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Autor: Prof. Maurício Felippe Manzalli Colaborador: Prof. Claudio Ditticio Finanças e Orçamentos Públicos Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Professor conteudista: Maurício Felippe Manzalli Economista pela Universidade Paulista – UNIP e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração e coordenador do curso de Ciências Econômicas, tanto na modalidade presencial quanto a distância. Tem experiência em administração e finanças, notadamente àquelas ligadas ao setor de transporte de passageiros, atuando há 29 anos no ramo. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M296f Manzalli, Maurício Felippe. Finanças e orçamentos públicos. / Maurício Felippe Manzalli. – São Paulo: Editora Sol, 2015. 136 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXI, n. 2-019/15, ISSN 1517-9230. 1. Finanças. 2. Orçamentos públicos. 3. Setor público. I. Título. CDU 336.1/.7 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Carla Moro Vitor Andrade Rose Castilho Marcilia Brito Cristina Z. Fraracio Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Sumário Finanças e Orçamentos Públicos APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 CONCEITOS DE FINANÇAS E ORÇAMENTOS ............................................................................................9 1.1 Tópicos importantes de finanças públicas ................................................................................. 12 1.1.1 Falhas de mercado .................................................................................................................................. 12 1.1.2 Funções do governo .............................................................................................................................. 23 1.2 Planejamentos e orçamentos .......................................................................................................... 28 1.2.1 Conceituação ............................................................................................................................................ 28 1.2.2 Planejamentos na iniciativa privada ............................................................................................... 30 2 PLANEJAMENTOS NO SETOR PÚBLICO ................................................................................................... 34 Unidade II 3 HISTÓRICO DO PLANEJAMENTO NO BRASIL ........................................................................................ 47 4 RECEITAS E DESPESAS DO SETOR PÚBLICO .......................................................................................... 65 4.1 Receitas públicas .................................................................................................................................. 66 4.1.1 Fixação ......................................................................................................................................................... 69 4.1.2 Recolhimentos ......................................................................................................................................... 72 4.2 Despesas públicas ................................................................................................................................. 73 4.2.1 Estágios da despesa ............................................................................................................................... 75 Unidade III 5 PLANO PLURIANUAL ...................................................................................................................................... 80 5.1 Elaboração: histórico de elaboração dos Planos – PPA ........................................................ 83 6 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS ..................................................................................................... 98 Unidade IV 7 ORÇAMENTO ANUAL....................................................................................................................................106 7.1 Princípios orçamentários ................................................................................................................113 7.2 Execução orçamentária e financeira ..........................................................................................119 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 8 DEMAIS ABORDAGENS ...............................................................................................................................121 8.1 Dívida pública ......................................................................................................................................122 8.1.1 NFSP em seu conceito operacional .............................................................................................. 123 8.1.2 NFSP em seu conceito nominal ..................................................................................................... 123 8.1.3 NFSP em seu conceito primário ..................................................................................................... 123 8.2 Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF ..........................................................................................124 7 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 APRESENTAÇÃO O livro-texto que ora apresentamos destina-se aos que estão iniciando seus estudos sobre finanças e orçamentos públicos. Procurando distanciar-se dos jargões muito específicos da área, mas não incorrendo na questão da simplicidade, apresentamos os principais conceitos, abordagens e desdobramentos da área para que se possa entender o mundo das finanças públicas. Trata-se também de material de apoio à disciplinaFinanças e Orçamentos Públicos. Como o objetivo é introduzir o conhecimento sobre as questões financeiras, nossa preocupação não é a de aprofundar demasiadamente cada assunto relacionado, mas apresentá-los de forma mais geral, ficando ao leitor a incumbência do aprofundamento, quando necessário. Note que o livro-texto está dividido em unidades, nas quais você encontrará: • Textos explicativos que elucidam a matéria. • Resumos do conteúdo estudado. • Exercícios comentados. • Tópicos para refletir, em que convidamos você a pensar sobre assuntos da atualidade. • A seção saiba mais, em que indicamos filmes e livros que, de alguma forma, complementam os temas investigados. Não deixe de explorar essas sugestões; garantimos que você ampliará seu conhecimento sobre os temas apresentados e que isso será extremamente útil, não apenas na questão específica da disciplina, mas na sua vida profissional. • Os Lembretes – anotações pontuais que remetem a alguma informação já conhecida –, e as Observações – apontamentos que chamam sua atenção para algum ponto destacado sobre o assunto em desenvolvimento – são recursos que reforçam algumas questões que quisemos salientar. • Exemplos de aplicação, em que você será convidado a refletir sobre um tema proposto. INTRODUÇÃO Inicialmente, abordaremos conceitos de finanças, planejamentos e orçamentos, mapeando o planejamento tanto na iniciativa privada quanto no setor público. Veremos a necessidade e importância de tais peças como instrumentos de gestão e controle na busca por eficiência administrativa. Em seguida avançaremos para a discussão no planejamento no Brasil a partir de uma perspectiva histórica e, na sequência, teremos contato com a teoria das receitas e despesas públicas como componente essencial para que o governo possa exercer o planejado. Pode-se verificar que há coerência entre as duas abordagens da unidade. O Plano Plurianual e a Lei de Diretrizes Orçamentárias também serão abordados. 8 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Por fim, trataremos do Orçamento Anual bem como dos princípios orçamentários que devem ser atendidos quando da elaboração e execução de qualquer orçamento público. Veremos uma breve abordagem acerca da execução orçamentária e financeira do setor público e também trataremos do assunto dívida pública, tão recorrente nas economias atuais, e da Lei de Responsabilidade Fiscal, que regulamenta todas as demais peças orçamentárias como instrumento de gestão e controle administrativos. 