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- -1 HISTÓRIA DO DESIGN CAPÍTULO 4 - EXISTE UMA DISTINÇÃO ENTRE MODERNO E PÓS-DESIGN DESIGN MODERNO? COMO O FOI DESIGN IMPLANTADO NO BRASIL? José Neto de Faria - -2 Introdução O período de transição entre o moderno e o pós-moderno é marcado por seis eventos: o fim dadesign design Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que gerou uma onda de otimismo e a aplicação de toda tecnologia de guerra no desenvolvimento de produtos e serviços para o uso civil; o período da Guerra Fria (1945-1991) que marcou no início o medo do confronto atômico entre as grandes potências mundiais e no final o começo da abertura política do Leste Europeu e a ascensão do multiculturalismo no ocidente. Por outro lado, o movimento (poder das flores) (1965-1975), liderado pelos , pregava aFlower Power hippies ideologia da não-violência e o repúdio às guerras, extremamente ligados à contracultura das drogas, da música e ao movimento psicodélico; os (eventos de maio de 1968) que apelavam para a revisãoÉvénements de Mai 68 dos costumes, a revisão do processo educacional, a liberdade sexual, a importância do prazer e o fim do controle e do autoritarismo praticado pelo estado contra os cidadãos, na esfera da vida pública e privada, que questionavam ainda o autoritarismo do mercado que incorpora todas as manifestações da vida no ciclo do capital, se apropriando e promovendo autoritariamente uma imagem estandardizada do estilo de vida a ser seguido. Na economia, a Crise do Petróleo (1967-1980) revelava a necessidade de se repensar racionalmente a dinâmica de uso dos recursos naturais e a sustentabilidade do sistema sociocultural, de produção e de consumo, político e econômico; e a consolidação da Revolução Eletrônico-Digital (1936-1984) que introduziu em quase todos os campos de atuação o uso dos computadores e dos .softwares Neste contexto, entre as mudanças globais, regionais e locais cabem algumas perguntas. Como a distinção entre o que seria o moderno e o que seria o pós-moderno pode ajudar a compreender o desenvolvimentodesign design do campo de saber do ? As diferenças seriam teóricas e/ou práticas? Os objetos culturais registramdesign mudanças abruptas ou lentas? Existe oposição entre os princípios do moderno e do pós-moderno?design design Existe uma relação entre as mudanças no e o uso de novas tecnologias?design A demarcação de um período de moderno e um período de pós-moderno cria uma falácia históricadesign design que não considera o fluxo de ideias e formas de pensar que precedem ou sucedem o ápice da presença histórica de um movimento, com sua teoria e/ou prática. A história do é marcada por rupturas, fragmentação,design aglutinação e continuidade, algo bem longe de qualquer ideia de homogeneidade e unidade cultural, pois o que prevalece registrado nos museus e livros são a pluralidade e a diversidade cultural que emergem da prática do .design No entanto, a promoção da propensa diminuição das ideias de solidez, fixação e pureza, típicas da máquina e do início do modernismo, passam a dar lugar às ideias de fluidez, flexibilidade e hibridização, características da circulação da informação. Mais do que isso, definiram o princípio “do que é produtivo não é sedentário, mas nômade” (HARVEY, 2005, p. 49). O aumento da circulação das formas emocionais e simbólicas motiva a mudança de comportamento na sociedade e fomenta a transformação de alguns aspectos do modernismo, possibilitando a implantação da pós-modernidade. O modernismo pode ser acusado, em certa medida, “de reduzir a noção de função aos aspectos físicos, técnicos e práticos, o que levou a centralizar-se nas exigências ‘mecânicas’ e descuidar-se dos aspectos psicológicos e emocionais, caindo na monotonia” (VENTURI, TORRENT; MARÍN, 2005, p. 356). Torrent e Marín (2005, p.apud 354-356) acrescentam ainda que se deve agradecer ao pós-modernismo, com o intuito de revitalizar o edesign de valorizar “a variedade, a complexidade e a ambiguidade” por “reduzir toda a profundidade a favor do deslizamento sobre a superfície das coisas”. No entanto, segundo Latour (1994, p. 16) jamais chegamos a ser modernos ou pós-modernos, pois para atingir- se o modernismo se deveria ser capaz de articular, ao mesmo tempo e de forma consciente, os processos de “purificação” e de “sincretismo ou hibridização” sem deixar que nenhuma das duas formas prevaleça. A prática da “desconstrução” e do “retrô” evidenciam, no presente momento, os princípios de “purificação” e de “hibridização”, utilizados como forma de recompor a realidade: pela desagregação das partes em unidades simples, para em seguida reordená-las; e pela mistura de vários estilos do passado num processo de - -3 simples, para em seguida reordená-las; e pela mistura de vários estilos do passado num processo de ressignificação emocional simbólica. Contudo, ambos os métodos foram usados tanto pelo modernismo quanto pelo pós-modernismo. Dessa forma, trataremos neste capítulo, permeado pelo pensamento moderno e pós-moderno, os eventos relacionados ao campo do que marcaram a transição dos movimentos estéticos modernos para os pós-design modernos, influenciados pela ascensão da teoria do universal para o multicultural.design design O início do período foi marcado pelo tensionamento das ideias modernas na arte, na arquitetura e no , odesign que levou à reflexão sobre o racionalismo científico, o funcionalismo técnico produtivo e o funcionalismo social ao seu ponto extremo, sendo então discutido pela primeira vez no campo do , o como um campodesign design teórico e prático regido pelos métodos científicos. Teve como principal espaço de discussão a Hochschule für Gestaltung – HfG Ulm (1953-1968), na qual foram formuladas as bases da maioria dos projetos pedagógicos– das escolas de que se disseminaram pelo mundo na segunda metade do século XXdesign . Após a consolidação dos princípios do de Ulm, que levaram ao extremo a prática do Estilo Internacionaldesign (1920-1965), o campo do sofre uma