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REUMATOC A P I TA L 1 #23 FIBROMIALGIA QUANDO A DOR BATE NA PORTA DO REUMATOLOGISTA REUMATOLOGISTA, O CLÍNICO DA DOR O PACIENTE COMO PROTAGONISTA Nº 23 | Jun | Jul | Ago |2022 REUMATOC A P I TA L 2 Atuarte 42 DIRETORIA Presidente: Jamille Nascimento Carneiro Vice-presidente: Ana Cristina V. Oliveira 1º secretário: Anna Beatriz Assad Maia 2º secretário: Ana Paula Monteiro Gomides 1º tesoureiro: Clarissa de Castro Ferreira 2º tesoureiro: Ana Carolina Emy V. Hidaka Diretor científico: Lícia Maria Mota COMISSÕES ESPECIAIS Diretor Revista Capital Reumato: Anna Beatriz Assad Maia Diretor Conselho fiscal e consultivo: Carlos Eduardo de Carvalho Lins DIRETOR COORDENAçãO DE EVENTOS E DIVULGAçãO: Ravena Fontenele Belchior Cabral Luciana Feitosa Muniz - colaboradora Gabriela Profirio Jardim Santos - colaboradora DIRETOR COORDENAçãO REUMATO E COMUNIDADE: Ana Patrícia de Paula PALAVRA DA EDITORA ÍNDICE 02 Palavra da Editora 03 Mensagem da Presidente 04 Aconteceu 08 A vez e a voz do especialista 13 19 25 35 Reumato na prática Humanidades Médicas Ponto de vista Sala de apoio ao pesquisador DIRETORIA - GEsTãO 2021/2022 Editora da Revista Capital Reumato 2021/2022 ANNA BEATRIz ASSAD MAIA “A vida – única possibilidade para se cobrir de folhas, tomar fôlego na areia, voar com asas; ser um cão ou acariciar seu pelo quente; diferenciar a dor de tudo que não é ela” Wislawa Szymborska, poema Anotação. Palavras tem magia e rebeldia, há que se acercar delas com arte e humildade. Recebo a editoria da Capital Reumato sentindo-me honrada pela distinção. Entretanto, sou invadida pela angústia provocada pela responsabilidade, pois trata-se de um primoroso periódico. A curadoria editorial da revista contou com editoras fantásticas desde sua concepção. Isadora Jochims, de quem recebi a missão, exerceu o ofício com maestria. Viver é tentar estar à altura não só da responsabilidade, mas, sobretudo, da liberdade de que se é possuidor. Agradeço de antemão o incentivo e orientações recebidas da nossa Presidente, das curadoras que me antecederam. Sou grata aos autores colaboradores, experts da área, e à Anna Valéria, minha irmã, que confeccionou e doou as aquarelas que ilustram essa edição. O tema central desta edição é a dor, sempre amaldiçoada por minar a existência de muitos. É da nossa lida diária, no consultório, acolher e tratar o doente em meio à onipresença surda, pesada, das dores do corpo e da alma. Nosso ofício, senão fazê-la desaparecer, objetivo no mais das vezes utópico, é minimizá-la. Fornecer ao paciente as competências necessárias para lidar com ela, visando a preservação da funcionalidade e de uma vida que valha a pena ser vivida, é esta a arte a ser perseguida. Como bem resumiu Wislawa, diferenciar a dor de tudo que não é ela. Anna Beatriz Assad Maia CAPA DOR TéCNICA AQUARELA ARTISTA ANNA VALéRIA ASSAD MAIA REUMATOC A P I TA L 3 MENSAGEM DA PRESIDENTE EXPEDIENTE: Reumatologistas revisoras: Ana Paula Gomides, Isadora Jochims, Licia Maria Mota, Ravena Fontenele Belchior Cabral, Gabriela Profirio Jardim santos, Jamille Nascimento Carneiro e Luciana Feitosa Muniz Envie seu texto para ser publicado na revista: reumatobrasilia@gmail.com Material de distribuíção exclusiva para área médica. A revista Capital Reumato não se responsabiliza por serviços, produtos e imagens publicadas pelos anunciantes. As matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião da Revista Capital Reumato. A responsabilidade de conteúdo médico científico do material recebido para publicação, bem como por eventuais conceitos emitidos ou conflitos de interesses, é exclusiva dos autores. DRA. JAMILLE NASCIMENTO CARNEIRO Presidente da Sociedade de Reumatologia de Brasília 2021/2022 Baixe todas as edições da Revista Capital Reumato no site: www.reumatodf.com.br Contato SRB: reumatobrasilia@gmail.com (61) 3245-1671 | (61) 99668 0935 Editoração e Design Gráfico: CS DESIGN Contato: Cristiane (61) 98131 7287 www.csdesigngrafico.com.br cristiane@csdesigngrafico.com.br A gestão 2021/22 da Sociedade de Reumatologia de Brasília (SRB) sente-se honrada em contribuir e estar bem próxima de todos os Reumatologistas do Distrito Federal, promovendo ações que visam desbravar e solidificar o caminho desta especialidade. Para o ano de 2022 vamos dar seguimento ao trabalho de excelência que vem sendo realizado desde gestões anteriores. O intuito é manter o calendário científico de qualidade, incluindo os eventos que já se tornaram conhecidos por sua importância e extrema relevância local e nacional: • Encontro ATUAR: Atualização em Reumatologia • ATUARTE: Arte e Reumatologia • Reuniões Científicas Com relação ao ATUARTE, projeto que visa, a partir do diálogo da arte com a saúde, promover bem-estar mental aos pacientes reumatológicos, associados da SRB e profissionais de saúde da área, ficamos felizes em apoiá-lo por mais um ano. Nossa publicação, a Revista Capital Reumato, tão consolidada no nosso meio, manterá sua periodicidade trimestral. Trazendo, também, sempre a interface com a arte incorporada ao conteúdo técnico/científico no formato virtual. A Campanha Espondiloartrites continuará e outros projetos estão em andamento, especialmente aqueles que envolvem nosso papel no ensino e na Residência Médica em Reumatologia no DF, bem como junto à comunidade, divulgando nossa especialidade, conscientizando sobre as doenças reumatológicas e promovendo ações com o propósito de cooperação junto aos gestores em saúde, para formulação de políticas públicas efetivas. Reiteramos que toda nossa produção será pautada em preceitos éticos e com base em melhorias das práticas clínicas em Reumatologia. Convido os Reumatologistas do DF e demais colegas a continuarem prestigiando nossa SRB, associando-se e participando dos nossos eventos. Dra. Jamille Nascimento Carneiro REUMATOC A P I TA L 4 ACONTECEU REUNIãO CIENTIFICA HÍBRIDA • No dia 17 de março de 2022, às 19:30h, foi realizada a 1ª REUNIÃO CIENTIFICA HÍBRIDA. A reunião apresentou a seguinte agenda: Foi a primeira reunião da SRB, com público, após os 2 anos de pandemia onde pudemos congregar cientificamente com queridos colegas! REUMATOC A P I TA L 5 ACONTECEU REUNIãO CIENTIFICA- DIsCUssãO DE CAsOs CLÍNICOs • No dia 12 de abril de 2022, às 19:30h, foi realizada a Reunião Científica Discussão de Casos Clínicos (virtual) patrocinada pela ABBVIE. A Reunião Científica- Discussão de Casos Clínicos (virtual) apresentou a seguinte agenda: • No dia 19 de maio de 2022, às 19:30h, foi realizada a Reunião Científica Discussão de Casos Clínicos (virtual) patrocinada pela PFIZER. O evento virtual foi extensamente divulgado nas redes sociais e e-mail marketing com um grande alcance. O evento virtual foi extensamente divulgado nas redes sociais e e-mail marketing com um grande alcance. REUMATOC A P I TA L 6 ACONTECEU GRUPO ANALGEsIA- LABORATóRIO DE VIVêNCIAS EM ARTE E SAúDE • Ação de Humanização Hospitalar que objetiva a promoção da saúde mental ao realizar oficinas de Arte Contemporânea e Medicina Narrativa para pacientes portadores de doenças crônicas. A Reunião Científica apresentou a seguinte agenda: LOCAL: Hospital Universitário de Brasília. COORDENAçãO: Dra. Isadora Jochims ASSEMBLéIA GERAL ESTRAORDINÁRIA • Foi realizada a Assembléia Geral Extraordinária de forma híbrida no Hospital de Base do DF e pela plataforma “zoom”, no dia 05 de abril de 2022 