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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO III / PROCESSOS DE ENVELHECIMENTO DO DESENVOLVIMENTO III PROFA. VERÔNICA LUNA ROSANE ANGELO OLIVEIRA – 10823459 RESUMO Contribuições da psicologia no estudo e à intervenção no campo da velhice Pelo elevado número apresentado durante o século XX de envelhecimento populacional surgiu a necessidade do estudo na psicologia voltado para a velhice e pelo atendimento a idosos. O avanço social presente em vários países contribuiu para o aumento no número de idosos ativos e saudáveis que se encontravam envolvidos socialmente em oposição a idosos doentes e incapacitados que até então eram dominantes. Não havia uma explicação sobre o fenômeno da participação dos idosos em diferentes contextos sociais. Esse crescimento ocasional de idosos com maior poder político possibilitou para muitos profissionais pudessem avançar na pesquisa e na intervenção voltados para essa temática. Houveram alterações na maneira que eram abordadas as teorias relacionadas à velhice, já que estas se encontravam superadas por uma nova realidade que era vivenciada naquele momento e por uma nova forma de pensar sobre o assunto. Passaram a existir novos espaços que reconheceram a importância da influência conjunta, interativa e histórica do contexto social e culturas e das condições genético- biológicas e psicológicas sobre o desenvolvimento de indivíduos e grupos etários. Desenvolvimento e envelhecimento começaram a ser considerados processos com múltiplas dimensões e direções que englobam um equilíbrio entre vantagens e limitações. A psicologia foi favorecida pela intervenção com as ciências sociais que contribuíam para o avanço na compreensão dos processos sociais subjacentes à constituição das sociedades, dos grupos e das mentalidades. Os cientistas começaram a buscar as características e os determinantes do envelhecimento bem-sucedido analisando as atitudes em relação à velhice e sobre o papel de eventos de transição na adaptação de adultos e de idosos. Por meio desses estudos, a psicologia foi aperfeiçoando a descrição e o esclarecimento dos fenômenos do envelhecimento (processo), da velhice (fase da vida) e dos idosos (indivíduos designados como tal, a partir dos critérios da sociedade). Estudos longitudinais e de corte transversal forneceram dados vigorosos sobre a importância da integridade dos processos intelectuais e da continuidade dos mecanismos de auto regulação da personalidade na determinação da longevidade e da boa qualidade de vida na velhice. São considerados bons antecedentes da velhice: atividade, envolvimento social e estilo de vida saudável, ter metas, acreditas na capacidade de controlar a própria vida e ser capaz de investir no aperfeiçoamento da saúde, da capacidade cognitiva e das relações sociais. Atualmente surgem novas questões somadas ao bom envelhecimento que é relacionado ao estabelecimento de razões e padrões do envelhecimento disfuncional. A psicologia passou a descrever e explicar sistematicamente as condições que presidem a mudança e a continuidade do desenvolvimento na velhice, as que contribuem para evitar ou adiar alterações patológicas e as que permitem reabilitar processos e desempenhos prejudicados. A psicologia brasileira não oferece grande produção, de longo prazo, contínua, sistemática e característica sobre a velhice, o que não esclarece algumas questões postas pelos profissionais que buscam a literatura internacional e se guiam pela forma intuitiva, adaptando conhecimentos básicos da disciplina para a solução de problemas emergentes. Por meio de pesquisas pode-se verificar que no Brasil, nos últimos sessenta anos, houve significativa evolução da expectativa de vida por ocasião do nascimento. O envelhecimento da população é caracterizado pela diminuição da mortalidade infantil, por declínio de mortes de adultos por doenças infecciosas e pelo decaimento das taxas de natalidade. Esse crescimento do número de idosos e aumento da expectativa de vida embora seja indicativo de melhoria social, sua ocorrência provoca o surgimento de novas demandas e problemas. Em países com forte desigualdade social e onde não há políticas das necessidades evolutivas para cidadãos, as necessidades decorrentes do envelhecimento costumam desencadear em cargas econômicas, conflitos de interesses e carências de todo tipo por parte de instituições e cidadãos. Nessa urgência se faz necessária a ação do psicólogo que pode orientar e acompanhar indivíduos, instituições e gerando programas de promoção de qualidade de vida e de mudança de atitudes. O avanço da velhice está associado a um risco crescente de vulnerabilidade e disfuncionalidade. Familiares e profissionais dedicados ao cuidar devem procurar mais serviços psicológicos no campo da informação, do desenvolvimento de habilidades e do restabelecimento do bem-estar psicológico e físico. A psicologia do envelhecimento foca nas transformações nos desempenhos cognitivos, afetivos e sociais, assim como em alterações motivacionais, interesses, atitudes e valores que são peculiares dos anos mais avançados da vida adulta e dos anos da velhice. Ressalta as diferenças intraindividuais e interindividuais que caracterizam os diferentes processos psicológicos na velhice e estuda os processos e as condições problemáticas que caracterizam e que afetam o funcionamento psicológico dos indivíduos mais velhos. A neurologia, a psiquiatria, a bioquímica, a biologia, as ciências sociais e a medicina formam a base de conhecimentos da gerontologia. O maior paradigma que presidiu a composição da psicologia do envelhecimento é o desenvolvimento ao longo de toda a vida (lifespan). Implica que desenvolvimento e envelhecimento são processos correlatos e que se, o ambiente cultural for favorável pode ocorrer desenvolvimento na velhice. Nesse