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MANUFATURA ENXUTA AULA 4 Prof. Everton Luiz Vieira 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos estudar os conceitos sobre padronização na Manufatura Enxuta, iniciando pelo 5S, que é um programa para melhoria do ambiente de trabalho, sendo uma das portas de entrada para adoção da Manufatura Enxuta. Também vamos falar sobre o tempo takt e o balanceamento da produção, que são meios que temos para encontrar o tempo necessário para atender a demanda e organização do processo produtivo para evitar desperdícios. Vamos abordar o tema do trabalho padronizado para entender como essa ferramenta auxilia na busca pela qualidade e produtividade nos processos. Para finalizar o tema, estudaremos o Karakuri, composto por dispositivos capazes de lidar com movimentos e tarefas complexas com pouca ou nenhuma assistência exterior, sendo muito utilizados no ambiente produtivo. TEMA 1 – 5S O Programa 5S, também conhecido como housekeeping, que significa “arrumando a casa”, teve sua origem no Japão nos anos 1950. Ele foi motivado pela necessidade de reorganizar em todos os níveis esse país parcialmente destruído pela Segunda Guerra Mundial, tanto nas organizações quanto na sociedade e lares (Rodrigues, 2014). O 5S pode ser visto como um programa de melhoria de comportamento, cuja principal característica é a simplicidade. O seu conceito é muito profundo e pode ser aplicado na vida profissional e pessoal. A denominação 5S está vinculada aos cinco sensos priorizados pelo programa, conforme a Figura 1. 3 Figura 1 – Os 5S Os 5S são as iniciais de palavras de origem japonesa que representam cinco sensos, com os seguintes significados: • Seiri: senso de utilização; • Seiton: senso de organização; • Seiso: senso de limpeza; • Seiketsu: senso de padronização; • Shitsuke: senso de disciplina. 1.1 Conceitos e objetivos dos cinco sensos Dentro de uma organização, torna-se imprescindível que todo colaborador sinta a necessidade de estar integrado ao 5S. Para isso, é importante conhecer os conceitos e objetivos dos cinco sensos. Seiri – senso de utilização: o objetivo geral é otimizar a distribuição e o uso de espaço, móveis, equipamentos e materiais de trabalho. Recomenda-se alocar apenas os itens necessários no local de trabalho e usá-los de forma eficaz em um layout adequado. 4 No senso de utilização, os itens desnecessários são identificados para desenvolver o trabalho da área. No Quadro 1, temos algumas recomendações de como realizar a separação e seleção de materiais. Quadro 1 – Como separar e selecionar materiais no senso de utilização Identificação Providências Se é usado a toda hora Colocar no próprio local de trabalho, escritório ou máquina Se é usado todo dia Colocar próximo ao local de trabalho Se é usado toda semana Colocar no almoxarifado Se não é usado Descartar Os itens que não são mais usados devem ser identificados e dirigidos a uma área temporária para definição posterior. Para isso, utiliza-se uma etiqueta de identificação dos itens, conforme a Figura 2. Figura 2 – Etiqueta para itens que não são mais usados Essa etiqueta deverá ser fixada nos itens que ficarão dispostos na área temporária, para posterior análise e destinação adequada. O senso de utilização possui algumas vantagens: • Liberação de espaço; • Eliminação de armários, prateleiras, ferramentas, materiais etc. • Eliminação de acúmulo de dados inúteis; • Redução do tempo de procura de itens; • Redução do risco de acidentes; 5 • Eliminação de dados de controles ultrapassados; • Eliminação de sobressalentes fora de uso. Rodrigues (2014), cita algumas dicas para utilizar no senso de utilização: • Documentar por meio de filmagens e fotos a situação do setor antes da implantação do primeiro S, para fazer um antes e depois; • Classificar máquinas, equipamentos, móveis e todo material existente, pessoal e de uso comum; • Considerar as quantidades necessárias e existentes. Aplicar o conceito de “um é o melhor”; • Não descartar documentos importantes; • Identificar os principais pontos de desperdícios e montar estratégias para melhorá-los. Seiton – senso de organização: o objetivo é ordenar móveis, equipamentos, materiais e documentos