que resultou na: APROVAçãO DE PROJETO DE ALTERAçãO DO ESTATUTO DA REGIONAL, PARA ADEqUAçãO AO EsTATUTO DA sOCIEDADE BRAsILEIRA DE REUmATOLOGIA (sBR) NACIONAL E PROVIDêNCIAS DE FILIAçãO. REUMATOC A P I TA L 7 ACONTECEU Informações: Dra. Jamille Nascimento Carneiro Presidente SRB | Gestão 21/22 SAVE THE DATE:Convido a todos para o ATUAR 2022 que será realizado nos dias 14 e 15 de outubro de 2022. Esperamos vocês para, mais uma vez, celebrar a “Arte da Reumatologia”! site do evento: http://www.atuar2022.com.br REUMATOC A P I TA L 8 ROBERTO EzEQUIEL HEyMANN Médico do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein Membro da comissão de dor, fibromialgia e outros reumatismos de partes moles da SBR A VEZ E A VOZ DO ESPECIALISTA O tratamento da fibromialgia deve ser individualizado e multidisciplinar, envolvendo terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas. Deve ser focado na redução dos principais sintomas, principalmente a dor crônica generalizada, fadiga, distúrbios do sono, alterações do humor e a disfunção cognitiva. A melhora da qualidade de vida dos pacientes deve ser o objetivo final. A educação do paciente sobre sua doença é primordial. O médico deverá fornecer informações e elucidar dúvidas sobre todos os aspectos da doença, do tratamento e seus resultados, para que não haja falsas expectativas. Um plano de metas e objetivos deve ser amplamente discutidas entre o médico e seu paciente, para que este possa-se engajar totalmente no tratamento. 1 Comorbidades específicas que podem afetar adversamente a gravidade da doença e a resposta ao tratamento devem ser identificadas e tratadas. Pacientes com distúrbios do sono devem ser instruídos realizar uma higiene do sono adequada. Quando há suspeita clínica de envolvimento de um distúrbio especifico agravando o sono do paciente, deve-se solicitar uma polissonografia. Na presença de apnéia do sono devemos pedir a assistência de um especialista do sono para auxiliar-nos na adaptação do paciente a aparelhos respiratório com C-PAP. Não existe tratamento de fibromialgia que não incorpore a atividade física. É a modalidade terapêutica que mais reúne evidências cientificas, demonstrando eficácia significativa na redução da dor, melhora do status funcional, da fadiga e do sono. Recomenda-se o treinamento de condicionamento cardiovascular aeróbico de baixo impacto, como caminhada, ciclismo, natação ou hidroginástica, que são mais bem-sucedidas. O início do programa pode ser difícil para alguns ATUALIZACAO TERAPEUTICA: FIBROMIALGIA REUMATOC A P I TA L 9 pacientes, pois percebem que sua dor e fadiga pioram quando começam a se exercitar. Assim, é importante que o programa de atividade física seja individualizado e respeite a capacidade funcional do paciente, e que sua “intensidade” seja aumentada gradativamente, proporcionando melhor adesão ao tratamento. A modalidade deve ser baseada na preferência do paciente e na presença de outras comorbidades. Outras modalidades de exercício mostraram algum benefício na fibromialgia, como o tai chi e a ioga, exercícios de fortalecimento muscular e em menor grau de alongamento. 2,3 A abordagem das alterações do humor ou distúrbios psiquiátricos com suporte psicológico e psiquiátrico facilita a terapêutica e a melhora clínica. Uma considerável porcentagem destes paciente apresentam quadros de catastrofização, que afetam negativamente a adesão ao tratamento e contribuem para piora da dor e demais sintomas. Para estes casos, a terapia cognitiva comportamental (TCC) demais terapias corpo-mente podem trazer benefícios, revertendo o comportamento mal adaptativo para com a doença crônica.4 Nos últimos tem surgido evidencias sobre a eficácia da eletroterapia no manejo da dor relacionada à fibromialgia. Estas técnicas são não invasivas e estão relacionadas a poucos efeitos colaterais. A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC ) parece ser uma intervenção segura, quando aplicada na região do córtex motor primário esquerdo, com potencial de diminuir a intensidade da dor. No entanto, são necessários mais estudos experimentais para conhecer exatamente os mecanismos cerebrais que influenciam estes resultados bem como determinar alvos neurais mais eficazes e os parâmetros de estimulação adequados.5,6 O emprego de medicamentos em pacientes com fibromialgia tem como principal objetivo o controle da dor e demais sintomas. Os fármacos devem ser utilizados com muita parcimônia, pois estes doentes apresentam uma sensibilidade maior para seus efeitos colaterais. Geralmente iniciamos o tratamento com doses reduzidas e a aumentamos gradualmente, conforme a tolerância do paciente. A associação de fármacos, as vezes em doses menores as que utilizadas na prática diária é frequente. Os medicamentos mais utilizados na fibromialgia são os antidepressivos e os neuromoduladores. Os antidepressivos atuam aumentando a disponibilidade de serotonina e noradrenalina no tecido cerebral, melhorando a performance do trato descendente inibitório de dor. Fazem parte deste grupo os antidepressivos tricíclicos, os duais, e os inibidores específicos de recaptação de serotonina. REUMATOC A P I TA L 10 Os primeiros agentes empregados com sucesso na fibromialgia foram os antidepressivos tricíclicos. A amitriptilina é um antidepressivo tricíclico que tem demonstrado respostas positivas na redução da dor e na melhora da qualidade de sono e possivelmente na fadiga. Sua dose inicial é de 12,5 a 25 mg duas a três horas antes do paciente se deitar. Raramente ultrapassamos doses acima de 75 mg, pois os efeitos adversos aumentam muito. A ciclobenzaprina, embora não seja um antidepressivo, apresenta mecanismos semelhantes aos antidepressivos tricíclicos pois sua estrutura é similar à da amitriptilina. Tem ação miorelaxante central sendo empregada em doses 2,5 mg a 20 mg duas a três horas antes do sono. Tem ação semelhante à amitriptilina na redução da dor e melhora da qualidade do sono. Dentre os efeitos colaterais mais frequentes nesta classe de medicamentos, observamos boca seca, constipação, retenção de líquidos, ganho de peso, sonolência e dificuldade de concentração.7,8,9 O resultado de estudos com os bloqueadores seletivos de recaptação de serotonina na fibromialgia são desapontadores. Destes somente a fluoxetina isolada em doses acima de 20 mg ou associada a ciclobenzaprina ou a amitriptilina, apresentou eficácia no controle da dor. Esse grupo de antidepressivos isolados ou associados aos triciclicos são uma boa opção nos quadros depressivos. 