9 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS Unidade I 1 CONCEITOS DE FINANÇAS E ORÇAMENTOS Tratar de finanças e orçamentos é, antes de tudo, tratar de recursos monetários e de sua administração. É sabido que, do ponto de vista da Economia, os recursos monetários são limitados no tempo e representam a riqueza e suas mais diversas formas. Se pensarmos no agente econômico individual, a riqueza pode ser a soma de recursos acumulados no passado ou ainda aqueles herdados. Se pensarmos no horizonte de uma empresa, sua riqueza pode ser representada pelo capital social que os sócios ali integralizaram, as máquinas e equipamentos de que dispõe para bem poder exercer seu processo de produção etc. Podemos ainda pensar que a riqueza de uma empresa está representada pelos seus clientes, por sua marca, pelo know-how de seus funcionários, bens chamados de intangíveis. Imprescindível à formação da riqueza é o orçamento. De maneira bem simples, podemos entender que o orçamento seja um documento em que são registradas entradas e saídas de recursos financeiros. Pense em você: você faz seu orçamento? Coloca em um papel (ou em uma planilha eletrônica para sermos mais modernos) tudo aquilo que recebe durante determinado período e tudo o que gasta neste mesmo tempo? Qual a importância disso? Simplesmente para termos certeza de qual é a fonte de nossos recursos e de que forma que os alocamos em termos de gastos e investimentos. Exemplo de aplicação Você tem ideia de quanto de sua renda você gasta com a manutenção da vida – gastos rotineiros do dia a dia mais alguns esporádicos – e quanto da sua renda você guarda para acumulação de capital e consumo futuro? Represente isso numa planilha eletrônica simples, primeiramente a cada mês e, depois, veja o que representa anualmente. Pensemos agora na riqueza de uma nação: de que é composta? E as finanças de uma nação? Já parou para pensar? É disso que trataremos aqui: das finanças públicas e da forma como são administradas por orçamentos. Para uma primeira aproximação, podemos assumir que as finanças públicas nada mais são do que os recursos que o Estado arrecada junto à sociedade para, a partir da sua administração, devolvê-los ao povo na forma de benefícios e benfeitorias em todas as áreas que são de responsabilidade do Estado. Para tanto, há que se ter noção do quanto o Estado conseguirá arrecadar da sociedade e de que forma gastará esses recursos com a própria sociedade. É daí que decorre a importância do orçamento. Ter clareza sobre quais as origens de entradas de recursos e quais serão seus destinos em termos de gastos, sejam como despesas ou investimentos. 10 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I Tomando o Dicionário Houaiss (ORÇAMENTO, 2012), vê-se que o significado da palavra “orçamento” designa “cálculo da receita e da despesa; pormenorização da receita e da aplicação de recursos a serem disponibilizados para certa finalidade”. Por outro lado, se a palavra for aplicada ao setor público, o mesmo dicionário diz representar: [...] cálculo da receita a ser arrecadada em um exercício financeiro e das despesas a serem feitas pela administração pública, organizado pelo poder executivo e sujeito à aprovação das respectivas câmaras legislativas (ORÇAMENTO, 2012). Assim, é possível perceber que o tratamento tanto das finanças quanto do orçamento remete à noção de contabilidade. Neste ponto, Matias-Pereira (2012) chama a atenção para o fato de que se deve a John Maynard Keynes o ordenamento dos conceitos básicos da contabilidade aplicada às nações, fundamentando a contabilidade nacional como um novo entendimento dos mecanismos da determinação dos níveis de produção e emprego, envolvendo a importância da atividade governamental na compreensão dos eventuais declínios do consumo e investimentos privados, que acompanham e explicam os períodos de recessão. Utilizando o conceito de demanda efetiva, Keynes (1982) explica que uma sociedade somente prospera se a demanda por bens for crescente ao longo do tempo. Para tanto, a oferta de bens pelas empresas privadas deve responder aos anseios de consumo da sociedade, pois haverá maior procura por bens do que serão ofertados e a inflação poderia ser decorrente daí. Na ocorrência de insuficiência de demanda: [...] o governo deveria assumir um papel ativo de complementar os gastos privados, ou reduzindo impostos ou realizando investimentos, mesmo em obras aparentemente sem lógica imediata, como abrir e fechar buracos, enterrar dinheiro em minas abandonadas e oferecer concessões ao setor privado para exploração [...]. [...] a insuficiência da demanda que caracterizava as crises de desemprego decorria da escassez de novos investimentos [...], razão pela qual não bastava que o governo ampliasse a oferta de recursos para investimentos. Era preciso que houvesse um aumento simultâneo nos gastos em obras públicas. (MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 51). Do que foiapresentado, portanto, é possível perceber que a cargo do governo ficaria a política fiscal, aquela que remete ao orçamento do setor público, composto por receitas e despesas orçamentárias para a correção de possíveis desvios de demanda que a economia poderia apresentar. Então, o orçamento do governo deveria ser pensado em termos de equilíbrio entre as receitas e as despesas orçamentárias, motivo pelo qual chamamos a atenção para a contabilidade. 11 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS Observação A política fiscal compreende ações do governo relacionadas ao seu orçamento, o Orçamento do Setor Público. Ela definirá o quanto o governo irá arrecadar e o quanto poderá gastar. O Estado adquire receita via impostos, tributos e taxas pagas pelo contribuinte, no intuito de manter a ordem e os serviços providos pelo governo. A arrecadação governamental, chamada de receita do governo, é feita via produção, circulação e consumo de mercadorias, além de movimentações financeiras, renda, entre outros. Entre os principais geradores de renda do governo, e de forma genérica, estão: • Receitas provenientes da produção e circulação de mercadorias. São exemplos o imposto sobre produtos industrializados – IPI – e o imposto sobre circulação de mercadorias e serviços − ICMS. • Receitas provenientes da geração e apropriação da renda a exemplo do imposto de renda – IR. • Receitas provenientes da propriedade, da acumulação de capital e das relações internacionais em que podemos ilustrar o imposto predial e territorial urbano – IPTU –, o imposto sobre herança – IH –, o Imposto sobre Operações Financeiras – IOF – e o Imposto sobre Importações – II. O governo realiza os gastos no intuito de suprir as necessidades da população não preenchidas pela iniciativa privada. Entre os gastos estão: • máquina do governo, a exemplo de manutenção dos serviços básicos e administrativos; • investimentos, dentre eles a construção de escolas, hospitais e rodovias; • transferência de renda representados pelos programas que visam a auxiliar monetariamente a população de baixa renda. Uma política fiscal será expansionista quando o governo aumenta seus gastos ou mesmo quando diminui a carga tributária sobre a sociedade; ou seja, quando repassa maior volume de recursos monetários para a sociedade por meio de seus gastos ou quando deixa a sociedade com maior volume de dinheiro, diminuindo sua arrecadação. Quando o governo adota uma política fiscal expansionista, alguns efeitos na economia são gerados, a exemplo de: • descontrole das contas públicas, pois os gastos podem ser, em algum momento, superiores às receitas e, desta forma, o governo não consegue formar poupança; 12 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I • aumento da inflação, uma vez que haverá maior volume de dinheiro em circulação, aumentado o consumo e os preços dos produtos; • redução na credibilidade externa devido descontrole orçamentário; • redução dos investimentos empresariais, pois o governo assume a liderança de aumentar a demanda agregada via gastos governamentais e produção; • redução do desemprego por ativar a atividade econômica. E no caso de uma política fiscal contracionista? As consequências, dentre outras, serão: • equilíbrio nas contas do governo ou o que podemos chamar de superavit orçamentário; • aumento da credibilidade no exterior devido austeridade; • elevação dos níveis de investimento estrangeiros, pois o país transmite maior segurança administrativa; • diminuição das transferências governamentais com relação à sociedade. 1.1 Tópicos importantes de finanças públicas É fato que os governos existem na vida das pessoas, gostemos ou não. Independentemente da posição política adotada por um governante, ela poderá alegrar a sociedade de um determinado país ou desagradar por completo. Tal fato deve-se claramente ao tipo de atitude política escolhida e, para efeito deste estudo, consideraremos as opções pela política econômica adotada em determinado tempo. Uma política econômica mais desenvolvimentista tende a agradar boa parte da população, principalmente aos empresários, pois novas oportunidades de investimento são avistadas, favorecendo camadas das classes mais baixas da população com novas oportunidades de emprego, inclusive. Por outro lado, uma política econômica mais austera, aquela em que a opção governamental é por política contracionista, não é de todo agradável quando se espera crescimento de renda no curto prazo e elevação dos empregos e gastos públicos. O fato é que a opção pela política econômica dá-se de acordo com as circunstâncias que se apresentam ao governante ou simplesmente permeiam sua formação e opção política. 1.1.1 Falhas de mercado Deixando de lado questões normativas das políticas públicas bem como da presença do governo nas economias modernas, o fato é que devemos considerar elementos racionais que fundamentam a presença dos governos nas sociedades. Giambiagi e Além (2008) chamam a atenção para a existência de falhas de mercado que impedem a situação de Ótimo de Pareto. 