de forma razoável, a fim de acessar e utilizar vários recursos em um layout consistente. Ele também tenta definir novas formas de armazenamento de consumíveis e definir novos fluxos de produção. O senso de ordenação busca ter lugar para colocar tudo, e ter tudo no devido lugar. Isso traz alguns benefícios, como: eliminar tempo de procura; qualquer pessoa pode encontrar o que precisa; melhorar a segurança do trabalho no ambiente; antecipar a falta de componentes, produtos ou ferramentas; minimizar erros; facilitar a movimentação. Na Figura 3, temos um exemplo de organização de ferramentas. Figura 3 – Ferramentas organizadas Crédito: Marcel Paschertz/Shutterstock. 6 A ordenação deverá seguir uma padronização na nomenclatura dos itens, que devem ser identificados visualmente, utilizando rótulos e cores vivas. Além disso, os colaboradores deverão ser treinados sobre onde e como armazenar os itens. Seiso – senso de limpeza: o objetivo é manter sempre os recursos tangíveis, móveis e equipamentos utilizados limpos ou em bom estado de uso. Ele se esforça para criar uma cultura de uso de cronogramas de limpeza e manutenção de equipamentos, ferramentas e estruturas. A limpeza ajuda a segurança, a qualidade e a moral dos colaboradores, facilitando inspeções, levando a correções rápidas e efetivas. Além disso, ajudar a detectar rapidamente vazamentos e irregularidades. A limpeza pode ser classificada em geral; inspeção e manutenção, conforme o Quadro 2. Quadro 2 – Classificação dos estágios da limpeza Limpeza geral Limpar tudo. Varrer e lavar o piso, corredores, máquinas, prateleiras etc. Limpeza com inspeção Limpar elementos específicos. Rodízios, peças específicas de máquinas, checar água, óleo etc. Limpeza como manutenção Corrigir fontes de sujeiras. Procurar pelas fontes de sujeira e corrigir. A limpeza tem como vantagens: melhoria do local de trabalho; satisfação dos colaboradores; manutenção da qualidade; maior segurança para o colaborador. Um ambiente limpo não é o que mais se limpa, mas o que menos se suja. Seiketsu – senso de padronização: tem como objetivo cumprir as recomendações técnicas e manter as condições de trabalho e dos colaboradores, favorecendo a saúde com relação as limitações físicas e mentais. Também visa regular as boas práticas em normas e procedimentos técnicos, e ações eficazes. A utilização do senso de padronização traz muitas vantagens: redução do risco de acidentes; redução de custos; melhoria do aspecto visual do ambiente de trabalho; redução dos riscos de doenças do trabalho. Shitsuke – senso de disciplina: tem como objetivo criar uma nova cultura para educar, conscientizar e disciplinar o colaborador, buscando um comportamento e hábitos que motivem a melhoria contínua por meio da força física, mental e moral. Além de buscar a manutenção dos quatro sensos anteriores. 7 1.2 Importância do Programa 5S De acordo com Rodrigues (2014) o programa 5S não pode ser considerado um programa de qualidade, mas o passo inicial e a base para muitos processos de melhoria nas organizações, por meio da busca e da introdução de boas e eficazes práticas. Um ambiente limpo e organizado é condição básica para operacionalização eficaz de muitas ações utilizadas no Lean Manufacturing. Como exemplos, podemos citar a Troca Rápida de Ferramentas (TRF), a manutenção produtiva total (TPM), células de produção, automação e o kanban. Na Figura 4, podemos observar essa integração. Figura 4 – Integração do 5S com práticas do Lean Manufacturing Fonte: Elaborado combase em Rodrigues, 2014. O programa 5S possui muitos benefícios, como: • Aproveitamento eficaz dos espaços; • Redução do desperdício; • Maior organização; • Maior limpeza; 8 • Criação de novos valores na organização; • Otimização de materiais e mobiliário. Foi possível perceber que o programa 5S possui inúmeras vantagens na sua utilização, além de favorecer o uso de algumas práticas do Lean Manufacturing. TEMA 2 – TAKT TIME Para Léxico Lean (2007), o tempo takt é o tempo disponível dividido pela demanda do cliente. Esse conceito foi usado pela primeira vez como ferramenta de gerenciamento da produção na indústria aeronáutica alemã, na década de 1930. Takt é um termo alemão que se