10,11. Dentre os antidepressivos que atuam inibindo de modo especifico a recaptação de serotonina e noradrenalina (duais), a duloxetina e o milnaciprano se destacam no tratamento da fibromialgia. Ambas as drogas são eficazes na redução da dor e da fadiga, na melhora da cognição e nos distúrbios de humor. O milnaciprano não é comercializado em nosso meio. A duloxetina deve ser iniciada com uma dose de 30 mg pela manhã e após uma semana deve-se atingir 60 mg, dose preconizada no tratamento da fibromialgia. Doses maiores acrescentam pouco na redução da dor, mas podem auxiliar no controle dos distúrbios de humor. A venlaflaxina é um antidepressivo com ação dual somente em doses acima de 150 mg. Mesmo com poucas evidências científicas é empregada no tratamento da fibromialgia em doses de 150 a 300 mg diários divididas em uma ou duas vezes ao dia. Este grupo de antidepressivos pode ser utilizado em pacientes cujo quadro doloroso encontra-se ou não associado a depressão. Os efeitos colaterais mais comuns observados nesta classe de medicamentos foram cefaleia, sonolência, náusea, perda e ganho de peso, constipação, diminuição do apetite, diarreia e disfunção erétil. Alterações na função hepática e aumento da pressão sanguínea também foram descritas.10, 11, 12 Os neuromoduladores atuam reduzindo a liberação de neurotransmissores pro-nocicepticos na fenda pré- sináptica do corno posterior da medula, reduzindo a aferência nociceptiva central. As drogas que fazem parte deste grupo são a gabapentina e a pregabalina. A pregabalina foi extensivamente estudada na fibromialgia demonstrando eficácia no controle da dor, melhora no padrão do sono, ansiedadee qualidade de vida. Geralmente iniciamos com doses de 75 mg a noite e realizamos incrementos de 75 em 75 mg, divididos em duas ou três vezes ao dia. A gabapentina provavelmente apresenta os mesmos mecanismos de ação que a pregabalina, mas suas evidências na literatura para o tratamento da fibromialgia são escassas. Deve ser utilizada em doses de 1200 mg a 2400 mg diários divididos em 3 dosagens. Iniciamos geralmente com 300 mg à noite e fazemos incrementos de 300 em 300 mg divididas em REUMATOC A P I TA L 11 três doses diárias. Os principais eventos adversos dos neuromoduladores são o edema periférico, ganho de peso, xerostomia, tonturas, sonolência.13,14. O uso de opióides não é indicado exceto pelo tramadol, isoladamente ou em associação ao paracetamol, mostrou-se eficaz no controle da dor sendo bem tolerado pelos pacientes. É uma boa opção nas exacerbações dolorosas ou nos casos de difícil controle da sintomatologia dolorosa. Deve-se ter cautela quando usado em conjunto com outros antidepressivos, pois aumentam os riscos de convulsões.15 A trazodona, um antidepressivo atípico é uma boa opção para o tratamento dos distúrbios do sono. Geralmente empregamos doses de 50 a 150 mg à noite. Ao contrário do que ocorre com os benzodiazepínicos e indutores do sono, a trazodona pode ser empregada por longos períodos.16 O pramipexol, um agente antiparkinsoniano, em doses de até 4,5 mg é opção interessante para pacientes com distúrbios do sono associados à síndrome de movimentos involuntários dos membros inferiores. 17 REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1. Macfarlane GJ, et al: EULAR revised recommendations for the management of fibromyalgia. Ann Rheum Dis. 2017 Feb;76(2):318-328. 2. Bidonde J, et al: Aerobic exercise training for adults with fibromyalgia. Cochrane Database Syst Rev. 2017 Jun 21;6(6):CD012700. 3. Sosa-Reina MD, et al: Effectiveness of Therapeutic Exercise in Fibromyalgia Syndrome: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Clinical Trials. Biomed Res Int. 2017;2017:2356346 4. Aman MM, et al: Evidence-Based Non-Pharmacological Therapies for Fibromyalgia. Curr Pain Headache Rep. 2018; 4;22(5):33. 5. Lloyd DM et al. Is Transcranial Direct Current Stimulation (tDCS) Effective for the Treatment of Pain in Fibromyalgia? A Systematic Review and Meta-Analysis. J Pain. 2020 Nov-Dec;21(11-12):1085-1100 6. Zhu CE et al. Effiectiveness and safety of transcranial direct current stimulation in fibromyalgia: A systematic review and meta-analysis. JRehabil Med. 2017; 19;49(1):2-9. 7. Lawson K. A Brief Review of the Pharmacology of Amitriptyline and Clinical Outcomes in Treating Fibromyalgia. Biomedicines. 2017; 17;5(2):24. 8. Rico-Villademoros F, Slim M, Calandre EP. Amitriptyline for the treatment of fibromyalgia: a comprehensive review. Expert Rev Neurother. 2015 Oct;15(10):1123-50. 9. Tofferi JK, Jackson JL, O’Malley PG. Treatment of fibromyalgia with cyclobenzaprine: A meta-analysis. Arthritis Rheum. 2004 ;51(1):9-13. 10. Häuser W, Wolfe F, Tölle T, Uçeyler N, Sommer C. The role of antidepressants in the management of fibromyalgia syndrome: a systematic review and meta- analysis. CNS Drugs 2012;26:297-307. 11. Uçeyler N, Häuser W, Sommer C. A systematic review on the effectiveness of treatment with antidepressants in fibromyalgia syndrome. Arthritis Rheum 2008; 59:1279. 12. Welsch P, Üçeyler N, Klose P, Walitt B, Häuser W. Serotonin and noradrenaline reuptake inhibitors (SNRIs) for fibromyalgia. Cochrane Database Syst Rev. 2018, 28;2(2):CD010292. 13. Bhusal S, Diomampo S, Magrey MN. Clinical utility, safety, and efficacy of pregabalin in the treatment of fibromyalgia. Drug Healthc Patient Saf. 2016; 17;8:13-23. 14. Tzellos TG, Toulis KA, Goulis DG, Papazisis G, Zampeli VA, Vakfari A, Kouvelas D. Gabapentin and pregabalin in the treatment of fibromyalgia: a systematic review and a meta-analysis. J Clin Pharm Ther. 2010;35(6):639-56) 15. Häuser W, Ablin J, Perrot S, Fitzcharles MA. Management of fibromyalgia: practical guides from recent evidence-based guidelines. Pol Arch Intern Med.2017 4;127(1):47-56. 16. Bossini L, Coluccia A, Casolaro I, Benbow J, Amodeo G, De Giorgi R, Fagiolini A. Off-Label Trazodone Prescription: Evidence, Benefits and Risks. Curr Pharm Des. 2015;21(23):3343-51. 17. Holman AJ. Fibromyalgia and pramipexole: promise and precaution. J Rheumatol.2003; 30(12):2733. Enfim, o tratamento da fibromialgia é complexo, multidisciplinar. Exige comprometimento do paciente e atenção do médico assistente. REUMATOC A P I TA L 12 A Dor Tem um Elemento de Vazio A Dor - tem um Elemento de Vazio - Não se consegue lembrar De quando começou - ou se houve Um tempo em que não existiu - Não tem Futuro - para lá de si própria - O seu Infinito contém O seu Passado - iluminado para aperceber Novas Épocas - de Dor. Emily Dickinson, in “Poemas e Cartas” Ilustração: Anna Valéria Assad Maia REUMATOC A P I TA L 13 DRA. ANA PAULA GOMIDES QUANDO A DOR BATE NA PORTA DO REUMATOLOGISTA humanidades medicas Reumatologista com área de atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Mestrado e Doutorado pela Universidade de Brasília-UnB. Professora titular do Centro Universitário de Brasília. Membro das Comissões de dor, fibromialgia, reumatismos de partes moles e artrite reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia. COMO O REUMATOLOGISTA ENCARA A ABORDAGEM DA DOR CRôNICA ATUALMENTE? Esta é uma pergunta interessante para esta breve discussão. Sabemos que a maioria dos reumatologistas se sente confortável na abordagem da dor inflamatória decorrente de uma doença imunomediada. Somos especialistas interessados, empáticos e engajados no tratamento de uma paciente jovem com um quadro de lúpus eritematoso sistêmico ou de um paciente com artrite reumatoide exuberante, por exemplo. As múltiplas faces de doenças causadas por alterações do sistema imune nos encantam e na maioria das vezes foram o chamariz para nossa escolha da área de atuação. Mas será que todo o nosso interesse teórico e nossos esforços na prática clínica se mantém com aqueles pacientes que apresentam dor crônica não inflamatória ou de causa indeterminada? Provavelmente não. Vemos que um grande número de médicos não tem disposição e às vezes apresentam nítido descontentamento em atender casos cuja dor A dor é o sintoma mais frequente das doenças musculoesqueléticas e a maior motivação para o paciente procurar atendimento com um reumatologista. Este sintoma sempre baterá à nossa porta, por isso todas as reflexões e debates sobre o tema são válidos e necessários. REUMATOC A P I TA L 14 é persistente mas não tem