13 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS Saiba mais O Ótimo de Pareto, proposição devida ao engenheiro e economista franco-italiano Vilfredo Frederico Damaso Pareto, versa que em determinada situação em que se encontrem dois agentes, para que um ganhe, necessariamente, o outro deve perder. Leia mais em: A LEI da eficiência de Pareto. Econometrix. Fortaleza, 2012. Disponível em: <http://www.econometrix.com.br/pdf/a-lei-da-eficiencia-de-pareto. pdf>. Acesso em: 7 abr. 2015. As falhas de mercado abordadas por Giambiagi e Além (2008) são: existência de bens públicos, existência de monopólios naturais, externalidades, mercados incompletos, falhas de informação e, por último, mas não menos importante, a ocorrência de desemprego e inflação. Riani (2012, p. 12-13) sumariza da seguinte forma: No mundo real existem quatro características principais que dificultariam, ou até mesmo impossibilitariam a obtenção ótima através do setor privado. Assim, o governo emerge como um elemento capaz de intervir na alocação de recursos, que atua paralelamente ao setor privado, procurando estabelecer a produção ótima dos bens e serviços que satisfaçam às necessidades da sociedade. As quatro características que podem ser consideradas como falhas de mecanismos de mercado em atender às necessidades da sociedade são: indivisibilidade do produto; externalidades; custo de produção decrescente e mercados imperfeitos; riscos e incertezas na oferta dos bens. Vejamos, a partir de Giambiagi e Além (2008) e Riani (2012), a importância de cada uma das falhas de mercado que fazem necessária a interferência do governo nos mercados. Existência de bens públicos Os bens públicos são aqueles cujo consumo e uso são indivisíveis ou não rivais. Significa que o consumo do bem por parte de um indivíduo não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais integrantes da sociedade. Parte-se do princípio de que, havendo a existência do bem público, todos se beneficiam de sua existência, independente se uns mais e outros menos. Outra característica importante do bem público é a da não exclusão no consumo. Para poder exemplificar, pense no caso de uma cidade em que as ruas ainda não estejam todas pavimentadas, algumas são de terra e outras de asfalto. O governo dessa cidade decide asfaltar todas as ruas ainda não asfaltadas.Assim, todas as pessoas que utilizam essas ruas, sejam moradoras ou não, serão beneficiadas da atitude governamental. 14 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I As ruas estão asfaltadas e a população sendo beneficiada do investimento público, mas como custear este investimento entre a população? Quem deverá pagar mais ou menos pelo uso das ruas asfaltadas? Somente as pessoas que residem naquela rua? Contando a quantidade de vezes que um indivíduo e seu automóvel utilizam a rua em um determinado período? A nós parece difícil poder ratear o custo desse bem entre os beneficiados. Conforme Riani (2012, p. 13): [...] os bens indivisíveis são aqueles cujos benefícios não podem ser individualizados, tornando ineficaz o estabelecimento dos preços via sistema de mercado [...]. A não exclusividade deve-se ao fato de que, como esses bens não seriam vendidos através do sistema de mercado, via preços, a eles não se aplica o direito de propriedade. Sobre o assunto, Riani (2012) chama a atenção para o fato de que um tipo de oferta pública como esta – a pavimentação de uma cidade – não faz sentido em termos de investimentos privados, mas apenas nos públicos, se se pensar na viabilidade econômica do projeto. É sabido que qualquer tipo de investimento, seja público ou privado, almeja algum tipo de retorno. Se pensarmos nos investimentos privados, o retorno do investimento se dá na forma de lucros que serão acumulados num primeiro momento para depois serem reinvestidos ou alocados em alguma outra atividade também na forma de investimentos. Quanto aos investimentos públicos, estes também são efetuados visando ao retorno no futuro, só que não necessariamente na forma de lucros monetários que serão acumulados. O retorno almejado é o social: a melhoria das condições sociais em suas diferentes fontes e formas. Giambiagi e Além (2008) reforçam ser justamente o princípio da não exclusão no consumo dos bens públicos o que torna a solução de mercado, em geral, ineficiente para garantir a produção da quantidade adequada de bens públicos requerida pela sociedade. Assim, é por essa razão que a responsabilidade pela provisão de bens públicos recai sobre o governo, que financia a produção desses bens por meio da cobrança compulsória de impostos. Observação Você até pode pensar que a pavimentação de nosso exemplo seja efetuada por uma empresa privada, especializada nesse tipo de serviço. Na maior parte das vezes é assim mesmo que ocorre. Contudo, quem contrata a empresa privada é o próprio governo e, portanto, é ele quem financia a obra. Ou seja, o gasto é público. Existência de monopólios naturais O mercado de monopólio apresenta condições diametralmente opostas às da concorrência perfeita. Nele, existe, de um lado, um único empresário dominando inteiramente a oferta e, de outro, todos os consumidores. Não há, portanto, concorrência nem produto substituto: ou os consumidores se submetem às condições impostas pelo vendedor ou simplesmente deixarão de consumir o bem ou serviço. O fornecimento de energia elétrica nas cidades é um exemplo de empresa em monopólio. 15 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS Figura 1 – O setor de energia elétrica representa monopólio Para existirem monopólios, deve haver barreiras que impeçam a entrada de novas firmas no mercado. Essas barreiras podem advir de diversas formas, sendo o monopólio puro (ou natural) uma delas. Este caso ocorre quando o mercado, por suas próprias características, exige a instalação de grandes plantas industriais que operam normalmente com economias de escala e custos unitários bastante baixos, possibilitando à empresa cobrar preços baixos por bem ou serviço, o que acaba praticamente inviabilizando a entrada de novos concorrentes. Podemos elencar ainda como barreiras: • elevado volume de capital requerido para montar uma indústria monopolista; • as marcas e patentes; • o controle de matéria-prima específica; • as instituições. A legislação brasileira proíbe a existência de monopólio, permitido apenas para aqueles segmentos de mercado onde, para o perfeito funcionamento, deveria existir apenas uma empresa. São os chamados monopólios institucionais ou estatais considerados estratégicos ou de segurança nacional, como a energia elétrica e o petróleo. No Brasil, com a privatização dos serviços de utilidade pública – telecomunicações e energia elétrica −, o governo criou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), com o intuito de regular as atividades desses setores, por natureza pouco competitivos e que prestam um serviço essencial à população. Também com a função de regular o mercado há diversos órgãos do governo, como o Cade e a Secretaria de Direito Econômico (REZENDE, 2012, p. 29). 16 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I Externalidades As externalidades implicam custos e benefícios sociais diferentes dos custos e dos benefícios privados. Enquanto os custos e benefícios privados são medidos em termos de preço – quanto custou para fabricar; quanto custou para adquirir −, os custos e benefícios sociais são diferentes. Por qual motivo? Porque estamos tratando de um assunto que analisa os impactos causados em um agente alheio àquele tomador da decisão individual. Exemplifiquemos: pense em um empreendedor que monte uma casa noturna na rua em que você reside. A legislação permite casas comerciais no local, e o empreendedor montou uma casa noturna em que o som ao vivo seja o chamariz da freguesia. O volume e a qualidade do som podem agradar quem frequenta o local por uma questão de diversão; entretanto, a casa pode desagradar por diversos motivos: você não aprecia a música que ali é tocada, o volume do som incomoda ou há maior quantidade de carros estacionados na rua, impedindo que algum parente que venha lhe visitar deixe seu automóvel em frente ao portão de sua casa. Logo, elencamos aqui efeitos negativos causados pela nova casa noturna, o que chamamos de externalidade negativa. Ela ocorre quando algum agente toma determinada decisão que lhe favorece – no caso o empreendedor – e que retire o bem-estar de outro agente – no caso, você. Por outro lado, há as externalidades positivas. Imagine que seu vizinho de frente contrate um segurança particular e instale uma guarita defronte à casa dele. Esse segurança cuidará da vigilância da casa de quem o contratou, o que, por consequência, trará mais segurança aos demais moradores daquela rua, pois, caso ele perceba algo de diferente na rua, tratará de avisar aos demais moradores do local. Vemos aqui então a ocorrência de externalidade positiva. Para Giambiagi e Além (2008, p. 7), [...] a existência de externalidade justifica a intervenção do Estado, que pode ser através: a) da produção direta ou da concessão de subsídios, para gerar externalidades positivas; b) de multas ou impostos, para desestimular externalidades negativas e c) da regulamentação. Leitura obrigatória Flávio Riani, em Economia do Setor Público: Uma Abordagem Introdutória, no capítulo 1, expande a discussão das externalidades explicando os efeitos da produção sobre o consumo, efeitos da produção sobre a produção bem como os efeitos externos do consumo. As análises com gráficos que o autor efetua são bem ilustrativas. RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. Disponível em: <http://online.