refere a um intervalo preciso de tempo, como por exemplo, na regência de uma orquestra. Era o intervalo em que uma aeronave era transportada a estação de produção seguinte. O tempo takt dita o ritmo do processo, tal como um maestro em uma orquestra. Na Figura 5, temos a imagem de um maestro regendo sua orquestra. Figura 5 – Maestro regendo sua orquestra Crédito: Haarkus/Shutterstock. O conceito foi amplamente utilizado na década de 1950 pela Toyota, e seu uso já estava complemente difundido na cadeia de fornecedores da empresa na década seguinte. A Toyota tem por costume revisar o tempo takt para um processo mensalmente, sendo que a cada dez dias há uma pequena revisão (Léxico Lean, 2007). 9 O tempo takt é calculado pela relação do tempo disponível para a produção dividido pela demanda do cliente, conforme a equação a seguir: Segundo Agostinho (2015), o tempo de produção disponível é o tempo total que a máquina estará dedicada ao produto, descontando as paradas programadas. Essas paradas são: reuniões, troca de turnos, ginástica laboral, setup, intervalos para refeições, manutenção preventiva, entre outras. A demanda do cliente é a quantidade solicitada no período analisado. Por exemplo, se uma empresa trabalha 8 horas por turno em dois turnos, com uma parada por turno para setup de 30 minutos cada, e a demanda do cliente é de 1.000 peças por dia. O resultado do tempo takt ficaria conforme apresentado na Figura 6. Figura 6 – Exemplo de cálculo do tempo takt Podemos observar nesse exemplo que o tempo takt ficou em 54 segundos por peça. Isso significa que nenhuma operação poderá ultrapassar esse tempo, caso contrário a demanda não será atendida. 10 Para saber se uma operação ou processo atende às especificações do tempo takt, é preciso ter informações do tempo de execução de cada operação. Vamos usar como exemplo o cálculo anterior, onde encontramos 57,6 segundos de tempo takt, em um processo composto por cinco operações, que vamos chamar de A, B, C, D e F, cada uma terá um tempo padrão conforme Quadro 3. Quadro 3 – Tempos das operações Operação Tempo em segundos A – Cortar chapa 45 segundos B – Furar chapa 20 segundos C – Dobrar chapa 49 segundos D – Soldar chapa 60 segundos E – Pintura 50 segundos F - Embalagem 40 segundos Agora que já sabemos os tempos das operações, vamos analisar se esse processo atende às especificações do tempo takt calculado, conforme a Figura 7. Figura 7 – Representação gráfica do processo com o tempo takt Observando o processo da Figura 7, podemos observar que a operação D ultrapassou a linha do tempo takt de 54 segundos, isso significa que esse processo não atenderá a demanda. Os processos A, B, C, E e F estão todos abaixo do tempo takt, isso significa que conseguem atender a demanda. Por meio dessa visualização, podemos observar que algumas operações possuem folgas, em relação ao tempo takt, como na operação B, que demora 20 11 segundos, ficando com uma grande diferença em relação ao tempo takt e às operações anterior e posterior, resultando no desperdício de espera. Mas tudo isso somente é possível realizando a análise do tempo takt e os tempos operacionais. Com isso, podemos atuar no processo para realizar a melhoria contínua, para que se adeque as solicitações de demanda do cliente. Costa et al. (2017) desenvolveu um comparativo entre as situações possíveis no cálculo e análise do tempo takt, conforme a Figura 8. Figura 8 – Análise do tempo takt Quando o tempo da operação fica menor que o tempo takt, significa que o processo está sendo subutilizado, que possui capacidade sobrando. Quando o tempo da operação está igual o tempo takt o processo está ajustado. Se o tempo da operação for maior que o tempo takt o processo está deficiente, pois está extrapolando o tempo máximo que poderia demorar para atender a demanda. O objetivo do tempo takt é alinhar a produção à demanda, com precisão, fornecendo um ritmo ao sistema de produção. É a batida do coração de um sistema lean. 12 TEMA 3 – BALANCEAMENTO DE LINHAS DE PRODUÇÃO Para Coimbra (2009), o balanceamento de linhas de produção é fundamental na criação de fluxo contínuo na cadeia produtiva, além de ser um dos princípios do Pensamento Enxuto. Shingo (1996) complementa