nenhum processo inflamatório evidente, como ocorre na dor nociplástica. Este fato é no mínimo preocupante quando acontece dentro de uma especialidade que deveria acolher e otimizar o controle das dores musculoesqueléticas que são altamente prevalentes na população. E por que isso acontece? Não é difícil supor. A avaliação, diagnóstico e tratamento da dor são extremamente complexos e difíceis para o médico assistente. DIFICULDADES RELACIONADAS à AVALIAçãO CLÍNICA A avaliação correta do paciente com dor crônica exige tempo, disponibilidade, empatia e escuta qualificada. Sabemos que o fenômeno doloroso é altamente subjetivo e sofre fortes influências dos fatores psicossociais mas não fomos adequadamente treinados na abordagem destes aspectos. Pelo contrário, a formação e educação médica continuada em suas diversas formas ainda priorizam a objetividade, a racionalidade e a tomada rápida de decisões. Tudo isso com foco nos aspectos puramente biológicos. Os pacientes com dor crônica são reiteradamente rotulados pelos próprios profissionais da saúde. Segundo estudo interessante de Castelhano LM (2015), os médicos, por exemplo, tendem a classificar os pacientes como “difíceis” quando demandam mais do seu tempo, causam frustração e irritação em quem está prestando o atendimento ou quando não conseguem identificar uma causapara o problema. Ou seja, fatores inerentes ao próprio médico podem dificultar ainda mais o seguimento destes pacientes. Isso pode ser agravado pelo número alarmante de profissionais da saúde com jornadas excessivas de trabalho, pouco descanso e quadros de burnout estabelecidos. Será que as alterações psíquicas dos profissionais que fazem o atendimento influenciarão sua maior ou menor disposição para atender pessoas com dor crônica? Este tema merece uma discussão a parte. Além disso o fator tempo de atendimento é com frequência relatado como um limitador para uma adequada avaliação destes pacientes. Como abordar os pacientes com alta carga emocional ou distúrbios psiquiátricos concomitantes no cenário das múltiplas tarefas que precisamos cumprir durante um atendimento? DIFICULDADES RELATIVAS à AVALIAçãO COMPLEMENTAR Não dispomos de biomarcadores ou outros testes objetivos para mensuração da dor. Os exames complementares atualmente disponíveis podem confundir ao invés de ajudar, vide as nossas conhecidas “protrusões discais” e outros achados de imagem de ressonâncias magnéticas de coluna desprovidas de significado clínico na maioria dos casos. Ilustração: Anna Valéria Assad Maia REUMATOC A P I TA L 15 DIFICULDADES RELATIVAS AO TRATAMENTO O tratamento medicamentoso para dor crônica ainda é limitado quando o assunto é eficácia. Se dissociado de uma terapia multidisciplinar estruturada pode ser ainda mais inefetivo. Se basearmos o nosso tratamento unicamente nas abordagens farmacológicas, como fomos treinados, a chance de insucesso certamente será alta. Ademais os efeitos colaterais das drogas são frequentes e impedem a terapia em um número considerável de pacientes. Obviamente, um resultado ruim é extremamente frustrante para o médico e para o paciente. Será que sabemos lidar com isso? REUMATOC A P I TA L 16 E A SOLUçãO? Não existe solução fácil para os inúmeros desafios na abordagem da dor mas uma série de atitudes e condutas podem ser implementadas para nos auxiliar no dia a dia. Algumas delas estão sumarizadas abaixo: a) Dê uma chance ao estudo profundo e detalhado da dor. Avanços na etiopatogenia e fisiopatologia da dor acontecem contínua e rapidamente. E isso pode ser tão interessante e rico quanto o estudo das doenças imunomediadas. b) Invista na educação em Dor para os pacientes. Dispomos de bons materiais gratuitos (textos, livros, vídeos e cursos) que podem ser indicados. Quando o doente entende seu processo e os fatores que o influenciam, a mudança é nítida e muito positiva para o tratamento. c) Tenha uma rede de apoio/equipe multidisciplinar definida, em todos os locais: rede pública, saúde suplementar ou privado. Mesmo sem as condições ideais, outros profissionais nos ajudarão a ter um melhor resultado. d) Pratique outras habilidades e melhore as que você já tem. Escuta ativa, empatia e comunicação médico-paciente são alguns dos exemplos. As chamadas “soft skills” (competências comportamentais e socioemocionais) serão as mais valorizadas no mercado de trabalho futuro. e) Faça o alinhamento de expectativas com os pacientes. Nem sempre teremos o controle completo ou ideal da dor, ainda assim podemos melhorar enormemente a qualidade de vida. Isso pode diminuir as frustração de ambos os lados. f) Esteja disposto a melhorar sua abordagem da dor através de novos conhecimentos. A sensação de um trabalho bem feito e a percepção do impacto positivo na vida destas pessoas decorrentes do seu trabalho funcionarão como um estímulo contínuo. g) Se com tudo isso, você não estiver disposto a acompanhar adequadamente um paciente com dor crônica, encaminhe para algum colega que o faça! É uma boa opção para todos. REUMATOC A P I TA L 17 A excelência da nossa prática e uma correta valorização da especialidade está diretamente relacionada à capacidade dos médicos de manejo dos sintomas dolorosos. O reumatologista deve assumir com determinação o seu protagonismo na área de dor. Somos capazes e sabemos, como poucos, avaliar o paciente de forma completa. Casos desafiadores? Estamos prontos. Vamos juntos. REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Cooper RG, Booker CK, Spanswick CC. What is pain management, and what is its relevance to the rheumatologist? Rheumatology. 2003;42(10):1133-7. Borenstein D. The role of the rheumatologist in managing pain therapy. Nat Rev Rheumatol. 2010;6(4):227-31. Castelhano, Laura Marques. As emoções do médico na relação com o paciente: uma abordagem da psicologia junguiana. 2015. Tese de doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Serour M, Al Othman H, Khalifah GA. Difficult Patients or Difficult Doctors: an analysis of problematic consultations. Eur J Gen Med. 2009; 6 (2): 87-93. Croskerry P, Abbass AA, Wu AW. How doctors feel: affective issues in patients’ safety. Lancet. 2008;372(9645):1205-6. Kushnir T, Kushnir J, Sarel A, Cohen AH. Exploring physician perceptions of the impact of emotions on behaviour during interactions with patients. Fam Pract. 2011;28(1):75-81. REUMATOC A P I TA L 18 Quem me roubou a minha dor antiga, E só a vida me deixou por dor? Quem, entre o incêndio da alma em que o ser periga, Me deixou só no fogo e no torpor? Fernando Pessoa, in “Cancioneiro” Ilustração: Anna Valéria Assad Maia REUMATOC A P I TA L 19 A medicina da dor é a área da medicina dedicada ao alívio da dor e à melhora da qualidade de vida dos pacientes que convivem com a dor crônica. Desde a antiguidade diversas culturas tinham conhecimentos sobre as propriedades analgésicas das plantas. Registros egípcios em papiros do século 3000 A.C. já tinham descrito o uso do suco da papoula e da cannabis no tratamento da dor. A cultura chinesa identificou os pontos de dor distribuídos pelo corpo todo e acabou desenvolvendo a terapia com acupuntura. Os primeiros filósofos gregos, como Platão, reconheceram que o cérebro era o local de percepção da dor e mostraram sua ligação com o sistema nervoso periférico. 