reviravolta marcada pela crítica fervorosa ao racionalismo científico,design ao funcionalismo técnico produtivo, ao funcionalismo social e a sociedade de consumo de massa que havia se estabelecido. Surgem os movimentos (1952-1972), Radical (1961-1980) e (1979-Pop Art Design New Wave 1995). Por fim, a implantação da prática e do ensino de no Brasil é outra questão que será abordada nestedesign capítulo. Acredita-se que as primeiras práticas do gráfico e do do produto tenham se desenvolvidodesign design ainda no primeiro surto de industrialização nacional, na segunda metade do século XIX, que foi registrado em diferentes províncias e nos livros de registro de marcas e patentes da Biblioteca Nacional, nos quais se pode observar uma intensa atividade econômica industrial e comercial. Mas quais foram as dificuldades enfrentadas para a implantação da prática e do ensino de no Brasil? Asdesign elites brasileiras investiram no desenvolvimento do campo do sob que circunstâncias? O projeto dedesign desenvolvimento e de industrialização do país estava alinhado com um projeto de desenvolvimento do edesign um programa de ensino de ?design Sabe-se que as primeiras tentativas para a implantação do ensino de no Brasil foram desenvolvidas adesign partir da criação dos liceus no século XIX, e que a tentativa de implantação do moderno no Brasil, só foidesign realizada com a fundação do Instituto de Arte Contemporânea (IAC), de 1951 a 1953, e a fundação, nos moldes da Hochschule für Gestaltung – Ulm, do projeto pedagógico da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) na metade do século XX. 4.1 – Ulm: Irmãos Scholl e a busca de formação crítica HfG na Alemanha pós-nazismo Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em plena Guerra Fria (1945-1991), durante os renovados ventos da expansão industrial e econômica promovido pelo Plano Marshall, o qual destinou investimentos para várias regiões do mundo para promover a inclusãosocial e conter o avanço comunista, numa Alemanha dividida que lutava para reconstruir o país, esquecer o nazismo e os horrores da guerra, foi fundada na cidade alemã de Ulm, depois de um longo período embrionário, por Inge Aicher-Scholl (1917-1998), Otl Aicher (1922-1991) e Max Bill (1908-1994), a , uma escola autônoma, democrática, internacional e com claroHochschule für Gestaltung posicionamento antifascista. - -4 Propunha unir no campo do os fundamentos da engenharia, arquitetura e ciência, mas trabalhandodesign conjuntamente com esses especialistas para completar o escopo de saberes necessários à qualificação dos projetos (LINDINGER, 1991, p. 94). Promovia as ideias do funcionalismo utilitarista e da boa forma, mas rejeitava abertamente todos os estilos orgânicos e os estilos históricos restaurados (SCHNEIDER, 2010, p. 113), e ainda rejeitava amplamente qualquer tipo de aproximação do projeto pedagógico com o artesanato. A tornou-se uma referência no ensino de do século XX por ter conseguidoHochschule für Gestaltung design aproximar a teoria e a prática do com a implantação e produção dos seus modelos industriais.design 4.1.1 O projeto da Hochschule für Gestaltung – Ulm (1953-1968) A organizou seu currículo com base na especialização em funções sociais Hochschule für Gestaltung – Ulm determinadas. Clique na interação a seguir para continuar lendo. Oferecia a especialização em que preparava arquitetos para estarem aptos aindustrialização da construção, resolver problemas relacionados a esta área; a especialização em que propunha “projetar do produto,design objetos para uso no dia a dia”, considerando os fatores “funcionais, culturais, tecnológicos e econômicos”; a especialização em , que estava dividida em função de dois setores: o tradicional de comunicação visual , e o de , os quais propunham “uma ênfase principalmente em propaganda e em tipografia cinema e televisão para os processos de comunicação de massa” (LINDINGER, 1991, p. 69-121-191).design Havia ainda a especialização em , que propunha “preparar escritores, produtores e diretores para ainformação moderna mídia de massa, imprensa, cinema, rádio e televisão”, e a especialização em , quecinematografia propunha “preparar cineastas para a relação com a indústria do cinema e a produção de diferentes modelos de filmes” (LINDINGER, 1991, p. 169-179). Nesse sentido, seus integrantes propuseram uma teoria social do na qual declaravam que sua principaldesign função era contribuir para o progresso no âmbito humano, social e cultural. Contudo, não haviam percebido, pelo menos no início da proposição, que o valor social de uso de um produto ou serviço tinha um papel secundário nas mercadorias de massa, pois o objetivo do sistema capitalista continuava o mesmo: a obtenção do máximo lucro econômico. Paradoxalmente, o fundamentado numa compreensão do comportamento do ser humano, associado aodesign domínio dos processos de produção e da eficiência na utilização das novas tecnologias, consolidou a estreita relação do campo de saber do com a economia e o mercado.design No entanto, a ao adotar a divisão em especialidades, que gerou um novo paradigmaHochschule für Gestaltung, no campo de ensino do ao estabelecer um novo patamar de eficiência na formação de ers, quedesign design ativamente conseguiram se inserir e transformar o mercado, fez com que a escola virasse uma referência mundial neste campo de ensino. Curiosamente, a escola foi fechada, em 1968, durante o governo de Hans Filbinger (1913-2007), um antigo membro do Partido Nacional Socialista (Nazista). VOCÊ SABIA? Para que foi usado o termo “funcionalismo utilitarista” no ? Definia exatamente o que, edesign em que período? O termo foi desenvolvido para descrever a prática do voltada àdesign produção de objetos culturais que atendam às necessidades práticas funcionais, a fim de otimizar a usabilidade dos objetos,“o valor de uso de um objeto é definido unicamente por sua utilidade para o usuário, e a utilidade é condicionada apenas pelas características do objeto” (SCHNEIDER, 2010, p. 