citando que o balanceamento é um dos pilares do Sistema Toyota de Produção, objetivando fazer com que o processo produza a mesma quantidade do processo anterior. No lean manufacturing é crucial o controle do processo para redução dos desperdícios. Nesse caso, o balanceamento de linha é considerado um grande aliado nessa atividade, pois trabalha para reduzir o tempo ocioso dos operadores da linha. Um exemplo de linha de produção pode ser observado na Figura 9. Figura 9 – Exemplo de linha de produção Crédito: Everett Collection/Shutterstock. Uma linha de produção possui como característica que os recursos transformadores (operadores, máquinas, equipamentos) ficam parados, e o recurso transformado (produtos, clientes) se movimentam no processo. Para balancear uma linha de produção é necessário dividir a carga de trabalho entre os operadores, de modo a atender o tempo takt. Quando uma linha está balanceada, significa que cada posto de trabalho produz de forma sincronizada e na quantidade adequada, gerando um fluxo contínuo e sem paradas em todos os postos operacionais (Tapping et al., 2002; Abdulla, 2003). 13 Para realizar o balanceamento é importante a análise dos tempos das atividades dos operadores, através desta análise é possível determinar a variação das atividades, que gera por consequência uma variação no fluxo da produção (Mortmer, 2006). 3.1 Gráfico de balanceamento de operadores (GBO) Segundo Gomes et al. (2008), o GBO também é conhecido como Yamazumi Board, sendo utilizado para determinar quais tarefas que cada operador deverá realizar em sua estação de trabalho. As atividades são divididas em operações que agrega valor e as que não agregam valor ao produto. O tempo takt é utilizado como referência das distribuições de tarefas e balanceamento. Na Figura 10, é possível observar um exemplo de GBO. Figura 10 – Exemplo de GBO Fonte: Léxico Lean, 2007. Para elaborar o GBO, primeiramente deve-se realizar o estudo de tempos de cada elemento de trabalho separadamente, de toda sequência executada pelo operador. Após a realização do mapeamento e análise do estado atual, será necessário realizar o kaizen de todas as atividades que não agregam valor, para em seguida realizar a redistribuição do trabalho (Rother; Harris, 2002). 14 3.2 Realizando o balanceamento Inicialmente devemos conhecer o processo que estamos querendo balancear e, com isso, realizar o mapeamento do processo e a cronoanálise. Após isso, é possível verificar os tempos de atividades AV e NAV, conforme a Figura 11. Figura 11 – Exemplo de tempos AV e NAV Na Figura 11 temos um exemplo de todos os tempos que compõe uma operação de um processo. Após isso será necessário calcular o tempo takt do processo. Vamos utilizar como exemplo uma empresa que trabalha 8 horas por turno em1 turno, com uma demanda de 1.000 peças/turno. Primeiramente, realizamos a conversão do tempo em horas para segundos. Encontramos um tempo de 28,8 segundos/peça, o que representa que todas as operações devem ficar abaixo deste tempo para atender à demanda. Após a realização da cronoanálise, uma tabela e um gráfico com os tempos foram criados, conforme a Figura 12. 15 Figura 12 – Distribuição dos tempos em relação ao tempo takt Na Figura 12, podemos observar que todas as operações estão abaixo do tempo takt, muitas com uma distância grande em relação a ele. Esta configuração conta com 06 operadores, percebe-se que o desperdício de espera está presente neste processo. De posse destas informações é possível calcular o número teórico de operadores, que teoricamente, seriam necessários para atender a demanda (Martins; Laugeni, 2005). Para calcular o número teórico, utiliza-se a seguinte equação: 𝑁𝑁 = 𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇 𝑡𝑡𝑇𝑇𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡 𝑇𝑇𝑡𝑡𝑝𝑝𝑡𝑡 𝑇𝑇𝑝𝑝𝑇𝑇𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝 𝑝𝑝𝑇𝑇𝑡𝑡 𝑇𝑇𝑇𝑇ç𝑡𝑡 𝑛𝑛𝑡𝑡 𝑡𝑡𝑝𝑝𝑛𝑛ℎ𝑡𝑡 Tempo 𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡 Na Figura 12, foi encontrado o tempo total de 72 segundos e um tempo takt de 28,8 segundos. Com essas informações, é possível calcular o número teórico de operadores. Para esse processo, o número teórico de operadores seria de 2,5 operadores. Segundo Tapping et al. (2002), caso o decimal de trabalhadores seja menor ou igual a 0,5, o pensamento lean sugere que esta parte decimal seja distribuída para os demais trabalhadores, por meio de uma melhoria de processo. O balanceamento da linha é realizado através do agrupamento ou desmembramento das operações, quando a precedência permitir. Na Figura 13, podemos observar um exemplo de balanceamento de linha. 