sentido, a psicologia apresenta contribuições para a compreensão dos processos, à avaliação comportamental e à reabilitação, pensando no campo do tratamento em ações multiprofissionais que oferecem ajuda e cuidados aos idosos em caso de dependência física e cognitiva. Além dessas, a psicologia educacional e comunitária também podem oferecer alternativas de ajuda aos familiares de idosos acometidos de doenças que causam incapacidade física e cognitiva, organizando grupos de apoio emocional, de informação e de autoajuda. A psicologia ainda contribui na descrição e explicação das condições sob as quais é possível ocorrer a preservação do potencial para o comportamento e o desenvolvimento. Alguns temas são correntes em psicologia do envelhecimento, tais como: genética e comportamental, a velhice e o sistema nervoso humano, mudanças cognitivas associadas à idade e relações entre o cérebro e o comportamento, saúde e comportamento, comportamentos de risco em saúde, influências ambientais sobre o comportamento na velhice, etc. Há uma multiplicidade de técnicas de diagnóstico, de avaliação e de intervenção voltadas ao tratamento dos problemas comportamentais e psicológicos que afetam o funcionamento e o bem-estar subjetivo dos idosos, visam à manutenção, ao aperfeiçoamento ou à recuperação do bem-estar dos idosos que vivem de forma independente ou restrita, saudável ou patológica, na comunidade ou em instituições. Estes procedimentos citados podem ser aplicados em várias áreas, podendo envolver a construção de instrumentos de medida, ensino e pesquisa. São alguns exemplos de atividades que os psicólogos podem desenvolver nessas áreas: saúde, relações sociais, família, instituições públicas e privadas de assistência social e à saúde dos idosos, educação, lazer e sociabilidade, trabalho, etc. Nesses contextos de atuação, o psicólogo pode realizar um amplo número de funções que lhe são facultadas pelaprofissão, como por exemplo: avaliação psicológica, planejamento e execução de intervenção psicológica, orientação e aconselhamento, informação e mudança de atitudes em relação à velhice, psicoterapias individuais e grupais com idosos, voltadas para problemas de ordem emocional e psicossocial, etc. O campo essencial da formação e identificação do psicólogo é o da saúde, embora não esgote o número de opções da profissão. São alguns exemplos dos principais campos de intervenção clínica específicos ao campo da velhice para os psicólogos: fatores comportamentais e psicológicos de risco para a ocorrência de velhice patológica, fragilidade e dependência: questões éticas e práticas que se propõem aos idosos e aos seus cuidadores profissionais e familiares, avaliação e intervenção em distúrbios psicológicos e do comportamento, déficits comportamentais e problemas em capacidades funcionais, emoção e afeto, cognição e motivação, etc. A psicologia pode contribuir para o planejamento e reprogramação ambiental para idosos independentes ou funcionalmente incapacitados. Isso é necessário para a prevenção da incompetência comportamental, da dependência, da depressão, da insegurança, do isolamento, do abandono, da negligência e dos maus-tratos. O psicólogo tem a possibilidade de atuar sobre o ambiente dos idosos com base em conhecimento oferecidos pela psicologia da percepção e por estudos sobre satisfação, motivação e atitudes. São alguns exemplos de tópicos de interesse em psicologia ambiental e envelhecimento: a avaliação dos conceitos gerontológicos, o controle ambiental como base para a segurança e a competência física e psicossocial dos idosos, características psicossociais dos ambientes gerontológicos, etc. Os psicólogos que trabalham atualmente com idosos desfrutam de informações advindas de várias áreas da psicologia, estando afiliados principalmente a serviços de saúde existentes em hospitais e centros de saúde. A abertura de diversas instituições está contribuindo para a atuação em novos espaços pelos psicólogos. No campo da psicologia clínica poucas são as possibilidades de atuação por ainda não existir opinião formada na clientela em relação à validade ou à possibilidade de realizar intervenções psicoterapêuticas com idosos, pelos cursos de psicologia não investirem nessa faixa etária nem estimularem os futuros psicólogos a melhor compreendê-la, por prevalecerem preconceitos a respeito da flexibilidade dos idosos para a mudança, pela clínica exercida em moldes individuais e privadas ser cara para uma população pobre, caso da maioria dos idosos e pelo serviço público de saúde não prestar atendimento psicológico universal à população em geral e muito menos, a idosos. No que diz respeito ao campo de conhecimentos sobre avaliação psicológica, cognição, tratamento individual e grupal a problemas afetivos e cognitivos de idosos, os psicólogos brasileiros tirarão mais informações úteis à atuação e à construção do campo de atendimento à saúde física e mental dos idosos. Pelo crescimento da população idosa, a psicologia e os psicólogos serão convocados a fornecer cada vez mais respostas. São diversas as realidades econômicas, sociais, culturais, psicológicas e de saúde dos idosos, assim como as condições profissionais e as relativas à base de informação dos psicólogos para o exercício da profissão frente a idosos, que possuem baixo poder aquisitivo e baixo acesso à informação sobre os recursos que a psicologia que dispõe e sobre o seu direito a atendimento nessa modalidade de ajuda. É nesse cenário que serão dispostas condições que anunciam a construção gradual do campo, que se estabelecerá com base no diálogo entre a psicologia como ciência e profissional, os profissionais brasileiros que atuam com idosos, a população idosa e as instituições sociais. REFERÊNCIAS NÉRI, A. L. Contribuições da psicologia ao estudo e à intervenção no campo da velhice. Passo Fundo: RBCEH, 2004. p. 69-80.