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-216-2331-1>. Acesso em: 7 abr. 2015. Mercados incompletos Uma das principais características dos mercados incompletos é aquela em que o setor privado não está totalmente à vontade quanto à oferta de um bem ou serviço. O que o faz não estar totalmente 17 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS à vontade? Segurança quanto ao futuro e ao retorno do investimento efetuado. É o que Riani (2012) chama de riscos e incertezas na oferta dos bens. Diz ainda que: A falta de conhecimento perfeito por parte dos vendedores e dos compradores relacionado com os riscos de mercado, a falta de perfeita mobilidade dos recursos, a incerteza quanto à maximização dos lucros por parte das firmas e a escassez de determinados recursos produtivos, particularmente os recursos naturais, são características do mundo real que mostram a inviabilidade do atendimento de alguns dos pressupostos requeridos para se atingir a produção ótima de todos os bens econômicos necessários e desejados pela sociedade (RIANI, 2012, p. 19). Existem determinadas atividades que são indispensáveis ao desenvolvimento do país ou ao bem-estar da sociedade, mas que, pelas razões apresentadas, não seriam oferecidas no mercado se não houvesse a intervenção do governo. Relativo a esse aspecto, Giambiagi a Além (2008) citam o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES – como principal órgão brasileiro de financiamento de longo prazo para investimentos em todos os segmentos da economia. Investimentos produtivos na agricultura, na indústria ou no comércio e para todo tamanho de empresa podem requerer elevado volume de recursos nos investimentos iniciais e, muitas vezes, a iniciativa privada (os bancos privados) fica receosa em efetuar os empréstimos, pois não se sabe se o tomador terá condições de honrar com a devolução dos recursos. Dessa forma, procurando mitigar o risco de uma possível inadimplência, os bancos privados elevam as taxas de juros de empréstimos dificultando os investimentos privados. É nesse âmbito que o BNDES entra como empresa pública federal: oferecendo empréstimos por vezes subsidiados pelo governo, fomentando os investimentos produtivos e ativando a economia. Saiba mais Conheça mais sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social acessando a página no banco: <http://www.bndes.gov.br> A falta de conhecimento perfeito por parte dos vendedores e dos compradores relacionada com os riscos do mercado, a falta da perfeita mobilidade dos recursos, a incerteza quanto à maximização dos lucros por parte das firmas e a escassez de determinados recursos produtivos, particularmente os naturais, são características do mundo real que mostram a inviabilidade do atendimento de alguns dos pressupostos requeridos para se atingir a produção ótima de todos os bens econômicos necessários e desejados pela sociedade. Nesse ponto reside outra falha de mercado: a falha de informação. Falhas de informação Nos casos de falhas de informação, a intervenção do Estado justifica-se em razão de o mercado por si só não fornecer dados suficientes para que os consumidores tomem suas decisões racionalmente. 18 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I Como exemplo, considere o mercado de automóveis usados. Pense na seguinte situação: você está interessado em adquirir um automóvel usado e encontra no jornal um anúncio do automóvel que procura. Liga para o anunciante para verificar preços, condições, quilometragem percorrida etc. Quem dos dois agentes tem mais informações sobre o automóvel? Você ou a pessoa que pretende vendê-lo? Será que o vendedor lhe oferecerá todas as informações necessárias, e reais, para que você possa tomar a decisão pela compra ou não? Caso o automóvel tenha estado imerso em alguma enchente, o vendedor falará para você? Estamos chamando sua atenção para o fato de que, em determinados mercados, alguns têm mais informações do que outros, o que Rezende (2012) chama de assimetria de informações. Para esses casos, a forma de atuação do Estado pode ser mediante introdução de uma legislação que induza a uma maior transparência e maior proteção tanto para vendedores quanto para consumidores, por exemplo, o Código de Defesa do Consumidor − CDC. Desemprego e inflação O desemprego e a inflação, apesar de serem fenômenos completamente diferentes, sendo o primeiro considerado pela Economia uma variável do mercado real e o segundo uma variável nominal proveniente do mercado monetário, caminham conjuntamente. Comecemos, então, pela inflação. Inflação O que vem a ser inflação? Caracteriza-se pelo generalizado e persistente crescimento nos níveis de preços, ou seja, ocorre inflação num período em que um elevado volume de mercadorias tem seu preço majorado sequencialmente, de forma que dia a dia, mês a mês, os preços subam sem que, necessariamente, seus custos de produção também tenham apresentado elevação. Assim, quando há inflação torna-se necessária uma maior quantidade de moeda para adquirir as mesmas mercadorias. Resultado: perda do poder aquisitivo da moeda, que pode, com isso, causar sérios distúrbios à economia e à sociedade de forma geral (SILVA; LUIZ, 2010). Em períodos de inflação elevada, a moeda deixa de desempenhar uma de suas principais funções, que é a de preservar valor ao longo do tempo. Em período de inflação elevada, como viveu a sociedade brasileira em boa parte dos anos 1970 e 1980, a moeda perde seu valor na medida em que é recebida! Suponha uma pessoa que receba hoje seu salário, digamos de R$1.500,00, e que o índice de inflação no mês corrente, medido pelos mais diversos índices disponíveis, esteja em torno de 40% ao mês. Se essa pessoa deixar a quantia guardada e for usar tal recurso daqui a trinta dias, os R$1.500,00 representarão poder de compra de exatamente R$900,00. Receber um valor hoje dentro de um período inflacionário e não utilizar esse recurso o mais rápido possível faz com que haja a perda de seu valor. Em nosso exemplo hipotético, uma perda de R$600,00. Significa que os preços das mercadorias ficaram 40% mais elevados e a quantidade de moeda disponível não será mais capaz de adquirir a mesma quantidade de mercadoria que era adquirida anteriormente. Quem sofre? Na maior parte das vezes, e como salienta Mankiw (2010), a população de baixa renda. Precisamos, então, entender como é produzida a inflação, ou seja, por que existe e quais suas causas. Basicamente, são três os tipos de inflação, sendo um deles o de demanda. Vejamos o que diz Mankiw (2010, p. 636): 19 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS Vamos supor que observamos, ao longo de um determinado período de tempo, o preço de um sorvete de casquinha aumentar de 5 cents para um dólar. Que conclusão poderíamos tirar do fato de que as pessoas estão dispostas a dar muito mais dinheiro em troca de um sorvete? É possível que as pessoas estejam gostando mais de sorvete (talvez porque algum químico tenha desenvolvido um novo e maravilhoso sabor). Mas, provavelmente, não é esse o caso. O mais provável é que as pessoas continuem apreciando o sorvete da mesma forma e que, com o passar do tempo, a moeda usada para comprá-lo tenha se tornado menos valiosa. De fato, o primeiro entendimento sobre a inflação é de que ela tem mais a ver com o valor da moeda do que com o valor dos bens. Portanto, o que determina o valor da moeda é a relação entre sua demanda e suaoferta. Por exemplo, observe como é determinado o preço do tomate nos mais variados mercados. Se há mais tomate sendo ofertado, o preço será relativamente baixo, caso exista uma pequena quantidade disponível, seu preço tende a ser relativamente mais elevado. Figura 2 – Moeda e inflação Voltando à inflação, conforme Samuelson (1979), a inflação de demanda, ou de consumo, é causada pelo crescimento do volume de moeda disponível ao público, não necessariamente acompanhado pelo crescimento da produção. Como para a demanda se concretizar é necessária a existência de moeda, a inflação de demanda pode ser entendida como excesso de moeda em circulação, ou seja, quando há expansão de liquidez. Nesse caso, os preços tendem a aumentar devido à grande quantidade de dinheiro em circulação, influenciando o consumo por parte da população. Por sua vez, os empresários, diante de elevado consumo e percebendo que há grande quantidade de moeda em poder do público, elevam os preços no afã de que a venda será certa. Ribeiro (1990) explica que uma das características da inflação de demanda é que ela ocorre em períodos de expansão da economia, a exemplo do experimentado pelo milagre econômico brasileiro, no qual o governo investiu fortemente na industrialização do País, elevando os níveis de produção e superando períodos anteriores. Tais medidas diminuíram o desemprego, expandindo renda e consumo. 