1q Mas foi apenas durante a Segunda Guerra Mundial que um anestesiologista do exército americano, chamado John Bonica, iniciou uma abordagem multidisciplinar no manejo da dor dos veteranos com dor crônica, o que chamou atenção de uma forma geral para o sub tratamento da dor e, em especial para a dor crônica. Em 1953, publicou sua maior obra, o tratado O Manejo da Dor. Durante sua vida, Bonica publicou dezenas de livros e artigos científicos os quais o conduziram ao seu papel universalmente reconhecido de fundador do manejo da dor moderna. 2 FERNANDO CHIUCHETA Residência em Clinica Médica e Reumatologia pela UFPR Especialista em Reumatologia pela Sociedade Brasileira de Reumatologia Certificado de Atuação na Área de Dor pela Associação Médica Brasileira Preceptor de Reumatologia para a Residência do Hospital da XV - Curitiba Coordenador da Comissão de Dor da Sociedade Brasileira de Reumatologia Presidente da Sociedade Paranaense de Reumatologia - 2019-2020 PONTO DE VISTA Reumatologista, o clinico da dor REUMATOC A P I TA L 20 Após a segunda guerra mundial John Bonica trabalhou na Universidade de Washington em Seattle e em 1973 reuniu 300 pesquisadores e endossaram a criação da IASP (Associação Internacional para o Estudo da Dor - International Association for the Study of Pain). Atualmente a IASP tem mais de 7000 membros representando 133 países e 90 regionais em todo o mundo. 2 O primeiro exame de certificação por uma sociedade de medicina foi aplicado em 1993, pelo Comitê Americano de Anestesiologistas. Em 2001, o congresso americano reconheceu a Medicina Intervencionista da Dor como especialidade. No Brasil o exame de suficiência para obtenção do Certificado de Area de Atuação em Dor é realizada pela Comissão de Dor da Associação Médica Brasileira, em conjunto com a Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação, a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, a Sociedade Brasileirade Ortopedia e Traumatologia, a Sociedade Brasileira de Anestesiologia, a Sociedade Brasileira de Clínica Médica, a Academia Brasileira de Neurologia, a Sociedade Brasileira de Pediatria e o Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura. O ideal seria que durante a graduação todos os alunos recebessem treinamento obrigatório em medicina da dor antes de se formarem na faculdade de medicina. A dor está quase sempre presente nos pacientes no dia a dia do consultório do reumatologista. Raras exceções como nas dúvidas sobre exames laboratoriais ou em pacientes assintomáticos com osteopenia ou osteoporose. Então é de suma importância que o Reumatologista possua um amplo conhecimento no estudo da Dor. Estamos há mais de 10 anos na Comissão de Dor da Associação Médica Brasileira e notamos nestes anos a baixa procura dos reumatologistas no exame de Certificação de Dor. Em conjunto com o Dr. Marcos Aurelio de Freitas Machado, que foi Coordenador da Comissão de Dor em 2018-2020 e atualmente é o representante titular da SBR na Comissão de Dor na AMB, resolvemos criar um curso de dor da SBR. REUMATOC A P I TA L 21 REUMATOC A P I TA L 22 Com apoio total da Diretoria Executiva e de toda a Comissão de Dor da sBR conseguimos realizar este sonho de iniciar o Primeiro Curso de Dor da SBR em setembro de 2021 durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia. Um curso totalmente gratuito exclusivo para sócios adimplentes da SBR. Esta medida valoriza ainda mais os nossos associados! E foi uma grata surpresa a alta procura dos Sócios da SBR pelo nosso curso. Neste primeiro ano estamos com aproximadamente 90 alunos inscritos e realizamos módulos seguindo todos os temas do o exame de suficiência para obtenção do Certificado de Area de Atuação em Dor da AMB. Por tudo isto acreditamos que o Reumatologista é o clinico da Dor e que deve estar apto a trazer melhor qualidade de vida aos nossos pacientes para que vivam sem dor! REUMATOC A P I TA L 23 REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1-Santoro D, Bellinghieri G,Savica V, Development of the concept of pain in history. J Nephrol. May-Jun 2011;24 Suppl 17:S133-6.. 2-Raj PP. The 2009 John J. Bonica award lecture: the impact of managing pain in the practice of medicine through the ages. Reg Anesth Pain Med. 2010 Jul-Aug;35(4):378 E é desde então que eu sinto este pavor, Este frio que anda em mim, e que gelou O que de bom me deu Nosso Senhor! Se eu nem sei por onde ando e onde vou!! Sinto os passos da Dor, essa cadência Que é já tortura infinda, que é demência! Que é já vontade doida de gritar! Florbela Espanca, in “Livro de Mágoas” Ilustração: Anna Valéria Assad Maia REUMATOC A P I TA L 24 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA, UniVErSidAdE dE BrASíliA Sala de Apoio ao Pesquisador REUMATOC A P I TA L 25 CLEANDRO PIRES DE ALBUQUERQUE Médico reumatologista do Hospital Universitário de Brasília / UnB Coordenador da Comissão de Ética da Sociedade Brasileira de Reumatologia Editor-Associado Advances in Rheumatology Reumatologia na academia LICIA MARIA H. DA MOTA Médica reumatologista, Hospital Universitário de Brasília, Universidade de Brasília Professora dos Programas de Pós-graduação em Ciências Médicas e Patologia Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília Diretora Científica da Sociedade de Reumatologia de Brasília Ouvidora da Sociedade Brasileira de Reumatologia 1. O QUE é A SALA DE APOIO AO PESQUISADOR? A Sala de Apoio ao Pesquisador é um espaço dentro de uma unidade de saúde ou meio acadêmico, onde os projetos de pesquisa são incentivados e apoiados por meio de discussões e orientações. A ideia é oferecer orientação e suporte técnico aos interessados em realizar pesquisas. Isso inclui, mas não se limita a: • profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos de laboratório, etc.) que pretendam realizar investigação pela primeira vez em seus locais de trabalho; • investigadores em início de carreira em busca de orientação; • cientistas experientes que procuram opiniões externas qualificadas (por pares) para melhorar sua investigação. Nesse espaço, ocorre a discussão sobre métodos de pesquisa e desenvolvimento de projetos. O objetivo é incentivar estudos de boa qualidade, utilizando métodos adequados, seguindo padrões éticos e alcançando resultados relevantes. REUMATOC A P I TA L 26 2. O PROJETO SALA DE APOIO AO PESQUISADOR NO HOSPITAL UNIvERsITáRIO DE BRAsÍLIA- UNIvERsIDADE DE BRAsÍLIA Em março de 2020, quando foi declarada a pandemia do COVID-19, o Hospital Universitário de Brasília – Universidade de Brasília (HUB-UnB) reuniu um comitê para dar apoio institucional a quaisquer iniciativas relevantes de pesquisa na temática COVID-19. Além de professores e pesquisadores experiente, profissionais que há muito desejavam se envolver em pesquisa e pesquisadores menos atuantes na área nos últimos anos foram incentivados a se juntar a esse esforço institucional. Os reumatologistas Licia Mota e Cleandro Pires, do HUB-UnB foram convidados pela superintendência do hospital a coordenar os esforços de pesquisa, com várias frentes de atuação simultâneas, por sua experiência prévia em pesquisa clínica, metodologia científica e coordenação de projetos. Muitos projetos de pesquisa em COVID-19 foram propostos, submetidos aos processos de aprovação ética, aprovados e executados, resultado em diversas publicações em um curto período de tempo (1-5) Os profissionais envolvidos no comitê de pesquisa com enfoque em COVID-19 perceberam que havia uma necessidade não atendida subjacente a esse cenário que se estendia para além