tipo de alimentação com o crescimento foi controversa. Não foi encontrada diferença no crescimento entre quem utilizou fórmula polimérica ou oligomérica, assim como entre quem utilizou fórmula específica para FC ou convencional. Somente quatro estudos apresentaram dados sobre terapia nutricional enteral e nutrição parenteral. O início da introdução alimentar foi diverso entre os estudos. A suplementação de sódio teve prevalência de 98 e 99% nos dois estudos em que foi mencionada. 31 Conclusão: Mais estudos prospectivos longitudinaissão necessários para verificar o impacto do aleitamento materno e das fórmulas infantis sobre o crescimento nos dois primeiros anos de vida de crianças com FC, principalmente sobre o tempo de exclusividade e a duração do aleitamento materno, bem como o uso de fórmulas infantis. Palavras chaves: Fibrose cística. Crianças. Alimentação. Aleitamento materno. Fórmulas Infantis. Crescimento. Ganho de Peso. Revisão sistemática. Introdução A fibrose cística (FC) é uma doença genética autossômica recessiva caracterizada por um defeito no Canal Regulador de Condutância Transmembrana de Fibrose Cística (CFTR, do inglês Cystic Fibrosis Transmembrane Regulator), também chamado de canal de cloro (CANT; POLLOCK; FORD, 2014). Tratase de uma doença multissistêmica com relevante impacto no estado nutricional (LUBAMBA et al., 2012). O tratamento da doença é direcionado para manter e otimizar o estado nutricional e a função pulmonar, pois esses são fatores chave para a qualidade de vida (HOLLANDER; ROOS; HEIJERMAN, 2017). A desnutrição é característica frequente nos pacientes com FC, considerada mau prognóstico e associada à piora da função pulmonar. Se não tratada, a desnutrição na infância pode levar ao comprometimento da função cognitiva nesses pacientes (TURCK et al., 2016; SMYTH et al., 2014). O aconselhamento dietético é um componente de grande importância para a recuperação do estado nutricional. Má alimentação, infecções e internações hospitalares são alguns fatores que influenciam no crescimento e desenvolvimento das crianças (TURCK et al., 2016). Logo, a atenção especial ao crescimento e nutrição nos primeiros anos de vida é essencial, pois tratase de um momento de alta necessidade metabólica e que tem grande impacto sobre o desenvolvimento futuro (BOROWITZ et al., 2009). As mudanças de peso e altura têm sido reconhecidas como um dos fatores prognósticos de gravidade da doença e menor sobrevida em pacientes com FC (HORTENCIO et al., 2015). Embora a importância de manter o estado nutricional adequado em pacientes com FC seja reconhecida e o aleitamento materno exclusivo seja recomendado como a opção inicial de alimentação por sociedade americana e europeias, a alimentação dos lactentes não está bem estabelecida quanto ao tempo de exclusividade e duração do aleitamento materno que seria recomendado para crianças com FC (TURCK et al., 2016; JADIN et al., 2011; BOROWITZ et al., 2009). O aleitamento materno era considerado menos relevante antes da implementação da triagem neonatal, pois as crianças com FC eram diagnosticados na idade média de 8–9 meses, 32 idade em que a maioria não seria mais amamentada. Atualmente, a discussão sobre o aleitamento materno é relevante para verificar seu papel no crescimento e o seu impacto na vida adulta (JADIN et al., 2011). Assim, o objetivo desta revisão sistemática é obter um panorama geral sobre o aleitamento materno e a alimentação de crianças com FC nos primeiros dois anos de vida, visando compreender e descrever o perfil alimentar nesse período, sua associação com o crescimento e contribuir para a otimização dos cuidados dessa população. Métodos Caracterização do estudo A pergunta que norteou a presente revisão foi: “Qual a associação entre fatores dietéticos e crescimento nos dois primeiros anos de vida em crianças com FC?”