16 Figura 13 – Processo com balanceamento aplicado Na configuração inicial, tínhamos seis operadores com tempos muito abaixo do tempo takt. Após o balanceamento, algumas operações foram agrupadas, de modo que não ultrapassassem o tempo takt. Como no posto 1, no qual as operações A (15 segundos) e B (8 segundos) somam 23 segundos, ficando abaixo dos 28,8 segundos do takt. Nesse caso de dois operadores passamos para um, e assim sucessivamente. Nesse caso, de seis operadores passamos para três, para verificar a eficiência do balanceamento, podemos executar o seguinte cálculo. Para o exemplo desenvolvido teremos uma eficiência de 83,33%. Para se obter um fluxo constante, a linha necessita produzir dentro do tempo takt e com um tempo de ciclo constante. A utilização do trabalho padronizado estabelece métodos e sequência para cada processo e pode ser considerado a base para conseguir qualidade, segurança e alta produtividade (Tapping et al., 2002). 17 3.3 Situações de linha desbalanceada Para Peinado e Graeml (2007), quando se tem atividades que possuam tempos maiores ou menores que o tempo médio necessário para execução das demais atividades, a linha é considerada desbalanceada, neste caso pode haver as seguintes situações: • O operador que está sobrecarregado tenderá a trabalhar em um ritmo acelerado para conseguir atender a demanda, isso poderá ocasionar erros no decorrer do processo. No decorrer do tempo, poderão surgir doenças ocupacionais. • Em algumas situações, alocam-se operadores mais ágeis e velozes para operações mais complexas. Essas atividades podem trazer problemas de saúde, quando um operador trabalha por muito tempo em ritmo acelerado. • Aumento de custos para empresa pelo não aproveitamento adequado da mão de obra. • A velocidade da linha de produção irá depender da velocidade da operação mais lenta (gargalo), com maior tempo de duração. TEMA 4 – TRABALHO PADRONIZADO Frederick Taylor introduziu o conceito de que existia um “jeito certo para fazer as coisas” há um século. Segundo Dennis (2008), a prática da engenharia industrial baseia-se nas suposições informais a seguir: • Existe um jeito certo (os engenheiros irão defini-lo); • Os trabalhadores não estão envolvidos em projetar o trabalho ou fazer melhorias; • Padrões raramente mudam (e apenas os especialistas podem mudá-los). Essas ideias estão ultrapassadas atualmente, mas, infelizmente, algumas organizações utilizam a padronização de processos como uma camisa de força, sendo um instrumento de comando e controle da gerência. Quando falamos em Sistema Toyota de Produção, o trabalho padronizado é abordado de uma maneira diferente da tradicional, pela qual se entende que: • Não existe uma única maneira de fazer o trabalho; • Os trabalhadores devem projetar o trabalho; 18 • O objetivo do trabalho padronizado é fornecer uma base para melhorias. Mesmo os melhores processos estão cheios de desperdícios, por isso, o trabalho padronizado é modificado constantemente, praticando a melhoria contínua. De acordo com Léxico Lean (2007), o trabalho padronizado é o estabelecimento de procedimentos precisos, para o trabalho de cada um dos operadores em um processo de produção, baseados em três elementos: 1. Tempo takt; 2. Sequência exata de trabalho em que um operador realiza suas tarefas dentro do tempo takt; 3. O estoque padrão, incluindo os itens nas máquinas, exigido para manter o processo operando harmoniosamente. O trabalho padronizado, depois de estabelecido e exposto nos postos de trabalho, é o objeto da melhoria contínua por meio do kaizen. Três documentos básicos são utilizados com frequência na implementação do trabalho padronizado: • Quadro de capacidade do processo; • Tabela de combinação do trabalho padronizado; • Diagrama de trabalho padronizado. Estes documentos serão apresentados na sequência de nossa aula. 4.1 Quadro de capacidade do processo De acordo com Dennis (2008), este quadro determina a capacidade de cada máquina em processos conectados, de modo a confirmar a capacidade real, identificar e eliminar gargalos. Um exemplo do quadro de capacidade de processo é apresentado na Figura 14. 