do escopo da pandemia. Isso ficou patente, além dos resultados objetivos obtidos com publicações relevantes, pelo entusiasmo de profissionais da instituição, que há muito desejavam se envolver com pesquisa clínica, mas lidavam com questões metodológicas e outras dificuldades práticas que os impediram de alcançar a meta. O HUB reconheceu a necessidade não atendida como uma oportunidade e criou, em outubro de 2020, a Sala de Apoio ao Pesquisador, um serviço permanente para oferecer suporte aos profissionais de saúde - e todos que desejam realizar pesquisas em saúde - na concepção e desenvolvimento de qualquer projeto de pesquisa em saúde . REUMATOC A P I TA L 27 3. POR QUE CRIAR UMA SALA DE APOIO AO PESQUISADOR? Com a devida orientação e respaldo metodológico, a maioria dos profissionais que procuram auxílio da Sala de Apoio ao Pesquisador tem a possibilidade de aumentar a participação na pesquisa clínica, resultando em mais evidências e, consequentemente, melhoria da prática clínica. • A Sala de Apoio ao Pesquisador também é importante para networking e potencializar ou catalisar colaborações e redes entre cientistas que buscam apoio e outros pesquisadores mais experientes que trabalham no campo específico e que podem oferecer orientação. • Além disso, a Sala de Apoio ao Pesquisador fornece uma plataforma para estimular os profissionais que procuram o serviço e aumentar sua motivação para buscar um programa formal de pós-graduação. 4. O QUE A SALA DE APOIO AO PESQUISADOR DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA REALIzOU ATé O MOMENTO? Desde a inauguração da Sala de Apoio ao Pesquisador no HUB-UnB em outubro de 2020, já foram realizadas mais de 115 sessões de assessoria técnica e metodológica online ou presencial, relacionadas a mais de 40 projetos, atendendo mais de 80 profissionais interessados. Dezesseis pesquisadores ingressaram em programa formal de pós- graduação (Mestrado ou Doutorado) sob a orientação direta da Sala, por meio de orientação metodológica ou intermediação de acesso a professores orientadores da Universidade de Brasília e de outras Instituições. REUMATOC A P I TA L 28 Dada a experiência acumulada no mapeamento e tratamento das dificuldades dos pesquisadores, a Sala de Apoio ao Pesquisador também foi convidada a participar, juntamente com outras contrapartes institucionais,da revisão e desenvolvimento contínuos da política geral de pesquisa do nosso hospital. Além disso, a Sala de Apoio ao Pesquisador tornou-se uma ponte entre os grupos de pesquisa do nosso hospital e das Faculdades da Universidade de Brasília e de outras Instituições, inclusive no exterior. 5. COMO FUNCIONA A SALA DE APOIO AO PESQUISADOR 5.1. Montagem da Sala de Apoio à Pesquisa 5.1.1-Recursos Humanos • Orientadores de pesquisa qualificados, já que são necessários conhecimentos formais e experiência em pesquisa clínica e metodologia científica. • Idealmente e sempre que possível, cada projeto deve ser avaliado e discutido por dois assessores simultâneos. • Ter um estatístico na Sala de Apoio ao Pesquisador é útil, mas não é essencial se os orientadores tiverem uma boa compreensão dos métodos quantitativos em pesquisa clínica (incluindo estatísticas básicas). • Se possível, é útil ter uma secretária que receba (por e-mail, telefone ou aplicativos de mensagens) as solicitações de agendamento e organize a agenda da Sala. 5.1.2. Recursos físicos • Um ambiente adequado dentro do hospital ou instituição ¬ pode ser compartilhado com outros grupos, mas não ao mesmo tempo. • Uma mesa para a reunião ¬ às vezes pode haver um grupo de até 8-10 pesquisadores envolvidos em um mesmo projeto • Um computador com acesso à internet ¬ pois serão necessárias algumas plataformas de reuniões virtuais ou softwares para agendamentos online. REUMATOC A P I TA L 29 5.1.3. Tempo • O recurso mais importante para a Sala de Apoio ao Pesquisador é o tempo. A leitura cuidadosa dos projetos e a compreensão dos objetivos, interesses e ideias dos pesquisadores é essencial para identificar imperfeições e sugerir melhorias. Os orientadores de pesquisa devem ter tempo alocado a cada semana para as atividades da Sala de Apoio à Pesquisa. • O tempo total necessário para executar o projeto dependerá da demanda local. 5.2. Operações do dia a dia na sala de Apoio ao Pesquisador • Equipes ou Indivíduos em busca de suporte marcarão primeiro um horário. • Cada sessão dura 1h30 • Os encontros podem ser online ou presenciais, de acordo com a preferência dos pesquisadores 5.2.1- Primeiro Encontro: A questão da Pesquisa • No primeiro encontro, a equipe de apoio se concentra em entender os reais interesses do(s) pesquisador(es) e ajudar a desenvolver uma boa questão de pesquisa. Muitos pesquisadores têm apenas uma ideia geral sobre o que querem estudar naquele momento. Outros trazem um projeto de pesquisa em mãos. • De qualquer forma, a equipe passará por essas questões em detalhes, com o objetivo de ajudar o pesquisador a chegar a uma ou mais questões de pesquisa claras, focadas, bem estruturadas, relevantes, éticas e factíveis que ainda devem ser interessantes e motivadoras para eles . • Pode levar um ou mais encontros para chegar a uma questão de pesquisa adequada. 5.2.2- Encontros Subsequentes: Metodologia de Pesquisa Uma vez que a questão de pesquisa é estabelecida (e uma hipótese testável é claramente formulada no caso de estudos analíticos), procede-se uma revisão detalhada, junto com o(s) pesquisador(es), dos métodos necessários para responder à questão. REUMATOC A P I TA L 30 Essa etapa contentra-se no desenho geral do estudo, incluindo: • delimitação clara da população-alvo • técnicas de amostragem e tamanho da amostra • recrutamento, randomização (quando apropriado) • intervenções, comparações, • resultados e seus prazos • variáveis em estudo • ferramentas de medição • Métodos estatísticos • análise de dados • requisitos éticos 5.2.3. Encontros Finais: Implementação Por fim, serão abordados os aspectos operacionais do projeto: • Submissão de projetos a conselhos de revisão institucional, • Registro e disponibilização de protocolos através de repositórios públicos, • Requisitos de perícia técnica, • Acesso a recursos específicos necessários (equipamentos, ferramentas, materiais, etc.), • Procedimentos padronizados para coleta e monitoramento de dados, • Orçamento de pesquisa e fontes de financiamento, e • Cronogramas realistas para a condução de todos os processos de pesquisa. • Percorrer todas as etapas pode levar vários encontros, dependendo da experiência prévia do(s) pesquisador(es). “O Hospital Universitário de Brasília, apesar de ser uma unidade de saúde terciária, voltada para a assistência de alta complexidade, é um hospital de porte médio em tamanho e quadro funcional. Assim, essas conquistas em tão pouco tempo são surpreendentes. Acreditamos que estamos contribuindo para solucionar necessidades não atendidas em nosso hospital, por meio da Sala de Apoio ao Pesquisador, e que este Projeto (uma vez replicado) também poderá beneficiar outros hospitais onde pesquisadores clínicos possam encontrar desafios como os que temos observado em nossa Instituição.” A iniciativa da Sala de Apoio ao Pesquisador do HUB-UnB vem funcionando tão bem que a experiência de sucesso foi recentemetne compartilhada pela REDe – The Global Health Network, da Universidade de Oxford, como um modelo a ser seguido em outros países. A toolkit publicada pode ser acessada no link – https://globalhealthtrials.tghn.org/toolkits/research-support-room/ REUMATOC A P I TA L 31 “No Hospital Universitário de Brasília, por exemplo, a Sala de Apoio ao Pesquisador é aberta ao público (reserva antecipada) em dois períodos de 4 horas semanais. A secretária está disponível para receber solicitações de agendamento durante o horário normal de trabalho, cinco dias por semana. O contato para agendamento na Sala de Apoio ao Pesquisador do HUB- UnB é feito pelo email pesquisaclinica.hub@ebserh.gov.br REUMATOC A P I TA L 32 REUMATOC A P I TA L 33 REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Schulte HL, Brito-Sousa JD, Lacerda MVG, Naves LA, de Gois ET, Fernandes MS, Lima VP, Rassi CHRE, de Siracusa CC, Sasaki LMP, Cerqueira SRPS, de Albuquerque CP, Reis APMG, Gomes CM, Kurizky PS, da Mota LMH, Espindola LS. SARS-CoV-2/DENV co-infection: a series of cases from the Federal District, Midwestern Brazil. BMC Infect Dis. 2021 Jul 31;21(1):727. doi: 10.1186/s12879-021-06456-2. PMID: 34332542; PMCID: PMC8325531. 