. Seleção dos estudos A revisão sistemática foi realizada seguindo as recomendações do PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalysis), e a pergunta de pesquisa foi elaborada de acordo com a estratégia PECOS (População; Exposição; Controle; Desfecho; Desenho do estudo. Do inglês: Participants; Exposure; Comparators; Outcomes; Study Design). A busca foi realizada nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e Embase utilizando palavraschave predeterminadas e MeSH terms (Quadro Suplementar I). Os termos de busca foram adaptados de acordo com cada base de dados, e o exemplo de busca utilizada no PubMed está apresentada no Quadro Suplementar II. Também foi realizada busca parcial na literatura cinzenta utilizando o Google Scholar, limitada aos primeiros 150 artigos mais relevantes. As listas de referência dos artigos selecionados também foram revisadas. A busca não foi restrita por data ou idioma. A fim de responder o objetivo de descrever a alimentação, como estratégia de busca, não foram incluídas palavras chaves para o desfecho. A data da busca foi 8 de agosto de 2020, em todas as bases de dados. As referências encontradas foram exportadas para o gerenciador de referências Rayyan QCRI® para revisões sistemáticas, excluindo as duplicatas. Os títulos e resumos foram analisados para elegibilidade de forma independente por dois autores, e em caso de divergência, um terceiro autor tomou a decisão final. 33 População Foram incluídos estudos com crianças com FC, com idade de 0 a 2 anos, independentemente do tipo de mutação e diagnóstico (precoce pela triagem neonatal ou tardio). Estudos que, além da população elegível, apresentavam também crianças com idade acima dos 2 anos foram incluídos somente se os dados puderam ser analisados separadamente. Estudos com crianças com outras condições clínicas associadas e que avaliaram mais enfermidades além da FC e não apresentaram os resultados isoladamente foram excluídos. Foram incluídos estudos observacionais (coorte, transversal ou caso controle), ensaios clínicos e relato de casos. Estudos de revisão, comunicação ou editoriais foram excluídos. Exposição Foram incluídos estudos que apresentaram dados referentes às questões dietéticas, como amamentação, fórmulas infantis, alimentação complementar, suplementos nutricionais, nutrição enteral ou parenteral. Estudos que não incluíram dados referentes aos primeiros dois anos de vida foram excluídos. Desfecho Crescimento (peso, comprimento, ganho de peso) foi o desfecho primário de interesse, e estado nutricional associado a exames laboratoriais foi o desfecho secundário. Extração de dados e análise de qualidade Dois autores extraíram de forma independente as informações relevantes de cada estudo selecionado, e em caso de discordância, um terceiro autor fez a avaliação final. Os dados foram compilados e os principais resultados foram apresentados na forma de tabela. Devido à heterogeneidade das exposições e das variáveis de resultado, um metaanálise não pôde ser realizada. Para avaliação da qualidade dos artigos, com exceção dos estudos transversais e relato de caso, foram utilizados os critérios do The NewcastleOttawa Scale (NOS) (Quadro Suplementar III), sendo a pontuação expressa em número de estrelas, podendo variar de zero a 34 nove no total. O protocolo da revisão sistemática foi registrado na International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), sob o número CRD42020212183. Resultados A busca nas bases de dados obteve 5.440 artigos, e, após exclusão das duplicatas, resultou em 3.565 artigos. A partir da leitura de títulos e resumos, 111 artigos foram selecionados para leitura na íntegra. Após leitura completa, 22 artigos foram