20 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I Outro tipo de inflação é o de oferta, explicado pelas condições de oferta de produtos, pelo comportamento de seus custos de produção ou mesmo pela disponibilidade de fatores de produção utilizados como bens intermediários. A inflação de oferta ocorre quando os custos de produção aumentam, ou seja, quando se paga mais para produzir determinados bens ou ofertar determinados serviços. Assim, pode ocorrer inflação de oferta diante de: • diminuição da oferta de um fator de produção; • elevação nos preços dos fatores de produção; • elevação nos custos da produção derivado de elevação de tributação; • elevação nos salários pagos pelas empresas, caso sejam reajustados acima da correção monetária do período ou por convenção coletiva e sindical; • monopolização de determinado setor, diminuindo as possibilidades de concorrência; • demais ocorrências que representem estreita relação entre custos de produção de um bem e seu preço. Resumindo, para Silva e Luiz (2010, p. 116): [...] a inflação de custos tem origem na oferta de bens e serviços. É causada pela elevação dos custos de produção, repassados para o consumidor pelo aumento do preço do produto. Um fator agravante é o controle do mercado (monopólio ou oligopólio), que permite aos empresários obterem lucros extraordinários pelo aumento dos preços dos seus produtos, pois não há perigo de concorrência. O outro tipo de inflação, a inercial, difere das outras, pois há tendência à perpetuidade. Significa que a inflação de um período é automaticamente repassada para o período que se segue. De que forma? Pela indexação, que consiste em reajustar pagamentos, ou valores futuros, pela inflação do presente. Observe o exemplo muito bem desenvolvido por Silva e Luiz (2010, p. 116-117): Imaginemos que o Sr. Alberto tome emprestado R$ 100.000,00 de seu amigo, Sr. Carlos, e prometa pagar-lhe em dois meses. Nesse período, supondo uma economia inflacionária com taxas mensais de 10%, teremos uma inflação acumulada de 21% nos dois meses que correspondem ao prazo do empréstimo. Pontualmente, no final do período, o Sr. Alberto entrega ao amigo os R$ 100.000,00 que havia tomado emprestado. Resultado, o Sr. Carlos foi prejudicado, pois os R$ 100.000,00 que recebeu do amigo valem menos do que os R$ 100.000,00 que ele havia emprestado dois meses antes. Por sua vez, o Sr. Alberto saiu ganhando, pois pagou apenas R$ 100.000,00 quando deveria ter pago, pelo menos R$ 121.000,00. [...]. Se o Sr. Alberto e o 21 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS Sr. Carlos tivessem combinado, na ocasião do empréstimo, que o montante emprestado seria corrigido pela inflação, o Sr. Carlos receberia R$ 121.000,00 e não se sentiria lesado pelo favor que prestou ao amigo. Em função disso, ou seja, para não haver distorções entre ganhadores e perdedores, os contratos de trabalho, os de aluguel, os preços de mercadorias e os valores de outras transações são protegidas, pelo uso da indexação, de corrosão monetária. Uma observação a ser feita acerca da inflação inercial é que ela tende a se manter em determinado patamar por um determinado período, depois volta a crescer e, finalmente, estabiliza-se em um novo nível por algum tempo. Esse processo ocorre porque as correções dos preços satisfazem os agentes por um período, ou seja, essas correções elevam a participação dos agentes na renda. Saiba mais Para que você possa compreender melhor o processo inflacionário no Brasil, sugerimos a leitura de alguns textos complementares. Sobre o Plano Cruzado, leia: PEREIRA, L. C. Inflação inercial e Plano Cruzado. Revista de Economia Política, v. 6, n. 3, jul./set. 1986. Disponível em: <http://www.rep.org.br/pdf/23-2.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2011. Sobre o Plano Collor, leia: PEREIRA, L. C.; NAKANO, Y. Hiperinflação e estabilização no Brasil: o primeiro Plano Collor. Revista de Economia Política, v. 11, n. 4 (44), out./dez. 1991. Disponível em: <http://www.rep.org. br/pdf/44-6.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2011. Sobre o Plano Real, sugerimos a leitura: PEREIRA, L. C. A economia e a política do Plano Real. Revista de Economia Política, v. 14, n. 4 (56). Disponível em: <http://www.rep.org.br/pdf/56-10.pdf>. Acesso em: 23 de mar. 2011. Desemprego Vamos entender por qual motivo o desemprego se apresenta como um problema na economia e por que precisa ser objeto de análise por parte do governo. Pense que, num determinado momento, uma empresa do ramo farmacêutico não esteja muito bem em suas finanças. A empresa é de grande porte, tem aproximadamente duzentos e cinquenta funcionários diretos e, para ajustar sua estrutura de custos, anuncia uma política de demissão envolvendo oitenta funcionários. Oitenta pessoas perderão seus empregos e, dessa forma, deixarão de ter renda. Se deixarão de ter renda, como conseguirão atender suas necessidades de consumo? 22 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I Imagine que essas oitenta pessoas sejam chefes de família e essas famílias sejam compostas por quatro membros: pai, mãe e dois filhos. Esse chefe de família, agora desempregado, não tem mais condições de pagar o estudo particular dos filhos, que ainda são menores de idade. Dessa forma, os filhos passarão a depender do ensino público. A família também possuía convênio médico (seguro saúde), que também deixará de ser pago em função da falta da renda. Caso algum membro dessa família venha a necessitar de cuidados médicos, dependerá também do serviço público. Menos roupas serão adquiridas, as idas ao cinema serão cortadas, assim como os refrigerantes e o sorvete no final de semana. Quem foi afetado com a demissão feita pela indústria farmacêutica? • os funcionários, com a perda do emprego; • os membros da família dos funcionários que perderam o emprego; • a escola dos filhos dos funcionários que perderam o emprego, pois deixarão de receber as mensalidades, e poderá vir a ter dificuldades em manter sua estrutura de custos; • a empresa que administravao convênio médico dessa família, que pode vir a ter dificuldades em remunerar os médicos conveniados; • o governo, duplamente: primeiro, pela perda de arrecadação com impostos em função da queda de consumo; segundo, pelo aumento das despesas tanto na rede pública de ensino quanto no Sistema Único de Saúde, pois aumentarão os atendimentos; • a empresa de exibição de filmes nos cinemas, já que algumas famílias cortarão esse tipo de lazer; • a empresa que produz refrigerantes bem como o mercadinho da esquina que os vende; • o sorveteiro e a indústria que produz sorvetes. Vamos adiante. As escolas que deixarão de receber mensalidades também têm funcionários, e se o número de alunos diminuir, o número de professores também diminuirá, bem como o de assistentes e demais trabalhadores que, por sua vez, também perderão renda. A empresa que administra convênio médico incorrerá no mesmo problema: mais pessoas sem renda. Nesse ponto, você já é capaz de pensar o que acontecerá com os demais setores da economia. Numa situação como a descrita, algo deve ser feito para que a atividade econômica volte a ser operante e os empregos sejam retomados. É nesse contexto que a atuação do governo se faz presente. Para Giambiagi e Além (2008, p. 8): [...] o livre funcionamento do sistema de mercado não soluciona problemas como a existência de altos níveis de desemprego e inflação. Nesse caso, há espaço para a ação do Estado no sentido de implementar políticas que visem à manutenção do funcionamento do sistema econômico o mais próximo possível do pleno emprego e da estabilidade de preços. 23 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS Até aqui destacamos as razões pelas quais o governo, por meio dos diversos instrumentos de políticas à sua disposição, surge como alternativa para a intervenção na alocação de recursos da economia a fim de contribuir para que a sociedade alcance o maior nível de bem-estar possível. A exposição que se segue procura destacar as funções que poderão ser desenvolvidas pelo governo, visando corrigir ou minimizar as falhas ocorridas no sistema de mercado e buscando atender às demandas que compõem o conjunto de bens e serviços da sociedade. É aqui, portanto, que trataremos das finanças públicas. Conforme Nascimento (2014, p. 79), [...] a expressão “finanças públicas” designa os métodos, princípios e processos financeiros por meio dos quais os governos federal, estadual e municipal desempenham suas funções. Por intermédio do orçamento público, os governos perseguem os objetivos de satisfazer às necessidades sociais, de induzir a uma eficiente utilização dos recursos e de corrigir a distribuição de renda em uma sociedade. [...]