2. Fernandes GM, Motta F, Sasaki LMP, Silva ÂPD, Miranda AM, Carvalho AO, Gomides APM, Soares AASM, Santos ACMD Jr, Alves CO, Gomes CM, Siracusa CC, Araújo DA Jr, Mendonça-Silva DL, Jesus JAL, Costa KN, Castro MEC, Kurizky PS, França PS, Tristão R, Pereira YR, Castro LCG, Zaconeta AM, Albuquerque CP, Mota LMHD. Pregnancy Outcomes and Child Development Effects of SARS-CoV-2 Infection (PROUDEST Trial): Protocol for a Multicenter, Prospective Cohort Study. JMIR Res Protoc. 2021 Apr 20;10(4):e26477. doi: 10.2196/26477. PMID: 33793409; PMCID: PMC8059788. 3. Kurizky P, Nóbrega OT, Soares AASM, Aires RB, Albuquerque CP, Nicola AM, Albuquerque P, Teixeira-Carvalho A, Naves LA, Fontes W, Luz IS, Felicori L, Gomides APM, Mendonça-Silva DL, Espindola LS, Martins-Filho OA, de Lima SMB, Mota LMH, Gomes CM. Molecular and Cellular Biomarkers of COVID-19 Prognosis: Protocol for the Prospective Cohort TARGET Study. JMIR Res Protoc. 2021 Mar 4;10(3):e24211. doi: 10.2196/24211. PMID: 33661132; PMCID: PMC7935398. 4. Pinho RDNL, Costa TF, Silva NM, Barros-Areal AF, Salles AM, Oliveira AP, Rassi C, Valero CEB, Gomes CM, Mendonça-Silva D, Oliveira F, Jochims I, Ranulfo I, Neves JBS, Oliveira L, Dantas MN, Rosal M, Soares M, Kurizky P, Peterle VU, Faro YF, Gomides AP, da Mota L, Albuquerque C, Simaan CK, Amado VM. Mental Health and Burnout Syndrome Among Postgraduate Students in Medical and Multidisciplinary Residencies During the COVID-19 Pandemic in Brazil: Protocol for a Prospective Cohort Study. JMIR Res Protoc. 2021 Jan 19;10(1):e24298. doi: 10.2196/24298. PMID: 33290246; PMCID: PMC7817252. 5. Aires RB, Soares AASM, Gomides APM, Nicola AM, Teixeira-Carvalho A, da Silva DLM, de Gois ET, Xavier FD, Martins FP, Santos GPJ, Schulte HL, Luz IS, Espindola LS, do Amaral LR, Felicori LF, Naves LA, de Carvalho MRM, Gomes MS, NóbregaOT, Albuquerque P, Fontes W, Gomes CM, Kurizky PS, Albuquerque CP, Martins-Filho OA, da Mota LMH. Thromboelastometry demonstrates endogenous coagulation activation in nonsevere and severe COVID-19 patients and has applicability as a decision algorithm for intervention. PLoS One. 2022 Jan 14;17(1):e0262600. doi: 10.1371/journal.pone.0262600. PMID: 35030224; PMCID: PMC8759688. REUMATOC A P I TA L 34 REUMATOC A P I TA L 35 MARCO ANTONIO GONçALVES PONTES FILHO Reumatologista pelo HC-FMUSP; Especialista em Reumatologia pela SBR/AMB; Membro Titular da SBR; Certificação de Área em Dor pela SBR/AMB; Certificação de Área em Densitometria Óssea pela SBR/CBR; Coordenador da Comissão de Medicina Física e Reabilitação da SBR; Membro da Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Síndromes de Partes Moles da SBR. A fibromialgia (FM) é uma síndrome de sensibilização central caracterizada por dor generalizada, frequentemente acompanhada de sintomas como ansiedade, depressão, distúrbios do sono, fadiga e problemas cognitivos (Figura 1). Apesar de anos de investigação na FM, nenhuma causa definida ou fisiopatologia definidora ainda foi descoberta. No tratamento desta patologia, seu objetivo é reduzir os sintomas, melhorar a função, manter a amplitude de movimento e a flexibilidade, minimizar os fatores precipitantes ou perpetuadores de piora e melhorar a qualidade de vida do paciente1-7. É amplamente aceito que o manejo da FM requer uma abordagem multidisciplinar, combinando tratamentos não farmacológicos como abordagem inicial, principalmente educação do paciente, exercícios físicos e psicoterapia, e iniciando os tratamentos farmacológicos a partir daí1-7. O uso de medicamentos promove um alívio apenas modesto dos sintomas, com doses geralmente menores do que as sugeridas, por intolerância reumato na pratica TRATAMENTO NAO FARMACOLOGICO DA FIBROMIALGIA, O PACIENTE COMO PROTAGONISTA REUMATOC A P I TA L 36 dos pacientes. Por isto, há a necessidade de revisão contínua do risco-benefício do tratamento medicamentoso. Os dados da prática clínica refletem a importante limitação dos tratamentos farmacológicos da FM. De acordo com um estudo realizado nos EUA, após um ano do início do tratamento farmacológico, apenas 25% dos pacientes continuam com a opção inicial. Consistente com esse achado, foi relatado que menos da metade dos pacientes com FM estão satisfeitos com a medicação que estão recebendo1-3,7. Neste cenário, o tratamento não medicamentoso, associado ou não a drogas, está recomendado em vários consensos. Dentro desta modalidade de tratamento, os exercícios físicos são atualmente a intervenção não medicamentosa mais importante e com maior nível de evidência no tratamento da FM1-7. FADIGA GENERALIzADA FIBROMIALGIADOR SONO ANSIEDADE ALTERAçÕES COGNITIVAS RECOMENDAçãO NÍVEL DE EVIDêNCIA GRAU FORçA DA RECOMENDAçãO CONCORDÂNCIA Exercícios aeróbicos e de fortalecimento Ia A Forte 100 100 71-73 71-73 93 93A A A Fraca Fraca Fraca Fraca FracaA A Ia Ia Ia Ia Ia TCC Acupuntura Hidroterapia Terapias meditativas Mindfulness Baseado no artigo Macfarlene GJ, et al. EULAR revised recommendations for the management of fibromyalgia. Ann Rheum Dis. 2017; 76:318-328. REUMATOC A P I TA L 37 CLAssIFICAçãO DO TRATAmENTO NãO FARmACOLóGICO DA Fm. TABELA 1. FÍSICAS Terapias passivas: ultrassom, massagem, laser e ondas curtas Terapias ativas: exercícios e reabilitação, hidroterapia, acupuntura PsICOLóGICAs Educação do paciente Terapia cognitivo comportamental Estratégias e intervenção mente-corpo Meditação TRATAmENTO NãO FARmACOLóGICO O tratamento não farmacológico é classificado tradicionalmente como abordagens físicas e psicológicas2. Essa classificação e exemplos são mostrados na Tabela 1. TERAPIAs PsICOLóGICAs Educação A educação individual ou em grupo tem sido recomendada como uma intervenção central. É importante reafirmar a benignidade e a cronicidade da doença, reforçar a importância da adesão do paciente ao tratamento e entender o conceito de abordagem multidisciplinar (Tabela 2)2,8-11. Todas as diretrizes recentes recomendam que o diagnóstico de FM seja comunicado ao paciente logo após seu diagnóstico. Essa abordagem visa diminuir a ansiedade e reduzir procedimentos diagnósticos desnecessários repetidos e tratamentos medicamentosos inadequados. As seguintes informações são úteis a todos os pacientes2,3,8-11: REUMATOC A P I TA L 38 Terapia Cognitivo Comportamental Crenças disfuncionais e as informações defeituosas, dentro