207). - -5 4.1.2 Os principais docentes A teve somente dois diretores: Max Bill, de 1953 até 1956, e (1922-Hochschule für Gestaltung Tomás Maldonado ), de 1956 até 1968. Teve como principais docentes Otl Aicher, Hans Gugelot (1920-1965), Josef Albers (1888- 1976), Johannes Itten (1888-1967), Helene Nonné-Schmidt (1891-1976), Leonard Bruce Archer (1922-2005); Gui Bonsiepe (1934-), que também foi aluno da escola; Walter Peterhans (1897-1960), Anthony Froshaug (1920- 1984), Herbert W. Kapitzki (1925-2005), o sociólogo Hanno Kesting (1925-1975), Alexander Kluge (1932-), Martin Krampen (1928-2015), Helmut Lachenmann (1935-), Beate Mainka-Jellinghaus (1936-), Thomas Mauch (1937-), Abraham Moles (1920-1992), Josef Müller-Brockmann (1914-1996), Herbert Ohl (1926-2012), Erich Friedrich Podach (1894-1967), Harry Pross (1923-2010), Peter Raacke (1928-), Edgar Reitz (1932-), Horst Rittel (1930-1990), Hans Albrecht (Nick) Roericht (1932-), Claude Schnaidt (1931-2007), Friedrich Vordemberge- Gildewart (1899-1962), Werner Wirsing (1919-2017) e Walter Zeischegg (1917-1983). E teve como parceiro o diretor da Braun, Dieter Rams (1932-), segundo Pevsner, 2001. Figura 1 - Bancos da Hochschule für Gestaltung, de 1954, de Max Bill e Hans Gugelot; louça empilhável para hotel TC100 da Rosenthal, de 1958-1959, de Hans Roericht; marca da companhia aérea Lufthansa de 1962, de Otl Aicher. Fonte: LINDINGER, 1991, p. 142-192. Teve como alunos reconhecidos pela contribuição em diferentes áreas: Mary Bauermeister (1934-), Bernhard E. Bürdek (1947-), Hans G. Conrad (1926-2003), Gerhard Curdes (1933-) e Heinz Wäger. Lá também estudaram os brasileiros Maria Viera (1927-2001), Almir Mavignier (1925-2018) e Alexandre Wollner (1928-2018). 4.1.3 Os projetos com a Braun A desenvolveu uma gama enorme de projetos com diferentes finalidades e comHochschule für Gestaltung diferentes empresas como a companhia aérea Lufthansa, a fabricante de computadores IBM, a indústria química BASF, a Kodak, a fabricante de máquinas de costura Gritzner, a fabricante de relógios Junghans e a fabricante de eletrodomésticos Braun. - -6 Figura 2 - Barbeador elétrico SM31 Braun, de 1961, de Hans Gugelot; rádio de bolso modelo T3 Braun, de 1958, e rádio de bolso modelo TP1 Braun, de 1959, ambos de Dieter Rams. Fonte: LINDINGER, 1991, p. 142-223. Contudo, o trabalho desenvolvido com a Braun foi o que marcou a escola internacionalmente. Durante o período de cooperação técnica foi desenvolvido o de cafeteiras, torradeiras, batedeiras, liquidificadores,design espremedores, centrifugadores, barbeadores, rádios, rádios-relógios, rádios de bolso, toca-discos, câmeras, filmadoras, projetores e televisores. 4.2 Racionalismo, funcionalismo e ciência A foi um projeto de estado que buscou dar uma formação de excelência a um grupoHochschule für Gestaltung restrito de jovens que deveriam arrebatar os mercados internacionais. Assim, com a experiência acumulada durante os debates da (Associação Alemã de Artesãos, de 1907 a 1934) e feita a crítica dosDeutscher Werkbund modelos de ensino de e dos sistemas de produção, foi quase natural que se tenha fundado uma escola de design preocupada com a aproximação das ciências naturais, do racionalismo científico, do funcionalismodesign design técnico produtivo, do funcionalismo social e do funcionalismo utilitarista. A busca sem descanso por um programa de ensino que fosse capaz de capacitar a Alemanha dependia da promoção acima de tudo de uma metodologia que gerasse eficiência produtiva e eficiência comercial. E para isso pensaram na relação do com a ciência e desenvolveram a teoria do universal.design design 4.2.1 Design e ciência No início, por certa tradição do artesanato e da arte, o era visto como um campo baseado no saber fazerdesign mais empírico artesanal e artístico,do que da organização, da sistematização e da estandartização dos processos de concepção, desenvolvimento, implantação e promoção. Mas, no decorrer do tempo, o paulatinamentedesign foi se afastando do hegemônico, dos preceitos das disciplinas ligadas ao artesanato e às artes. E introduzindo disciplinas do campo das ciências naturais, das engenharias, da tecnologia, das ciências humanas, da comunicação, da psicologia, da gestão e da administração. - -7 Na segunda metade do século XX, houve a radicalização desse processo, e o começou a ser pensadodesign enquanto um campo científico, ao ponto de a teorizar e propor o afastamentoHochschule für Gestaltung – Ulm dos seus cursos do campo das artes e do artesanato. Dessa maneira, intensificou a aproximação com os métodos científicos e as novas tecnologias da época – como a cibernética – e com a indústria. A escola passou a ver o como um campo científico da configuração dadesign estrutura e da forma, e deste modo acabou produzindo uma análise crítica muito rica deste campo do saber. Renovou a teoria do e a prática do fazer , mas acabou criando um abismo afetivo, emocional edesign design simbólico nos objetos de .design 4.2.2 Design universal O universal foi uma teoria que buscava fundamentar a prática no desenvolvimento de produtos edesign serviços, principalmente preocupado com a acessibilidade, a usabilidade e a leiturabilidade. Clique na interação a seguir para continuar lendo. Por isso, busca uma fundamentação da prática projetiva a fim de compreender o comportamento do usuário, individual ou em grupo, a relação do usuário com o cenário de uso e o processo de inter-relação do usuário com os objetos. Para embasar a prática projetual, utilizava as disciplinas de história, antropologia, sociologia, economia, teoria política, teoria da técnica e, ainda, as tecnologias e a ergonomia. Contudo, tanto a teoria quanto a prática do universal, de 1955 até meados de 1980, negligenciavam osdesign aspectos sensoriais, emocionais, afetivos e simbólicos dos objetos culturais, o que fazia com que recomendassem sempre o desenvolvimento de formas neutras racionais, livres da presença de qualquer tipo de elemento que representasse uma