elegíveis para inclusão na presente revisão sistemática (Figura 1), sendo 13 estudos longitudinais, 3 transversais, 5 ensaios clínicos e 1 relato de caso. 35 Figura 1: Fluxograma ilustrando a busca nas bases de dados e o processo de seleção dos artigos. Fonte: elaborado pelo autor (2020) Foram encontrados artigos publicados entre 1980 e 2020, sendo apenas cinco publicados a partir de 2016. Dentre os 22 artigos incluídos, 13 estudos apresentaram dados a respeitode aleitamento materno, 15 fizeram alguma associação da alimentação com o crescimento e 7 apresentaram apenas dados dietéticos (Quadro 1). A análise de qualidade dos artigos está disponível no Quadro Suplementar III. Aleitamento materno e fórmula infantil De acordo com os estudos avaliados, com exceção do relato de caso, a prevalência de aleitamento materno em algum período da vida variou de 21 a 63% (PADOAN et al., 2019; MUNK et al., 2018; LEUNG et al., 2017; JADIN et al., 2011; COLOMBO et al., 2007; PARKER et al., 2004; SIMMONDS et al., 1994; BRONSTEIN et al., 1992; MARCUS et al., 1991; HOLLIDAY et al., 1991; LUDER et al., 1990). Já a prevalência de aleitamento após os 6 meses de idade variou de 6 a 16% (MUNK et al., 2018; LEUNG et al., 2017; PARKER et al., 2004; LUDER et al., 1990). No momento do diagnóstico, encontrouse prevalência de aleitamento materno de 47 a 61% (MUNK et al., 2018; BRONSTEIN et al., 1992). Também foi observada variabilidade entre os estudos quanto a duração do aleitamento materno, em que o maior tempo foi observado no estudo de Holliday et al. (1991), que encontrou duração média 36 de 10 ± 6,4 meses. Em contrapartida, estudo mais recente, de 2019, encontrou duração mediana de aleitamento materno de 74 dias (variação de 5 a 240 dias) (PADOAN et al., 2019) (Quadro 1). O uso de fórmulas infantis também variou entre os estudos, com a prevalência de fórmula exclusiva aos 3 meses de 56 e 71% (MUNK et al., 2018; LEUNG et al., 2017). Ainda, no estudo de Munk et al. (2018), observouse a prevalência de 80% de utilização de fórmula infantil exclusiva aos 6 meses de idade (Quadro 1). 37 Quadro 1 Descrição das características clínicas e dados de aleitamento materno, fórmula infantil e demais características da dieta dos estudos selecionados (n=22). (continua) Referência Desenho do estudo N Características da Fibrose Cística Tempo de seguimento Aleitamento materno (AM) Fórmula Infantil (FI) Outras características da dieta Associação entre alimentação e crescimento Holland et al. (2020) EUA Coorte retrospectivo 1.971 Mutação classe IIII: ● Nascidos a termo: 67% ● Prematuros tardios (34 36 sem.): 63% Diagnóstico: 100% triagem neonatal Desde o diagnóstico até os 2 anos ND FI >0,73 kcal/mL ou com fortificante em algum momento nos primeiros 2 anos de vida: ● Nascidos a termo: 79% ● Prematuros tardios: 87% TNE em algum momento nos primeiros 2 anos de vida: ● Nascidos a termo: 13% ● Prematuros tardios: 22% Fatores associados a: ● P/C <p50 aos 2 anos de idade: ↑ TNE e ↑ sexo feminino ● P/C <p10 aos 2 anos de idade: ↑ prematuridade, ↑ TNE e ↑ sexo feminino Miller et al. (2019) EUA Ensaio clínico Intervenção: orientação na visita inicial, após diagnóstico, com consultores de lactação 31 ND Por 12 meses Pré intervenção (média e DP): AME: 3,6 ±4,1 meses Após intervenção (média e DP): AME 4,5 ±4,5 meses ND ND ND Padoan et al. (2019) Itália Multicêntrico, retrospectivo e longitudinal 85 Mutação: 50% Homozigoto DF508 32% Heterozigoto DF508 18% Outras mutações Diagnóstico: 100% com IM 59% triagem neonatal Desde o diagnóstico até 1 ano Idade do diagnóstico (em 88% dos participantes): média de 31 dias AM em algum momento da vida (exclusivo ou associado a FI): 54% Duração do AM: mediana de 74 dias (intervalo de 5240 dias) FI hidrolisada em algum momento no primeiro ano