. As receitas e as despesas do Estado podem ser utilizadas como instrumento para influenciar o nível da produção nacional e do emprego, de forma a controlar o padrão dos preços (controle da inflação), buscar o equilíbrio da balança de pagamentos e para redirecionar as decisões de consumo e investimento dos agentes privados. 1.1.2 Funções do governo É consenso entre os autores Nascimento (2014), Giacomoni (2012), Giambiagi e Além (2008), Riani (2012) e Matias-Pereira (2012) que se deve a Richard Musgrave a definição do que sejam as funções do governo. Segundo Giacomoni (2012, p. 22): Richard Musgrave propôs uma classificação das funções econômicas do Estado, que se tornaram clássicas no gênero. Denominadas as “funções fiscais”, o autor as considera também como as próprias “funções do orçamento”, principal instrumento de ação estatal na economia. São três as funções: a) promover ajustamentos na alocação de recursos (função alocativa); b) promover ajustamentos na distribuição de renda (função distributiva); e c) manter a estabilidade econômica (função estabilizadora). Vejamos então as três funções básicas, conforme anteriormente identificadas. Função alocativa Designa a alocação de recursos pela atividade estatal quando não houver eficiência da iniciativa privada ou quando a natureza da atividade indicar a necessidade da presença do Estado. A intervenção estatal na alocação de recursos justifica-se naqueles casos que não são de interesse do setor privado. É o processo pelo qual o governo divide os recursos para utilização no setor público e privado, oferecendo bens públicos, semipúblicos e meritórios, como rodovias, segurança, educação, saúde aos cidadãos. Dessa forma, está associada ao fornecimento de bens e serviços não oferecidos adequadamente pelo 24 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I sistema de mercado (NASCIMENTO, 2014). Assim, cabe ao governo decidir pelo tipo e quantidade de bens públicos que ofertará, ou seja, a qual(is) tipo(s) de necessidade(s) atenderá(ão). Conforme Riani (2012), para assegurar uma alocação mais eficiente dos recursos, o governo não precisa produzir ou gerar diretamente o bem ou o serviço. Ele poderá fazê-lo ou induzir a oferta pelo setor privado. Nesse aspecto, existem quatro possibilidades de atuação do governo: • alocação por parte do governo de recursos diretos para a produção e, portanto, a oferta dos bens, de que são exemplos a defesa nacional e seus serviços de segurança pública; • compras governamentais em que o governo adquire a produção efetuada por outras empresas e repassa os bens à sociedade, de que são exemplos medicamentos, merenda escolar ou mesmo campanha de vacinação; • indução do setor privado ao aumento da produção via subsídios ou incentivos fiscais, favorecendo a produção e provocando queda de preços de venda, beneficiando determinada população; • empresas estatais em que o governo chama para ele a responsabilidade da produção de algum bem ou serviço que não seja oferecido pela iniciativa privada. Função distributiva Nem sempre toda a riqueza que é gerada em um país é distribuída de forma igualitária entre seus pertencentes, o que, por vezes, gera a chamada desigualdade social. Riani (2012, p. 22) esclarece que: [...] fatores tais como oportunidade educacional, mobilidade social, habilidade individual, mercado de trabalho, propriedades dos fatores de produção, etc. levam, dentro de uma economia de livre mercado, a desigualdades na apropriação da renda e da riqueza gerada pelo sistema econômico. [...]. O mercado funcionando livremente sem a interferência do governo não se preocupará com a concentração de renda e da riqueza uma vez que as atividades econômicas alcancem seus objetivos, atingindo frações segmentadas da sociedade detentoras de recursos para suas compras. Assim, a possibilidade espontânea da desconcentração da renda torna-se ilusória. Diante do exposto, vê-se que cabe ao Estado promover a melhoria na distribuição da renda por intermédio do gasto público como principal instrumento de política pública. Tal afirmação apoia-se em Nascimento (2014, p. 80), para quem a “função distributiva refere-se à distribuição, por parte do governo, de rendas e riquezas”. Por outro lado, Rezende (2012) e Giambiagi e Além (2008) destacam que, além dos gastos governamentais a exemplo de transferências, a tributação progressiva aliada aos subsídios auxilia o processo de distribuição do produto. Enquanto os programas de transferência apresentam-se de forma direta quanto à redistribuição, a tributação progressiva oferece condições de o governo arrecadar recursos das camadas mais abastadas da sociedade e utilizá-los como forma de financiamento de programas voltados para a parcela da população de mais baixa renda. Aqui, a forma de 25 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar cilia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS redistribuição seria por melhoria dos atendimentos públicos nos sistemas de saúde ou mesmo utilizados para financiamento da construção de moradias populares. Giacomoni (2012, p. 25) complementa que por mais que as políticas distributivas estejam inseridas no ambiente de correção de falhas de mercado, acabam por vezes sendo encaradas como “problemas de política e de filosofia social”, pois cabe à sociedade avaliar o que vem a ser justiça distributiva. Logo, a distribuição de renda é uma questão de orçamento público. Educação gratuita, capacitação profissional e programas de desenvolvimento comunitário são também exemplos de política pública com efeito distributivo. Saiba mais Conheça mais sobre os programas de distribuição de renda no Brasil e seus efeitos na economia. Para tanto, leia o texto Políticas de Distribuição de Renda no Brasil e o Bolsa- Família, escrito por André Portela Souza. SOUZA, A. P. Políticas de distribuição de renda no Brasil e o Bolsa-Família. FGV − EESP. São Paulo, 1 maio 2011. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/9995/ TD%20281%20-%20C-Micro%2001%20-%20Andr%C3%A9%20Portela. pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 29 dez. 2014. Função estabilizadora A função estabilizadora está estreitamente ligada ao desemprego e à inflação enquanto falhas de mercado, pois, de forma abrangente, visa assegurar um desejável nível de emprego e estabilidade nos preços que não são totalmente controlados pelo sistema de livre mercado. Conforme Riani (2012, p. 22): [...] quando o desemprego prevalece, o governo aumenta o nível de demanda no mercado, elevando seus gastos ou diminuindo seus tributos, recolocando a produção no pleno emprego. Por outro lado, se há inflação, o governo pode reduzir a demanda de mercado, ajustando seus gastos e/ou a carga tributária, o que contribui para a diminuição e controle de preços. Do ponto de vista da política fiscal, o governo pode corrigir o desemprego enquanto falha de mercado pela elevação dos gastos públicos aumentando a quantidade de dinheiro no sistema econômico, o que incentiva a sociedade a elevar o consumo e as empresas a aumentarem seus níveis de produção. Dessa forma, com maior produção, as empresas passam a contratar maior quantidade de pessoas, o que expande a renda. O mesmo efeito será gerado se a opção for pelo uso da diminuição de tributação. Entretanto, com a expansão da demanda, os preços sobem, ocasionando inflação. Assim, paralelamente, o governo pode utilizar demais instrumentos para manter a estabilidade de preços. 26 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I Para Giacomoni (2012, p. 26): [...] o orçamento público é um importante instrumento da política de estabilização. No plano da despesa, o impacto das compras do governo sobre a demanda agregada é expressivo, assim como o poder de gastos dos funcionários públicos. No lado da receita, não só chama a atenção o volume, em termos absolutos, dos ingressos públicos, como também a variação na razão existente entre a receita orçamentária e a renda nacional, como consequência das mudanças existentes nos componentes da renda. Do que foi apresentado até o momento, é possível perceber certa relação entre as falhas de mercado e as funções do governo. As falhas de mercado são decorrência em parte da liberdade que os agentes econômicos detêm na sociedade e em parte pela própria existência de recursos disponíveis nesta sociedade. Assim, na decorrência de falhas do sistema, o governo é chamado para “colocar ordem”, vamos assim dizer. E como se dá essa ordem? Parte dela por leis, regulamentos e decretos que cerceiam a liberdade de alguns. De outra forma, há que se preocupar com o desenvolvimento da sociedade no sentido de conduzi-la para a modernidade, ao progresso e, neste aspecto, a política pública se faz presente. Entretanto, somente é possível fazer política pública se alguns objetivos forem alcançados. De forma genérica, a literatura até aqui utilizada salienta que todos os governos, em maior ou menor grau, têm os mesmos objetivos, quais sejam, crescimento e desenvolvimento econômico, manutenção do emprego e da renda, estabilidade monetário-financeira e distribuição equitativa da renda, para citar alguns. No entanto, para que o governo consiga atingir seus objetivos, torna-se