cultura, livres da presença de elementos emocionais e afetivos, pois esses aspectos não podiam atrapalhar o uso das formas racionais lógicas (LIDWELL, 2010). No entanto, essa teoria, apesar de melhorar a organização das funções práticas do objeto cultural, produzia outro efeito indesejado, o de desenvolver objetos frios sem alma, a chamada , que só foi serestética da caixa preta combatida com o desenvolvimento da crítica do moderno e que, por sua vez, deu origem ao pós-design design moderno. Mas, somente a partir de 1980, o universal incorporou os estudos de psicologia paradesign fundamentar a inter-relação psíquica e psicossocial do usuário com o cenário e o objeto. Observe um exemplo no caso descrito a seguir. VOCÊ QUER LER? Theodor Ludwig Wiesengrund Adorno (1903-1969) escreveu a palestra em 1965 e publicou em 1967 a obra (traduzido como Funcionalismo hoje) uma reflexãoFunktionalismus Heuje crítica sobre o trabalho de Adolf Loos (1870-1933), o funcionalismo, a função prática e o utilitarismo. A obra de Adorno (1965) defende que nenhuma forma é inteiramente extraída de sua função e que as funções dependem o momento sociocultural. Para ler, acesse o endereço: < >.http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/babel/textos/adorno-funcionalismo.pdf - -8 No tópico a seguir, vamos entender melhor as origens e as características que promoveram outros movimentos artísticos, baseados no desenvolvimento crítico que marcou o contexto cultural que promoveu a pós- modernidade. 4.3 Crítica ao funcionalismo e pós-modernidade Com a consolidação do sistema da cultura de massa e o estabelecimento da hegemonia do pensamento moderno, baseado no funcionalismo técnico produtivo e do funcionalismo social, os jovens desconfiados dos discursos hegemônicos, que representavam esse estado tradicional das coisas, começam a desenvolver uma reflexão crítica que acaba, pouco a pouco, suplantando o pensamento moderno e .instaurando a pós-modernidade A reflexão crítica que foi promovida e realizada sobre os princípios do racionalismo científico, do funcionalismo técnico produtivo, do funcionalismo social e do universal, se deve não somente ao contexto sociocultural,design político e econômico, mas principalmente ao processo de racionalização teórica e produtiva do universal,design CASO Na segunda metade do século XX, a capacidade produtiva tinha avançado muito e as indústrias tinham a capacidade de produzir quantidades massivas de produtos. No entanto, para que fosse promovida a expansão comercial necessária ao consumo, não bastava baixar os custos de produção e levar esses produtos aos quatro cantos do mundo; era necessário superar as barreiras funcionais cognitivas e culturais. A cultura de massa já era uma realidade, mas o consumo de massa dependia da assimilação do mesmo produto em diferentes culturas. Sem, naquela época, a tecnologia necessária para produzir produtos personalizados ou customizados, a fim de adequar e promover a comercialização em diferentes culturas, só restava elaborar uma nova estratégia para introduzir, nos mais diversos países, os produtos fabricados. Hans Gugelot (1920-1965) arquiteto, er e professor de na design design Hochschule für , reuniu-se aos donos da empresa de elétrica e eletrônicos Braun, Erwin BraunGestaltung (1921-1999), empresário e administrador, e Artur Braun (1925-2013), empresário e engenheiro. Considerando as questões de adaptação a produção, da produção massiva em larga escala, das funções cognitivas necessárias ao funcionamento do produto e das barreiras cultuais como a língua, eles estudaram como o universal poderia ser utilizado paradesign promover o consumo de massa em diferentes nações. Então, desenvolveram uma linguagem formal coesa, capaz de ajudar a simplificar os processos de produção e, ao mesmo tempo, atender às necessidades cognitivas pertinentes ao ato do uso, suprimindo os aspectos emocionais e simbólicos dos produtos. A linguagem foi utilizada em todos os produtos da empresa e demonstrou uma imensa capacidade de cativar consumidores em diversos países. O rádio-toca-discos modelo SK 4/10, de 1956, e o barbeador elétrico SM31, de 1961, se tornaram ícones da qualidade industrial alemã e do consumo de massa. Assim, Hans Gugelot, Erwin Braun e Artur Braun atingiram o seu objetivo: por meio da linguagem formal e da qualidade das funções cognitivas, tornaram a empresa reconhecida internacionalmente pelos seus produtos. O sucesso estrondoso da organização alemã, na época com mais de 5.700 funcionários, despertou o interesse da empresa americana The Gillete que, em 1967, acabou adquirindo a Braun. Os princípios de se tornaramCompany design referência no ramo de eletrodomésticos até meados de 1980 (ART DIRECTORY, s/d). - -9 político e econômico, mas principalmente ao processo de racionalização teórica e produtiva do universal,design que levou ao esvaziamento emocional e simbólico do objeto cultural do .design Assim, após um longo período de predomínio do Estilo Internacional (1920-1965), todas as transformações socioculturais promovidas pelos movimentos e Maio de 68 acabaram gerando uma transformaçãoFlower Power paralela no campo da arte e do , originando novos movimentos estéticos como os listados a seguir. Cliquedesign nos itens. • Pop Art/Pop Design (1952-1972) • Space age Design (1960-1969) • Design Psicodélico (1965-1975) • Punk (1975-1980) • Radical Design (1961-1980) • High-tech (1973-1980) • New Wave Design (1979-1995) Ao longo deste tópico, abordaremos os principais aspectos das manifestações artísticas mais expressivas. 