de um modelo cognitivo. Já é conhecido que os portadores de FM possuem traços de personalidade dominada pela luta na conquista de elevados padrões pessoais e sociais, o que os induz a terem como objetivo principal a busca do perfeccionismo em todas suas ações. Cinco revisões sistemáticas avaliadas incluíram 30 ensaios e pelo menos 2.031 participantes e mostraram sua eficácia. Apesar do grau fraco de recomendação, a TCC é considerada segura e eficaz na redução da dor e da incapacidade, com resultados mantidos a longo prazo1-3,5,7,11-14. Estratégias de intervenção Corpo e Mente Também chamadas de terapias de atenção plena, terapia corpo-mente ou mindfulness, consiste na prática de se estar no momento presente da maneira mais consciente possível. Ou seja, foca sua atenção em cada movimento, situação e respiração. Seis revisões incluíram 13 ensaios e 1.209 participantes. Elas mostraram que houve redução do estresse e melhora na dor, sendo que 4 de 6 programas também incluíram a prática diária em casa mais um retiro único em um dia inteiro. Contudo, elas possuem grau de recomendação fraco1-3,5-7,15-18. Meditação As terapias de relaxamento usam técnicas para regular o equilíbrio simpático/parassimpático e reduzir os sintomas de excitação simpática presente na dor crônica, incluindo estresse situacional, tensão muscular e respiração superficial. Seis revisões, incluindo até oito ensaios e 559 participantes, focados em qigong, ioga, tai chi ou uma combinação dessas terapias para FM não mostrou evidências suficientes para recomendações individuais. Uma revisão que incluiu sete ensaios (362 participantes) randomizados para tai chi, ioga, qigong ou terapia de consciência corporal observaram melhora no sono e na fadiga, as quais foram mantidas em longo prazo. A meditação possui grau de recomendação moderado1-3,5,17,18. OBJETIVOS PARA OS PACIENTES COM FM. TABELA 2. OBJETIVOS GERAIS Foco no ganho de função Desenvolver estratégias para autonomia funcional Evitar a cinesiofobia Ergonomia Equipe multidisciplinar • Os sintomas não são causados por uma doença orgânica (mas baseados em um distúrbio funcional); • Reconhecer a legitimidade da doença; • Os sintomas não levam à incapacidade e não diminuem a expectativa de vida; • A maioria dos pacientes aprende a se adaptar aos sintomas ao longo do tempo; • Ressaltar a capacidade do paciente em controlar os sintomas por meio de sua autonomia. REUMATOC A P I TA L 39 TERAPIAS FÍSICAS Acupuntura Possui bases filosóficas da Medicina Chinesa Tradicionais e fundamentos contemporâneos amparados na neurofisiologia. Consiste na aplicação de agulhas finas introduzidas na superfície do corpo. Oito revisões incluíram 16 ensaios e 1.081 participantes. Uma revisão de alta qualidade incluiu nove ensaios (395 pacientes), e adicionada à terapia padrão, a acupuntura resultou em melhora na dor. A eletroacupuntura também foi associada a melhora da dor e da fadiga. Atualmente, a acupuntura possui recomendação de evidência moderada1-3,6,7,19,20. Hidroterapia Quatro revisões avaliaram até 21 ensaios e 1.306 participantes com FM. Uma revisão de alta qualidade incluiu 10 ensaios com 446 participantes, sendo que a maioria consistia em banhos de água ou lama à temperatura corporal de 36 a 37°C, ou ligeiramente acima (40 a 45°C). Houve uma melhora significativa na dor, mantida a longo prazo, embora os autores da revisão tenham notado que nenhumestudo conduziu uma análise intention-to-treat. Houve benefícios para hidroterapia e balneoterapia, embora poucas evidências sugiram superioridade de uma sobre a outra. Seu grau de recomendação é fraco1-3,5,6,7,21. Exercícios Físicos São atividades físicas planejadas, estruturadas e repetitivas. No contexto da FM, observa-se benefícios nos domínios dor, fadiga, humor (ansiedade e depressão), sono e qualidade de vida. Entretanto, a baixa aderência é o principal motivo para o insucesso. Há relatos de piora da dor de forma aguda causada pelo exercício. Isso se deve ao fato de que músculos mais destreinados são mais susceptíveis a microlesões, as quais causam inflamação e aumento da sensibilidade dolorosa1-3,5,6,27. Ainda não há uma definição precisa para melhor intensidade, frequência, duração e modalidade dos exercícios na FM. Usamos o lema “start low, go slow” que significa uma progressão lenta do treino, com sessões mais curtas e menos intensas no início1-3,27. Vinte revisões incluíram até 34 ensaios e pelo menos 2.494 pacientes com FM. A maior, uma revisão da Cochrane, considerou 47 intervenções de exercícios diferentes, sendo o exercício aeróbico associado a melhora na dor e função física. Já Busch et al revisaram 5 ensaios com 219 participantes e concluíram que o treinamento de resistência resultou em uma melhora significativa na dor e na função. No geral nos estudos, os programas de exercícios tinham duração de 2,5 a 24 semanas, sendo o exercício aeróbico ≥20 min (uma vez por dia [ou duas vezes por ≥10 min]), 2 a 3 dias por semana; e o treinamento de força com ≥8 repetições por exercício, também 2 a 3 vezes por semana1-3,22-27. De forma geral, há uma melhora importante dos sintomas na FM com os exercícios aeróbicos e de fortalecimento, embora não haja evidências suficientes para sugerir superioridade de um sobre o outro; exercícios no solo e aquáticos parecem igualmente eficazes1-3,5,6,22-27. Um esquema de orientações para prescrição de exercícios físicos na FM podem ser encontrados na Tabela 3. REUMATOC A P I TA L 40 TABELA 3. ORIENTAçÕES PARA PRESCRIçãO DE EXERCÍCIOS FÍSICOS NA FM. EXERCÍCIOS DE FLEXIBILIDADE (recomendação A, evidência grau 3) Terapias passivas: 20 minutos de duração 2x/semana 30 segundos por exercício ExERCÍCIOs AERóBIOs (recomendação A, evidência grau 1) 2-3x/semana 40-60% da FC max Caminhadas, corridas e bicicletas estacionárias Exercícios na água são mais tolerados EXERCÍCIOS DE FORçA (recomendação A, evidência grau 2) 2-3x/semana Intensidade 40-80% de 1RM 1-3 séries Priorizar posições confortáveis (sentado, deitado ou com algum apoio) Priorizar membros inferiores (devido maior fraqueza) Baseado nas referências Lancha Junior AH et al. Avaliação e prescrição de exercícios físicos: normas e diretrizes. São Paulo: Manole, 2016 e Lima FR, Peçanha T. Prescrição de atividade física em pacientes com doenças reumáticas. Rev Paul Reumatol, 2019;18(4):17-24. CONCLUSÃO O diagnóstico da FM requer experiência clínica, uma boa anamnese e a adequada exclusão de doenças que apresentam sinais e sintomas semelhantes e que requerem abordagens terapêuticas diferenciadas. O intuito deste artigo foi resumir as principais possibilidades de tratamentos não farmacológicos para auxiliar os profissionais da saúde nas suas tomadas de decisão clínica (Figura 2). Ressalta-se ainda que as características individuais devem ser levadas em consideração para a escolha do tratamento devido a heterogeneidade dos sintomas presentes na FM. Por fim, sugere-se que o acompanhamento seja multiprofissional, composto por médico, fisioterapeuta, educador físico e psicólogo, em razão do quadro clínico multifatorial desta patologia. REUMATOC A P I TA L 41 REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Ranzolin A, Chiuchetta FA, Heymann RE. Dores musculoesqueléticas localizadas e difusas. 2a edição. São Paulo: Planmark, 2017. 2. Posso IP et al. Tratado de Dor da SBED. 1ª edição. 2017. 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