necessário planejamento e visão de futuro. Trata-se, portanto, de imaginar hoje como seria o amanhã se algumas medidas fossem adotadas. Neste aspecto, o planejamento governamental que se faz por política pública requer, de um lado, recursos monetários para que se coloque em prática determinada ação e, de outro, as fontes de tais recursos. Por exemplo, um amigo que vai casar e deseja adquirir uma casa própria. Para que conquiste o patrimônio, algumas ações podem ser tomadas. Dentre elas, a do planejamento financeiro: daqui a quanto tempo deseja adquirir tal patrimônio; qual seu valor; em qual localidade; qual a quantidade de recursos monetários disponível; em que tipo de aplicação financeira esse recurso disponível está alocado; o quanto ainda precisa acumular; se a opção é comprar à vista ou, ainda, qual a melhor forma de financiamento caso o desejo seja por pagar parte à vista e o restante financiado; mesmo na opção pelo financiamento, em quanto tempo e qual valor de cada prestação. Pense numa empresa do setor de bebidas que está percebendo queda de vendas de um de seus principais produtos: “refrigerante sabor gostoso”. Com a percepção da queda de vendas, e imaginando que a empresa tenha efetuado uma pesquisa de mercado para verificar a real causa da queda, verificou-se que uma nova marca concorrente está atraindo consumidores que antes eram fiéis ao “refrigerante sabor gostoso”. Estamos diante de um problema de vendas, portanto, um problema de falta de entrada de recursos na empresa. Se há queda de vendas, haverá, por consequência, queda de receita. 27 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS Então, a empresa decide por uma campanha de marketing na tentativa de atrair novamente os consumidores que agora foram para a empresa de “refrigerantes sabor quase gostoso”. Para a campanha de marketing, a empresa precisará efetuar investimentos e dispor de algum recurso monetário que já esteja na empresa ou mesmo por empréstimo. Quanto de recursos a empresa pode dedicar para a campanha de marketing? É necessário levar em consideração que ela necessita manter seus departamentos financeiro e de recursos humanos, manter os gastos fixos de produção e assim por diante. Queremos chamar a atenção para o fato de que uma nova fonte de gasto deverá fazer parte do orçamento da empresa. Por qual motivo? A empresa gastará certa quantia monetária com a campanha de marketing esperando retorno de tal investimento. Independente de o retorno ser o esperado, o fato é que o dinheiro saiu de algum lugar e é preciso saber qual a fonte que financiará esta saída monetária. Portanto, planejamento financeiro e orçamento são extremamente necessários. Agora, volte sua atenção novamente para aqueles objetivos governamentais de que falamos anteriormente. Lembrete Objetivos do governo: crescimento e desenvolvimento econômico, manutenção do emprego e da renda, estabilidade monetário-financeira e distribuição equitativa da renda, para citar alguns. A lista de objetivos governamentais parece pequena, mas se olhada com mais cuidado, vê-se uma grande infinidade de ações que precisam ser tomadas paracada um dos objetivos a serem alcançados. Observemos o caso do Brasil, sua extensão territorial e as necessidades prementes e específicas de cada região. Cada governo com sua política, sua ideologia, suas crenças e, por vezes, interesses, podem privilegiar determinada sociedade instalada numa região que será a recebedora da política pública em detrimento de outra. Entretanto, não se pode generalizar. Os governos devem adotar critérios racionais no desenho de suas políticas públicas, privilegiando a técnica como decisão estratégica no estabelecimento das prioridades sociais. Daí que se faz necessário o recomendado por Matias-Pereira (2012, p. 278): Facilitar a solução de problemas pela ação catalisadora aplicada a toda a comunidade através de um planejamento estratégico, baseado na previsão do que vai acontecer é um bom caminho a ser seguido pelo governo. Ainda para Matias-Pereira (2012, p. 278): [...] o planejamento estratégico [é] a antítese da política, pois o mesmo presume racionalidade, o que raramente existe no governo. A política exige resultados rápidos, ao lugar de raciocinar e agir pensando no longo prazo, pois são esses resultados que garantem a permanência nos cargos. Assim, é possível perceber que o planejamento requer, antes de tudo, compromisso com atitudes racionais que gerem os resultados positivos esperados pelos envolvidos. Vejamos mais características do planejamento e do orçamento. 28 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I 1.2 Planejamentos e orçamentos Passaremos agora a tratar tanto do assunto planejamento quanto de orçamentos com maior formalidade, mapeando-os na iniciativa privada e no setor público. 1.2.1 Conceituação Os significados da palavra “planejamento” encontrados no dicionário Houaiss são os que se seguem: Ato ou efeito de planejar; serviço de preparação de um trabalho, de uma tarefa, com o estabelecimento de métodos convenientes; determinação de um conjunto de procedimentos, de ações (por uma empresa, um órgão do governo etc.) visando à realização de determinado projeto; planificação: elaboração de planos governamentais, especialmente nas áreas econômicas e sociais (PLANEJAMENTO, 2012). Podemos admitir ser o planejamento uma importantíssima ferramenta de gestão administrativa em qualquer ambiente para tudo aquilo que requer, obviamente, preparação, organização e estruturação. Para que seja possível compreender a importância do planejamento, e como muitas das vezes o fazemos sem pensar, procure descrever como é seu dia a dia. Façamos juntos! Logo quando acordamos pela manhã, como a maioria das pessoas, já estamos envolvidos com o planejamento, mas que, por vezes, não está escrito. É aquele tipo de planejamento das coisas que sempre acontecem em nosso dia a dia. Volte a atenção para você. Qual a primeira coisa que faz ao acordar? Você poderia bem responder “abrir os olhos!”, mas não é disso que estamos tratando. Algumas pessoas têm seus hábitos diários. Alguns, ao acordar, procuram inicialmente tomar o banho matinal e depois separar a roupa do dia. Outros, já deixaram a roupa do dia separada na noite anterior (planejamento). Alguns podem ainda preferir tomar café da manhã para depois se arrumar e ir ao trabalho. Mesmo o ato de sair de casa requer planejamento. Em dia de chuva, há opção de ir de carro ou somente de transporte urbano? A saída de casa pela manhã tem sempre o mesmo destino: trabalho ou estudos? Faz-se sempre o mesmo caminho? E assim por diante. O dia de trabalho também requer planejamento. No local de trabalho, o que fazer primeiro? Quais são as tarefas mais importantes que devem ser efetuadas em primeiro lugar? Se as demais não forem executadas naquele dia, isso implicará resultados negativos? Algumas pessoas gostam de deixar o dia seguinte programado no dia anterior. Quando isso é possível, é excelente para as pessoas extremamente organizadas que vivem com base no planejamento. Outros preferem o improviso do dia, das atividades e não são apegados a rotinas, processos ou procedimentos. 29 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS Observação O que está sendo aludido combina com as definições de planejamento que foram apresentadas no início desta discussão? Estamos apenas procurando trazer para a realidade algo que foi colocado com formalidade. Outra questão importante, e que está intimamente ligada ao planejamento individual, é orçamento. Já tratamos do orçamento como conceito e, de forma tímida, de seu planejamento racional. Muitas vezes é possível perceber que boa quantidade de pessoas não “gasta tempo” com o aprendizado do planejamento financeiro particular e diversos são seus motivos: não achar importante, ganhar sempre o mesmo valor, ter sempre os mesmos gastos ou, ainda, a resposta mais ouvida: independente de escrever tudo em um papel, sempre falta dinheiro antes da chegada do próximo recebimento. Mas por qual motivo utilizamos aspas lá no início – “gasta tempo”? Entender o planejamento financeiro particular não se trata de atividade na qual “se gaste tempo”, mas sim de algo de extrema importância na vida das pessoas nos tempos modernos: a administração de seus recursos monetários. Não fosse por esse motivo, o mercado editorial não teria investido no lançamento de títulos relacionados ao assunto nem mesmo centros educacionais desenvolveriam cursos também ligados à área. Leitura obrigatória Sobre o assunto finanças pessoais, leia: GUINDANI, R. A.; MARTINS, T. S.; CRUZ, J. A. W. Finanças pessoais. Curitiba: Intersaberes, 2012. Disponível em: <http://unip.bv3.digitalpages. com.br/users/publications/9788582120583/pages/-2>. Acesso em: 7 abr. 2015. Temos certeza de que apreciará a leitura e colocará em prática o que ali se propõe. Saiba mais Assista: O HOMEM que mudou o jogo. Dir. Benneth Miller. EUA: Sony Pictures, 2011. 