4.3.1 Pop Art/Pop Design (1952-1972) O movimento , abreviação de , surgiu no Reino Unido e nosEUA como reação à arte abstrata,Pop Art popular art considerada sofística e elitista. Tem como marco a fundação, em Londres, do (1952-1956),Independent Group um grupo de artistas que se organizou no (ICA), que introduziu a discussão sobreInstitute of Contemporary Arts a cultura de massa e que usava os novos meios de produção gráfica como instrumentos para atingir o público em grande escala. O grupo teve como principais artistas Toni del Renzio (1915-2007), William Turbull (1922-2012), Nigel Henderson (1917-1985), Alison Margaret Smithson (1928-1993)), Peter Denham Smithson (1923-2003), (1922-2011), Richard Hamilton Eduardo Paolozzi (1924-2005) Reyner Banham (1922-1988). e • • • • • • • - -10 O foi baseado, principalmente, no interesse pela cultura popular de massa americana, na estética dasPop Design mídias publicitárias de rua, nos anúncios publicitários de produtos e preços, nos cartazes de anúncio de partes e circos, nos volantes e cartazes de festas populares, no cinema, na ficção científica, na cultura das histórias em quadrinhos, na estrutura dos meios e das mídias de comunicação de massa, no de produtos e nas novasdesign tecnologias que percorriam todo o ocidente. Os artistas pop usavam imagens extraídas de objetos da vida cotidiana, buscando inspiração nas artes populares voltadas às massas, que eram, na sua maioria, consideradas inferiores. Dessa maneira, o movimento foi especialmente direcionado à população jovem – os chamados –,baby boomers de recursos limitados, fácil estímulo emocional e cheios de energia, imaginação, sonhos e fantasias. Com a finalidade de aumentar o alcance do movimento e estimular o consumo dessa população, de poucos recursos, foi desenvolvido o slogan use hoje, jogue fora amanhã para promover uma série de produtos de baixo custo, que acabavam tendo qualidade duvidosa. Assim, trataram como uma questão de estilo de vida, o consumo de produtos descartáveis e efêmeros, que se afastavam dos produtos propostos como atemporais pelo Estilo efemeridade e a obsolescência eram consideradas como parte doInternacional e pelo universal. Assim, adesign atrativo (ou encanto) dos produtos do Pop Design. Figura 3 - Colagem Just What Is It that Makes Today’s Homes So Different, So Appealing?, de 1956, de Richard Hamilton; capa do disco Sgt. Pepper’s Hearts Club Band, de 1967, de Jann Howarth; capa do disco Velvet Underground, de 1967, de Andy Warhol. Fonte: TORRENT, MARÍN, 2005, p. 340-343. VOCÊ QUER VER? O desenho animado ( , 1968) foi baseado nas músicas doSubmarino Amarelo Yellow Submarine grupo (1960-1970) e tem os próprios integrantes da banda como personagens. AThe Beatles animação conta a história de um paraíso chamado onde a banda do SargentoPepperland, Pepper está sempre tocando. Mas os malvados Azuis tentam acabar com a felicidade reinante, e os têm de enfrentar vários desafios para trazer de volta a paz e a música ao paraíso. ABeatles animação é considerada uma das grandes referências da cultura pop. Para assistir à versão legendada, acesse: < >.https://mundocogumelo.blog.br/filmes-completos/submarino-amarelo-legendado/ - -11 Nesse sentido, o ideário proposto baseava-se em diversão, mudança, variedade, irreverência e descartabilidade. As obras traziam cores brilhantes e formas arrojadas; usavam a linguagem dos meios de comunicação e da publicidade como parte dos recursos simbólicos dos produtos. Utilizavam conjuntos de elementos visuais como aglutinadores sociais, emocionais e/ou simbólicos capazes de promover o consumo em massa de produtos baratos e com péssima qualidade, mas que geravam identificação e sensação de pertencimento a um determinado grupo ou comunidade social. Assim, o OPop Design voltou-se para o comercial, a propaganda, a moda e a decoração de interiores. design plástico e o papel, pela versatilidade e baixo custo, converteram-se nos materiais favoritos da maioria dos design ers deste movimento. O movimento perdeu força no início da década de 1970, com a crise gerada pela pressão dos preços dos derivados de petróleo, quando se voltou a discutir o uso racional dos recursos naturais. 4.3.2 Radical Design/Antidesign/Contradesign (1961-1980) O foi um movimento que surgiu da insatisfação com a tradicional elegância do modernoRadical Design design (Estilo Internacional), que supervalorizava a função estética do objeto e que, muitas vezes, ignorava plenamente o papel sociocultural do . Também chamado de Anti e Contra , começou no Reino Unido, nadesign design design Itália e na Alemanha, buscando desenvolver práticas alternativas de arquitetura e de . A seguir falaremosdesign mais sobre este movimento. Clique na interação para ler. Esses países viviam em um cenário de crescimento econômico e ampliação da sociedade de consumo de massa, o que caracterizava um crescente avanço no uso dos recursos naturais. Por isso, o movimento criticava severamente essa mesma sociedade, que promovia uma associação considerada predatória entre os interesses empresariais, do de produtos e da propaganda, a fim de exacerbar cada vez mais o consumo, sem instigardesign nenhum tipo de reflexão crítica. Os seus membros se organizavam em grupos e buscavam renovar as funções culturais e políticas do objeto de , por isso propunham um combate aos conceitos de bom gosto e de de qualidade. Isso porquedesign design consideravam valores modernos formalistas e elitistas que geravam um déficit representacional individual social, visto que não davam conta de promover as funções emocionais e simbólicas que deveriam ser supridas pela arquitetura e o .design Também acreditavam que deveria ser explorado com mais entusiasmo o que chamaram de “segunda era da máquina”, pois as novas tecnologias da época podiam ser usadas para libertar a população nômade dos vínculos constrangedores ao trabalho remunerado. Veja os principais grupos representativos do Radical britânico e italiano:Design • Reino Unido – (1961-1974) (1972-1992), de Londres;Group Archigram e Pentagram • Itália – (1966-1978), (1966-1978) e (1968-1972), de Archizoom Associati Superstudio Gruppo 9999 VOCÊ SABIA? Para que foi usado o termo “funcionalismo sensório-emocional” no ? Em que momentosdesign da história do o termo foi usado? Definia exatamente o que, e em que período? O termodesign foi desenvolvido para descrever a prática do voltada à produção de objetos culturaisdesign com funções simbólicas e