19 Figura 14 – Exemplo de quadro de capacidade do processo Este quadro determina fatores como o tempo de operações manuais e automáticas, setup (tempo necessário para trocar a máquina de uma composição para outra), intervalos de trocas, capacidade de cada operação por turno, além de um campo para observações, para anotações de situações observadas durante o turno. 4.2 Tabela de combinação do trabalho padronizado Segundo Léxico Lean (2007), este formulário mostra a combinação do tempo de trabalho de um operador manual, tempo de caminhada e tempo de processamento da máquina para cada operador em uma sequência de produção. Um exemplo da tabela de combinação pode ser observado na Figura 15. 20 Figura 15 – Tabela de combinação do trabalho padronizado Fonte: Léxico Lean, 2007. Esta ferramenta ajuda a identificar e entender quanto tempo é perdido com caminhadas ou ociosidades esperando máquinas e equipamentos processarem os produtos. Quanto completa, a tabela mostra as interações entre operadores e máquinas em um processo, permitindo recalcular o conteúdo de trabalho de um operador, conforme variações no tempo takt. 4.3 Diagrama de trabalho padronizado Este diagrama é conhecido como Job Element Sheets (JES), que são folhas de elementos de trabalho, representados em uma página, mostrando a movimentação do operador e a localização do material com relação a máquina e ao layout do processo total. Na Figura 16 é possível observar um exemplo desse diagrama. 21 Figura 16 – Exemplo de diagrama de trabalho padronizado Fonte: Léxico Lean, 2007. O diagrama precisa mostrar três elementos: tempo takt e tempo de ciclo; sequência de trabalho e quantidade de estoque padrão suficiente para garantir a suavidade das operações. Estes documentos são expostosnas estações de trabalho, servindo como uma ferramenta para o gerenciamento visual e para kaizen (Léxico Lean, 2007). Este diagrama pode ser combinado com o uso de Instruções de Trabalho, que são documentos que especificam detalhadamente como executar as atividades. 4.4 Vantagens do trabalho padronizado De acordo com Dennis (2008), o trabalho padronizado apresenta muitos benefícios, conforme descrito no Quadro 4. 22 Quadro 4 – Benefícios do trabalho padronizado Estabilidade de processos A estabilidade significa possibilidade de repetição dos processos. Pontos de início e parada claros para cada processo Esses elementos alinhados ao conhecimento do tempo takt, permite observar a condição de produção com facilidade. Mostrando as anomalias do processo. Aprendizagem organizacional O trabalho padronizado externaliza o conhecimento que está na cabeça das pessoas, para os formulários. Se um colaborador experiente sai da empresa, o conhecimento não é perdido. A solução de auditorias e de problemas O trabalho padronizado permite avaliar a situação atual e identificação de problemas. Pontos de verificação e etapas vitais do processo ficam fáceis de rastrear. Envolvimento dos colaboradores e poka yoke No sistema Lean, os colaboradores da equipe criam o trabalho padronizado, com apoio da equipe técnica. Além disso, ajudam a identificar oportunidades para verificação de erros, de forma simples e com baixo custo. Kaizen A maioria das atividades são desperdícios. Quando a estabilidade é alcançada, o processo está pronto para melhorar. O trabalho padronizado fornece a base contra a qual pode-se medir as melhorias. Treinamento O trabalho padronizado fornece a base para o treinamento dos colaboradores. Fonte: Elaborado com base em Dennis, 2008. O trabalho padronizado possui vários benefícios com a sua implementação, favorecendo a jornada lean nas empresas. TEMA 5 – KARAKURI Segundo Bhanu e Kumar (2018), o termo Karakuri remonta ao século XVII, onde referia-se a qualquer dispositivo que era usada para enganar, provocar ou surpreender uma pessoa. Este elemento de surpresa era assimilado nas marionetes que era proficiente em conseguir movimentos complexos para surpreender as pessoas para entretenimento. Estes bonecos mecânicos são conhecidos como Karakuri Ningyo no Japão. Os bonecos Karakuri são capazes de conseguir movimento e ação, foram vistos como sendo predecessores dos robôs. Um exemplo de boneco Karakuri pode ser observado na Figura 17. 