de vida: 16% NP exclusiva em algum momento no primeiro ano de vida: 61% ND 38 Quadro 1 Descrição das características clínicas e dados de aleitamento materno, fórmula infantil e demais características da dieta dos estudos selecionados (n=22). (continuação) Referência Desenho do estudo N Características da Fibrose Cística Tempo de seguimento Aleitamento materno (AM) Fórmula Infantil (FI) Outras características da dieta Associação entre alimentação e crescimento Munk et al. (2018) França Prospectivo observacional multicêntrico Início N=105 Ao final N=99 Mutação: 40% homozigoto DF508 42% heterozigoto DF508 18% outros Função pancreática: 82% IP Diagnóstico: 100% triagem neonatal Desde o diagnóstico até os 2 anos Idade do diagnóstico: mediana 1,2 [IQR 1,0; 1,5] meses AME: Após o diagnóstico: 28% Aos 3 meses: 14% Aos 6 meses: 10% AM complementar: Após o diagnóstico: 15% Aos 3 meses: 14% Aos 6 meses: 11% ● Idade do desmame (mediana): IP: 5,1 [IQR 2,4; 8,8] meses SP: 8,7 [IQR 1,0; 11,5] meses FIE: Após o diagnóstico: 57% Aos 3 meses: 71% Aos 6 meses: 80% Receberam FI de alta densidade calórica (> 0,74 kcal/mL) por algum tempo: Após o diagnóstico: 0% Aos 3 meses: 29% Aos 6 meses: 45% Aos 12 meses: 51% ● Percentual de adequação da ingestão energética na visita inicial após diagnóstico (EER) (mediana) IP: 129% [IQR 109;145] SP: 113% [IQR 97; 139] Ingestão de 110% EER na visita inicial após diagnóstico: IP: 73% SP: 54% ● Suplementação de Sódio: Após o diagnóstico: 0% Aos 3 meses: 82% Aos 6 meses: 94% Aos 12 meses: 99% ● FI ou AM nos primeiros 3 meses x escorez P/I aos 24 meses: ↔ ● Utilização de FI >0,74 kcal/mL nos primeiros 12 meses x escorez P/I aos 24 meses: ↔ ● Utilização de FI >0,74 kcal/mL nos primeiros 12 meses: ↑ déficit de C/I aos 24 meses Leung et al. (2017) EUA Multicêntrico coorte Início: N=231 Aos 6 meses: N=222 1 ano: N=215 Mutação: ● 57% homozigoto DF508 Função pancreática: 91% IP Diagnóstico: 100% triagem neonatal Desde o diagnóstico até 1 ano Idade média do diagnóstico: 2,58 meses ● AME Aos 3 meses: 25% Aos 6 meses: 16% Aos 12 meses: 10% ● AM + FI aos 3 meses: 44% ● FIE aos 3 meses: 56% ● Fórmula hipercalórica (≥0,8 kcal/mL): Aos 3 meses: 40% Aos 6 meses: 52% Aos 12 meses: 49% ● Ingestão energética no 1° ano de vida com FIE: mediana de 107 [IQR 86; 133] kcal/kg/d ● Aos 12 meses: 17% não recebiam FI ou AM ● Suplementação de sódio: 98% ● AME x escorez de P/I aos 3 meses: ↑ ● AME x escorez de P/I aos 6 meses: ↔ ● AME x escorez de P/I aos 12 meses: ↔ ● AME, AM+FI ou FIE x escorez de C/I em algum momento: ↔ 39 Quadro 1 Descrição das características clínicas e dados de aleitamento materno, fórmula infantil e demais características da dieta dos estudos selecionados (n=22). (continuação) Referência Desenho do estudo N Características da Fibrose Cística Tempo de seguimento Aleitamento materno (AM) Fórmula Infantil (FI) Outras características da dieta Associação entre alimentação e crescimento Jadin et al. (2011) EUA Retrospectivo observacional 103 Mutação: ● 43% homozigoto DF508 ● 51% heterozigoto DF508 ● 6% outros. Função pancreática: ● 68% IP Diagnóstico: 100% triagem neonatal Desde o diagnóstico até os 2 anos Idade do diagnóstico: Com IM: 1,1 semanas Sem IM: IP: 1,7 semanas SP: 2,6 semanas ● AM: 51% ● AME < 1 mês: 27% = 1 mês: 11% ≥ 2 meses: 13% ● FIE: 49% 0,67 kcal/mL: 26% ≥ 0,74 kcal/mL: 22% ● Transição para FIE antes dos 2 meses: 54% ● Introdução de alimentos sólidos: média de 5,4 ± 2,1 meses ● Ganho de peso entre 2 a 6 meses: AME ≥ 2 meses: ↓ AME ≤ 1 mês, FIE 0,67 kcal/mL e FIE ≥ 0,74 kcal/mL: ↑ ● AME ≥ 2 meses x escorez de P/I (do nascimento aos 6 meses): ↓ ● AM, AME, FIE x escorez de C/I (durante os primeiros 2 anos de vida): ↔ Colombo et al. (2007) Itália
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