emocionais, expressivas, comunicativas e significativas, com o intuito de atender aos diferentes estilos de vida (FARIA, 2017). • • - -12 • Itália – (1966-1978), (1966-1978) e (1968-1972), de Archizoom Associati Superstudio Gruppo 9999 Florença; (1963-1975), de Turin, e (1976-1981), de Milão.Gruppo Strum Studio Alchimia Figura 4 - The Plug-in City, de 1964, de Peter Cook; espreguiçadeira Pratone da Gufram, de 1971, do Gruppo Strum; poltrona Proust, de 1976, de Alessandro Mendini. Fonte: COOK, 1999, p. 34-66; SCHNEIDER, 2010, p. 140-142; DEMPSEY, 2010, p. 255. Os grupos trabalhavam em laboratórios desenvolvendo e explorando as suas ideias em projetos utópicos, protótipos, instalações e exposições. Diante da crise do petróleo, propunham debates e soluções projetuais para as questões ambientais, a preservação de recursos naturais e o manejo social do . Questionavam os modosdesign de consumo, as formas de reciclagem, a mobilidade, a portabilidade e os processos de livre escolha individual. Além disso, desenvolveram planos para cidades flexíveis do futuro, e deram ênfase ao desenvolvimento das funções emocionais e simbólicas dos objetos, propondo uma transformação dos objetos de consumo de massa em objetos de contemplação estética. Os grupos se dissolveram durante o período de recessão econômica provocada pela crise do petróleo, desiludidos com o uso limitado das novas tecnologias. O foi considerado o primeiro movimentoRadical Design estéticopós-moderno. 4.3.3 New Wave (1979-1995) O foi um movimento multidisciplinar que envolveu a música, a arte, a dança, o teatro, a arquitetura, o New Wave gráfico e o do produto, e teve sua origem na Suíça, nos EUA e na Itália. Foi uma reação ao Estilodesign design Internacional, influenciado pelo , pela teoria da linguagem pós-moderna e pelos princípios doPunk multiculturalismo, o que fez com que fosse considerado como um recondicionado, mais suave epunk comercializável. O movimento foi chamado no gráfico de ( tipográfico suíço), poisNew Wave design Swiss Punk Typography punk • VOCÊ SABIA? A foi uma escola de fundada por membros do de Milão emGlobal Tools design Radical Design , 1973, que realizou uma série de seminários entre Milão, Florença e Nápoles. Tinha um programa experimental de ensino de , o qual buscava resgatar técnicas rudimentares dedesign produção (BORGONUOVO; FRANCESCHINI, 2015). Para saber mais, acesse: < >.http://saltonline.org/media/files/globaltools_scrd.pdf - -13 O movimento foi chamado no gráfico de ( tipográfico suíço), poisNew Wave design Swiss Punk Typography punk manteve alguns elementos – como o uso de linhas, as formas geométricas e o predomínio das cores primárias – do Estilo Internacional ou (Estilo Suíço), mas abandonou totalmente a estrutura rígida do ,Swiss Style grid abusando no uso de texturas e padrões como elementos decorativos compositivos e conferindo, inclusive, texturização ao texto. Wolfgang Weingart (1941-) er gráfico, tipógrafo e professor da (Escola de design Basel School of Design Design de Basel) é considerado pela sua obra e pelo trabalho no ensino o precursor e catalizador da tipografia New . Na década de 1970, ele desenvolveu uma turnê de palestras pelos EUA, na qual captou vários ers,Wave design entre estes Dan Friedman (1945-1995), April Greiman (1948-) e Willi Kunz (1943-), os quais estudaram na Suíça e acabaram levando os princípios para os EUA. Deve-se citar também a importância do trabalho de Katherine McCoy (1945-) na divulgação do movimento por meio da (Academia de Arte de Cranbrook), a partir de 1977.Cranbrook Academy of Art Figura 5 - Três trabalhos de Wolfgang Weingart: Typographic Process Nr. 4, de 1971-1972; cartaz The Swiss Poster, de 1984, e capa do Warum und wie, de 1973. Fonte: MEGGS; PURVIS, 2009, p. 610-632. Assim, além dos artistas já mencionados, destacam-se também no gráfico: Jan van Toorn (1932-), Rudydesign Vander Lans (1955-), Zuzana Licko (1961-), Paula Scher (1948-) e Kenneth Hiebert (1930). - -14 Os ers desse movimento exploraram a estética compositiva baseada em múltiplas camadas sobrepostas,design com a ideia de instigar o processo de filtragem entre as camadas da composição para extração e a formação da mensagem. Usaram as composições desconstruídas e a técnica de colagem de imagens para a formação de uma nova imagem síntese emocional e simbólica. Na tipografia, mesmo que esta tivesse de ganhar ornamentos, buscaram um papel mais expressivo. Dessa maneira, trabalharam os espaçamentos entre letras de forma inconsistente, liberto do , promovendo agrid variação dos tipos e dos tamanhos dos tipos na construção de palavras e textos, e o jogo de conjunto de tipos em ângulos não retos. 4.4 no BrasilDesign O Brasil sofreu um processo de industrialização tardio que contou com momentos de inércia, de estagnação e de surtos de desenvolvimento acelerado durante os séculos XIX e XX. Um verdadeiro retrato do caos provocado pela descontinuidade da aplicação de uma política de desenvolvimento econômico de curto e de longo prazo, que afetou e afeta ainda hoje, não somente o desenvolvimento dos setores da agricultura, da indústria e dos serviços, como afeta o desenvolvimento do artesanato, da arte, do e da arquitetura nacional.design Mesmo com os modernistas, o resultado continuou o mesmo. Os picos de industrialização não encontraram respaldo e apoio nas instituições de ensino de , principalmente porque as iniciativas de implantação dosdesign projetos pedagógicos no ensino de aconteceram tardiamente. Geralmente, vinham com certa limitaçãodesign formalista, incapaz de unir e alinhar nacional e internacionalmente uma teoria e prática do capaz dedesign promover a assimilação das tecnologias correntes contemporâneas, bem como de associar intimamente a cultura industrial e de serviços ao .design 4.4.1 Academia Imperial de Belas Artes – AIBA (1822-1889) O governo real, representado pelo Primeiro Conde da Barca, António de Araújo e Azevedo (1754-1817), e pelo Sexto Marquês de Marialva, Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho (1774-1823), tinha a clara intenção de fundar – com os recursos humanos trazidos pela Missão Artística Francesa (1816) através do decreto de 12 de agosto de 1816 – a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, primeiro nome da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Essa instituição de ensino teria um projeto pedagógico progressista com bases no ensino das artes aplicadas voltadas à indústria, mas quando a escola foi finalmente implantada, dedicou-se, principalmente, às Belas Artes. Em 1826, quando foi inaugurada, já não tinha mais o papel de desenvolver as ciências, as artes aplicadas e a indústria. O diretor Henrique José da Silva (1772-1834), apoiado por Tomás Antônio Vilanova Portugal (1755- 1839), ministro de Estado de Negócios, contrariando os progressistas franceses, decide suprimir os cursos de VOCÊ SABIA? Para que, e em quais momentos da história do foi usado o termo “funcionalismodesign experimental”? O termo foi desenvolvido para descrever a prática do voltada àdesign produção de objetos culturais que considerem a situação de experiência como parte integrante do objeto. O objeto cultural, através do seu conjunto de funções, deve ser capaz de exercer, acima de tudo, a sua função de mediador da realidade e coprodutor das experiências sensoriais e simbólicas que serão inseridas no cotidiano (FARIA, 2017). - -15 1839), ministro de Estado de Negócios, contrariando os progressistas franceses, decide suprimir os cursos de estereotomia, mecânica e gravura. Segundo o diretor, a medida foi assumida por economia e retoricamente defendida em função de uma falta de cultura artística no Brasil. Para ele, a instrução simples em desenho preliminar era suficiente (CARDOSO, 2008a). Mesmo com as sucessivas reformas e das intenções de envolver os alunos em práticas de ornamentação e cenografia, somente em 1854, com a Reforma Pedreira no ensino primário, secundário, das faculdades de Medicina e de Direito e da Academia Imperial de Belas Artes, produziu-se a primeira tentativa de promover o ensino técnico das artes aplicadas à indústria. 4.4.2 Araújo Porto-Alegre e a implantação do ensino de design no Brasil (1854-1857) Em 1853, quando o imperador ficou conhecendo a proposta de Manuel Araujo Porto-Alegre, de criar escolas industriais com a finalidade de educar operários, encomendou um projeto para a reforma da Academia Imperial de Belas Artes. Porto-Alegre apresentou dois textos no final do ano, os quais geraram sua nomeação a diretor da AIBA, para participar ativamente da Reforma Pedreira. De acordo com Cardoso (2008a, s. p.), a reforma da Academia Imperial de Belas Artes, pelos seus estatutos, previa “a criação de um programa de ‘ensino industrial’, contando com aulas não somente de desenho geométrico, desenho de ornatos, escultura de ornatos e matemáticas aplicadas, mas também de desenho industrial”, esta última criada em 1856. A reforma não durou muito, e os conservadores promoveram a exoneração de Porto-Alegre em 1857, mas mantiveram ainda o programa de ensino industrial por três décadas. Só que, em 1859, dividiram em curso diurno para os artistas das Belas Artes e curso noturno para os artífices das artes aplicadas. O curso noturno acabou em 1888, quando o professor da disciplina de desenho industrial, Ernesto Gomes Moreira Maia, foi nomeadodiretor da escola. 4.4.3 Liceus de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro (1856-), Recife (1871- 1950) e São Paulo (1873-) A Reforma Pedreira promoveu também a introdução do modelo de ensino politécnico francês, dos Lycée d’arts et (Liceus de Artes e Ofícios), com a intenção de promover a investigação e o domínio das técnicas eMétiers processos de produção artesanal e industrial, considerando os aspectos artísticos e industriais. No Brasil, pode-se destacar o Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, fundado em 1856, pela Sociedade VOCÊ O CONHECE? Manuel José de Araujo Porto-Alegre (1806-1879) foi escritor, político e jornalista, pintor, arquiteto, professor e diplomata. Foi diretor da Academia Imperial de Belas Artes de 1854 até 1857, quando promoveu uma série de reformas nos currículos e nos métodos de ensino, criando a primeira disciplina de desenho industrial no Brasil. Contudo, suas medidas foram duramente combatidas, e as mudanças propostas foram rapidamente anuladas para se voltar a privilegiar a chamada “arte de cavalete” (KOVENSKY; SKEFF, 2014). - -16 No Brasil, pode-se destacar o Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, fundado em 1856, pela Sociedade Propagadora das Belas Artes, por iniciativa de Francisco Joaquim Bethencourt da Silva (1831-1911). Apesar da fundação, o Liceu só iria ter uma sede própria em 1878, e por insuficiência de recursos as suas oficinas seriam abertas somente em 1889. Foram professores do Liceu: Francisco Antonio Nery (1828-1866), Victor Meirelles (1832-1903), José Maria de Medeiros (1849-1925), Oscar Pereira da Silva (1867-1939) e Carlos Oswald (1882-1971). Dentre os alunos, podemos destacar Rodolfo Amoedo (1857-1941), Eliseu D’Angelo Visconti (1866-1944) e Adalberto Matos. Figura 6 - Obras de Eliseu D’Angelo Visconti: estudos das capas da Revue, de 1897, e do catálogo da exposição da Escola de Bellas Artes, de 1901, e cartaz da Companhia Antarctica, de 1920. Fonte: VISCONTI, 2012, p. 14-67. O Liceu de Artes e Ofícios do Recife foi fundado, em 1871, pela Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco, mas a sede foi inaugurada somente em 1880. Em 1930, o Museu do Estado de Pernambuco adquiriu, por doação, a biblioteca e a coleção de obras do Liceu, que seria extinto em 1950. Assim, só acabou sobrando o belíssimo prédio projetado por José Tibúrcio Pereira de Magalhães (1831-1886), em estilo Neoclássico. Já o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo foi fundado, em 1873, pela Sociedade Propagadora da Instrução Popular, por iniciativa de Carlos Leôncio da Silva Carvalho (1847-1912), com a proposta levar ao povo o ensino técnico de