133 minutos. O filme também trata de finanças com um toque de empreendedorismo. Até o momento, colocamos a questão do planejamento do ponto de vista individual, como uma decisão individual e para tomada de atitudes individuais. Contudo, na vida real não é sempre assim. Nossas decisões até podem ser pessoais, mas estamos de uma forma ou de outra inseridos num convívio 30 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I social, o que requer também respeito às decisões de outras pessoas. Chamamos a atenção para o fato de que por vezes a decisão que foi tomada por uma pessoa impacta na decisão de outra. Agora, procure pensar quando a decisão não está diretamente relacionada com o indivíduo, mas com um conjunto de indivíduos que estão inseridos num mesmo ambiente, um ambiente empresarial. 1.2.2 Planejamentos na iniciativa privada De que forma uma empresa traça seu planejamento? Primeiramente temos que pensar como as empresas são administradas do ponto de vista de suas estruturas organizacionais: mais autocráticas, mais burocráticas, mais abertas a ouvir seus funcionários ou mais distantes deles. Temos uma miríade de empresas em diferentes segmentos da atividade econômica e também de diferentes portes. Existem micro, pequenas, médias e grandes empresas e suas preocupações podem ser diferentes em termos de tamanho, mas não em termos de objetivo. Grosso modo, o objetivo de cada uma delas é um só: o lucro, mas não entraremos nessa discussão. Em termos de planejamento, este também difere conforme o porte das empresas. Por vezes, pode não haver planejamento específicoem empresas de menor porte devido à sua estrutura organizacional mais enxuta e, em alguns casos, menos profissionalizada. Se tratarmos das empresas com estruturas maiores, daquelas que apresentam diferentes níveis organizacionais, teremos o Nível Estratégico – E –, o Nível Tático – T –, e o Nível Operacional – O. Veja a figura a seguir: E T O Figura 3 – Níveis organizacionais Cada nível hierárquico pensa o planejamento de forma diferente, afinal, suas responsabilidades também são diferentes. Mesmo considerando que o funcionário inserido em cada nível organizacional contribui para o bom desenvolvimento da organização, não se pode admitir que as conquistas de cada nível hierárquico sejam as mesmas dos demais. Aqui utilizamos o termo “conquistas”. Poderíamos também utilizar o termo “entregas”, pois cada nível hierárquico se preocupa com suas entregas: produto de seu trabalho, de sua rotina, de suas responsabilidades. Comecemos pelo nível operacional – O. Suas entregas, via de regra, acontecem pela produção. O nível operacional é aquele também conhecido por “chão de fábrica”, onde a produção efetivamente 31 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 FINANÇAS E ORÇAMENTOS PÚBLICOS acontece. Pensando em termos de produção, suas entregas têm a visão de curto prazo. Portanto, neste nível organizacional o planejamento acontece em termos de curto prazo: quantas peças diárias devem ser produzidas, por exemplo. Quando o total diário de peças estiver produzido, pronto, acabou a entrega daquele nível organizacional. Sua função é a produção. Daí inicia-se outro processo de entrega: o da disposição para venda e assim por diante. Queremos que você perceba que o funcionário no nível operacional tem a produção diária no desempenho de suas funções. Seu trabalho inicia e termina num ciclo curto, que pode ser mensurado em dias, em horas, em minutos, em peças, em lotes, ou em qualquer outra métrica que se deseje acompanhar. Assim, e para terminar, é o nível organizacional que mais recebe ordens, mas também planeja sua rotina. Pense, por exemplo, em uma empresa que monte relógios de parede. Para montar cada relógio, ela necessita do fundo que servirá de base para que os números possam ser firmados, dos ponteiros que contarão os minutos e marcarão as horas, da moldura externa que suportará toda a base e do mecanismo que faz o relógio funcionar alimentado por duas baterias alcalinas. Se a meta da empresa for produzir duas mil unidades de relógio por dia, qual a quantidade necessária de todos os meios de produção? Daí que deve haver um departamento, ou um conjunto deles, preocupados com o suprimento deste material de trabalho. Assim, deve-se planejar a programação da produção de forma que, em estoque, nem faltem ponteiros nem sobrem molduras não utilizadas. Observação Observe que aqui, de forma bastante lúdica, estamos tratando do gerenciamento de estoque. Material em estoque é dinheiro parado. Se o dinheiro está lá parado, saiu de algum lugar e não está rendendo. Portanto, é necessário planejamento. Em muitas empresas, o tipo de planejamento descrito pode ser efetuado no nível operacional – O – e no nível tático – T –, ou ainda entre os dois. Cada empresa administra esse tipo de atividade de forma diferente e dizer se é efetuado em um ou outro nível organizacional seria demasiado genérico. Quanto ao nível tático – T –, a preocupação é com o médio prazo. Estão neste nível diferentes departamentos: finanças, comercial, vendas, pessoal, fiscal, marketing e comunicação e demais que se possa pensar além dos exemplos oferecidos. Cada um desses departamentos tem suas preocupações, suas responsabilidades, suas entregas. As entregas de cada um destes departamentos, de forma isolada, mas integradas à organização como um todo, são pensar a organização em termos de crescimento e desenvolvimento. Lembrete No exemplo anterior da empresa de refrigerantes sabor gostoso, qual departamento ficou incumbido de descobrir o motivo de queda de vendas? É disso que estamos tratando, da entrega deste departamento em específico. 32 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se ; M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 22 /0 4/ 20 15 Unidade I O nível tático pensa a organização em termos de médio prazo, obedecendo, de certa forma, às regras que são impostas pelo nível organizacional superior e dando ordens de comando ao nível organizacional mais baixo. No tático estão os diretores, gerentes, alguns supervisores. O departamento de pessoal, como exemplo, tem como preocupação recrutamento e seleção, manutenção e retenção de quadro de funcionários bem como desenvolvimento de novos benefícios, oferecendo melhores condições de trabalho aos funcionários. De certa forma, trabalha com a administração de todo o pessoal, tanto aquele de fácil substituição – nível operacional – quanto aqueles dos demais níveis em que a substituição não é tão rápida – ou não tão fácil, dependendo se as funções desempenhadas são mais específicas. Assim, todo e qualquer planejamento que ocorre neste nível é de médio prazo. Esse nível também se preocupa com o planejamento orçamentário. Por vezes, cada departamento tem seu próprio orçamento, mensal ou anual, e deverá desempenhar sua função da melhor forma possível bem empregando os recursos que lhe são destinados. O departamento de marketing tem de desenvolver seus resultados criativos de acordo com a verba a ele destinada. Se o departamento de recursos humanos fica responsável pela festa de confraternização de final de ano, é com a verba destinada a esse fim que precisará agradar a todos os participantes. O departamento de finanças, apesar de trabalhar com os recursos financeiros da empresa, também tem seus gastos: com a manutenção do departamento – funcionários, equipamentos, materiais de escritório – que não podem se confundir com a função do departamento que é a de gerenciar os ativos da empresa em termos monetários. Enfim, o quanto gastar e o quanto destinar a cada departamento também requer orçamento e planejamento, por vezes, não determinados pelos departamentos pertencentes ao nível organizacional tático – T –, e sim pelo estratégico – E. Exemplo de aplicação Lembre-se de que estamos apenas generalizando. Cada empresa com sua estrutura decide da melhor forma possível o que anteriormente se exemplifica. Você poderia verificar na empresa em que trabalha de que forma o assunto aqui descrito é tratado. É um excelente exercício. É no nível estratégico – E – que estão as decisões estratégicas da empresa e que são, portanto, de longo prazo. Aqui estão os presidentes, vice-presidentes e chefia do maior nível organizacional de qualquer empresa. Suas decisões têm amplitude de planejamento de longo prazo, a exemplo de fusões e aquisições, ampliação de parque fabril, continuidade ou descontinuidade de linhas de produção, lançamento de novos produtos, abertura de novos mercados bem como de penetração internacional. Pode-se dizer que são decisões mais complexas em relação aos outros dois níveis e que têm repercussão em toda a empresa, para o progresso ou para o retrocesso, dependendo da decisão adotada. Praticamente todas as decisões tomadas em termos de planejamento de longo prazo trazem consigo também decisões orçamentárias. Pense naquela empresa que produz relógios de parede. Suponha agora que ela também tenha interesse na produção de relógios de pulso. Você até pode pensar o seguinte: relógio é relógio. Contudo, o de parede é diferente do de pulso e não são substitutos. Quais são as alternativas apresentadas? Pensemos em uma e em seus desdobramentos: 33 Re vi sã o: C ar la ; V ito r; Ro se
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