23 Figura 17 – Boneca Karakuri que serve chá Crédito: Akkharat Jarusilawong/Shutterstock. Um dos Karakuris mais populares é o mecanismo zashiki Karakuri, que é um robô que serve chá, conforme a Figura 17. O movimento de avanço da boneca inicia com a introdução do peso da tigela nas mãos dela. Uma certa distância de viagem é alcançada movendo os seus pés ou uma roda oculta que é alimentada por uma mola enrolada. Quando a tigela é levantada da bandeja para beber o chá, a boneca para. Ao beber o chá e colocar a tigela vazia nas mãos da boneca, ela faz a volta e retorna à posição inicial. O conceito do Karakuri contribuiu para a modernização industrial do Japão (Rani et al., 2015). O Karakuri é um dispositivo capaz de lidar com movimentos e tarefas complexas com pouca ou nenhuma assistência exterior. Estes mecanismos têm sido inspirados para encontrar soluções inteligentes para ajudar os operadores no chão de fábrica facilitando movimentação e manuseio de materiais. Estes mecanismos são movidos por meio da gravidade, elasticidade e magnetismo (Bhanu; Kumar, 2018). 24 5.1 Integração do Karakuri com o Lean Manufacturing Muitas empresas buscam a eliminação de desperdícios como plano de sobrevivência, pois as automações estão cada vez mais complexas e seus custos mais elevados. Com isso, o Karakuri mostra-se uma ferramenta que pode ajudar na eliminação de desperdícios como espera, movimentação, processamento, transporte e até mesmo criatividade dos operadores, pois muitos Karakuris podem ser desenvolvidos por eles. O uso de Karakuris reduz os custos na implementação de kaizens, pois são dispositivos que utilizam contrapesos ou até mesmo gravidade para se movimentar, não necessitando de energia elétrica, ar comprimido ou dispositivos com alta complexidade. Alvex et al. (2018) cita um exemplo de Karakuri utilizado em um elevador de nível, na Figura 18, podemos observar o funcionamento da solução. Figura 18 – Karakuri elevador de nível Fonte: Alvex et al., 2018. Observa-se na Figura 18 que, conforme as caixas vão sendo colocadas no elevador, o peso vai abaixando, ficando sempre na altura adequada para o operador, evitando que com ele se abaixe e exerça flexão lombar para pegar a última caixa, ou mesmo levantando os braços acima dos ombros para pegar a primeira (Alvex et al., 2018). Bhanu e Kumar (2018) realizaram uma pesquisa para identificar o uso de Karakuri em empresas, onde um exemplo de aplicação são utilizados em flow racks para movimentação de caixas em uma estação de trabalho, conforme Figura 19. 25 Figura 19 – Exemplo de flow rack Karakuri Fonte: Bhanu; Kumar, 2018. Esse tipo de dispositivo realiza a movimentação de caixas em uma estação de trabalho. Com o peso das caixas, as articulações se movimentam sozinhas para alimentar peças ou retirar caixas vazias. FINALIZANDO Nesta aula, estudamos várias práticas enxutas que podem ser aplicadas nos processos de produção, o 5S pode ser visto como um programa que auxilia na organização e melhoria dos ambientes de trabalho, como a implementação dos cinco sensos. O tempo takt também foi abordado, juntamente com o balanceamento, pois são duas ferramentas que se combinam nas análises de capacidade de produção e configuração de postos de trabalho. Foi possível entender que o trabalho padronizado e suas ferramentas, auxiliam na melhoria das operações, por se tratar de uma técnica de padronização das atividades através do treinamento e documentação. E, para finalizar, abordamos o tema Karakuri, que é um conceito trazido da cultura 26 japonesa para a indústria, utilizando equipamentos que facilitam a operação e reduzem o consumo de energia. Todos esses temas nos ajudam a entender melhor os conceitos para adoção da Manufatura Enxuta em nosso dia a dia. 27 REFERÊNCIAS ABDULLAH, F. M. 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