artes, de artes aplicadas, de comércio, de técnicas agrícolas e de princípios industriais. Em 1895, sob a direção do engenheiro Ramos de Azevedo (1851-1928) foram implantados: o curso de Desenho com aplicação às artes e à indústria; o curso de Modelagem em Gesso e Barro; o curso de Instrução Profissional; e as aulas de pintura, carpintaria, marcenaria, serralheria, álgebra, geometria, contabilidade, comércio e agricultura. O liceu de SP foi reconhecido pelos trabalhos em marcenaria, serralheria, ebanisteria, escultura em madeira, caldeiraria, fundição em bronze e de metais finos, e modelagem. A partir de 1905, passou a comercializar os seus produtos a fim de manter uma fonte própria de recursos para a manutenção dos cursos gratuitos. Abriu a empresa LAO Indústria Ltda., que atualmente é líder no mercado nacional de hidrômetros e medidores de gás. 4.4.4 Instituto de Arte Contemporânea – IAC/MASP (1951-1953) O Instituto de Arte Contemporânea (IAC/MASP) foi idealizado por Pietro Maria Bardi (1900-1999) e Lina Bo Bardi (1914-1992). Seguia os princípios da implantados no Instituto de de Chicago (EUA), sendoBauhaus Design inaugurado, em 1951, com o objetivo de preparar profissionais para atuarem no desenvolvimento do setor - -17 inaugurado, em 1951, com o objetivo de preparar profissionais para atuarem no desenvolvimento do setor industrial. No entanto, os alunos do Instituto de Arte Contemporânea não foram assimilados pela indústria nem pelo mercado brasileiro, e a instituição encerrou suas atividades em 1953. 4.4.5 Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI (1963-) Em 1962, o governador do estado da Guanabara – atual município do Rio de Janeiro – Carlos Lacerda (1914- 1977), junto com o seu secretário de Educação e Cultura, Carlos Otávio Flexa Ribeiro (1914-1991), fundaram a Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI). A escola, que começou a funcionar somente no ano seguinte, fazia parte do projeto político para o desenvolvimento tecnológico e industrial do estado. Foi fortemente influenciada pelo projeto pedagógico da , sendo considerada a primeira instituição de EnsinoHochschule für Gestaltung Superior de do Brasil.design Teve como meta a união do conhecimento científico, técnico e cultural para fundamentar a teoria e a prática do . Durante muito tempo foi considerada o modelo curricular oficial para a implantação de cursos de design design no Brasil. Até a reforma curricular de 2017, a escola possuía um curso de integrado que promovia adesign formação obrigatória em dois eixos: comunicação visual e projeto do produto. Após a reforma, a escola passou a possuir quatro eixos de formação: do produto, de comunicação, de interação e dedesign design design design serviços. Considerando os conhecimentos adquiridos durante a leitura, esperamos que você esteja apto a distinguir o moderno do pós-moderno e tenha compreendido o contexto no qual teve origem o no Brasil.design design Síntese Concluímos o estudo que apresentou, de forma sucinta, o debate no início da segunda metade do século XX sobre o racionalismo científico, o funcionalismo e a ciência no campo do . Também abordou o projetodesign pedagógico alemão da , o debate crítico sobre o desenvolvimento do modernismo e daHochschule für Gestaltung pós-modernidade, os movimentos estéticos , e , e as principaisPopArt/Pop Design Radical Design New Wave iniciativas no Brasil para consolidar o campo do durante os séculos XIX e XX.design Neste capítulo, você teve a oportunidade de: • reconhecer as diferentes vertentes do pensamento no campo do ;design • reconhecer as inter-relações dinâmicas existentes entre o campo de saber do , a sociedade, a design cultura, a tecnologia e a economia; • compreender como foram estabelecidas as principais teorias do relacionado às funções dos design objetos quanto à indústria, à produção, ao bem-estar social e à realização sensorial e emocional; • reconhecer e distinguir as ideias e as formas de pensar, os objetos e os principais autores da Hochschule ;für Gestaltung • conhecer a formação da escola moderna de ensino de mais influente do século XX;design • reconhecer e distinguir as ideias e as formas de pensar, os objetos e os principais autores da Global Tools ; • conhecer a formação da primeira escola pós-moderna de ensino de ;design • reconhecer e distinguir as ideias e as formas de pensar, os objetos e os principais autores da Pop Art , do e do ;/Pop Design Radical Design New Wave Design • reconhecer e distinguir as ideias e as formas de pensar, os objetos e os principais autores dos Liceus de Artes e Ofícios brasileiros, do IAC e da ESDI; • conhecer a formação da primeira escola moderna de ensino de do Brasil;design • reconhecer e distinguir as ideias e as formas de pensar, os objetos e alguns dos principais autores do • • • • • • • • • • • - -18 • reconhecer e distinguir as ideias e as formas de pensar, os objetos e alguns dos principais autores do brasileiro.design Bibliografia ADORNO, T. . 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Visual 50 anosDesign Introdução 4.1 HfG – Ulm: Irmãos Scholl e a busca de formação crítica na Alemanha pós-nazismo 4.1.1 O projeto da Hochschule für Gestaltung – Ulm (1953-1968) 4.1.2 Os principais docentes 4.1.3 Os projetos com a Braun 4.2 Racionalismo, funcionalismo e ciência 4.2.1 Design e ciência 4.2.2 Design universal 4.3 Crítica ao funcionalismo e pós-modernidade 4.3.1 Pop Art/Pop Design (1952-1972) 4.3.2 Radical Design/Antidesign/Contradesign (1961-1980) 4.3.3 New Wave (1979-1995) 4.4 Design no Brasil 4.4.1 Academia Imperial de Belas Artes – AIBA (1822-1889) 4.4.2 Araújo Porto-Alegre e a implantação do ensino de design no Brasil (1854-1857) 4.4.3 Liceus de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro (1856-), Recife (1871-1950) e São Paulo (1873-) 4.4.4 Instituto de Arte Contemporânea – IAC/MASP (1951-1953) 4.4.5 Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI (1963-) Síntese Bibliografia
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